Luminessa entra na sala de reuniões e encontra Shiryu na sacada olhando para o céu:
O que faz aí, Dragão?
Estou sentindo as estrelas, principalmente a constelação de Draco. Dizem que o Deus Dragão observa seus descendentes através de Thuban, a estrela Alpha. É verdade?
Sim, é verdade.
Você deveria estar lá.
E estou, quer dizer, a estrela está. É Rastaban, a estrela Beta, representa o Dragão da Luz.
Por falar em Luz... por que Mu lhe deu o nome de Luminessa?
O Mestre Mu queria dar um nome que representasse tudo o que ele desejava que eu fosse. Ele vivia dizendo que a minha presença trouxe mais luminosidade à sua existência e que eu levaria a luz da esperança para Athena e seus cavaleiros. Por isso, Luminessa.
É um nome lindo...ele gostava muito de você, tenho certeza de que a observa e a protege lá da constelação de Áries...
Eu também acho. Amava-o como um pai. Tudo que sou devo à ele, e uma certa porcentagem ao Mestre Ancião também.
E Mu tinha razão, você é a luz da esperança para nós. Finalmente tenho certeza que divido minha constelação com alguém que mereça. Se é que dizer isso não é pretensioso demais para um simples cavaleiro como eu.
Verdade?
Sim, e é engraçado.
Por quê?
Por ser você... estamos ligados até pelas estrelas.
Mais uma vez, os dois ficaram em silêncio. Shiryu se lembrou do que haviam conversado pela manhã e decidiu mudar de assunto interrompendo Luminessa:
Shiryu, achei que tínhamos decidido que...
Eu já sei a resposta para o enigma.
Ótimo. Onde é?
Eu te contarei se você me contar o que vamos encontrar lá.
Muito engraçado, acha mesmo que é hora de brincar? Até parece que estou falando com Seiya.
E claro que eu falarei, mas não te custa me contar. O que encontraremos, Imperatriz?
Por favor, pare de se portar como se fosse meu súdito, pare de me chamar de Imperatriz!
Não posso, você é minha Imperatriz, afinal sou um Dragão! Devo-lhe tanta obediência quanto à Athena.
Era só o que me faltava... está bem, está bem, faça como você achar melhor, Shiryu.
Diga-me, vossa alteza, o que encontraremos lá?
Onde fica o lugar? Diga-me e eu falarei.
Falará mesmo?
Depois de todo aquele discurso você está duvidando de sua Imperatriz, meu súdito? – disse Luminessa, em um tom irônico.
Nunca! Está nos Cinco Picos Antigos de Rozan.
Mas foi lá que você recebeu seu treinamento para cavaleiro!
Sim, exatamente. Só pode ser lá. Agora entendi o porquê de ser eu o Portador da Profecia, somente quem conhece muito bem aquele lugar seria capaz de decifrar o enigma.
Tem certeza de que é lá?
Claro! Pense comigo: A luz da Lua reflete sobre a cachoeira de Rozan mesmo que o tempo esteja chuvoso no mesmo ponto em que a pedra que o Mestre Ancião ficava sempre projeta sua sombra. Como você é a filha do Dragão das Sombras, e é o Dragão da Luz em pessoa, com certeza o que você procura estará lá. Não é possível que seja em outro lugar do mundo, eu tenho certeza de que é em Rozan. Na verdade, conseguir esta resposta foi bem mais fácil do que imaginei.
Você tem razão, Shiryu, você tem razão! Vamos, precisamos contar para os outros e partir o quanto...
Espere! Você prometeu, vossa alteza...
Shiryu fez uma pequena reverência, para lembra-la de que a promessa de uma Imperatriz tem de ser cumprida. Apesar de contrariada, Luminessa lhe respondeu:
Está certo, eu prometi lhe contar. Mas não quero que mais ninguém saiba disso além de você. Pelo menos não até chegarmos lá e todos verem com seus próprios olhos.
Está certo...e então?
Eu encontrarei... eu encontrarei minha armadura.
Armadura? Você está pensando em lutar?
Não estou pensando, eu lutarei.
Isso é um absurdo, você não pode fazer isso!
Por que não?
Porque você veio para nos ajudar, não lutar. Não posso permitir isso!
Com o perdão da palavra, mas não cabe à você permitir ou não, Shiryu. Além do mais você esqueceu de que fui treinada para isso e por dois cavaleiros de ouro? Não se preocupe, eu sei me cuidar.
Mas não sabemos quem é o inimigo! E se você... morrer?
Será o meu destino... agora vamos, precisamos contar para os outros.
Os dois saíram em direção aos amigos para lhes contar a localização. Mas Shiryu, que não conseguia concordar com o fato de Luminessa lutar, prometeu uma coisa a si mesmo:
Apesar de não concordar tenho que admitir que, dependendo que quem for o inimigo, sem ela sucumbiremos. Até que a batalha chegue, eu terei tempo de pensar em um jeito de protege-la.
Os Cinco Picos Antigos de Rozan? Mas foi lá que você recebeu seu treinamento para cavaleiro, Shiryu!
Sim, foi lá mesmo. Só mesmo alguém que morasse ou conhecesse muito bem o local é que poderia chegar a esta conclusão.
De fato, Shiryu. E então minha irmã, o que devemos fazer agora, já que temos a informação que você precisava?
Partir para Rozan o quanto antes. Preciso ver este local com meus próprios olhos.
Então vamos, amigos. Para Rozan.
Seiya já ia tomando o caminho para Rozan seguido por seus amigos e Luminessa, mas Saori os interrompeu:
Esperem! Nem sequer almoçamos tamanha agitação do dia de hoje, amigos!Poderíamos ao menos jantar!
Mas Saori...
Sem mais, Shun! Luminessa, o inimigo virá em três meses, não é?
Sim, mas...
Então podemos partir amanhã cedo! Uma boa refeição e um bom descanso nos trará uma melhor viagem. E isso não é um pedido, é uma ordem! Tatsumi!
Sim, senhorita!
Peça para servir o jantar. Estamos morrendo de fome, não é mesmo?
Como desejar, senhorita Saori.
Estou indo, vocês não vêm?
Saori foi para a sala de jantar. Todos ficaram surpresos com a atitude de Saori e Luminessa começou a rir.
Por que está rindo, Luminessa?
Ela só está preocupada conosco! Não precisa ficar tão bravo, Seiya!
Mas se temos que partir o quanto antes, para que esperar?
Tenha calma, Hyoga! Saori tem razão! Um jantar e uma noite de descanso não atrapalharão em nada! Vamos fazer o que ela pede, sim?
Mas Luminessa...
Acredite em mim, Shun. Vamos relaxar enquanto podemos.
Escuta-se um chamado dizendo que o jantar está servido. Eles olham um para o outro e decidem fazer o que Saori lhes pediu. Pensariam nos problemas amanhã, depois de uma bela noite de sono.
Era muito cedo, tanto que o Sol não havia nascido ainda. Todos estavam de pé. Dirigiram-se ao pátio principal da mansão Kido, onde o helicóptero da Fundação os aguardava.
Bom, Shiryu, guie-nos até a sua casa.
Sim, Saori. Chegaremos lá em algumas horas.
Coitada da Shunrei! Ela nem imagina a quantidade de pessoas que você está levando para lá.
Não se preocupe, Saori, Shunrei adorará receber todos vocês.
Dentro do helicóptero todos ficaram em silêncio. Mas as cabeças não tinham um minuto de sossego. Era uma nova luta que se aproximava, apesar da esperada paz ter supostamente chegado. Quem era o inimigo? Como ele agirá? O que Luminessa busca nos Cinco Picos Antigos? Não havia um naquele avião que tinha pensamentos diferentes destes. A não ser Luminessa e Shiryu, que além disso pensavam em como seria ao encontrarem Shunrei. Enfim estão perto do destino final da viagem:
Esse lugar é lindo, Shiryu! Estou impressionada. Apesar de nos conhecermos há tanto tempo, nunca estive em Rozan.
De fato, Saori! Não há melhor lugar no mundo, pelo menos não para mim. Conseguem sentir a paz que este lugar transmite? Para mim, ela é tão perceptível que acho que posso tocá-la.
Vê, minha irmã? Esta é a Terra dos Dragões, sua terra também, não é?
Mas vocês não nasceram no Santuário? Então são gregas!
Não, Seiya. Saori nasceu na Grécia, eu nasci aqui na China. Saori tem razão, esta é a terra dos Dragões. Assim como Shiryu, eu também estou me sentindo em casa. Somos descendentes do Deus Dragão e eu não trocaria a sensação que estou sentindo por nada no mundo. Há tempos não vinha pra cá.
E Luminessa olhou para Shiryu. É claro que ela trocaria, mas não contou a ninguém. A viagem termina e finalmente saíram do helicóptero. Já era possível ouvir a cachoeira de Rozan.
Shunrei! Shunrei! Vou na frente para avisá-la.
Está certo, Shiryu. Eu, Luminessa e os cavaleiros estamos aqui esperando.
Shiryu foi correndo até a antiga casa do Mestre Ancião, para chamar Shunrei. Luminessa olhava com o coração apertado, sabia que assim que visse Shunrei, a tristeza invadiria seu coração. Quando Shunrei saiu da casa, primeiro que Shiryu, correu em direção ao grupo e cumprimentou a todos. Luminessa olhava para Shunrei enquanto ela conversa e cumprimentava todos, ela era exatamente como pensava: doce, amável, bonita e completamente apaixonada por Shiryu. Shiryu, por sua vez, olhava para as duas, analisava a situação e gostaria que tal coisa não estivesse acontecendo. Até que:
E você, tão bonita, quem é?
Esta é a minha irmã, Luminessa.
Muito prazer, Shunrei. – responde Luminessa, com um nó na garganta.
Irmã de Saori? Que surpresa! O prazer é todo meu. Seja muito bem-vinda. Vamos entrando, parece até que adivinhei que Shiryu e os amigos viriam hoje, tem almoço para todos! Vamos?
Enquanto Saori e os cavaleiros seguiam animados para o interior da casa. Luminessa esperou que o grupo se afastasse e segurou Shiryu pelo braço:
Espere!
O que foi?
Acho melhor você contar a ela quem eu sou.
Para quê? Fazê-la sofrer sem necessidade?
Ela sabe.
Sabe do quê?
Ora, do que, Shiryu. Dos sonhos!
Ela sabe? Mas como?
Você fala dormindo, Shiryu.
E como é que você sabe disso?
Digamos que além de ouvidos, também tenho bons olhos...
Impressionante, Luminessa. Se não a conhecesse, teria muito receio de você.
Que bobagem... o tal local fica por ali, não é?
É, mas como que você.. deixa pra lá.
Vou indo então.
Espera, eu vou com você.
Não há necessidade, e além do mais você já tem o que fazer, Shiryu. Se eu não voltar até o fim da tarde, aí sim vá atrás de mim.
Está bem, não vou insistir.
Avise os outros e não deixe que se aproximem, preciso de privacidade. Até breve.
Até breve, Imperatriz.
Ele tinha medo de que algo acontecesse à ela, mas era preciso fazer o que ela pediu. Precisava falar com Shunrei. Ao entrar na casa, todos se preparavam para provar o delicioso almoço que Shunrei havia feito, estavam em um animado bate-papo:
Venha, Shiryu, vamos almoçar! Eu ponho para você.
Claro, Shunrei.
Onde está minha irmã?
Foi ver o que lhe revelei, Saori.
Mas então vamos lá!
Não! Ela pediu privacidade. Disse que se ela não voltar até o anoitecer, aí sim devemos ir buscá-la.
Um silêncio ensurdecedor se fez na sala de jantar. Todos estavam preocupados, afinal não sabiam o que ela foi fazer lá. E se algo acontecesse a ela? O que poderiam fazer? Mas sabiam que precisavam confiar nela. Shiryu queria resolver o que Luminessa havia lhe pedido o mais rápido possível. E aproveitou para melhorar o ambiente:
Calma amigos, ela sabe o que faz, senão pediria para que fossemos com ela. Além do mais ela está aqui perto, animem-se! Shunrei, vamos até a cozinha buscar nossos pratos.
Claro, Shiryu. Com licença, já voltamos!
E foram para a cozinha. Enquanto arrumavam os pratos, conversavam:
Irmã de Saori, quem diria! Saori está muito feliz, ela merecia esta felicidade.
Você tem razão, Shunrei.
Mas o que ela procura aqui em Rozan?
Algo muito importante. Para todos nós.
Importante? Você não está querendo me dizer que...
Sim. Infelizmente outra luta vai acontecer. Ela é a chave desta nova batalha.
Mas você disse que era só um encontro entre amigos!
Era o que nós pensávamos também.
Meu Deus! Tudo de novo!
Perdão, Shunrei! Mas você sabe que ser cavaleiro faz parte da minha alma; é mais do que um dever, é a minha vida.
Ah, Shiryu... quando isso acabará?
Não sei. Eu realmente não sei.
Mas a irmã de Saori é a chave desta nova batalha, como assim?
Não sabemos ainda, na verdade nem ela sabe. Mas não se preocupe, com ela ao nosso lado tudo ficará bem. E somos apenas amigos, não se preocupe com isso também. Os sonhos estão no passado, e nada mais do que isso.
Co...como você sabe que eu sabia dela?
Ela me falou. Falou que você sabia porque me ouvia falar enquanto eu dormia.
Mas como ela sabe?
Não me pergunte, eu também não sei. Ela é Tienlung, a Imperatriz dos Dragões, e como você sabe, é a maior representante da Mitologia Chinesa. O que de certa forma diz que somos súditos dela, apesar dela não gostar disso.
Shunrei sentiu um calafrio inigualável na espinha. Então a mesma mulher que Shiryu sonhou há algum tempo era a mulher que o Mestre Ancião lhe contara. Para ela estava tudo muito claro. Mais cedo ou mais tarde, ela teria que agir:
O que foi, Shunrei? Não confia em mim? Você é minha mulher, não importa o que aconteça.
Não, não é nada disso. É claro que confio em você, Shiryu.
Ela veio para nos trazer a vitória, acredite nela, Shunrei. Tenho certeza de que nada de mal nos acontecerá, nem a Athena.
É claro que sim, Shiryu. Você tem razão. Vou tentar não me preocupar tanto, ainda mais com alguém tão importante...
Ótimo, então vamos, todos esperam por nós.
Vamos.
Shiryu achou que tinha despreocupado o coração de Shunrei, mas o que ele não sabia era o segredo que ela guardava, segredo este que ela achou que nunca precisaria ser revelado. Mas o dia da revelação estava chegando.
Ah, Luminessa, apareça! Eu preciso saber como você está...
Calma, Saori. Nada de mal aconteceu a ela, não se preocupe. Logo ela chegará aqui, como me disse no começo da tarde.
É verdade, Shiryu. Acho que estou me preocupando à toa. Onde estão os outros?
Seiya e Hyoga foram passear pela região. Shun foi até a vilarejo com Shunrei. Quem está me preocupando é Ikki. Por onde andará?
Luminessa disse a Shun que Ikki está fortalecendo seu cosmo na Ilha Cânon. Como ela pode saber tantas coisas?
Ela é muita poderosa, Saori. Como eu disse anteriormente, seu pai era o maior e mais poderoso Dragão da Mitologia Chinesa. Dizem que depois de seu nascimento, ninguém conseguiu igualar forças com Tienlung.
É tão estranho, Shiryu. Se temos alguém tão poderoso ao nosso lado, por que temer o inimigo?
Esta é uma dúvida que também me atormenta.
Tenho medo de que tudo comece novamente, justo agora que todos vocês estão em paz, seguindo suas vidas tranqüilamente.
Calma, Saori. Nem mesmo ela sabe. Vamos torcer e esperar pelas respostas dela. Talvez sejam melhores do que as nossas suposições.
Tem razão. Shiryu, às vezes tenho a impressão de que você e Luminessa já se conheciam, vocês falam um do outro com tanta propriedade.
É...impressão sua e...
Shiryu, Saori! Venham ver, é Luminessa! Rápido!
Era Seiya. Parecia entusiasmado. Ao saírem da casa, Shiryu e Saori encontraram-se com todos. Foram em direção a cachoeira de Rozan.
Onde está ela? Luminessa, minha irmã!
E juntos começaram a gritar por Luminessa. Ela não respondia e parecia não estar em lugar nenhum. Antes que Shiryu se arrependesse de ter deixado ela ir sozinha:
Shiryu? Amigos?
Onde você está, Luminessa?
Aqui.
Aqui onde?
E Shun aponta para o alto da cachoeira, bem acima de suas cabeças:
Ali, Shiryu. Luminessa está no alto na cachoeira.
Achei que eu tivesse pedido privacidade. Mas já que estão aqui, fiquem. Shiryu, sua armadura ficava aqui na cachoeira antes de você ganha-la, não é?
Luminessa pulou do alto da cachoeira para o local que queria mostrar à Shiryu.
Sim, exatamente.
E o local que você me falou é próximo de onde ficava sua armadura, não é?
Sim, mas nunca vi outra urna ali. Na verdade, não existe nenhuma.
Eu acredito em você. E para ganhá-la, você aplicou o Cólera do Dragão, reverteu o fluxo da cachoeira e provou que é digno de usa-la, certo?
É, foi isso mesmo.
Bem, acho que isso vai ser bem interessante, espero que dê tudo certo.
Do que você está falando, Luminessa?
É, eu estou tão perdido quanto o Hyoga. Acho que todos estão! – exclama Seiya.
Vocês logo verão. Shun, por favor, leve Saori e Shunrei para trás daquela pedra, sim?
Mas minha irmã, o que está fazendo?
Não se preocupe, Saori. Está tudo sob controle, confie em mim.
Com aquelas palavras todos sentiam-se mais aliviados, mas não deixavam de esperar ansiosos pela surpresa que Luminessa guardava.
Cavaleiros, acho que vocês vão gostar disso. Só espero que não se sinta chateado, Shiryu, apesar de que possivelmente esta será a única vez.
E por que eu ficaria chateado com você, Luminessa?
Por isso: "CÓLERA DO DRAGÃO!"
Era impressionante. Luminessa havia disparado o mesmo golpe de Shiryu, tão poderoso quanto o dele. Assim como o cavaleiro de Dragão, a Imperatriz dos Dragões também havia conseguido reverter o fluxo. Os cavaleiros se aproximaram de Shiryu:
Mas como ela fez isso? É lindo! Foi assim com você também, Shiryu?
Sim, foi exatamente desse jeito, Hyoga.
Então ela veio buscar a armadura dela?
É, parece que sim, Shun. Sinal de que mais uma luta se aproxima. Seika e Mino terão de me perdoar.
Só que desta vez temos a Imperatriz dos Dragões para nos ajudar a proteger Athena e o mundo.
É verdade, Hyoga, você tem toda a razão. Não esperava que ela tivesse todo esse poder. Mu e o Mestre Ancião tiveram uma ótima discípula. – comenta Shiryu.
Todos acompanhavam seus movimentos em total silêncio e plena concentração. Depois do espetáculo da cachoeira revertida, Luminessa ficou de frente ao local que Shiryu havia lhe revelado, que estava estranhamente iluminado por luzes brancas e negras, parecia ser um cosmo despertando:
Esperei tanto por este momento! Finalmente vou conhecê-la. Vamos, você já sabe que sou eu, nasça! Estou aqui para recebê-la, quem mais haveria de ser? Isso, seu cosmo já despertou, agora só falta lhe dar a matéria.
Luminessa cortou os pulsos e derramou seu sangue no local. Todos olhavam admirados, menos Saori:
O que ela está fazendo? Luminessa!
Calma, Saori! Nada de mal lhe acontecerá! Estamos aqui!
Mas ela está perdendo muito sangue, Hyoga!
Não se preocupe! Ela é uma deusa, como você. Nada de mal aconteceria a ela numa situação como essa. – diz Shiryu.
Ela não me ouve... espero que vocês estejam certos, de verdade!
Ela queima seu cosmo e o local começa a reagir com o seu sangue. Então, luzes começam a iluminar o local até que não puderam mais vê-la. Uma espécie de explosão acontece e assusta à todos, que gritam por Luminessa. De repente, tudo havia passado. Ao olharem para o local, não encontraram Luminessa:
Ah não! Minha irmã! Luminessa! Luminessa!
Todos temiam o pior. Olhavam para o local e nada. Quando pareciam começar a acreditar que algo de grave havia acontecido com Luminessa, ouviram:
Pelo Grande Deus Dragão, por que se desesperam assim?
Irmã? Aonde você está?
Aqui, atrás de vocês.
Lá estava ela. Nada parecia haver lhe acontecido, a não ser por Luminessa estar com a mão em seu ombro, com uma certa expressão de dor. Estava de pé, guardando sob sua mão direita a armadura do Imperatriz dos Dragões, devidamente acomodada em sua urna:
A explosão nos assustou mas eu e ela estamos bem. Queria muito que o Mestre Mu estivesse aqui. Não viu nenhum de seus discípulos conquistar suas armaduras.
Então é mesmo uma armadura?
Sim, Shun.
Ela parece ser tão forte! – diz Seiya.
Gostaria de vê-la fora da urna – diz Hyoga.
Tem um poder incrível. É impressionante – diz Shiryu.
De fato, ela é belíssima. Quem de vocês a usará?
Todos se olharam. Ninguém queria se atrever a contar para Saori. Mas já era hora de ela saber. Então:
E então, quem irá usar esta armadura? Quem de vocês, cavaleiros?
Nenhum deles usará esta armadura, Saori.
Então quem? Quem a usará, irmã?
Eu a usarei. A armadura é minha.
O quê? Você só pode estar brincando, Luminessa!
Não estou brincando! Vê estes dois Dragões aqui? São meus. A união deles me criou.
O quê? Do que você está falando?
Esperei muito tempo por ela, agora sim eu estou totalmente preparada.
Isso é um absurdo! Você não pode lutar!
Luminessa fechou os olhos e respirou fundo. Sabia que enfrentaria a resistência de Saori.
Amigos, por favor, vão na frente e levem Shunrei com vocês. Eu preciso ter uma conversa com minha irmã.
Todos se foram, fizeram o que Luminessa havia pedido. Ao se afastarem, Luminessa iniciou sua conversa com Saori:
Minha querida irmã. Esperei muito tempo para poder encontra-la. E de fato me senti muito feliz por poder ter, não só a deusa Athena como irmã, mas também você Saori.
Mesmo eu sendo Athena, nada posso fazer para impedir que você lute, não é?
Não, minha irmã.
Mas isso não faz sentido, Luminessa!
Saori, nasci para isso! Fui preparada para esta luta! É claro que faz sentido.
Levamos tanto tempo para nos encontrar. Está certo que para mim foi uma surpresa mas agora que sei que tenho uma irmã, não quero perdê-la. Você é minha irmã. E se você... morrer?
Será o meu destino, e contra o destino não podemos fazer nada. Vamos, pense pelo lado positivo. Com esta armadura eu posso cumprir minha missão.
Missão?
Saori, sou Tienlung, o Dragão celestial, responsável pela proteção dos deuses. Entendeu? Minha missão aqui é protegê-la. E ajuda-la a proteger nosso planeta. Para isso tenho que lutar ao lado de seus tão queridos cavaleiros. Por favor, minha irmã, entenda!
Então me prometa que viverá, que nada lhe acontecerá nas lutas que se aproximam! Nem a você e nem aos meus cavaleiros!
Mas eu... está bem, eu prometo. Só assim você ficará tranqüila. Nem eu, nem seus cavaleiros sofreremos nada de mal. Agora vamos, precisamos conversar com todos e eu preciso me deitar, estou cansada.
Dirigiram-se para a casa de Shiryu. Luminessa gostaria de que a promessa que fez a irmã pudesse mesmo ser cumprida. Mas ambas sabiam que era difícil ter certeza, nem mesmo o inimigo conheciam. Só torciam para que nada acontecesse a ninguém.
Onde elas estão?
Relaxe, Seiya! Não consegue sentir seus cosmos? Estão bem e logo estarão aqui.
Tem razão, Hyoga. Só estou ansioso para saber o que Luminessa tem a nos dizer.
Só espero que seja algo de bom, amigos.
Não se preocupe, Shunrei, pode ir se deitar. Logo nós também iremos, só vamos esperar por Saori e Luminessa – e concordou com Shun - eu também espero que seja algo bom.
Está bem, Shiryu. Estou indo. Boa noite a todos! – disse Shunrei.
Boa noite, Shunrei! – responderam os cavaleiros.
São elas!
Luminessa e Saori entram na sala. A magnífica urna que trás a armadura da Imperatriz dos Dragões brilha e encanta a todos:
É muito bonita realmente! Gostaria muito de vê-la. Apesar de isso significar que teremos de lutar. Novamente.
É mesmo, Shun. Ela brilha como a minha armadura de Pégaso quando a vi pela primeira vez.
Uma armadura digna de uma Imperatriz, Luminessa!
Obrigada, Hyoga.
E então, o que tem nos dizer, Luminessa?
Algumas coisas que ainda não são conclusivas, Shiryu.
Que coisas?
A primeira de todas é que tenho que lutar ao lado de vocês. Sei que parece estranho para vocês, uma mulher que luta sem seu rosto coberto, mas eu e minha armadura pertencemos a uma mitologia diferente da mitologia de vocês. Não quero privilégios, proteção extra e nem que me poupem só porque sou uma mulher. Quando chegar a hora, lutaremos como iguais. Sei que pareço não ser tão capacitada para tal, mas peço-lhes que por favor confiem em mim.
Não parece capacitada? Nós vimos o seu golpe a pouco!
Seiya!
Desculpe, Saori. Pode continuar, Luminessa.
A segunda e mais importante diz respeito ao nosso inimigo.
Você já sabe quem é?
Infelizmente não, Shiryu. As duas únicas coisas que sei é que ele, a esta altura, já sentiu minha presença, sabe que existe alguém para combate-lo. Eu espero conseguir informações dele também.
Mas então que vantagem teremos sobre ele?
A Saori tem razão, se não sabemos quem ele é, como poderemos detê-lo? – pergunta Shun.
Se eu entendi direito, a vantagem que temos é que ele só poderá agir depois da tal conjunção estelar, que ocorrerá daqui a três meses – Seiya responde à Shun.
Então temos tempo para treinarmos e nos prepararmos para sua chegada. Se assim for, devo partir para a Sibéria e vocês para os seus locais de treinamento o mais rápido possível. – conclui Hyoga
E se ele atacar antes da conjunção estelar, Luminessa?
Ele não pode, está incapacitado até lá, Shiryu. Só poderá planejar e se preparar, assim como nós.
E a tal conjunção estelar, do que se trata?
Daqui a três meses a constelação de Apus entrará em conjunção com o nosso planeta. Aparentemente este inimigo que enfrentaremos é protegido desta constelação e se fortificará junto com ela. Não sei o porquê e nem para quê. Pelo menos ainda não, Shun.
Como você pode ter tanta certeza disso, minha irmã?
A profecia. Ela é que diz isso.
Mas e como poderemos ter certeza de que ela está correta?
Ela esteve até agora, Shiryu, por que erraria?
E o que mais ela diz?
Tem mais alguns dizeres, que ainda não significam nada. As respostas vem com o tempo, no seu tempo certo. Não se preocupe, Seiya, a profecia estará comigo sempre. O que devemos fazer até lá, minha irmã? Tem alguma sugestão?
Treinar e nos preparar. Devemos fortalecer nossos cosmos e corpos. Voltem para os seus locais de treinamento, como Hyoga disse a pouco. Durante estes três meses, Luminessa ficará um período com cada um, para conhecer melhor cada um de vocês e vocês a ela. Ela os ajudará e vocês a ajudarão. Assim lutarão melhor. Na data da conjunção nos encontraremos.
Ótima idéia, minha irmã. Cavaleiros, estão de acordo?
Sim! – Todos disseram.
Eu confio em você, Luminessa! E em vocês meus cavaleiros. Apesar das incertezas, acho que esta é a primeira vez que sinto que poderemos combater o mal com forças suficientes! Além do mais, eu estarei com vocês, para sempre.
Como sempre as palavras e o reconfortante cosmo de Saori acalmam a todos. Luminessa sorri para a irmã, mesmo sabendo que tais palavras poderiam ser apenas palavras. Mas mesmo assim, acreditava, confiava naqueles cavaleiros que já superaram inúmeras batalhas, lutaram e venceram bravamente muitos inimigos e desejou poder ajuda-los de verdade. O seu cansaço, que já era visível, agora se tornava insustentável.
Vamos descansar. Amanhã iniciaremos nossa preparação. Eu preciso me deitar, estão tão cansada...
Você perdeu muito sangue para dar vida a sua armadura, não sei como consegue estar de pé ainda. Vamos, eu te ajudo.
Obrigada, Shiryu.
Está certo, vamos todos então. Boa noite amigos, amanhã será um novo dia!
Boa noite, Hyoga! Boa noite meus cavaleiros, boa noite minha irmã!
E todos foram para os seus devidos aposentos. Shiryu acompanhava Luminessa, suas forças a abandonavam cada vez mais.
Aqui está. Espero que durma bem.
É muita gentileza sua, obrigada.
Não precisa agradecer. Posso lhe fazer uma pergunta?
Sim.
Porque demorou tanto para dar vida a sua armadura? Você sabia como proceder.
Eu precisei me equilibrar primeiro. Os últimos acontecimentos contribuíram para que eu descuidasse de meu cosmo.
A representação do equilíbrio com falta dele. Seria engraçado se não fosse trágico.
É verdade... além disso quando cheguei naquela pedra, lembrei-me do Mestre Ancião e conseqüentemente do Mestre Mu. Tenho saudades deles.
Eu entendo, também sinto saudades. Bom, vou deixar você descansar. Boa noite, Luminessa.
Boa noite...
Luminessa não conseguiu terminar a frase, uma energia estranha pareceu lhe invadir. Fazia doer-lhe os olhos e as entranhas:
O que foi? O que está acontecendo?
Eu estou sentindo...
Vou chamar alguém...
Não! Fique você aqui comigo. Já vai passar.
Mas o que é, não me deixe tão aflito!
É ele, eu estou sentindo!
Ele quem?
Nosso inimigo. É ele, estou sentindo...
O que sente?
Ele está preso numa escuridão sem fim mas está a ponto de se libertar. Ele também está me sentindo...
E o que mais?
São três, são três cosmos, mas dois deles não tem idéia do ódio que ele sente por minha irmã e por meu pai... Ele sabe que alguém tentará lhe impedir, mas não sabe quem é... que poder horrível!
Luminessa! O que está havendo, você está gelada!
Preciso me desligar dele...eu não consigo!
Luminessa, não!
Não consigo me desligar...
Luminessa, por favor!
Não consigo...
Shiryu sabia que precisava parar aquilo. Mas não sabia como. Luminessa levantou-se, queria se libertar. Então, Shiryu não sabendo mais o que fazer, a abraçou. Só então a terrível energia a deixou.
Ele se foi? Você está bem? Está?
Sim, acho que estou.
Vou deitar você na cama.
Era ele. Eu o senti. É terrível, ele é muito mau e tem muito poder, quase me sugou o resto das energias.
Eu percebi. Você estava estranha, gelada.
Você me salvou. Se não tivesse me abraçado, não teria conseguido quebrar o elo. Obrigada.
Isso só aconteceu porque você está fraca. Isso não voltará a acontecer, não?
Não, não voltará, não se preocupe.
Vou deixar você descansar. Se alguma coisa acontecer...
Eu aviso, pode deixar...
Boa noite.
Boa noite... Shiryu?
Sim?
Não se preocupe não voltará a acontecer. E obrigada, mais uma vez...
Luminessa se assustou com tamanha energia maligna. Agradeceu por Shiryu estar ali, se não tudo teria fracassado. Pensava que se ela sucumbisse, o mundo estaria perdido. Ela estaria perdida. Decidiu dormir mas ficou sentindo o abraço que Shiryu lhe deu.
