Capítulo #1
Amor à Prova
O dia já estava alto quando Gina acordou com uma brisa gostosa de verão no rosto, sem abrir os olhos imaginou as cortinas floridas do seu quarto balançarem com a brisa e os raios de sol se insinuarem invadindo o pequeno, embora confortável cômodo. Mas ao abri-los, a imagem se esvaiu e no seu lugar restava agora um quarto grande, cinzento e desagradável, cheirando a mofo. O quarto que ela e Hermione dividiam na Ordem.
Hermione já não estava mais lá, deveria ser realmente tarde, não que ela se importasse, não havia nada para se fazer da Sede da Ordem da Fênix quando você tem dezesseis anos e as férias mal começaram, além de limpar e limpar mais, era preferível pegar um resfriado. Não é que Gina fosse preguiçosa ou acomodada, na verdade ela adorava ajudar e sempre o fazia quando possível. Hoje era um dia à parte. Ela estava cansada como não se sentia há muito tempo. Tivera um sonho muito estranho, e essa não fora a primeira vez que acontecera. Essa menina ruiva... tinha quase a certeza de que era ela própria. Mas não conseguia se lembrar das outras pessoas do sonho, e nem entender o que tudo aquilo significava, só era capaz de sentir o que a menininha sentia, uma angústia terrível, muito medo, lembrava-se também do frio e da fome, era real de mais, forte de mais. E tinha a sua mãe chorando. O que era assustador. Afinal, por que é que ela estava chorando? Não havia nada de ruim acontecendo com ela, nem com ninguém da família. Não tinha Voldemort também, nem Tom...Havia sim homens maus naquele sonho,numa guerra, mas tudo que eles fizeram estava tão distante que era impossível ter alguma ligação com as lágrimas da sua mãe. E também tudo o que Gina pôde fazer foi ouvi-los gritar ordens de execução ao longe enquanto tudo pegava fogo. Num lugar muito distante.
Enquanto recapitulava o sonho, lembrou-se de algo que a professora Trelawney dissera e que havia lido em seu livro na aula de Adivinhação sobre essas sensações fortes e cogitou que eles, seus sonhos, poderiam ser visões. Era pouco provável, mas eles eram tão reais que não podiam ser normais.
Decidiu então que, assim que se levantasse iria contá-lo com o máximo de detalhes à sua mãe, que certamente saberia lhe dizer porque eles a atormentavam tanto e diria o que fazer para se livrar deles.
Ela levantou-se preguiçosamente e trocou sua camisola por vestes diurnas. Abriu as cortinas ao máximo, na esperança de que entrasse alguma luz para aquecer aquele quarto mofado.
Desceu as escadas com passos delicados, ainda um pouco sonolenta. No caminho para a cozinha encontrou Harry e Rony fugindo de algo que parecia ser uma nuvem gigantesca de fadas mordentes. E mesmo que estivesse um pouco lerda naquele momento, conseguiu desviar a tempo antes de ser atacada por fadinhas que defendiam seus ovos furiosamente e seguiu seu caminho tranqüila. Talvez não tão tranqüila, o sonho continuava vivido em sua mente, límpido e cheio dos sons que machucavam seus ouvidos mesmo que já estivesse acordada.
Adentrou a cozinha para se deparar com sua mãe batendo montes de panelas, provavelmente preparando o almoço.
- Mãe? A senhora Weasley virou-se, o rosto corado com toda a agitação.
- Ah! Aí está você, finalmente. Eu já ia mandar o Rony para te chamar. Temos muito o que fazer hoje!
As imagens não paravam de surgir em flashes na sua mente. O porto. A luz ofuscante. O som ensurdecedor, Dimitrie às suas costas.
Gina ficou ali, em pé, parada enquanto Molly lhe dava uma espécie de bronca por ter levantado tarde.
Ela precisava falar do sonho, mas não queria incomodar ninguém, parecia impossível naquela hora. Tinha que prestar atenção em sua mãe.
Eram tantas coisas em sua cabeça que parecia que ia explodir. Mas ao invés disso, tudo o que conseguiu fazer foi ficar atordoada de pé na cozinha.
- Vamos, coma seu café da manhã e vá ajudar Hermione a espanar o pó. Disse sua mãe severa, mas com um sentimento de arrependimento surgindo no olhar. Gina ainda não conseguia falar. Decidiu para si mesma que deixaria o sonho para mais tarde, quando fosse oportuno, embora estivesse sendo muito difícil combater aquelas imagens.
Sentou-se à mesa e Molly colocou um prato com mingau de aveia diante dela, junto com uma colher velha.
De repente em sua mente refletiu forte como nunca a sena da menininha ruiva com uma colher velha na mão, encarando o próprio prato. E na sua frente uma velha com olhos escuros e severos ralhando com ela. Definitivamente, não poderia esperar mais do que isso. Ela tinha que dizer.
-Mãe? Acho que preciso falar com você...Sua voz estava etérea e o olhar perdido. A senhora Weasley parou imediatamente com o que estava fazendo. Ela nunca vira a sua filha agindo assim tão estranha desde seu primeiro ano, quando houve todo aquele incidente envolvendo a Câmara Secreta. Então coisa boa não devia ser...
Gina costumava lhe falar as coisas sem muitos problemas ou então preferia não falar nada. Era evidente que ela lutava contra essa vontade. A senhora Weasley lançou um olhar preocupado para sua caçula. Sentou-se diante dela e falou com a voz mais doce e atenciosa do mundo:
- Tudo bem, estou ouvindo.
Gina estava vacilante, agora que tinha a oportunidade não sabia como iria explicar.
- Certo...Ah...Ela olhava fixamente para o prato de mingau, em busca de alguma inspiração. Molly pegou em sua mão, para lhe dar um certo incentivo. Gina respirou fundo e falou o mais displicente que pôde.
- Há alguns meses atrás eu tive sonhos. Sonhos estranhos, que se passariam por comuns se eu não os sentisse tão reais. Em todo o caso, esta noite eu sonhei outra vez. Eu era pequena e me sentia muito sozinha, queria o meu pai de volta. Mas não era o papai. Esse homem tinha um outro nome e cantava, para eu dormir...
Começava a desviar do assunto para a lembrança desse homem que supostamente era o seu pai. Balançou a cabeça e recomeçou a narrar.
- Bem, havia uma guerra e homens maus invadiram a vila onde eu morava. Tinha muito fogo, e gritos de morte. Era horrível. Mas eu consegui fugir. Fomos para os portos, e então as coisas ficaram confusas. Eu peguei o navio errado. Mas não foi minha culpa eu juro! Eu devia estar indo para a América, para encontrar o meu pai, mas, mas...
Eu não sabia onde estava e recebi uma placa de um homem com dentes tortos chamado Greg. Nela estava escrito Virgínia eu acho...
Gina dizia tudo sem tirar os olhos do mingau. Mas, se por um breve momento olhasse nos olhos de sua mãe naquela hora, veria uma sombra de medo e compreensão misturados com as tristes memórias do passado. – E depois, tinha uma sala com cheiro forte de pinho, você estava lá, com o papai mas não o meu pai, quero dizer, ah... -Gina desistiu de tentar explicar - Você estava chorando e eu não conseguia entender. Merlim! Foi tudo tão real, tão confuso! Por que? São só sonhos mas, mas....
Gina terminou o seu relato confuso com os olhos cheios de lágrimas que logo correu a esconder com as mãos.
Molly a observava receosa.
- Eu, eu acho que-que po-pode ser uma visão...mas, mas. E os soluços tornaram-se fortes de mais para que Gina pudesse terminar a frase.
Molly suspirou, tentando criar forças para o que vinha a seguir.
- Muito bem, querida. Agora não chore mais, vamos. Disse no tom mais maternal que tinha e abraçou a pequena, secando suas lágrimas. – Talvez você não esteja de todo errado sobre seus sonhos serem visões. A senhora Weasley agora estava com um ar distante.
- Co-como assim? Perguntou Gina, ainda lutando contra os soluços. Um longo silêncio foi tudo o que obteve como resposta.
- Mãe?
- Sabe, as visões não mostram apenas o futuro. Elas podem mostrar o presente, podem mostrar coisas que poderão acontecer, coisas que poderiam ter acontecido, e até mesmo coisas que já aconteceram. O que eu estou achando que é o seu caso. Gina assentiu com a cabeça. Novamente, eram informações de mais em sua mente, para que pudesse formular qualquer frase que tivesse coerência.
- Você já está com dezesseis anos. Está crescida. Comentou a senhora Weasley com voz saudosa e um sorriso fraco brincando nos cantos da boca. – Acho que não podemos mais esconder isso de você. O sorriso se desfez e quando Gina conseguiu processar o significado dessas palavras desvencilhou-se do abraço e encarou a mãe nos olhos.
- Esconder? Esconder o quê? Ela não estava gostando nada disso, e tinha um mau pressentimento sobre como essa história iria acabar.
A senhora Weasley a olhou diretamente nos olhos muito pesarosa.
- Certo, preste bastante atenção Gina. Porque eu não sei se vou ser capaz de contar essa história de novo.
Gina apenas esperou que sua mãe continuasse.
- Há dezesseis anos atrás, eu e o seu pai Arthur fomos abençoados com um sétimo filho. Uma menina. E oh Merlim, ela era linda. Com os olhos determinados assim, iguais aos seus. E os cabelos tão vermelhos e brilhantes na luz do Sol.
Só não sei se teria o mesmo gênio, talvez ela tivesse sido um pouco mais frágil do que você, eu não poderia dizer. Molly divagava, fitando um ponto indistinto um pouco acima do ombro de Gina, que já não entendia mais nada e começava a acreditar que sua mãe não estava em seu juízo perfeito. Afinal, se ela era o tal bebê de dezesseis anos atrás como presumia que era, por que sua mãe insistia em falar dessa maneira estranha? – Acontece que, talvez por nós nunca termos criado uma menina, eu não sei...Será que fomos rudes de mais? A senhora Weasley parou a narração para se dedicar às memórias do passado que insistiam em voltar com imagens vividas em sua mente após tantos anos em que permaneceram adormecidas. – Bem, em todo o caso, ela... Melanie não resistiu aquele inverno... Lágrimas começavam a se acumular nos cantos de seus olhos. Gina estava boquiaberta. Quando foi que a conversa fugiu tanto do assunto? Da ultima vez ela achou que fosse dela que estivessem falando.
- Os anos passavam, eu achava que não poderia continuar, então Arthur me levou a esse lugar. Eu me senti terrivelmente culpada, como se estivesse traindo a memória de Melanie. Mas seu pai insistiu que eu fosse, ele queria que eu superasse essa perda. Foi quando encontramos você...Foi quando eu achei um novo sentido para continuar, porque você estava sozinha e agora iria precisar de mim.
A sala, aquela com um cheiro de pinho...Gina, aquele lugar era um orfanato. Nós adotamos você...
Choque. Era a palavra certa, que descrevia exatamente o que Virgínia Weasley sentia naquele momento. Ou seria Ginevra? Por Merlim! Como isso tudo pôde acontecer? Aquelas ultimas palavras explodiram em seus ouvidos como bombas atômicas. Uma dor aguda invadiu seu peito, e seu coração só não parou porque havia decido acelerar de uma maneira impiedosa, podia ouvir e sentir o sangue pulsando em ritmo constante por todo o seu corpo. Sentiu uma tontura, um anseio por desmaiar, para que quando acordasse percebesse que tudo não passava de mais um sonho estranho. Sacudiu a cabeça tentando tirar aquela idéia de que toda a sua vida era uma farsa. Não conseguia acreditar, era impossível de mais. Ela era igual aos seus irmãos. Os mesmos cabelos vermelhos, mesmos olhos, o mesmo orgulho de se um Weasley. Ela só não era tão alta, nem tão sardenta, mas sempre acreditou que isso fosse natural, já que eles eram todos meninos e ela uma garota as constituições seriam conseqüentemente diferentes. Já não sabia se era natural...ela sempre acreditou que fosse parecida com o pai...mas agora...quem era o seu pai? Aquele homem que ela vira no sonho? Que cantava para ela de noite? Onde ele estaria? E isso se ele ainda estivesse vivo.
Gina olhava desespera para um ponto indistinto com os olhos desfocados, se antes ela achava que tinha coisas de mais na cabeça, definitivamente ela iria explodir agora. Mas ainda não acabara. Aquela mulher que ela acreditara ser sua mãe de natureza levantou-se e segurou em suas mãos. Com os olhos brilhando de lágrimas a encarou desesperadamente nos olhos.
- Adotamos você, porque tinha a idade exata que a nossa filhinha teria se tivesse sobrevivido. Você foi minha filha Gina. Você é! E eu carrego você no meu coração tanto quanto – ou até mais – do que todos os meus próprios filhos. Ah Gina, eu te amo tanto! E as lágrimas escorreram desavergonhadas por sua face vermelha.
Nesse momento, Gina não pôde deixar de pensar que era uma substituta. Tomando o lugar daquela criança morta que seria a verdadeira Weasley menor, estava sendo a segunda opção. A menos importante de todos, a diferente, a estranha. Aquela que não se enquadrava na família dos Weasley. Mas, quando olhou nos olhos de sua mãe de criação pôde ver todo o amor que ela lhe reservara durante esses não mais de dezesseis anos em que ela acreditava que estavam juntas. Um pouco menos de tempo, mas o mesmo amor que ela dedicara ao resto de seus filhos. E por isso, Gina seria incapaz de odiá-la. Bem pelo contrário.
- Eu também te amo mamãe. Disse com a voz embargada, deixando claro que acreditava no amor que ela lhe concedera e que a considerava a sua mãe verdadeira, e sempre consideraria. Essa manhã estranha e cheia de revelações pairaria em sua mente por um longo tempo, até que pudesse ajustar as coisas novamente. Colocar os pensamentos no lugar. De qualquer forma, uma chama de curiosidade e determinação havia sido acesa no peito da Weasley menor e ela não ficaria em paz até saciá-la.
(Nessa manhã fresca de verão o amor que os membros da família Weasley nutriam uns pelos outros havia sido posto à prova, e corajosamente sobrevivera, talvez tendo se tornado ainda mais forte, mas com certeza jamais voltaria a ser o mesmo...)
N/A: E aih? como é que tá a estória? Alguma sugestão? Critica, elogio? Qlqr coisa!
Hm certo, eu sei que o desenvolvimento está lento, mas é assim mesmo...eu tô tentando contar a estória com o máximo de detalhes e isso envolve muito os pensamentos e sentimentos das pessoas. Por isso q a Gina praticamente narrou o prólogo todo de novo..rs
Espero q estejam gostando. Isso se estiverem lendo...bem...hm certo, se estiverem (lendo) comentem ok?
E para a PaulinhaMalfoy: mto mto mto obrigada pelo seu comentário. Vc salvou essa fic do total abandono (literalmente falando)!
