Epílogo

Ele abriu os olhos. Escuro. Estendeu o braço e ela estava ali, macia e quente como ela sempre era em suas memórias. Logan se mexeu na cama, aproximando seu corpo do dela. Desejo, obsessão. Ele nunca tinha o suficiente dela. Suas mãos procuraram avidamente o calor e as formas sinuosas daquele corpo. Tão amado, tão desejado. Logan abraçou a cintura dela e uma de suas mãos envolveu o seio dela, enquanto afundava o rosto nos fios castanhos à sua frente. Aquele cheiro o deixava embriagado... e a textura aveludada da pele dela o chamava. Ela dominava completamente todos os seus sentidos, e ele começou a acariciar de leve o seio dela, enquanto com a outra mão pressionava ainda mais o corpo dela contra o seu e entrelaçava suas pernas nas dela.

"Mmm..."

"Era tão doce o som da voz dela ainda cheia de sono; e ela estava mole e quente. O s dedos dele percorreram de leve a extensão do estômago até as costas, e Marie se arrepiou.

"Hmm... outra vez, Logan?"

"E mesmo sem conseguir ver seu rosto ele sabia que ela sorria. Toda noite era assim: ele acordava, e encontrá-la ali, dormindo nua ao seu lado, era irresistível. Suas mãos começavam a explorar o corpo dela, e a acordavam, e eles faziam amor."

Outra vez.

"Ele murmurou contra o ombro dela, e as palavras saíram abafadas pelos beijos; e ele sentiu ela se arrepiando ainda mais e seu cheiro mudando. Ela se virou de frente pra ele; as mãos nos cabelos e no pescoço dele. ele suspirou e a deitou de costas; as mãos tinham um efeito mágico e irresistível sobre ele e Logan não queria esperar, ele precisava dela naquele exato momento. Ele começou a beijá-la, tentando ser cuidadoso, mas ele não era um homem controlado. Quando sentiu os lábios dela contra os seus, se abrindo, e a língua dela invadindo sua boca, ele queria esmagá-los. Queria devorá-la. Possui-la completamente. As mãos dele a acariciavam de um jeito urgente, e suas bocas se abriam tanto que seus dentes se chocaram; ele se afastou com medo de tê-la machucado mas ela riu e puxou-o pra mais um beijo, enlaçando as pernas nas costas dele.

Ela estava pronta, apenas esperando por ele, e ele não ia deixa-la esperando nunca mais. Ele se acomodou entre as pernas dela, e sentiu o corpo dela se contraindo, e depois relaxando à medida em que se movimentava. Ela o envolvia completamente. ele soltou um suspiro de satisfação; e sentir os dedos dela apertando muito forte seus ombros o fez querer ir cada vez mais fundo... ele se deitou completamente sobre ela, o rosto mergulhado na curva do pescoço, onde o cheiro dela era mais intenso. As mãos dele estavam em toda a parte pelo corpo dela; e marie murmurava coisas sem sentido em seu ouvido e gemia mais forte a cada investida dele. E as mãos espalmadas nas costas dele diziam que ela estava próxima do clímax, ele a conhecia muito bem. Então ele abriu os olhos e se apoiou nos cotovelos, tentando memorizar cada movimento do corpo dela sob o seu. A pele muito branca, iluminada pela luz da lua que entrava pela janela aberta... suas mãos agora se agarravam ao lençol da cama; suas pernas apoiadas nas costas dele e seu corpo se contorcia pra trás e ela implorava por ele. Por causa dele... logan sorriu um sorriso predatório; ela era quase tão selvagem quanto ele mas ao mesmo tempo era doce; e era exatamente essa diferença mais o atraía.

Ela era incrível; e ele não se conseguia mais se controlar. Ele precisava marcá-la como propriedade dele, em todos os sentidos. Ele se deitou de novo; e sentiu uma vontade irresistível de morder o pescoço dela quando seus instintos o dominaram completamente. Ele fechou os olhos e não raciocinava mais, tudo o que existia era o corpo dela, a fricção e o contato entre os dois corpos, a respiração e os movimentos cada vez mais rápido. E então logo tudo estava terminado.

Exausto, o corpo ainda trêmulo e se recuperando do exercício, ele se deixou ficar em cima dela ainda por alguns segundos, o suficiente pra não machucá-la, completamente envolvido pelo cheiro dela, pelo cheiro dela misturado com o dele, suor e fluidos se fundindo... ele suspirou. Era tudo tão intenso. E real.

"Te amo."

Ele se deitou de lado, e ela se aninhou em seus braços, suspirando, e deu um beijo muito leve em seu peito.

"Também te amo, Logan."

Ela ficou brincando com uns pelinhos no peito dele, de olhos fechados, e ele podia jurar que ela estava quase dormindo. Mas de repente ela se levantou e se deitou de barriga, apoiada sobre os cotovelos, e ficou espetando o braço dele com o dedo; franzindo a testa e mordendo o lábio, daquele jeito que ela fazia sempre que estava preocupada ou pensativa; e que ele achava tão irresistível.

"O que foi, querida?"

"Logan... se eu nunca tivesse desaparecido... hm, morrido... será que a gente ia estar juntos?"

"Claro que sim, baby. Eu... eu já te amava. Só tava com medo de umas coisas..."

"Mas... você... poderia ter ficado com medo pra sempre, não poderia?"

Poderia? Será que só realmente perdendo ela ele teria conseguido entender o quanto ela era importante? Será que se eles continuassem suas vidas normalmente, e ele não tivesse sofrido horrorres por meses sem a presença dela, eles estariam tão juntos quanto agora? Logan não tinha a resposta pra isso, mas não importava. Eles estavam juntos agora. Juntos há muito tempo, juntos pra sempre. E era uma das escolhas mais compensadoras que ele se lembrava de ter feito. Quando ele pensava que por pouco teria a perdido... se não pelo acidente, por besteiras, como aqueles traumas e medos. Ele notava agora como era fácil se abrir e dizer tudo o que ele sentia, e pensava como tinha sido teimoso em se apegar a velhas paranóias.

"Não pensa nisso, baby. eu... sou meio cabeça dura..."

"Meio?"

E o som da risada cristalina dela quebrou o silêncio da noite.

"Rrrr."

Ele revirou os olhos e ela o beijou suavemente, as mãos espalmadas do lado do rosto dele.

"... mas eu te amo. E mais cedo ou mais tarde ia perceber que é imposível ficar sem você."

Ela chegou mais perto e se aconchegou nos braços dele, meio emburrada.

"Sei."

"É verdade, querida. Aliás, eu... já tinha percebido isso. Naquela noite. Mas não pensa nisso. A gente tá junto, e é isso que importa. Essa é a realidade."

"Realidade?"

"Realidade. Você não sente?"

Ele começou a acariciá-la, e ela era quente e macia. ela nunca tinha sido tão real... Logan fechou os olhos, se concentrando totalmente no toque. Sua mão deslizava devagar pelas costas dela até cair sobre o lençol. E então ele abriu os olhos, e ela não estava mais ali.

"Não."

Ele começou a suar frio, e se sentou na cama, passando a mão pelo rosto molhado. Esses sonhos acabavam com ele. Eram terríveis, tinham se tornado seus piores pesadelos nesses últimos quatro anos."

"Quatro anos..."

Ele olhou em volta do quarto familiar, tentando se adaptar outra vez à dura realidade.

"Sim. Ela realmente estava perdida. Para sempre. Vez ou outra surgia alguma pista de que ela poderia estar viva, e que poderia ter sobrevivido por algum milagre, e ele seguia essa pista obcecadamente. Mas a cada dia, e principalmente noite, solitários, ele se convencia de que era impossível. E quando ele pensava no Cérebro... então ele tinha absoluta certeza. Ele nunca se conformava. Às vezes se enfurecia, às vezes se deprimia. E não adiantava quebrar e destruir as coisas dela, destruir as prova da presença fisica, ou por outro lado, se cercar de lembranças e fotografias. Ou mesmo ver as cinzas dela serem queimadas outra vez e colocadas numa urna onde ela deveria descansar pra sempre... porque ela estava enterrada profundamente dentro dele.

Ele suspirou. naquelas horas silenciosas da madrugada era quando ele mais gostaria de poder chorar, mas ele ainda não se sentia pronto; preferia negar a se entregar... porque se ele começasse talvez não parasse jamais. Não sabia nem mesmo o que pensar sobre isso, nesses anos todos ele ainda não havia assimilado a profundidade da perda. Não entendia o porquê de tudo ter acontecido, ou mesmo se havia um porquê. Castigo? Destino? Punição? Ele não sabia nem mesmo se tinha sido realmente culpa dele... se ela realmente havia se suicidado. E mesmo se tivesse, ele não sabia nem mesmo se devia se arrepender de suas atitudes. Ele tinha seus traumas, e não eram coisa à toa. Ele apenas tinha perdido todas as mulheres que amou: Mariko, Silverfox, e, de certa forma, até mesmo Jean Grey.

Isso significava que ele não era um cara que saía se jogando nos braços da primeira mulher que aparecesse. Ele nunca tinha sido assim, e esse comportamento só tinha piorado com o tempo. 'Amar' trazia uma carga muito grande de dor e perda, e ele cada vez menos achava possível separar essas sensações.

Mas de uma coisa ele se sentia horrivelmente culpado. Ele poderia tê-la feito feliz.

Feliz. Aceita, como ela o fazia. Porque a coisa que mais o arrasava era saber que ela morreu achando que ele não a queria por causa da mutação. Seu coração quase se partia quando ele lembrava disso. A pele mutante era uma das suas últimas preocupações; ele conseguia pensar em várias maneiras de tocá-la mesmo que ela nunca viesse a se controlar...

E era como se fosse de propósito. Era como se fosse o fantasma dela o torturando com aquilo que ela achava que eles não teriam jamais: quase todos os sonhos com Marie envolviam contato físico, e nos sonhos ele abria seu coração como nunca tinha feito enquanto ela era viva. E era doloroso. Doía psicologicamente, doía fisicamente... saber que ela nunca ouviria o quanto ele a amava. Querer, e não poder ter aquele toque. Acordar frustrado e excitado... e sozinho. Ele olhou pro relógio. Era tarde, quase de manhã. E ele não sentia vontade alguma de sair e procurar uma mulher a essa hora.

Ele deu um sorriso irônico ao pensar nessas mulheres. Eram as únicas que ele se permitia ter; sem nome e sem rosto. Às vezes ele as obrigava a usar luvas... e era o único luxo a que ele se permitia. Mas agora seu corpo pedia por algo mais.

Snikt

Dor. A dor física era o único jeito de parar com aquilo. Ele sentiu as lâminas rasgando a carne e a pele por entre seus dedos, e um arrepio percorrendo seu corpo, que se retraiu. Ele sorriu, satisfeito. Muito em breve a excitação teria passado... mas ele ainda queria mais, queria arrancar aquele sentimento de desejo pela raiz.

Lentamente ele passou as lâminas pelo próprio braço, e sentiu o sangue escorrendo pela carne machucada. Ele fechou os olhos e jogou a cabeça pra trás, se sentindo no controle outra vez. Logan deixou a dor dominá-lo por algum tempo; e se concentrou apenas nela. Depois recolheu lentamente as garras e deixou seu olhar se perder nos cortes que se fechavam, se apagavam como se nunca tivessem existido.

Desejando que acontecesse exatamente o mesmo com a garota em sua mente; com a intensidade dos sentimentos, a dor da perda. Mas não aconteceria jamais, porque o nome dela estava marcado pra sempre. Marcado com dor e culpa. Eternamente. Ele se ergueu meio cambaleante da cama, fitando a parede iluminada pelos primeiros raios de sol.

Tudo se movia devagar como num sonho...

Ele apoiou a mão direita na parede pra se equilibrar melhor, e estreitou os olhos. o que era aquilo pendurado no armário? Ele se aproximou.

Um terno.

Logan olhou pros pedaços de tecido negro pendurados num cabide na porta do armário e relutante se dirigiu até lá; e começou a vestir o terno que Piotr Rasputin tinha emprestado. O russo era o único ali com um físico aproximado, e ele nem por um segundo se sentiu patético por causa do tecido que sobrava, ou ainda, pelo fato de estar usando um terno caro em vez dos jeans e jaqueta de couro de sempre. "Nada" era a palavra que descrevia melhor o que ele estava sentindo agora. Reprimindo as emoções, vazio de desejos, ele era um autômato, um robô. Não tinha mais sentimentos, vontades, nada nada. Ele viu seus próprios dedos abotoando a camisa, viu seus próprios dedos fazendo um nó frouxo na gravata, calçando o sapato como se não fossem os dedos dele. Como se ele estivesse vivendo de repente dentro de outra pessoa. Ele olhou apavorado em volta do quarto com os olhos dessa outra pessoa... até eles finalmente se pregarem pro buquê de rosas brancas em cima da cama, como se as flores fossem um ímã. Finalmente ia haver um buquê de rosas.