Chuva (continuação)
Já passava da meia-noite e Seiya ainda estava acordado, ao seu lado, deitada na cama, Saori dormia. Lembrou de ligar para a família, contar a Shiryu que finalmente havia encontrado a cigana que procurava, mas já estava muito tarde e provavelmente Shiryu já estava dormindo tão profundamente quanto Saori.
Marin finalmente conseguiu pegar no sono, ficou horas pensando em Aioria e na filha, chorou muito. Como em tão pouco tempo destruíram a paz que ela levara anos para conquistar? Se sentia vencida pela vida, e temia não haver mais tempo para concertar os seus erros. A única coisa que ela considerava certa em sua vida eram os filhos, e até isso ela corria o risco de perder. Se distanciava cada vez mais deles, estava tão perdida em seus problemas do passado que não tinha tempo para ajudar os filhos a enfrentarem os seus. Os via caindo e nada podia fazer. E o que seria dessa relação tão instável quando eles soubessem da irmã? Marin não imaginava qual seria a reação dos filhos, mas teria que arriscar.
Shiryu acordou assustado com o barulho do celular, ainda confuso, procurou o aparelho por cima da mesinha, era de manhã.
Alô? – falou ele com voz de sono.
Te acordei, Shiryu? – perguntou do outro lado da linha.
Sim, digo, não. Quem está falando? – perguntou Shiryu começando a acordar de verdade.
É Julian Solo...
Hyoga acordou cedo, e se arrumou para ir a empresa. Estava ansioso, hoje receberia a resposta de Hilda. Ligou para empresa, como esperava não havia chegado ninguém, era muito cedo, nem ele mesmo soube explicar porque ligou, talvez mesmo sabendo que Hilda ainda não estava lá, queria ele que a moça já estivesse esperando-o.
Querido? – ouviu a voz de Eire chamar.
Ahm! – respondeu ele.
O que foi? – perguntou ela. – Você parecia estar em outro mundo!
Talvez estivesse... – balbuciou Hyoga.
Não parece muito disposto hoje. Talvez fosse melhor não ir a empresa...
Não! – exclamou ele, não podia imaginar essa possibilidade. – Eu preciso ir a empresa. E não é nada, apenas acordei muito cedo.
Certo. Não se esqueça de convidar Shura para o jantar de amanhã a noite...
Não vou me esquecer. – confirmou secamente.
Ótimo. – disse Eire indiferente.
Eu já vou, quero chegar cedo hoje.
Claro...Até a noite, querido.
Hilda sentou-se a mesa para o café-da-manhã. Shunrei fazia torradas, enquanto Aioros lia o jornal, estavam todos muito quietos, e Hilda chegou a ficar com medo de tamanho silêncio.
Bom dia, Hilda! – falou Shunrei a virar-se e ver a irmã sentada a mesa.
Bom dia... – disse vagamente.
Papai, aqui estão as suas torradas.
Obrigado, querida.
Papai... – Hilda tentava tomar coragem para falar com Aioros. – Papai...
Sim, minha filha, fale, estou te ouvindo.
Papai arrumei um emprego.
Como?
É, uma amiga minha, ela saiu da empresa e me recomendou ao patrão. Papai, o emprego é muito bom, vou ganhar bem e é o lugar onde sempre quis trabalhar!
Querida, não acho certo você trabalhar, não agora.
Mas pai! É uma oportunidade única, entenda...
Eu entendo, Hilda. – falava Aioros sério. – Apenas acho que não deve se prender a um emprego, podemos partir amanhã, ou até antes, e você teria que abandonar o trabalho e tudo o que conquistou nele...
Deixe-me apenas tentar... – implorou Hilda.
Se é o que quer...
Hilda abraçou o pai. June entrou na sala e ficou surpresa com a cena, a muito tempo não via a família tão feliz. Quem sabe agora eles começariam a ter um pouco de paz naquela casa?
Seiya? Acorde... – sussurrava Saori.
Que? – falou ele ainda de olhos fechados.
O seu café-da-manhã. – disse ela rindo do jeito dorminhoco de Seiya.
Café..?
É, eu fui buscar, pensei que você não estaria muito disposto a sair da cama para ir ao restaurante... Trouxe até uma aspirina para a ressaca...
Obrigado... eu acho...
Julian? – falou Shiryu muito surpreso com aquela ligação.
É... Eu cheguei a pouco na cidade e como você sempre é meu anfitrião aqui...
É. Mas o que há? Está sem carona? Quer que eu vá até o aeroporto e o leve até o hotel?
Sim, mas não vamos para o hotel. Você é corretor de imóveis, não?
Sou...
Então preciso de seus serviços. Quero uma casa... – contou Julian.
Casa? – falou Shiryu ainda mais confuso.
Exato. Dessa vez, eu vim para ficar!
Vamos, Seiya! – chamava Saori. – Se nos apressarmos chegamos em Casa do Sol a noite.
Calma! Eu só vou trocar de roupa!
Ok. Enquanto isso eu vou telefonar, tudo bem? – esperou alguma resposta, mas talvez Seiya, atrapalhado como estava, nem tivesse escutado. – Vou considerar como um sim.
Marin já estava no trabalho, Shiryu havia saído correndo até o aeroporto e Shun estava sozinho em casa, esperando o motorista para levá-lo a escola. Preferia ele ir sozinho, pegar o ônibus, mas era uma exigência da mãe e Shun sabia com ela ficava irritada quando ele era desobediente. O telefone da casa toca, Shun atende, talvez fosse Ikki ou Hyoga, estava com saudade de ambos.
Alô? – atendeu ele.
Shun? Oi, queridinho! O seu irmão está aí? – falou uma voz feminina que ele logo reconheceu.
Depende qual deles, Shina...
Que engraçado, Shun. O Seiya, por favor.
Ele viajou, já faz alguns dias, e eu nem sei para onde... – contou o garoto.
Foi ele que lhe mandou falar isso? – perguntou Shina começando a se irritar.
Não, ele viajou mesmo e nem pediu para falar nada, falando a verdade, ele nem avisou que iria viajar, só depois que já tinha partido.
Eu não acredito... – falou ela.
Nem ele eu acho... olha só, adoraria continuar a conversa mas eu tenho aula, tchau. – disse Shun desligando, sem esperar resposta do outro lado.
Vamos? – perguntou Tatsumi. (notaram que ele faz todos os papéis de empregados?)
Claro. – respondeu Shun pegando sua mochila no sofá.
Shunrei saiu de casa assim que lavou a louça do café, normalmente ela esperaria Pandora acordar para lhe servir o desjejum, mas precisava falar com Kamus antes que ele saísse de casa. Quando saía do acampamento cigano, viu que o carteiro já havia passado. Notou que uma das cartas era endereçada a Saori e havia sido enviada por Fler. Shaka chegava na mesma hora e Shunrei pediu que ele a entregasse em sua casa, pois podia dar alguma informação do paradeiro de Saori (embora tivesse certeza que ela estava em Casa do Sol.), estava atrasada e precisava se apressar.
Entendo... – respondeu Shaka após as explicações de Shunrei. – Deixe comigo, vou passar em casa e logo depois entrego a carta ao seu pai.
Obrigada. – agradeceu a garota. Mas Shaka não tinha intenção de entregar aquela carta para Aioros.
Hilda andava desligada pelas ruas e entrou quase saltitante no edifício comercial onde ficava o escritório de Hyoga, ao chegar no elevador olhou-se no espelho para se recompor. Entrou no escritório, a secretária falava no telefone e Hilda ficou parada na sua frente esperando para lhe falar.
Sim, D. Eire... – falava a secretária. – Eu vou telefonar assim que puder... – ao ver Hilda a secretária fez sinal para que entrasse.
Obrigada! – sussurrou.
Saori entrou na cabine telefônica, respirou fundo, torcia para que o pai não atendesse e nem estivesse perto do telefone.
Deus me ajude! – exclamou ela enquanto discava os números.
O telefone começa a tocar na casa de Shaka, que entra correndo em casa e atende.
Alô?
Shaka! – falou Saori com alívio. – Que bom que você atendeu... Se meu pai estiver perto diga que foi engano e eu ligo mais tarde.
Não, minha ciganinha! – respondeu Shaka. – Pode falar, Saori, seu pai não está aqui.
Como você está? Minhas irmãs, estão bem? E papai?
Estamos todos bem Saori! Mas tenho duas novidades para você, - contou Shaka. – uma é má... e a outra, eu não sei.
Conte-me, qual é a má?
Julian, chega hoje na cidade...
O que? – gritou Saori, não podia ser verdade.
E a outra é que tem uma carta da Fler para você.
Da Fler? Carta? – Saori lembrou do beijo, "como pude fazer isso!".
Eu não abri, obviamente, mas se você quiser que eu leia para você...
Sim, - disse Saori sem entusiasmo. – leia.
Querida Saori,
Não é do meu feitio escrever, mas não tenho como telefonar. Não sabia se você havia fugido mesmo porque não a encontrei em Casa do Sol. Agora estamos em Nova Vila. Eu encontrei o Emiro aqui, ele é o garoto com quem conversei no aniversário do Shaka. Estamos no mesmo acampamento e começamos a namorar. Assim que aceitei o pedido dele corri para escrever. E um detalhe, bobo, mas muito importante para mim: qual o nome daquela flor que você usava na cabeça na festa do Shaka? Era igual ao buquê que minha mãe deu para o aniversariante.
Um grande abraço, Fler.
Emiro? – sussurrou Saori.
Lembro dessa flor, era desse buquê mesmo! Eu que coloquei ela no seu cabelo... – falou Shaka recordando. – Era a flor preferida de Métis, e você ficou tão parecida com ela, você é parecida com a sua mãe...
É, eu sei que flor é essa. – falou Saori séria. – Então, tirando a chegada do Julian, está tudo bem por aí?
Sim, querida. Hilda até arrumou um emprego. Seu pai é que está furioso com você. – falou Shaka, tentando passar um ar de reprovador, mas sem conseguir. – Por falar nisso onde você está?
Nem eu mesma sei direito agora, mas vou para Casa do Sol. – olhou para o lado e viu, um pouco distante, Seiya encostado no carro esperando-a. – Olha, Shaka, tenho que desligar. Beijos, não conte que eu liguei!
Está bem. Sorte, ciganinha! Beijos.
Tchau. – despediu-se Saori colocando o telefone no gancho. – "Seiya!".
Saori não podia acreditar, o garoto que ela tanto procurava esteve o tempo todo ao seu lado, como ela não percebera antes? Como não o reconhecera? Como ele percebera? Claro, ela mesma contou a história. A cigana começa a lembrar de várias coisas ao mesmo tempo.
"Estou vendo um grande amor, ele não sabe mas também está a sua procura. Os seus destinos vão se cruzar várias vezes. A convivência entre vocês vai mudar não só as suas vidas, como também a vida das pessoas que os cercam."
"Que esse estranho, por quem seu coração bateu mais forte não é o seu grande amor?"
"Ele tinha lindos olhos castanhos, parecidos com os seus. Que besteira! Acho que estou bêbada!"
Vamos, Saori! – gritava Seiya buzinando do carro.
Saori entrou no carro quieta e cabisbaixa, colocou o cinto. Olhou timidamente para Seiya ele dirigia compenetrado e não notou ela a observá-lo. Saori o amava, agora ela sabia, talvez já soubesse desde o início, e ele também sabia, Seiya descobrira antes dela. Ele tentara contar, Saori não o deixara explicar. E agora eles estavam no carro, indo para Casa do Sol, como se fossem dois estranhos, procurando por eles mesmos.
Será que é tão difícil dizer aquilo que você sente?
Será que você diz a verdade ou então você mente?
Pandora acordou muito tarde naquele dia. Enquanto cantava, a moça preparava o seu café-da-manhã. Mais tarde iria ver Ikki. Almoçariam juntos e não poderia buscar June na escola.
Vou pedir para a Shunrei fazer isso para mim. – pensou Pandora. – Por falar nisso, onde está a Shunrei?
Era a terceira vez que Shunrei tocava a campainha do apartamento de Kamus. Mas não adiantava, chegou atrasada, ele já devia estar no Clube a essas horas. Ela não sabia o endereço do Clube, mas por sorte o porteiro do prédio a ajudou.
Marin assinava alguns papéis, tentava acabar logo todo o serviço, quanto mais cedo saísse mais cedo poderia ir até o escritório da tal detetive que conhecera ontem. Não sabia bem o porque, mas simpatizou muito com a moça. Acreditava que ela podia realmente ajudar a encontrar Seika. Ainda pensando nisso, Marin escutou vozes alteradas do lado de fora do escritório, e antes que pudesse questionar o que estava acontecendo, viu Aioria invadir sua sala tempestivamente.
O senhor não pode... – dizia Shion.
Aioria! O que pretende entrando no meu escritório desse jeito? – falou Marin indignada.
Falar com você! – respondeu.
Eu não vou admitir esse tipo de invasão...
Podemos falar a sós? – perguntou Aioria olhando de canto para Shion.
Não, não tenho nada a tratar com você que meu assistente não possa saber.
É sobre a nossa filha. – falou calmamente.
Shion, saia por favor e não deixe que ninguém nos interrompa. – ordenou Marin imediatamente.
Quero falar com você sobre a minha decisão...
Sua decisão? – falou ela em tom de irônia. – Escute, quando eu encontrar a minha filha...
Escute você, - disse Aioria perdendo a paciência. – Eu vou encontrar a nossa filha, e quando isso acontecer, quero que venha morar conosco, eu, você e ela.
Morar com você? – continuou ironicamente Marin.
Se preferir, moramos nós com você, se os seus filhos concordarem...
Quem lhe disse que quero morar com você?
Os seus olhos... – falou Aioria se aproximando. – A sua boca... o seu coração. – concluiu ele, beijando-a.
Vê se assume o que você quer dizer
Eu já decidi o que eu quero fazer.
Julian contava sobre a Europa enquanto Shiryu dirigia. Já havia visto duas casas, mas nenhuma agradou o recém-chegado, tanto, que ele resolveu se hospedar num hotel e continuar a procura no outro dia. Shiryu contou a Julian sobre sua vida, sobre a família e Julian parecia ser um bom ouvinte.
E o pior de tudo, - contava Shiryu. – É que o Seiya resolveu viajar com uma desconhecida agora, uma tal de... de...
Shunrei! – gritou Julian.
Não, mas é parecido.
Não, estou falando dessa moça aí na frente.
Moça? – Shiryu olhou para a frente e viu um garota na rua, não teve como desviar, enfiou o pé no freio, fazendo ele e Julian serem empurrados para trás.
Shunrei cai no chão. Shiryu e Julian saem do carro.
Oh! Meu Deus! Ela está... está...
Desmaiada. – concluiu Julian.
Graças a Deus! – falou Shiryu suspirando de alívio.
Shunrei... – chamava Julian, tentando reanimá-la. – Shunrei, você está bem?
Eu... – balbuciou meio tonta abrindo os olhos. - Julian! – gritou Shunrei levando um susto.
Sim, sou eu. Você está melhor?
Eu, acho que sim.
Acho melhor levarmos a moça para o hospital. – sugeriu Shiryu.
Não, não é necessário. Mas gostaria de pedir um favor...
Pode pedir, moça, eu me sinto na obrigação de ajudá-la.
Podem me levar nesse lugar? – perguntou Shunrei com a voz fraca mostrando um papel.
Claro. – falou Shiryu olhando o papel... – Espera, eu conheço esse Clube... Não é esse o endereço.
Tem certeza? – perguntou Julian.
Sim, eu faço esgrima lá. E se você estava indo para lá, Shunrei, é esse o seu nome, não? – ela confirma com a cabeça. – Pois é, você está muito longe de lá.
Mas como...
Não se preocupe, eu a levarei lá. – disse Shiryu muito prestativo.
Pois eu estou muito cansado e vou para o Hotel. – falou Julian.
Você se importa de passarmos no hotel antes? – perguntou Shiryu como se a acidentada fosse sua patroa e ele apenas o motorista.
Não, deixe. Eu vou de táxi. Não tem problema, leve Shunrei até o tal Clube.
Se você não se importa mesmo...
Você não sabe muito bem onde ir
Não tente me confundir.
Bom dia, chefe! – cumprimentou Hilda, fazendo Hyoga, que lia alguns papéis, olhar surpreso para ela.
Chefe? Então o seu pai deixou? – falou ele com um sorriso na cara.
Sim!
Que bom! – falou Hyoga, os dois se abraçam muito felizes, mas logo percebem o erro e se distanciam. – Desculpe. – disse ele.
Eu é que peço desculpas!
Bem, mas acho que se você quiser já pode começar. – falou Hyoga tentando mudar de assunto.
Ah! Claro. – concordou Hilda, que demorou alguns segundos para lembrar do que Hyoga falava. – É, acho que devo começar.
Certo. – falou ele passando a mão pela nuca. – Podemos começar por estes papéis, - falou o empresário enquanto pegava uma pasta verde. – são documentos de extrema importância e...
O telefone toca, fazendo Aioria e Marin se afastarem rapidamente. Ambos olham atônitos para o outro. Marin desvia o olhar, o telefone continua tocando insistentemente. Marin passa por Aioria e atende o telefone.
Oi... Poderia me ligar mais tarde, querida, é que estou com um problema aqui... – a voz do outro lado fala alguma coisa e Marin solta uma risada fraca. – Eu ligo mais tarde então, tchau.
Problema? – perguntou Aioria.
Temos que conversar. – fala ela ignorando a pergunta anterior.
Finalmente você admitiu! – comemorou.
Aioria, esse não é a hora e muito menos o lugar, mas essa conversa é urgente. – falou Marin se encaminhando para sua poltrona e sentando-se. – Por favor, sente-se. – pediu ela apontando para uma das cadeiras em frente a sua mesa.
Não sou um de seus clientes, Marin. – disse Aioria com tom severo.
Fique de pé, então! – suspirou. – O meu maior erro, Aioria, não foi ter me apaixonado por você, ou ter tido uma filha dessa nossa relação, o meu erro maior foi não ter conseguido segurá-la perto de mim, ter deixado que a levassem de mim. Desde o dia em que a tiraram de mim até o nascimento do Ikki eu não sorri, eu chorei todas as noites, todos os dias, e mesmo depois do nascimento dos meus cinco filhos eu ainda me sentia incompleta, eu sentia a falta dela o tempo todo e ainda sinto. – lágrimas escorriam pelo rosto de Marin. – Eu só serei completa quando eu puder abraçar a minha filha! A minha filhinha!
A nossa filha! – Aioria ajoelhou-se frente a Marin e a abraçou. – Nós vamos encontrá-la e seremos uma família...
Não! Você não entende, Aioria? Jamais seremos uma família! – gritou Marin, que soluçava de tanto chorar.
Saori olhava a paisagem pela janela do carro. Queria conversar com Seiya mas não sabia como. Achou melhor esperar a hora do almoço. O carro andava em alta velocidade e isso a preocupava. Seiya, até agora, dirigira calmamente, apesar da pressa de ambos em chegar a Casa do Sol.
Seiya começou a se sentir mal, estava indo muito rápido pela estrada e talvez por isso estivesse tão tonto, diminuiu a velocidade. Saori, notando que ele estava estranho, perguntou se estava tudo bem com Seiya, que respondeu que sim. Passaram mais alguns quilômetros, sempre em silêncio. Talvez tenha sido aquele silêncio indesejado que estivesse lhe fazendo mal. Piorava, era melhor parar.
Seiya porque parou o carro? – perguntou Saori muito preocupada.
Eu acho que estou meio cansado ainda. – respondeu ele respirando fundo.
Seiya... – sussurrou a cigana. Ela olhou em volta do carro, nada nem ninguém, apenas eles dois e a estrada.
Saori pare de me olhar assim como se eu fosse morrer. – reclamou fazendo com que ela baixasse a cabeça.
Não era minha intenção. – disse a garota, saindo do carro e andando até uma parte do grande campo que cercava a estrada.
Saori. – gritou ele, também saindo do carro. – Me desculpe. Eu fui grosso...
Seiya, quem é a tal garota que você procura? – perguntou ela, Seiya se manteve em silêncio, apenas baixou a cabeça. – Me diga, Seiya! Quem é ela? – insistia a cigana num tom inquisidor.
Você. – respondeu ele num sussurro quase inaudível.
Prove! – pediu Saori.
Seiya andou até o carro e pegou seu livro, enquanto caminhava na direção de Saori, ele contava qual era a sua única recordação do que aconteceu naquele dia.
Depois que nos beijamos e você saiu correndo, só o que eu achei foi uma flor, o único vestígio seu. Eu guardei esta flor nesse livro. – Seiya tossiu. – Eu procurei em um livro de botânica antigo que achei em casa e o nome da flor é... – Seiya cai ajoelhado no chão e tossindo muito, o livro cai e se abre na página onde ele havia guardado a flor, Saori se ajoelha para ajudar Seiya e fica paralisada ao ver a flor.
Dracena! – Saori diz ao ver a flor no livro. – Seiya! Você está bem?
Estou. Eu me sinto melhor agora. – Seiya olhou para sua amada e sorriu.
Como eu não percebi...
Schii! Saori! – disse ele fazendo sinal para que a garota não falasse. – Eu tentei te contar, mas...
Mas eu não quis escutar! Como pude ser tão tola?
O que importa é que estamos juntos! Isso é tudo o que importa, estarmos juntos! – conclui Seiya, fazendo Saori sorrir, ele aproxima o rosto da cigana do seu e os dois se beijam.
Hyoga e Hilda trabalham silenciosamente durante toda a manhã. Pediram uma pizza na hora do almoço, para continuarem o serviço sem interrupções. Enquanto comem, Hilda conta coisas engraçadas sobre o acampamento, Hyoga a observa fascinado e não consegue nem disfarçar sua admiração por ela.
Eu analisei esses documentos mais recentes e eu acho melhor você dar uma olhada nesse contrato de patrocínio... – Hyoga a observava, Hilda estava compenetrada nos documentos, mas ele já não prestava atenção em nada do que ela lhe explicava. – Eu não achei nenhuma referência sobre essa penúltima cláusula do contrato. Não há mais nenhuma cópia desse documento?...Hyoga?
Hã? Ah! Claro... – respondeu ele vagamente. – Mas você devia ter pedido isso para a secretária do escritório, ela que é encarregada disso.
Hyoga, você anda meio distraído... aconteceu alguma coisa? – perguntou Hilda muito preocupada.
Não, mas pode acontecer... – respondeu Hyoga misteriosamente.
Como assim?
É que... Nada, Hilda, nada...
Tem certeza? – insistiu a assistente.
Não! – falou Hyoga beijando a cigana.
Quer chuva? Deixa rolar
Afinal as nuvens estão ou não estão carregadas?
Shun sentou num canto na hora do recreio, já havia feito algumas amizades, mas preferiu ficar sozinho naquele dia, escutando seu discman. O rapaz ficou sentado em uma mesa no canto da cantina, de olhos fechados, balançando a cabeça e cantando baixinho. Passados alguns minutos, Shun lembrou-se que precisava ler um livro para a aula de literatura e aquela era a melhor hora, abriu os olhos e quase caiu da cadeira ao ver June sentada à sua frente fitando-o.
June?
Sim? – falou ela rindo. – O que foi? Te assustei? Desculpa, mas é que você estava tão lindo escutando música...
Que isso... – disse Shun ficando vermelho.
Tirei até uma foto com o meu celular.
Eu não sabia que você tinha celular...
E não tinha mesmo! Comprei hoje, se meu pai descobre me mata! – contou June. – Alguém naquela casa tem que se integrar a tecnologia! – afirmou a garota entusiasmada.
June, você é única! Não existe no mundo alguém igual a você! – falou Shun rindo.
Sabe, Shun... eu gosto de você... gosto muito... – confessou a estudante dando um beijo no colega.
Saori e Seiya descansavam deitados embaixo de uma árvore, a cigana ria enquanto ele contava alguma coisa engraçada de seu passado. Estavam abraçados, e agora, mais do que nunca, Saori sabia que seu lugar não era andando de um lado para o outro com sua família, mas sim com Seiya, em qualquer lugar do mundo, mas ao lado de quem ela tanto ama. Entendia, naquele momento, que ambos não viram a verdade por comodidade, para continuarem fugindo, para não enfrentarem a verdade de que finalmente a busca havia acabado.
Você tem vontade de olhar mas não abre seus olhos.
Marin finalmente parara de chorar, contara tudo o que acontecera após Aioria ir embora, deixando-a grávida. Ele também contara o que lhe havia acontecido durante esse tempo todo em que estiveram separados. Enfim, esqueceram as mágoas, tudo estava explicado, justificado. Mas Marin ainda sentia um aperto no coração. Sentia-se amparada pela presença de Aioria, e já não lhe incomodava sua insistência em se reaproximar. Pensou em como seria se achasse a sua filha e tanto ela quanto Aioria fossem morar em seu luxuoso apartamento junto com seus filhos, "uma família, um lar completo". Mas ela sabia que não existia essa possibilidade em sua vida.
Você tem vontade de amar mas não abre seus braços.
Julian chegou no hotel, estava cansado, mas ainda não podia dormir, precisava ligar para o acampamento, saber notícias de sua noiva. Como Saori podia ter feito aquilo com ele? Ultimamente ela andava estranha, notara o recém-chegado, mas não pensou que seria capaz de fugir. Ele a amava, lembrava-se de quando partiu para a Europa, lembra daquela menina tão misteriosa e quieta, e ao mesmo tempo tão feliz e espontânea. Julian amara Saori desde pequeno e sentia-se muito feliz por poder casar com quem ele tanto amava, sabia que entre os de sua raça, aquilo era algo muito raro. Só o que queria era encontrar Saori e se casar com a amada, precisava dela, da sua presença e de seu carinho, ele não abriria mão de sua noiva, de sua única felicidade.
