Aprendizado

Capítulo 01: Esperando


A primeira coisa que percebeu quando acordou era o frio intenso que quase o congelava, fazendo-o tremer com o vento que fustigava seu corpo. No instante seguinte, veio a dor. Implacável, alucinante. Jamais sentira tamanha dor em toda sua vida.

Levou as mãos onde a dor era maior, passando os dedos levemente sobre o local para tentar imaginar o quão profundo era o ferimento. A dor desse pequeno gesto o fez gemer, mas ele precisava saber o que realmente havia acontecido.

Seus dedos ficaram úmidos com o sangue que jorrava da ferida, e ele conseguiu sentir, através do tato, a gravidade do corte que lhe rasgara os olhos de um lado a outro. Soube, naquele momento, a gravidade do ferimento, e as conseqüências que teriam caso ele conseguisse sair daquele buraco onde caíra.

Tentou se lembrar de como chegara até a li, e as imagens do que aconteceu começaram a passar pela sua cabeça.

Havia deixado o acampamento há três dias atrás, depois de mais uma discussão com Kurama. Decidira realizar aquele assalto sozinho, em mais uma de suas tentativas de provar ao seu comandante sua capacidade.

Chegara à fortaleza ao entardecer do terceiro dia. O castelo se localizava na parte sul do Reino de Raizen, e pertencia a um rico youkai que adorava esbanjar sua riqueza pra quem quisesse ver. Preparava-se para invadir a fortaleza quando um youkai alado aparecera a sua frente. Lutaram, e embora o inimigo fosse muito mais poderoso, ele estava conseguindo reagir, quando veio o fatídico golpe sobre seus olhos. A única coisa que se lembrava era de que, de alguma forma, algo assustou o youkai alado, que fugiu dizendo:

- Nenhum recompensa vale uma vida...

Começou a caminhar, totalmente desorientado de dor, com as mãos sobre seus olhos. Em sua mente, tentava achar o caminho até o acampamento, onde sabia que Kurama estava. Vagou durante longos minutos até que, de repente, pisou em falso e começou a cair, cair, até atingir o solo, a queda quebrando seus ossos, a dor se alastrando por seus membros e fazendo-o desmaiar.

E agora despertara, sem saber por quanto tempo dormira, se ainda era noite ou se já tinha amanhecido. Queria desesperadamente acreditar que tudo não passava de um pesadelo horrível, que nada daquilo era real. Estou na cama de Kurama, acabamos de fazer amor, e eu adormeci, foi isso! Sei que vou acordar a qualquer momento, vou contar a Kurama este sonho estúpido e ele vai rir de mim, e me chamar de tolo, como sempre faz...

Mas a dor que sentia era real, e ele sabia que aquilo não podia ser um sonho... Seu corpo agora tremia ainda mais, seu corpo todo dolorido pela queda. Tocou-se delicadamente, felizmente não quebrara nem os braços e nem as pernas, mas pela dor que sentia em seu abdômen sabia que pelos menos três costelas estavam fraturadas.

Pelo que se lembrava, sabia que deveria ter caído em alguma espécie de buraco muito fundo, talvez até mesmo algum tipo de armadilha pra evitar animais selvagens. Preciso encontrar um jeito de sair daqui. Levantou-se, com muita dificuldade, e começou a tatear à sua volta, tocando as paredes e andando com cuidado para não tropeçar em nada.

Depois de um tempo, teve certeza que se tratava de um buraco largo e, o que era pior, sem qualquer tipo de saída por baixo. Tentou escalar as paredes, mas aquilo era impossível, pois a parte de baixo era muito lisa, e ele não conseguia nenhum ponto para se apoiar. Sem falar na dor que sentia cada vez que tomava impulso para subir, suas costelas quebradas parecendo estacas afiadas perfurando seu corpo, o que o impedia de tentar saltar.

As horas foram passando e nada que tentasse dava certo, e ele já não agüentava mais de dor, frio e frustração. Nada mais tinha a fazer do que esperar.

Era isso mesmo que faria, esperar. Já se passaram muitas horas desde que deixara o acampamento, e com certeza seus companheiros estranhariam sua demora. Kurama veria que algo acontecera, pois ele jamais demorava em suas missões, e viria atrás dele como fizera da última vez, quando o salvara daquela armadilha em que caíra. Ele vai poder curar minhas feridas com suas plantas, como já fez antes, e tudo vai acabar bem...

Muito cansado, ele se deitou no chão, e sentiu um torpor invadindo seu corpo, que clamava por descanso. Lentamente, foi perdendo a consciência, e aquilo era tão bom, porque sentia a dor abandonando seu corpo totalmente.

Adormeceu ali mesmo, no chão duro e pedregoso, murmurando aquilo que se tornara sua única esperança: Ele virá, Kurama virá...

CONTINUA...


Ah... tadinho... ;;