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CAP: I – V... de vingança.

Mais uma noite comum em Nova York. Ty fazia a ronda sozinho depois de ser parceiro de Faith por quase seis meses. Sully tinha sido transferido de departamento temporariamente e Bosco estava em uma força tarefa da qual ninguém sabia nada, e não se tinham notícias, em um outro Estado.

Faith era uma boa parceira mas, convivendo com ela, ele pôde ver que Bosco tinha razão às vezes. Ela era controladora, muito maternal, chegando a sufocar quem estava com ela. Muitas vezes Ty desejou ter a coragem do outro e ir fazendo as coisas do jeito dele, obrigando-a a acatar. Mas na hora 'H' ele sempre desistia em nome da boa paz e convivência.

Conhecera a família dela e foi lá muitas vezes nesse tempo. Fred era um sujeito chato, falava mal do Boscorelli na maior parte do tempo, embora ele próprio concordasse com muitas coisas. Charlie, o filho mais novo, era adorável. Se davam muito bem e este era o contrário do pai: idolatrava o ex-parceiro da mãe. Emily, a filha mais velha, era temperamental. Detestava o trabalho da mãe e ele... embora nunca tivesse feito nada contra ela. Nada...? bom, ele tinha prendido o tal Erik, namorado dela, por posse de entorpecentes e ele acabou no presídio, já que não era réu primário, para aguardar o julgamento em liberdade.

Estava prestando atenção nas ruas quando seu celular tocou.

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Emily estava sozinha no apartamento. Tinha acabado de falar com Erik, que ainda estava preso. Ambos determinados a por em prática um terrível plano, maquinado contra o policial que os tinha separado. Mantinham seu namoro em segredo e somente se falavam quando não tinha ninguém em casa para ouvir. Faith estava no trabalho fazendo serviço administrativo nos últimos dias e por informação de confiança, sabiam que Ty estava sozinho com as ocorrências. Ela pegou o telefone e discou um número.

"Alô... Ty?"

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Ty chagava ao apartamento de Faith, não tinha reportado nada para a central porque Emily disse que era um assunto particular e urgente. Duas palavras que ele jamais poderia mencionar ao sargento Jason Cristopher, senão ia ter problemas. Não fazia a menor e mais vaga idéia do que a adolescente poderia querer dele, já que não se davam bem, na verdade ela até o evitava.

A porta estava entreaberta, o que fez Ty estranhar. Tirou a arma do coldre antes de empurrar a porta, entrou com cuidado. Emily estava na cozinha, usando um pijama minúsculo.

"Desculpe entrar assim, mas a porta estava aberta." – disse ele, quando ela o notou, embora não demonstrasse nenhum susto ou surpresa com outra presença dentro da casa.

"Tudo bem. Quer um refrigerante?" – respondeu ela, empurrando um copo para ele.

"O que você queria?" – perguntou ele, enquanto tomava o conteúdo do copo sob os olhos atentos da garota. Que não respondeu a pergunta.

Depois de algum tempo em silêncio ela começou a agir de modo estranho. Atrás do balcão da cozinha ela pegou uma garrafa de vinho, tomando o líquido diretamente do gargalo, e em seguida falando, fazendo com que o líquido se derramasse sobre sua roupa, sujando a blusa. Ty sabia que aquele comportamento era estranho, não bastasse isso, ele próprio começava a se sentir estranho. Quando menos esperava ela o agarrou, forçando um beijo que terminou por machucar seu lábio inferior com uma mordida. A blusa dela, suja da bebida alcoólica sujava a farda dele, impregnando-a com o cheiro.

A garota agia como se estivesse bêbada ou drogada, agora agredindo-o com socos. Ty não sabia o que fazer. Como ele ia lidar com a filha de sua parceira? Ela o arranhou com força no braço, fazendo-o sangrar, enquanto rasgava as próprias roupas.

Ele a segurou com força pelos pulsos, fazendo-a começar a gritar desesperadamente, se debatendo para se soltar. Quando se viu livre ela correu, ele ia em direção a porta, buscar por alguém que pudesse olhá-la enquanto pedia socorro aos paramédicos, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa ela o golpeou na cabeça com um taco, fazendo com que Ty caísse desacordado.

Emily olhou orgulhosa de sua obra. Tinha que ser rápida. Com um lenço puxou a arma do policial, deixando-a sobre o balcão desajeitadamente, com a coronha voltada para o lado de dentro da cozinha, e colocando algumas gotas de vinho no copo onde ele tomou o refrigerante com o comprimido que ela tinha dissolvido.

Quanto ao hálito de bebida, durante o beijo ela enchera a boca dele de vinho... não seria problema. Ao perceber a vizinha entrando, retornou a gritar, correndo e se trancando no banheiro. A pobre senhora, horrorizada, olhava a menina seminua correr assustada e o policial no chão.

"Chame a polícia!" – Emily gritava do banheiro. A senhora atendeu prontamente o pedido. Em pouco tempo policiais, paramédicos e detetives estavam lá.

Ty se lembrava de ter sido acordado por Carlos e, embora tonto, sabia que aquele olhar não significava nada de bom. Havia policiais em todo lugar e quando tentou se mover percebeu que estava algemado à maca. Olhou em volta, deparando-se com Faith e Fred, olhando-o furiosamente.

"Tyrone Davis Júnior, você esta preso por invasão de propriedade, agressão e estupro da menor Emily Yokas. Tem direito de permanecer em silêncio, tudo o que disser pode e será usado contra você no tribunal. Tem direito a um advogado, se não puder pagar por um o Estado de Nova York nomeará um defensor público. Tem direito à um telefonema...".

Aquelas palavras ecoavam em seu cérebro. Alguém estava lendo os direitos dele! E ele estava algemado, encarado pelos demais como se fosse um criminoso. Faith e Fred olhavam para ele como se desejassem matá-lo. Não conseguia pensar, articular uma frase sequer.

Em silêncio, ainda chocado com a quantidade de informações , ele foi examinado pelos médicos, colhendo amostras de sangue a pedido dos detetives e sêmen. Ia passar a noite na cadeia, foi uma prisão em flagrante.

Emily se recusava a fazer o exame. Tinha se enfiado embaixo do chuveiro logo que a vizinha entrou, para eliminar qualquer prova que devesse estar ali. Ficou lá até que a mãe invadiu o banheiro abraçando-a carinhosamente. O plano tinha dado certo. Ty havia sido preso, seus pais acreditaram sem problemas, havia detetives fotografando a casa toda. As roupas sujas e rasgadas, marcas no braço mais evidentes, cheiro de álcool na boca, além dos goles que tomara para um possível exame de sangue. Ela 'estava' traumatizada e não queria fazer exame de corpo de delito – reação perfeitamente compreensível. Queixa crime feita... sucesso.