Excalïbur
Shaka Dirk


Screaming Infidelities


"Your hair
It's everywhere
Screaming infidelities
Taking it's wear."
Caminhava em absoluto silêncio, como já o fazia a horas. Não tentou usar sua tão conhecida velocidade uma única vez. Não tentou falar uma única palavra, julgava-se incapaz de proferi-las.

Subiu pelo caminho secreto das doze casas sem ao menos tentar suavizar o cansaço que sentia com o doce conforto de seu cosmo. Havia se acostumado à não poder usá-lo depois de tanto tempo...

Chegou em sua morada, a décima casa zodiacal e evitou solenemente o salão principal, onde achou que as memórias o iriam açoitar tão logo colocasse os olhos ali. Dirigiu-se para seu modesto quarto na lateral da casa. Sentiu seus músculos doerem profusamente, como se implorassem por descanso.

É... talvez ele merecesse descansar... talvez...

"Não..." ele pensou, tão logo sentiu a cama ceder um pouco sob seu peso. "Eu não mereço descanso... mas preciso..." seus olhos se fechavam mecanicamente. Quase não havia dormido direito durante o tempo em que cumpria seu castigo, acorrentado na maior e mais antiga árvore do Santuário. Precisava dormir, sentia necessidade disso... mais até do que a necessidade de se culpar pelo que havia acontecido.

"Os lençóis estão com um cheiro bom." Pensou.

Seus olhos se abriram então, assustados... incrédulos. Levantou graças à um esforço sobre-humano. Conhecia aquele cheiro. Afastou-se, como uma criança que foge de um cachorro que late. Os olhos fixos na cama, mesmo sem já não aestar vendo — afinal sua mente lhe pregava a maior peça possível. Ele o estava vendo na cama, junto de si. Os longos e lisos cabelos negros espalhados pelo lençol, derramando seu magnífico cheiro por todos os cantos.

Shura cobriu os olhos com as mãos. Não queria ver aquilo... Não deveria estar vendo aquilo. Abaixou as mãos após um tempo, quando achou que sua mente já havia parado de brincar com ele.

Achou melhor dormir no chão.

Sentiu a pedra fria ao encostar o corpo, e até gostou da sensação. Apoiou a cabeça em uma velha almofada, mas não conseguiu fechar os olhos. Estava decididamente incomodado com a lembrança. Passou uma das mãos sobre os cabelos, como se com esse gesto conseguisse mexer dentro de sua cabeça, dispersar os pensamentos.

Parou com a mão sobre seu olho esquerdo, entretanto sem ter coragem de fechá-los. Fitou atentamente o espaço que conseguia graças a sua visão parcialmente bloqueada. E ali, no chão, há uns 20 centímetros de distância de seu cotovelo, ele viu um único e longo fio de cabelo negro.

Levantou-se num pulo, alarmado.

Olhou com atenção em todas as direções do quarto, uma conversa ecoando distante em sua cabeça...

"Você realmente perde muito cabelo, Shiryu" — ouvia sua voz, mas não conseguia acreditar... ela estava feliz...

"Perco?" — o tom dele era inocente. Singelo. — "deve ser normal... Sabe, pra quem tem cabelos longos assim..."

Lágrimas se acumularam nos olhos de Shura, que olhando com mais atenção começava a ver mais fios do cabelo longo, que tanto havia afagado. O mesmo cabelo que havia desejado tanto ver novamente.

Saiu às pressas do quarto. Achava que enlouqueceria se passasse mais um único segundo dentro do cômodo. E sem se dar conta correu diretamente para o salão principal de sua morada, única e exclusivamente para estancar assustado quando percebeu onde estava.

Então viu as manchas avermelhadas no chão de mármore.

Caiu de joelhos, e quase pôde acreditar que confrontar aquelas memórias era um castigo maior do que ficar acorrentado a uma árvore. Soltou um gemido longo, agoniante, que reverberou pelos pilares, ecoou pela casa, e talvez pelo Santuário todo.

Abraçou seu próprio corpo, como se assim conseguisse se proteger de seus pensamentos, de sua tristeza.

Ouviu o som seco de passos, mas não se moveu, não tinha mais forças para isso. Sentiu quando a mão firme e fria tocou-lhe os ombros, mas não virou o rosto para encarar o companheiro. Ouviu a voz baixa, sussurrada com um sotaque francês tentando lhe convencer a ir para o quarto, tentar descansar, mas simplesmente não fez nada.

Então, mais passos. Uma sombra projetou-se à sua frente quando um outro homem parou, e delicadamente abaixou colocando a mão em seus ombros, forçando-o a encarar-lhe.

"Saga..." — ouviu sua voz falhar ao dizer o nome. Sua voz, que acreditou que nunca voltaria a sair de sua garganta, tão grande era o nó ali preso.

O homem de cabelos azuis assentiu com a cabeça, delicadamente, instigando-o a desabafar. Shura o abraçou, soluçando a seus ombros. E, como o rosto estrategicamente escondido entre os cachos azulados contou tudo o que havia acontecido. Contou como se arrependera de não ter pensado... de não tê-lo deixado falar. Contou da última vez que o vira, quando já estava acorrentado a árvore...

E, com um grande suspiro, calou-se. Seus ombros ainda se agitavam com os pequenos soluços. Os dois amigos que ouviram tudo sem dizer uma única palavra, entreolharam-se em silêncio.

Silêncio esse que agora parecia reinar na morada. Kamus então, na tentativa de consolar Shura, ajoelhou-se ao lado dos dois, para só então ver que o espanhol finalmente havia adormecido ali, abraçado à Saga.

Levaram-no de volta para seu quarto.

Kamus teve o cuidado de trocar os lençóis da cama, e tentar livrar o quarto dos fios de cabelo que tanto haviam assombrado o amigo, enquanto Saga o ajeitava na cama.

"Ele precisava desabafar..." — disse Saga depois do longo período em silêncio — "carregar tanto sofrimento dentro de si... ele deve estar enlouquecendo com tudo isso..." — sua voz era melancólica. Não gostava de ver o companheiro nessa situação.

Kamus olhou para dentro do quarto, fixou seu frio olhar por um longo tempo no cavaleiro adormecido na cama, e então disse, com sua típica voz desprovida de emoções.

"Mas nós também não poderíamos forçar-lhe a fazer isso... Ele tem que conviver com a própria dor, Saga. Ele sabe os crimes que cometeu..." – Parou por um segundo, como se analisasse a situação novamente. – "Ele sabe, que no final das contas, dentre os dois, ele é que não foi fiel... ele não foi fiel aos seus próprios sentimentos..."

"Sim. Ele sabe disso tudo, Kamus. E é justamente por isso que ele precisa tanto dos amigos a seu lado agora..." – o homem permaneceu em silêncio por um tempo, apenas observando o outro cavaleiro dormir. – "Ele precisa de um momento de paz antes de sua próxima batalha." – E o silêncio que seguiu essas palavras tomou o ambiente.

Continua.


Cavaleiros do Zodíaco pertence ao titio Masami Kurumada e a Toei Animation, maaaaaaaaas, essa fic ME pertence... Se alguém muito gentilmente quiser divulgá-la, por favor, peçam que eu sentirei um prazer enorme em colaborar...