Agradeço as reviews recebidas, colegas Sadie e Juni. Espero que a história continue se mantendo interessante aos olhos de vocês.
Post. 2/11
GARE: aquelas guias de recolhimento de taxa em repartição pública, na gíria policial propina, suborno.
CAP II – De onde menos se espera – parte I
Dois dias depois:
Ty estava fazendo o possível para ser mantido longe dos outros detentos depois de arrumar uma briga. Ele sabia que esse era o único jeito de conseguir um tempo na solitária, e se manter inteiro. Tinha medo de ser lançado junto dos demais por dois motivos: um, ele era policial; dois ele era um 'estuprador'. Duas coisas que o "código de ética dos prisioneiros" abominava.
Nunca se sentiu tão só em toda sua vida. Recostou-se contra a parede da pequena cela que ocupava, o lugar escuro e fétido, deslizando até o chão, abraçando os joelhos. Permitiu-se chorar em desespero, solidão, medo. Até que saísse sua liberdade provisória ele teria que ser forte, embora sobreviver fosse o termo mais adequado.
Pensou no quanto sua mãe pareceu triste no princípio, mas provou-se determinada a provar sua inocência. Talvez ninguém acreditasse nele! Será que ele acreditaria se visse uma cena assim? Esse pensamento era opressor, como provar que não tinha feito nada quando ele próprio reconhecia que a cena tinha sido bem montada?
Um guarda da prisão, passou em frente à sua cela, mandando-o sair. Sabia que por ser policial tinha direito a ficar longe dos outros prisioneiros, mas mediante uma pequena 'GARE' alguém esquecia desse detalhe ...
Hoje não era seu dia de sorte, esta parecia tê-lo esquecido. Foi enviado para uma cela onde, para seu azar, um dos ocupantes era alguém a quem ele tinha prendido. Engoliu em seco quando observou os três sujeitos enormes com quem estaria. Virou-se para o guarda:
"Escuta, eu não posso ficar com eles aqui..." – disse num tom de quem quase implora por ajuda, ao que o outro deu de ombros.
"Acho bom você ficar calado... um já sabe quem você é... quer que todos saibam o que fez? Vão se divertir a noite toda com você." – disse isso de forma prazeirosa, como se o divertisse ver o outro ficar pálido, quase branco.
"Você não pode me deixar aqui! Por favor!" – Implorava ele, quando um dos detentos se aproximou.
"E aí, bonitinho?" – disse ele, com uma voz muito grave, quase parecendo um urro aos ouvidos do policial.
"É melhor responder... sua mãe não te deu educação, não? Se vai passar tempo aqui, é melhor fazer umas amizades logo. Senão vai ter muito mano querendo "conversar com você", entende?" – dizia um ao fundo da cela, com um sorriso medonho, e aparência não menos repugnante.
Mas foi o terceiro sujeito, um baixinho, meio narigudo, que estava sentado calado a figura que mais o assustou com o comentário:
"Sabe, o Big urso aí? É... esse altão, alemão do seu lado?" – Ty olhava para o gigante alemão, o primeiro que falara com ele. – " Pois é... sabe por que ele tá aqui? Matou três policiais... ele tem uma coisa contra os gambé... um deles matou o filho dele, porque mirou errado."
Ty engoliu em seco. Já tinha ouvido falar daquele cara, tinha sido preso no Brooklin. Ficou com calafrios só de pensar no que podia acontecer com ele se o outro abrisse a boca. E então o baixinho continuou:
" O "abre lata" aqui..." – dizia ele, referindo-se ao de dentes horrorosos – " tá aqui por que roubou uma loja dessas 24 horas... mó mané! E eu..."
Ty sentiu seu coração parar de bater ao som daquelas palavras. Olhou assustado em volta, deslizando pela parede da cela.
"Eu, tô aqui e o por quê você sabe, né policial. Foi tu que me meteu aqui! Não preciso de apresentação. Ou errei?" – O maior dele o olhava com raiva. Aquando bateu um dos punhos fechado contra a palma da mão, o estômago de Ty quase saltou pela boca.
"Ele é gambé?" – Perguntou o outro.
"É...da mesma delegacia do Boscorelli! Outro que eu quero pegar!" – Disse o baixinho. "Esse mundo é pequeno... né não" – falou imitando um sotaque caipira. Ty estava calado, encostado contra a parede da cela, não sabia o que fazer para se defender, não tinha para onde fugir ou se esconder. Ficou assim, até que toda sua esperança de encontrarem-no se foi.
No instante em que a luz geral foi apagada, mal teve tempo de se defender da surra que levava, enquanto outras mãos mais atrevidas e imundas o violentavam. Foi arrastado até o canto da cela, onde havia um vaso sanitário, e teve sua cabeça enfiada lá por muito tempo, antes que puxassem a descarga, era retirado e colocado novamente, durante minutos que pareciam horas, seu fôlego acabando, o corpo doendo pela surra, até que a tortura acabou... aquela parte, pelo menos.
Foi atirado ao chão, recebendo chutes e socos de todo parte. Não era um cara fácil de se derrubar, mas naquele instante rezou para que fosse um fracote. Se tivesse desmaiado logo não passaria por isso. Gritava por socorro, mas ninguém respondia, muito pelo contrário, tudo o que ouvia eram gritos pedindo que o matassem e risos.
Naquela hora ele sentiu uma forte pancada na nuca, que o deixou tonto, no chão. Foi quando sentiu suas calças serem arrancadas, tentou gritar, mas a voz não saía, estava fraco para se defender do que fariam com ele, e então não sentiu mais nada.
Apenas lembrava-se de acordar, na manhã seguinte na enfermaria, o corpo doendo, embora essa não fosse a pior, O pior de tudo era a dor em sua alma, pagar por algo que não fez, ver aqueles que se diziam seus amigos darem-lhe às costas, sem saber o porquê. Não saber o que mais fizeram com ele quando perdeu a consciência, embora a 'boa notícia, se assim poderia chamar, era de que nada fora feito. Ao que parece, quando perdeu a consciência acabou com a diversão deles, e antes de acordar foi encontrado por um dos carcereiros, já era alguma coisa.
Bosco chegada a Nova York depois de quase seis meses longe e numa rápida aparição no distrito soube de parte da história sobre Ty Davis. 'Como é? Ty estuprou uma garota?' – pensou ele incrédulo. Foi quando começou a sentir dentro de si, algo que há anos não sentia. Aquele sentimento de que algo não se encaixa, o cheiro de algo podre no ar, algo que o fazia se sentir pequeno, oprimido, como se soubesse o que estava por vir. Era uma história difícil de acreditar, embora todos, sem exceção, estivessem contra o policial, até mesmo Sullivan.
Foi até o apartamento de Faith. Ela não estava de serviço naquele dia. Sempre foi a mais cerebral ali dentro, talvez ela pudesse contar melhor o que houve. Bateu na porta, e sentiu um estranho arrependimento corroê-lo por tê-lo feito. Ela estava triste, seus olhos brilharam ao vê-lo.
"Bosco!" – disse ela surpresa.
"Oi Faith." – foi o que ele teve tempo de dizer antes de ser envolvido num abraço apertado.
Novamente foi tomado por aquela sensação. Ela não era dada a essas demonstrações, foram raras as vezes em que se tocaram de forma tão carinhosa.
"Tudo bem?" – questionou ele, mas no fundo temia a resposta.
"Já ouviu sobre o Davis?" – perguntou ela.
"Já. O que aconteceu, você sabe?" – perguntou ele, ainda parado na porta.
"Foi ele, aquele desgraçado!" – respondeu ela com a voz dura, demonstrando mais ódio do que qualquer outra coisa.
"Faith!" – Bosco estava estranhando aquele tom. Ela nunca falou de ninguém assim.
"Foi a Emily! Ele atacou a minha filha!"
Bosco não sabia o que dizer, apenas deixou sua boca aberta até que sentiu que estava parecendo um idiota, só que outra vez aquela coisa o incomodava.
"O que? " – não conseguia articular uma frase sequer. Não podia acreditar no que ouvia, e há tempos não se sentia tão confuso. Jamais deixou de acreditar em Faith, mas aquela história o atormentou de algum modo, despertando um sentimento esquecido.
"Bosco, foi minha filha! Quando nós chegamos ele estava desacordado no chão da minha sala, a arma dele estava sobre a bancada da cozinha, a Emily estava trancada no banheiro. Foi horrível" – Faith chorava como ele nuca a vira chorar antes.
"Tem certeza de que foi ele?" – se arrependeu de fazer essa pergunta, no instante em que ela se afastou dele, com um brilho de ódio nos olhos.
'Será que ele está duvidando de mim?' – pensou ela. "O que você quer dizer com isso?" – perguntou indignada. – "Acha que minha filha mentiu sobre isso? Bosco! Eu esperava essa dúvida do Sullivan, que era parceiro dele, mas nem ele duvidou. Logo você, que viu a Emily crescer!"
"Calma Faith! Eu só quero dizer que pode não ter sido... que pode ser outra pess..." – ele tentou dizer, antes que ela começasse a gritar histérica:
"Cala a boca! Bosco! Eu não acredito que você está duvidando. Eu achei que você fosse meu amigo."
"E eu sou!" – aquilo era demais, duvidar da amizade dele!
"Não, não é! E eu não quero mais falar com você!" – Disse ela, empurrando-o porta afora.
Emily ouvia tudo de seu quarto. Charlie estranhava o ar de satisfação de sua irmã ao ouvir os dois discutindo. Bosco se recusava a sair, queria que ela o escutasse.
"Tem algo errado nisso, Faith, o Ty que nós conhecemos não faia isso."
"Nós nunca conhecemos ninguém. Eu achava que isso era impossível, achava que você sempre estaria do meu lado, mas me enganei, eu não te conheço, do mesmo jeito que você não o conhece, mas o defende. Ele estava drogado quando veio aqui!"
"Mais uma coisa estranha!" – ele tentava se defender, ao mesmo tempo que tentava defender o outro. Por que estava fazendo isso? Arriscando uma amizade antiga por alguém a quem ele pouco conhecia? A única coisa que sabia era que se sentia satisfeito em fazer isso.
"Você não estava aqui nos últimos seis meses. Não sabe de nada! Vá embora! Ele obrigou minha filha a tomar uma garrafa de vinho!" – dizia ela.
"Você sabe que sua filha tem problemas com drogas, não negue isso." – Faith se sentiu ofendida. Ao passo em que ele se arrependeu de ter dito.
"Tá dizendo que culpa é dela? Tá acusando minha filha de ser de ser alguma vadia que se oferece para os policiais amigos da mãe? Que ela causou tudo isso?" – Havia algo de ameaçador no tom dela.
"Não, só estou dizendo que pode não ter sido exatamente assim. Tem algo errado."
Naquele momento Emily teve um mau pressentimento, mesmo com a mãe defendendo-a e gritando com o parceiro, provavelmente ex-parceiro agora, as palavras que ela ouvia ele dizer, sobre descobrir o que estava havendo, e a resposta de sua mãe dizendo que ele não descobriria um elefante branco a dois metros dele a deixaram insegura sobre toda a coisa, ela sabia que o Bosco era o tipo que se fazia de morto para dar soco em coveiro. Ele, de tapado não tinha nada, era teimoso e determinado.
Ouviu o tapa que sua mãe deu no rosto dele antes de bater a porta com força.
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Sábado continua... com certeza. Aguardo as reviews de vocês amigas!
Beijos da Kika-sama
