Resumo: Kamus é um magnata da indústria cinematográfica, em busca de uma estrela para suas produções. Jamais imaginou que iria encontra-la num lugar mais do que inusitado... Romance yaoi lemon.
Disclaimer: Saint Seiya / Cavaleiros do Zodíaco pertence a Masami Kurumada. Infelizmente. E Fauvet e Karantzankis são sobrenomes criados pela Caliope Amphora.
Notinha básica da Celly e da Lili: coraçõezinhos desavisados, preparem seus lenços...nada de sangue pelo nariz, hein? Depois não digam que não avisamos!
Capítulo 4 – Uma Noite Comum?
Para Kamus, a semana seguinte passou como um furacão. Ele nem mesmo teve tempo de pensar muito na partida de Miro, que, aliás, ele classificou como um "evento ocasional". Naquele mesmo sábado o francês recebera uma ligação de Shura, um roteirista espanhol muito talentoso, que ele conhecera em uma de suas viagens para Madrid. O homem estava com viagem marcada para Los Angeles, a fim de mostrar a ele um projeto para um musical, que muito interessava a ambos. Se tudo desse certo, a Paramount iria ganhar e muito com as habilidades do espanhol. Marcaram uma reunião para a semana seguinte, nos estúdios.
Agora era sexta-feira, e ele estava em seu escritório. No dia seguinte completaria uma semana exata desde que Miro saíra de sua vida. As enormes janelas de vidro estavam cobertas por pesadas cortinas negras, e um pequeno projetor ligado exibia cenas de um novo filme na parede branca e despida de decoração, designada exatamente para aquele propósito. Os óculos de grau, de aro fino, estavam a ponto de cair da ponta de seu nariz; ele segurava um lápis com tanta firmeza, que estava a ponto de parti-lo ao meio.
– Merde! – Disse, baixinho, apesar de que ninguém ouviria seus impropérios, já que aquele lugar era a prova de som.
A projeção mostrava uma mulher de longos cabelos negros e sobretudo branco subindo as escadarias de uma mansão. Os óculos escuros cobriam seus olhos, e ela parecia soluçar. Encontrou-se com um homem no topo da escada e, após trocarem breves diálogos, ele apenas sacava um revólver e atirava duas vezes contra o corpo delicado dela. O sangue esvaía-se, assim como sua vida, enquanto ela simplesmente caia nos braços de seu algoz.
Aquela cena foi demais para Kamus, e ele finalmente partiu o lápis ao meio. Uma farpa furou seu dedo e ele xingou mais uma vez. Irritado, pressionou o botãozinho que desligava o projetor e piscou diversas vezes quando a luz se acendeu automaticamente. Por fim, apertou outro botão, dessa vez o do interfone, que prontamente foi atendido por seu secretário particular.
– Pois não, senhor Fauvet.
– Hyoga, faça-me um favor. Ligue-me com Dohko imediatamente.
– Em um instante, senhor. – O rapaz respondeu, do outro lado da linha, notando um certo nervosismo na voz de seu chefe.
Não demorou muito e a ligação foi completada. Kamus bufou impropérios a Dohko, a respeito do que acabara de ver. O homem do outro lado da linha parecia até já estar esperando por aquele rompante do francês, pois apenas murmurou algumas palavras em concordância. Logo em seguida desligou, prometendo resolver aquele problema o quanto antes.
Menos estressado, Kamus voltou ao trabalho, dessa vez deixando a mente vagar em um roteiro mais que precioso. Um que estava guardado há mais de dois anos na memória do seu inseparável laptop, esperando pelo momento de ser levado às telas. Esperando alguém com talento suficiente para atuar.
Já passava de dez da noite quando deixou os estúdios da Paramount. Dirigia, dessa vez, um Audi A4 na cor preta, um de seus favoritos. Ele era colecionador de belezas automotivas, diga-se de passagem, e não dispensava uma boa passeada pela cidade com os cabelos ao vento por nada naquele mundo. Os conversíveis eram em disparado as meninas dos seus olhos.
O tempo estava nublado, perigando chover, pelo que informara a meteorologia, mas mesmo assim ele arriscou: saiu com a capota do carro abaixada. Cumprimentou formalmente alguns atores que também deixavam os estúdios àquela hora, e seguiu para sua casa. No trajeto, não pôde deixar de passar pela Hollywood Boulevard. A imagem de Miro logo veio à sua mente, tão rápida como foi embora, pois um telefonema não permitiu que ele pensasse muito naquilo.
– Fauvet. – Disse mecanicamente, ativando o viva-voz do aparelho.
– Kamus, é o Shion. Dohko falou comigo sobre o filme. Amanhã mesmo resolvo isso. Acredito que algumas modificações...
Kamus interrompeu o homem do outro lado da linha, bruscamente.
– Sabe o quanto aprecio seu trabalho, Shion, mas modificações não serão necessárias. Pedi ao meu secretário para comunicar à Hilda, aos outros atores e à produção que as filmagens estão temporariamente canceladas.
– Como assim canceladas? – O outro parecia visivelmente abalado.
– Os detalhes serão informados amanhã. Preciso desligar, estou no trânsito. – O francês explicou, polidamente.
– Tudo bem, mas saiba que Hilda não vai gostar nada disso.
– Eu resolvo isso com ela. Boa noite, Shion.
Desligaram o telefone e Shion deitou-se novamente, com a expressão enigmática. Braços o envolveram rapidamente, como se tentassem acalmá-lo, confortá-lo. Ele suspirou, devolvendo o afago.
– O quê ficou resolvido?
– Ele cancelou mesmo as filmagens. Teremos problemas, Dohko.
– Esse problema não é mais nosso, Shion. – O produtor disse, colocando a cabeça do marido encostada em seu peito. – Agora é tudo entre Kamus e Hilda.
– Aí é que está o problema. Hilda vai arrancar o fígado do Kamus com um garfo e fritá-lo para comer no café da manhã.
Dohko riu gostosamente, como se aquela fosse a piada mais engraçada que alguém poderia ter contado. Acariciou os cabelos de Shion, enquanto murmurava:
– Vocês realmente não conhecem o Kamus. É mais provável que o contrário aconteça, meu querido.
Kamus entrou na mansão pensando na conversa que tivera com Shion há pouco tempo. O diretor era um dos mais respeitados no meio, e a Paramount sempre dera total apoio aos projetos dele. A parceria dele com Dohko, no início da carreira de ambos, rendeu um Oscar de melhor filme e direção, dividido por eles. Da amizade inicial surgiu um relacionamento, que foi oficializado em uma união estável dez anos depois de ambos assumirem publicamente seu romance.
O francês não presenciara essa época, mas nunca duvidou da competência de Shion. Porém, aquele filme era uma tentativa de voltar aos tempos áureos do cinema, quando os atores eram venerados como verdadeiros deuses. Só que a pessoa escolhida para protagonizá-lo mais parecia uma atriz de quinta, uma estreante, que, para o desgosto de Kamus, havia feito o que era vulgarmente conhecido como "teste do sofá". Com ele próprio. Ele simplesmente não poderia arriscar perder milhões de dólares e a reputação tanto do estúdio quanto de Shion e Dohko, por conta dos caprichos da mulher descoberta por ele. Seu erro, sua responsabilidade.
Resolveu não pensar no que lhe esperava no dia seguinte e seguiu para seu quarto; o cansaço evidente apenas exteriorizado quando ele sentou-se confortavelmente na banheira cheia de água perfumada e gelada. Todas as tensões foram abaixo enquanto ele tentava relaxar, imaginando se um dia teria a paz que sempre pedia secretamente.
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Finalmente estava chovendo; para Kamus, pelo menos. Aliás, podia-se dizer que caía um dilúvio em Los Angeles naquele sábado. Pela manhã ele preferiu fazer um vôo rápido em seu helicóptero particular a enfrentar o trânsito caótico. Não tinha motorista, por isso iria estressar-se com certeza se resolvesse sair de carro. Ele estava tendo um dia particularmente agradável desde que chegara ao estúdio. Nenhum problema de última hora, as reuniões pontualmente no horário, um almoço com Shion e Dohko para a oficialização do cancelamento das filmagens e mais reuniões. Nem mesmo Hyoga parecia atrapalhar-se com a quantidade de serviço que o chefe estava lhe impondo naquele dia.
Permitiu-se sentar no sofá do escritório por alguns minutos, abrindo as correspondências que haviam chegado, aproveitando também para ler o jornal do dia. Estava a ponto de abrir a última carta quando a porta do escritório abriu-se abruptamente, e um borrão loiro entrou rapidamente, seguido de outro borrão no mesmo tom, mas visivelmente corado.
– Senhor Fauvet... me perdoe, a senhora simplesmente entrou... – Ele tentou se justificar, olhando para o chão.
– Não tem com o que se importar, Hyoga. Nos deixe a sós. Obrigado. – Kamus disse, sério, levantando-se do sofá no instante em que a porta fechou num clique silencioso.
Fitou a mulher a sua frente de cima a baixo. Hilda era belíssima, não se podia negar. Os cabelos, olhos, corpo, tudo contribuía para que sua figura fosse desejada pelo mundo todo. E ele gabava-se de tê-la moldado para aquilo. O único porém era que nada havia saído como ele planejara. Muito bela, mas sem o talento que ele esperava.
– A que devo sua visita, Hilda? Aliás, você não perdeu o hábito de educadamente invadir os recintos, não é mesmo? – Disse, enquanto sentava-se à sua mesa, indicando educadamente a cadeira à frente da mesma para a loira.
– Não me venha com piadas, Kamus Fauvet! Quem você pensa que é pra simplesmente cancelar o filme, sem me dar nenhuma explicação? – Ela perguntou, alterada, ainda em pé, com os fios de cabelo soltando do coque que ela usava.
– Quem eu sou? Minha querida, você sabe muito bem quem eu sou. – Respondeu, calmíssimo, sem sequer sair detrás de sua mesa. – Agora, é você que parece não saber quem é ultimamente. Cancelei esse filme pelo seu bem. Às vezes me pergunto onde estaria a garota adorável que eu conheci na França. Você sumiu, Hilda, se relaciona com lixo, por isso está ficando do mesmo jeito.
– Kamus, não ouse falar de Siegfried dessa maneira.
– Ouso sim porque você está se destruindo por conta dele. Seus ciúmes, seus rompantes, seus remédios. Trate-se Hilda, trate-se e quem sabe seu filme não continua? Estou fazendo isso para o seu bem.
– Ah sim! Mas é para o meu bem ou para o seu poderoso estúdio? Para o seu precioso dinheiro? – Ela perguntou, irônica. Percebeu quando Kamus estreitou os olhos, mas ela não tinha medo dele, nunca tivera. Nem mesmo quando ele aproximou-se dela, dizendo-lhe que tinha beleza para ser uma estrela de cinema em Hollywood. – Acha que não sei, que não percebo? Você tem inveja, Kamus! Não pode ver uma pessoa feliz que quer destruir o que ela tem de mais precioso!
– Não seja ridícula, Hilda. Essa sua justificativa é simplesmente inaceitável. – Retrucou, as palavras dela refletindo como em um espelho. Kamus achava patético como as pessoas precisavam apoiar-se nos sentimentos para ferir as outras.
– Inaceitável ou não, essa é a verdade. Você fica aqui, no seu castelo de gelo, o 'Senhor', o 'Príncipe de Gelo' da Paramount, porque simplesmente ninguém te quer. Essa sua frieza afasta qualquer um bem intencionado, Kamus. Você não tem capacidade para ter ninguém do seu lado... – O tom de voz dela passou para um mais piedoso. – ...e, infelizmente, vai morrer assim. Por isso não pode ver ninguém feliz, como eu.
Hilda não olhou para trás, não esperou qualquer resposta de Kamus. Bateu a porta do mesmo jeito que havia feito quando entrara. Não tinha em mente seguir nada que o francês lhe falara. Para ela, tudo era muito exagerado da parte do "magnata-ditador", como ela costumava se referir.
Kamus voltou os olhos para seu laptop, tentando não ouvir a voz de Hilda martelando as mesmas palavras em sua cabeça. Mas foi inevitável. "Você afasta todas as pessoas de perto de você... você vai morrer sozinho... não pode ver ninguém feliz...". Bateu a tampa do computador, inconformado. "Desde quando palavras me atingem desse jeito?", ele pensou, enquanto, impulsivamente, pegava o paletó que estava atrás da cadeira e saia do escritório.
– Cancele todos meus compromissos, Hyoga. Não volto hoje. Está dispensado depois disso.
Tomou o elevador, ligando para a mansão, pedindo que o mordomo lhe mandasse um dos carros que estavam na garagem. Estava estressado, e só havia um lugar ao qual realmente queria ir naquele início de noite.
Logo um de seus empregados trouxe um carro prata, e Kamus saiu da Paramount dirigindo furioso. Há anos que palavras como aquelas não o tocavam. Sempre fora mesmo o 'príncipe de gelo', como muitos diretores, produtores e atores o apelidaram. E ele nunca se importara.
Porém, sabia que ainda era cedo para dirigir até onde gostaria. Rodou por horas a fio, mentalmente cansado, parando apenas para abastecer o carro, e em uma adega caríssima. Lá degustou uma série de vinhos, mas acabou comprando alguns franceses e italianos que muito o agradavam, e que ele já conhecia. Seu humor não estava para experimentar bebidas. Checou o relógio suíço, e ainda andou mais por pouco por Los Angeles. Quando o ponteiro indicou 22 horas, colocou-se em seu caminho.
Para onde?
Hollywood Boulevard.
Por quê um magnata culto como Kamus se dirigiria para lá? Bem, propriedades para ir eram fartas. Além da sua residência em Beverly, ele possuía casas e apartamentos em outros locais da Califórnia, como Orange County, assim como na França e na Inglaterra. Poderia hospedar-se em qualquer hotel. Havia muitas 'rotas de fuga'. Mas, em todos esses locais, a situação era a mesma: ninguém o esperava. Não havia família, ou grandes amigos.
Muitos atores, produtores, diretores, jornalistas e outros famosos ficariam felicíssimos com um convite de Kamus Fauvet para um jantar. Quantos restaurantes e boates deixariam que ele furasse filas, e conseguiriam lugares, mesmo sem reservas, caso ele simplesmente aparecesse? Mas ele não queria ver nenhum dos rostos conhecidos. Não queria dar de cara com o mar de puxa-sacos que estava sempre a sua volta, ou os amigos que uniam-se a ele por interesse.
Queria ver o único que não fizera qualquer questão em estar ao seu lado.
Quando alcançou a avenida, deveriam ser por volta das onze horas. Abaixou o som do seu mp3 player, e começou a dirigir devagar, acompanhando as estrelas da calçada da fama. Os corpos femininos, em sua grande maioria, já se exibiam descaradamente, chamando-o com malícia, esperando faturar uma grana alta com o dono daquele conversível.
Mas os cachos azuis que ele procurava logo despontaram. Encostado em uma parede, Miro estava muito mais arrumado do que no dia do atropelamento. Uma calça jeans clássica, escura, fazia par com uma camisa azul claro. Os cabelos revoltos pareciam emanar um aroma delicioso, e balançavam com o vento. E, nos pés, ao invés de botas, sapatos bicolores. Miro sequer parecia um garoto de programa. A única coisa que realmente o entregava era seu olhar felino, e a posição maliciosa com a qual ele apoiava seu corpo, com o pé direito na parede, e as costas arqueadas.
Kamus encostou o carro, ao mesmo tempo contente e triste. Queria muito mesmo vê-lo. Mas, em contradição, esperava que o rapaz tivesse feito bom uso do dinheiro que ele havia lhe dado, e que não estivesse a 'trabalhar' logo na semana seguinte.
Miro sorriu, ao identificar o francês no conversível. Aproximou-se provocante, e apoiou suas mãos na porta, inclinando seu tronco para dentro do carro.
– Pois não? Como posso servi-lo? – Perguntou, com clara malícia.
– Não achei que fosse lhe encontrar aqui. Já gastou o dinheiro que eu lhe dei semana passada?
– Primeiro, você não me deu. Me pagou. E, segundo, eu estou trabalhando, mon cher. Se realmente não esperava me encontrar aqui, por que estava dirigindo devagar desde lá de cima? – Miro riu, deliciado em deixar Kamus sem graça.
– Mesmo assim, Miro. Era muito dinheiro. Onde você o enfiou?
– Olha aqui, eu o investi. E muito bem, aliás. Mas isso não é da sua conta. E me dá licença, por que eu já disse que estou trabalhando, não tenho tempo pra ficar papeando. – O grego distanciou-se do carro, com a clara intenção de voltar ao seu 'ponto', levemente irritado com a intromissão do outro.
Kamus percebeu seu fora, e inclinou-se para o lado do passageiro, segurando no pulso do Miro, não deixando que ele se afastasse.
– Miro, espera.
O grego rodou os olhos, e riu mais uma vez, virando-se novamente, ficando na posição anterior.
– Você não desiste mesmo, hein? Diga querido francês, o que o trouxe aqui? Aliás, amei o carro. Adoro o James Bond.
– Miro, por favor, não denigra o meu Aston Martin. – Kamus disse, incomodado. – O carro é maravilhoso, mas não faça com que eu me sinta canastrão como o Bond.
– Nossa, que mau humor! Que bicho te mordeu?
– Nem queira saber.
Nesse ínterim, uma BMW Z4 preta encostou um pouco na frente do carro de Kamus. Miro identificou o automóvel, e endireitou suas costas.
– Kamus, não sei a que você veio, mas eu tenho que ir. Aquele cara é cliente meu, e paga muito bem.
– Espera. – Puxou o pulso dele novamente, mas dessa vez com mais pressão, mostrando claramente sua vontade de que ele não fosse com o outro.
Miro começou a ficar realmente nervoso. Se perdesse a bolada garantida que o cara da BMW lhe proporcionaria por causa de frescuras daquele francês, iria mandá-lo para o inferno.
– O quê raios você quer? Fala logo! – Bufou.
Os dois se encararam. Kamus se sentindo impotente perante a personalidade do outro, e Miro realmente bravo.
– O preço ainda é o mesmo?
Miro fitou-o confuso, não percebendo como aquele questionamento era óbvio.
– Como assim?
– O preço, Miro. Ainda é o mesmo? US$ 100 a hora?
– Ah... – Miro riu, ao perceber o interesse de Kamus. – Sim, mas aquele ali me paga o dobro. Com ele eu ganho US$ 200 a hora. E ele é rápido, eu consigo fazer outros programas no restante da noite.
– E se eu te pagar US$ 2000 pela noite inteira?
Miro debruçou-se mais uma vez no carro, dando um riso completamente cínico, achando aquele valor absurdo demais.
Kamus, ainda sem graça, compreendeu mal a atitude do grego, e correu em completar:
– É muito pouco? Por que, se você quiser...
Não pôde completar a frase. No mesmo momento Miro assobiou, e Mú e Shaka, que estavam algumas estrelas à frente, olharam para ele. O grego apontou para a BMW, e os dois prontamente caminharam até lá. Ele pulou a porta do Aston Martin, e acomodou-se no banco do passageiro.
– Acelera, francesinho.
Logo o carro prata saía apressado pela Hollywood Boulevard.
Poucos minutos de silêncio rondaram ambos, mas logo o grego desatou a falar sobre as compras quase metódicas que ele havia feito com uma parte do dinheiro recebido. Kamus não pôde deixar de comentar sobre a roupa do outro, tão diferente da que ele usava no atropelamento.
– Sábado passado usei aquela camisa e calça que você me deu. Percebi que atraia mais mulheres vestido assim, e comprei um arsenal de camisas. – Miro desatou a falar.
– Mulheres? Você sai com mulheres? Eu pensei que você só saia com...
– Homens? – O cortou, sorrindo. – Não. Primeiro porque eu sou bissexual, Kamus, apesar de sempre ter preferido homens. Mas programas com mulheres são sempre melhores.
– Por quê?
– Mulheres são mais fáceis. – Miro começou um verdadeiro discurso, gesticulando. – Elas apenas querem ser amadas, sentirem-se bonitas. E, mesmo quando atendo duas ou três de uma vez, que geralmente estão bêbadas, é mais divertido. Elas te idolatram, fazem bagunça... – Gargalhou, e ficou um pouco calado antes de continuar. – Eu cometi a burrada de aceitar uma grana alta para sair com dois caras uma vez. O começo da noite até foi tranqüilo, até eles encherem a cara, e começarem a me bater. Nem lembro como cheguei em casa. Depois dessa, nunca mais saí com mais de um ao mesmo tempo.
Um silêncio, agora constrangedor, pairou. Mas Kamus, inconformado, não conseguiu deixar de exprimir sua opinião.
– Por quê não larga tudo isso? Miro, você é tão belo, poderia ser tantas coisas...
– Por favor, nem comece, não quero brigar com você. E, aliás – Miro desconversou. –, para onde você está indo? Porque esse aqui não é o caminho para as colinas de Beverly Hills...
Kamus ficou calado, até que o outro insistiu.
– Kamus, é sério. Para onde estamos indo?
– Bom... eu não sei. – Disse, sem jeito.
– Como assim, não sabe? – Miro olhou para o outro, e viu que ele realmente falava sério. – O quê você tinha na cabeça quando pensou em me pegar?
– Na verdade, eu não pensei em nada. Simplesmente vim.
– Sabe, francês, você realmente deve ter algum parafuso solto... Tá, me diga então, o que você quer fazer?
– Sei lá, seu grego desesperado. – Retrucou, com a mesma ironia. – Eu quero conversar, me divertir.
– E como você costuma se divertir?
Kamus suspirou.
– Em festas muito chiques, com um monte de gente enfadonha, champagnhes caríssimos, e milhares de regras de etiqueta.
– Sabe, isso não é diversão... – Miro pensou por alguns instantes. – Por quê não vamos dançar? Com certeza você tem grana para entrar nessas boates da moda.
– Tenho, mas com certeza encontraria conhecidos famosos, e minha paz iria pelo ralo. E eu não danço.
– Acho que restaurantes também estão fora de cogitação, não é?
Kamus nem respondeu, apenas olhou de soslaio para o outro.
– Tá... Ah, francês, então não faço idéia. Vamos pra tua casa mesmo. Lá deve ter alguma coisa interessante pra se fazer...
O outro continuou calado, e pegou o caminho para sua mansão.
Antes mesmo de passar pela Hollywood Boulevard, ligara para sua casa e dispensara seus empregados, dizendo que eles poderiam deitar-se. Portanto, quando chegou, ninguém veio recebê-los, mesmo sendo pouco depois da meia noite. Guardou o automóvel na garagem escura, para a tristeza de Miro, que não pode observar toda a coleção de carros do outro.
Kamus pegou a sacola que ostentava a marca fina da adega onde comparar os vinhos, e pediu que o grego o acompanhasse. Logo estavam no hall da mansão.
Miro adorou voltar ali, pois achava aquele lugar delicioso.
– Kamus, vamos nadar?
– Miro, por favor, tenha tino! Nadar a essa hora?
– Ok, ok... Você é mesmo muito chato... – Pensou. – E não há uma sala de jogos por aqui? Daquelas com mesa de snooker...
– Tem sim. – Respondeu, seco.
– Beleza. Então deixa esse vinho de fresco na sua adega, pega umas cervejas, e vamos pra lá.
– Eu não tenho cerveja.
– Como não tem?
– Eu não tomo cerveja.
Miro rodou os olhos, inconformado.
– Eu devia saber... Tá, leva o vinho mesmo.
Kamus dirigiu-se à cristaleira que havia na sala de jantar, e Miro o seguiu. Quando percebeu que ele ia pegar taças de cristal para eles beberem, arrancou as duas garrafas da mão dele.
– Você consegue ser mesmo muito fresco, hein? Deixa essa taças aí, e me mostra o caminho. Aproveita e fala o porquê dessa cara de limão azedo.
O francês olhou para o outro, indignado, e entrou no corredor que os levariam à ala de lazer da mansão. A sala de jogos era mesmo perto da piscina e da sauna, que Kamus definitivamente não freqüentava.
– Miro, como você pretende tomar o vinho?
– Você pegou o treco pra tirar a rolha, não pegou?
Kamus estendeu o aparato de aço escovado para ele, enquanto abria a porta da enorme sala de jogos.
– Nossa, mas que troço chique!
Miro apoiou uma das garrafas na primeira mesinha que viu (que no caso era uma para carteado), e abriu a garrafa de vinho tinto. Atirou a rolha longe, com a intenção de atingir a cabeça de Kamus, que começou a pensar se trazê-lo fora uma boa idéia, e deu a primeira golada. Obviamente direto no gargalo.
– Miro, sacre coeur! Esse vinho é caríssimo, italiano, da safra de...
– Pára com a frescura. Nós vamos jogar, não estamos numa festa fina; deixa essa etiqueta toda de lado, e toma um gole. – Miro deu a garrafa nas mãos dele, enquanto caminhava na direção dos tacos, que estavam lindamente arrumados em um suporte de madeira, na parede. Retirou um deles, passou o giz na ponta, e continuou a falar. – Enquanto eu me aqueço, desembucha o porquê do teu mau humor.
Kamus não disse nada, enquanto observava Miro arrumar as bolas dentro do triângulo de madeira vazado, específico para o jogo.
– Kamus, eu já disse para você falar. – Disse em voz alta, ao dar a primeira tacada e estourar as bolas.
– Eu já disse que não houve nada. – Falou em voz baixa, apoiado em uma parede, de braços cruzados, observando Miro encaçapar uma bola, pensando em quando dera liberdades para o outro falar naquele tom consigo.
– Você pode ser um chato, mas essa cara não é normal. Enquanto você não falar, eu não vou parar de perguntar. – Olhou cínico para o francês. – Eu acho que você já sabe o quanto eu posso ser teimoso, não é verdade?
O francês suspirou.
– Eu discuti com uma atriz, porque cancelei o filme que ela estrelava.
– Que atriz?
Nem respondeu, apenas olhou para o grego com a melhor cara de 'não te interessa'.
– Vamos lá, francesinho! Me diz quem é, que eu te digo se é má atriz.
Kamus suspirou. – Hilda Polaris.
Miro assoviou. – Essa loira é tudo de bom!
– E péssima atriz. Fabricada, pedante, ciumenta e histérica.
– Como você sabe que ela é ciumenta? Não me diga que vocês tem um caso! – Perguntou, curioso e risonho, logo depois de encapaçar mais uma.
– Lógico que não! Jamais me relacionaria com alguém sem conteúdo como ela! Ela é vazia, mon ami.
– Mas continua sendo uma gata. – Suspirou.
Kamus ficou obviamente incomodado. Não com o fato de Miro acha-la bela, pois ela era linda mesmo. Mas lembrou-se da discussão, de tudo que ouvira da boca dela, e do fato de que, para conseguir ter alguém com quem ele realmente 'gostava' de estar, precisava pagar. Bom, seus outros 'colegas' podiam não cobrar claramente, mas o jogo de interesses era óbvio.
Saiu dos devaneios quanto o grego prostou-se na sua frente, arrancando a garrafa de vinho da sua mão.
– Caramba, Kamus! Pra quem não queria beber no gargalo até que você mandou bem!
O próprio ficou chocado ao ver que praticamente havia acabado com o conteúdo daquela garrafa, sozinho.
Miro deu o último gole, e abriu a outra. Bebeu mais um pouco, passou a mão nos lábios vermelhos, limpando-os, e a apoiou na mesa onde estava jogando. Deu outra tacada, encaçapando mais uma.
– Não vai querer jogar Kamus? Eu te ensino!
O francês deu um risinho discreto, mas não disse nada. Era óbvio que ele sabia jogar, há muitos anos e muito bem. Mas deixou o grego se gabar, enquanto explicava as regras, e terminava de encaçapar mais duas bolas.
Quando menos esperava, ele puxou-o pelo pulso.
– Vem jogar! Aposto que seu mau humor some.
Colocou o taco na mão de Kamus, que sorriu cansado, mostrando que definitivamente não estava a fim. Miro ignorou.
– Se apóia assim na mesa... Isso! – Miro exclamou, quando o outro colocou-se na posição correta. Não pôde deixar de prestar atenção no corpo esguio. Rapidamente ficou atrás dele, colocando uma mão na parte do taco que ficara para trás do corpo de Kamus, à esquerda, e a outra em cima da mão direita do francês. Não se conteve, e resolveu provocá-lo. Sussurrou baixo e malicioso as instruções bem ao ouvido de Kamus. – Segura o taco com firmeza... Assim... Agora faça com que ele bata de leve na bolinha, mas firme... – Nesse momento as pernas do grego se entrelaçaram às do francês.
Kamus corou. Sentiu o vinho, que tomara rápido demais, e sem ter comido nada em muito tempo, subir-lhe. Ficou levemente tonto, e não pode deixar de excitar-se ao ouvir a voz macia e sensual tão próxima, e sentir a respiração no seu pescoço. Inebriou-se ainda mais quando sentiu a excitação de Miro tão próxima de si. Ficou sem graça, mas não conseguiu deixar de pensar que havia caído nas garras do grego. Não conseguiu mexer o taco. Ficou estático por longos segundos, sem saber o que fazer.
Miro percebeu a hesitação de Kamus. Desencostou seu quadril do dele, mas colocou a mão em sua cintura, virando-o. O francês abandonou o taco na mesa, e deixou que seu corpo obedecesse seus instintos. Encarou os olhos azuis, que o observavam com desejo.
Miro tocou o rosto claro, pensando em como ele era lindo, encantador. Acariciou a pele macia, deixando sua mão vagar para o pescoço fino, sem soltar a cintura do francês. Colou mais ainda os corpos, sentindo que o outro também se excitara com a situação, e murmurou em seu ouvido:
– Você me quer? – Mordeu levemente a parte macia da orelha, enquanto deixava seu hálito morno arrepiar o pescoço do francês.
Kamus conteve um gemido, mas não respondeu nada. Seu corpo estava entregue, respondia por si.
Miro olhou mais uma vez para Kamus, e segurou a nuca dele.
– Você já fez isso antes? Com um homem? – Questionou-o, com a voz macia. Miro queria saber onde estava pisando.
– Já. – Kamus respondeu, num tom baixo e calmo, como se não estivesse vendo sua razão ruir perante a sedução de Miro.
– Mesmo assim, garanto que essa vai ser a melhor noite da sua vida. – Disse, sorrindo malicioso, bem próximo de Kamus, olhando nos olhos azuis. Beijou então os lábios finos.
O beijo começou calmo, mas logo intensificou-se. As línguas se enroscaram deliciosamente, e Kamus não se lembrara de quando recebera um beijo tão intenso. Suas mãos percorriam com firmeza as costas de Miro, mas as do outro, mais atrevidas, logo puxaram a camisa negra do francês de dentro da calça social, e passearam pelo abdômen liso, mas sem retirá-la do corpo dele.
Kamus ofegou, ao sentir os dedos abusados passarem pelo cós de sua calça, nitidamente provocativos. Surpreendeu-se ainda mais quando Miro segurou-o firmemente no quadril, e sentou-o na mesa.
Na hora ele pensou em como aquela mesa era cara, e como seu peso poderia estragá-la. Pensamentos estes que foram para bem longe quando a língua quente lambeu-o o pescoço.
Miro rapidamente abriu com força a camisa do outro, deixando-a presa no corpo apenas nos braços, fazendo com que alguns botões voassem, e atacou com beijos a pele branca. Empurrou Kamus mais ainda, deixando-o inclinado na mesa, com as mãos apoiadas atrás do corpo.
O grego rodeou o mamilo direito com a língua, para depois mordê-lo. Com uma das mãos apertava uma das pernas de Kamus, e com a outra continuava a provocá-lo, desabotoando lentamente os botões da calça negra.
Assustando Kamus, Miro derramou o conteúdo da garrafa que estava ali perto na barriga dele, e lambeu em seguida, bebendo todo o vinho. Fez isso mais algumas vezes, enquanto continuava o caminho tortuoso de lambidas e mordidas, marcando a pele clara.
O francês continuava a tentar segurar os gemidos, mas muitos escapavam, junto com os sussurros do nome do grego. Sentiu-o terminar de abrir sua calça, e segurar sua rigidez com pressão, enlouquecendo-o. Segurou os cachos azulados, mas logo viu que eles se esvaiam de sua mão, pois Miro abaixara a cabeça.
Quando sentiu-se dentro da boca aveludada, gemeu bem alto. Miro não conteve um risinho. Sabia que Kamus jamais sentiria tanto prazer quanto o que ele iria lhe proporcionar. Com calma, subiu a boca, chupando devagar a ponta do membro, para depois descer com languidez, enquanto acariciava-o em outros lugares. Aumentou a pressão aos poucos, e quando sentia que ele estava entrando num caminho sem volta, parava e voltava a torturá-lo, devagar. E continuou a fazer isso por longos minutos.
Em determinado momento, o francês endireitou suas costas, e segurou os cachos, empurrando o rosto de Miro contra si, mostrando que não agüentava mais.
O grego entendeu o pedido mudo, e tornou a felação mais intensa novamente, indo até o fim. Kamus explodiu e gemeu alto, tendo a certeza de que jamais algo tão intenso o dominara. Miro tomou-lhe inteiro, lambendo-o com destreza, e levantando seu rosto em seguida.
O olhar de Miro fora tão arrebatador, que Kamus sentiu-se completamente preso. Era inevitável, ele sabia. Esse olhar o perseguia desde a primeira vez em que o encontrara. Sem pensar duas vezes, levantou-se da mesa, arrumou sua calça da maneira mais rápida possível, e imprensou-o na parede, beijando-o com fome, sentindo em seu ventre como o grego estava excitado, e aquilo despertando-o mais uma vez.
Apartou e puxou-o pela mão, sem dizer nada. Tomaria-o sim, como seu desejo teimava em clamar, mas em sua cama.
Miro deixou-se ser guiado pelas escadas que tão bem conhecia, pelo corredor comprido e nu de fotos nas paredes. O francês, que segurava sua mão com tanta força, como se quisesse impedir que ele fugisse, abriu a porta no final do corredor. Uma que o grego nunca ousara abrir.
Encontrava-se no quarto de Kamus.
O ambiente, a princípio escuro, iluminou-se com o comando de voz do francês, tornando-se graciosamente amarelado. As luzes eram fortes e Miro deixou-se apreciar aquele cômodo tão sagrado para ele por alguns segundos. Era perfeito.
Devia ser o maior aposento da casa, especialmente pela falta de móveis; e talvez tivesse sido aquilo o que mais surpreendeu o grego. O ambiente era repleto de estantes de metal polido e madeira escura, cobertas por livros de todos os tamanhos e estados; duas portas de correr, em paredes opostas, deveriam esconder atrás delas o banheiro e o closet, pois ele não conseguia encontrar indícios de roupas pelo lugar. Mas o que mais impressionou Miro não foi aquela ambientação moderna e minimalista.
A vedete dali era a cama. Quase ocupando 1/3 do quarto, o enorme retângulo baixo era diferente das camas convencionais. Três degraus de tábua corrida e escura a separavam do chão, e o colchão era um futon grossíssimo e alto, coberto por uma pesada colcha azul escura. Dois abajures modernos e retorcidos ladeavam a cama, quase na mesma altura da mesma, deixando o ambiente como se tivesse sido diretamente tirado de revistas de decoração.
– Seu quarto é... uau... –Miro pegou-se dizendo, por fim.
Kamus sorriu ligeiramente, diminuindo as luzes do quarto, deixando-o quase na penumbra. No mesmo instante, as luzes dos abajures acenderam na intensidade semelhante à das outras. Miro não se mexeu, e o francês aproximou-se rapidamente, grudando o tórax desnudo nas costas vestidas do grego, que fechou os olhos, mesmo que o outro não pudesse vê-lo.
– Existem outras coisas 'uau' nesse quarto, mon cher... – Ele sussurrou, mordendo o lóbulo da orelha de Miro, sem piedade, deixando mais uma vez o desejo quase que incontrolável tomá-lo.
Miro fechou os olhos, a sensação gostosa do prazer gratuito, que não lhe arrebatava há muito tempo, tomando o lugar de seu 'profissionalismo' habitual. Deixou-se ser virado e beijado com violência por Kamus, que não somente lambia seus lábios, mas mordia-os levemente, ao mesmo tempo em que guiava-o até a cama.
Quando os calcanhares bateram no primeiro degrau das escadas que levavam à cama, Miro abriu os olhos e fitou Kamus. O francês havia se separado dele, mas não abrira os olhos. Respirava profundamente, como se ponderasse alguma de suas ações.
– Kam...
Não terminou de falar porque o francês o empurrou na cama, ainda com os olhos fechados. Somente quando Miro tentava se ajeitar, Kamus olhou-o, um semblante predador no rosto bonito. O grego novamente pensou em falar alguma coisa, mas calou-se quando as mãos do outro abriram suas pernas, ainda vestidas, e ajoelhou-se entre elas. Em poucos segundos, teve a calça jeans aberta e removida, seus sapatos retirados, e o corpo virado em uma posição na qual ele já havia sido tomado muitas vezes, mas que não esperava por parte do francês.
Travou pensando em como ele havia provocado Kamus e nem o conhecia tão bem assim. Várias imagens de clientes lhe maltratando passaram por sua cabeça, e por um segundo ele ponderou se não havia sido uma má idéia ter aceitado entrar no carro do francês.
Todo seu receio, porém, caiu por terra abaixo quando sentiu sua camisa azul ser levantada, mas não removida. Segurou a respiração, mordendo os lábios por conseqüência, quando Kamus desceu os dedos por sua espinha, em um gesto cuidadoso, carinhoso até. Rapidamente era sua língua que o acariciava agora, desvendando cada pequena parte de sua coluna, descendo vertiginosamente até a sensível região onde o seu belo escorpião tatuado jazia.
– Lindo... – Miro pôde ouvir Kamus murmurar e em seguida ele próprio gemeu quando os dentes do francês morderam sua tatuagem.
Sorriu, displicente e excitado. Seu escorpião era uma marca registrada e comprovada de aprovação. Nunca ninguém dispensou uma carícia naquela região, um toque, um beijo. E Kamus não havia sido exceção. Mas ele estranhamente parecia mais fissurado que os outros naquilo. Não que ele pretendesse reclamar.
Os toques o arrepiaram, e ele sentiu-se curiosamente descansado, desarmado. Parecia que podia relaxar completamente. Enganou-se quando achou que aquilo aconteceria. Em segundos foi virado, somente para fitar os olhos do francês que brilhavam em um azul flamejante em sua direção.
– Prove que a noite vai ser inesquecível, grego... – Kamus murmurou, os lábios partindo para o pescoço de Miro, em uma mordida fraca, apenas para marcá-lo ligeiramente.
Miro resolveu então retomar o controle da situação. Era pra ser inesquecível, não é verdade? Girou Kamus, deitando-o finalmente na cama, e sentou em seu quadril. Retirou sua própria camisa em um só movimento, por cima, e o francês não deixou de prestar atenção no corpo definido que ele já conhecia, mas que agora recebia outra conotação.
Miro mexeu-se, sentindo como o outro excitava-se ainda mais. Inclinou seu tórax e beijou mais uma vez aquela boca desejada, mordendo e lambendo os lábios entregues. Lembrou-se de como era raro um cliente beijá-lo. Cada vez mais Miro perdia-se em sensações comuns de prazer, que lhe escapavam do seu dia a dia.
Kamus arranhou as costas largas, e continuou a gemer abafado, em sincronia com os movimentos dos quadris do grego. Miro, sem sequer largar os lábios do francês, fez o outro levantar o tronco e puxou-lhe a camisa com vontade, que até então continuava aberta, mas vestindo os braços alvos.
As mãos continuaram a exploração mútua, enquanto os gemidos tomavam conta do quarto. De repente Miro soltou-se do outro, afobado, e debruçou seu corpo para fora da cama, procurando algo no chão, mas sem sair do colo de Kamus. Voltou rápido, após mexer em seu jeans, e mostrou o que tinha na mão.
– Alguma preferência?
Kamus não pode deixar de corar ao ver a quantidade de camisinhas que Miro segurava. Menta, morango, chocolate, P, M, G, GG...¹ O francês escolheu uma delas, a mais básica possível, e o grego jogou as outras no chão. Voltou a beijá-lo, mas agora com mais ânsia.
Miro soltou os lábios e lambeu o pescoço claro. Mordeu com malícia, mas sem força, para não marcá-lo. Acariciou a junção do pescoço e o ombro direito com a ponta da língua, e desceu ainda mais no caminho tortuoso, alcançando os mamilos rosados, beijando, mordendo, excitando-se com os gemidos e palavras em francês que Kamus discretamente soltava.
Chegou próximo ao umbigo delicado, e enfiou a língua ali, fazendo com que ele arqueasse as costas. Com a mão direita alcançou o vão das pernas, que ainda estavam vestidas com a calça preta. Provocou-o, apertando as coxas, passando os dedos pela virilha, acariciando com muita leveza a excitação do francês. Mais uma vez soltou os botões, sem sequer olhar para o ato que suas mãos executavam, pois estava concentrado em beijar a pele alva da cintura fina.
Quando finalmente desabotoou toda a peça, segurou-a na cintura, e olhou malicioso diretamente nas orbes azuis de Kamus. Passou a língua pelos lábios, em provocação, e puxou a calça dele rápido, junto da roupa íntima.
Kamus arfava, simplesmente. Queria retirar a boxer negra que vestia Miro, mas ele estava completamente deitado, enquanto o grego continuava com o rosto próximo de seu quadril.
Miro continuou a tortura-lo, passando a língua e os dentes por toda a pele de Kamus, mas sem sequer encostar em sua urgência. Com as mãos habilmente abria a camisinha, enquanto ponderava sobre 'onde' coloca-la... Afinal, Kamus gostaria de ser o dominante ou o passivo da relação?
Hesitou alguns instantes, mas acabou-se por decidir, sem falar nada, para não quebrar o clima; caso Kamus quisesse que ele fosse o dominante, diria algo. Não havia 'regras', e não era nem comum nem raro os clientes serem ativos. Mas o grego achou que era mais prudente ser o passivo.
Não usou apenas os dedos, mas também a boca, para colocar o preservativo no francês, deixando-o extasiado com a sua capacidade de ser muito sensual até naquele momento.
O grego ajoelhou-se entre as pernas de Kamus, sorridente, admirando a excitação do magnata do cinema. Havia de admitir. Era absurdamente raro ter um homem tão lindo - e fino -, como aquele na cama. Apoiou as duas mãos ao lado da cintura dele, e foi engatinhando até estar olhos nos olhos com o francês. Colocou suas pernas grossas ao lado do quadril, e sem quebrar o contato visual, endireitou um pouco as costas, segurou a rigidez de Kamus, e deixou-se penetrar lentamente, sem dor, mostrando ao outro a excitação em seus olhos.
Moveu-se devagar uma série de vezes, subindo e descendo languidamente, sem conter os seus gemidos. Ficou com o tronco totalmente reto, e apoiou a mão direita no peito de Kamus. Seu cavalgar foi tornando-se forte, usando como 'parâmetro' a intensidade dos gemidos franceses.
Kamus estava em outro mundo. Deliciado, arrebatado, sem conseguir se conter. Ele nunca fora um homem extremamente 'sexual'. Geralmente era mudo no sexo, atento às reações, quente, mas discreto. Porém, Miro arrancava de sua boca gemidos absurdos, e ele se pegava falando em francês, algo tão raro que nem ele mesmo acreditava que aquelas palavras saiam de sua boca.
Sua razão esvaiu-se no momento em que ele sentiu o corpo de Miro contrair-se ritmicamente. O canal quente, e apertado, para a sua surpresa, pressionava-o com força, enquanto Miro lambia seus próprios lábios, fazendo com que o orgasmo ficasse muito próximo. Mas em seguida o soltava devagar, diminuindo também o ritmo da penetração, adiando o alivio de Kamus.
O francês só conseguia pensar em como aquilo era prazeroso, em como ele era quente, em como queria explodir logo, para repetir aquilo tudo de novo e de novo... Segurou a cintura de Miro, e encarou os olhos deles, em pedido mudo, e passou a ditar a velocidade.
O grego não se importou. Continuou com a mão direita apoiada no peito de Kamus, mas passou a estimular a si próprio com a esquerda. Imaginou que ele não negaria a ele o prazer.
O que realmente não aconteceu, já que o próprio Kamus colocou sua mão delicada por cima da do grego, que, extasiado, logo alcançou seu orgasmo, apertando-o mais uma vez. Mas, mesmo com seu corpo ainda em espamos, pedindo para cair na cama, não diminuiu a cavalgada. Continuou por mais alguns minutos, fazendo com que Kamus alcançasse seu ápice com um gemido alto.
Miro parou seus movimentos quando sentiu-o diminuir. Continuou sentado, recuperando seu fôlego, esgotado. Só conseguia organizar um pensamento: "Bom, muito bom..."
Lentamente levantou seu quadril, para evitar qualquer dor que pudesse lhe acometer. Deitou na cama, ao lado de Kamus, mas sem abraçá-lo, por alguns poucos minutos. Quando sentiu sua respiração regularizada, sentou-se, e, automaticamente, se levantou e começou a juntar as suas roupas no chão.
– Aonde vai, Miro? – Kamus perguntou, com a voz levemente rouca.
O grego olhou para o francês, que estava de lado na cama, com a cabeça apoiada no travesseiro, forrado com o mesmo tecido da colcha macia.
– Eu... – Riu-se, ao perceber o que estava fazendo. – Ia pegar minhas coisas, força do hábito. Quer que eu me deite?
Kamus apenas abriu espaço na cama, fazendo sinal para que ele se deitasse ao seu lado. Quando Miro encostou suas costas no colchão, sentiu o outro abraça-lo, carinhoso. O francês murmurou provocante então em seu ouvido:
– Relaxe. Daqui a pouco vamos tomar banho. Quem sabe mais tarde eu o deixo dormir.
Miro riu, e virou-se. Não se conteve e beijou os lábios de Kamus. Suspirou. Sim, aquele era um verdadeiro príncipe. E ele iria aproveitar a noite, mesmo que depois ele, ou o outro, virasse abóbora...
Continua...
1 – Nos EUA, além de ter opções de sabores e aromas, as camisinhas (condons) possuem também a opção de tamanhos.
Mais Comentários!
Celly M. (a psicótica pelo Saga...)
Eu sei que demorou mais que o previsto, gente, mas tá aqui mais um capítulo! Obrigada a todos por não terem esquecido dessa nossa fic, pelos comentários via msn e claro à todas as reviews! E Lili, take your time...o importante é a fic ficar pronta, da maneira que a idealizamos inicialmente!
Beijinhos em todos que leram e comentaram ou não! Até a próxima atualização!
Lili Psiquê (enlouquecida pelos Anjos...)
Gente, o que rola é que a minha vida só não está mais enrolada porque não seria possível. A fic não vai ser abandonada, calma, mas provavelmente seguirá nesse ritmo de um cap. por mês. Celly, sorry por faze-la esperar por tanto tempo... rs.. Mas, antes tarde do que nunca, não é mesmo?
Muitos thanks às reviews, comments pelo msn e mails. Fico envaidecida com o retorno. E aguardem reviravoltas! Rs..
Bjos!
