O amanhecer de um longo dia: O Adeus de Kikyou

Kagome acordou...

Sua visão, ainda embaçada pelas horas de sono, revelava o dia que ainda não nascera

Esticou seu corpo vagarosamente se espreguiçando enquanto a vista se adaptava a pouca luz do ambiente...

Ela olhou em volta... Havia um rapaz deitado ao lado dela, o rosto sereno de quem se entrega aos sonhos que a noite traz

Longos cabelos negros desciam por seu corpo e ocultavam um pouco de sua face... Ao seu lado uma velha espada...

Kagome sorriu...

Passara tanto tempo buscando por aquele rapaz que quando ele surgiu diante de si não o reconheceu...

Sim ele era a sua alma, era seu coração!

Fora por ele que ela voltava, não pelo humano, não pelo hanyou, mas pelo dono de seu coração... Inuyasha!

Ela afastou o cabelo que caia pela face do rapaz, que inclinou a cabeça ao sentir o suave toque das mãos da jovem...

- Kagome...- ele a chamou por entre um suspiro e a jovem não sabia se ele estava acordado ou se sonhava

- Estou aqui...- ela disse como se consolasse uma criança que no escuro procura a mãe

Ele sorriu e suas mãos buscaram o corpo de Kagome através da escuridão da caverna e , ao senti-la, a puxou para junto de si...

Kagome se aninhou nos braços de Inuyasha que afundou o rosto em seus seios respirando profundamente todo o aroma que eles traziam

- Adoro o seu cheiro- ele disse antes que seus lábios se colassem na boca da menina sob quem agora estava deitado

- Eu adoro você...- ela disse e riu assim que o beijo parou e ela pode tomar ar...

- Tem certeza?

Inuyasha estava deitada sobre Kagome, com uma das mãos alisava o rosto da jovem, com a outra ele se apoiava no chão, de modo que podia olhar diretamente nos olhos dela...

- Você duvida?- ela acariciava aquele rosto que ela amava tanto

- Daqui a pouco... eu...eu voltarei a ser... voltarei a ser um...

- Voltará a ser o meu Inuyasha! E é você que eu amo!

Um novo brilho surgiu nos olhos do rapaz que se inclinou para um beijo possessivo e apaixonado

Os primeiros raios de sol romperam no horizonte

Kagome podia sentir os caninos crescendo novamente na boca que a beijava...

As garras voltaram ao seu tamanho normal e agora ele as usava para aranhar, delicadamente, o corpo da jovem que se arrepiava a cada toque

Os músculos tornaram-se mais rígidos

Seu hálito tornou-se ainda mais morno...

Ela abriu os olhos e viu olhos cor de âmbar a encara-la...

- Me diz...- ele pediu em um rouco sussurro

- Eu te amo! Te amo meu Inuyasha...

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Uma mulher usando trajes de sacerdotisa atravessava um campo de flores rodeado por montanhas que pareciam tocar o céu.

O dia já amanhecera há algum tempo, no entanto o ar ainda trazia o frio da noite.

Ela montada em um cavalo seguia só levando consigo apenas seu arco e flecha e uma Jóia presa em seu pescoço.

Cavalgava próxima a uma elevação rochosa que exalava o cheiro da mata coberta pelo orvalho que ainda não secara.

Um vento frio soprou e a jovem sacerdotisa, com um movimento nas rédeas, fez o cavalo parar

- Quem está aí? Apareça! - a voz da sacerdotisa soou forte por toda a extensão do vale, mas durante alguns segundo a única resposta que obteve foi o farfalhar do vento nas flores

- Impressionante! Você conseguiu perceber a minha presença...

Uma suave voz, como a de uma criança doce e meiga, surgiu carregada pelo vento. No entanto, apesar da suavidade a voz era fria e indiferente, como a da própria sacerdotisa quando era criança

- Você não parece ter tido nenhum trabalho de ocultar a sua energia... Portanto apareça logo de vez, seja quem for...

Diante da sacerdotisa uma pequena menina surgiu, de longos cabelos brancos da mesma cor do vestido, seus olhos, tão frios, refletiam a própria sacerdotisa que olhava para ela. Ela trazia um espelho redondo em seu colo, que no entanto, não mostrava reflexo algum.

- Não imaginei que fosse necessário... Me enganei...- apesar de confessar um erro a pequena criança não mostrava nenhum sinal de arrependimento ou de que realmente tivesse errado- Esperava por você, Kikyou.

Kikyou olhou para a menina que estava diante de si, e por um momento duvidou que realmente se tratava de uma criança.

- Vejo que sabe o bastante sobre mim... Mas quem é você?

- Eu não sou importante, sou apenas uma mensageira- a doçura mais uma vez não foi capaz de esconder a frieza da voz- Narak me mandou para busca-la, venha comigo...

- Ah... O Narak mandou?- os lábios de Kikyou desabrocharam em um irônico sorriso- Diga a ele que se quiser venha pessoalmente e não mande uma criança...

Kikyou montou novamente em seu cavalo e passou pela menina, seguindo seu caminho

A criança se virou, observando a sacerdotisa que, lentamente, se afastava dela...

- Poque você não fala pessoalmente?- a voz daquela criança mais uma vez ecoou pelos campos floridos, fazendo com que a sacerdotisa se voltasse para ela...

Kikyou por um momento não entendeu as palavras daquela menina, mas logo depois um forte luz, que parecia emanar daquele espelho que ela trazia, a cegou por alguns instantes...

Quando tornou a abrir os olhos Kikyou viu que, apesar de não haver dado um passo sequer, já não estava mais no campo.

Tudo ao seu redor se tornara vermelho e trazia o cheiro da morte...

Ela estava de pé, o chão, antes repleto de flores, era agora cinza e ossadas de animais e de serem, que ela não ousava imaginar a que espécie podia pertencer, eram vistas no chão...

"Onde está meu cavalo?" Mas logo não conseguia mais raciocinar com a ânsia de vômito que se apoderava de ser corpo e o medo que dominando sua alma parecia haver alterado o pulsar de seu coração, que agora batia, desesperado...

- Kikyou... Fico feliz que tenha vindo, minha filha

Kikyou se voltou para o local de onde vinha aquela odiosa voz, e se deparou com Narak sorrindo diante de si

- Pois não deveria ficar, papai...- ela tentou ignorar as voltas que se estomago dava, e apesar da irônia de sua voz, não pode impedir que ela tremesse ao sair de sua garganta.

- Ah... Mas eu fico, e você não faz idéia do quanto... E vejo que me trouxe um presente- ele disse olhando fixamente para a Jóia que a sacerdotisa trazia no pescoço

- Trouxe um presente sim, mas não o que você está pensando... Ah não! Eu trouxe o seu fim...

- Meu fim? Você trouxe o meu fim?

Narak riu, sua gargalhada cada vez mais crescia, parecia agora estar em todo os lugares, como se ele estivesse em tudo, como se ele fosse tudo...

Kikyou sentiu sua cabeça doer terrivelmente ao som daquele riso

- Acha mesmo que trouxe o meu fim? Acha mesmo que pode me matar...

Kikyou sabia a resposta... E infelizmente ela sabia que a resposta era não! Jamais seria capaz de derrotar aquele monstro! Jamais seria forte o bastante para isso...

Ela segurou fortemente a Jóia de Quatro Almas...

"Eu devia... Devia ter deixado a Jóia na aldeia... Mas agora é tarde... É tarde demais... Meu Deus, se eu soubesse... Se eu soubesse. Mas agora, não há nada o que eu possa fazer, a não ser morrer protegendo a Jóia, ou..."

- Vejo que agora percebeu do quão insignificante é seu poder diante de mim... No entanto você ainda tem duas opções: Ou pode me entregar a Jóia ou pode morrer por ela... A escolha é sua! Mas imagino que nenhuma te agrade muito, não é minha filha?

- Está enganado, ainda tenho uma terceira escolha... Posso destruir a Jóia, assim eu frustraria todos os seus planos...

- É se você fizesse isso poderia me atrapalhar bastante... Mas o que te faz pensar que eu te deixaria ir tão longe?

Os olhos de Narak brilharam e apesar de tentar, Kikyou não pode reagir aquele ataque...

Todo o corpo da jovem miko tornou-se duro como uma estátua de pedra, ela tentava respirar, mas era cada vez mais difícil. As lágrimas que rolaram congelaram em sua face, como todo o restante do seu corpo. Ela pode sentir, sua mão endurecer em torno da Jóia que tanto guardava...

- Vejo que não pode se mexer...

Narak caminhou lentamente em direção a Kikyou... Acariciou sua face estática.

Apenas os olhos da miko pareciam poder se mexer em suas órbitas, acompanhando o movimento do homem que caminhava em sua direção. Os olhos revelavam o horror que a jovem trazia em seu coração, que cada vez mais se endurecia.

Kikyou sentia-se sufocar...

Ela ia morrer, ia morrer!

- Eu poderia te obrigar a me entregar a Jóia...- a voz de Narak soou ironicamente mansa

Ao ouvir isso, a mão de Kikyou se abriu revelando a Jóia que ela tentara proteger...

Queria gritar...

Queria fechar novamente as mãos, mas seu corpo não obedecia...

- Se eu fizesse isso, poderia ter a Jóia mas eu não teria o que eu quero. Assim...- Narak passou a mão por sobre a mão de Kikyou que se fechou novamente-... deixarei a Jóia aos seus cuidados mais algum tempo...

Dizendo isso Narak lançou uma bola de energia contra o estático corpo da miko que foi lançado longe.

Ao tocar o chão Kikyou sentiu o ar enchendo seus pulmões e finalmente pode respirar.

Seu corpo estava extremamente ferido pela explosão de energia que teve que suportar. E agora, apesar d poder novamente mover-se, não tinha forças suficiente sequer para levantar a cabeça e ver o que estava acontecendo ao seu redor...

Sentiu seus cabelos sendo puxados, e, ao abrir os olhos, viu o rosto de Narak bem junto ao seu...

- Eu poderia deixa-la morrer aqui, mas isso também não me serviria de nada...

Dizendo isso toda a energia sinistra que os envolvia se dissipou e mais uma vez eles voltaram ao campo coberto de flores onde estavam... E lá, uma menina parecia pacientemente esperar por eles...

- Já acabou?- a doce voz da menina soou indiferente, mas isso não surpreendeu Narak

- Não... Ainda não, Kanna. Mas está preste a terminar...

- Você vai deixa-la aqui? Com a Jóia?

- A Jóia ainda não está pronta... Vamos deixa-la aqui, tenho certeza de que em breve a encontrarão e então eu terei a Jóia.

Narak desapareceu

Kanna olhou para o corpo inerte da miko, mas logo desapareceu também...

Kikyou não podia se mexer, todo o seu corpo fora gravemente ferido e era pouco provável que ela sobrevivesse mais do que um ou dois dias...

As lágrimas ainda rolavam por sua face...

"Eu falhei..."

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Inuyasha, Kagome, Sango, Mirok e Shippou seguiam.

Sango, Mirok e Shippou seguiam montados em Kirara

Inuyasha corria veloz pelos campos trazendo Kagome em seu colo...

Kagome olhava para os amigos, todos tinham o semblante sério de quem vai para a batalha final...

Sim, todos os seus amigos haviam decidido lutar ao seu lado e essa talvez fosse a última vez em que caminhariam todos juntos...

Ela tentava conter as lágrimas que pareciam queimar seus olhos... Não podia chorar... Não agora em que todos precisavam ser fortes...

Parecia que fora há muito tempo que havia acordado nos braços de Inuyasha e, no entanto, fora apenas há algumas horas...

O tempo parecia correr veloz, como o próprio Inuyasha que corria em busca de Kikyou!

Ela se lembrava, será que tinha acontecido tudo agora ou há muito tempo, não sabia dizer, o tempo parecia tão confuso diante de seus olhos... Seu coração estava tão apertado que não sabia se haviam passados minutos, dias ou horas desde que tinha acordado... Tanta coisa acontecera e, no entanto, o sol sequer estava alto no céu... Se lembrava de voltar para a aldeia...

Kaede chorava... Até então nunca vira sua mãezinha chorar...

Ela falava... Falava rápido demais...

Tudo acontecia rápido demais...

Sango pegava suas armas...

Todos os homens da aldeia selavam os cavalos...

Havia tantas vozes que ela não podia distinguir quem falava o que...

- Kikyou partiu para lutar

- Kikyou levou a Jóia de Quatro Almas...

- Precisamos dete-la...

- Ela foi lutar contra Narak

- Narak? Mas esse é o nome do assassino da minha mãe...

- Narak é o nome do homem que amaldiçoou a minha família com o buraco dos ventos..

- Narak é o nome do monstro que destruiu a minha aldeia e levou meu irmão

Os cavalos estavam sendo selados

Armas...

Tantas armas...

Inuyasha furioso gritava maldição

Sango clamava por justiça

Mirok fazia uma oração por vingança e liberdade

Estavam todos unidos pelo ódio...

"dio...

Era tanto ódio...

Sua cabeça doía...

Parecia que o ar faltava em seus pulmões...

Parecia que seu coração não conseguia mais bater...

Era tudo vermelho a sua volta...

Tudo cheirava a morte

- Kagome você está bem?

- Vamos! Precisamos correr...

- Vamos na frente!!! Kirara pode nos levar e Inuyasha vai seguir o rastro de Kikyou que ainda está fresco

- Kaede, nos siga com os homens, mas deixe alguns para cuidar da aldeia...

Sinto uma dor atravessar o meu corpo e então não sinto mais nada

Inuyasha me pegou no colo...

- Kagome, o que está acontecendo com você? Precisamos partir...

- Eu também vou...

Shippou se lança em meu colo... Ele chora

"Ah Shippou, você também? Não! Fica, por favor, fica..."

- Você é tudo o que eu tenho!!!

"Meu bebê... Meu irmão, meu filhinho..."

- Vamos Shippou... Vamos juntos até o fim!

Foi o que aconteceu...

E agora?

Agora estamos lado a lado...

Cada um traz seu motivo dentro do peito... Mas lutamos juntos...

Será que isso está acontecendo realmente?

Sinto uma energia dentro de mim....

Algo mudou... mudou em mim... Parece que eu assisto a tudo o que acontece... Parece que estou fora do meu corpo e então retorno!

Sinto... Meu corpo sente...

Era tudo vermelho e a dor..

Era tanta dor...

Algo despertou em mim e agora eu sei...

Sei que esse é o começo do fim!

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- Inuyasha pare!!!

A voz de Kagome ecoou por um campo de flores rodeado por montanhas que pareciam tocar o céu.

O sol estava forte naquela manhã.

- Kagome, o que foi?- Inuyasha perguntou enquanto colocava a garota no chão. Mirok e Sango desceram da Kirara e se juntaram a eles- Você está estranha... Mas precisamos seguir... Precisamos encontrar a Kikyou!!!

- Kagome o Inuyasha está certo...- Sango olhava para a amiga, que parecia muito abatida aquela manhã- Mas... Você realmente não está se sentindo bem...

-Eu... eu.. já vi esse lugar

- O que a senhorita quer dizer com isso?- Mirok perguntou calmamente. Shippou estava dependurado em seu ombro e parecia preocupado. Ele pulou para o colo da Kagome

- A Kikyou ela... ela está...- Kagome olhou ao redor, eles estavam próximos a uma elevação rochosa. Ela olhava atentamente, como se buscasse reconhecer algo,como se procurasse algo, e então,encontrou...-Oh meu Deus! Olhem! - Kagome se desesperou com o que viu.

Inuyasha olhou para onde a menina apontava e se deparou com Kikyou ferida e caída no chão, seu corpo banhado pelo seu próprio sangue...

Eles correram em direção a Kikyou, Inuyasha foi o primeiro a alcançar o corpo da jovem miko, a erguendo no colo, ele olhou para a grande sacerdotisa, a mulher capaz de derrotar youkais que nem mesmo 100 homens eram capazes de derrotar. Essa mulher estava caída, derrotada. Quem poderia ter tanto poder para fazer isso?

Ela parecia haver enfrentado um grande inimigo. Segurava firme em uma das mãos a jóia de Quatro Almas

Kagome, Mirok, Sango, Kirara e Shippou alcançaram Inuyasha

- Inu... Inuyasha?- Kikyou ainda matinha seus olhos fechados, era impossível saber se ela chamava por Inuyasha ou sonhava com ele.

- Ali em frente tem uma caverna, vamos nos esconder lá - Mirok se aproximou dos dois, apontou para a elevação que havia próxima a eles.

Inuyasha não respondeu, não conseguia pensar em nada além da mulher que ele tinha nos braços, na mulher que ele não fora capaz de proteger, e levando Kikyou se dirigiu para a caverna.

Inuyasha colocou Kikyou deitada no chão da caverna, aproveitou alguns galhos que estavam pertos e fez uma pequena fogueira mas que foi suficiente para iluminar o local.

Kagome ajoelhou-se ao lado da irmã, tentava limpar seu rosto todo sujo de sangue.

Kikyou acordou, parecia confusa, mas no entanto, estava fraca demais para se levantar... Permaneceu deitada viu Kagome a sua frente, e um pouco afastado, Inuyasha.

Sango e Mirok estavam na entrada da caverna, junto com Kirara e Shippou

- O que vocês fazem aqui?- ela perguntou, sua voz trazia a dor e o desespero, já não conseguia falar direito e tinha que se esforçar até mesmo para respirar

- Quando voltamos para a aldeia soubemos que você tinha partido, Inuyasha seguiu seu cheiro... Você não esta sozinha Kikyou... Essa luta contra o Narak também nos pertence.

- Idiotas, ele e muito mais forte do que vocês imaginam...

- Sei disso- Inuyasha que se mantivera calado ate então se aproximou- Sei muito bem, um simples youkai não conseguiria te ferir desse jeito, e alem do mais, não se esqueça que foi esse maldito que matou a minha mãe... Ele com certeza e qualquer coisa, menos um fraco.

Kikyou calou-se, sabia que tinha ouvido o nome, Narak, em algum lugar, mesmo antes de o conhecer, agora se lembrara de onde... Fora ele quem matara a mãe de Inuyasha. Mas, muito mais do que isso, aquele monstro era seu pai.

- Acham que eu fiz isso por vocês?- A voz de Kikyou soava irônica

- Como assim?- Kagome não era capaz de entender a ironia na voz da irmã, onde estava a graça em todas essas lutas? Em todas essas mortes?

- Eu vim atrás do Narak porque desde o começo ele esta me usando... Seja para me fazer odiar a Kagome, ou seja, para me fazer mata-la. Sinceramente queria saber porque ele estava me manipulando. Eu não aceito ser usada por ninguém.

- E descobriu?- Kagome não podia conter essa pergunta... Porque esse tal Narak a odiava tanto a ponto de querer vê-la ser morta pela própria irm

- Porque se a jóia de quatros almas fosse maculada com o seu sangue, ela jamais poderia ser purificada novamente...- Kikyou tentava se levantar, apesar de seus ferimentos mas não conseguiu. Ela pensava que mais uma vez a culpa era dessa menina, culpa de sua maldita alma...

- Mas como assim? Você sempre poderá purificar a jóia

- Sua tola- Kikyou parecia sorrir- acha mesmo que eu posso purificar a jóia que foi corrompida pelo sangue da reencarnação da sacerdotisa que deu origem a jóia... Você não e capaz de entender

- Mas isso e impossível...- Kagome não entendia, ela sabia que ser sacerdotisa era o seu destino, mas encarnação de quem?

Kikyou olhou com ódio para a irmã, já era hora de revelar toda a verdade...

-Há muitos anos atrás, uma grande sacerdotisa iniciou uma luta contra os youkais, ela era Midoriko, durante a luta a alma dessa sacerdotisa se fundiu com as dos youkais e de seu coração puro surgiu a jóia de quatro almas- Kikyou parou, falar lhe doía... O ar faltava, mas precisava continuar- A jóia passou a ser protegida pelas mulheres de nossa família. Um dia minha mãe, Kiyone, estava com Kaede quando surgiu um youkai, elas foram protegidas por uma estranha energia, era a alma da sacerdotisa Midoriko, que voltou com a intenção de reencarnar... Nove meses depois você nasceu

- Você quer dizer então que a Kagome e a reencarnação da Midoriko?- Sango que até então se mantivera afastada se aproximou, trazia a kirara, agora transformada em uma pequena gatinha, em seu colo

- Mas como? A Kagome, bem... ela não possui poder algum... Mal é capaz de se defender...

Inuyasha estava incrédulo, não era possível Kagome...

-O Mirok está certo... isso e impossível, eu não possuo nenhum poder espiritual!!!

Apesar da dor Kikyou deu uma gargalhada

- Quando nasce uma mulher em nossa família a mãe deve passar a criança à incumbência de proteger a jóia, caso esse ritual não seja feito a jóia poderá consumir a mulher que zela por ela. Mamãe fez esse ritual quando eu nasci, mas com você... - Kikyou já não mais sorria, seus olhos se transformaram em duas pedras de gelo cheias de ódio- Mamãe morreu!!! Assim Kaede e as outras mulheres da aldeia acharam que seria melhor selar o seu poder e me deixar ser sacerdotisa, já que nossa mãe fez o ritual quando eu nasci... Deram-me o maldito destino que deveria ser seu!

- Kikyou?...- Kagome chorava, ela olhava para a irmã ferida, podia agora entender o porque da irmã lhe odiar tanto, ela não apenas matara sua mãe, como também roubara a vida de sua irmã... Agora sim podia entender o motivo de tanto ódio... Seu nascimento amaldiçoara a vida de Kikyou. E agora Kikyou estava ferida, morrendo e mais uma vez a culpa era sua. Por sua culpa, por culpa de sua alma a Jóia de Quatro Almas existia... De certa forma ela era a origem ed todo aquele mal...

- Kikyou, eu entendo a sua dor, mas...- Inuyasha olhava para as duas mulheres a sua frente, tão parecidas, mas tão diferentes, uma com o coração repleto de ódio, a outra cheia de alegria de viver.

- Não você não entende, você não poderia entender.- Kikyou interrompeu Inuyasha, ela chorava, era a primeira vez que permitia que Kagome a visse chorando.

Ela chorava, não por tristeza, não por dor, mas de raiva, de ódio... Odiava a irmã... Odiava as malditas mulheres da aldeia que lhe deram aquele maldito destino... Odiava...

Odiava sua mãe por ter morrido

Odiava pensar que nascera simplesmente para servir de instrumento para que o monstro do Narak pudesse obter a Jóia de Quatro Almas...

Sempre a maldita Jóia, aquela que era sua vida e representaria a sua morte. Aquela jóia que era o coração de Midoriko... O coração de Kagome.

Kagome que olhava tudo quieta ate então, não pode conter as lagrimas.

- Kikyou- Kagome abraçou o corpo ferido da irmã, era a primeira vez em muitos anos que fazia isso, Kikyou tentou se esquivar, mas estava fraca demais, se permitiu se abraçada era a primeira vez desde que a sua mãe morrera que aceitara o colo de alguém- Eu queria te pedir perdão, mas não tenho coragem, não tenho coragem porque sei que você jamais poderá me perdoar por haver roubado a sua vida.

Kagome se distanciou da irmã e a olhou com carinho, respeito e admiração.

-Durante toda a minha vida eu quis ser como você, durante toda a minha vida busquei um destino em que eu pudesse me adequar- Kagome chorava, e sorria, um sorriso triste de quem finalmente consegue encontrar o seu destino, seu destino que fizera com que sua irmã a odiasse - mas eu juro... Juro que você terá o seu destino de volta... Juro que você será feliz

- Agora e tarde demais para isso, Midoriko!!!- uma voz surgiu da entrada da caverna

Kagome gelou ao ouvir essa voz, ela olhou para a entrada da caverna e lá estava...

Sango e Mirok colocaram-se na frente de Kagome e de Kikyou, mas Narak arremessou para longe seus corpos...

- Me desculpem, mas essa luta não pertença a vocês...- Narak falava com Mirok e Sango que tentavam se levantar...- Mas, aqui está algum divertimento para vocês...

Ao dizer essas palavras um menino surgiu detrás de Narak... Ele usava uma armadura, tinha os olhos opacos e sem vida. Estava cercado por grandes insetos parecidos com abelhas...

- Kohaku, meu irmão... É você?- a voz de Sango tremia de emoção... Ela reconheceria aquele rosto em qualquer lugar... Não importasse quantos anos passassem... Era seu irmãozinho

- Oh... Que comovente, um encontro de família!!! Senhor Monge?- e virando para Mirok continuou- Também tenho um presentinho para você!!! Espero que se divirta com meus insetos venenosos...

Narak mais uma vez riu enquanto que Kohaku se lançava em uma desesperada luta contra sua própria irmã e Mirok lutava contra os insetos venenosos.

Inuyasha segurava Kikyou em seus braços, ele tinha o olhar carregado de ódio por aquele maldito homem que parecia disposto a destruir tudo o que ele amava... Tudo o que ele tinha!

Kagome se levantou. Algo a impulsionava, ela foi andando em sua direção, era aquele o homem que havia matado a mãe de Inuyasha, foi ele quem fez sua irmã tentar mata-la, aquele era Narak.

-Narak! Seu maldito...- Kikyou se esforçou e ficou de pé se apoiando em Inuyasha. Apesar da dor de seus ferimentos, apesar da fraqueza que sentia, seu ódio a forçava a ficar de pé... Não, não podia ser fraca diante dele... Não podia ficar ajoelhada diante dele... "Eu ainda sou uma sacerdotisa... Você jamais me verá ser fraca"

-Olá... Miko- Narak olhava para Kagome- Eu queria que o seu sangue fosse derramado pela sua própria irmã, a minha doce filha Kikyou, isso daria um brilho especial a jóia, mas já que não foi possível...

- O que você quer dizer com isso? A Kikyou é sua filha?- Kagome estava espantada, sua irmã era filha de um demônio- Isso que dizer que eu também...?

- Não... Você foi um erro do destino, não deveria ter nascido, mas posso dar um jeito nisso, agora mesmo...

Das mãos de Narak surgiu uma imensa bola de energia

-Kikyou fique aqui- Inuyasha colocou Kikyou sentada em um canto e sacou a tessaiga, ele olhava para a imensa bola de energia nas mãos de Narak, e correu para frente de kagome... não sabia se conseguiria deter toda aquela energia, pela primeira vez em sua vida sentia medo

Narak juntou todas as suas forças naquela imensa bola de luz, nela havia o poder dos inúmeros youkais que compunham seu corpo, lá estava todo o ódio que alimentava a sua alma.

Ele lançou a bola de energia contra os Inuyasha e Kagome.

Inuyasha usou a Tessaiga para se protegerem, a espada recebeu todo o impacto do golpe mas mesmo assim não fora suficiente para bloquear a energia, o poder de Narak era grande demais, Inuyasha e Kagome foram lançados contra a parede no fundo da caverna.

Inuyasha acordou, estava muito ferido, suas vestes que sempre o

protegeram foram rasgadas, seu corpo manchado de sangue, olhou em volta, de um lado Kagome inconsciente, do outro A tessaiga quebrada...

- Com o que você irá se proteger agora, meio-youkai?- Narak ria e se preparou para lançar uma nova bola de energia, agora nada poderia impedi-lo de derramar o sangue da jovem sacerdotisa

Inuyasha conseguiu se ajoelhar, olhou para suas mãos vazias, não tinha nada para se proteger, olhou então para Kagome, ela estava tão indefesa. Ele fechou os olhos e se deitou sobre ela, não possuía mais nada para protege-la além de seu corpo já ferido demais para lutar, ele só podia ficar com ela, afinal.

Inuyasha percebeu uma forte luz vindo em sua direção, apertou seu corpo contra o de Kagome e fechou bem os olhos, iria morrer.

Uma forte luz iluminou toda a caverna. Com certeza narak usara todo o seu poder. Esse era o fim...

Inuyasha abriu os olhos...

- Eu ainda estou vivo?

Então ele virou-se para a direção de onde viera o golpe que deveria tê-lo atingido

Inuyasha olhou em volta... Viu a expressão de surpresa estampada na face de Narak.

Sango e Mirok, continuavam lutando, cada qual com seu inimigo, ambos estavam demasiadamente feridos, e apesar do golpe de Narak também os ter atingido um pouco, eles permaneciam de pé.

Caída em uma canto da caverna estava Kikyou... Então ele finalmente compreendeu...

Kikyou apesar de ferida se lançara na frente do golpe e protegera Kagome e Inuyasha. Seu corpo foi lançado para longe indo contra a parede da caverna.

Inuyasha tentou andar até onde estava Kikyou mas não conseguia, com todos os seus ferimentos era impossível andar, arrastou-se então, ate onde estava o corpo da sacerdotisa.

- Kikyou, porque? Porque você fez isso?- Inuyasha chorava, ele olhava para a primeira pessoa que havia se aproximado dele, apesar de ser um hanyou.

- Eu só consegui sobreviver a esse maldito destino, porque eu tinha você... Você que sempre foi tão diferente de mim, você tão sozinho quanto eu... Seria muito doloroso perder você também...

Kikyou chorava, as lágrimas que rolavam pela sua face pareciam purificar seu coração. Ela sorria...

- Eu fiz muitas coisas das quais não me orgulho, cultivei sentimentos tão feios que até tenho vergonha de pensar no tipo de pessoa que eu fui...- Kikyou falava devagar...- O único sentimento puro que tive em toda a minha vida foi por você... Eu te amo... Te amo- fechou então os olhos pela ultima vez

Inuyasha abaixou a cabeça e chorou no colo de sua Kikyou

Kikyou... Você foi a primeira pessoa a me aceitar como sou, não um humano, não um youkai, você com seu jeito sempre frio e distante, foi a primeira pessoa a me mostrar que eu não era o maldito que pensava ser... E eu sequer fui capaz de te proteger, minha amiga...

- KIKYOU!!!- Inuyasha soltou um berro, um uivo selvagem que surgiu de dentro de seu coração ferido.

Kagome acordou com o grito, viu Inuyasha chorando sobre sua irmã... Morta.