Capítulo 6: Infortúnios
Hotohori ficou contrariado por ter que dormir na casa dos Nakarashi. Estava incomodado, pois estava com um estranho pressentimento. Ficou porque a Senhora Nakarashi insistiu muito e ele ficou com vergonha, principalmente quando ela mencionou o fato de que ele já fizera isso outras vezes. Mas preferiu ficar num dos quartos mais afastados, sentiria-se mais à vontade se fingissem que ele não estava ali.
Não havia mais quase ninguém de hóspede na casa, estava tudo às escuras e antes de fechar a porta deu uma olhada no corredor completamente escuro. Estava quase nos fundos da casa e se gritasse não poderiam ouvir. Trancou ligeiro a porta e se jogou na cama.
Quando estava quase agarrando no sono, ouviu um estalido, levantou-se assustado lembrando-se onde estava e quase teve um ataque do coração quando viu uma silhueta de um homem em sua frente. Tentou gritar, mas o homem pulou em cima dele e tapou-lhe a boca.
O quarto estaria um breu completo se não fosse um fio de luz que vinha do lado de fora por uma fresta da janela, fazendo com que sua cama ficasse iluminada, e quando o homem aproximou-se de seu rosto e ficou entre essa luz, Hotohori o reconheceu.
Ele tirou as mãos de sua boca, mas continuou em cima dele lhe sorrindo maldosamente.
- Tasuki?... O que você está...? – Suas palavras foram abafadas por um beijo selvagem dado pelo outro, tentou repeli-lo sem sucesso e ficou realmente desesperado, quando Tasuki começou a passar a mão por seu corpo.
Tasuki beijava-o saboreando o gosto da boca de Hotohori, enquanto descia a mão por seu tórax, seu pênis já estava em ereção e Hotohori movimentava-se tentando fazer com que ele saísse de cima de seu corpo. Ele desceu os beijos para o pescoço de Hotohori e o puxou para cima rasgando metade de sua camisa.
Hotohori gritou desesperado e deu um tapa no rosto de Tasuki que pareceu nem sentir, ele olhou bem nos olhos de Hotohori e lhe deu um beijo.
- Você será meu essa noite, Hotohori... – ele disse sussurrando em seu ouvido e lambendo-o logo depois.
- Tasuki o que está fazendo? – ele perguntou já com as lagrimas sendo derramadas por seu rosto. – Está bêbado?
- Nunca estive tão sóbrio em minha vida, Hotohori. – Ele respondeu, mas seu hálito denunciava suas mentiras, ele bebera e para Hotohori não parecia ser pouco. – Eu sempre quis você, mas você sempre foi de outro homem.
Tasuki o jogou novamente na cama e abriu as pernas dele, colocando-se entre elas, Hotohori estava só de cueca e tento chuta-lo, mas recebeu um tapa no rosto.
- Viu o que me fez fazer? – gritou Tasuki, acariciando o rosto dele em seguida. – Hotohori, meu amor, não me faça machucar esse lindo rosto que você tem.
Hotohori teve nojo dele. Todas as suas desconfianças de tantos anos provaram ser verdades. Sempre supusera que Tasuki tinha uma atração por ele. Não conseguia acreditar que toda raiva que o irmão de seu ex-namorado demonstrara ter dele fosse apenas porque ele não ia com sua cara. Sempre evitara ficar perto dele ou sozinho com ele, pois tinha medo de suas reações, que podiam variar de um assassinato a um estupro... um estupro. Não poderia imaginar que ele fosse realmente chegar a esse ponto.
- Me solta, Tasuki. – gritou a pleno pulmões, ainda tentando mover-se.
Tasuki beijava seu corpo vorazmente, saboreando, lambendo cada parte, como se conquistasse um premio. Era esse o seu pensamento, Hotohori era um premio, agora que era reconhecido como o maior surfista dos dois últimos séculos, merecia ter o que tanto desejou.
- Hotohori, eu trouxe o troféu para você. – ele disse com os olhos enchendo-se de lágrimas. – Para você ter orgulho de mim...
- Seu louco, me solta, por favor, Tasuki... por favor... – implorava chorando.
Tasuki não lhe deu atenção, desceu a calça folgada do pijama que usava, encostando o pênis ereto na barriga de Hotohori, quando inclinou-se para beijá-lo.
Hotohori deixou sua boca ser invadida, sentindo-se um nada embaixo do corpo forte de Tasuki. Não podia mexer-se, não conseguia mais lutar contra ele. Sua boca era invadida assim como seu corpo seria em poucos instantes, pois seus esforços de se libertar seriam inúteis e não conseguiria impedir que ele fizesse isso.
- Você está orgulhoso de mim, Hotohori, meu amor? – ele perguntou dando-lhe um sorriso.
- Como eu teria orgulho de um estuprador? – gritou, olhando-lhe bem nos olhos.
Para Tasuki ouvir essas palavras, foi como se o teto do quarto desabasse em sua cabeça. Seus olhos se abriram assustados e um calafrio percorreu-lhe o corpo, fazendo-o tremer. Ele começou a respirar apressadamente e saiu de cima de Hotohori, olhando para ele. O que viu foi um Hotohori largado na cama, com lagrimas nos olhos, rosto vermelho e camisa rasgada, tentando puxar um cobertor para cobrir-se.
- Por favor, Tasuki, não termine isso... não me machuque... – suplicava chorando e tremendo com o medo que sentia.
- Ho-Hotohori?... – ele gaguejava tentando achar uma explicação para tudo isso. Sua cabeça rodava e ele começava a sentir uma tontura depois de tantas bebidas que tomara. – M-Me perdoe... eu... eu não queria machucá-lo. – Tasuki levantou-se e esticou a mão para tocar em Hotohori e quando este recuou assustado ele fez o mesmo. – Deus, o que eu fiz?
- Vá... embora... por favor – disse baixinho, Hotohori. – Sai daqui. – gritou mais forte. – Sai daqui...
Tasuki encostou-se na parede assustado e depois de alguns segundos observando o desespero de Hotohori, destrancou com as mãos tremidas a porta, correndo pelo corredor escuro.
Hotohori levantou-se de um salto, acendeu a luz e trancou a porta, jogando-se na cama novamente.
- Graças a Deus, ele não me fez nada. – soluçava agarrado ao travesseiro. – Graças a Deus eu estou bem... Desgraçado, por que fez isso? Seu miserável...
Tentando entender o que acabara de acontecer e usando todos os palavrões conhecidos para xingar Tasuki, ele adormece cansado.
Tasuki ficou desesperado, o que dera nele? O que fizera? Quase estuprara Hotohori. E agora o que faria? Se ele contasse para alguém? Se ele resolvesse denunciá-lo... tudo estaria acabado. Como olharia seus pais e seu irmão novamente?
Trancou-se no quarto e revirou tudo até encontra papel e caneta. Fugiria, sumiria pelo menos por um tempo. Mas a medida que ia escrevendo, as lágrimas escorriam-lhe pela face e suas mãos tremiam... ele pensava em uma fuga permanente. Não conseguia mais conviver com o amor que tinha por Hotohori, agüentara tanto tempo, mas esse sentimento o estava corroendo, consumindo, ele tinha que escapar.
Caminhava pela casa tentando não fazer barulho e acordar alguém, pegou uma garrafa de conhaque e foi para a piscina. Sentou-se numa das cadeiras e voltou a escrever, colocando o jarro de flores como peso de papel. Enfiou a mão no bolso e trouxe um frasco cheio de pílulas. Girou o vidro na mão e sorriu tristemente. Virou-o na boca e depois bebeu metade do conhaque de uma única vez, tossiu um pouco e se largou na cadeira. Levantou-se e caminhou devagar para a piscina. As coisas giravam a seus olhos e começavam a se embaçar, entrou na piscina, que tinha um lado mais raso do que outro, e passou a ir para a parte mais funda... as coisas ficavam escuras cada vez mais e quando foi tomado de uma tontura tentou segurar-se na borda, mas ela parecia se afastar...
O dia ainda estava amanhecendo quando Hotohori levantou-se. Não conseguira dormir, tudo acontecera tão de repente que ele não conseguia entender. Também não sabia o que faria agora, contar o que acontecera? Mas para quem? Nakago? Os pais dele? Não. Era melhor ficar calado e levar a historia consigo mesmo, pelo menos por enquanto. Olhou-se no espelho, tocando no lugar que Tasuki batera, "Ainda bem que não está inchado", pensou. "Pelo menos isso". Saiu do quarto com o rosto mórbido, queria sair dali o mais rápido possível.
Surpreendeu-se ao descer as escadas e encontrar a familia Nakarashi ali reunida. A Senhora Nakarashi chorava debruçada no peito do marido e Nakago também estava com os olhos inchados sentado no sofá, com Nuriko a confortá-lo aconchegando a cabeça dele em seu peito. Homens vestidos de branco caminhavam pela casa e flashes podiam ser vistos vindos de algum lugar da casa.
- O que houve? – perguntou espantado.
- A culpa é sua. Você á a perdição de meus filhos. – Mihako Nakarashi. – gritou virando-se para Hotohori que recusou assustado. – Você, sempre você a atrapalhar a vida de meus filhos e a fazê-los sofrer.
- Mamãe, por favor. – pediu Nakago.
- Mihako, Hotohori não tem culpa disso. – consolou-a o marido a abraçando novamente.
Hotohori olhou para Nuriko, que também parecia ter chorado e abraçava o marido. Ele ainda não entendia o que estava acontecendo. Porque toda essa comoção?
- O que?... – tentou perguntar.
Nakago olhou para ele e desdobrou uma folha de papel.
- É uma carta de Tasuki. – ele disse com os olhos voltando a encher-se de lágrimas. – Uma carta de despedida. Ele se matou ontem à noite.
Hotohori caiu sentado no degrau da escada. Tasuki se matara? Ele desceu os olhos para o papel já muito amassado. "Desculpe, mamãe, papai, irmão. Precisa fugir de alguma maneira..." – começava a carta, logo abaixo Hotohori lia um pedido de desculpas pela besteira que ele quase fez e dizia que o amor que sentia por Hotohori era tão grande que estava o sufocando e lhe tirando a vida aos poucos, por isso queira acabar de uma vez com isso. – "Não posso suportar viver sabendo que meu amor por Hotohori jamais será correspondido e que ele jamais será meu como que desejo que seja..." – Hotohori, enxugou a lágrima que cai ao ler a carta de Tasuki, a carta terminava com um pedido de desculpas. - "Sinto muito mamãe, eu sei que lhe decepcionei, mas foi melhor que isso acabasse logo. Eu amos vocês. Adeus".
- Eu sinto muito, senhora Nakarashi. – disse levantando-se e abafando o soluço. Entregou a carta a Nakago e sai correndo. - "Eu sinto muito mesmo."- Ele pensava enquanto corria em direção a seu carro. Iria direto para casa, ligaria para o trabalho e inventaria uma desculpa, não falaria a verdade, que estava muito abalado com a morte de Tasuki e não poderia trabalhar. Melhor iria trabalhar sim, seria melhor ocupar a sua cabeça.
Quando saiu seu carro foi cercado por repórteres, câmeras de TV e fotográficas, ele avançou nervoso fazendo com que todos saíssem do caminho, mas parou ao ver o carro do Diário ali. Limpou o rosto e foi até eles.
- Hotohori? Você estava ai? – perguntou seu colega.
Ele balançou a cabeça confirmando e seus olhos voltaram a encher-se de lagrimas e ele teve que fazer muita força para não chorar.
- Que tragédia, não é mesmo? Você era amigo da familia, não é verdade?
Hotohori balançou novamente a cabeça, mas voltou correndo para seu carro ao lembrar das palavras da mãe de Tasuki: "A culpa é sua. Você á a perdição de meus filhos... A culpa é sua... Sua culpa... SUA. " Então a culpa era sua? Mas porque? Por que tinha culpa se Tasuki se apaixonara por ele? Nunca havia feito nada para que isso acontecesse. – Pensava dirigindo. – A culpa não podia ser sua. Antes de Chegar a seu apartamento ele deu ré e mudou de direção. Não queria ir para casa e ficar lá sozinho. Procuraria Chichiri.
- Tamahome, onde você está? – ele perguntava para o espelho retrovisor. – Onde está quando eu preciso tanto de você?
Mas quando chegou na casa de Chichiri, ele não atendeu. Não estava em casa. Hotohori então lembrou-se dele ao lado do Dr. Mitsukake e como ele parecia feliz.
- Chichiri. – disse ele baixinho ajoelhado no portão da casa de Chichiri. – Boa sorte, meu amigo. Espero que tenha uma sorte muito melhor do que a minha.
As coisas esquentam na vida de Hotohori, as tristezas só aumentam e assim também é com as preocupações.
Continua...
