CAPÍTULO V
MAIS CEDO OU MAIS TARDE ACABA
And sooner or later it's over
E mais cedo ou mais tarde acaba
I just don't wanna miss you tonight
Eu só não quero sentir sua falta esta noite
Não havia ninguém no pub aquela tarde, isso porque nunca havia ninguém no pub à tarde, o movimento só começa com a chegada da noite, quando a maioria dos trouxas e bruxos saíam do trabalho.
Bellatrix sabia disso. Por esse motivo ocupava uma das mesas do lugar para ler o Profeta Diário, antes que a garçonete tolinha aparecesse para bisbilhotar (se bem que seria muito engraçado ver o susto que ela tomaria se visse as fotos se mexendo).
Sirius havia saído para comprar mantimentos e o cozinheiro Sam, já estava na cozinha, deixando tudo arrumado para mais tarde. Foi quando uma coruja negra, de tamanho médio, entrou por uma das janelas e aterrissou na mesa em frente a Bellatrix.
A mulher abaixou o jornal, encarando o animal com tamanho desprezo que chegava a ser palpável. Mas ao que parecia, a velha coruja parecia não se importar, soltou o pergaminho que trazia no bico e continuou parada.
Bellatrix abriu a correspondência, leu a frase curta sem demonstrar nenhum sentimento, depois guardou o mesmo em suas vestes, se levantou e saiu.
E quando Sam apareceu no salão para perguntar se ela queria um chá, encontrou apenas o jornal com fotos que se mexiam sobre a mesa.
Ela caminhou visivelmente irritada até um estabelecimento nefasto de algumas ruas adiante, olhou para o homem que limpava um balcão que, por mais que fosse esfregado, parecia continuar com a aparência gordurosa e perguntou em tom quase grosseiro:
-Onde ele está?
O homem, magro de cabelos grisalhos e ralos nem a encarou, apenas apontou para a escada que levava até o andar de cima.
Lá pôde encarar o senhor elegantemente vestido assim que alcançou o último degrau.
Ele contrastava e muito com o ambiente sujo e degradante do lugar.
-O que você quer? – perguntou ríspida, sem um pingo do medo que costumava ter daquela figura quando mais nova.
-Isso é jeito de tratar o seu pai, minha filha? – perguntou em tom brando.
-Que eu saiba eu deixei de ser sua filha quando fui morar com o Sirius, lembra? – ela se calou por alguns segundos, depois continuou, enquanto andava de um lado para o outro. – Ou eu muito me engano ou o meu nome não foi incinerado daquela tapeçaria também?
-Poderia voltar à família? O que me diz disso? Poderíamos te perdoar, minha filha.
-Não quero o seu perdão! – gritou – E você não me daria isso de graça. Muito bem, o que você quer? Diga de uma vez!
Ele simplesmente apontou a varinha para ela. Instintivamente Bellatrix cobriu a própria barriga.
-Quero a ele... o filho que você está esperando. Meu neto...
-Ele não é seu neto! Não sou sua filha, então ele não é seu neto!
O velho homem arqueou a sobrancelha em resposta.
-Mesmo que não queira, ele tem meu sangue, Bellatrix.
-Para quê o quer? Você já tem um neto. Dois, para falar a verdade.
-Aquela sangue ruim não é minha neta! – gritou o homem, parecendo finalmente estar perdendo a paciência com ela. – E o outro pode ter o meu sangue, mas não é um Black, não vai carregar o meu nome... Como o seu.
Então era isso, ele queria perpetuar a família. O nome. Isso era ridículo.
-Mesmo sendo filho daquele... daquele lá, ele vai ser um Black, filha. Volte para casa, nós o criaremos juntos, ele será como um verdadeiro Black.
-Como soube? – murmurou a mulher.
-Não é difícil sendo quem eu sou. Você sabe muito bem – ele deu alguns passos em direção a Bellatrix, esticou a mão enrugada para tocar-lhe o rosto. – Filha, volte comigo, sua mãe ficará muito feliz se voltar.
Ela soltou uma gargalhada estridente.
-Aquela mulher me detesta, assim como detesta a tudo que respira no mundo, senhor Black. E no que depender de mim, o meu filho não vai passar pelo que eu passei nas mãos dela.
-O que você prefere? Dar-lhe essa vidinha ridícula que você está levando, Bellatrix? Trabalhando? E você, até quando vai agüentar isso? Você não foi criada para ter essa vida.
-Pois eu sou muito feliz levando essa vida, pai!
-Até quando? Até aquele... garoto trair você como fez com todos nós? Como fez com sua própria família?
-Ele não traiu vocês. Sirius só pensa diferente, quem nunca soube aceitar isso foram vocês.
-Ele vai traí-la como fez conosco! – gritou o pai novamente. – Assim que tiver que escolher entre você e aqueles amigos adoradores de trouxas, ele não vai pensar duas vezes antes de escolher a eles, Bellatrix! Pare de mentir para si mesma. Aquele... traidor... aquela vergonha para o nosso sangue vai fazer o mesmo com você!
-E é o filho dessa vergonha que você quer para prosseguir o nome da família? Que ironia, não? Logo aquele que vocês tanto desprezam é o único que pode salvá-los agora... Agora que Regulus está morto, vocês dependem dele para continuar o nome da família.
-Sim – disse ele resignado. – Mas agora, filha... Agora você pode nos salvar – ele levou a mão à barriga dela e Bellatrix sentiu as entranhas se remoerem de nojo. – Venha comigo.
-Não! – ela arrancou a mão dele de seu corpo com uma agressividade que só uma mãe possui na defesa da sua cria. – Nunca! Contente-se em saber que seu nome vai continuar. Porque isso não podemos mudar mesmo, mas você não vai criar seu neto. Não vou privar Siris da convivência com o filho e você só pode estar louco de imaginar que ele aceitaria isso – ela o olhou de cima a baixo, com desprezo. – Devem estar muito desesperados mesmo. E não vou negar, eu adorei ver o senhor me implorando algo. Mas a resposta é NÃO.
Ela virou-se e saiu do estabelecimento, deixando para trás, mais uma vez, tudo o que aquele homem representava em sua vida. Ainda pôde ouvi-lo gritando algo como "ele vai te trair, e quando fizer isso vamos estar te esperando, filha."
Patético, pensou ela, batendo a porta do estabelecimento atrás de si.
Apressou o passo. Precisava voltar antes de Sirius para o pub; por nada nesse mundo ela contaria sobre aquela conversa a ele, pelo menos não no dia da festa de batizado de seu afilhado. Conhecia bem o amado para saber que ele seria louco o suficiente para tentar incinerar a casa de seus pais só de vingança.
