A Invasão

Nota:

Tudo que estiver entre *    * significa que o personagem esta falando a língua Kdar ou pensando em Kdariano.

K medida de tempo Kdariana:

§ 1 kx equivale a 1 segundo

§ 1 kr equivale a 1 minuto

§ 1 k equivale à 1 hora

Capítulo II – Verdades e Mentiras

Os humanos seguiram em direção as montanhas onde ficava o esconderijo da resistência. Eles caminharam cerca de 1 km, quando foram interceptados por um grupo de oito humanos armados, entre eles um rapaz com traços orientais, cabelos pretos presos em um rabo de cavalo segurando uma espada. Wufei ficou feliz em ver os amigos, pois após a captura deles, o restante do grupo, que havia invadido o campo de contenção L4, retornaram a base para se armar. Eles pretendiam atacar novamente o campo, em represália a captura dos humanos.

- Yuy, Barton, por Nataku, que bom vê-los. Como conseguiram escapar? E onde está Will? Eu pensei que estavam todos mortos, as informações que tivemos foi de que vocês haviam sido levado a nave mãe dos Kdarianos.

- Por que não voltamos para a base? Lá explicaremos tudo.

- Está bem, vamos.

Eles retornaram a base, que ficava escondida no interior de uma grande montanha, o acesso era difícil e imperceptível, a menos que se conhecesse a região. No conjunto de montanhas rochosas, havia uma entrada natural para o interior de uma grande caverna. O acesso era conhecido apenas pelos humanos da resistência, o que dificultava o trabalho dos Kdarianos em encontra-los. A existência de uma infinidade de túneis naturais dentro da montanha facilitava a entrada e saída da base, os túneis davam acesso a varias partes da região montanhosa. Muito dos túneis ainda não haviam sido mapeados completamente, mas os acessos principais eram sempre vigiados e guardados.

Havia um número considerável de humanos habitando as cavernas, aproximadamente quase duzentos humanos, e mais se uniam , cada vez que um campo de contenção era destruído. Mas nos últimos tempos, os ataques estavam se tornando cada vez mais difíceis e frustrantes, era como se os Kdarianos estivessem sempre os aguardando, como na investida ao campo L4.

Os Kdarianos estavam fortemente armados e em número superior ao previsto, sabiam exatamente onde e quando eles atacariam e quais os humanos estariam presentes ao ataque. Eles foram pegos de surpresa, antes que pudessem reagir. Havia um traidor entre eles. Alguém do grupo havia informado os Kdarianos sobre o ataque, dando a eles a oportunidade de contra atacar.

Wufei sabia que algo estava errado, assim que chegaram ao campo L4. A movimentação dos soldados continuava a mesma, mas algo dentro de si lhe dizia que alguma coisa estava errada. Eles observaram o campo por quase um mês, estudando estratégias para se infiltrar e destruir o campo, libertando o máximo de humanos possíveis. E quando ele ouviu os Kdarianos dizerem o nome de Heero, soube que eles eram aguardados, mas era tarde demais para recuarem.

Eles chegaram ao centro da base, onde funcionava a central da resistência. Eles haviam construído uma espécie de sala, com torras de madeira e aço. Heero dispensou o restante dos homens, ficando apenas ele, Trowa e Wufei, ele não queria se arriscar a contar tudo ao traidor, e como ainda não sabia quem era, quanto menos pessoas conhecessem a verdade, menores seriam os riscos. Ele conhecia Wufei há muito tempo e sabia que poderia confiar nele.

- Então, como vocês escaparam?

- Tivemos ajuda, inesperada, por sinal.

- Foi um Kdariano que os ajudou?

- Foi, Wufei, e não foi um Kdariano qualquer.

- E quem era ele?

- Dxmaell, o comandante das tropas Kdar.

- O quê? Por que ele os ajudaria? Foi por causa dele que nossa raça foi escravizada. Por causa dos Kdarianos, os humanos vivem em campos de contenção, só esperando o momento para servir de alimento.

- Eu sei Wufei. Também não sei o porque dele ter nos ajudado, mas isso é algo que pretendo descobrir.

******

Aleng e Tzen deixaram a terra em direção a nave mãe, estacionada atrás da lua do planeta. Eles esperavam que as ações realizadas, a pouco tempo, pudessem dar a terra uma esperança de vitória.

- * Tzen o que acha que o Conselho queria com Dxmaell? Eles não costumam convoca-lo sem motivos.*

- * Não sei, Aleng, mas o Conselho tem requisitado muita a presença de Dxmaell nos últimos meses. Alguma coisa esta acontecendo, algo que tem relação com Dxmaell.*

- * Acha que o Conselho desconfia das atitudes dele?*

- * Não sei, o comandante não costuma ser descuidado em relação a suas ações, mas também não é fácil ludibriar o Conselho, nem ignora-lo*

- * Quando nós chegarmos vou reportar a situação ao comandante, enquanto você verifica o que Arcom está planejando fazer em relação à fuga dos humanos*

- * O que você achou dos humanos Aleng?*

- * Não sei dizer. Eles parecem ser uma raça inteligente, apesar de pouco desenvolvida, e lutam pela liberdade deles, e diferente de algumas das raças que encontramos, eles estão resistindo bem até agora. A questão, é saber por quanto tempo eles irão resistir.*

- * Entendo. Estamos nos aproximando da nave. Veremos o que Dxmaell irá fazer a partir de agora*

- * Ponte, aqui é a nave de perseguição Py326, solicitando permissão para aportar*

- * Segundo comandante Tzen Kshda, foi autorizada a entrada de sua nave. O tenente Arcom aguarda informações sobre a perseguição aos humanos*

- * Obrigado ponte*

- * Não duvidava disso*

Tzen pilotou a nave, estacionando-a no lugar anterior, havia uma quantidade considerável de soldados na área de lançamento. Provavelmente estavam tentando descobrir como os humanos haviam conseguido fugir da área de aprisionamento e roubar uma das naves. Eles deixaram a espaçonave e caminharam para a área de checagem, para descobrir onde se encontravam Dxmaell e Arcom. Infelizmente, não precisaram procurar o último, pois assim que o mesmo tomou conhecimento de que a nave Py326 estava retornando, se encaminhou em direção à área de chegada, para interroga-los, antes que se encontrassem com Dxmaell.

- * Tzen e Aleng, o que tem a me dizer sobre a perseguição aos humanos?*

- * Pelo que sabemos não devemos explicações a você Arcom, mas a nosso comandante*

- * É verdade Aleng, mas eu sou o responsável pela recaptura dos fugitivos e como vocês saíram em perseguição aos mesmos, seria mais certo que vocês se reportassem primeiramente a mim.*

- * E de que informações necessita, tenente?*

- * Informações que me digam como os prisioneiros fugiram e como conseguiram pegar uma nave Kdar*

- * E por que meus homens teriam essa informação, Arcom?*

Ao ouvir a voz fria e cortante, Arcom soube exatamente quem era. Dxmaell sabia que ele tentaria interrogar seus oficiais assim que chegassem, mas apenas um tolo não teria previsto essa manobra, ainda mais depois do ocorrido na área de aprisionamento. Ele caminhou até os três e se colocou na frente de Aleng e Tzen que recuaram. Eles podiam sentir a energia de Dxmaell vibrando ao seu redor. Arcom também recuou, não apenas por causa da energia vibrando, mas pelo brilho frio de seu olhar; era como se sua energia fosse drenada pelo olhar dele. Dxmaell fechou os olhos por um instante e quando voltou a abri-los, eles estavam com a mesma cor exótica que sempre tiveram e sua energia parecia ter se acalmado.

- * Tzen, Aleng, relatório*

Sem desviar seus olhos de Arcom, Dxmaell perguntou, com sua voz fria, o resultado sobre a perseguição. Eles demoraram apenas alguns segundos antes de responderem, enquanto mantinham seu olhar sobre Arcom, que se controlava para não tremer na frente de Dxmaell.

- * Perseguimos a nave deles até o quadrante 969, quando disparamos uma rajada de energia em seus motores principais, mas uma cápsula de fuga foi acionada*

- * Acreditamos que os humanos possam ter sobrevivido à queda. Acho recomendável que seja enviada uma patrulha de busca ao local*

- * Hn. É o bastante, Arcom, ou pretende manter meus oficiais em custódia até que eles lhe dêem uma resposta favorável a suas dúvidas*

- * Não, é o bastante... por enquanto comandante*

Dxmaell e Arcom ainda se encararam por alguns minutos. Cansado do joguinho, Dxmaell bufou em aborrecimento e lhe deu as costas, sendo seguido pelos seus oficiais. Arcom esperou que Dxmaell se afastasse para colocar a mão sobre o peito e respirar mais tranqüilamente. Ele não sabia como, mas tinha quase certeza que Dxmaell havia drenado sua energia apenas olhando para ele. A forma como a energia dele vibrava, como um campo de força, o havia assustado. Não conhecia nenhum kdariano que pudesse fazer o que ele havia feito.

*****

- * De quem é essa energia?*

- * Que vibra com tamanha intensidade?*

- * Ela é muito poderosa, até mais do que nós*

- * Ela perturbou nosso padrão*

- * Poderia ser ele?*

- * Talvez, mas o padrão energético não é o mesmo*

- * Talvez devamos intervir enquanto ainda podemos*

- * Não, é melhor aguardarmos o momento certo. Não convém nos precipitarmos*

******

Os nervos de Dxmaell pareciam estar no limite. O encontro consecutivo com Arcom o tinha deixado irritado, a tal ponto, que ele não conseguiu controlar sua energia. Sentiu-a vibrar e se expandir dentro do corpo, chegando a irradia-la em todas as direções. Isso nunca havia acontecido antes: perder o controle sobre sua energia, de modo que ela subjugasse as energias ao seu redor. Ele sentiu que estava drenando a energia de Arcom através dos olhos, mas como isso era possível, pois as drenagens eram feitas apenas através do contato com as mãos. Haviam outras formas de drenagem, mas nenhuma que envolvessem o contato com os olhos.

Tzen e Aleng não sabiam ao certo o que havia acontecido. Dxmaell parecia perturbado e cansado. Eles estavam a ponto dizer alguma coisa, quando o comandante se pronunciou.

- * Tzen, você poderia descobrir o que Arcom está planejando fazer em relação à informação que vocês deram?*

- * Sim, comandante*

- * Aleng, você...*

- * Eu irei com você Dxmaell, não me parece muito bem, comandante, por isso eu o acompanho até sua estação.*

- * Tem medo que eu desmaie no meio do caminho?*

- * Não... eu tenho medo que você perca o controle sobre sua energia novamente*

Por um momento Dxmaell não soube o que dizer, então fez algo que não estava acostumado, sorriu. Aleng era seu amigo há muito tempo e o conhecia melhor do que ele mesmo. Aleng e Tzen ficaram surpresos com o sorriso de Dxmaell, pois ele ficava ainda mais belo do que já era. A beleza de Dxmaell era conhecida, admirada e invejada por muitos Kdarianos. Sua inteligência e força também, mas não tanto quanto sua aparência física. Apesar disso, ele parecia não se dar conta da impressão que causava nos outros, para dizer a verdade ele não se importava com a opinião que poderiam ter sobre ele. A única coisa que importava a Dxmaell era acabar com a destruição desmedida que sua raça provocava a outros povos. Dxmaell olhou para os dois Kdarianos a seu lado, ele não poderia ter escolhido melhores amigos.

- * Obrigado*

Tzen seguiu até o local onde poderia conseguir as informações que buscava, enquanto Aleng e Dxmaell seguiam em outra direção. Dxmaell caminhou até sua estação de descanso, acompanhado de Aleng. Assim que o amigo passou, ele fechou a porta atrás de si, o que fez o ambiente ser inundado de uma luz clara e suave. O ambiente em si não possuía uma decoração específica, como muitos Kdarianos costumavam manter. Para Dxmaell, ela representava apenas um lugar onde poderia descansar sua mente por alguns instantes, sem ser incomodado. Sua cabeça latejava e seu corpo doía, ele não entendia o porquê disso estar acontecendo. Seu corpo não deveria estar drenando energia, em um momento, e no outro estar sentindo a ausência dela. Ele deveria ser capaz de se restabelecer por si mesmo até o período de troca, no entanto, parecia que seu corpo estava sendo drenado, por alguma coisa ou por alguém, da mesma forma que ele havia feito com Arcom há poucos minutos.

Aleng pareceu notar a fraqueza de seu comandante e se aproximou, ajudando o amigo a se livrar das roupas e fazendo-o descansar. Ele pressionou um ponto na parede e uma coluna de energia azul emergiu do chão, até a altura de sua perna. Dxmaell retirou a parte de cima da sua armadura, ficando vestido apenas com a calça, de um tom azul acinzentado, que se aderia ao corpo como uma segunda pele. Deitou-se na coluna de energia, que cedeu ao peso de seu corpo, se moldando a sua forma.

Aleng sentou-se ao lado do corpo de Dxmaell, retirando alguns fios de cabelos que haviam se soltado da trança quando retiraram a parte superior da armadura. Dxmaell olhou para o amigo, sua aparência tão serena, não condizente com o brilho frio de seu olhar. Tinha encontrado nos textos humanos, uma vez, a imagem de Aleng, que  seria descrita como a de um anjo, devido aos fios loiros tão claros e os olhos azuis. Uma personalidade tão fria quanto a sua, recoberta por uma beleza quase angelical. Eles nem sempre haviam sido dessa forma: frios e desprovidos de sentimentos, mas a destruição de seu mundo e a busca por meios de sobrevivência os havia mudado.

Uma dor aguda fez Dxmaell se encolher e seu corpo começou a tremer. Aleng sabia o que estava acontecendo: o corpo de Dxmaell estava perdendo energia, e um sintoma eram dores terríveis e um frio cortante. Se ele não recebesse energia imediatamente seu corpo entraria em estado de hibernação e apenas o Conselho seria capaz de salva-lo. 

Aleng se levantou e retirou a parte de cima de sua armadura, ficando apenas com a calça, que era do mesmo tom azul acinzentado, mas dois tons mais claros.Sentou-se novamente ao lado de Dxmaell e correu suas mãos lentamente sobre o corpo do amigo, a fim de transmitir o calor de sua energia. Dxmaell começou a sentir sua energia se aquecendo com o contato suave; arqueou o corpo para cima, ofegando ligeiramente, e abriu os olhos para encontrar a íris azul clara de Aleng o observando.

Aleng se inclinou ligeiramente e parou a alguns centímetros de Dxmaell, que balançou a cabeça em sinal de acordo com o que iria acontecer. Ele levantou a parte de cima do corpo, se apoiando em seu braço esquerdo, enquanto com a mão direita puxava Aleng pelo pescoço, unindo seus lábios. O beijo foi suave e sem pressa; suas línguas passavam suavemente uma contra a outra, até que se enroscaram e seus corações começaram a bater no mesmo ritmo.

Então Aleng elevou sua energia e passou a transmiti-la ao amigo , através de seus lábios. Dxmaell sentiu suas forças retornarem e sua energia começar a se elevar a um nível satisfatório. Afastando seus lábios, continuou acariciando ternamente o rosto de Aleng, ganhando um sorriso deste. Ele podia sentir a energia de Aleng dentro de si: era algo morno e reconfortante.

Aleng ainda mantinha sua mão direita sobre o peito de Dxmaell, sentindo os músculos fortes sob a palma e isso fez com que ficasse com o rosto ligeiramente vermelho. Ele fez menção de se afastar e levantar, mas antes que tivesse a chance, foi detido por Dxmaell, que segurou sua mão.

- * Fique, por favor.*

Aleng olhou para Dxmaell, encontrando pela primeira vez um brilho diferente da frieza habitual. Um brilho que ele sabia existir em seus olhos também. Sacudindo a cabeça, se deitou ao lado dele, repousando sua cabeça no peito de Dxmaell. A coluna de energia se estendeu para os lados, a fim de comportar os dois corpos. Dxmaell tomou o corpo de Aleng em seus braços, antes de fechar os olhos e sussurrar de forma quase inaudível um agradecimento, que apesar de baixo, foi ouvido por Aleng.

- * Obrigado por ficar*

- * De nada*

Aleng ainda manteve os olhos abertos por um tempo, pensando o quanto era estranho estar ali. Ele não sabia o que pensar quando estava beijando Dxmaell, pois não foi o rosto dele que veio a sua mente, mas a do humano de olhos verdes. Por algum motivo ele queria saber como seria ser beijado por ele. Inconscientemente ele levou sua mão até os lábios e os tocou suavemente.

Dxmaell sentiu os movimentos sutis de seu amigo. Ele podia imaginar o que ele estava pensando, pois possuía uma parte dos sentimentos e pensamentos de Aleng, pelo menos até que seu corpo assimilasse a energia absorvida. Aleng pensava em um dos humanos que haviam ajudado, o homem chamado Trowa. Não podia negar que o jovem era bonito, mas não tanto quanto o outro, de olhos azuis profundos e escuros como o cobalto. Mas ele sabia que, mesmo que sentissem uma atração em relação aos humanos que ajudaram, não seria possível se relacionarem, pois seria perigoso e imprudente, e ele não era conhecido pela sua imprudência.

- * Esqueça, Aleng*

Aleng se assustou ao ouvir a voz fria de Dxmaell, tão diferente da voz suave o pedindo para ficar. Ele levantou a cabeça, encontrando o olhar de Dxmaell sobre si.

- * Eu...*

- * Eu sei em quem você estava pensando, Aleng. Era no humano... Eu tenho uma parte dos seus pensamentos, esqueceu?*

- * Não, eu não me esqueci.*

- * Então não pense nele. O que você fará se, no dia da troca, a pessoa com quem trocar energia descobrir seus segredos?*

- * Sei que é tolice, mas não pude evitar pensar nele.*

- * Meu beijo é tão ruim assim?*

Aleng riu e seus olhos adquiriram o mesmo brilho alegre que tinham quando moravam em Kdra. Ele girou os olhos para cima, como se estivesse analisando a pergunta.

Não, o contato não havia sido desagradável: os lábios de Dxmaell eram macios e quentes, e mesmo que o beijo tenha durado poucos minutos, ele havia sido agradável. Tinha o conhecimento que era a primeira vez que Dxmaell deixava alguém toca-lo, e mesmo assim, ele havia se saído muito bem.

Se não fossem amigos e se conhecessem a muito tempo, Aleng sabia que seria muito fácil gostar mais profundamente do amigo, mas tinha conhecimento também, que seria impossível algo entre eles. Alguém como Dxmaell deveria pertencer a alguém tão habilidoso, forte e inteligente quanto ele mesmo, alguém que certamente não pertencia a raça Kdar.

- * Pela sua demora devo deduzir que não foi agradável?*

- * Pelo contrario, foi melhor do que imaginava, por isso demorei tanto para responder. Não imaginei que seria tão bom!*

- * Hn, mas você preferiria que fosse um humano de olhos verde, não é?*

Aleng ficou vermelho e abaixou a cabeça. Sim, ele havia pensado em como seria beijar o humano, e como ele pudera esquecer que Dxmaell possuía uma parte de seus pensamentos.

- * Tudo bem, Aleng, não é errado desejar. Mesmo sendo quem somos, também temos esse direito, não é mesmo.*

- * Acha que poderíamos...*

- * Não sei. Talvez fosse possível, se ele não fosse humano e você não pertencesse a raça que está escravizando os humanos. Então quem sabe?*

- * Dxmaell, por que você nunca deixa ninguém toca-lo?*

- * Eu deixei você fazer isso.*

- * Você sabe o que quero dizer.*

- * É, eu sei. Só acho que me acostumei a estar só, ainda mais com a posição que ocupo, não acho que seria justo eu ser feliz enquanto trago a destruição a outras raças.*

- * Você não pode se culpar pelo o que nossa raça faz. Se você é culpado, todos nós somos tão culpados quanto você.*

- * Eu queria encontrar um jeito de salvar os humanos, mas eu não sei como.*

- * Eu entreguei um dos comunicadores, com a sua freqüência, ao humano chamado Heero, antes de deixarmos a terra.*

- * Por que um com a minha freqüência?*

- * Não sei, simplesmente me ocorreu que eu deveria fazer-lo.*

- * Tudo bem, por enquanto temos que descobrir o que Arcom vai fazer, para depois agimos*

- * O que acha que ele fará?*

- * Qualquer coisa que possa me diminuir perante o Conselho. Ele simplesmente quer minha cabeça, mas eu não pretendo entrega-la a ele.*

- * E o que o Conselho queria com você?*

- * Não sei, eles não disseram muito. Notaram que meu padrão de energia estava alterado, como sabia que notariam, mas não pareceram surpresos pelo fato de não ter regularizado minha energia e se mostraram desconfiados por eu ter descoberto a fuga dos humanos.*

- * Acha que eles irão investigar?*

- * Sim, ainda mais porque eu disse haver um traidor.*

- * Você fez o quê?*

Aleng se sentou e ficou olhando para Dxmaell, como se o mesmo houvesse enlouquecido. O Conselho com certeza iria verificar pessoalmente a existência de um traidor, e ele sabia que não se podia esconder nada do Conselho. Dxmaell passou a mão pelos cabelos, que haviam se soltado da trança e se levantou, fazendo a coluna de energia diminuir de tamanho. Havia sido arriscado afirmar perante o Conselho a existência de um possível traidor entre os Kdar, mas essa havia sido a melhor forma de encobrir seus atos e os de seus oficiais. Dessa forma eles poderiam descer a terra sem levantarem suspeitas, alegando estarem investigando todos os Kdarianos nos campos de contenção.

- * Não se preocupe com isso, Aleng, o Conselho não descobrirá*

- * E se eles decidirem restabelecer a coletividade? Nós estaremos perdidos.*

- * Isso não vai acontecer. A coletividade não é utilizada a milênios, Aleng, e mesmo que fosse possível restabelece-la, o Conselho não o faria. Pois o que um sabe todos compartilham e o Conselho não compartilha seus segredos.*

- * Está bem, mas o Conselho deve ter designado alguém para encontrar o traidor e se ele for alguém...*

- * Não se preocupe, o Conselho designou a mim esta tarefa.*

- * Você!*

- * Exatamente, por isso nossas energias estão seguras por enquanto.*

- * Não tenho tanta confiança nisso*

- * Eu jamais os colocaria em perigo, Aleng, esteja certo disso*

- * Eu sei, Dxmaell. Eu sei*

Dxmaell sentou-se ao lado de Aleng, acariciando os fios loiros. Não, ele não deixaria que seus amigos pagassem pela sua crença: de que ambas as raças poderiam coexistir, usufruindo pacificamente uma da outra. Ele precisava confirmar suas suposições, mas necessitava de ajuda; não apenas de ajuda, mas de coragem para seguir em frente e deixar que fosse tocado, de uma maneira que jamais permitiu que alguém o fizesse. Dxmaell se aproximou e inclinou o corpo de Aleng sobre a coluna de energia, que se estendeu. Aleng olhou para Dxmaell sem entender o que o ele pretendia. O comandante desceu sua mão para o abdômen macio, enquanto a outra permanecia acariciando o rosto de seu oficial.  Dxmaell olhou para os olhos claros e se inclinou sobre o corpo de Aleng, sussurrando em seu ouvido.

- *Quero que faça uma coisa por mim*

******

Algumas horas depois, uma nave Kdariana seguia em direção a terra. Seu ocupante tinha apenas três horas para retornar, antes que sua ausência fosse notada. Ele manobrou a nave em direção ao quadrante 0.7, marco 6, da superfície terrestre, pois era lá que havia sido marcado o encontro. Ele vestia as roupas de batalha Kdar, de acordo com seu posto de comando. Era como um macacão colante negro, inteiriço, onde não se podia saber por onde havia sido vestido, ele revestia os pés, braços e pernas. Uma armadura de liga metálica, desconhecida para os humanos, se unia ao uniforme, e ela podia assumir qualquer forma, de acordo com a necessidade e o tipo de batalha, além de assumir a mesma tonalidade do uniforme, sendo apenas dois tons abaixo do original. A liga estava revestindo as mãos (até a altura do cotovelo), os ombros, o peito, a cintura e o rosto, cobrindo toda a face; apenas o cabelo ficava a mostra.

Ele havia conseguido chegar até a atmosfera terrestre sem ser notado;  o setor, no qual deveria pousar, piscava no monitor. Ele redirecionou sua nave e acionou a camuflagem, para que não vissem sua chegada. Ele viu a pessoa que deveria encontrar, no painel a sua frente, observou-a por alguns instantes, e deixou a nave sem levar nenhum tipo de arma. A porta da nave se abriu e ele saiu.

A pessoa que o esperava observou o Kdariano sair da nave, parecia desarmado, mas sabia que não deveria confiar, pois o encontro havia sido solicitado pelo Kdariano. Os outros disseram para não confiar nele, que deveria ser uma armadilha, mas ele não pensava assim. Por algum motivo, sentia uma necessidade de confiar no alienígena.

O Kdariano parou a alguns centímetros do humano. Eles ficaram se observando por minutos. Ele sabia que o humano não havia vindo sozinho, ele podia sentir a energia dos outros em volta: cinco humanos, contando com o que estava a sua frente, mas sabia que não estava em perigo, tinha certeza que o humano não o feriria e nem deixaria que o ferisse sem motivos. Ele tinha uma dívida para com ele. O Kdariano pressionou um ponto atrás de sua orelha esquerda e a liga metálica, que cobria seu rosto, começou a mudar de forma, escorrendo, como se fosse líquida, pelo rosto e se unindo a armadura que protegia seu peito. O humano viu o rosto do Kdariano, os olhos de uma cor belíssima, uma tonalidade que não havia deixado seus pensamentos desde que haviam se encontrado, desde que ele havia sido salvo por ele.

- Eu tenho algo a propor a você, Heero. Algo que talvez venha a salvar seu mundo e o restante de sua raça, mas para isso temos que trabalhar juntos.

O humano ponderou sobre as palavras do Kdariano, era isso o que eles e os outros desejavam: uma chance de vencerem a raça que os aprisionava, mas será que poderia confiar nele? Poderia confiar no inimigo? O Kdariano sabia que não seria fácil conseguir a confiança do humano e seus companheiros, mas ele precisava tentar, ele sentia que o tempo estava acabando, logo a raça humana seria exterminada e ele teria algo a mais para lamentar.

- Diga-me, Dxmaell, como podemos nos ajudar?

Continua....