Capítulo 7: Entre a Vida e a Morte

Sexta-feira, 8 de junho. 09: 15 min.

Hotohori ficou sentado ao portão da casa de Chichiri, não que não pudesse entrar, Chichiri já lhe dera as chaves há algum tempo, mas ele ficou ali, sentado no chão e chorando copiosamente, não demorou e adormeceu. Não sabia de onde vinha, mas bem ao longe, ouvia uma voz o chamando e então sentiu ser chacoalhado.

Abriu os olhos e um rosto preocupado com uma cicatriz na parte direita apareceu em sua frente, uma mão passava por sua testa e pescoço, Mitsukake.

- O que estás fazendo aí? – perguntou Chichiri, quando Mitsukake o ajudava a levantar. – Porque não entrastes?

Hotohori estava de cabeça baixa e quando a levantou mostrou seus olhos vermelhos e inchados de tanto chorar, se jogou nos braços do amigo e chorou mais ainda. Chichiri o abraçou e olhou para Mitsukake que estava tão atônito quanto ele.

Mitsukake afagou meio de longe o cabelo de Hotohori e seu celular tocou. Ele afastou-se um pouco e atendeu. Voltou segundos depois e disse que precisava partir para atender uma emergência, beijou os lábios de Chichiri e Hotohori na cabeça e se foi.

Chichiri abriu os portões e abraçado a Hotohori conduziu-o para sua casa. Levou-o para o quarto e fez com que ele se sentasse na cama e sentou-se a seu lado, enxugando com um lenço as lágrimas que ele vertia.

- Me diz o que houve, Hotohori? – perguntou preocupado.

Hotohori chorou mais um pouco e tentou se conter.

- Tasuki... ele tem-tentou m-me agarrar... e se ma-matou... – disse soluçando. Chichiri não entendia e correu para pegar um copo de água para o amigo. Abraçou-o e fez com que parasse de falar já que não entendia nada do que ele dizia mesmo.

Depois de mais alguns minutos de intenso pranto, Hotohori consegue finalmente contar o que acontecera, como o irmão de seu ex tentou estuprá-lo e depois se matou e como sua mãe o acusou da morte dele, fazendo-o sentir realmente culpa por tudo .

- E agora? O que eu faço? – perguntou tristemente sentindo um forte aperto no coração. – Tudo isso é injusto, ela foi muito injusta comigo. E tudo é culpa de Tamahome! Só queira que ele estivesse comigo...

Chichiri ouviu o desejo do amigo, embora este dissesse em apenas um fio de voz, também ficou muito triste, sabia que Hotohori sofria muito por Tamahome e já ouviu várias e várias vezes Hotohori chamá-lo durante o sono ou mesmo suspirar seu nome em voz alta quando estava distraído.

Agora que seu coração batia por outra pessoa, que queria contar a Hotohori com viera tentando disfarçar a felicidade que sentia por ter estado ao lado de Mitsukake durante aquela noite, queria encontrar-lhe para dizer o quanto se sentia feliz em estar beijando alguém que ficara com ele sem dar importância sua deficiência ou sua cicatriz e que nem ao menos sabia quem ele era quando o chamou para dançar e lhe roubou um beijo.

Mas vê-lo desse jeito roubava toda sua felicidade. Não sentia-se no direito de estar feliz quando a pessoa que lhe tinha trazido de volta a vida estava tão triste.

- Por que tu não vais procurá-lo? – sugeriu de repente.

Hotohori que estava de cabeça baixa levanta os olhos tristes e espantados para ele, mas baixou-as novamente antes de responder.

- Ele não quer saber mais de mim. – respondeu baixinho. – Eu ainda ligo às vezes, mas ele sempre manda dizer que não estar. Por vezes chego a ouvi-lo falar isso e mesmo quando ele atende ao telefone e reconhece a minha voz desliga sem nada dizer.

- Como ele é cruel. – Chichiri diz mais para si mesmo, mas Hotohori concorda.

- Eu choro sempre que ligo para ele e digo isso. Mas não consigo deixar de amá-lo, não consigo esquecê-lo... não consigo.

Chichiri abraça o amigo e beija-o na testa.

- Então tu deverias ir atrás dele. – diz sorrindo. – Quero ver se ele terá coragem de bater a porta em tua cara.

Eles sorriram e Hotohori fez o mesmo. Chichiri o deixou no quarto e saiu. Quando voltou trazendo o café, Hotohori estava num sono pesado.

"Como ele é bonito. Que espécie de homem é Tamahome para fazê-lo sofrer dessa maneira?", pensou. "Não me admiro ter encantado-me por ele, ainda mais depois de ter sido tratado tão bem... Mitsukake espero que não me faça sofrer assim algum dia, não sou forte como Hotohori... não agüentaria se abandonado mais uma vez."

Quarta-feira, 13 de junho. Por volta das 21 horas.

A preocupação tomara conta da vida de Hotohori ultimamente, as cartas, telefonemas, e-mail de ameaça continuavam a chegar e cada vez mais perto e mais agressivas. O tiroteio na rua quatro dias antes... ele sabia que tinha a intenção de assustá-lo e se por acidente ele fosse morto não faria diferença.

Nos últimos dias não tivera muito tempo para pensar na morte de Tasuki, nas acusações da Sra. Nakarashi ou mesmo em Tamahome, seus pensamentos concentravam-se exclusivamente em manter-se vivo, estava realmente com medo.

Ele não queria contar para Chichiri o que ele sabia que ameaçava tanto esse alguém, mas ele não abria a boca, não queria colocar amigo em perigo também e por isso até deixara de visitá-lo com mais freqüência, explicara isso a Chichiri, que protestou, é claro, mas aceitou a decisão do amigo.

Sentia que estava sendo vigiado e tinha arrepios quando descia a garagem do prédio para pegar o seu carro, o lugar estava sempre vazio. No estacionamento do jornal não era diferente, muito ou poucos carros se acomodavam a depender do horário no espaço gigante que dispunham para deixar os carros, pois no mesmo prédio do jornal funcionavam também outras empresas.

Passavam das nove da noite e o estacionamento estava quase vazio, Hotohori ouvia apenas seus passos solitários ecoando no chão e como num filme de terror ele ouviu passos leves caminhando com os dele. Assustado ele olha para trás procurando o dono dos outros passos, mas esses se calaram e não havia ninguém.

Ele voltou a caminhar e a outra pessoa fez o mesmo. Ele parou para ouvir e novamente os passos se calaram. Então ele correu e os passos correram também. Chegando a seu carro, viu que os pneus estavam furados e então ouviu o ronco de um motor. Resolveu correr. Correu desesperado para fora do estacionamento e chegou a rua que não era muito movimentada, o carro ia atrás dele.

Um Sedan negro estava cada vez mais perto e parecia brincar com Hotohori, que derramava lágrimas de pavor, gritando em pensamento que não queria morrer, mas estavam tentando matá-lo mesmo. O Sedan andava devagar e acelerava, deixando Hotohori pegar uma distância e depois chegava perto dele, finamente a brincadeira acabou e ele bateu com força no corpo de Hotohori que caiu no meio da rua desacordado. O carro distanciou-se e roncava furioso, preparando-se para passar por cima do corpo estendido de Hotohori.

De repente, Nakago e Nuriko aparecem e ajoelham-se ao lado de Hotohori, então tiros são disparados e o carro acelera em direção aos três na frente, rapidamente, Nakago carrega Hotohori e eles saem do caminho do carro que dispara e some de vista.

- Meu Deus! Ele está bem? – pergunta Amiboshi preocupadíssimo, aproximando-se dos três na calçada.

- Não, não está. – diz Nakago morbidamente. – Ele precisa ir par ao hospital imediatamente. – Ele acaricia delicadamente o rosto de Hotohori, retirando uns fios de cabelo grudados no sangue que escorria por sua testa.

Nuriko chorava ao ver o estado de Hotohori, mas também em ver o modo com o qual o marido o tratava, realmente Nakago não o havia esquecido, mesmo depois de quatro anos do fim do namoro dos dois, sabia que ele ainda amava o ex-namorado, isso lhe doía profundamente, andava até mesmo pensando em dar um tempo separados, pois ultimamente Nakago vinha falando demais de Hotohori, relembrando de coisas que faziam juntos e mesmo sem querer falando que ele era isso ou aquilo e gostava disso ou aquilo... talvez fizesse bem dar um tempo no "casamento".

- A ambulância já está chegando. – disse Suboshi com uma pistola na mão e um rádio na outra. No mesmo instante, sirenes foram ouvidas e uma viatura policial apareceu disparada, parando ao lado deles na calçada. A ambulância apareceu no fim da rua logo atrás. – Não há tempo para apresentações, Amiboshi fará todas no caminho para o hospital. – disse entrando na viatura e sumindo como fez o Sedan negro.

Segundos depois a ambulância parava no mesmo lugar que segundos antes estivera o carro da policia e pará-médicos desceram para levar Hotohori, que segui sozinho na ambulância.

Nakago correu para pegar o carro, parado a metros dali e pediu para que Nuriko e Suboshi esperassem, voltou com o carro e os dois entraram. Ele dirigia no encalço da ambulância que corria para salvar vida de Hotohori.

- Meu nome é Amiboshi Ishotori, aquele que estava lá é meu irmão gêmeo, Suboshi Ishotori. Eu sou colega de trabalho do Hotohori. – apresentou-se a ao irmão e perguntou surpreso. – Mas, quem são vocês e de onde vieram?

- Somos amigos de Hotohori. – respondeu Nuriko de cabeça baixa. – Estávamos indo para casa quando vimos o Hotohori passar correndo e vimos também quando aquele carro negro o atropelou.

- Desconfiei que ele, seja quem for, não ficaria satisfeito apenas em atropelá-lo e ia querer ter certeza que ele estava morto. – continuou Nakago sem tirar os olhos da rua. – Corri para tirá-lo da rua, bem a tempo, graças a Deus!

Nuriko ficou de cabeça baixa, estava muito triste por Nakago se comover tanto com o atropelamento de Hotohori, não que ele também não se preocupasse, mas também achava que o marido exagerava com o carinho com que o marido tratava o ex-namorado. Percebeu que Amiboshi o olhava e tentou sorrir. O repórter sentiu que a estava constrangendo e desviou o olhar.

Em quinze minutos estavam no hospital, Hotohori foi imediatamente levado para a sala de cirurgia, seus acompanhantes seguiram atrás, embora fossem logo parados pela equipe médica na área restrita aos funcionário se médicos.

Nuriko continuava perturbada com o comportamento de Nakago, que andava de um lado a outro na sala de espera do hospital. Amiboshi ficou em um canto separado e senti o clima tenso entre o casal. Afastou-se um pouco mais e ligou para o seu chefe, em mais alguns minutos os funcionários do hospital estavam em polvorosa tentando evitar que os repórteres invadissem o hospital e incomodassem os pacientes.

Nada era dito. Todos os médicos que apareciam eram imediatamente interrogados pelos três, mas diziam nada saber sobre o assunto.

Quase meia hora depois Chichiri chega com Mitsukake, que deixa-o na sala de espera com os outros e beijando-o na testa entra na ala cirúrgica.

- Vós viestes com Hotohori? – ele perguntou timidamente, recebendo um aceno de cabeça dos outras na sala. Reconheceu o agora único herdeiro dos Nakarashi e sabia, é claro, que ele fora namorado de Hotohori, e lógico que deveria estar muito preocupado também.

- Perai, você não é o Chichiri Yoshinaka? – perguntou Amiboshi um tanto espantado. Apenas recentemente o artista tinha mostrado o rosto que tanto tempo escondeu atrás de uma máscara e vê-lo assim tão de perto era espantoso. – Você é mesmo tão bonito quanto dizem que era pessoalmente.

Nakago e Nuriko permitiram-se rir quando viram as bochechas de Chichiri ganhar um tom avermelhado, assim como as de Amiboshi, que pensou que deveria ter ficado calado. Em segundos o ambiente voltou a ficar sombrio, quando todos lembraram onde e porque estava ali.

- Sem noticias de Hotohori? – Chichiri perguntou devagar.

- Ainda não. Nakago respondeu abraçando Nuriko e estranhou quando esta tremeu em seus braços. – Eles não nos dizem nada.

- A imprensa está aí fora, querendo saber o que Hotohori tem de tão importante que vale a sua vida. – disse fechando os olhos. Estava com medo, Hotohori era seu amigo, o único amigo que tinha e a primeira pessoa à quem abriu seu coração e que sem talvez continuasse a se esconder atrás de uma mascara, não se permitindo amar a ninguém. Se Hotohori morresse talvez se entregasse a uma depressão tão grande da qual talvez não pudesse mais sair.

23 horas.

Mais de uma hora se passou sem que nenhuma notícia fosse trazida, até que Mitsukake entrou na sala de espera com uma cara tão mórbida, fazendo o coração de Nuriko se apertar tanto que ela desfaleceu nos braços de Nakago.

Chichiri com lágrimas nos olhos aproximou-se de Mitsukake, juntamente com Amiboshi.

- Ele... ele... morreu? – perguntou com um nó na garganta.

Mitsukake fechou os olhos e balançou a cabeça negativamente.

- Mas ele não está muito bem. – disse baixo - Perguntou quem estava aqui e me implorou para deixar vocês entrarem. Estou avisando-lhes que esse não é o procedimento padrão...

Nem esperaram ele terminar de falar e praticamente correram pelo corredor da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital, Mitsukake bateu a mão na testa e foi atrás deles implorando para que não corressem no lugar.

Assim que chegaram a porta da UTI, Nakago e Nuriko viram seus olhos encherem-se de lágrimas e Chichiri virou-se abruptamente para trás, Mitsukake chegara bem na hora e apoiou a cabeça dele em seu ombro.

- Está tudo bem. Ele não está morto. – consolou-o.

Mas a visão que tiveram não parecia ser tão consoladora. Hotohori estava com tubos por todo o seu corpo, parte de seu cabelo havia sido raspado e também havia tubos preso em sua cabeça. Hematomas e ferimentos eram visíveis por seus braços desnudos e ele era alimentado por soro.

- Ele está consciente, mas está muito fraco. – explicou e se aproximou de seu paciente, falando-lhe baixinho. - Hotohori... . eles estão aqui.

Hotohori abriu os olhos com dificuldade e quando falou sua voz não passou de um sussurro.

- Oi meu amigos... Eu farei uma coisa e preciso da ajuda de vocês, de cada um de vocês... Nuriko... Nakago... vocês tem que me prometer concordar com meu plano, Amiboshi, você cuidará para que tudo der certo. Chichiri... por favor, não me culpe.

- Do que está falando, Hotohori? – perguntou Nuriko quase chorando.

- Por favor, deixem que ele fale. – pediu Mitsukake. – Ele já estar fazendo um enorme esforço e precisa descansar logo depois.

Hotohori fechou os olhos e respirou fundo, todos fizeram silêncio e por longos dois minutos tudo o que podia ser ouvido eram os bips dos aparelhos e a respiração pesada do doente.

- Amiboshi? Você vai divulgar que eu morri. – ele voltou a falar ainda com o lhos fechados. – Precisa fazer com que acreditem nisso. Mitsukake cuidará de meu atestado de óbito... cof, cof...Nuriko e Nakago, por favor... preciso que não contem nada a Tamahome e nem a meus pais... por favor...

Ela inspirou profundamente.

- Por favor... Nuriko, todas as pessoas que eu estive em contato nas ultimas semanas estão sendo vigiadas, eles precisam acreditar que eu morri... (inspiração), Mitsukake...

Mitsukake mexeu nos bolsos e trouxe duas fitas para gravador dentro de um saco plástico e entregou para Amiboshi.

- Essas são as fitas que eles estão querendo, Amiboshi. – continuou Hotohori. – Você vai divulgar na imprensa e com a minha morte ninguém mais vai correr perigo... Faz isso agora, Amiboshi.

Amiboshi engoliu em seco e aceitou a ordem de Hotohori, em instantes corria pelo hospital e saiu sem que nenhum repórter ou fotografo o visse.

- Hotohori eu não entendo...- Nakago tentou falar e Nuriko apertou seu braço. Mitsukake tocou-lhe no ombro e pediu para que eles o acompanhassem e saíram do quarto da UTI.

- O que está havendo? – Chichiri perguntou para o amigo, apenas ele permaneceu com Hotohori.

- Como eu disse... (suspiro), eu vou morrer...

Continua...

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Traição. Qual o verdadeiro significado dessa palavra e quando ela dói mais?

Descubra nesse capitulo o quanto gêmeos podem ser diferente.

Mais uma vez eu encho o saco: Comentem, pleasssssssssssssssseeeeeeeeeeeeeeeeeee!