Chuva
Seiya e Saori estão indo pelo caminho secundário, uma estrada de chão, mais a frente, avistam novamente os policiais.
Seiya, precisamos desviar...
Qual é o seu problema com a polícia, afinal? – perguntou irritado.
Eu fugi de casa! Sou uma fugitiva! – gritou Saori ficando desesperada enquanto se aproximavam dos policiais. – Sou uma fugitiva igual a minha mãe! Fujo da minha família, dos meus costumes e de um casamento arranjado!
Hum... Uma "fugitiva desequilibrada perigosa"... – falou Seiya ironicamente.
Exato! Agora, a menos que não queira chegar a Casa do Sol, desvie! – ordenou ela. – Droga! – exclamou. – Agora teremos que dar toda uma volta pra chegar em Casa do Sol!
E o pior é que tem uma outra tempestade vindo. – observou Seiya. – A cidade mais próxima fica a quantos quilômetros?
Muitos!
Shunrei olhava o pai andar de um lado para o outro no pequeno aposento da casa. Precisava fazer alguma coisa, mas não tinha idéia do que. Em seu pensamento tinha certeza que Saori só poderia ter ido a um lugar, Casa do Sol. A mãe havia sido enterrada lá, e quando pequena encontrara a irmã inúmeras vezes adormecida perto do túmulo. O problema era como encontrá-la em Casa do Sol. Precisaria da ajuda de alguém que estivesse lá.
Kamus! – Shunrei exclamou e saiu correndo, deixando o pai ainda mais nervoso.
Shiryu largou Shun na escola e foi direto para o Clube de Esgrima. Precisava esfriar a cabeça, era incrível como apenas ele percebia os problemas por que passavam a família. Nenhum de seus irmãos notara a mudança no humor de Marin, nem a distração de Shun, provavelmente uma paixonite escolar, nem a estranha viajem de Seiya, nem a mudança de Ikki e Hyoga. E também, ninguém percebera a gravidade que começava a tomar o problema de solidão de Shiryu. Talvez por não ter nenhuma companhia e por passar o dia comendo, Shiryu perceba todos esses acontecimentos. Mas queria esquecê-los por algum tempo.
Shiryu! A quanto tempo, não? – falou um antigo conhecido de Shiryu.
É, acho até que já devo ter perdido meu posto de melhor pra você, Kamus. – falou Shiryu, que se orgulhava de já ter ganhado de Kamus, um dos melhores do Clube, foi mestre de Hyoga e de muitos outros garotos que praticavam o esporte ali.
O que acha de nos enfrentarmos novamente? – falou Kamus.
Acho uma ótima idéia.
Shiryu e Kamus se preparam e começam o duelo. Com certeza era o confronto entre os dois melhores, todos os presentes observam cada movimento dos dois.
Está falando sério, Hyoga? – perguntava com desconfiança Hilda.
É claro! Preciso de uma secretária e você me disse que se tivesse um emprego, se sentiria muito mais independente e confiante. – confirmou ele. – E acho que será uma ótima secretária.
Eu não sei, Hyoga... – Hilda sentia que não devia trabalhar ao lado de Hyoga. – E eu não sei se meu pai concordaria.
Então faremos o seguinte: hoje você fala com ele, caso tenha permissão, venha amanhã para começar a trabalhar, agora, se ele não deixar, apenas me telefone e eu irei entender. – explicou Hyoga. – Certo?
Certo! – concordou Hilda apertando a mão de Hyoga.
Ao sair do prédio onde ficava o escritório, Hilda olha para o céu nublado, sem saber o que fazer. Tinha um mau pressentimento. Queria muito ficar mais próxima de seu amigo, mas não sabia a que essa aproximação a levaria. No fundo, ela sabia que gostava muito de Hyoga e que a convivência podia transformar a amizade em amor, mas sabia que ele era casado, e que a esposa devia ser uma mulher maravilhosa e tudo isso só a faria sofrer.
Se as nuvens ficam escuras
É porque vai chover.
Marin entrou calmamente na fábrica abandonada, mas toda aquela calma era superficial, por dentro ela estava prestes a explodir de nervosismo. Tinha idéia do porque daquele encontro, mas não sabia o que iria explicar para Aioria.
Marin, que bom que veio. – falou Aioria.
O que é tão importante para me fazer vir até aqui? – perguntou Marin com ar de superioridade.
Acho que você tem algo a me dizer, uma história muito importante pra me contar. – sugeriu Aioria.
Não tenho nada a dizer, não temos mais nada o que conversar, não sei se você percebeu, mas já faz muitos anos que deixamos de nos ver e não temos nada o que falar. – falava Marin atrapalhando-se.
Fique calma, Marin. – pediu Aioria com uma voz doce. – Sei que me odeia pelo que aconteceu no passado, mas se o que disse àquela moça é verdade, acho que ainda temos muita coisa entre nós.
O que quer saber? – perguntou Marin com indiferença.
Você sabe...
Sim, - respondeu cabisbaixa. – essa é a resposta. Não vou tentar tapar o sol com a peneira. Eu tive uma filha, Aioria.
Uma filha! – Aioria queria perguntar mais para Marin, mas ela já havia saído.
Ikki levou Pandora até a entrada do acampamento, caminhavam pelas ruas com um brilho diferente no olhar, um sorriso sincero e mãos entrelaçadas.
Acho melhor eu entrar sozinha, não sei qual seria a reação do meu pai se soubesse que estou apaixonada por alguém que não pertence ao nosso grupo. – falou Pandora, envergonhada por ser refém de tão antiquadas tradições.
Certo. – Falou Ikki beijando-a. – E não esqueça de conversar com a sua irmã.
Pandora sorriu e saiu correndo na direção da cabana de Shaka. Ikki observou a cigana se distanciar e depois voltou para sua casa assoviando. Mu observou quando o casal chegou e foi falar com Pandora.
Pandora! – falou Mu segurando o braço da cigana.
O que quer, Mu? – falou com frieza.
Quero falar sobre nós. – disse ele largando o braço dela.
Não há mais nenhum "nós", Mu. Se é que você não percebeu. – concluiu Pandora apontando com a cabeça o lugar onde um minuto atrás estava Ikki.
É, acho que você já fez a sua escolha. Desejo sorte para você e seu amigo. Como pretende contar para o Radamanthys?
Do mesmo jeito que pretendia contar sobre você! Com uma carta.
Seiya saiu do carro seguido por Saori e pediu um quarto, o rádio encima do balcão estava sintonizado na estação da polícia. Um homem gordo e com barba para fazer veio vagarosamente atender os dois.
Um quarto, por favor! – falou Seiya.
Certo. Quarto zero seis. O senhor está certo de não andar por estas estradas a noite. – falou o homem. – Sabiam que seqüestraram uma cigana na capital? Pobre menina!... – suspirou ele, Saori e Seiya se olharam assustados.
Hilda varria o quarto, mesmo não tendo mais nenhuma sujeira no chão. Pandora entrou no quarto e ficou assustada com a atitude da irmã.
Hilda? Você está bem? – perguntou Pandora.
Tô! Claro que estou bem, Pan! – respondeu Hilda nervosa.
É que não parece, mana... – explicou.
Hilda suspirou, cabisbaixa, não conseguindo controlar as lágrimas, abraçou a irmã o mais forte que pôde e choraram juntas.
Me perdoa, minha irmã! Me perdoa pelo o que eu te disse! – falou Pandora.
Claro que eu te perdôo! Eu também quero pedir perdão! Você pode me perdoar? – perguntou Hilda soluçando.
Claro! Eu não quero mais brigar com você! Não agora que a nossa família está tão frágil! – disse Pandora.
Tem razão! Eu te amo, minha irmã! Te amo. – falou Hilda tentando sorrir em meio ao pranto.
Eu também te amo, irmã! Muito!
Minha irmãzinha! Eu preciso tanto te você. – sussurrou Hilda.
Shunrei não conseguira falar com Kamus. Amanhã o procuraria no Clube de Esgrima. Observou Pandora e Hilda abraçadas no quarto. Suspirou aliviada, finalmente elas haviam feito as pazes. Shunrei não sabia porque haviam brigado, mas não era certo irmãs brigarem, ainda mais agora que Saori desaparecera. Aioros entrou na pequena casa, parecia nervoso, mas não tão preocupado como anteriormente. Shunrei achou o comportamento do pai estranho.
O que houve, papai? – perguntou curiosa.
Julian chega amanhã! Contei a ele sobre sua irmã e ele disse que irá procurá-la pessoalmente.
June se despediu de duas amigas que foram para casa, começava a escurecer e nada de Miro buscá-la. "Será que aquele idiota esqueceu de mim?", perguntou a si mesma. Olhou para o lado e viu Shun saindo da biblioteca.
Oi! – falou June animada.
Oi... – respondeu vagamente ele.
Não sei se você sabe... – ela não sabia por onde começar. – Eu estou na sua turma.
É claro que sei! – falou entusiasmado. – Digo, eu sei. – tentou concertar, fazendo com que a loirinha sorrisse.
É que eu estou indo meio mal em Física, e notei que você está bem adiantado nessa matéria e eu pensei que... – explicava sem jeito a cigana.
Que eu podia te dar aulas?
Sim. – confirmou envergonhada.
Claro! Não tem problema nenhum por mim! – falou Shun sorridente.
Que bom! – concluiu June, ficando em silêncio algum tempo. – O que você ainda faz na escola?
Meu irmão teve que voltar na faculdade dele para resolver uns problemas. Ele só virá me buscar daqui uma hora mais ou menos. E você?
Um primo vem me buscar. – "não deixa de ser verdade! Além de meu noivo, Miro também é meu primo!" – Mas acho que ele me esqueceu... – June respirou fundo. – Quem sabe você não pode me acompanhar até a minha casa, é que tenho medo de ir sozinha, pode ser perigoso...
Tudo bem! Eu te acompanho.
Vocês são casados? – perguntou o dono do hotel onde Saori e Seiya estavam.
Sim/Não! – responderam os dois ao mesmo tempo, deixando o velho com uma expressão confusa.
Ainda não! – concertou Saori. – estamos noivos! Estamos indo para Casa do Sol, vamos nos casar lá.
Ah! Tem parentes em Casa do Sol?
Ele/Ela! – outra vez responderam juntos.
Na verdade é nossa tia avó que mora lá, somos primos de segundo grau. – respondeu Seiya rapidamente.
Esse é o quarto de vocês. – falou o homem abrindo a porta. – Fiquem a vontade e parabéns pelo casamento! – concluiu fechando a porta do quarto.
Saori e Seiya suspiraram e jogaram-se na cama.
Vou comprar bebida! – falou Seiya.
Boa idéia! – concordou Saori.
Seiya voltou rápido com uma garrafa de vinho que o gentil dono do hotel havia mandado como uma cortesia ao futuro casal.
Ele me perguntou onde eu estava indo e falei que iria comprar um vinho para comemorarmos... – contou Seiya. – E ele disse que se sentiria honrado em dar o primeiro presente de casamento! – Seiya ria muito.
Não acredito! – falou Saori, também rindo enquanto abria o vinho e servia nas taças.
Então, - falou Seiya tomando um gole de vinho. – porque está fugindo de casa?
Pelo mesmo motivo que você. – respondeu.
Uma garota? – falou Seiya.
Não! – gritou Saori. – Eu fugi porque quero ser independente!
Você bebeu demais, não é por isso que eu estou aqui.
É sim. Você não ama a sua noiva, e não quer seguir o que sua família diz que é melhor para você. – Seiya estava arrepiado, o que Saori dizia fazia sentido. – Não estamos atrás do amor da nossa vida, Seiya, estamos atrás do nosso sonho de liberdade, essa é a dura verdade.
Quem... – Seiya não entendia, mas não queria fazer a pergunta pois tinha medo da resposta. – Quem é ele?
Eu o conheci numa festa, lá no acampamento. – contava Saori não se preocupando mais com a taça e bebendo o vinho direto da garrafa, assim como Seiya. – Eu estava dançando, de repente eu tropecei e caí sobre um rapaz, nós quase caímos no chão, mas ele me segurou, me segurou firme, eu me senti tão segura, protegida. – Seiya, que ouvia atentamente, ficou atônito. – Sem pensar em nada fomos nos aproximando e nos beijamos... Mas foi só, eu o procurei mas não encontrei. Ele tinha lindos olhos castanhos, parecidos com os seus. – Saori riu. – Que besteira! Acho que estou bêbada! Estou te comparando com ele. Sabe, minha irmã viu que eu iria encontrá-lo, Hilda é muito boa com as cartas.
Cartas? – falava Seiya, sem acreditar no que estava acontecendo.
É! Eu sou melhor lendo mãos. Quer ver? – falou Saori que sem esperar resposta pegou a mão de Seiya e a observou atenta, passando seus dedos sobre as linhas da palma da mão dele.
Você? – sussurrou Seiya, fitando-a.
Vejo que o amor da sua vida está bem próximo de você, juntos irão enfrentar muitos obstáculos, ela está bem perto mesmo, você que não percebe... – informou Saori olhando para Seiya e notando o olhar estranho com que ele a olhava.
Não percebia... – "É você, Saori! Foi você o tempo todo!" – Agora eu percebo... – e antes que Saori pudesse perceber, Seiya a beijou.
Foi como se ela tivesse voltado no tempo, naquela noite de festa, quando conhecera seu misterioso amado, quando o beijou, sem conhecê-lo, mas já amando-o. O gosto de vinho em seus lábios, os braços de Seiya envolta dela. Protegida novamente, amada novamente. Mas não era ele, não podia ser ele, Seiya havia se apaixonado por sua grande amiga Fler, aquilo era apenas efeito da bebida.
Pare, Seiya!
Mas Saori...
Cometemos um engano! Acho que bebemos demais por hoje, eu vou tomar um banho e dormir. Com licença. – disse Saori secamente se levantando do carpete e se trancando no banheiro.
Seiya pegou o livro que trouxera na mochila e o abriu, lá estava a flor que fora sua única esperança, e agora era sua única forma de provar para Saori que era ela a garota por quem ele havia se apaixonado.
Apesar de ter levado um sermão da mãe e do irmão por ter saído da escola sem avisar, Shun estava feliz. Poderia ficar mais tempo junto com June, pena que ela não se lembrasse dele, que conversaram naquela festa no acampamento.
Hyoga também estava contente, apesar de tudo. A empresa não ia muito bem, mas a presença de Hilda no escritório poderia curar qualquer mal que sofresse. Já não podia negar que gostava da cigana. No início pensara que o interesse por Hilda fosse culpa do mau relacionamento com a esposa e se sentira muito mal com isso. Mas agora tinha certeza que estava realmente apaixonado por Hilda. E mesmo querendo ficar junto com ela desde que a conhecera, não queria trair Eire, e decidiu que iria se separar de Eire. Mesmo que não desse certo entre ele e Hilda, não poderia continuar enganando a esposa e nem a si mesmo. Não amava Eire, talvez jamais tenha amado. Pelo menos agora veria sua cigana todos os dias.
Se o céu está clareando
É que o sol vai nascer.
Hilda e Pandora passaram a noite toda conversando. Hilda contou sobre o emprego que Hyoga lhe oferecera e o que começava a sentir por ele. Pandora falou do namoro com Ikki e de como tudo acontecera. O dia amanheceu e as irmãs recém haviam pegado no sono.
Na minúscula sala, Aioros tomava café junto com Shaka. Eles sempre faziam isso, desde que Métis sumira no mundo deixando os dois apaixonados e as cinco meninas para serem criadas por eles.
Aioros! – falava Shaka otimista. – Você não pode se preocupar tanto com as coisas! Se Saori foi embora foi porque ela quis, porque ela precisava ir, ela voltará, meu amigo.
Saori eu sempre soube que seria igual a mãe! Sempre foi, você sabe! Claro que sabe!
É, eu sei. – falou Shaka.
Por isso ela é sua preferida... – sussurrou Aioros. – Mas não é só isso que me preocupa, Shaka. Vocês pensam que eu não sei das coisas que acontecem na minha casa, mas é o contrário, sei muito mais que vocês. Hilda descobriu que Pandora e Mú estavam juntos, mas parece que está tudo bem, porque nenhumas delas gosta do rapaz, o pior é que eu sei que estão apaixonadas por rapazes que não são ciganos. Shunrei, coitada, vive para a família, mas eu sei que ela queria que alguém a amasse, ela quer ter sua própria família e talvez Kamus não seja a pessoa ideal para ela. Saori deve estar com o amante, nunca gostou de Julian! E June, ela é uma adolescente normal, que convive com adolescentes normais, mas ela não pode namorar como os outros, apesar de que não duvido que ela agüente isso por muito tempo! Pensa que só você sabe que Pandora e Hilda não são mais virgens? Ora, Shaka! Você também, não adiante dizer que só está aqui por causa das meninas por que sei que te falta coragem pra fazer o que eu mesmo devia ter feito! E Aioria que até hoje não esqueceu aquela filha de fazendeiro! Já fazem vinte anos! Eu não entendo mais nada! O que será da minha família, Meu Deus?
Chuva (Capital Inicial), Hilda e Hyoga... continua no próximo capítulo...
