Continuação.
Shun chegara cedo na escola, e se sentara em um banco no canto do grande saguão. Estava muito feliz de estar ali, assim que chegara já se sentira em harmonia com o lugar, não teve dificuldades e nem estranhou a nova escola, tudo aquilo lhe pareceu insignificante perto da lembrança que teve naquele tempo em que esperou a hora da aula. Lembrou-se daquela cigana, provavelmente da sua idade, muito bela e que dançava lindamente em torno da fogueira. Logo os demais alunos também chegaram e um sinal tocou, informando os alunos do início de mais um dia letivo.
Pandora já havia arrumado sua blusa, já ia embora, sem se despedir, quando encontrou um dos desenhos no chão, mas não foi o desenho que lhe chamou a atenção, mas sim a fotografia junto a ela. Havia a moça de todos os desenhos, mas também o homem que salvou Pandora, juntos, vestidos como os noivos de um casamento.
- Sim, era meu casamento, - disse Ikki, encostado na porta – e essa ao meu lado era minha esposa, Esmeralda.
- Então é a ela que pertence a blusa... – constatou Pandora.
- Não, pertencia a Esmeralda, mas ela faleceu. – respondeu ele, mãos no bolso, rosto cabisbaixo.
- E é por isso que começou a beber? – perguntou a cigana.
- Desde que Esmeralda faleceu eu...
- Entendo. – interrompeu a jovem, poupando Ikki do constrangimento. – Mas você não pode continuar vivendo assim, sofrendo pelo passado. – Pandora se aproximou de seu salvador, segurou em suas mãos, como quem tenta puxar o outro do abismo. – Prometa que vai tentar parar com isso. Esmeralda nunca concordaria com essa sua atitude, não é o que ela deseja pra você! Faça isso por ela, e por mim também! O tenho agora como um amigo, alguém a quem devo a minha vida! Só desejo que você se recupere e que continue com sua vida. Pense em Esmeralda, no que ela diria de você se o visse assim.
- Não. – suspirou Ikki. – Ela está morta, não pode me ajudar, nem me condenar. Só Deus sabe como eu queria que ela pudesse me criticar agora...
- Ela pode não estar mais aqui para te ajudar, mas e a sua família? Você deve ter pais, irmãos... – Pandora tentava ajuda-lo, queria poder retribuir a ajuda de Ikki. – Pense em todos que te amam. E viva não só por você, mas também por ela, aproveite a vida que ela não teve chance de aproveitar!
- Você está certa! – falou ele motivado. – Esmeralda e eu tínhamos um futuro fabuloso, e eu não irei desperdiçá-lo! – afirmou Ikki, vendo surgir um novo brilho nos olhos de sua nova amiga e um grande sorriso também.
- Agora eu tenho que ir, tenho muitas coisas pendentes a resolver em minha casa, mas sempre que quiser conversar, eu estarei no acampamento cigano, é só perguntar por Pandora.
- Certo! E sempre que quiser, apareça. É terrível viver nessa casa sozinho, sem ninguém para conversar. – falou Ikki, sentindo um grande afeto por aquela moça.
- E muito obrigada por me salvar ontem, eu nem sei o que... – mas não teve coragem para concluir o que ter acontecido se não fosse Ikki.
Ambos ficaram muito tempo sem reação, apenas olhando um para o outro, por poucos instantes, que para os leitores devem ter despertado alguma noção do significado desse detalhe. E assim que a cigana saiu do apartamento, Ikki olhou para a foto de seu casamento.
- Não pense mal de mim, minha Esmeralda, a garota só quer ajudar, se há alguém que começa a confundir as coisas sou eu. Mas como eu disse, não me entenda mal, não posso viver do passado, mesmo que eu nunca te esqueça, não posso deixar o resto de lado. Me perdoe!
Saori e Seiya continuavam seu longo caminho até Casa do Sol. A briga por causa do rádio continuava, enquanto Saori teimava em ligar o aparelho, Seiya fazia de tudo para mantê-lo desligado.
- Escuta, você não foi com a minha cara, não é? – perguntou Saori, mas Seiya não responde. – Certo. – responde a cigana. – Acho que não podemos continuar com esse climão a viagem inteira, é uma viagem longa. Vamos fazer o seguinte, vamos esquecer tudo que aconteceu. Afinal começamos com o pé esquerdo, e para provarmos que estamos dispostos a ter uma convivência pacífica nessas vinte horas de viagem: Eu peço desculpas.
- Tudo bem, está perdoada! – debochou Seiya.
- Só? E você? Não vai me pedir desculpas? – perguntou ela indignada.
- Não, por que?
- Grrrr...
Aioros acorda e percebe a ausência de Saori, mas não se preocupou, logo ela voltaria. Shunrei tomava seu café, sozinha. June já havia ido para a escola, e Shunrei era a única das cinco filhas de Aioros que se encontrava em casa. E sempre seria assim, sabia a moça, seria sempre ela, Shunrei, a filha obediente, que estaria ao lado do pai. Seu maior sonho era casar-se, sonho que ainda iria demorar para se realizar, seu noivo, Kamus, era bem mais velho, e talvez ainda demorasse para desposá-la. A cigana se sentia terrivelmente sozinha e abandonada, sonhava com uma bela cerimônia de casamento, e com uma bela casa, e belos filhos. Mas talvez não fosse esse o seu destino. Hilda iria se casar com Mu, os dois se amavam, e eram extremamente carinhosos um com o outro. Pandora lhe parecia tão fria quanto o gelo, enganando Radamanthys, lhe mentindo certo carinho. Saori seria sempre a rebelde e teimosa, mesmo que acabasse por gostar do charmoso Julian, achava Shunrei que a irmã jamais se renderia às leis da comunidade. A pequena June tinha um noivo completamente apaixonado por ela, e só não se casavam por ela ser a mais nova das irmãs e ter que esperar as outras mais velhas casarem primeiro. A sorte de Saori era exatamente essa, enquanto Shunrei não se casasse, ela também não se casaria. E Shunrei sabia que a irmã desejava que Shunrei demorasse muito para casar-se.
Pandora já se encontrava em casa quando Hilda chegou, viu a irmã e Shaka se dirigirem para a casa dele. Mas Pandora precisava muito falar com a irmã. Precisava pedir-lhe desculpas e lhe contar que nunca mais veria Mu novamente. Mas antes que ela pudesse se aproximar de Shaka e Hilda, seu pai veio em sua direção aflito.
- Pandora! Você viu a Saori? – perguntava o pai desesperado.
- Não, papai. Mas o que houve? Por que está tão aflito?
- Olhe o bilhete que Shunrei achou encima da cama de sua irmã. – falou Aioros.
Pandora leu rápido, porém atentamente cada linha. Era um bilhete escrito por Saori, dizia que ela fugira para achar seu verdadeiro amor, que não iria se casar com Julian e que os familiares não a procurassem.
- E agora, meu pai? – perguntou a moça atônita.
- Vá procurar sua irmã, procure perto do cais.
Aioros mobilizou todas as suas filhas na busca por Saori, exceto June que estava na escola. Saori não escaparia assim, ela tinha que cumprir as tradições ciganas, ainda mais sendo uma Kido, umas das mais tradicionais famílias da comunidade cigana.
Pandora fez o que o pai a mandara fazer, voltara as redondezas do cais, onde na noite passada, foi salva de bandidos por um gentil salvador. Conhecer Ikki, não sabia ela porque, lhe causara uma imensa felicidade. Se sentia segura perto dele, pois ele já a havia salvo uma vez, e o faria novamente pois agora eram amigos. Ele lhe prometera que iria parar de beber, que iria retomar o rumo de sua vida, voltaria a ser o homem que era antes da morte da esposa e viveria uma vida maravilhosa por Esmeralda, seria feliz como a esposa sempre quisera, e nisso Pandora tinha certeza.
Mas, ao passar em um daqueles bares do cais, Pandora viu seu salvador, Ikki, outra vez entregue a bebida. A cigana ficou parada, olhando para ele, sem acreditar no que via.
Aquele homem que a fizera ter confiança nas pessoas e em si mesma, que a fez pensar que tinha um amigo e que juntos poderiam se ajudar, agora traía a promessa lhe feita. Ela já não entendia mais nada, ele a ajudara tanto, e ela não podia nem retribuir, não podia ajudá-lo, não conseguia ajudá-lo.
- Ikki...
- Pandora? Srta. Pandora? – perguntou o bêbado. – O que fazes por aqui? Veio se divertir comigo e com os meus amigos?
- Eu pensei que... você me prometeu... – Pandora nem sabia o que dizer, como dizer. – Ikki, você havia me prometido que não iria mas beber, e não prometeu só para mim, para sua Esmeralda...
- Não ouse falar o nome dela! Eu não lhe dei essa permissão! – gritou Ikki, totalmente embriagado. – Você não chega aos pés dela! Nunca chegará! Ela era maravilhosa, e você, é como todas as ciganas, aproveitadoras! – continuou ele rindo, ainda teria falado muito mais, mas ela não queria ouvir mais nada e saiu correndo.
O que foi da ilusão e da beleza que é viver?
Por que me curou quando estava ferido
Se me deixas de novo o coração partido?
Shaka e Hilda mal haviam chegado quando Aioros entrou como um relâmpago pela casa do amigo. Avisou-os da fuga de Saori e foram todos a procura dela.
Shun já se encontrava na sala de aula, tinha muitos colegas garotos, muitos mais do que meninas, estas não somavam nem ¼ da classe. Todos já haviam sentado em seus devidos lugares, a professora acabara de chegar e a aula iria começar, todas as classes estavam ocupadas, exceto a que estava na frente de Shun.
- Professora? – perguntava uma menina após bater na porta. – Com licença, posso entrar?
- Entre Srta. Kido, mas será a última vez que a deixo entrar após o sinal. – advertiu a professora. (Srta Kido parece a Saori, mas não é, essa é a June!!!)
- Me desculpe, Sra. Mas é que o metrô dessa cidade é muito...
- Cale-se, June! Quero começar a minha aula, sente-se. – mandou a professora irritada com a impertinência da aluna.
Shun se lembrava dela, era do acampamento cigano.
Muitos carros passavam pela estrada, mas creio que apenas um levava duas pessoas tão ranzinzas. Saori e Seiya continuavam sua viagem em silêncio. Até que o celular de Seiya começa a tocar e ele atende.
- Sim?
- Seiya? – pergunta Shiryu do outro lado da ligação. – Onde é que você está?
- Bem, – Seiya tentar olhar a placa que indicava a estrada. – na Estrada do Leste.
- ONDE? – pergunta Shiryu sem acreditar no que escutara.
- É isso mesmo! Eu estou indo para Casa do Sol...
- O QUE? Onde fica isso? – pergunta o irmão indignado.
- Eu também não sei. – confessa Seiya ouvindo apenas um suspiro do outro lado. – Mas estou com uma pessoa que sabe onde é.
- Seiya você ficou maluco? – disse Shiryu começando um sermão. – Como você pode ter certeza de que esse que está aí com você não é um psicopata? Um criminoso, sei lá?!
- Bem, - Seiya olhou Saori dos pés a cabeça e conclui.- eu tenho certeza que não é psicopata nem criminoso algum. Confie em mim, falo a verdade.
- Doido! – afirmou Shiryu que já conhecia as loucuras e atitudes impulsivas do irmão. – Certo, eu ia te pedir pra me buscar aqui na faculdade mas deixa. Acho que você não vai voltar para o jantar, não é? É melhor eu avisar a nossa mãe. Mas porque você está indo pra esse fim de mundo... como é que se chama mesmo?
- CASA DO SOL! É que... – "ops" pensou Seiya. – A polícia. – e desligou o celular o mais rápido possível se atrapalhando todo.
- Seiya? Seiya? Alô!? – Shiryu pensou que havia caído a ligação e tentou ligar novamente para o irmão.
- Polícia? – perguntou Saori vendo a viatura parada mais a frente. – Mas porque?
- Não sei mas... – mas antes que Seiya pudesse completar sua frase, seu celular toca novamente, ele foi atender mas Saori se intrometeu.
- Ah, ah. Você está dirigindo lembra? – Saori atende. – Alô?
- Quem é que está falando? – pergunta Shiryu confuso.
- Eu é que pergunto, quem está falando? – retruca Saori.
- É o meu irmão, Shiryu. – avisou Seiya.
- Então você é irmão do Seiya? Muito prazer. – falou a cigana. – Sabe, é estranho que sendo irmão e tendo a mesma criação você seja tão simpático e ele um grosso!
- Ei!
- É você a pessoa que está levando o maluco do meu irmão para Casa da Lua?
- CASA DO SOL!!! – corrigiu Saori. – Sim, ele está me dando uma carona e em troca eu o estou levando para Casa do Sol.
- Quer dizer que o meu irmão está traindo a noiva dele com você? – perguntou Shiryu cada vez mais confuso.
- Traindo? – Saori fica tão confusa quanto o irmão de Seiya.
- Você é a namorada dele? – pergunta Shiryu maliciosamente.
- Namorada? – pergunta Saori.
- QUÊ? NÃO! – gritou Seiya.
- É, não! Por favor não me insulte. Namorada? Do Seiya? – falou Saori com cara de nojo.
- É, não mesmo! – resmunga Seiya.
- Espera aí, por que esse "Não mesmo"? – pergunta Saori. – Acha que não sou boa o bastante pra você? Seu... Seu... Ridículo!
- Certo. – respondeu Shiryu rindo. – É melhor eu desligar. – e Shiryu desligou o telefone.
Logo a frente, estava uma barreira policial, o carro onde Seiya e Saori estavam foi parado.
- Você não aprontou nada, né? – perguntou Seiya preocupado que a carona tivesse alguma complicação com a polícia.
- Não, a não ser acompanhar você, afinal é um crime uma garota linda como eu andar de carona com um cara como você! – desdenhou ela.
- Hum. Quem desdenha quer comprar, viu? E o que você quis dizer com "um cara como eu"? – perguntou Seiya mas um policial apareceu para falar com eles.
- Com licença, posso ver os documentos por favor?
Era a hora do almoço para Marin, talvez o único tempo que ela tivesse para comer alguma coisa durante aquele dia, mas a empresária não estava com fome. Andava por um parque da cidade, olhando as crianças que brincavam. Havia alguns balanços abandonados mais a frente, provavelmente as crianças não gostavam daqueles, eram velhos e a pintura estava gasta. Marin sentou em um dos balanços e ficou pensando em um jeito de reencontrar sua filha e recuperar o tempo perdido, mesmo sabendo que nada compensaria os anos em que passaram separas, mãe e filha. Marin sempre agradeceu a Deus por ter tido cinco filhos maravilhosos e a quem amava tanto. Mas a dor da perda de sua pequena menina era algo que Marin mal podia suportar, quanto mais superar, ara uma dor infinita, que aumentava dentro dela a cada dia que passava, que crescia assim como aquela menina, como se acompanhasse o crescimento dela, e cada acontecimento na vida de seus filhos, Marin sempre lembrava da sua pequenina, abandonada. Quando Marin pode voltar aquele maldito orfanato pra buscar a filha, uma família já havia adotado a menina e o endereço da família não podia ser revelado. "Ela deve ter sido criada por uma boa família, deve estar feliz. Eu só queira poder vê-la, nem que por apenas mais uma vez, apenas para guardar na lembrança o rosto de minha filha feliz!".
Um bebê se aproxima de Marin, devia ter uns três anos e parecia meio perdido, como uma criança de três anos longe da mãe. Marin pegou o menino no colo e foi procurar pela mãe do bebê. Perguntou pra ele, mas o menino parecia muito assustado para responder.
- Com licença, senhorita. – falou Marin pra uma das babás do parquinho. – Sabe quem é a mãe deste bebê?
- Não senhora, não conheço nenhuma das mães. – respondeu a moça.
- Ei! Você! Devolva o meu filho! – disse uma senhorita, arrancando o menino do colo de Marin. – Você está bem, meu filhinho?
- Me desculpe, eu o encontrei pertos dos balanços velhos e resolvi procurar a mãe dele.
- É verdade. – interviu a babá, vendo a expressão de desconfiança no rosto da mãe.
- Mesmo? Então, me desculpe, fui muito estúpida com a senhora quando na verdade estava apenas ajudando. – desculpou-se a jovem.
- Tudo bem, eu entendo, quando se trata de proteger os filhos e conservá-los ao nosso lado, as mães sempre viram uma fera. – explicou Marin.
- Não é só isso, ele é meu único filho. E a agência tem me tomado muito tempo...
- Agência? – perguntou Marin, sabia que já estava atrasada, mas queria muito continuar com aquela moça e o filho dela.
- Sou uma detetive, encontro pessoas, descubro coisas... – uma idéia vem a mente de Marin, algo que todos vocês já devem imaginar.
Aioria deixava uma mãe e seus três filhos no mesmo parque, ele avista Marin, e mesmo ela estando de costas, o cigano a reconhece imediatamente. Dessa vez ela não fugiria, ele precisava muito falar com ela. Aioria desceu do táxi e caminhou sorrateiramente até a antiga namorada.
- Sabe, - falava Marin para a detetive. – eu tinha apenas dezessete anos, morava em uma fazenda no interior, havia um garoto, um cigano, por quem eu me apaixonei. Mas meus pais não permitiram a nossa união, por ele ser um cigano. Esse jovem acabou se casando e foi embora e jamais soube que eu tivera uma filha. – como sempre, ao falar de sua filha e de seu passado, lágrimas caíram dos olhos tristes de Marin. – Uma filha que tive que abandonar em um orfanato.
- E até hoje a senhora a procura. – deduziu a moça. – Quer que eu a ache, não é? – pergunta respondida por um aceno afirmativo da cabeça de Marin. – Não se preocupe, iremos encontra-la! – falou a detetive. O filho dessa moça, Kiki, apontava para trás de Marin.
- Marin? – sussurrou Aioria após ouvir, da boca da própria, a história da filha perdida.
- AIORIA! – gritou a empresária, ele jamais devia saber da filha, mas agora estava tudo perdido, não havia como desmentir o que ela mesma confessara, afinal, verdades não podem ser desmentidas.
Quem vai me entregar suas emoções?
Saori e Seiya haviam sido parados pela blitz da polícia pois Saori era compatível com a descrição da menina menor de idade cigana que havia fugido naquela manhã. Seiya teve que usar de sua influência para que pudessem passar sem serem revistados. Mas Seiya não sabia se poderia despistar a polícia novamente, aquela viagem começava a se tornar arriscada. "Não posso continuar a viagem com essa garota, ela é louca! Sei que ela é a única que sabe onde a garota que procuro está, mas terei que me virar de outro jeito a partir de agora."
- Não pode me abandonar aqui! – bradava Saori.
- Sério? Isso tá escrito na constituição? – falou Seiya em seu tom já conhecido de deboche.
- Você jamais chegara a Casa do Sol sem a minha ajuda! Nunca verá sua amada novamente se me deixar aqui! (e de certa forma ela tinha razão, neh?)
- Toma, – disse Seiya lhe entregando algum dinheiro. – com isso você poderá voltar para o acampamento. – falou o jovem calmamente.
- Mas... mas... – gaguejava Saori tentando achar uma saída. – Eu não moro naquele acampamento, já lhe disse!
- Eu vi você lá. – falou ele sorridente.
- Viu?
- Nós até discutimos, lembra? Nos esbarramos e você derrubou o cesto de roupas. – contou Seiya fazendo Saori se lembrar que já o conhecia e que aquela antipatia entre eles não começara no carro.
A cigana ficou imóvel e em silêncio absoluto. O único som que se podia ouvir era o do motor do carro de Seiya, que voltava para a estrada. Finalmente Saori volta do silêncio que estava.
- E foi VOCÊ que derrubou o cesto!
Quem vai me pedir que nunca lhe abandone?
O dia passou lentamente para uns, e rápido para outros, mas a noite chegava, como em todos os dias, tentando amenizar com seu belo luar os problemas que tomavam conta das mentes e dos espíritos das pessoas.
Saori ainda estava sentada na beira da estrada, no mesmo local onde Seiya a abandonou. A garota começava a sentir frio, fome e medo, já era escuro, aquela era uma estrada vazia e distante demais de qualquer lugar que seja. Ela pensava em quem a poderia ajudar numa hora dessas, se pedisse ajuda a sua família, Aioros a trancaria em seu quarto para nunca mais escapar. Estava sozinha, estava no escuro e já não sabia se encontraria o misterioso rapaz por quem se apaixonara. Talvez nunca mais pudesse ver sua família, nunca mais ver as pessoas que ama. Ficar sozinha para sempre. Agora o desespero era uma constante e o grande medo de Saori era:
- Quem vai cuidar de mim?
Assustada, a cigana viu a luz dos faróis de um carro se aproximando e apesar da escuridão reconheceu o carro de Seiya.
- Entre. – ordenou ele parando o automóvel na frente da garota e abrindo a porta. – Vamos embora daqui. – sem questionar ou reclamar, Saori entrou no veículo e colocou o sinto.
- Para Casa do Sol? – perguntou ela.
Quem me cobrirá nesta noite fria?
Pandora passara o dia em silêncio, a pouca esperança que tinha na vida estava se esgotando. Agora, deitada em sua cama, olhando as estrelas pela janela, a garota imaginava onde a irmã estaria.
Ikki chegava em casa, mais uma vez embriagado. O efeito da bebida ainda se fazia presente na sua dor de cabeça e falta de equilíbrio, mas equilíbrio era uma coisa que sempre lhe faltara. Agora o viúvo se dava conta do que havia feito com a única pessoa que o ajudou e que o compreendeu. Lembrava-se das lágrimas nos olhos de Pandora. Sabia que a amiga devia estar muito magoada e que talvez nunca mais o quisesse ver, e isso não machucava somente à ela, mas também Ikki. Sem ela se sentia sozinho, havia perdido sua única amiga e não sabia como reparar este erro.
Quem vai curar o coração partido?
Shun não conseguia dormir, estava ansioso para o seu segundo dia de aula, para rever June. Pela primeira vez em sua vida sentia aquilo, e era amor, sem dúvida! Em pensar que jamais a veria novamente se ainda estudasse na sua antiga escola... Lembrou da colega dançando em meio aos demais ciganos, mas também se lembrou do noivo muito ciumento dela. Mas não iria desistir, pois Shun sabia que jamais amaria alguém como a amava. E se não fosse ela, quem tornaria sua vida mais feliz?
Voltemos para onde Saori e Seiya se encontram agora. Eles recém estão entrando em um quarto de um hotel que fica na beira da estrada, um lugar modesto porém aconchegante. Ambos ficaram e silêncio, o único quarto vago tinha apenas uma cama de casal.
- Não se preocupe que eu vou dormir no chão mesmo. – falou Seiya meio irritado.
- Não! – interviu Saori. – Você... você... – gaguejava ela. – Pode dormir aqui junto comigo, afinal nós sabemos que não vai acontecer nada mesmo.
- Se você não se incomoda. – concordou ele.
Sem conseguirem dormir, por que alguma força maior os fazia ficar pensando em quem se encontrava ao lado, passaram um bom tempo acordado, olhando a lua pela janela e brincando de adivinhar que imagem era aquela na lua.
Quem encherá de primaveras este janeiro?
Quem alcançará a lua para que brinquemos?
Aioria não conseguiu dormir, ficou pensando na história que Marin contara, sobre a filha que obviamente era dele. Em pensar que todos esses anos ele sonhara em ter filhos, a família que nunca tivera com a mulher que amava, Marin. Agora, descobrir que sua filha existia e que estava em algum lugar, sozinha, sem saber quem são seus pais. Mais importante que reconquistar Marin, agora, era encontrar sua filha. Marin também não conseguia dormir, teria que falar com Aioria e acertar tudo de uma vez por todas.
O celular de Shaka toca, mas não a ligação não é para ela, e sim para Hilda. Shaka vai sorrateiramente até a janela que ficava ao lado da cama da moça. Ainda sonolenta ela atendeu, sem saber quem podia querer falar com ela numa hora daquelas. Era Hyoga. Conversaram a noite inteira, mais uma vez. Ele havia brigado com a esposa e precisava falar com alguém sobre aquilo.
Me diga se você vai, me diga meu carinho,
Quem me vai curar o coração partido?
Shina tomava uma xícara de café no sofá de seu apartamento, sozinha. E sempre estaria sozinha, perdera seu grande amor, Seiya, e mesmo que ainda tivesse esperanças de reconquista-lo, lá no fundo sabia que jamais o teria novamente porque jamais o tivera. E sabia que sua relação com Shura nunca fora amor e nunca seria, não havia amor. O que havia entre eles era só um acordo, uma união para sobreviver, para dar golpes. Nunca foram um casal, nunca fora amor. Se tratava apenas de uma sociedade. Até na cama, ele era frio, distante, e ela, sempre imaginava Seiya. O ex-noivo era romântico, gentil e carinhoso, ao contrário de Shura, que era um bruto. Precisava a todo e qualquer custo recuperar seu noivado com Seiya, mesmo ele não a amando, o amor dela valia pelos dois e com o tempo ele também iria amá-la.
Dar somente aquilo que te sobra
Nunca foi compartilhar, e sim dar esmola, amor
Uma grande tempestade caiu sobre a cidade naquela noite, fazendo com que postes e árvores caíssem sobre as ruas e estradas. Uma dessas estradas foi a que levava para Casa do Sol, atrasando Saori e Seiya.
- Mas que droga! – resmungou Seiya chutando o pneu do carro. – AI!
- Calma, Seiya. – falou Saori meio sonolenta. – Eu conheço um outro caminho, a estrada é de chão, e o caminho é muito mais comprido, porém, demoraríamos mais esperando aqui do que indo por este outro caminho.
- Não sei, Saori. Acho que esse caminho não deve ser seguro... – falou Seiya pensativo enquanto massageava o pé machucado.
- ORA, SEIYA! Você quer chegar lá, sim ou não?
- SIM! Mas de preferência vivo!
- Vamos, não é tão perigoso assim.
- Eu já disse que NÃO!
E seguiram por aquele outro caminho, demorariam muito mais tempo do que pelo caminho normal, mas ficar esperando que retirassem o poste da estrada talvez demorasse muito mais. Mas não demorou, em meia hora o poste já havia sido retirado da estrada.
A família Ogawara, ou o que se encontrava dela naquele apartamento, se encontrava na copa, tomando um fabuloso café da manhã.
- Fiquei preocupada ontem quando aquela tempestade começou, imaginei Seiya na estrada, imaginem se cai um poste ou uma árvore no meio da estrada e ele acaba sofrendo um acidente. – falou Marin, que como toda mãe, ficava aflita ao não ter notícias de seus filhos.
- Calma, mãe! – respondeu Shun. – Assim a senhora só fica nervosa à toa, a tempestade nem durou muito tempo e eu tenho certeza que ele está bem. Hoje o dia está até mais bonito do que ontem!
- Ai, Shun! O que eu faria sem você meu caçulinha? – falou Marin fazendo um cafuné na cabeça do filho.
- "Ai, Shun, eu só amo você e nem quero saber dos seus irmãos!" – debochou Shiryu imitando a voz da mãe. (ciumento.....)
- Ora, Shiryu! – se admirou Marin ao ver o ciúme do filho.
- Dona Marin, telefone. – falou a empregada.
- Deve ser o Shion, esqueceu novamente de algum compromisso! – reclamou Marin. – Alô?
- Me encontre na antiga usina próxima a sua fazenda, às 10:00, é urgente!
- Mas, - e antes que Marin pudesse perguntar qualquer outra coisa, desligaram.
- Mas ela tinha certeza de que era Aioria, reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Olhou no relógio, tinha pouco tempo para ir até o local combinado.
- Garotos, eu vou ter que sair agora, é urgente. Shiryu leve seu irmão para a escola.
- Tá. Posso comer isso? – perguntou Shiryu mas sua mãe já havia ido embora.
Mesmo depois de tanto tempo, Marin descobria que não conseguia negar um convite de Aioria, que tudo aquilo que lutara para esquecer estava novamente tomando conta de seu coração.
Se você não sabe, posso lhe dizer.
Depois da tempestade sempre vem a calma,
Mas eu sei que depois de você,
Depois de você não existe nada
Ikki acorda cedo, apesar da ressaca, nem notara a tempestade da noite passada, a única coisa que pensava agora era em como se redimir com Pandora. A campainha toca.
- Quem pode ser a essa hora da manhã? – mas ao abrir a porta ele tem uma grande surpresa.
- Oi. – disse Pandora já entrando. – Posso falar com você?
- Claro.
- Eu só queria dizer que você não tem nada a ver com a minha vida e que o que você faz ou deixa de fazer não... – mas Pandora foi interrompida por um beijo, um doce beijo de Ikki.
Ambos sabia que agora estariam para sempre presentes um na vida do outro. E sabia também que poderiam sofrer muito por isso, mas talvez valesse a pena, o que importava agora, era que eles continuassem a se beijar.
Por que você me curou quando estava ferido
Se hoje deixa de novo o coração partido
Hyoga pedira a Hilda que fosse até seu escritório na primeira hora da manhã. E lá estava ela quando ele abriu a porta do escritório.
- Entre, o que tenho pra lhe falar é realmente muito importante. – falou ele seriamente.
- Por favor, Hyoga. Está me deixando nervosa!
Eh, agora eu soh vou postar d novo em 2005!
