- A quem eu estou querendo enganar? – eu jogo o papel no chão do carro. Tudo começou a passar rapidamente na minha cabeça. Brigas, filhos, amigos, casamento, trabalho.
Minha mãe havia ido embora e me deixado sozinha com o meu problema. O que eu tinha que fazer agora?
Susan queria falar comigo. Eu já sabia o que ela queria falar, ia repetir o que já sabia mas não queria acordar pra realidade. Eu queria poder desaparecer do mundo. Queria poder dormir e passar anos e anos sonhando.
Sonhos. Era isso. Como eu poderia ter sido o sonho dele se eu só causei dor e sofrimento? Ele deve estar igual o pior do que eu. Eu sei que ele me ama mais do que tudo. Ele implorou pra realizar nosso sonho e eu neguei isso a ele. Como eu posso negar uma coisa que já faz parte de mim? Ele é a minha realidade, se eu deixa-lo escapar, vai se tornar mais uma vez um sonho distante.
Meus filhos vão me odiar, eu vou me odiar, ele vai me odiar. Com que cara eu vou falar que vou criar outro filho dele, dessa vez sozinha?
Eu não ia conseguir fazer isso. Eu precisava sentar e conversar com ele. Mas com que cara eu ia fazer isso?
Peguei o meu celular e começo a discar o numero do seu celular. Eu precisava saber onde ele estava. Julie precisava ouvir a sua voz. Ele não podia nos abandonar dessa forma.
- Atende... – eu falo comigo mesma enquanto ouvia o celular cair na caixa postal – Droga! – eu bato minha mão no volante. Se eu pelo menos soubesse onde ele estava.
Penso em ligar na mansão, mas é muito pouco provável que ele esteja lá. Se bem conheço o marido que tenho, aquele é o último lugar para o qual ele iria. Nunca ele deixaria que a mãe o visse nesse estado. Não mesmo, não ainda.
Susan...Será que ela sabia onde ele estava? Não, não. Eu duvido. Se soubesse ela já teria dado um jeito de me dizer, mesmo eu não querendo saber. Também conheço a amiga que tenho. Ainda sim eu preciso saber onde ele está, mas é impossível.
Ligo o carro prestes de desistir. Talvez isso também fosse um sinal de que eu não devería ir atrás, não agora. Minha vida estava cheia de sinais. Nada era por acaso. Tudo tinha que te um porquê.
No meio do caminho, me ocorre a idéia. O County. Alguém lá deveria saber onde eles estava. Pelas minhas contas eles passou o dia trabalhando. Alguém ali deveria saber o paradeiro do meu marido.
Fui dirigindo até lá com os pensamentos a mil. Quisera eu encontrá-lo pra dizer tudo o que eu queria, tudo o que eu precisava mesmo. Enfrentei quase todos os sinal vermelhos. Parece que tudo conspirava para que eu não o achasse. Eu sabia que tinha que ser logo, tinha que voltar pra casa o mais cedo possível.
Perto do hospital percebi que a chuva tinha engrossado. Reparo que os relâmpagos e trovões se intensificavam. Tremi ao imaginar que talvez não conseguisse falar com ele.
Estacionei o meu carro na frente do Jumbo Mart. Deixa-lo na garagem só ia fazer perder o meu tempo. Em um reflexo apanho o papel do exame e coloco-o no bolso da calça. Ajeito a bolsa embaixo do banco, confiro se estava tudo direito dentro do carro e saio sentindo os pingos de chuvas caírem sobre o meu corpo.
Olho para os dois lados da rua esperando que o movimento de carros parassem. Saio correndo ate a outra calçada e me encolho começando a sentir todo o frio por estar encharcada. Fui andando já sem muita pressa ate a entrada do hospital. Ajeitei o meu cabelo atrás da orelha e respirei fundo antes de dar mais um passo.
- Com licença.. – me abaixo ainda na triagem falando com uma enfermeira que nunca tinha visto – o Dr. Carter esta trabalhando aqui hoje!
- Não sei.. melhor você esperar que ele venha lhe atender...
Ela nem me encara e eu decido conferir eu mesma se ele estava ou não.
Passei minha senha na porta e entrei pelos corredores. Sala 1, sala dois, sala 3. Nada. Até que o County estava bem calminho hoje. Procurei por alguém conhecido e suficientemente íntimo, mas parece que só pessoas estranhas passavam por mim. Vou para umas salas mais afastadas e finalmente encontro alguém.
- Chunny- ela sorri pra mim- viu Carter por aí?
- Ele saiu já tem mais de uma hora, Abby...- ela me responde e vai logo saindo, atrás de um senhor que deveria estar dando trabalho.
- Obrigada - eu digo com o meu olhar frustrado, e saio andando atrás de outra pessoa que possa me ajudar.
Ando até a recepção, percebendo Frank quase pegando no sono.
- E i-ele parece surpreso com a minha presença- viu o Carter?
- Se você não sabe onde está seu marido e vem perguntar pra mim- ele mordeu um donnut que estava sobre a mesa- melhor separar...- ai, esse mau humor que nunca saia de cena...
Ótimo. Tudo o que eu precisava escutar.
- Luka está trabalhando?- eu ainda insisti em saber. Quem sabe Luka soubesse...
- Ei, ele é da Sam... Seu tempo já foi, saca?- Ai! esse cara me dava no saco! Não sei se era pior agüentar ele ou Julie em dia de manha. Me esforcei pra não fazer um gesto não muito legal a ele e sai dali, indo até a triagem.
Olhei mais uma vez pro quadro e conferi que realmente seu nome não estava mais ali. Se eu tivesse vindo uma hora antes.. mas isso também já não importa. O melhor agora era ir pra casa, cuidar de mim e da minha filha.
Sai do hospital e fui andando cabisbaixa ate a rua. Tudo a cada hora que passava se complicava ainda mais. Eu não tinha como falar com ele. Julie iria me cobrar isso e tornar a me tirar a paciência. Senti uma lagrima percorrendo o meu rosto. Limpei antes que alguém percebesse alguma coisa. Mas com essa chuva eu acho que seria improvável. Olho novamente pros dois lados antes de atravessar e vou andando ate o meu carro desativando o alarme.
- Abby? – eu ouço aquela voz me chamando. Isso não estava acontecendo, não mesmo. – o que você esta fazendo aqui! Com essa chuva? – a sua voz sai calma e eu não levanto o meu olhar, não falo temendo que ele percebesse que eu estava chorando mais uma vez.
Tiro o papel do meu bolso e o encaro nas minhas mãos.
- John.. – eu falo sem encara-lo – eu pensei que você já tinha ido embora...
- O que você esta fazendo aqui? – ele insistia e eu decidi direcionar o meu olhar pro dele.
Continua...
