Ordinary Star - by Celly M e Lili Psique

Resumo: Kamus é um magnata da indústria cinematográfica, em busca de uma estrela para suas produções. Jamais imaginou que iria encontra-la num lugar mais do que inusitado... Romance yaoi lemon.

Disclaimer: Saint Seiya / Cavaleiros do Zodíaco pertence a Masami Kurumada. Infelizmente. E os sobrenomes Fauvet e Kazantzakis são criações da Calíope Amphora.

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Capítulo 2 – Uma Volta ao Passado

Ficou um clima pesado. O ar poderia ser cortado com uma faca, de tão denso que estava. Os minutos se passaram, enquanto Kamus e Miro se fitavam, ambos perdidos no que a declaração do último significava. O francês foi o primeiro a se recompor, desviando os olhos do outro, passando as mãos pelos cabelos. Não sabia como reagir diante daquela revelação.

Para seu alívio, Miro estava mais consciente do que deveria fazer. Ou pelo menos parecia.

– Olha, não se incomode. – Ele começou, tentando ignorar a dor na perna ao vestir a calça novamente. – Você não sabia, isso não aconteceu, eu vou embora. E isso não vai ter passado de um pesadelo. – "Ou um sonho muito bom...", ele involuntariamente pensou.

Quando não ouviu nenhuma palavra vinda de Kamus, Miro interpretou que aquilo era realmente o que ele queria que fizesse. Ele saiu do banheiro, tentando se lembrar do caminho que fizeram até lá. Alcançou a escada, analisando-a por alguns segundos, até que aventurou-se a descê-la. Logo no primeiro degrau, quase tropeçou. Rapidamente um braço amistoso o segurou, impedindo-o da queda.

Fitou Kamus, assustado. Não esperava aquela reação dele. Esperava ser escorraçado, como sempre acontecia, ou então que ele simplesmente o agarrasse. Mas não aquele toque delicado, que, mesmo não sendo a primeira mostra de preocupação daquela noite, ainda o surpreendia.

– Não me importa o que você faz. Está machucado, não poderia deixa-lo simplesmente abandonado.

– Já disse que não foi sua culpa, Kamus. Não se martirize.

Kamus começava a aprender a identificar os humores do rapaz à sua frente. Ele não gostava de ser contrariado, nem que lhe fizessem favores. Provavelmente por sempre achar que iriam lhe pedir algo em troca. Achou melhor apenas leva-lo de volta ao banheiro.

– Tome um banho e coma alguma coisa. Se ainda assim quiser ir embora, não vou me opor.

Miro estranhou aquela mudança de atitude, mas resolveu aceitar. Não custava nada mesmo. Só não sabia como iria dizer-lhe que o fato de ele estar ali significava que o francês deveria pagar-lhe. Mesmo que não fizessem nada. Sentiu-se mal, afinal, Kamus não havia levado-o até ali com a intenção de 'contratar' seus serviços.

Mas a voz do primeiro homem que lhe explorara veio em sua mente, como um sonho ruim: "Seja fraco e bonzinho que nunca será nada na vida. Aprenda uma coisa: nessa vida você deve usar mais do que é usado. Ninguém é realmente bom nem está com boas intenções, não importa suas atitudes." E com Kamus provavelmente não seria diferente.

– Tudo bem, eu aceito. – Miro respondeu, voltando para o banheiro, seguido pelo francês.

Kamus tentou agir como se nada tivesse acontecido, como se revelações não tivessem sido feitas, como se aquilo não o afetasse. Ajudou Miro novamente a tirar a calça, dessa vez não se deixando levar pela imagem tentadora da tatuagem de escorpião. Tudo foi feito em silêncio, ambos constrangidos demais para falar alguma coisa.

Miro entrou na banheira de água quente, não conseguindo esconder um sorriso de satisfação ao entrar em contato com aquela mornura tão bem vinda. Sentiu todos os músculos do corpo relaxarem e permitiu-se desligar-se de tudo o que estava a sua volta.

Kamus reparava em cada movimento do rapaz com um aperto no coração. Não tinha a mínima noção do que era aquele tipo de vida para aquelas pessoas, e, aliás, preferia nem saber. Mas, somente presenciar a felicidade de Miro com um simples banho quente, foi motivo suficiente para que ele se questionasse a respeito de tudo o que ganhara ao longo dos anos. Era bem verdade que já possuía um patrimônio, mas a maioria de seus bens ele conseguira com a morte do tio.

Resolveu não pensar na injustiça que aquilo representava. Apenas deixou Miro tomar o banho em paz enquanto caminhava ao escritório, para pedir comida para o jantar. Havia perdido toda a vontade de cozinhar diante do que acontecera antes. "Garoto de programa... Kamus, como você não percebeu antes?", ele pensou, enquanto fazia a ligação.

Algum tempo depois, Miro terminou o banho, mas não quis sair da banheira, que já estava com a água um pouco fria. Esperou por alguns segundos, saboreando a vida que nunca teria. As paredes brancas do lugar luxuoso, os detalhes dourados, tudo era irreal demais, até mesmo para ele.

Não que nunca tivesse freqüentado camas luxuosas, mas aquele era um lugar único. Kamus devia ser alguém importante, tinha jeito de galã, com os cabelos azuis esmeralda e o carro caríssimo e conversível. Mas sua mente falhava ao tentar reconhece-lo. "E eu com certeza o reconheceria se ele fosse famoso."

Seus pensamentos foram interrompidos por uma batida leve. Kamus colocou o pescoço dentro do banheiro, perguntando se Miro precisava de ajuda para vestir-se. Ele iria atender à porta, já que a comida havia chegado. O rapaz disse que não necessitava de ajuda, e mesmo se precisasse, não iria dizer. Já estava achando que devia muito ao francês.

Vestiu-se lentamente, tomando cuidado para não esbarrar nos ferimentos, sensíveis até mesmo ao seu próprio toque. Olhou-se no espelho enquanto penteava os cabelos molhados. Tentou colocar a camisa, mas não conseguiu, pois os machucados ainda ardiam demais.

Miro não sabia o que estava fazendo, mas iria aproveitar aquela noite como se fosse a única. Mais uma vez os pensamentos de que não era sempre que se entrava em uma mansão de um multimilionário vieram à tona, e ele deixou-se levar.

Ficou esperando por Kamus do lado de fora do banheiro, não sabendo o que fazer. Se tentasse descer, poderia cair e até morrer, aquela escada parecia um pouco perigosa. Se ficasse ali em cima, dava a impressão de estar dependendo do outro, coisa que seu orgulho não admitia.

A dúvida foi respondida quando Kamus entrou em seu campo de visão, no andar de baixo. O francês fitou o rapaz no alto da escada, os cabelos molhados, caindo pelos ombros desnudos, a camisa branca em uma das mãos, e os olhos brilhantes, desafiadores. Pela primeira vez notou como o outro era belo.

Espantou aquelas idéias rapidamente da cabeça quando a expressão garoto de programa surgiu, e ele apenas subiu os degraus calmamente, as sacolas com a provável comida ficando em cima de uma mesinha na sala principal.

– Vamos jantar, Miro? – Ele perguntou, com um meio sorriso, estendendo a mão para o rapaz, disposto a ajuda-lo a descer novamente.

– Claro. – Miro apoiou-se no corrimão, e não precisou falar nada. A mão de Kamus foi prontamente estendida, e logo ambos estavam na base da escada.

O francês dirigiu-se a outro aposento, e fez um sinal com a cabeça para que o grego o seguisse. Passaram por uma enorme sala de jantar, mas Kamus dirigiu-se a uma copa, bem menor que a sala anterior, mas ainda assim enorme para os padrões do outro. As sacolas foram colocadas sobre a mesa, e Miro sentou-se em uma das banquetas que circundavam a mesa de granito.

Miro sabia que seria extremamente mal educado jantar sem a camisa, então por isso colocou-a bem devagar.

Kamus percebeu, e foi ajudar, mas o grego o impediu com um sinal.

– Depois que comermos vou cuidar de seu machucado de novo. Com o banho o remédio que passei saiu todo.

Miro não discutiu, apenas aceitou a caixinha de comida chinesa que Kamus lhe estendeu. Aliás, alem do yakissoba de camarão, que agora ele colocava em seu prato, havia arroz chop-suey, frango xadrez, peixe com legumes, frutas caramelizadas e rolinhos primaveras, com molho agridoce. Nem em um dia inteiro o grego achou que comeria tudo aquilo.

– Mas Kamus, pra que tanta comida? – Perguntou, enquanto colocava um pouco do frango no prato.

– Eu não sabia do que você gostava. – Ele respondeu, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo.

– Não precisava exagerar...

– Quer refrigerante?

– Por favor...

Logo o silêncio tornou-se imperioso, mas ambos julgaram que o clima tenso era por estarem ocupados, comendo. Mas após alguns minutos o tenso tornou-se extremamente desconfortável, e Miro percebeu que, apesar de disfarçadamente, Kamus fitava-o.

O francês não se conformava com a beleza do grego. Ele era bonito demais, com um corpo belíssimo, cabelos bem cuidados, pele bronzeada. Kamus sempre achou que esses garotos de programa de rua não seriam tão belos. Mas Miro o surpreendia cada vez mais. Até movimentos banais e instintivos, como o de comer, tornavam-se sensuais quando realizados por ele.

– Você deve estar imaginando como eu entrei nessa vida, não é?

– Perdão, Miro. O que disse? – Kamus saiu de seu devaneio, e voltou sua atenção ao grego.

– Que você deve estar imaginando como eu entrei nessa vida.

– Não. – Respondeu, seco, e voltou o olhar para seu prato.

– Ah, não? –­ Miro disse, após engolir uma bela garfada de yakissoba. – E por que estava me olhando com essa cara de peixe morto?

Kamus ficou sem graça, se repreendendo mentalmente por esse vacilo.

– Olha.. eu só...

– Pode ser sincero. – O grego o cortou. Afinal, era óbvio. Todos sempre tinham essa curiosidade.

– Só te achei muito cuidado. – Falou, escolhendo as palavras. – Não parece com um garoto de programa.

– E o que você sabe sobre isso? Já teve algum garoto de programa, Kamus? – Miro comentou, sarcástico. Irônico como o riquinho queria dizer alguma coisa sobre ele ser 'cuidado'.

– Não foi isso que eu quis dizer. Me desculpa se te ofendi.

– Não, deixa. – Suspirou. – Eu que sou gato escaldado mesmo. – Mais um momento de silêncio incomodou ambos. – Mas você não quer mesmo saber?

Kamus largou os talheres, quase que indignado com a teimosia. Sim, é claro que ele queria saber, mas tinha tato suficiente para não deixar aquilo tudo ainda mais estranho. Porém, por outro lado, parecia que Miro estava desesperado para conversar.

– Olha, Miro, não quero te deixar sem graça. Mas, se você quiser falar...

– Não se incomode. – Miro disse, com sinceridade, mordendo um pedaço do rolinho primavera.

– Já que quer conversar, pode me falar, se isso vai te fazer bem.

– Não faz, mas eu falo assim mesmo. – Ele disse, olhando o francês, com uma expressão indecifrável no rosto. Quando percebeu que Kamus não iria lhe fazer nenhuma pergunta, ele começou. – Sempre tive problemas com relacionamentos. Percebi que gostava de meninos, ou melhor, de homens, desde adolescente. Minha mãe costumava me dizer que, se houvesse um vagabundo num raio de duas milhas, eu me apaixonaria por ele. E foi isso o que aconteceu. Eu segui um cara até aqui, aquele que me prometeu o mundo, as estrelas, uma vida nova. – Ele disse, amargo, parando um momento somente para tomar um gole de refrigerante. Estranhamente, sua garganta ficara seca ao relatar aquela história.

Kamus estava estático ouvindo aquilo tudo, enquanto Miro soltava as palavras bem devagar. Imaginava que a vida do rapaz era triste, mas não que fosse tão ruim. Ser passado para trás era realmente péssimo, mas ele ainda não entendia o que aquilo tinha a ver com o fato de Miro ter se transformado em um garoto de programa.

– Então eu saí da Grécia com ele e, algumas semanas depois, ele simplesmente sumiu. Voltei do mercado com algumas sacolas de compras, mas, ao chegar no apartamento que alugávamos, me vi perdido. Não tinha mais dinheiro, móveis na casa, nada. Tudo foi ficando mais difícil e eu não conseguia emprego. Minha única opção foi... – E ele parou de falar. Era evidente qual havia sido o desfecho daquela saga.

Kamus sentiu-se desconfortável com aquilo tudo. Toda essa entrega de Miro ao amor o incomodava. Ele não conseguia de deixar de julga-lo como ingênuo, infantil, e único responsável pela situação na qual estava.

Achou melhor não comentar nada. Afinal, iria fazer o que? Passar a mão na cabeça dele e dizer que tudo iria melhorar? E iria?

Terminaram a refeição num silencio ainda mais constrangedor. Logo Kamus o ajudou a levantar–se, limpou mais uma vez suas costas, e, ajudando–o mais uma vez na escadaria, mostrou o quarto onde ele iria dormir. Próximo à suíte do francês, para que Miro pudesse chamá–lo em qualquer emergência.

Despediram-se com um 'boa noite' singelo, sem graça, e Kamus viu seu mundo perfeito ruir ao fechar sua porta e sentar–se em sua cama.

Apoiou os cotovelos em suas pernas, e deixou sua cabeça abaixar. Os cabelos esmeraldas cobriram o rosto pálido, e, mesmo se alguém estivesse no cômodo, não veria a angustia que ele transparecia.

O francês levantou-se, e entrou no banheiro de sua suíte, que conseguia ser ainda maior e mais suntuoso que aquele onde Miro tomara banho. Deixou que a ducha relaxasse seus ombros tensos, e perdeu–se num mar de pensamentos.

Kamus havia sido criado num mundo rico, de luxo. Aprendera a lidar com a hipocrisia e a falsidade desde cedo, mas não podia dizer que tivera momentos muito difíceis. Claro, trabalhava demais. Desde adolescente levara sua profissão a sério, e sempre se preocupara em dar o melhor de si. Mas era um mundo completamente oposto ao do grego.

Apesar de saber de tudo isso, se imaginar as provações que Miro passara sozinho, numa cidade estranha, num país desconhecido, sem dinheiro, sem emprego... Apesar disso tudo, não conseguia ter dó dele.

Nós somos tudo aquilo que queremos ser. Não somos? As oportunidades sempre aparecem na nossa frente. E, mesmo que as dificuldades sejam impostas, escolher um modo de vida como aquele era seguir o caminho mais fácil. Miro poderia ter procurado dois empregos, ter sacrificado-se mais. Não poderia?

Terminou o banho, ainda com aquelas questões ecoando. Iria cuidar do rapaz, não por culpa, mas por dever. Se mandasse ele embora, o ferimento poderia não cicatrizar, e sua perna ainda iria doer alguns dias. Iria permitir que ele ficasse ali, pois, afinal, estava machucado devido à falta de atenção de Kamus.

Vestiu seu pijama negro, de seda, e deitou na cama king size. Rolou horas no colchão, sem conseguir dormir, ouvindo alguns gemidos baixos no quarto ao lado, que certamente eram de dor.

Não podia mudar a vida do grego. Não aceitava a desculpa de que ele vendia seu corpo por não ter outra opção. Mas pelo menos procuraria dar-lhe alguns dias mais 'confortáveis'.

A manhã tipicamente gelada de Los Angeles pegou os dois ocupantes da mansão de maneiras diferentes. Enquanto Kamus ainda dormia, com um fino lençol cobrindo-lhe até à cintura, Miro saía do quarto ao lado como um gatuno no meio da noite. Não sabia ao certo o que o francês havia aplicado em seus machucados, mas eles doíam bem menos do que na noite anterior, quando fora difícil para que adormecesse. A perna ainda incomodava bastante, mas ele tinha quase certeza de que poderia descer as escadas sem dificuldade.

Desceu os primeiros degraus incerto do que estava fazendo, e quase terminou por rola-los, quando um enorme relógio de madeira lustrada e bem talhado, pendurado na parede, começou a badalar, em volume alto. Ele segurou-se no corrimão, respirando alteradamente, olhando para os lados, tentando perceber se alguém havia aparecido. "Como eu não notei essa geringonça do outro século na parede? O que diabos um troço velho desses faz na mega mansão do ricaço moderninho?", ele pensou, descendo mais alguns degraus.

Algum tempo depois alcançou a porta. Olhou a combinação de segurança e questionou–se se o alarme contra invasores estaria ativado. As luzes estavam apagadas, e, em sua leiga experiência, isso lhe dizia que ele não teria problemas para sair dali. Suspirou profundamente, ponderando sua decisão. Queria ser mais grato ao homem que cuidou dele, mesmo sem ter a obrigação, mas ao mesmo tempo, não queria revelar-lhe que acaso ficasse mais tempo, não poderia partir sem cobrar-lhe por algo que nem ao menos fizeram. Era seu instinto de sobrevivência.

Abriu a porta e encolheu-se dentro da camisa branca, devido ao vento frio que entrou de repente. Deveria ser cedo demais, ele nem importou-se de conferir o horário. Havia uma neblina inimiga do lado de fora, e os raios de sol sendo encobertos por aquela névoa.

– Miro, o que está fazendo aqui tão cedo? – Kamus perguntou, com o pijama de seda aberto alguns botões, os cabelos presos em um rabo de cavalo resistente.

Miro perguntou–se se por acaso ele penteara-se antes de sair do quarto. E quis matar–se por não ter percebido a aproximação do outro.

– Eu vou embora. Você já fez demais por mim. É melhor assim.

– Não fale besteira. Volte para a cama, ainda são seis da manhã.

– Não. – Miro disse, simplesmente. Daquela vez estava disposto a não ceder.

– Feche a porta por favor, rapaz.

Miro o fez, não olhando o francês. Ficaram em um silêncio que durou segundos. O rapaz sentindo Kamus olhando–o, como se o questionasse. Por fim, Kamus acabou por perguntar.

– Por que não poderia esperar pela manhã chegar como uma pessoa comum? Tomaríamos café da manhã e pensaríamos com mais calma em tudo. Foi perigoso você ter descido as escadas. – O grego não esboçou qualquer reação. – Responda-me, Miro.

– Porque sim. Eu não quero ser injusto com alguém que me ajudou.

– Como poderia ser injusto, garoto?

Miro olhou–o profundamente; aquela palavra "garoto" lhe lembrava de sua condição. Por um segundo passageiro comparou Kamus a todos os outros que o usaram e aquilo o enojou.

– Faria você pagar pelo tempo que fiquei aqui.

Aquilo desestabilizou Kamus, que apenas desviou o olhar de Miro. Sentiu-se subitamente cansado, parecia que o outro realmente queria manter-se como era originalmente, não importando o quanto ele tentasse não trata-lo da maneira cruel como os outros faziam. Por fim, ele fitou–o novamente.

– Pois bem. Eu pagarei. – Ele disse, friamente. Miro não se mexeu, a realidade caindo como um iceberg em sua cabeça. A voz de Kamus ficou mais branda logo em seguida. – Eu lhe ajudo a voltar para a cama. Venha comigo, por favor.

Miro seguiu–o, calado. E agora, além de sentir–se deslocado, sentia–se péssimo.

Voltou para o quarto, com a ajuda de Kamus. O francês esperou que ele entrasse no aposento e deu as costas. Miro entrou. Ambos sentaram–se nas suas respectivas camas, desgastados. Até onde aquela situação iria?

Kamus não tinha mais sono. E, apesar de ser um domingo, tinha muito o que fazer. Tomou um banho calmo, refletindo mais uma vez sobre a situação. Desceu, já vestido, de camisa e sapatos, mas com jeans. Pediu para que seu mordomo providenciasse junto à cozinheira o café da manhã. Dirigiu-se ao escritório menor que mantinha no térreo da mansão, e analisou os muitos papeis que ali estavam.

Uma sinaleta e a batida suave na porta indicaram a Kamus que o tempo que ficara dentro do escritório passara rapidamente. O mordomo lhe avisara que o café da manhã estava servido na sala anexa ao jardim da parte de trás da mansão e o francês assentiu, sabendo que era um lugar onde raramente os empregados iam, um lugar onde ele gostava de ficar quando estava pensativo. E o mordomo havia entendido aquilo na mesma hora.

Levantou-se e deixou os papéis desarrumados mesmo. Depois voltaria ali. Agora pensava em algo mais importante. Acordar o novo 'hóspede' de sua casa.

Subiu a escadaria, e bateu de leve na porta. Achou que encontraria o outro dormindo, mas sentiu-se extasiado ao vê-lo abrir a porta, de cabelos molhados.

– Peguei as roupas que estavam naquele armário. – Miro apontou para dentro do quarto. – Algum problema?

– Não. Coloquei-as ali para que você usasse. – O grego ficou lindo com o jeans desbotado e a camisa vermelha. Mas Kamus afastou essa análise de sua mente com a mesma rapidez que ela aparecera. – Venha, o café já foi servido.

Miro bufou, de leve, quando teve que se apoiar mais uma vez no braço de Kamus, para descer as escadas com mais facilidade.

– Alguma coisa doendo? – O francês perguntou.

– Não. É só que se eu continuar nesse esquema de subir e descer escadas, não vou melhorar nunca do machucado na perna. – Miro arrependeu-se do comentário logo depois de faze-lo. Maldita espontaneidade. O cara estava ali, dramaticamente solícito, e Miro continuava a reclamar.

– Não precisa ficar sem graça, você tem mesmo razão. Vou pedir para que aprontem um quarto para cada um de nós no andar de baixo.

Miro ia dizer que não precisava, que ele iria embora, e, mesmo se passasse outra noite ali, não haveria necessidade de Kamus sair de sua suíte apenas para dormir próximo dele. Mas ficou tão surpreso com o fato da mansão ter mais quartos, além dos muitos que ele vira no andar superior, que não conseguiu engolir a pergunta.

– Há quartos aqui embaixo?

– Sim. Quando meu tio ficou doente, era obrigado a evitar as escadas. Acabou ampliando a casa, e criou uma ala apenas de quartos no andar de baixo.

– Seu tio ainda mora aqui? – Miro perguntou, curioso.

– Não, ele faleceu há alguns anos.

"Isso! Outro fora, Miro..." – Pensou consigo mesmo, e correu em se desculpar.

– Perdão! Eu não sabia, desculpe, eu...

Chegaram até o jardim, absurdamente lindo. A grama era perfeitamente aparada, e apenas em um pequeno local havia um piso frio. E ali estava servido o café.

A mesa de ferro era totalmente retrô, pintada de branco, e combinava com as duas cadeiras. Seu tampo de vidro possuía uma toalha de linho branca, e pães, geléias, leite, café, suco, cereais, omeletes e outras guloseimas estavam em cima. Kamus puxou uma das cadeiras, ajudando o outro a sentar-se, e continuou conversando, sem deixar o outro comentar mais uma vez sobre a quantidade de comida.

– Não precisa se desculpar. Eu posso dizer que já superei.

– Hum... – Miro logo começou a comer uma omelete. – E sua família?

Kamus colocou um guardanapo em seu colo, e não conteve um breve sorriso ao ver a vontade com o que o outro comia. Não conseguiu deixar de compara-lo, ironicamente, a uma criança.

– Meus pais faleceram quando eu ainda era criança. E meu tio não teve filhos. Logo, ele era minha única família. Veio para os Estados Unidos cedo, e logo entrou no ramo do cinema.

– Eu sabia que te conhecia de algum lugar! – Miro exclamou, rindo, como se tivesse descoberto um segredo. – Você é do cinema!

– Pode-se dizer que sim... – Respondeu, enquanto passava delicadamente geléia de morango em um pão, e colocava suco de laranja em um copo.

– Você é produtor? Não... – Mexeu as mãos. – Essa casa é grande demais. Você é um diretor?

– Bom... também dirijo, mas são poucos filmes. – Kamus respondeu, misterioso. Adorou aguçar a curiosidade do grego.

– Oras... mas o que você é então? Roteirista?

– Não... eu tenho um negócio na área.

– Que negócio? – Perguntou, ainda mais curioso.

– Quer conhece-lo? – Não escondeu mais um leve sorriso.

– Adoraria! – Miro quase pulou da cadeira.

– Ótimo. Eu lhe levo lá após comermos.

– Mas hoje é domingo. – Olhou, com curiosidade. – O que tem lá de domingo?

– Muita coisa, Miro. Fique tranqüilo. Acho que você irá gostar do passeio.

Continua...

Notinhas! (de novo, óbvio!)

Celly M. (a psicótica pelo Saga...)

O primeiro capítulo teve uma repercussão muito positiva e isso me deixou tão contente. Yeah, esse capítulo vamos conhecer um pouquinho mais do Miro e por isso foi bem divertido de escrever. Eu e Lili vamos fazer recadinhos, respondendo às reviews, que estarão em nossos blogs, o meu é celly (ponto) still (traço) angels (ponto) com. Um beijo super especial à todos que leram, à minha parceira de loucuras, Lili, à Tati e a ma petit Ju, que com certeza deve estar arrancando os cabelos por esse capítulo. Boa leitura!

Lili Psiquê (enlouquecida pelos Anjos...)

Capítulo básico esse... No próximo o negócio já começa a esquentar. Gente, valeu muito pelas reviews! Elas serão comentadas nos blogs (lilipsique (ponto) blogspot (ponto) com), pois não queremos sumir do FF . net. E meninas, obrigada pelo apoio de sempre. Bjo especial pra Celly (querida, amo escrever contigo), e pra Tati.

Bjokas!