Agradeço as reviews recebidas, e espero que a história continue sendo do agrado de vocês. Como vão perceber, neste capítulo, eu retomo a minha obsessão com o personagem do Bosco sendo advogado. Acho que eu me recuso, inconscientemente, a aceitar que ele seja tão estúpido quanto parece no seriado!

Sadie... aqui eu começo a desfazer o nó que você comentou na review passada. Chegou a pensar em alguma solução?

Juni... Que legal! engenharia. Nunca me interessei muito porque só tirava 5 em matemática quando colava! Um desastre só! Mas faça o que eu digo e não o que eu faço: Fique longe da faculdade de Direito. Aquilo é uma máquina de fazer doido!

Post . 3/11

CAP III – De onde menos se espera – parte II.

Ty estava preso há alguns dias, o tempo parecia passar de forma diferente lá dentro, ele não sabia mais há quanto tempo estava lá, apenas que se parecia com a eternidade. Se o purgatório era assim ele ia ser um bom menino e ir logo para o céu.

Passou alguns dias na enfermaria, mas o próprio médico disse que não era um lugar seguro para ele, sendo policial, ele corria risco em qualquer parte daquela prisão.

Não conseguia liberdade provisória. Na tarde anterior ele tinha recebido a visita da mãe, Maggie tinha se assustado com o estrago que a surra tinha feito nele. O lábio inchado, o olho roxo, corte no supercílio, fora outros que ela se recusava a acreditar que pudessem ter sido feitos. Nenhum de seus ex – colegas de trabalho tinha ido visitá-lo. Sentiu-se esquecido. Cada hora passada lá dentro ele perdia mais a esperança de provar sua inocência, afinal, ele era o policial negro que atacou uma menina branca. Sua mãe havia contratado um advogado que falava muito, mas não fazia nada. Ty achava-o um ótimo... incompetente. A palavra parecia tatuada na testa dele e sua mãe não via isso, se iludia com as coisas que ele falava.

Ele se lembrava de alguma coisa que tinha lido no Código Penal uma vez, para um exame, mas a lei no papel era uma coisa, e sua aplicação era outra, totalmente diferente. Ele não entendia e seu advogado parecia lhe fazer companhia nesse barco à deriva em que estavam. Todos os presos já sabiam quem ele era e o que tinha 'feito'. Era questão de tempo até virar 'mulher' de toda a cadeia. Ninguém se importava. A aproximação de um guarda penitenciário o tirou de seus deprimentes pensamentos.

"Tyrone Davis Júnior, você tem uma visita."

'Eu tenho' – pensou ele. Sua mãe estava no trabalho a essa hora, quem seria?

Passou pelos corredores ouvindo piadinhas dizerem que o "namorado dele tinha vindo visitar".

Ao aproximar-se sentiu seu sangue gelar. Seu ilustre visitante era Maurice Boscorelli, que o encarava de forma estranha. Provavelmente o condenaria pelo que 'fez', ele vira Emily crescer, era o melhor amigo da mãe dela, adorava os filhos dela e não tinha um gênio muito amigável.

Bosco o olhava em silêncio, Ty devia se sentir pior do que aparentava. Ele não parecia se sentir culpado. Já tinha visto muitos presos, das duas uma: ou ele andava de cabeça erguida por não ter feito nada, realmente; ou, se fez, não se arrependia e era um psicopata. E isso Bosco acreditava que ele não era. Tudo que Faith havia dito não fazia sentido. Sabia que ela era mãe, e era normal ela se sentir desesperada, por isso compreendia a atitude dela. Mas era justo condenar alguém sem dar direito à defesa? Fosse qualquer outro, talvez ele respondesse que "sim", mas algo dentro dele gritava para que fosse cauteloso quanto ao prévio julgamento e raras foram as vezes em que sentiu isso, e esse era o maior motivo dele estar ali, naquele momento. Seus sentimentos conflitavam : queria acreditar em Emily, mas recusava a acreditar que Ty pudesse tomar uma atitude dessas. Havia algo errado. Levantou-se da cadeira onde esteve sentado até então, no momento em que o outro se aproximou.

Ty o olhava como se procurasse ler alguma coisa em sua expressão, no seu comportamento. Sabia que ele não passaria pela segurança armado, então não levaria um tiro, o que já era um alívio. Mas a contrário senso do que imaginou não havia qualquer hostilidade nele. Muito pelo contrário, ele estava sério, confuso. Aproximou-se mais e os dois se sentaram num silêncio desconfortável. Bosco foi o primeiro a dizer algo.

"Diz que não foi você."

"O que?" – aquela pergunta o pegara de surpresa. Era a primeira pessoa que questionavam sem dizer "foi você?" .

"Diz que não fez o que estão falando." – Parecia óbvia a resposta que ele queria. Ty era um cara honesto demais para mentir para alguém que o olha cara a cara.

"Por que quer ouvir isso? Todos acreditam que eu fiz. Até o Sully. Ninguém se importa."

"EU quero saber." – Não dava para ser mais claro.

"Não. Não fiz, Boscorelli." Ty estava sendo ríspido. Por que todos tinham que duvidar? E a idéia de "inocente até que se prove o contrário?" - Tinha se acostumado com a desconfiança. O outro estava calado, olhando para baixo. Deu um suspiro longo. – "Tá feliz?" – questionou Ty irônico.

"Não sei." – Aquilo era mau, se ele negava com tanta convicção então Emily tinha mentido ao acusá-lo. O que era pior: deixar alguém ser condenado por algo que não fez ou perder a única grande amizade que ele tinha, alguém a quem ele prezava mais do que qualquer coisa, inclusive sua própria vida. "Se você não fez nada... por que não conseguiu liberdade provisória?"

"Você se importa?" - Ty não parecia se importar com as dúvidas que trituravam a mente do outro. A verdade era que estava cansado de ser questionado por isso.

"Difícil de acreditar , por que sou eu?"

"Bom... é!" – Ty estava desconcertado ao ver o olhar compreensivo que recebia do outro, a educação que ele vinha demonstrando até aquele momento, ao invés dos maus bofes de costume. Não era o que ele esperava e ele não sabia como agir.

"Vai parecer incrível se eu disser que acredito em você, que eu acho que a Emily mentiu?" – Bosco falou sinceramente.

"Isso ia deixar você em maus lençóis com a Faith." – respondeu Ty.

"Já deixou. Eu fui até a casa dela e nós brigamos." – Bosco parecia triste ao dizer isso.

"Sério? Sinto muito cara." – Ty sabia o quanto ela significava para ele, agora estavam brigando por causa dele? Onde o Bosco estava com a cabeça? Naquele instante lembrou-se que o policial tinha um certo desprezo por estupradores. Por que ele estaria ali dizendo tudo isso, sobre acreditar nele, se realmente não fosse verdade? – "É sério mesmo que você acredita em mim?"

"É tão incrível assim?" – Disse o outro sorrindo pela primeira vez. – "Eu fui na casa dela e perguntei se de repente você não tinha ido lá atender uma ocorrência e foi nocauteado, mas antes de terminar a pergunta levei um cacho de banana ."

Era a primeira vez que Ty notava a marca avermelhada no rosto dele. "Não foi nada disso, eu..."

Naquele instante a mãe de Ty, Maggie, chegava acompanhada por um homem jovem, de terno e gravata. Ela olhou friamente para o rapaz que conversava com Ty.

"Por que vocês não o deixam em paz?" Começou ela, nervosa. – "Já dissemos que ele não fez nada e não vai falar sobre isso!"

"Não... mãe!" – Ty tentava acalmá-la antes que ela batesse com a bolsa no outro.

"Como não Ty! Todos que vem aqui te acusam... você não cansa?"

"Calma mãe. Esse é o Boscorelli. Trabalhamos juntos algumas vezes. Nós estávamos conversando. Conversando, só isso. Calma." – dizia ele fazendo sinal para que a mãe se acalmasse.

"Ele é policial?" – Maggie perguntava, intrigada com a expressão que o outro fazia.

"É sim. Calma... que foi Bosco?" – ele perguntava, observando a mesma coisa que a mãe.

"Tô na dúvida se já posso cumprimentar sua mãe ou se ela vai me bater, como a minha faria." – respondeu ele, fazendo o que podia para disfarçar o riso. Maggie estendia a mãe ao rapaz, percebera que estava sendo muito mau educada.

" Desculpe, mas é que... Eu não sabia. Tanta coisa aconteceu, e aquela mulher, Faith... ai como eu a odeio. Ela e aquela vadiazinha que acusou o Ty..."

"MÃE! A Faith foi parceira dele nos últimos 10 anos." – Disse Ty, tentando contornar a situação.

"Desculpe, mas é verdade!" – disse ela, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Não se arrependeria do que havia dito, não tinha motivos para isso.

"Eu entendo. Olha, a Faith só está fazendo o papel de mãe. Mas eu não vim aqui prá acusar o Ty, e nem defender a Faith, nem sei se tenho motivo prá isso. Só quero saber o que aconteceu."

"Mas se você e ela são amigos..." – Disse Maggie, não entendendo o que se passava na cabeça do policial, como se ele próprio soubesse...

"O Ty também é meu amigo até onde eu sei. Não acredito no que a Emily disse, por mais que me doa, não acredito."

"Mas eu fui acusado..." – constatou Ty.

"Injustamente, certo! Foi o que você me falou quando eu perguntei. Ty eu quero acreditar nisso. Briguei com a minha melhor amiga por sua causa. Não que eu esteja te cobrando alguma coisa..."

"E você pode acreditar, ele é inocente" – Interveio Maggie.

"Eu sei, mas é preciso provar isso, senão você tá ferrado."

"Isso foi o que eu disse, mas a situação é ruim." – Interveio o janota pela primeira vez.

"Ahn... desculpe. Esse é nosso advogado, Dr. James Farrel."

Bosco o olhou por instantes. Ele era inseguro, muito inseguro. Um panaca com licença para advogar. 'Alguns deviam fazer consultoria interna. Esse cara deve sentar e chorar numa sustentação oral' – pensou ele. Após as apresentações o advogado virou-se para Ty e disse:

"Estamos com problemas."

"Mais?" – Ty não confiava nele, mas agora não era tão ruim, pelo menos Bosco estava do seu lado.

"Ahn... se quiserem eu saio." – disse Boscorelli apontando para fora.

"Não Bosco, senta aí. O que é dessa vez?"

"Tivemos mais um pedido de liberdade provisória negado. Eu já disse que a situação é ruim, você não ajuda, não aceita o acordo da promotoria, não dá prá negar que seu exame de sangue acusou substância tóxica, nem as marcas no pulso dela. Aceite o acordo. Se não fizer isso eu desisto. Não vou arruinar minha carreira assim. Eles não vão conceder a liberdade provisória."

Ty sentiu seu sangue gelar com aquelas palavras... não suportaria mais uma noite lá. No momento em que soube que o outro acreditava nele já sentiu vontade de chorar, queria falar com ele sobre o que estava acontecendo, queria alguém para desabafar.

"Desculpa...mas por que não?" – Bosco não podia mais se segurar.

"Por que ele é considerado perigoso e foi suspenso da polícia até o julgamento. E para que se conceda liberdade é necessário que ele tenha emprego lícito."

"Mas ele tem, a suspensão da polícia não quer dizer que ele não é mais policial." – retrucou Bosco, como se fosse óbvio seu pensamento. – "Além do mais, para conceder a liberdade provisória não pode ter antecedente criminal, ele não tem, tem que ter emprego fixo e legal, ele tem só não está ativo no momento, e residência fixa, ele também tem. Qual o problema?"

"Quer me ensinar?" – o advogado começava a ficar irritado.

"Alguém tem que fazer isso. Você não sabe nada." – Bosco estava começando a provocar. Ty e Maggie não entendiam o que estava acontecendo.

"Como? Quem você pensa que é?" – James se irritou com o comentário daquele sujeito.

"Alguém que sabe que se a liberdade provisória não é concedida e não tem uma justificativa coerente, e que se a integridade física do preso corre perigo – e nós sabemos que é isso por que ele é policial – a decisão negativa é prova para um HC."

"HC?" – questionou o advogado.

"Habbeas corpus? Já ouviu falar? A liberdade é garantia constitucional preservada, blá, blá blá..." – Ty não entendia nada do que estava acontecendo, sempre achou que o Bosco fosse um cara estranho, mas assim já era demais.

" Você se acha o espertinho. Acha que sabe tudo." – provocou o outro.

"Quem sabe..." – respondeu ele deslizando uma identificação de advogado da ordem até o outro, que já o olhava com novo respeito, o número de ordem dele era bem mais antigo que o seu, perto dele James era um recém formado. Quase 10 anos de diferença.

"Cara! Onde você se formou?" – Questionou Ty olhando o documento.

"Em Yale. Mas já faz tempo." – respondeu sem dar atenção ao espanto do outro.

"E por que está na polícia?" – Aquilo era estranho, quem com um diploma e com a cara de pau dele ia estar na polícia sem ser delegado ou coisa assim?

"Perdi a fé no sistema jurídico. Pelo menos, na polícia, eu sei que o trabalho é feito. Olha Ty, se quiser eu posso te ajudar, mas sem ninguém saber, claro."

"Quando foi que você se formou?" - Ty estava boquiaberto, perplexo, chocado e outras expressões que denotam falta de ação.

"Quando estava no exército." – respondeu simplesmente.

"Bosco... você pode mesmo me ajudar sem se complicar com isso aqui?"

"Posso. Só que você tem que manter o seu advogado, porque é ele quem vai assinar as petições, certo. Meu nome não pode sair. Tem a ver com aquele trabalho na tal força tarefa nos últimos meses. Se meu chefe, o de verdade, descobre... eu vou ouvir durante um ano."

"E o que vamos fazer?" – questionou James. Estava empolgado com a idéia de trabalhar com um advogado que fazia trabalhos secretos para o governo. Não devia ser qualquer um...

"Agora... o James e eu vamos montar um HC e vamos no tribunal, antes do fórum fechar... detesto pegar plantonista. Depois a gente conversa."

Bosco saiu puxando o advogado pelo caminho. Era o fim do horário de visitas e Ty era recolhido de volta a cela. Será que as coisas iriam começar a mudar e sua vida?

cacho de banana: na gíria policial tapa no rosto (fuça) onde marcam os cinco dedos.

Pois é... a partir do próximo capítulo eu resolvo esse nó, e dou outros trinta, até o julgamento.

Beijos da Kika-sama