Capítulo 07 – Conhecendo o Inimigo

Saori acordou. Estava deitada em uma cama extremamente espaçosa, coberta por véus que deixavam transparecer um salão enorme, cheio de estátuas, tapetes multicoloridos e uma leve fumaça que estava impregnando o ambiente com um odor de especiarias. Olhou para si mesma e percebeu que haviam lhe trocado as roupas. Era um traje diferente, parecia ter sido feito para uma rainha da antiguidade. Queria fugir dali e quando foi descer da cama, antes mesmo de abrir os véus, ouviu uma voz:

Onde vai, Ama?

Quem é você?

Sou sua serva, minha Ama.

Serva? Onde estou?

No Param-Dhama, digo, Templo de seu futuro esposo, minha Ama!

Esposo? Do que está falando? Diga-me, por favor!

Eu... eu não posso, minha Ama.

Por quê não? Se sou sua Ama deveria me obedecer, não é?

Ouve-se o som de aplausos, que saudavam as palavras de Saori. Ela virou-se para ver de quem eram, mas os véus ocultavam a identidade daquele que parecia ser o senhor daquele lugar. Olhava mas não conseguia ver seu rosto.

Impressionante! Você é muito viva, irmã de Athena. Não se preocupe, logo suas dúvidas deixarão de existir.

Quem é você? O que quer comigo?

Hahaha! Calma, não precisa ficar alterada... Adhikari?

Sim, meu Amo!

Pode se retirar. Preciso conversar com sua Ama.

Sim!

A tal serva abriu os véus que cobriam a cama que Saori estava antes de se retirar. Saori pôde ver quem era aquele homem de voz imponente. Tinha pele acinzentada, olhos escuros extremamente marcantes e levemente puxados, cabelos ondulados longos de cor castanha que estavam parcialmente presos por uma fivela bastante incomum em uma espécie de coque no alto de sua cabeça, estatura alta e um corpo atlético. Vestia uma túnica amarela e, de um dos ombros, lhe caía um manto de um vermelho muito vivo. Um outro manto laranja cobria sua cintura em uma espécie de cinto. Estava com os pés desnudos e usava muitos colares, braçadeiras e pulseiras de contas e também em formato de serpentes de ouro, além dos brincos: imensas argolas adornadas de ouro. Trazia desenhado em sua testa um símbolo do qual ela não sabia identificar. Era inegavelmente um deus hindu, tinha todas as características de um indiano, dono de uma beleza magnética, exótica e sensual. Mas Saori sabia: mais do que belos atributos, aquele homem possuía muito poder. Uma cosmoenergia fantástica, imensa, que cobria e preenchia todo o salão em que estavam. Para ela, não restavam mais dúvidas: aquele era o inimigo e era poderosíssimo.

E então, está bem acomodada? Vejo que o traje lhe caiu muito bem.

Onde estou? Quem é você?

Tenha calma, minha bela... você está em meu Param-Dhama e eu sou seu futuro esposo. Como se chama, irmã de Athena?

Eu perguntei primeiro.

Hahaha! Você é esperta... e eu gosto disso.

Você ainda não me respondeu.

Nomes... vocês seres humanos sempre incapazes de distinguir alguém por sua energia... sempre querem nomes, como se um nome fizesse diferença nas horas verdadeiramente cruciais. Mas já que desejas... sou o terceiro elemento da Trimurti, a Trindade Divina da Mitologia Hindu. Sou o Deus da Destruição, meu nome é Shiva.

Saori tinha razão, ele é o inimigo. Pensou em seus cavaleiros e em sua irmã. Queria poder arranjar um jeito de contar-lhes quem era o inimigo, mas estava receosa. Ele podia descobrir que ela era Athena e lhe fazer algo terrível. Pensou em tentar se comunicar com sua irmã através de seu cosmo, mas antes que o fizesse:

Ah, minha bela. Por favor, não se dê ao trabalho de tentar se comunicar com alguém. Como vê, este Param-Dhama foi construído com minha energia e tudo aqui possui meu cosmo. Nenhuma outra energia consegue se impor aqui dentro. Sinceramente não acredito que você ofereça perigo, mas você é irmã de Athena, nunca se sabe, não é mesmo?

Então devemos estar na Índia, estou certa, Shiva?

Exatamente.

Acha mesmo que a minha irmã não vai saber onde estamos?

Não me importo nem um pouco com a sua irmã, ela não é e nunca foi nada para mim. No momento estou me importando com você. Ainda não sei seu nome, minha bela.

Você mesmo disse que nomes de nada valem. Então, não há necessidade de você saber meu nome.

Shiva chegou muito próximo à Saori. Sorriu, segurou seu rosto com violência e disse:

Espertinha.. você é muito espertinha. Mas eu lhe pergunto, minha bela: de que vai lhe adiantar tanta esperteza depois que eu mandar sua alma para o Mundo dos Mortos!

Ele jogou Saori violentamente na cama. Levantou-se e foi sentar em seu trono. Olhava Saori com raiva mas parecia realmente não ter idéia de quem ela era.

Mundo dos mortos?

Sim! Logo você será a minha esposa. Sentará aqui ao meu lado e se divertirá assistindo a morte de Athena e seus cavaleiros insignificantes. Governará este estúpido mundo ao meu lado e terá tudo o que desejar. Será minha, só minha.

E o que lhe faz pensar que eu concordarei com isso?

Hahaha! Não preciso de seu aval, preciso de seu corpo, você é apenas um avatar.

Para quê?

Para trazer minha esposa de volta, Parvati.

Mas isso é um absurdo!

Absurdo? Absurdo foi eu ter permanecido preso por séculos sem poder fazer nada! Eu passei milhares de anos esperando este dia chegar. Estive preso à Brahma e Vishnu sem poder me opor às suas decisões. Tudo culpa de Athena e daquele maldito Dragão Negro.

Do que está falando, Shiva? O que é que minha irmã e este tal Dragão Negro lhe fizeram?

Vou lhe contar, logo você não existirá mais, não fará diferença alguma. Depois de um tempo, onde eu só desenvolvia as tarefas que Brahma me ordenava, os estúpidos seres humanos clamavam por uma maior liberdade. Muitos deuses foram a favor, inclusive sua querida irmã. Junto com alguns, fui contra, mas de nada adiantou. Eu perdi tudo o que tinha, até mesmo minha imortalidade, assim como todos os outros. Jurei que iria voltar e acabar com os malditos humanos, que me fizeram perder tudo! Brahma e Vishnu foram mais rápidos e com um mantra nos uniu. Mas eu já havia deixado tudo preparado para minha volta. Todo mantra perde a validade e eu esperei por isso. Quando o dia chegou, me livrei do mantra da Trimurti e acordei meus Yaksas, que estavam repousando em minha constelação, Apus. E mandei que fossem atrás do maldito ser da profecia ridícula que o Dragão Negro deixou. E eles o encontraram e o mataram, hahaha! O maldito Dragão Negro da China achou que podia me matar, hahaha! Mandou uma mulher, que morreu salvando Athena, hahaha, uma mulher para me matar, hahaha! Um erro fatal, tanto trabalho para nada, hahaha!

Enquanto Shiva ria, Saori pensava em sua irmã e na tal Parvati que tomaria seu corpo. Eram tantas as informações que Saori estava confusa. Queria que sua irmã e seus amigos, seus cavaleiros, estivesse ali para que juntos chegassem a uma conclusão.

Ora minha bela, não fique tão preocupada. Logo você vai se tornar a grande deusa Parvati, futura senhora deste mundo! Reinará no lugar de sua irmã, a maldita Athena!

E já que ela é a grande deusa Parvati, porque precisa de meu corpo? Por que não vem com o dela?

Shiva levantou de seu trono e se aproximou de Saori. Ela tentou fugir mas ele sentou-se bem a seu lado e lhe segurou o braço. Olhava profundamente em seus olhos e ela podia sentir o forte ódio que ele imprimia em seu poderoso cosmo:

Porque o maldito Dragão Negro da China a matou... maldito!

Assustada com o grito de Shiva, Saori pensava consigo: "É o pai de Tienlung, o pai de Luminessa!". Ele largou o braço de Saori e sentou-se na beirada da cama, de costas para ela:

Ele descobriu meu plano de retornar assim que o mantra deixasse de ter validade. Foi atrás de mim para me matar e Parvati tentou impedi-lo. Foi assassinada por aquele desgraçado! Havíamos perdido a imortalidade e o corpo divino de Parvati, que não podia sofrer qualquer injúria assim como todos os outros deuses, se foi. Eu o matei, ele e a sua maldita mulher, o Dragão Branco. Ele me jurou, em seu leito de morte que enviaria alguém para me matar quando chegasse a hora. Mas como você bem sabe, eu a matei primeiro. É por isso que preciso de seu corpo, para trazer minha Parvati em sua forma mais poderosa, e para provar para Athena que nada que ela fizer vai adiantar, é inevitável.

Ora Shiva, Athena e seus cavaleiros já venceram muitos deuses que se atreveram a importunar este mundo antes de você.

Ora, cale-se, irmã de Athena! Este é só um lamento de desespero de sua parte! Não se submeta a tal situação ridícula.

Não, não é! Você logo verá que foi só mais um que tentou dominar este planeta e acabar com os humanos, mas como todos os outros, fracassou!

Já disse pra se calar, chega! Não quero que Parvati chegue em um corpo cansado por proferir palavras inúteis. Você é só um Avatar e deve se limitar a ficar em silêncio!

Sua ruína será essa sua auto-confiança excessiva!

Sua beleza se equipara a sua insolência! Você ainda tem resquícios do mantra do sono. Vou coloca-la para dormir.

Não, não permitirei!

Você já dormiu uma vez, posso fazer você dormir de novo.

Nunca! Pare com isso, Shiva!

Durma!

Os cinco cavaleiros de Athena e sua irmã dirigiam-se à Índia em um jato da Fundação. Finalmente poderiam enfrentar o inimigo, mas o inimigo tinha uma vantagem: Athena, o que preocupava a todos, principalmente Luminessa. Os seus novos amigos já a estimavam e a respeitavam, tanto que, ao perceber sua preocupação, falavam da armadura da Imperatriz para distraí-la. Mas ela olhava para as nuvens, estava longe dali. Shiryu não estava junto dos outros, mas dedicava toda a sua atenção à Luminessa.

Não é, Luminessa? Luminessa?

O quê? Me desculpe, Seiya, mas o que disse?

Estamos falando sobre sua armadura. O Ikki ainda não tinha a visto.

Bom, na verdade nem nós, Seiya. Vimos apenas a urna.

Não se preocupe, Shun, assim que chegarmos na Índia vocês vão vê-la. Na verdade nem eu a vi ainda.

Não fique tão preocupada, Luminessa! Nós confiamos em você! Vamos lutar até o fim, salvaremos Athena e acabaremos com os planos de Shiva sejam eles quais forem.

O Hyoga tem razão. Vamos fazer de tudo para vencer. E com Vossa Alteza ao nosso lado, vamos conseguir.

Obrigada, Seiya. E a você também, Hyoga. Não precisam ficar tão apreensivos comigo, não estou tão preocupada assim. Mais uma vez, obrigada pelo voto de confiança, prometo que farei o possível para corresponder.

É claro que sim! – finaliza Ikki.

Todos se levantaram e deixaram Luminessa sozinha. Ela estava de cabeça baixa e todo tempo estava sendo vigiado por Shiryu. Ele foi em direção à ela:

Está muito preocupada, sim. Pode mentir para eles mas não para mim. Eu até imagino o porquê. Você nasceu para esta luta, se perder, perde tudo. Sua irmã, sua dignidade, a confiança que seus ancestrais e mestres lhe depositaram. Tem medo de nos decepcionar, ou pior, você tem medo de que nós cinco morramos. Você se sentiria culpada, da mesma forma que se sente com relação à morte de Shunrei. Você vai para esta luta certa de que vai morrer para salvar sua irmã e seus cavaleiros. Nem que tenha de nos salvar usando seu corpo como escudo. Se preciso for vai agir como suicida. Estou certo, Vossa Alteza?

Luminessa ficou impressionada. Shiryu sabia exatamente como ela estava se sentindo. Sua reação demonstrava claramente para ele o quanto ela estava surpresa com suas palavras:

Está surpresa ou está com medo porque sei o que está pensado e isso te deixa insegura?

Acredito que ambas as respostas. Você não fez força alguma para decifrar exatamente o que estou sentindo. Apesar do tão pouco tempo que nos conhecemos, você é a única pessoa que pode ouvir o que meu coração diz, Shiryu.

Nos conhecemos há muito tempo, Luminessa. E eu não quero que você me salve, não se for em troca de sua vida.

Por que não? Já salvei sua vida algumas vezes, Shiryu, e farei de novo se preciso for.

O quê? Está falando sério? Luminessa!

Ela sorriu. Neste momento o piloto anunciou que haviam chegado à Índia. Ela levantou-se propositalmente e deixou Shiryu confuso, pensando no que ela havia dito.

Saori estava amarrada à cama pelos pulsos. Todo tempo permanecia com os olhos pregados em Shiva que parecia estar em meditação, na posição de Lótus. De repente ela sentiu: Luminessa e seus cavaleiros estavam por perto. Não demonstrou reação alguma e quando voltou seus olhos para Shiva, ele estava de pé junto a cama, olhando diretamente para ela. Isso fez com que ela se assustasse.

Sua irmã e seus cavaleiros acabaram de chegar. Mas parece que você também já sabe, não é irmã de Athena? Adhikari?

Sim, Amo.

Quero sua Ama pronta até eu voltar. Vou falar com meus Yaksas.

Sim, Amo!

E quanto a você, irmã de Athena, vá dizendo adeus aos seus amigos. Ou melhor, um "até logo" seria mais apropriado, logo vocês se encontrarão no mundo dos espíritos famintos, hahaha!

Shiva saiu, rindo como nunca. Saori sentiu medo, mas acredita em seus cavaleiros e em sua irmã. Queria se preparar para o que viria, mas não sabia o que lhe aconteceria. Por mais que tentasse, não conseguiu conter as lágrimas. Temia por seu amado planeta e pela raça humana.

Ama? Ama? Não chore! Quer que eu lhe faça ou traga alguma coisa?

Adhikari... é este o seu nome, não é?

Sim, Ama.

Você não me parece uma pessoa má, por que serve à Shiva? O que ele lhe prometeu?

Err... nada, Ama.

Não tenha medo, Adhikari... pode me contar.

Bem, ele... ele me obrigou a estar aqui, matou minha família e disse que eu tive sorte. Ele me manteve viva para servir à Parvati, a senhora, Ama.

Ele... matou sua família?

Sim, Ama. Ah, me desculpe, não devo a importunar com isso e...

Ah, minha querida, eu sinto muito!

Saori abraçou Adhikari, sentia muita pena dela. Queria poder ajuda-la, mas temia estar em mais perigo que ela.

Ama, eu sei que ele está fazendo uma maldade terrível com a senhora também.

Sim, é verdade.

Quando ele voltar, vai entoar o mantra que trará o espírito de Parvati para habitar o seu corpo. Depois disso a senhora terá apenas algumas horas até que Parvati anule sua alma e a envie para o mundo dos mortos. Eu sinto muito, Ama.

Como é que você sabe de tudo isso? Pode confiar em mim, eu posso ajuda-la, mas para isso você precisa me ajudar. Confie em mim, diga-me!

Minha família era responsável por guiar o ser da profecia pela Índia quando Shiva retornasse a este mundo. O Dragão Negro, o Deus-Dragão da China, incumbiu nossos ancestrais de guiá-lo e ensiná-lo tudo sobre Shiva. Depois deveríamos trazê-lo para este templo, mas ele descobriu e matou minha família e depois matou o ser da profecia. Sem ele não há mais nada a ser feito, só ele poderia matar Shiva, só ele tinha o poder para tal. Eu sinto muito Ama, Shiva venceu.

Adhikari abraçava Saori enquanto ele pensava se podia confiar o suficiente naquela garota para lhe contar a verdade. Foi então que Saori viu o símbolo Yin-yang no pulso esquerdo de Adhikari. Ela fazia parte da profecia assim como Shiryu e Shunrei. Confiou em Adhikari, levantou sua cabeça e olhou em seus olhos:

Adhikari, ainda há uma chance! Shiva falhou, a Imperatriz dos Dragões, Tienlung está viva.

Do que está falando? Como é que sabe que o ser da profecia é a Imperatriz?

Ela é minha irmã. Foi ela que chegou aqui, com meus cavaleiros. Shiva pensa que ela é Athena.

Então você é Athena?

Sim.

E quem era a mulher que os Yaksas de Shiva mataram?

Uma amiga. Morreu para salvar Tienlung.

Mas se isso for realmente verdade, ainda há esperança! Vossa Alteza, a Imperatriz dos Dragões e seus cavaleiros poderão salvar o meu povo e a este mundo!

Sim, é verdade! Agora vá, Adhikari. Encontre Tienlung, conte à ela e meus cavaleiros tudo o que você me contou agora. Mostre este símbolo e entregue esta corrente à ela e ela saberá que você esteve comigo. Vai confiar e proteger você. Nós a chamamos de Luminessa. Mas tome cuidado, não diga à ninguém sobre nossa conversa.

Mas e quanto a você, deusa Athena?

Eu farei o possível para adiar a chegada de Parvati, usarei todas as minha forças. Acha que vai conseguir encontra-la?

Eu sei que posso! Sei que quando vê-la saberei que é a Imperatriz dos Dragões, não se preocupe.

Tenha cuidado, eu farei o que Shiva lhe pediu. Eu confio em você, é a nossa única esperança.

Adhikari saiu depressa atrás de Luminessa, enquanto Saori vestiu os tais trajes para que Shiva não desconfiasse de nada. Confiava no sucesso de Adhikari, desejava do fundo de seu coração que ela encontrasse sua irmã à tempo. Se Parvati tomar o lugar de sua alma, tudo estará perdido. O tempo estava correndo.

Asura... meus Yaksas...

Mestre!

Shiva acabara de chegar em outra sala ainda mais ampla do que a que ele mantinha Saori como prisioneira. Era nela que os Yaksas ficaram treinando e aguardando as ordens de seu mestre. Todos se ajoelharam diante de Shiva, inclusive o velho Asura. O silêncio era absoluto, aguardavam as palavras de Shiva. Todos sabiam que desta vez eram as palavras que todos aguardaram por muito tempo.

Meus caros Yaksas! Finalmente o grande momento chegou. Vocês que passaram gerações aguardando minha volta, treinaram com fervor para que tivessem o direito de vestir os sagrados Shaktis que representam a constelação de Shiva, Apus. Finalmente o momento chegou. Temos um avatar perfeito para carregar a alma da deusa Parvati, que reinará soberana ao meu lado. Reinaremos neste planeta ridículo, com esta população insuportável de humanos, que um dia pensou ser maior que os deuses. Vocês são a representação de minha Ira! Vão, matem Athena e seus cavaleiros inúteis! Mostrem a eles a força de seu Deus! Mostrem de que lado está a verdade absoluta daqui para frente!

Um grito ecoou pelo salão de mármore, um grito de guerra, de vitória emitido pelos yaksas de Shiva, que o saudavam incessantemente. Asura apenas olhava, preferia ter mais cautela, queria ter certeza do terrenos onde iam pisar:

Mestre! Mestre Shiva!

Sim, Asura.

Então Athena e seus cavaleiros chegaram à nosso país? Acha mesmo que eles terão dificuldades em encontrar este Param-Dhama?

Não seja idiota, Asura! – Shiva lhe joga contra uma pilastra, fazendo com que os Yaksas se calem – Escutem bem, isso vale para todos vocês! Vou entoar o mantra do renascimento para trazer Parvati assim que vocês saírem daqui. Vocês terão quatro horas para matar Athena e seus cavaleiros e impedi-los de chegar até aqui. Este é o tempo que Parvati vai precisar para tomar o lugar da alma daquela garota. Se vocês falharem, sofrerão as conseqüências neste mundo e no outro! Vou jogar-lhes no Mundo dos Espíritos Famintos junto com aqueles abusados cavaleiros! Entenderam?

Sim, Mestre! – todos responderam em coro.

Agora vão! Matem eles!

Ahankara, o líder dos Yaksas encaminhou cada um deles para uma direção. Assim que Shiva se retirou, Asura levantou-se e foi atrás dos Yaksas. Ele sabia que sua intuição não falhava, para ele, aquela não era Athena, era muito mais perigosa para eles do que podiam imaginar.

Todos desceram do jato com suas respectivas armaduras. Seiya deu instruções aos pilotos para que se escondessem e que, ao sinal de qualquer perigo, deixassem aquela área e só voltassem depois. O ambiente era de preocupação, principalmente por causa de Saori. O que será que Shiva fará com ela? Era impossível saber, assim como era impossível descobrir onde Saori ou Shiva estavam, tudo parecia estar recoberto com a energia maligna de Shiva. Um cosmo terrível, um inimigo realmente perigoso.

E agora, amigos? Já pedi para os pilotos se esconderem em um lugar seguro. E quanto à nós?

Luminessa, é essa a cidade que você nos disse?

Sim, é esta, tenho certeza. Sonhei com ela minha vida toda. Shiva está aqui em algum lugar, Hyoga.

O problema é em que lugar. Pelo que vimos nos mapas, esta cidade é grande e a cosmoenergia de Shiva cobre tudo. Não é possível localiza-lo.

Shiryu tem razão. Minha sugestão é que nos separemos em duplas e tentemos encontrar Saori.

Ótima idéia, Ikki! Vamos juntos, irmão! – diz Shun.

Vamos Hyoga, eu e você vamos por aqui.

Certo, Seiya. Shiryu, Luminessa, vocês seguem por aquele lado.

Ótimo. Por sermos protegidos pela mesma constelação, trabalharemos melhor em conjunto.

Vamos cavaleiros, quanto mais demorarmos, mais perigoso fica para minha irmã.

Um barulho se aproxima dos seis amigos. São passos rápidos e nervosos. Imediatamente todos colocam-se em postura de luta e ficam aguardando o inimigo.

Esta maldita energia do Shiva nos atrapalha! Não consigo sentir este inimigo. – esbraveja Ikki.

Talvez porque não seja um inimigo.

E por que não seria, Luminessa? – Indaga Hyoga.

Parou de se mover. Não é um inimigo – Luminessa diz isso e vai em direção ao arbusto onde o barulho cessou.

Não, Luminessa! – gritam os cavaleiros em coro.

É só uma garota. – diz Luminessa aos cavaleiros – Olá, você está bem? Está machucada? – pergunta à garota.

È você? Sim, é você!

A garota pulou de trás do arbusto e abraçou Luminessa, que apesar do susto, acabou retribuindo o abraço. Ela ajoelhou-se perante Luminessa em sinal de respeito e Luminessa ajoelhou-se junto à ela, sob os olhos atentos dos cinco cavaleiros de Athena.

Sou eu? Quem você acha que eu sou?

Eu sei que é você, tenho certeza disso! Só você pode nos salvar.

Do que é que você está falando?

Eu estou aqui para guia-la até Shiva. Meu nome é Adhikari e estive com sua irmã. Você é Tienlung, a Imperatriz dos Dragões! Seja bem-vinda, vossa alteza, pensei que tivesse sido morta pelos Yaksas.

Todos ficaram atônitos. Luminessa olhou para os cinco cavaleiros que aproximaram-se das duas.

Sua irmã, a deusa Athena, pediu para eu lhe entregar isso. – entregou uma corrente à Luminessa.

É a corrente que dei à Saori quando nos conhecemos. Não há dúvidas de que ela esteve com Saori.

Ela também me pediu para que eu lhe mostrasse essa marca antes de começar a lhe contar tudo o que está havendo, vossa alteza.

A marca da profecia... você também faz parte dela! É exatamente como a de Shiryu e a de Shunrei. Então você fala a verdade.

Sim, vossa alteza, eu lhe juro que sim! Vim para lhe ajudar!

Ela diz a verdade, cavaleiros – Luminessa virou-se para Adhikari e complementou – você já pode ficar tranqüila, está segura. Agora nos conte tudo o que sabe, Adhikari.

A criada de Shiva contou tudo o que sabia aos cavaleiros e a Luminessa, a morte de sua família, a participação dela na profecia, todos os detalhes que ela havia relatado à Saori. Todos ouviam atentamente as palavras dela, eram informações preciosas.

Parvati? Quem é essa? – indaga Seiya.

Parvati é a esposa de Shiva. Mas ele quer trazer um dos avatares de Parvati, Kali.

A deusa da morte?

Sim, vossa alteza. Só ela concordaria com os planos de Shiva. E ele vai usar o corpo de sua irmã para traze-la de volta. Ele deve iniciar o ritual dentro de uma hora. Depois de iniciado, a alma do corpo escolhido é anulada e enviada ao Mundo dos Mortos em quatro horas. Mas sua irmã disse que conseguiria resistir por mais tempo.

Isso é terrível. Mas pelo menos sabemos o que ele pretende com Saori e de quanto tempo dispomos para salva-la. – diz Hyoga.

E os tais Yaksas de quem falou a pouco, Adhikari? Quem são eles? – pergunta Shiryu.

São os quatro guerreiros de Shiva. Eles já devem estar à espera de vocês. Aliás, o Param-Dhama, ou melhor, o Templo de Shiva fica para aquele lado.

Ótimo. Obrigada, Adhikari. Não sabemos como lhe agradecer.

Não há necessidade, vossa alteza. Mas se realmente quiserem me agradecer, derrotem Shiva e seus Yaksas e libertem meu povo. Quem não foi escravizado por Shiva, está aprisionado dentro de seu próprio corpo. Shiva está drenando a energia de todos, a cidade parece abandonada mas não é.

Mas que desgraçado! Por isso não conseguimos sentir nada além da cosmoenergia de Shiva! Ele está usando a energia das pessoas para nos confundir! – Conclui Ikki.

Isso é terrível. Ele vai matar a população inteira deste país se não o determos! – diz Shiryu.

Faremos o possível e o impossível para derrota-lo, Adhikari. Tenho certeza de que tudo dará certo. Agora vamos, vou levar você para um lugar seguro – Luminessa abraça Adhikari e dirige-se para o mesmo lugar onde estavam escondidos os pilotos do jato.

Sim, vossa alteza, mas antes preciso lhes dizer uma última coisa... só a Imperatriz dos Dragões pode matar Shiva. Só vossa alteza pode envia-lo de volta para o exílio.

Adhikari segue de mãos dadas com Luminessa até o seu esconderijo, observadas pelos cavaleiros. Depois de muito pensar, Ikki fala aos amigos:

Vamos manter as duplas e seguir por caminhos diferentes até o templo de Shiva, assim distrairemos os quatro guerreiros.

Se Luminessa é quem matará Shiva, nosso dever é combater os tais Yaksas. Shiryu, já que você está com ela, certifique-se de que isso acontecerá, meu amigo.

É claro, Hyoga. Não se preocupe com isso.

Mais uma vez juramos, nem que só um de nós chegue no templo. Temos de ajudar a Imperatriz dos Dragões a destruir Shiva, para que possamos salvar a deusa Athena. – diz Seiya em tom de seriedade.

Neste momento os cavaleiros vestem as suas sagradas armaduras. As figuras mitológicas se desfazem para cobrir o corpo dos cinco amigos que mais uma vez lutarão para salvar Athena, pelo Amor e pela Justiça.

Por Athena, meus amigos! – diz Seiya.

Por Athena!

Em coro, os amigos unem as mãos selando o juramento que acabaram de fazer. Luminessa, que voltava do esconderijo de Adhikari, chegou à tempo de ver as mãos unidas dos amigos. Sabia que agora era inevitável, a luta aconteceria de qualquer maneira. Olhou para a urna de sua armadura e a chamou. Imediatamente a urna se abriu e uma magnífica armadura se mostrou: dois dragões entrelaçados, um negro e um branco, que se desfizeram e rapidamente cobriram o corpo de sua Imperatriz. A luz emitida pelo gesto chamou a atenção dos Cavaleiros de Athena, que mantinham suas mãos unidas enquanto assistiam a tudo. Já com a armadura em seu corpo, Luminessa a olhou e sorriu impressionada pela beleza e poder que ela emitia. Agradeceu mentalmente seus mestres e seus ancestrais e foi em direção ao grupo, que também estava impressionado com a beleza e o poder da armadura de Tienlung, a Imperatriz dos Dragões.

Agora sim eu estou pronta – juntou suas mãos às mãos dos cavaleiros – temos no máximo seis horas para resgatar Athena e destruir Shiva. Que meu pai, o Grande Deus Dragão nos proteja. Vamos, amigos!

E as duplas se separaram. Shun e Ikki foram pelo caminho da esquerda. Seiya e Hyoga seguiram em frente. Shiryu e Luminessa, foram pela direita. O que eles não sabiam é que cada caminho levava diretamente a um dos Yaksas, que os esperavam ansiosamente. A luta havia acabado de começar.