A Invasão

Nota: Quando em algum momento for mencionado o termo anos por um Kdariano, deve se levar em consideração a medida de tempo Kdariana e não a humana. Ou seja, 600 anos em Kdra equivalem a 37800 anos na Terra (nossa os caras são velhos).

K medida de tempo Kdariana:

1 kx equivale a 1 segundo

1 kr equivale a 1 minuto

1 k equivale à 1 hora

1 ano terrestre equivale a 63 anos em Kdariano

1 dia terrestre equivale a 5.25 dias em Kdariano

Capítulo VII – A História de Dxmaell

Planeta Kdra – Salão do Conselho há 21 anos atrás

Um homem de longos cabelos negros atravessava a passos rápidos os jardins do palácio do império, estava tão preocupado que não podia apreciar a beleza dos jardins onde fica o salão do Conselho de Kdra. Uma longa passarela de cristal ladeada pelas fontes de energia de Kdra, a essência de todo o império, energia em sua forma mais simples. Tão cristalina como a água e tão densa quanto o Pryteh1. Sua preocupação era devido a uma grande ameaça, que estava para acontecer, e que devia ser detida a todo o custo.

"Que pelo bem de Kdra que o quê eu vi não venha acontecer".

Ele se aproximou do portão do salão do Conselho, uma melancolia transparecia em seu rosto ao encontrar-se em frente à porta. A porta de 10 metros de altura e 5 de largura feita do mais puro e brilhante cristal de Kdra, nela estava escrita a historia dos governantes de Kdra. Eras de abundância, paz e tranqüilidade que estariam com os dias contados se algo não fosse feito para impedir a destruição.

O guarda viu o ministro aproximar-se e curvou-se, estranhando-lhe o semblante triste. O ministro era conhecido por sua bondade, inteligência e alegria, mas esta não transparecia em seu rosto no momento. Mesmo curioso não era seu direito, indagar-lhe o motivo.

- Eu preciso falar com o Conselho dos Três

- Entre ministro, o Conselho o recebera

O guarda do salão deixou que sua energia fluísse e abriu as portas, permitindo que o ministro Whorda entrasse. Este curvou-se, nunca se cansaria de observar a forma como eram abertas as portas do salão do Conselho. Apenas os escolhidos pelo Conselho poderia ser o guardião das portas do salão, aqueles de espírito elevado e cuja energia fosse forte o suficiente, para manter a porta fechada, ou para abri-la quando necessário.

O ministro entrou no salão ouvindo as portas fecharem-se atrás de si. Dois Kdarianos e uma Kdariana se encontravam sentado na outra extremidade do salão. Os mais sábios de todo o império, escolhidos pelos antigos para governar Kdra. Whorda caminhou até o Conselho se colocando diante dele e curvando-se em sinal de respeito.

- Ministro Whorda o que houve? Tens o semblante carregado. O que o entristece?

- Senhora Mykhãr, peço que me perdoe, mas minhas duvidas não me deixam em paz, embora não creia que não seja as dúvidas mais a certeza de que são verdadeiros meus temores. Temo ser portador de noticias ruins

- De que fala Whorda?

- Por acaso sua tristeza tem algo a ver com o enfraquecimento do brilho dos sois de Kdra?

Whorda olhou surpreso e admirado para o Conselho. Ele deveria saber que o Conselho notaria a mudança no segundo, terceiro sol de Kdra, nada escapava ao Conselho. Por que o Conselho é Kdra e se Kdra sofre o Conselho sofre.

- Sim Ehkyur, logo Khtru 2 expandira e destruirá Khtrya 3 e Khtryõs 4 levando Kdra a extinção.

O Conselho ficou em silêncio por algum tempo, eles vinham sentindo que a energia de Kdra estava esfriando, o planeta sentia as alterações nos soóis de Kdra. Khtru estava se expandindo e sugando os outros dois sois diminuindo a energia emanada por eles. Kdra poderia sobreviver sem um de seus sois, mas morreria sem todos eles.

- Whorda acha que há um meio de determos a destruição de Kdra?

Whorda ficou em silêncio. Talvez houvesse uma maneira, mas não era a mais acertada, e levaria algum tempo até que pudessem realmente colocá-la em prática.

- Há apenas uma maneira de determos o fim de Kdra, mas...

- Mas...?

- Para que pudéssemos deter o processo ou revertê-lo, alguém em Kdra precisaria ter o mesmo padrão, ou mesmo um padrão de energia superior ao dos sóis de Kdra.

O Conselho olhou para Whorda. Há milênios que ninguém em Kdra nascia com o mesmo padrão de energia de seus sóis. Apenas os antigos possuíam padrão tão elevado, e os antigos não mais eram vistos..., há séculos, desde que o último Conselho fôra indicado, há mais de 600 anos. Agora alguém deveria ter o mesmo padrão ou mesmo um superior?

O ministro tinha conciência que algo assim seria quase impossível. Encontrar alguém com um padrão de energia tão elevado. Mesmo juntando o padrão de energia do atual Conselho, esta não chegava à metade do padrão de Khtru.

- Whorda você tem noção do que acaba de dizer?

- Você sabe que as chances de que uma criança nasça com tamanho poder é impossível

- E mesmo que nascesse, seria impossível para ela conseguir controlar tamanha energia até que estivesse pronta. Ela poderia vir a morrer antes..., seu corpo não agüentaria tamanha energia, a menos que ela fosse gerada por um dos antigos.

- E eles não são vistos há muito tempo

- Eu sei... senhores, mas há uma mulher que descende dos antigos, embora não possua o padrão de energia deles. Ela é a mais próxima de sua linhagem

- Você fala de Dhyreaan da casa de Klaryos

- Ela foi banida á décadas da cidade. Ela vive no solo, em meio aos outros que não obedecem às leis do Conselho.

- Acha que ela ajudaria aqueles que a baniram?

- Talvez... se ela não o fizer também condenará a si mesma a morte

- Ela não se importa em morrer Whorda. Ela segue sua própria vontade e não a dos outros

- Ainda assim devemos tentar falar com ela Lyshãns. Ela pode ser única a nos salvar

- Dê-nos um tempo para pensar Whorda.

- Logo nos falaremos novamente

O ministro saiu do salão. Não sabia que decisão tomariam, restava apenas aguardar que fosse chamado. Enquanto isso ele precisava encontrar Dhyreaan e conversar com ela, talvez pudesse faze-la ouvi-lo.

Whorda foi até sua casa e pegou algumas coisas que achou serem necessárias a sua ida até a cidade da terra, era difícil para ele entender o porquê de alguns Kdarianos preferirem morar abaixo da cidade das nuvens.

Kdra era dividida em duas grandes cidades. A cidade das nuvens e a cidade da terra. A primeira como o próprio nome já diz ficava no alto, entre as nuvens, suspensa por grandes geradores de energia, o que mantinha a cidade flutuando no ar. A cidade da terra era toda a extensão abaixo da cidade das nuvens, composta por campos verdejantes, colinas e montanhas rochosas, animais pacíficos e feras perigosas.

A maioria das pessoas banidas da cidade das nuvens morava, na cidade da terra. Eles eram banidos pelos mais diferentes motivos. Oposição ao Conselho, ao modo de viver dos Kdarianos, ou simplesmente porque não viam necessidade de morarem entre as nuvens, mas sintam a necessidade de manter um contato maior com o planeta.

Dhyreaan encaixava-se em todos esses itens; não concordava com a forma como o Conselho governava Kdra, com forma como os Kdarianos viviam, dependentes do Conselho e porquê acreditava que eles deviam viver como os antigos; sobre a terra e em contato com o planeta. Mas ela era conhecida por ser uma mulher sábia, além de teimosa; e simpatizante dos Arianos, uma raça ainda mais antiga que os antigos de Kdra.

Os Arianos eram considerados uma raça primitiva aos Kdarianos, mas Whorda acreditava que estes eram ainda mais evoluídos que os Kdarianos, apesar de terem sido expulsos dos territórios de Kdra a milênios pelos antigos. Os descendentes dos Arianos moravam em Mryees5 lua de Kdra, mas era possível encontrar alguns deles na cidade da terra misturados aos Kdarianos que não se importavam com sua presença.

Ninguém sabia como eles conseguiam passar pela barreira de energia erguida ao redor de Kdra, mas eles andavam entre os Kdarianos e, até mesmo na cidade das nuvens.

Whorda pegou o transporte que o levaria até seu destino. Viu os campos verdejantes, as colinas floridas e imaginou o que aconteceria quando o fim se aproximasse.

Em poucos minutos encontrava-se caminhando na cidade da terra, em meio a outros Kdarianos; muitos não se importavam quando alguém da cidade das nuvens vinha a cidade da terra, outros no entanto; não gostavam, mas não chegavam a ser violentos. Apenas olhavam-nos com cara de poucos amigos. Mesmo vivendo sob costumes diferentes, todos conservavam o espírito pacífico dos antigos; a exceção dos Arianos, muito conhecidos por sua paixão por combates.

Whorda andou por algum tempo, perguntando e procurando informações sobre o paradeiro de Dhyreaan; mas não conseguira muito nas ultimas duas horas. Ou ninguém sabia de seu paradeiro ou não queriam informar sua localização. Whorda não sabia como Dhyreaan era fisicamente, nunca a encontrara antes; tudo o quê conhecia sobre ela, soubera por intermédio de outros que a conheceram, mas que haviam permanecido na cidade das nuvens.

Sabia que era uma mulher jovem, bonita, inteligente e que não seria fácil convencê-la a realizar qualquer coisa, a menos que ela assim o desejasse. Cansado, Whorda decidiu parar um pouco e alimentar-se, procurou algum lugar onde pudesse fazer uma refeição decente e encontrou uma casa de onde vinha um cheiro saboroso.

Era verdade que eles costumavam alimentar-se apenas da energia emanada por Kdra, mas também consumiam os alimentos produzidos pelo planeta vez ou outra. Esseera o caso no momento, um cheiro maravilhoso vinha do que parecia ser uma estação de alimento. Entrou , e algumas pessoas o olharam de forma curiosa,para logo em seguida voltarem sua atenção para o que faziam anteriormente.

Whorda sentou-se em uma mesa, e um prato foi colocado a sua frente, o cheiro era soberbo ele consumiu o alimento em pouco tempo, sentindo-se saciado. Fechou os olhos por alguns momentos,após consumir refeição tão saborosa. Ouviu alguns murmúrios de surpresa e, abrindo os olhos, viu-se frente a uma mulher com longos cabelos castanhos e olhos de um violeta profundo. Sentiu-se preso pela força daquele olhar que o encarava, como se o analisasse.

- O que você quer comigo ministro?

Whorda olhou surpreso para a jovem a sua frente. Aquela era Dhyreaan da casa de Klaryos. Era possível sentir uma força poderosa emanando dela, e isso não tinha nada a ver com a essência de sua energia. Pelos olhares de admiração que captou ao redor percebeu que ela era alguém a quem todos respeitavam. Certamente alguém avisara-lhe que ele a procurava.

- Dhyreaan da casa de Klaryos?

- Sou... e você é o ministro Whorda da casa de Kuerkly.

Dhyreaan olhou ao redor e viu que não poderiam conversar ali; não diante dos olhares de todos, sabia que o assunto deveria ser importante ou o ministro não teria vindo da cidade das nuvens procurá-la.

- Venha até minha casa, conversaremos melhor lá.

Dhyreaan saiu e esperou por Whorda que a acompanhasse. Por onde passavam os Kdarianos a cumprimentavam, curvando-se em sinal de respeito. Whorda estava surpreso, não imaginava que isso pudesse ser possível, a mulher a seu lado era tão jovem e mesmo assim muito respeitada por todos, não era de admirar que ninguém havia-lhe dito onde encontrá-la.

Caminharam em silêncio, distanciando-se da cidade e seguindo em direção a floresta. Seguiram por um caminho subindo uma pequena colina, a casa ficava no alto desta, sob um pequeno vale de flores. Ela abriu a porta, permitindo que o ministro entrasse. Apontou para uma cadeira e sentou-se à sua frente.

- Agora me diga... por que me procura?

Algumas horas depois:

Whorda e Dhyreaan encontravam-se no salão do Conselho diante do mesmo. Ele e Dhyreaan haviam conversado durante um bom tempo, na verdade ele apenas falara e ela o escutara. Quando terminouela, levantou-se e disse que voltaria com ele até a cidade das nuvens, para falarem com o Conselho. Não adiantava nada demorarem-se para tratar de assunto tão importante. Ele solicitou uma nova audiência com o Conselho, a pedido de Dhyreaan e foram recebidos. Estes ficaram surpresos por saber que Dhyreaan aceitara ajuda-los. No momento ele apenas escutava a conversa entre Dhyreaan e o Conselho de Kdra.

- Pelo que eu entendi, vocês querem que eu dê a luz a uma criança que poderá vir a salvar toda a Kdra?!

- Sim..., se você o fizer poderá voltar a viver na cidade.

- Acham que eu me importo em voltar para cá? Não..., eu não me importo, mas concordo em gerar a criança. Mas não aqui, e nem pelos costumes de nosso povo.

- Mas a criança deve ser Kdariana e viver pelo costumes Kdarianos.

- Não, a energia dela deve superar a de nosso povo. Superar a energia que mantém vivo nosso planeta. Eu descendo dos antigos, mas não tenho a força deles, para que a criança tenha uma energia superior à deles, ela deve ter um pai com uma energia superior a nossa.

- Nunca!!!

- Então Kdra morrer

O Conselho explodiu, o que Dhyeraan propunha ia contra até mesmo o que os antigos pregavam. Apesar dos Arianos possuírem uma energia superior a dos antigos, estem também eram conhecidos por seu prazer nas batalhas e na violência. Uma raça primitiva da qual os Kdarianos não gostavam de se lembrar, pois isso os fazia recordar de um passado sangrento e repleto de ódio e dor.

Whorda olhou para Dhyeraan como se ela fosse louca, sabia quesuas palavras faziam sentido, mas nunca uma criança nasceu da união de um Kdariano e um Ariano. Eles eram poucos apesar de ainda serem fortes, mas a maioria deles não viva em Kdra, mas em uma das luas do planeta, escondidos dos Kdarianos, alimentando seu ódio por eles. E nunca os ajudariam, mesmo que isso significasse o fim de Kdra.

- Vocês sabem onde me encontrar se mudarem de idéia

Dhyreaan caminhou em direção a saída, não pretendia aguardar o Conselho se decidir, iria cumprir seu destino com ou sem a permissão do Conselho. Whorda levantou-se, pedindo permissão para sair e sendo atendido Alcançou Dhyreaan na porta e seguiu-a observando-a. Ele amava Kdra e não desejava que se extinguisse, mas o que Dhyreaan havia proposto apesar de lógico, não tinha embasamento para dar certo. Onde encontrariam um Ariano disposto a salvar Kdra?.

Dhyreaan já estava ficando aborrecida com a insistência do olhar de Whorda, como se já não bastasse a teimosia do Conselho em aceitar sua proposta, eles não tinha nada a perder a não se suas pobres vidas. Não seriam eles a carregar a criança; a suportar as dores de sua concepção e nascimento; e ainda sim, mantinham-se presos a costumes ridículos que apenas os afastavam de seus irmãos Arianos. Tudo porque os temiam. Ela parou e encarou o ministro.

- O que foi Whorda?

- Você acha que poderá manter a criança até seu nascimento?

- Acha que a criança terá o poder para salvar Kdra?

- Acredito

Dhyreaan sorriu diante da certeza com que o ministro respondeu, ele era diferente dos outros. Estava aberto a ouvir, não se prendia tanto aos costumes, por isso ele a procurara para conversar, sem o consentimento do Conselho. Ele ponderava sobre as coisas antes de fazer, diferentemente do Conselho, que negava veemente tudo que fosse contra os costumes dos antigos.

- Eu também. Sei o que vai me acontecer. Já vi antes... mas a criança nascerá de meu ventre e crescerá sob o fardo de seu destino que é salvar Kdra. Um destino difícil a aguarda, jamais saberá a verdade sobre seu nascimento até que chegue o momento da revelação...quando compreenderá a responsabilidade que tem...e quando isso acontecer lhe trata muita tristeza, em meio a alegria.

- Você tem o dom dos antigos!?

Havia surpresa e perplexidade nas palavras e olhos de Whorda. Ela sorriu e olhou para o céu de Kdra que começava a anoitecer, sim ela tinha o dom dos antigos. O dom de ver o futuro, o passado e o presente. Dhyreaan já sabia o destino de Kdra antes mesmo de Whorda ir procurá-la, conhecia o destino da criança que ainda não fôra gerada. Conhecia seu rosto, sua força, sua honra, seus sonhos, alegrias e tristezas. Conhecia até mesmo o filho que este carregaria, fruto de seu amor com um ser de outra raça que tinha tudo para odiá-lo, mas que ainda assim o amava.

- Sim eu tenho o dom dos antigos, nunca disse que não o tinha.

- Mas...

- Eu não nasci com a mesma energia dos antigos, apenas com o dom deles.

- Então me conte...

- Não, você conhecerá o destino de Kdra junto com os outros. Verá com seus próprios olhos o destino reservado a Kdra. Eu carregarei a criança que ditara o destino de Kdra, mas eu peço uma coisa.

- O que?

- Cuide dele para mim, ensine-o os costumes de Kdra e não os do Conselho; o costume dos antigos. Proteja-o do próximo Conselho

- Próximo Conselho? mas os governantes de Kdra já foram escolhidos

- Um novo Conselho surgirá, para corromper Kdra. Seus desejos não são os desejos de Kdra, eles não deixarão que ele cumpra seu destino

- Mas...

- Já disse mais do que deveria. Voltarei quando a criança tiver nascido, ela será entregue a você para apresentá-la ao Conselho

- O Conselho não vai querer...

- Em três dias o Conselho dos três será substituído por sete

- Sete?

- Sim, eles aparecerão com o pretexto de salvar Kdra e corromperão as leis de Kdra segundo seus propósitos.

- Então Kdra morrerá não é?

- Você viu em seus sonhos o mesmo que eu vejo com meus olhos abertos

Dhyreaan sorriu e afastou-se, voltando para a cidade da terra. Whorda observou a mulher caminhar lentamente, e permitiu que uma lágrima caísse de seus olhos, agora ele entendia seus sonhos. Se eles estavam fadados a extinção, de que adiantaria os esforços para gerar tal criança? Que Kdra ela salvaria?

Tempo presente - Nave mãe Kdariana:

Aleng e Tzen foram presos, separados e interrogados sobre seus atos e os de Dxmaell, mas em nenhum momento disseram coisa alguma. Mantiveram-se calados durante as duas semanas em que ficaram confinados. Arcom exigia que eles contassem onde ficava o esconderijo da resistência humana, e quem eram os Kdarianos que compartilhavam dos pensamentos de Dxmaell, mas o tenente não conseguira nada com os dois. Ambos continuavam fiéis a Dxmaell, mesmo agora; quando os três estavam prestes a serem executados.

Sadicamente Arcom achou que seria uma boa idéia, levá-los para ver Dxmaell antes do mesmo ser executado, teriam a visão de seu comandante, preso dentro de um esquife de energia, apenas aguardando o momento em que seria executado.

Foram levados ao salão onde o corpo de Dxmaell estava sendo mantido. Era em uma parte da nave que não conheciam, na entrada havia uma porta feita em cristal, eles nunca haviam visto uma porta assim, apenas ouviram falar que a porta do salão do Conselho em Kdra era feita de cristal puro, um cristal encontrado apenas em Kdra.

Observaram os entalhes na porta, pelo que se lembravam os entalhes falavam sobre os governantes de Kdra, os antigos e os escolhidos por eles para reger Kdra. O nome das casas encontravam-se escritos nos entalhes que ornavam a porta de cristal, uma porta de infinita beleza. O guarda da porta observou os dois Kdarianos algemados e escoltados por outros soldados.

- A que vieram?

- Temos ordens de levá-los até o traidor

- Ele encontra-se lacrado no esquife de energia. E não deve ser retirado até sua execução, essas são as leis de Kdra.

- O tenente Arcom deu a eles permissão para ver o traidor, essas são minhas ordens

- Eu não recebo ordens de seu comandante soldado, apenas do Conselho.

Enquanto o guarda da cela de Dxmaell discutia com os guardas que os escoltavam, eles continuaram a observar a porta, lendo cada um dos nomes. Aleng ofegou e sussurrou a Tzen sobre o que encontrara escrito.

- Tzen, você viu o nome entalhado na porta?

- Que nome?

- A casa de Klaryos está entalhada na porta

- O que!? Onde?

- No lado direito, inferior esquerdo, centro.

Tzen localizou a posição e viu o nome da casa de Dxmaell entalhada , isso significava que Dxmaell descendia de um dos governantes de Kdra. Eles nunca poderiam imaginar isso. Estavam para falar sobre o assunto quando ouviram o guarda dando-lhes permissão para entrar, mas apenas aos dois prisioneiros.

- Mas não podemos perdê-los de vista

- Não há forma deles saírem dessa sala. E nem de quebrarem as algemas de energia, a porta ficará fechada e apenas eu posso abrir e fechá-la

Aleng e Tzen olharam para os Kdarianos que o escoltavam, estes não pareciam muito satisfeitos em deixa-los entrar sozinhos, mas acabaram por ceder.

Sentiram a energia do guarda elevar-se e espalhar-se pela porta que começou a abrir. O guarda fez um sinal para que entrassem. A sala encontrava-se mergulhada no escuro, a exceção do centro, onde o esquife de energia onde Dxmaell se encontrava, suspenso a uns 90 centímetros do chão. Caminharam até o esquife, que começou a se mover, a medida em que se aproximavam.

Viram o corpo de Dxmaell dentro do esquife de energia, os olhos fechados, as mãos sobre o ventre. Parecia que estava morto, mas ambos sabiam que ele apenas se encontrava em um estado de animação suspensa.

Quando encontravam-se a poucos centímetros do esquife, sentiram a energia de Dxmaell começar a fluir e este abrir os olhos, no mesmo instante em que o esquife cedia a seus pés.

Dxmaell sorriu ao vê-los, mas sentia-se fraco, ao notar sua falta de firmeza, ambos o ampararam, segurando-no com o corpo evitando que o mesmo caísse.

- Cadeira

Uma coluna de energia surgiu do chão, ao comando de Dxmaell. Ele se sentou com a ajuda de seus amigos.

- Parece que nos encontramos novamente...não é?...embora não em uma posição tão agradável. O que fazem aqui?

- Arcom achou que seria interessante que nós o víssemos

- Idiota

- Você está bem Dxmaell?

- Ainda estou vivo...por enquanto, mas minha morte já foi anunciada. E vocês estariam livres... se o Conselho obedecesse as leis de Kdra e não as que ele mesmo dita. É provável que o destino de vocês seja o mesmo que meu

- Não nos importamos Dxmaell

- Será uma honra ter a mesma morte que a sua

- Se quiserem tomar meu lugar, eu o cedo com o maior prazer

Aleng e Tzen sorriram diante da brincadeira em uma hora tão desesperadora. Não tinham como escapar, e sabiam que o destino dos humanos seguiria o deles. Aleng aproximou-se e tocou o rosto de Dxmaell olhando em seus olhos, precisava avisá-lo sobre os planos de Arcom.

- Dxmaell... Arcom planeja atacar a resistência humana, disse que Heero e os outros morrerão.

Os olhos de Dxmaell escureceram-se e sua energia começou a oscilar, mas controlou-a refreando sua raiva. Aleng e Tzen viram os olhos de Dxmaell escurecer e recuaram, ao sentir sua energia expandir e retrair-se em seguida. quando Dxmaell voltou a abrir os olhos estes encontravam-se claros como sempre, mas imensamente frios, muito mais do que estavam acostumados a ver.

- Arcom está muito enganado se pensa que vou deixar que ele mate Heero.

Aleng e Tzen olharam-se confusos; o que Dxmaell poderia fazer para impedir Arcom?. Ele estava preso e não havia uma forma de saírem da nave mãe, sem serem mortos ou detidos. Dxmaell levantou-se, precisava retirar Aleng e Tzen da nave para que eles pudessem ajudar os humanos enquanto que fosse necessário.

Observou a sala onde estavam, não era a mesma de onde fôra lacrado no esquife de energia. Olhou para a porta da frente, não havia uma porta em sua outra cela. E mesmo que houvesse, ela não seria de cristal, pelo menos era o que imaginava ser o material da porta que fechava a sala.

- Vocês sabem onde estamos? Esta não é a mesma cela onde fui lacrado.

- Nunca viemos a essa parte da nave. A porta é feita de cristal, eu diria que é a mesma porta que fecha o salão do Conselho em Kdra

- Aquela porta onde os antigos colocavam o nome dos governantes?

- Sim, e tem mais uma coisa Dxmaell

- O que?

- O nome de sua casa encontrasse talhado na porta

- O quê!?

Dxmaell olhou para Tzen e depois para Aleng para que este confirmasse as palavras do primeiro. Porque o nome de sua casa estaria entalhadolá? Apenas o nome dos antigos, e dos governantes de Kdra eram entalhados na porta que fechava o salão do Conselho em Kdra. Pelo menos era o que havia aprendido quando pequeno, ou pelo menos do que se lembrava de sua infância.

- Isso é estranho... mas não temos tempo para descobrir isso. Sabe se estamos longe da área de aterrissagem PK31?

- Um pouco, estamos no nível mais alto da nave. Essa área em questão fica oito níveis a baixo

- Acham que conseguem chegar até a estação P16 e de lá a área de aterrissagem?

- Não seria muito difícil...talvez, mas como chegaríamos até lá, algemados?....

Dxmaell colocou suas mãos sobre as algemas de energia de Aleng, e deixando sua energia expandir-se, abrindo-as; sob o olhar surpreso de seus amigos. Ele fez o mesmo com as algemas de Tzen, e depois sorriu sarcasticamente para os dois.

- Que algemas?

Dxmaell aproximou-se de uma das paredes da sala e começou a expandir sua energia novamente, logo a parede cedeu abrindo um buraco nesta. Eles ouviram a porta começar a abrir-se.

- Vão... eu os deterei.

- Mas e você?

- Eu devo ficar. Agora vão, é uma ordem. Encontrem minha nave e fujam, manterei o caminho livre para vocês.

Dxmaell começou a expandir sua energia fazendo a porta fechar-se novamente. O guarda tentou abrí-la, mas um padrão energia mais forte vinda de dentro da sala impedia-o. Quando o guarda e os soldados do lado de fora, sentiram um padrão de energia que jamais sentiram antes crescer dentro da sala imediatamente.

Dxmaell sabia o que tinha que fazer. Mesmo sendo mantido em animação suspensa sua mente continuou consciente e ele teve tempo de entender o que estava acontecendo com ele. Ainda não sabia o porquê de ser diferente dos outros, mas aprendera a manipular sua energia de acordo com sua vontade. Ele não tinha mais com que se preocupar, mesmo se recusando a mudar seu destino, ele ajudaria seus amigos a mudar o deles.

Seu coração se comprimiu e chamou Aleng no instante em que o mesmo saia. Precisava fazer uma coisa antes de enfrentar seu destino, precisava dizer a verdade a uma pessoa, mesmo que isso a fizesse sofrer ainda mais.

- Aleng.

Aleng virou-se, olhando para Dxmaell que mantinha a cabeça abaixada. Ele havia tomado uma decisão, apenas esperava fosse a mais acertada. Ergueu a cabeça, havia um brilho perigoso em seu olhar.

- Conte a verdade a ele

- Que verdade?

- Que é dele a criança que carrego

Aleng olhou surpreso para Dxmaell e viu seu olhar repleto de tristeza, ele pretendia sacrificar a si e a criança para que pudessem escapar e ajudar os humanos. Sabia o quando Dxmaell havia desejado que a criança em seu ventre fosse do humano, e no final ela o era e morreria com ele. Dxmaell deu um sorriso triste e fez um sinal com a cabeça para que ele se fosse.

- Peça a ele que me perdoe, mas é a única forma possível para que os humanos tenham um futuro. Diga que eu pensarei nele quando chegar a hora,

- Eu direi comandante

- A partir de agora não sou mais seu comandante Aleng. Vivam e ajudem-nos. Arcom mandará outros atrás de vocês, vai caçá-los sem piedade. Diga a Heero que há um traidor entre eles, Tzen vai mostrar quem ele é, ele o viu. Assim que chegarem na Terra, peçam ajuda e ela virá... eles são amigos. E que Kdrya os fortaleça

Aleng abraçou o amigo e seguiu Tzen pelo túnel. Dxmaell esperava que eles conseguissem fugir, não podia condená-los ao mesmo destino que o seu. Encaminharam-se para a estação que Dxmaell dissera, Correndo pelos corredores, entraram e encontraram a arma favorita de Dxmaell sobre a coluna de energia assim como outras armas.

Pegaram-nas e seguiram novamente pelo corredor, encontrando alguns soldados que tentaram barrá-los, mas não se deteriam por eles. Lutaram e derrotaram-nos, conseguiram chegar a área de aterrissagem, mas o local já estava repleto de guardas.

- Aleng nós jamais conseguiremos passar por todos eles, mesmo que Dxmaell tenha dito que nos ajudaria.

- Eu confio nele Tzen, o comandante nunca nos decepcionou e não vai faze-lo agora

Dxmaell fechou os olhos e concentrou sua energia; em poucos instantes uma das naves s virou-se, disparando contra os soldados, no mesmo instante que a porta de entrada se abriu. Aleng e Tzen aproveitaram que os soldados estavam confusos e correram para dentro da nave que fechou a porta assim que entraram.

Seguiram em direção a ponte de comando, sentindo a mesma energia da sala onde Dxmaell estava preso, ao que parecia ela estava sendo controlada pela energia dele, uma vez que era sentida por toda a ponte.

Arcom encontrava-se na torre de comando, enfurecido. Como aqueles dois haviam se livrado das algemas de energia e conseguido escapar da sala onde se encontrava Dxmaell?

- Fechem as portas!!!. Eles não devem escapar!!!

A nave exploradora manobrou, virando-se para a saída da nave, as portas estavam se fechando; automaticamente a nave disparou contra elas explodindo-as. Eles sentaram-se nas cadeiras de energia, observando as portas a sua frente explodirem sugando para o espaço alguns dos soldados, a barreira de contenção já deveria ter ser erguido, mas isso não aconteceu o que facilitou a fuga. Assim que deixaram a nave os controles da ponte foram liberados e os dois assumiram a navegação, seguindo em direção a Terra.

Arcom praguejou ao vê-los escapar, alguém os ajudara, descobriria quem fôra e o faria pagar.

- Vão atrás deles e não parem até que os destruam

Varias naves de perseguição saíram atrás de Aleng e Tzen, sabiam que não seria fácil detê-los, eles eram os melhores oficiais do império. Treinados pessoalmente por Dxmaell para assumirem sua posição à frente das tropas, eles não eram Kdarianos a serem subestimados como Arcom pensava.

Na sala onde Dxmaell estava preso, o comandante abriu os olhos por alguns segundos apenas para desmaiar em seguida, cumprira seu trabalho. O guarda do salão entrou, juntamente com os outros soldados, encontrando Dxmaell desmaiado no chão da sala, as duas algemas que deveriam prender os outros dois Kdariano encontravam-se caídas perto dele e um enorme rombo havia sido feito na parede.

Arcom começou a esbravejar com todos a sua volta, estava irritado por Aleng e Tzen terem fugido, mas o alegrava e saber que Dxmaell ainda se encontrava dentro da nave. Um dos soldados aproximou-se de Arcom temeroso, sabia o quanto o tenente era orgulhoso e ficara ainda pior depois da prisão do comandante Dxmaell. Ele era contra a prisão do comandante, assim como muitos na nave, mesmo Dxmaell sendo frio em suas decisões, e causar terror com apenas um olhar, ele era uma pessoa justa em suas decisões.

- Você deseja alguma coisa soldado?, ou apenas atrapalhar meu caminho

- Desculpe-me tenente Arcom

- Comandante Arcom... soldado

O soldado estreitou os olhos diante disso, pelo que sabia, Arcom ainda era tenente e não comandante, mas não iria objetar a respeito, ou acabaria ganhando a ira do Kdariano a sua frente. Arcom sorriu sarcasticamente, agora era apenas uma questão de tempo até que fosse, promovido a comandante das tropas.

" Apenas o tempo de executar Dxmaell. Então eu terei seu posto e o respeito das tropas".

- Perdoe-me comandante, mas o Conselho pede sua presença.

- Por que não me disse logo incompetente?!

Arcom passou pelo soldado empurrando-o, indo em direção ao salão do Conselho, não gostaria de deixá-lo esperando, não agora que tudo caminhava tão bem. Chegou em frente ao salão e ordenou que o soldado abrisse as portas, este olhou para Arcom, que o olhava com arrogância, mas não cabia a ele repreendê-lo uma vez que o mesmo era aguardado pelo Conselho.

- Abra.

O guarda assim o fêz e Arcom entrou no salão, ajoelhando-se em frente ao Conselho que o aguardava. Estes ficaram alguns instantes em silêncio, sabiam como o tenente vinha se comportando nos últimos tempos desde a prisão de Dxmaell, mas seu orgulho desmedido favorecia a seus propósitos.

- Tenente Arcom, soubemos da fuga...

- De Aleng da casa de Ranwer e Tzen da casa de Kshda...

- O que tem a nos dizer quanto a isso?

- Eles serão recapturados. Já sei para onde eles se encaminham; é apenas uma questão de tempo até os pegar-mos.

- Eles não devem ser capturados ainda ...

- A execução de Dxmaell deve ocorrer imediatamente...

- E deve ser assistida por todos...

- Ele servirá de exemplo a todos aqueles que ousarem desafiar o império Kdar .

- Já está tudo pronto para que a execução seja realizada

- Dxmaell deve estar sendo levado neste momento a câmara de Kexdra...

- Vá e execute sua sentença Arcom...

- Assim que Dxmaell e a criança morrerem...

- Você terá provado sua lealdade ao Conselho...

- E a posição de Dxmaell?

- Será sua...

Arcom sorriu ao ouvir isso, mas seu semblante mudou ao ouvir o restante das palavras do Conselho.

- Se mostrar ser capaz de assumir tal posição...

- O que não achamos que possa.

Arcom explodiu indignado diante das palavras do Conselho. Dxmaell não era o único Kdariano com habilidades de assumir a liderança das tropas e levar Kdra a glória.

- Nenhum outro Kdariano possui a mesma capacidade que eu para assumir essa posição.

- Errado Arcom, não há nenhum Kdariano em toda a Kdra que possa assumir a posição ocupada por Dxmaell...

- Ele foi criado apenas para isso...

- E para isso viveu...

- E por isso deve morrer...

Ainda sentia raiva pelo Conselho não o achar capaz de ocupar a posição que era de Dxmaell, mas ficou em silêncio, atento as palavras pronunciadas pelo Conselho. Não havia sentido nelas, a menos que Dxmaell fosse diferente dos outros. Seria isso? Se fosse verdade que Dxmaell tivesse tanta capacidade, tal Kdariano deveria ser temido, então isso explicaria as ações do Conselho para com Dxmaell. Eles temiam o que Dxmaell podia fazer.

"Eles o temem, mas porque? Dxmaell é assim tão forte? Que força oculta ele possui? Que tipo de ameaça ele representa? "

Arcom decidiu perguntar, uma vez que ele não parecia ser o detentor de tamanha força. Era verdade que sua energia não podia ser comparada aos dos demais Kdarianos, mas a seu ver ela estava longe de oferecer uma ameaça.

- Que tipo de ameaça Dxmaell representa?

O Conselho ficou em silêncio por alguns instantes antes de responder.

- Uma que está além de sua compreensão Arcom.

- Mas...

- Sem, mas...

- Dxmaell deve ser morto...

- Antes que não possamos mais matá-lo...

- Antes que ele desperte para ...

- O destino dele...

- Mate-o para que todos saibam...

- Que ninguém se opõe ao Conselho ...

- Ou a Kdra.

Arcom levantou-se, seguindo em direção a câmara de Kexdra, mas antes ele tinha planos de descobrir que tipo de ameaça Dxmaell representava.

Terra:

Aleng e Tzen tiveram que lutar contra algumas naves de perseguição, mas conseguiram escapar e chegar na terra. Desceram a nave próxima à montanha escondendo-a entre as formações rochosas e ligando a camuflagem.

O lugar estava fortemente armado no que se relacionava a armas humanas, mas eles estavam precariamente preparados para o ataque que sabiam não tardaria a chegar.

Heero foi avisado da chegada da nave Kdariana e correu até o local, seu coração batia forte, desejava ardentemente que Dxmaell estivesse dentro dela, mas ao ver que apenas Aleng e Tzen desceram teve a certeza de que talvez nunca mais visse o Kdariano. Quando a três semanas atrás, William chegara do campo de contenção L3 e o informara de que Aleng e Tzen haviam sido presos por traição, e que ele ouvira o nome de Dxmaell ser pronunciado juntamente com a palavra execução, não foi necessário muito para que soubesse o que havia acontecido ao comandante das tropas Kdarianas.

Ele seria executado como traidor. Ele já deveria saber disso quando decidiu retornar a nave mãe, nunca deveria tê-lo deixado voltar, deveria tê-lo impedido, mesmo que fosse inútil... deveria ter tentado. Em seu coração pedia que Dxmaell ficasse bem e que ele pudesse fazer algo salvá-lo. Sem que percebesse o nome dele abandonou tristemente seus lábios, transmitindo sua dor.

- Dxmaell.

Câmara de Kexdra - Nave mãe Kdariana:

Dxmaell despertara e viu-se preso no suporte de energia. Havia sido privado de suas roupas e seus cabelos caiam soltos por sobre os ombros

Escondendo parte de sua nudez. Ele teve que sorrir, sempre se imaginara preso ali, aguardando o momento em que deixaria de existir, a única coisa que não imaginara era que estaria carregando uma criança consigo e nem que estaria pensando em alguém, como pensava em Heero agora.

"Heero você me deu a maior alegria, que eu poderia imaginar..., um filho. Eu aprendi tanto com você nesses meses..., aprendi tanto com seu povo.. ., gostaria tanto que não tivesse que ser assim..., que pudéssemos ficar juntos..., nós três..., eu gostaria tanto de conhecer nosso filho.., saber como ele seria..., saber se teria seus olhos...

Espero que possa me perdoar por não ter contado a verdade a você da última vez que estivemos juntos, mas se eu o fizesse você me pediria para ficar e eu não conseguiria negar seu pedido. Espero que você e sua raça possam viver..., pois eu fiz tudo que me foi possível fazer para assegurar sua sobrevivência, mesmo que eu não esteja mais a seu lado."

Uma lágrima caiu de seu rosto, era seu destino estar ali, sempre soubera disso, desde o momento em que parara para pensar que o que faziam era errado, desde o momento em que ousou opor-se ao Conselho.

"Não! Esse não é meu destino...eu não o aceito...não posso me resignar a ele. Eu quero viver...por mim...por Heero e pela criança que carrego. Meu destino não pode ser esse. Eu não quero que o seja".

Dxmaell sentiu algo crescer dentro de si, uma vontade de lutar, de continuar tentando, não podia aceitar que sua vida terminasse daquela forma. Ele prometêra...jurara ao homem que o criara que faria seu próprio destino, que não deixaria que o Conselho o controlasse, mas durante anos ele permitiu, fechou os olhos e não ousou fazer nada para ajudar as raças que ele ajudara a destruir.

As palavras de Whorda chegaram a seus ouvidos, tão nítidas como a quinze anos atrás.

Planeta Kdra - Quinze anos atrás – Cidade das Nuvens:

Whorda olhava para o garotinho correndo alegre. Cada vez que se lembrava do destino reservado ao menino seu coração se entristecia, ele era ainda tão pequeno e já possuía tanta responsabilidade em seus pequenos ombros. Dxmaell era diferente das outras crianças; suas habilidades de aprendizado eram superiores as de um Kdariano comum.

Ele estava sendo preparado para ocupar um alto posto dentro da hierarquia militar Kdariana, ele ensinara ao menino os costumes dos antigos, como havia prometido a Dhyreaan, há cinco anos atrás.

Flashback

Cinco atrás:

Um ano havia se passado, e nada de Dhyreaan voltar, ela havia dito que retornaria quando a criança nascesse, mas nunca mais a vira. Como dissera o Conselho havia mudado. Todos haviam aceitado o fato de que Kdra estava condenada e que se o Conselho não podia fazer nada para impedir, um novo deveria ser nomeado. Sete como ela dissera, sete eram os novos governantes de Kdra, mas eles não viviam pela lei dos antigos, embora houvessem feito muito por Kdra.

Whorda não conseguia esquecer as palavras de Dhyreaan quanto a integridade do Conselho. Eles haviam conseguido estabilizar Khtru, mas este ainda era uma ameaça, ele falara com o Conselho sobre a criança, mas eles disseram que seria impossível que tal criança nascesse. E ele estava começando a duvidar disso também.

Uma batida na porta o despertou de seus pensamentos, levantou-se e encontrou Dhyreaan, parecia cansada; ele sorriu feliz em vê-la e abriu a porta para que entrasse. Ela entrou carregando com cuidado um pequeno embrulho em seus braços.

- Dhyreaan pensei que nunca mais a veria

- Eu disse que viria quando a criança nascesse.

- Então ela...

Dhyreaan sorriu e mostrou um lindo bebê que trazia embrulhado em vários panos.

- Esse Whorda, é Dxmaell filho da casa Arquylias com a casa de Klaryos.

- Arquylias!!! Mas ele é...

O bebê agitou-se diante do som alto e Dhyreaan sorriu colocando o dedo na pequena boca, que começou a sugar-lhe o dedo acalmando-se. Whorda olhava para Dhyreann que acalentava calmamente a criança em seus braços, ela havia dito com a maior tranqüilidade que a criança em seus braços era filho de Uowans governante dos Arianos. Ele era conhecido e temido por sua força, nenhuma energia se comparava a dele.

- Sim ele é filho de Uowans da casa de Arquylias. Mas o Conselho não deve saber de quem ele é filho ou a vida, dele estará condenada.

- Então ele salvara Kdra ?

- Sim...mas não essa Kdra. O destino de Dxmaell é ainda mais grandioso, mais até que ele o entenda...

Dhyreaan se calou e olhou tristemente para a criança em seus braços que dormia, sem imaginar que destino a aguardava. Ela levantou-se e entregou a criança a Whorda, beijando uma ultima vez o pequeno rosto.

- Ele é sua responsabilidade agora Whorda. Proteja-o e ensine a ele o costume dos antigos, que ele honre Kdra e as casas de Klaryos e Arquylias .

- E Uowans sabe do destino da criança?

- Sabe e aceita. Os Arianos não são a ameaça que muitos acreditam, eles prezam a paz e se preocupam com Kdra tanto quanto nós Kdarianos.

- Eu cuidarei dele como se fosse meu filho

- Eu sei.

Dhyreaan levantou-se cansada. Cambaleou um pouco e teve que se segurar na porta para não cair, Whorda aproximou-se preocupado, mas ela não o deixou falar.

- Não se preocupe comigo Whorda, eu cumpri meu destino neste ciclo, agora você deve cumprir o seu.

- Nos veremos novamente Dhyreaan?

Dhyreaan sorriu e balançou a cabeça antes de abrir a porta e sair. Whorda acompanhou-a com o olhar, ela seguiu na direção de um homem alto e de cabelos compridos que a aguardava. Ele a amparou assim que ela se aproximou. Whorda observou o homem que o olhou por alguns segundos, antes de curvar a cabeça e desaparecer com Dhyreaan nas sombras da noite, aquele era Uowans da casa de Arquylias, pai de Dxmaell e detentor do futuro de Kdra.

Fim- Flashback

- Dxmaell venha c

- Sim.

- Dxmaell você sabe que cada um de nós nasce para um determinado destino, não é?.

- Sei...o Conselho dita nosso destino

- Sim...mas você pode fazer seu próprio destino Dxmaell, não viva pelo dizem a você, você faz seu próprio destino. Você não é obrigado a aceitar um destino que não está em seu coração, mesmo que pareça não haver outro caminho. Você é quem faz seu destino, não importa a origem e a razão de seu nascimento. Você me entendeu?

- Entendi, eu faço meu próprio destino.

- Prometa que nunca vai desistir, que vai fazer de tudo para seguir seu próprio destino e não o imposto pelo Conselho

- Eu prometo Whorda

Tempo presente- Câmara de Kexdra:

"Eu prometi e preciso manter minha promessa".

Dxmaell fechou os olhos concentrando sua energia, a porta da câmara abriu-se e ele abriu os olhos para encontrar Arcom entrando. Seus olhos escureceram diante do Kdariano a sua frente, ele ostentava um sorriso sarcástico nos lábios e seus olhos percorriam seu corpo lascivamente.

Arcom olhava maliciosamente para Dxmaell, sua beleza era magnífica, ainda mais belo do que havia imaginado. A pele clara, os cabelos soltos, caindo sob o corpo, os olhos reluzindo de raiva, sentiu seu corpo reagir frente a essa imagem. A vontade de tocá-lo o fez caminhar em direção a ele e elevar a mão na intenção de tocar-lhe o rosto, mas parou ao sentir a energia que emanava de Dxmaell.

- Se me tocar... você morre

Dxmaell notou as intenções de Arcom, mas este não sabia com quem estava lidando, se ele pensava que o fato dele estar preso o ajudaria, estava terrivelmente enganado. Apenas Heero podia tocar nele e mais ninguém. A voz fria e cortante de Dxmaell assustou Arcom que recuou, mesmo preso Dxmaell ainda representava uma ameaça, agora sabia o porquê do Conselho temê-lo tanto. Dxmaell não era alguém que se podia ignorar, sua força não podia ser comparada a de nenhum Kdariano. Mas isso não duraria muito.

- Veio me visitar Arcom?...., hahaha eu soube que Aleng e Tzen conseguiram escapar, e isso não pega muito bem perante o Conselho

Dxmaell riu cinicamente diante da raiva nos olhos do outro, sabia o porquê do outro estar ali, ele seria o executor de sua sentença. Sua hora havia chegado afinal. Arcom acionou o painel na parede, enviando o sinal para as torres de transmissão na Terra, a execução seria assistida por todo o planeta, ele iria ver se Dxmaell continuaria a sorrir ao ter sua energia absorvida por completo.

Superfície do planeta Terra – 18:00hs terrestres:

Heero olhava para Aleng e Tzen sem saber o que dizer..., não havia o que dizer na verdade. Os Kdarianos se aproximaram em silêncio e colocaram arma de Dxmaell na frente de Heero, sabiam que o humano deveria ficar com ela. Heero olhou pra os dois e depois voltou seus olhos para a arma que vira o Kdariano usar no dia em que os libertara, no mesmo dia em que seu coração fôra tomado pelo Kdariano, o dia em que descobriu que se apaixonara por ele.

Aleng virou-se para o humano, seria uma conversa difícil mas necessária, olhou para Tzen buscando apoio e o Kdariano sorriu.

- E Dxmaell?

Ouviram a voz de Heero soar baixa e triste , abaixaram a cabeça tristemente antes de responder.

- Ele ficou, disse que... deve cumprir seu destino, assim como a criança que carrega.

- Então ele...

- Sim, Dxmaell me pediu para lhe dizer que carrega em seu ventre uma criança e que ela...

- Então o Cyarpks foi concluído afinal...ele terá uma criança Kdariana.

Heero sentiu seu coração se partir em mil pedaços, ao ouvir Aleng dizer que Dxmaell carregava uma criança em seu ventre. Mesmo já desconfiando disso, a certeza parecia matá-lo por dentro.

"No final...você cumprir com seu dever. Ela nunca será minha."

Aleng olhou para Tzen ao ver a dor nos olhos de Heero, ele não havia sido claro e o humano estava sofrendo. Ele se aproximou de Heero e tocou seu ombro fazendo-o olhar em seus olhos. Heero viu Aleng sorrir e balançar a cabeça deixando-o confuso ao ouvir as palavras do Kdariano.

- Não Heero, você não me entendeu.

- Você disse que Dxmaell carrega uma criança Kdariana.

- Não eu disse que ele carrega uma criança, mas não é apenas Kdariana, uma parte dela é humana...ela é uma parte sua Heero.

- Oh! Deus!

Heero sentiu suas pernas falharem e caiu no chão deixando que as lágrimas molhassem seu rosto. Eles teriam um filho....ele e Dxmaell.

"Nosso filho.. .eu desejei tanto isso... e agora....

Aleng não pôde impedir-se de chorar junto com o humano. Dxmaell seria morto junto com o filho que era de Heero e eles não podiam fazer nada para salvá-los. Heero sentiu o frio do crucifixo de prata em seu pescoço, agarrou-o entre as mãos fechando os olhos. Aleng viu o objeto na mão de Heero, Dxmaell o havia mandado pedir ajuda através dele, mas que ajuda receberiam?.

- Heero.

- ....

Heero não respondeu o chamado de Aleng, ele ainda estava tentando encontrar um meio de resgatar Dxmaell e a criança da nave mãe Kdariana. Aleng não sabia se Heero o ouviria, mas precisava transmitir o restante da mensagem ao humano.

- Dxmaell disse que você deveria pedir ajuda. Ele não disse quem viria, disse apenas que eram amigos.

Heero olhou para o crucifixo em suas mãos e girou a base, ele emitiu um pequeno som e parou. Ele olhou para Aleng que sorriu, deixando-o sozinho, sabia que ele precisava de um tempo para pensar em tudo que lhe fôra contado. Trowa chegou, olhando para os dois Kdarianos que saiam e depois para Heero. Este levantou-se ao ver o olhar de Trowa, alguma coisa acontecêra.

- O que houve Trowa?

- Eles...estão transmitindo uma imagem no céu.

- Uma imagem?

O coração de Heero comprimiu-se ao ler o que estava nos olhos de Trowa, levantou-se e correu para o deck de observação da montanha, sendo seguido por Aleng, Tzen e Trowa. Ao chegarem lá viram a imagem de Arcom e atrás dele, Dxmaell.

- A câmara de Kexdra.

Ouviu a voz de Tzen soar à suas costas, Dxmaell já lhe havia falado sobre a câmara, lembrava-se de seu olhar ao falar sobre ela.

"Ele já devia saber que este seria seu destino."

- Povo da Terra, irmãos Kdarianos. Hoje é o dia em que executaremos Dxmaell da casa de Klaryos, pelos crimes de traição, assassinato e conspiração. Que a morte dele sirva de exemplo a todos aqueles que ousarem desafiar Kdra, pois todos terão o mesmo fim que ele.

Arcom virou-se para Dxmaell que mantinha a cabeça baixa,aproximou-se dele e segurou seu cabelo, obrigando-o a levantar a cabeça, seus olhares se encontraram por um segundo, antes que o soltasse e ligasse a máquina.

- Aaaaaaahhhhhhhh

Heero cerrou os punhos, tamanho ódio que sentia, ele veria Dxmaell morrer e não poderia fazer nada para impedir. Fechou os olhos ao ouvir Dxmaell gritar..., uma lágrima solitária caiu de seus olhos, sentiu a mão de Trowa em seu ombro.

Aleng e Tzen olhavam tudo, pronunciando baixo algumas palavras em Kdariano, era como uma prece, desejavam que a energia de Dxmaell chegasse até os antigos,e que lhe fosse permitido ficar com eles. Tudo durou poucos segundos. Então uma luz clareou tudo e a transmissão foi cortada.

Heero abriu os olhos e segurou o peito, que doía terrivelmente. Estava tudo acabado. Dxmaell estava morto..., assim como seu filho. Deixou-se ser conduzido para o interior da caverna, não havia mais nada que pudesse fazer a não ser vingar-se; de alguma forma. E ele o faria... mesmo que no fim morresse. Teria sua vingança, contra todos os Kdarianos.

Continua....

1 Pryteh é um tipo de óleo usado pelos antigos para o ritual de passagem. Teria a densidade do petróleo.

2 Khtru nome do primeiro sol de Kdra ele possui um tom violeta claro.

3 Khtrya segundo sol de Kdra ele possui um tom amarelo alaranjado claro.

4 Khtryõs terceiro sol de Kdra ele possui um tom azul roseado.

5 Mryees nome da lua de Kdra, morada dos Arianos.

Agradecimentos a todos que comentaram

A Dhanda pela revisão.

A sis Lien pelas idéias.

A Mami pelo apoio e incentivo.

A tia Daphne e a galera Yaoi.