Anime: Saint Seiya
Casal: Mu e Shaka
Classificação: Yaoi, Angst, Romance, Lemon
Status: Andamento
Iniciada: Maio 2005.
Disclamer Saint Seiya pertence a Kurumada e cia. Este fic é sem fins lucrativos. Infelizmente se Mu fosse meu, ele seria mais...(calando a boca para não estragar a fic) e se Shaka fosse meu, eu não o deixaria... (calando-se novamente)
Nota0: Para quem está pensando em ler esta fic, aconselho antes ler "Quando bate a solidão". Já que os acontecimentos daqui são gerados por atos passados.
Chance de amar
Cap I
Retorno e novamente a solidão...
"Quando eu te vejo...
O desejo arde dentro de mim...
Meu corpo responde ao teu sem nenhum toque".
Já não me lembro a quanto tempo estou neste estado. Ajo como um robô. Tudo para mim perdeu o brilho, perdeu noção. Sou uma piada até para mim mesmo. Eu Shaka de Virgem, o ser mais puro e mais próximo de Budha... Hoje, nem mais meditar para encontrar a paz eu consigo. Incrível o que alguns sentimentos podem fazer a um ser humano. Apesar de ser um receptáculo de pureza – está eu já nem mais acredito que eu possa ter -, fui envolto pelos sentimentos que assolam a humanidade. Amor, medo do abandono, abandono em si e solidão. Esta última sendo a mais terrível na minha concepção. Solidão do corpo e da alma.
Se ele nunca tivesse me beijado, se ele não tivesse me tocado com aqueles lábios... Mas tudo roda em torno de 'Sés'.
Ainda sinto o odor característico dele. Uma mistura de ervas que em sua pele acentuava mais o ar calmo e etéreo que já possuía. Alecrim, camomila, alfazema. Somente ele conseguia deixar uma sincronia de odores com estas ervas em seu corpo. Isto me acalmava e me alegrava.
O nosso primeiro beijo. O beijo que eu ansiava todas as noites e que passei a ansiar mais ainda após aquele dia... Sentir sua língua quente ir de encontro a minha. Eu nunca havia beijado, ele foi o meu primeiro. Como eu desejava que ele fosse o primeiro a aplacar o desejo de meu corpo, mas isto nunca aconteceu. Ele seria o único que eu deixaria que me tocasse. O único que eu entregaria a minha pureza, assim como eu entreguei a minha alma.
Pode estar parecendo confuso, na verdade minha mente está confusa.
Ele foi o primeiro a me fazer descer do altar. O primeiro a me fazer retirar o véu de arrogância. Ele foi a primeira pessoa neste santuário que não teve receio de se aproximar de mim e de me dizer às verdades. Verdades que saiam de sua boca, da forma mais cálida possível. Ele... Somente ele, foi o elo com a humanidade, mas da forma que ele foi o elo para muitas coisas boas, ele também foi o elo para os demais sentimentos que se debatem dentro de mim.
Mu... Meu único amigo e amor. Meu único desejo. Já tentei pedir a Budha tantas vezes que o fizesse retornar para mim. Que o fizesse estar ao meu lado. Eu só queria voltar a sentir a sua presença física ao meu lado. Voltar a sentir o peso de seus olhos sob a minha pessoa... Meu corpo. Ouvir o timbre de sua voz melodiosa. Ouvir o seu riso contido. Poder tocar os pontos característicos dos lêmures... as adoráveis pintas em sua testa. Lembro-me que costumava a brincar – porque só com ele que eu brincava - alegando que a falta das sobrancelhas era substituída pelas pintas. Sinto falta de seu cosmo encostando-se ao meu.
O que me lembra uma coisa importante. Quando ele se foi, retornou a Jamiel, disse que sempre faria contato com o meu cosmo. Ele não deixou de cumprir esta promessa nos primeiros meses, mas o contato que eu sempre esperava todas as noites um dia não mais chegou... Desapareceu. E foi assim que eu soube que eu havia sido esquecido.
E foi assim que perdi a fé em mim mesmo...
E foi assim que eu me enclausurei na solidão.
oOo
O dia estava tranqüilo no santuário. Amanheceu envolto em uma atmosfera perfeita para meditação. Shaka mais uma vez tentara meditar mais não conseguia seu intento. Resolveu sentar-se a porta de sua casa. Talves mudando o ambiente de meditação poderia conseguir um contato mais próximo de Budha, mas sempre que tentava meditar neste lugar, se distraia, 'olhando' as demais casas... na verdade uma em especial.
"Não sei como ainda supro esperanças que um dia ele volte". Comentou baixo para si mesmo enquanto levantava seu belo rosto como se estivesse fitando o céu azulado daquela manhã.
Sentiu uma presença se aproximando de sua casa, sabia muito bem que era Shura. O companheiro das décima casa sempre que podia tentava manter um diálogo com Shaka. Amenidade e trivialidades do cotidiano do santuário.
Muitos haviam notado a diferença de Shaka após a partida de Áries. Antes dos dois serem amigos – isto na visão geral dos demais cavaleiros -, Shaka era seco, arrogante, distante. Depois que Mu se aproximou do cavaleiro de virgem, Shaka ficou diferente. Parecia mais humano, mais fácil de ser alcançado e tudo isto pelo visto tinha dedos de um ariano.
Quando Áries voltou a Jamiel, Shaka voltou a se fechar. O cavaleiro não mais saia de sua casa e se saia era para estar nas áreas em torno de seu templo e vagamente em algumas reuniões em que a jovem Saori Kido, representante viva de Athena na terra, solicitava sua presença. Fora isto, Shaka se escondia.
"Bom dia Shaka, vejo que estas a apreciar o amanhecer". Disse Shura enquanto parava próximo de Shaka.
"Sim meu amigo. O amanhecer sempre é bem vindo e anunciador de uma nova vida apara os humanos". Enquanto falava sentiu uma brisa remexer seus belos cabelos que se encontravam soltos lhe adornando a face alva. "O que faz desperto a esta hora Shura? Se pouco lhe conheço os hábitos deveria ainda estar dormindo". Mesmo não sendo uma amizade forte, Shaka sabia que capricórnio não se aborreceria com um comentário destes.
Shura sem pedir licença, sentou-se ao lado do loiro fitando algum ponto no horizonte. Como poderia tocar em determinados assuntos com o virginiano? Claro, poderia contar o que estivera fazendo desde a tarde do dia anterior, já que estava a pedido do santuário, mas algo não lhe parecia certo. Suspirando achou melhor ser sincero. Afinal era conhecido por ser um cavaleiro justo e leal. Sinceridade fazia parte de seu interior, assim como a espada em seu braço direito.
"Eu estava desde ontem a mando da Deusa Athena resolvendo uma... pendência". Comentou ainda fitando o horizonte, mas sentindo o olhar de Shaka sobre sim com um 'que' de preocupação e antes que o loiro começasse a falar Shura após mais um suspiro contou. "Eu estava ajudando Mu no retorno ao santuário e arrumando..." Sua fala acabou sendo interrompida com um toque de mão em seu braço.
"Mu retornou ao santuário?" A pergunta era um misto de descrença, decepção, uma pontada de alegria com esperança e claro incerteza. Mas o que mais assustou Shura, foi que ao fitar o rosto de Shaka depois de ouvir aquela pergunta. Shura vislumbrou as íris azuis do virginiano.
Era incrível como Shaka possuía os olhos belos. Nunca tinha visto eles sem estarem cerrados. Estava paralisado e absorto em pensamentos quando sentiu seu braço ser levemente prensado pelos dedos de Shaka como se estivessem lhe puxando para realidade.
"Sim, retornou ontem ao final da tarde. Nem todos sabem disto. Você Shaka é o quarto, a saber, do retorno dele". Disse baixo ainda preso aquele olhar.
"Porque tanto segredo no retorno de Áries? Sei que o retorno dele pode significar que teremos um novo mestre para ocupar o lugar de Shion". Tentava em vão manter uma explicação para um retorno em segredo. "E quem são os demais que estão a par do retorno de Áries?". Nunca fora curioso, mas naquele momento ele não era o Shaka de Virgem, e sim apenas Shaka, um homem, um ser que se segurava para não demonstrar a felicidade que se remexia em seu interior. Era um homem, curioso apenas, querendo saber quem mais teve acesso àquela informação antes dele.
Shura deixou um suspiro escapar lhe pelos lábios. Agora seria a parte que mais detestaria comentar. Era discreto, mas sabia que Shaka nutria mais do que simples amizade pelo cavaleiro da primeira casa.
"Foi Mu que pediu segredo no tocante de seu retorno Shaka. E Athena aceitou isto inicialmente. Quanto aos demais que souberam do retorno, de cavaleiro somente Aldebaran e agora você meu amigo".
Shaka voltou a cerrar os olhos enquanto mantinha-se calado pensando. Tinha algo estranho. Não sentiu a cosmo energia de Mu ontem e nem hoje, isto significaria algo. 'Será que ele não quer que eu saiba de seu retorno? Ele nem veio aqui me ver'. Shaka pensava que deveria ser este o motivo do segredo. Suspirou de forma cansada e vencida antes de se fazer ouvir.
"Acho que ele não gostaria de ser incomodado por um amigo de longa data, estou certo Shura?". Era mais uma afirmação do que uma pergunta, mas tinha que ser dita em voz alta.
"Eu não sei Shaka, mas acredito que muita coisa mudou, sei disto". Falou um pouco com pesar. "Mas se você for visitá-lo meu amigo..." Parou um pouco voltando o rosto mais para Shaka. "Sei que terás as respostas que deseja e espero que... tudo fique bem". Falou desviando os olhos nestas ultimas palavras. Recusou-se a comentar. Não estaria mentindo. Detestava mentir, mas omitir algo daquele poste era a melhor solução para aquele momento. Não queria ser conhecido por fofoqueiro das casas zodiacais, este era trabalho de Afrodite – que era o melhor jornal local com todas as atualidades do santuário -, mas também se sentia triste por omitir.
"Obrigado Shura". Falou calmamente sentindo que realmente algo estava errado e que seu 'amigo' não sabia como lhe contar.
"Qualquer coisa estarei na minha casa Shaka. Depois se quiser passe por lá para tomar um chá, sei que aprecia este hábito". Falou já se levantando e continuando o seu trajeto para um descanso em sua casa.
Nem esperou para ouvir a resposta de Shaka. Na verdade esta resposta não seria dita nunca, uma vez que o loiro se encontrava submerso em seus pensamentos e brigas internas entre ir ou não até a casa de seu amado. Deixou o corpo ser largado, saindo da posição altiva que sempre possuía.
"Se eu for, sei que terei de ir preparado para provações. Algo me diz que este retorno terá suas conseqüências". Comentou baixo descerrando os olhos enquanto olhava a casa de Áries lá embaixo. Havia tomado sua decisão. Iria até a primeira casa e buscaria respostas pessoalmente.
oOo
"Mu meu amigo, o que você vai fazer com tudo isto?". Perguntava Aldebaran enquanto via seu amigo andando de um lado ao outro dentro de casa de Áries.
"Ah, Aldebarn... nem eu sei mais o que pensar ou o que fazer. Eu não pretendia voltar, não agora. Foi um momento impróprio para este retorno". Dizia de forma triste enquanto ainda andava de um lado ao outro de olhos cerrados. Havia pegado aquela mania com 'ele' e nunca mais deixara de lado.
"Mas meu amigo, ele tem que saber. Isto você não poderá esconder. Athena vai com certeza comentar algo em reunião. Afinal, você está para ser consagrado mestre do santuário pelo que tudo indica, e além disto tem Kiki para continuar o treinamento e agora...". Sim, Aldebaran sabia do amor de Mu por Shaka, sabia dos motivos que levara seu amigo se afastar, sabia o que tanto afligia o ariano.
"Agora tem Mireia e..." Suspirou pesadamente. "Meu filho em seu ventre". Disse finalmente parando de andar e elevando o rosto antes tão sereno, mas que agora demonstrava dor.
"Amigo, você não tem culpa de suas tradições, de sua cultura e de seus deveres". Aldebaran estava realmente consternado com a situação de seu amigo.
"Sabe meu amigo, às vezes eu fico pensando que teria sido melhor não ter nascido lêmure. A nossa cultura, as tradições e deveres de cada um dos homens lêmures são para mim tristes". Começou a falar voltando seu rosto com um semblante triste para fitar os olhos de seu amigo.
"Te entendo carneiro". Era uma forma carinhosa que Aldebaran sempre chamara Mu.
"Tive que ir para Jamiel para pensar em cumprir minhas obrigações. Depois fui solicitado nos deveres de meu povo. Você bem sabe, que somos poucos e que dependemos de certas tradições para a sobrevivência de nossa... espécie". Resolveu sentar perto de seu amigo. "Mas assim que cheguei à aldeia em Liang-chau, soube que ali começava de certa forma um martírio. Não que eu não desejaria um filho, me entenda. Um filho é tudo que um homem pode almejar. Sangue de seu sangue, carne de sua carne, mas gerar uma criança tem que ser por amor e não por obrigação". Falava sério. Realmente não era de seu agrado a forma como Amal Ialad estava sendo gerado.
Aldebaran tocou o braço de seu amigo como se quisesse aliviar aquele momento. Mu apesar de ser um cavaleiro digno e forte, era um ser repleto de bondade, mas também era regido pela constelação de Áries e por isto em seu interior era rebelde. Não uma rebeldia que poderia gerar problemas, mas era uma rebeldia que o deixava em conflito com seus deveres e seus sentimentos.
"Eu tive que traze-los comigo, meu amigo. Em nossa tradição um homem tem que ter sempre por perto a mãe de seu filho. Isto porque durante o desenvolvimento da criança, será passada a força lêmure tanto do pai quanto da mãe. Mas você bem sabe que ela não poderia ficar aqui no santuário, é contras as regras. Athena sabendo disto arrumou uma casa na vila próxima ao santuário e pediu a Shura para que me ajudasse com a arrumação e instalação de Mireia". Falou de forma cansada.
"Carneiro, eu sei o que te aflige tanto. Diga-me uma coisa. E o que será feito após o nascimento de seu filho?". Nunca havia conversado com Mu sobre este tipo de tradição e por isto apesar do assunto ser sério, Aldebaran estava curioso.
"Após o nascimento meu amigo, a mãe e a criança retornaram para a aldeia. Meu filho não irá crescer sendo treinado por mim e sim por outro lêmure. Saberá quem é o seu pai, saberá tudo sobre mim, mas não o terei em meus braços, sob meus olhos". Disse triste.
Aldebaran podia sentir a dor de seu amigo. Ele já havia sofrido com a separação que se impusera em relação a Shaka e agora tinha mais isto para se preocupar e sofrer.
Teria que acompanhar a gestação, mas não o crescimento de seu filho. 'Tradição estúpida', pensava o ariano de forma rebelde. "Incrível não é mesmo Deba. Eu posso me acostumar ao meu filho somente enquanto ele está sendo gerado, mas não posso sonhar com ele ao meu lado crescendo". Falou com um sorriso triste nos lábios e os olhos mareados.
"Ah meu amigo... Eu gostaria tanto de te ajudar de alguma forma, além de somente poder te ouvir". Aldebaran passou o braço forte sobre os ombros de Mu trazendo-o para um meio abraço e o ariano se permitiu chorar um pouco com o triste fardo que estava carregando.
Como já esperado Mu sentiu um cosmo conhecido aproximando-se de seu templo. Seu corpo retesou-se e acabou saindo do abraço de Aldebaran, logo se preocupando em enxugar as lágrimas.
"Agora meu amigo vai começar a segunda parte e mais importante de meu martírio". Disse suspirando e tentando organizar a respiração que estava embargada.
"Então vou deixar vocês a sós para esta conversa. Lembre-se, sou teu amigo e desejo profundamente que tudo saia bem, mas ele é o teu amor e mesmo que ele não entenda no inicio ou que até fique sentido com o que tens a falar, acredite, ele também te ama e sentiu a sua falta. Ele irá entender, só é preciso dar um tempo a ele". Falou já se levantando e olhando ternamente para o rosto triste de seu amigo.
"Obrigado Aldebaran". Agradeceu vendo o amigo se retirando do templo para logo em seguida visualizar a silhueta esguia do ser que nunca saiu de seus pensamentos.
oOo
Quando respirei fundo e decidi entrar no templo de Áries, acabei por me deparar com Aldebaran saindo. Vê-lo ali me deixou com uma ponta de ciúmes. Sei que é um sentimento sem fundamentos. Aldebaran era um amigo querido de Mu e até mesmo como um irmão. Aquela massa corpulenta abrigava um coração de ouro, mas mesmo assim... Mesmo eu sabendo que aquele sentimento que se apoderou de mim ao olha-lo... Era ciúme. Ele havia estado com Mu antes de mim. Sentimento mesquinho, sentimento humano... Eu era humano no fim das contas.
"Bom dia Shaka de Virgem". Falou o taurino enquanto passava por ele. E a virgem apenas restou um menear de cabeça em um cumprimento mudo.
Voltei meu rosto para o interior do templo de Áries e podia sentir a minha frente, próximo ao final do salão, a presença de meu amado. Voltei a caminhar em passos incertos parando um pouco adiante assumindo o estilo formal dos cavaleiros de Athena.
"Tenho permissão para entrar em sua casa zodiacal Mu de Áries?". Falei o mais firme possível. Por dentro eu estava como Milo costuma falar... Em frangalhos.
"Sim, Shaka. Você sempre terá permissão em minha casa. Por favor, deixemos de formalidades. Estou cansado delas". Disse suspirando e deixando os ombros caírem de sua postura altiva. "Por favor, desculpe-me pelas minhas ultimas palavras. Venha, entre e sente-se. Creio que lhe devo explicações". Realmente aquela seria uma longa manhã e um longo dia. Mu estava evitando olhar o rosto de Shaka. E sabia q se o fizesse não conseguiria falar tudo o que realmente deveria.
Colocando o elmo encima da mesinha de madeira escura e simples do grande salão da casa de Áries, Shaka deixou sua máscara de firme e sempre forte cair.
"Se neste caso posso abolir as formalidades Mu, então gostaria de saber o por que de você parar os contatos comigo me deixando abandonado até mesmo de sua presença pelo cosmo? O porque você nunca mandou nenhuma informação sobre como você estava em Jamiel? O porque de você ter solicitado segredo a Athena sobre o seu retorno? O porque de você ter retornado ontem e nem se deu o trabalho de me procurar? E o principal Mu... Porque eu sinto que tem algo de muito grave ou estranho acontecendo aqui para que o seu cosmo esteja tão carregado de dúvidas, preocupações e tristezas? Me diga Mu, não me deixe mais absorto nesta solidão do que já me encontro". Falara tudo que estava entalado em sua garganta no momento. Sem parar para respirar, sem notar que seu timbre de voz havia se elevado mostrando o desespero que sentia.
Os olhos de Mu estavam oscilando entre as cores verde e lilás, seu rosto estava fitando atentamente as reações do virginiano a sua frente, notando o quanto o mesmo estava descontrolado.
"Desculpe-me por tudo, tudo mesmo". Disse baixo abaixando a cabeça. "Eu vou responder as suas dúvidas, todas elas, mas temo que você não conseguira entender algumas". Suas mãos transpiravam e fazia força para não sair correndo dali. Devia isto a ele pelo menos.
"Estou aqui para ouvir, vim em busca de respostas... em busca de... seu amor". Esta ultima palavra saíra tão baixa que se Mu não possuísse uma boa audição, não teria escutado e isto deixou seu coração mais apertado ainda.
"Eu tive que parar meu contato com você Shaka, porque me foi solicitado estar na minha aldeia para certas formalidades de minha cultura. E para isto eu não poderia manter nenhum contato com o mundo ocidental, isto também se aplica a mandar informações sobre o meu estado, só que eu não estava em Jamiel". Não ousaria fitar o rosto de Shaka enquanto faria o relato dos fatos... o mais doloroso. "Sobre o meu retorno, eu pedi segredo porque não voltei sozinho, eu... eu voltei...". Estava hesitante, mas teria que falar. "Eu voltei com Mireia... a mãe de meu filho". Pronto estava solto a bomba. Fitou o rosto de Shaka de relance e apenas viu a íris azul. Apressou-se a falar o restante, mas basicamente sua ultima explicação já falara por si só. "Por isto que não lhe procurei ontem e por isto que você está sentindo tudo isto vindo de mim". Sentia-se vencido, derrotado perante aqueles olhos inquisidores.
'O que? Eu ouvi direito? Mireia... mãe do filho dele? Mais que merda é esta que esta acontecendo aqui?' Os pensamentos de Shaka estavam tão abarrotados que nem ao menos conseguia manter palavras dignas. E o pior foi que isto transbordou e Mu nunca imaginaria em ver um Shaka como aquele a sua frente.
"Como é que é? Mãe de seu filho? MÃE DE SEU FILHO?" Gritou fora de controle. "Mu de Áries, que absurdo é este que acabou de me falar, alias absurdo não... que merda é esta? Uma mulher? Uma criança? Você nunca me disse nada, você... você é um cretino. Como eu posso ter sido um imbecil a ponto de ter me apaixonado por você, a ponto de cogitar a me entregar a você... a VOCÊ... ouviu bem?". Realmente, estava descontrolado. Não estava acreditando que fora trocado por uma mulher. Não estava acreditando nisto. Deixou-se ser envolto por aquele ariano cretino, deixou sua arrogância por acreditar nele e no amor... e agora notara que tudo foi um erro. E que se danasse a compostura e bons modos nas falas.
"Shaka, por favor, não é bem assim... ouça eu quero lhe contar tudo". Falava assustado com a maneira descontrolada de Shaka. Sabia que seria um baque, sabia que o virginiano provavelmente não aceitaria bem, mas não sabia que acabaria vendo Shaka daquela forma.
"Me contar tudo o que? Tudo o que você fez com ela? Juras de amor que resultou em um filho? Que se foda você e ela, Áries. Não quero saber de mais porra nenhuma. Vá cuidar da tua mulher e do teu filho que é o melhor que pode fazer. Agora espero que quando ele crescer, você o ensine a não acreditar nas palavras doces de cretinos espalhados pelo mundo. Ou pode ser pior... Ele sendo teu filho pode ser o cretino que enganará os outros". Falava amargo com raiva contida.
"Você não sabe o que está falando Shaka. Não digas isto de uma criança que não tem culpa de nada". Uma fala triste e um olhar repleto de lágrimas prontas a despencar.
"Realmente a criança não tem culpa". Falou um pouco mais brando, mas mesmo assim com raiva. "Mas você me enganou Mu e me deixou na mais obscura solidão para se deitar com outra pessoa e não satisfeito ainda a trouxe para morar aqui. Alias, espero que a Deusa não deixe um disparate destes". Estava ferido, estava amuado e principalmente descontrolado.
Virou-se para a saída já de posse de seu elmo e antes de se direcionar a porta voltou-se para Mu.
"Passar bem Mu de Áries, Cavaleiro de Athena, Guardião da Primeira Casa Zodiacal. Vida longa a sua mulher e filho. Evite passar pela minha casa, pois já não mais possui permissão para tal coisa". Tinha fel naquelas palavras. Amargura pura sendo destilada pelo cavaleiro mais próximo de Deus e que deveria ser um poço de bondade.
Mu somente colocou as mãos no rosto tampando o choro que começara a descer de forma incontrolável.
Do lado de fora um Shaka completamente perdido e desesperado estava caído de joelhos na escadaria entre as casas de Câncer e Leão, pois havia corrido em desespero logo assim que saíra de Áries.
"Porque Budha? Por que ele fez isto? Retornando sem ser para mim e me deixando novamente na solidão... Porque?". Chorava não se importando de ser pego naquela situação por nenhum dos guardiões das duas casas.
Continua...
Observação: Como esta fic é derivada da "Quando bate a Solidão", estarei deixando em meu blog: reviewsfanfics(ponto)weblogger(ponto)terra(ponto)com(ponto)br , os agradecimento. Tanto desta fic quanto da outra sitada.
Nota: Liang-chau existe no Tibet, fica próximo a Lanchau e a Koko-Nor.
Nota2: O nome do filho de Mu é uma inversão de um nome. Antes de tudo não desejo ofender, pois até mesmo tenho respeito pelo último ser que foi chamado desta forma. Amal Ialad é Dalai Lama ao contrário.
Sei que Mu não é um monge em si, mas o fato de que se encontra fixado a sua maior parte de história no Tibete, eu resolvi dar uma ênfase a isto. Claro vocês poderão notar que alguns costumes tibetanos eu vou até colocar aqui. Nada de muito profundo claro, mas espero que vocês gostem. A adoração por Buda ou como alguns escrevem Budha, vem da Índia. Mas isto é um assunto mais profundo. Mu aqui terá esta característica. Não será um Shaka em potencial, mas... well, espero que apreciem a fic.
Uma curiosidade: Os historiadores tibetanos apontam seis clãs primitivos, dos quais quatro mais relevantes (Se, Mu, Dong e Tong) e dois menos significativos (Ba e Da). A origem de todos eles estaria no mítico cruzamento descrito no Mani Kabum duma ogra com um macaco. Alguns dos mais famosos mestres tibetanos do passado foram tidos como descendentes desses clãs. Tal foi o caso de Amnye Drekhul, mestre do famoso herói épico Guesar de Ling, - que era descendente do clã Se, como o era, igualmente, do grande Yogui Milarepa. Igualmente casas reinantes de épocas bem específicas do Tibete, como a Sakya e a Phakmodru ou, ainda, a família real Derge derivou as suas origens desse mesmo clã. Já Marpa - o mestre de Milarepa - e Drigungpa, figuras-chave na origem da Ordem Kagyu - uma das quatro grandes escolas budistas tibetanas - eram descendentes do clã Dong - como o era, por exemplo, a família Ba que jogou importantes papeis civis e militares na dinastia Yarlung. Do clã Mu dizia-se descendente a casa reinante do antigo reino de Shang Shung, no Tibete Ocidental. (trecho extraído de - A HISTÓRIA DO TIBETE -, Casa da Cultura do Tibete)
E como eu sempre deixo o meu jargão...
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