A nossa reconciliação foi selada com o toque dos nossos lábios. Há algum tempo que não nos dávamos ao direito de fazer isso. Beijar sem receio, sem medo de sermos reprovados. Casamento deixa a gente muito largado em relação a muitas coisas. Mas o nosso amor sempre dava um jeito de se expressar no menor gesto que fosse.
Nossos corpos encharcados, sedentos de calor se aqueciam conforme o nosso contanto ia se intensificando. Suas mãos procuravam me aquecer em vão. A chuva teimava em voltar a cair forte fazendo com que eu começasse a tremer com o frio. Ele interrompe o beijo e passa as mãos no meu rosto me encarando como há tempos não o fazia.
- Sua boca esta tremendo.. – ele me abraça mais forte tentando me aliviar daquele frio.
- Eu sei.. – respondo sabendo que talvez era hora de sairmos dali.
Ele me sorri mais uma vez e se afasta olhando para os lados sem saber ao certo o que fazer agora.
- Vamos pra casa? – eu logo quebro o silencio que começava a se formar.
- Casa? – ele me encara sem acreditar muito no que eu estava propondo.
- É- eu parecia óbvia- quer ir pra onde? Dar uma volta em Las Vegas?- eu sorri, ainda sendo abraçado por ele.
- Ah, não seria ruim- ele me deu um selinho- mas sei lá, pensei da gente passear um pouquinho antes de voltar pra casa.
- Coitada da Susy, John- eu já estava atrasada, não poderia demorar mais- além do mais, tem uma pessoinha quase morrendo com a sua falta lá... Aliás, tinha duas... Agora uma tá bem aqui na sua frente- eu ri, disfarçando enquanto ele me olhava.
- Tá certo..eu também não vejo a hora de voltar a minha realidade...- eu dei a chave do carro pra ele, que imediatamente pegou o guarda-chuvas mais molhado do que nós e abriu a porta. Ele também devia estar com frio...
Ele sentou no banco antes de mim. Eu abri a porta do outro lado e vi que ele só me esperava pra dar partida. Assim que eu sentei no banco, ainda com a porta aberta, ele veio pra cima de mim e me beijou como nos velhos tempos. Bom, muito bom. Aqueles beijos faziam e muita falta na relação. Depois de alguns minutos com que ele "em cima" de mim, voltou para o lugar.
Eu olhei a porta aberta e o pano todo molhado.
- Ahhh, eu vou matar você!-ele percebeu o que tinha feito- vai pagar por isso, viu, mocinho...Fica estragando meu carro- eu sorri, fechando a porta, ligando o ar quente pra ver se eu parava de tremer.
- Depois damos um jeito nisso ok! - ele dá a partida no carro e eu sorri tentando me esquentar com o aquecedor do carro. - Tira esse moletom molhado.. - ele desvia o olhar e eu me viro sorrindo em sua direção.
- Já propondo uma coisa dessas? Não espera nem as coisas se estabelecerem direitinho primeiro? - eu o encaro e ele sorri me encarando.
- Por mim já esta tudo perfeito.. - ele pisca sem desviar a atenção no que estava fazendo. - voltando pra casa, mulher do lado, filho na barriga, filha me esperando.. o que mais eu poderia esperar?
- Uma cama quentinha... - eu busco o seu olhar - um abraço apertado... sentir alguém dormindo ao seu lado e saber que quando acordar tudo esta bem...
- Você não sabe o quanto eu senti a sua falta essa noite.. - ele respira fundo e torna a falar com uma voz embargada.
- Você não imagina o quanto eu esperei que você entrasse de volta naquele quarto e me obrigasse a falar com você direito... - eu tentei falar sem chorar de novo - promete que não importe o que aconteça, você nunca mais vai sair assim das nossas vidas?
- Desculpe por ter saído daquela forma... - ele se virou para me olhar quando paramos no sinal.
Eu aceno sorrindo e torno a olhar pra frente.
- Ela não vai acreditar quando ver que você esta em casa...
- Ela ficou bem?- ele pela primeira vez parecia bem sério.
- Oh se ficou- só faltou me xingar de prostituta...- eu sorrio- talvez por não saber o que é isso...- eu voltei a sorrir.
- Nossa- ele continuou sério e não caiu na risada como eu- ela é geniosa demais... Bem que podia ter puxado o meu temperamento... mas foi todinho o seu...- finalmente ele tira a expressão séria da cara, e voltou a me provocar.
- Olha quem fala- ele voltou a andar quando o sinal abriu- quem foi que deu aquele escândalo na frente de todo mundo?- eu sorri pequeno e senti ele colocar a mão na minha coxa enquanto dirigia.
- Melhor não tocarmos mais no assunto- ele virou os olhos- mas gostei do seu showzinho também...
Eu recostei no banco, ainda sentindo o frio. O cansaço ainda me consumia e eu creio que passei por um cochilo antes de chegarmos em casa. Acordo com o barulho da porta do carro. Tiro o cinto e vejo que ele veio abrir a porta pra eu sair.
- O nome dele pode ser Bradlley?- ele diz do nada.
- Ahn?- eu ainda estava meio sonolenta- nome de quem?
- Dele.. - ele estende sua mão e eu a pego saindo do carro.
- Dele? - eu realmente não estava entendendo o que ele estava insuniando..
- Do bebe, Abby... - ele sorri apontando pra minha barriga e eu olhei pra baixo tentando captar a informação.
- Esse vai ser menino? - eu o encaro andando ate a porta de casa.
- Menino.. loiro.. e do olho azul... - ele segura o trinco e espera que eu chegue junto - você duvida?
- Eu não duvido de mais nada...
Ele finalmente abre a porta e nos deparamos com uma casa silenciosa e escura. Olho pra ele querendo saber onde diabos elas haviam se metido. Ele me encara procurando saber o mesmo e eu mexo os meus ombros mostrando que não sabia de nada.
- Será que Susan levou Julie pra sua casa? - eu acendo a luz da sala e vou ate a escada onde ele ja me esperava.
- Duvido.. - ele vai subindo as escadas lentamente.
- Espera.. - eu corro a sua frente - quero fazer uma surpresa... elas devem estar no quarto de Julie...
Eu empurrei a porta, vendo que apenas a luz do abajur estava acesa. Julie estava deitada na cama, não sei se dormindo. A TV estava ligada e Susan, sentada do lado dela, assistindo.
- Ei- eu sussurei pra Susan, não querendo chamar a atenção de Julie ainda -chegamos..- eu disse, sem me dar conta do plural.
- Como assim, "chegamos"?- ela já começou a sorrir grande antes que eu pudesse falar qualquer coisa. Pulou da cama e me arrastou pra dentro do quarto, não sem antes dar uma olhada no corredor, pra ver se via "alguém". Eu sorri a imagem.
- Ela está dormindo?- eu perguntei, olhando pra cama.
- Aham - ela acenou curiosa- vai, me conta!- qualquer semelhança com Julie era mera coincidência.
Eu fui pra perto do banheiro de Julie, onde fizéssemos menos barulho.
- Nos encontramos no hospital... a gente conversou e...
- Ah! Que bom, Abby!- ela era a mais entusiasmada ali. Deixar eu terminar de falar? Nem pensar!
Eu sorri e ela continuou empolgada, perguntando detalhes.
- E o ...- ela apontou pra minha barriga. Nunca se sabe quando Julie está dormindo ou não e Susan já tinha experiência o suficiente pra saber disso.
- O exame se perdeu, mas não tem muito o que confirmar...- eu sorri, vendo-a exalar felicidade.
- Ah! Vou ser tia de novo, madrinha de novo. Que beleza!- ela olhou para cama, onde Julie se mexeu.
- Agora de um menino, segundo Carter...
- Ele está aí?- ela perguntou, indo de novo pra perto da porta.
- Sim, está lá embaixo...- eu respondi, vendo "algo" levantar da cama instantaneamente.
- MEU PAI TÁ AÍ? – eu a encaro assustada e olho para Susan sem reação. Eu falava de imediato ou deixava um suspense no ar? – Meu pai ta ai? – ela perguntou novamente esperando uma confirmação minha.
- Estou... – ele aparece na porta do quarto e eu ainda pude ver o sorriso se formar no rostinho de Julie. Imediatamente ela pulou da cama e saiu correndo pulando em cima dele também se molhando da chuva que teimava em ainda cobrir nossos corpos.
- Licença.. acho que estou sobrando aqui... – eu ouço Susan falar e quando eu me viro percebo que ela já havia descido as escadas. Torno a olhar para a minha família e percebo John chorando abraçado a minha pequena. Olhei pro céu e agradeci a Deus por ter me ajudado a esquecer o meu orgulho e ter procurado reparar as coisas com ele.
- Mãe? – Julie se aproxima de mim e eu abaixo o meu olhar tentando não ficar com câimbra de sorrir por tanta felicidade. – Desculpa? – eu olho pra John. Com certeza ele havia explicado alguma coisa a ele e a fez pedir isso a mim. – eu não quis falar aquilo.. – sua voz começou a ficar manhosa e eu me abaixo lhe dando um beijo na bochecha.
- É claro meu amor.. – instantaneamente percebo um sorriso se formando em seu rosto – eu entendo o que você estava sentindo..
- A cena ta linda.. – ele finalmente se aproxima de novo e me puxa pra um abraço – mas acho que merecemos os três tomar um banho quente e trocar de roupa...
- É.. – Julie sorri – o papai me molhou toda! – ela roda na nossa frente sorrindo com o orgulho do seu feito. – Pai.. – ela de repente para nos encarando – agora podemos abrir os meus presentes?
- Você ainda não abriu? – ele nos encara surpreso.
- Não...tava esperando você- ela da uma piscada pra mim, sorrindo-sabia que ia voltar e não ia demorar nada...
- Ah, é?- ele a pega no colo e nós vamos indo pro nosso quarto- e como é que você sabia?
- Eu conheço os pais que tenho...- ela sori pra nós dois. Eu arqueio as sobrancelhas, fazendo com que John prestasse mais atenção no que ela dizia. Nossa filha era muito mais inteligenete do que todos pensavam.
Entramos no quarto e John a põe de pé na nossa cama. Ela rola de um lado pro outro da cama, se espalhando.
- Eu gosto dessa cama, sabe?- eu ouvi ela dizer enquanto pegava uma roupa pra mim no armário. Carter estava olhando algo na escrivaninha, mas logo sua atenção foi voltada pra ela novamente- ela tem o cheirinho de vocês...- ela enfiou o nariz no lençol e voltou pra nós rindo- é gostoso...
A felicidade tomava conta de todos os meus músculos, ossos e pensamentos. Eu fiquei séria por um momento, vendo ela brincar na cama toda feliz. Nada mais eu poderia querer.
- Você são tão bonitinhos juntos, não sei o porque brigam tanto- ela mostrou a lingüinha pra nós dois- mamãe chorou, papai chorou, eu chorei e no fim, tá ai...- ela foi falando tudo tão espontaneamente, mas a cada palavra era uma lição e tanto- a gente aqui feliz..Vocês dois não tem jeito, né? Vão passar a vida brigando mesmo...
Eu não agüentei tanta fofura e fui pra cama do lado dela. Banquete e convite pra Carter e logo tirou os sapatos molhados e subiu na cama também. Cena perfeita, filme, teatro. Seja lá o que fosse. Era tudo bom demais para ser considerado "vida".
- Ah!- ela tem um estalo- mãe, sabe o que eu sonhei?
Eu sorrio pra John... eu não poderia acreditar, e agora só um pensamento me passa pela cabeça: "Até você Julie?"
Continua em UHDF 6.. a ultima da saga...
