A Invasão
Capitulo IX - Um novo Começo ou Uma Despedida?
Heero não conseguia acreditar no que ouvira, como era possível que a pessoa de quem o homem falava fosse realmente Dxmaell.
"Isso é impossível! Ele morreu...eu o vi morrer".
Heero sentiu-se fraquejar e foi amparado pelo Ariano a seu lado. Aleng olhou para Tzen confuso, assim como os outros. Eles haviam visto a execução de Dxmaell na câmara de Kexdra, e sabiam que ninguém sobreviveria à ela. Então como aquele Ariano podia dizer que Dxmaell estava vivo, e era o novo governante de Kdra? Não podiam negar que a energia que sentiam da figura encoberta era parecida com a do amigo Kdariano, mas está era infinitamente muito mais poderosa que a de Dxmaell.
O jovem aproximou-se do homem curvado a sua frente e tocou-lhe o ombro fazendo-o levantar, ainda com a cabeça coberta. Procurou com os olhos a pessoa que buscava. Viu o humano apoiado a um de seu povo. Notou os ferimentos o que fez seu coração afligir-se por um momento, levando a mão ao capuz, e deixou que o mesmo escorregasse por sua cabeça revelando-lhe o rosto. Imediatamente seu olhar prendeu-se ao do humano, que o olhava surpreso e emocionado.
- Dxmaell...
Dxmaell leu nos lábios de Heero, seu nome sendo pronunciado com amor e emoção. Sentiu que lágrimas caiam por seu rosto e fez menção de ir até ele, mas foi impedido por seu pai que segurou-lhe o braço.
Você tem um dever a cumprir, não se preocupe; eu cuidarei para que ele seja tratado devidamente.
Dxmaell sabia que tinha responsabilidades para com seu povo e não poderia deixar o Conselho escapar. Procurou enxugar as lágrimas, recolocando a máscara de frieza a qual se acostumara a usar desde pequeno. Uowans deu um meio sorriso diante da mudança de atitude e olhar do filho. Sem dúvida ele havia sido bem criado quanto a não demonstrar temor ao enfrentar seus inimigos. Sabia que o fato de deixar o humano a cuidados de outros para ter que ir enfrentar o Conselho não o agradava. Eram iguais quanto ao cuidado e possessividade para com os que conseguiam alcançar seus corações.
Mesmo contrariado Dxmaell balançou a cabeça em acordo, e começou a descer a rampa em direção a Zhetryus, enquanto ouvia seu nome ser aclamado pelos Arianos. Seu olhar cruzou mais uma vez com o de Heero e lhe sorriu, antes que seu semblante voltasse a ficar sério. Uowans viu o filho caminhar em direção a seu destino e voltou seu olhar para o humano. Estivera curioso para saber quem era a pessoa que conquistara o coração de seu filho. Fez uma análise rápida acerca de tudo que ouvira de Dxmaell sobre o humano, as previsões de Dhyreean e do que vira com seus próprios olhos.
Uowans desceu a rampa, tendo o caminho aberto pelos Arianos que mantinham afastados os Kdarianos que ainda se mantinham leais ao Conselho. Em poucos instantes o líder dos Arianos encontrava-se em frente ao humano e seus amigos. Curvou-se ligeiramente, em sinal de respeito a coragem deles. Sua esposa havia-lhe mostrado a batalha dos humanos contra os Kdarianos, o que de fato o deixara surpreso; não apenas pela forma como lutavam.Sem fraquejar em seus atos, mas também pela coragem demonstrada frente à outra raça que sabiam não ter meios para vencer. Em sua opinião eram uma raça de valor, e haviam adquirido seu respeito, pelo simples fato de não terem se resignado à escravidão, e sim batalhado até o último segundo por sua liberdade. Podia entender o que seu filho vira neles e não conseguia pensar em nenhuma raça melhor para ser parte de seu neto.
Heero ainda matinha os olhos em Dxmaell que seguia em direção a Zhetryus, seu coração ainda batia descompassado por vê-lo vivo. Quando seus olhares se encontraram era como se houvesse chegado a um porto seguro depois de atravessar a pior das tempestades. Era como se os momentos de dor e tristeza provocados por sua morte nunca houvessem acontecido. Era difícil acreditar que ele estivesse vivo e, bem; sua vontade era de ir até ele e tomá-lo em seus braços para ter certeza de que o que via não era uma ilusão provocada pela perda de sangue em seus ferimentos; e o teria feito se algo no olhar dele não lhe dissesse que esse não era o momento para estarem juntos, pois ele ainda tinha responsabilidades a cumprir. Mas em breve eles se reencontrariam e saciariam a saudade imposta pelo destino.
Heero sentiu que era observado. Procurou com o olhar a pessoa que o observava. Viu que era o mesmo homem que anunciara Dxmaell como príncipe do povo que os ajudara, e o novo governante de Kdra, não imaginava quem seria tal homem, apenas sentia que era minuciosamente analisado por ele. Sustentou o olhar e notou um sorriso nos lábios do Ariano. Seu sorriso lembrou-o de Dxmaell quando este fazia o mesmo, nas poucas vezes em que se encontraram juntos. O homem veio caminhando em sua direção, sem desviar o olhar, e em poucos segundos encontravam-se frente a frente. O Ariano era muito mais alto que ele, mas diferentemente do que deveria acontecer não se sentia intimidado por isso, era quase como se fossem da mesma estatura, apesar da postura elegante e austera do Ariano. Analisando-o mais de perto surpreendeu-se ainda mais ao notar que o Ariano, possuía traços tão semelhantes ao de Dxmaell, estreitou os olhos diante da possibilidade que cruzou sua mente.
Uowans notou que passava por uma análise, e sorriu internamente. O humano era vários centímetros mais baixo que ele, mas mesmo olhando-o de baixo não parecia incomodar-se com tal posição. Sem dúvida era um líder nato. Tinha que parabenizar Dxmaell pela escolha do parceiro, não queria nem imaginar o que ocorreria se seu filho houvesse obedecido às vontades do Conselho em relação ao parceiro do Cyarpks. Pode notar a surpresa transpassar os olhos de um azul profundo, para logo em seguida desaparecerem como se nunca estivesse estado lá. O humano a sua frente ao que parecia também sabia como camuflar perfeitamente suas emoções, através de uma máscara de frieza. Tão parecido com Dxmaell. Uowans olhou para os outros humanos e Kdarianos com o humano. Apresentou-se a eles.
Eu sou Uowans da casa de Arquylias, líder dos Arianos e pai Dxmaell da casa de Klaryos.
Uowans não soube disser se o humano se surpreendera ou não com a revelação de que era o pai de Dxmaell, uma vez que seu olhar permaneceu inalterado. Quanto aos demais não foi difícil notar a incredulidade e surpresa diante do que acabara de revelar.
Embora o fato tivesse cruzado sua mente quando se encontrara frente ao Ariano, a informação dada o surpreendera. Pelo que Dxmaell havia-lhe dito certa vez, o Kdariano não tinha conhecimento de quem era seu pai, apenas de que ele já se encontrava morto, antes mesmo que tivesse nascido.
Há seis meses atrás:
Dxmaell encontrava-se sentado em sua nave. Com Heero a seu lado, procurava ensinar ao humano tudo que podia sobre os sistemas de armas das naves Kdarianas. Não achou que a tarefa fosse ser tão facilmente aprendida por Heero; mas o humano parecia absorver rapidamente tudo que lhe era dito. Olhou de relance para o humano que executava a simulação que lhe havia imposto. Sua performance era superior a de um soldado Kdariano. Sua habilidade em contornar e sobrepor os obstáculos eram impressionantes. Era quase como se já houvesse pilotado uma nave Kdariana.
Você executa com perfeição as manobras. Quase tão bem como se já as houvesse feito antes.
Heero olhou para Dxmaell e podia perceber a surpresa em seu olhar, embora este ostentasse a frieza habitual de sempre.
Eu fui treinado para ser um líder para meu povo. Há muitos anos minha raça conseguiu capturar uma de suas naves, e embora elas tenham evoluído muito nos últimos anos. Não é tão difícil quando já se viu uma.
Entendo...no inicio da... invasão a seu planeta algumas naves foram nossas foram perdidas.
Heero notou a pausa de Dxmaell ao falar do início da invasão Kdariana em seu planeta. Imaginava que ele deveria sentir-se incomodado uma vez que ele era o responsável por ela ter acontecido.
Ainda assim alguém teve que aprender como usar nossos sistemas, para depois ensinar como usá-los.
Meu pai era cientista, ele e outros quatro desmontaram a nave capturada e aprenderam com sua tecnologia.
Seu pai?
Sim.
Você conhece seu pai? Vivia com ele quando pequeno?
Heero viu os olhos de Dxmaell adquirirem uma estranha tristeza. Toda a aparente frieza de antes havia sido substituída por melancolia e tristeza. Sentiu ímpetos de aproximar-se e tomá-lo no conforto de seus braços, mas sabia que o Kdariano procurava sempre manter-se afastado dele, como se o temesse; ou temesse a si mesmo ou do que não era capaz de conter. Dxmaell levantou-se e olhou para a tela, sem realmente ver algo nela, achava que esse assunto não lhe incomodava mais, mas notara que a menção do pai do humano, lhe provara o contrário. Virou o rosto ao ser tocado no ombro pelo humano, este estava a apenas alguns centímetros atrás dele, e sua presença era-lhe terrivelmente perturbadora.
Quer conversar?
Não é nada importante.
Não deveria mentir para si mesmo...se realmente não fosse importante, isso não o incomodaria.
Dxmaell afastou-se e voltou seu olhar diretamente para ele. Era difícil expor algo que mantivera aguardado durante tanto tempo. Havia sido criado para ser um guerreiro que levaria Kdra a vitória sobre qualquer raça. Emoções apenas impediam que sua força se manifestasse, tirando de sua mente o foco de seus atos. Mas isso nunca o impediu de pensar sobre o Kdariano do qual possuía uma parte. Sempre imaginou que ele fosse um Kdariano forte, dado a energia que corria em seu corpo. No entanto nunca ninguém lhe falou nada sobre tal Kdariano. Simplesmente que morrera antes que o visse nascer.
Eu...nunca conheci o meu pai. Não que isso tenha alguma importância, mas às vezes eu gostaria de saber quem ele era.
Era?
Sim ele morreu antes que eu nascesse, assim como minha mãe, que morreu ao me trazer a vida.
Eu...eu sinto muito.
Dxmaell balançou a cabeça e voltou sua atenção a simulação que preparara para Heero. Não sabia quem era o pai do humano, mas deveria ser um grande homem.
Seu pai deve ter sido...um grande homem.
Porque diz isso?
Uma pessoa me disse uma vez, que nos tornamos aquilo que nossos pais fazem de nós ou o que escolhemos fazer de nosso destino.
Heero não possuía lembranças agradáveis do pai, mas não havia como negar que parte do que era devia a ele. Costumava chamá-lo apenas de J, uma vez que não tinham muita afinidade. Seu pai acreditava que se lhe dispensasse afeição isso o tornaria incapaz de desempenhar seu papel na guerra.
Heero avançou um passo, sendo ajudado por Tzen que tomou o lugar do Ariano que o ajudara a manter-se de pé.
Eu sou Heero Yuy líder da resistência humana, esses são Trowa Barton, Chang Wu-Fei, Aleng da casa de Ranwer e Tzen da casa de Kshda.
Uowans meneou a cabeça levemente diante deles, já ouvira falar dos dois Kdarianos ao lado dos humanos, eram os amigos mais fieis de seu filho. Todos eles possuíam ferimentos que exigiam cuidados imediatos, e o mais grave deles certamente era o do Kdariano loiro chamado Aleng, cuja mão havia sido claramente amputada.
Venham comigo até minha nave, vocês precisam de cuidados médicos, e será uma honra cuidar para que tão valentes guerreiros se restabeleçam.
Mas e Dxmaell?
Uowans sorriu para Heero e assumiu o lugar do Kdariano que o sustentava, ajudando-o a caminhar até sua nave, uma vez que o humano não parecia querer dar um passo sem antes saber de Dxmaell.
Não se preocupe, ele cumprirá seu destino e se juntara a nós em breve. Não tema, ele ficara bem. Agora vamos, prometi a ele cuidar de seus ferimentos.
Uowans fez sinal para que os outros o seguissem. Assim como os demais humanos feridos, todos receberiam cuidados médicos, enquanto Dxmaell não se juntasse a eles a bordo da Asthyãns 1.
Várias horas depois:
Heero acordou lentamente, sentindo um afago em seus cabelos. Abriu os olhos devagar, tentando acostumar-se ao ambiente de pouca claridade. A primeira coisa que identificou foi a íris ametista, repleta de preocupação e carinho. Quantas vezes não acordara, para ter suas esperanças esmagadas ao ver que tudo não passara de mera ilusão de sua mente. No entanto, o calor e o afago pareciam muito reais para ser somente uma ilusão. Podia sentir o calor do corpo junto ao seu, mas mesmo assim ergueu sua mão, temendo de que tudo não passasse de um sonho. Ao sentir o calor e a maciez sobre seus dedos soube que nenhum sonho poderia ser tão perfeito. Heero levantou-se e sentou-se, para poder acariciar a face bela que o observava. Desenhou com dedos trêmulos o sorriso que pairava no rosto do ser junto a si. Pôde sentir o toque dos lábios beijando ternamente seus dedos. Ao falar sua voz saiu repleta de alegria e alívio por reencontrá-lo novamente.
Como senti sua falta.
Eu também. Eu...eu achei que nunca o veria novamente.
Heero enxugou a lágrima que caia dos olhos de Dxmaell, ao expressar a dor de nunca mais voltar a ver o humano. Ele o puxou para si, abraçando-o fortemente. Seus lábios encontraram-se em um beijo repleto de saudade e amor. Quando ficaram sem ar, os lábios de Heero abandonaram os de Dxmaell e desceram por seu pescoço enquanto sussurrava.
Você está vivo.
Sim eu estou vivo Heero... nós dois estamos vivos.
Heero parou a exploração com seus lábios, confuso por alguns instantes até compreender o significado das palavras de Dxmaell. Afastou-se e olhou dentro dos olhos ametistas que lhe sorriam. Deixou que o Kdariano segurasse sua mão e a colocasse sobre o ventre que já se encontrava inchado, devido ao avanço da gravidez. Olhou admirado e não pôde impedir-se de chorar, por saber que seu filho estava ali dentro, vivo; e que ele poderia vê-lo nascer e crescer. Heero inclinou-se e beijou o ventre de Dxmaell acariciando-o, e não pôde ver o olhar triste com que o Kdariano o olhava. Ele acariciou os fios rebeldes do cabelo de Heero e deixou que seus olhos se enchessem de lágrimas.
Ficaram alguns minutos assim em silêncio, até que Heero levantasse. Ele olhou ao redor e não reconheceu onde estava; lembrava-se apenas de entrar na nave, em companhia do Ariano chamado Uowans e depois desmaiar. Dxmaell acompanhou com o olhar a exploração visual de Heero, a cerca do ambiente. Após retornar da Zhetryus a primeira coisa que fizera fôra procurar pelo humano. Ainda teve que conversar com seu pai antes que pudesse procurar por Heero. Mesmo Uowans lhe havendo dito que o humano estava sob os cuidados de sua mãe. Através dela soube que Heero havia sido levado a seus aposentos particulares e correra para lá, assim que as portas se abriram vira-o deitado em sua cama descansando.
Deitara-se a seu lado, e ficara vigiando seu sono por quase sete horas antes que o mesmo despertasse. Os ferimentos de Heero haviam sido cuidados e sua energia havia sido restabelecida por Dhyreean. Ainda não sabia exatamente como estavam Aleng e Tzen. Não conseguira pensar em mais nada que não fosse ver Heero. Tocá-lo e saber que estava seguro. Havia tanto o que conversar, tanto a fazer, mas no momento tudo que desejava era matar a saudade que sentia dele, a saudade de seus beijos e de seu toque em sua pele. A sensação de conforto e tranqüilidade que sentia em seus braços, e a certeza de que tudo se acertaria no final. No entanto ainda sentia vergonha de expor seus desejos. Mesmo a saudade o sufocando por dentro, e mesmo esperando um filho do humano.
Heero olhou dentro dos olhos do Kdariano que corara por alguns instantes, desviando o olhar. Tinha tanto a perguntar. Como ele conseguira escapar da câmara de Kexdra? O que havia acontecido ao Conselho? Saber se sua raça estava finalmente livre, mas ao ver seu rosto corado e seus olhos envergonhados e escurecidos, soube que tudo seria esclarecido mais tarde. No momento ele desejava apenas satisfazer o desejo que vira nos olhos de Dxmaell e que sabia existir também em seu olhar. Ergueu sua mão e tocou o queixo do Kdariano fazendo-o encará-lo. Observou os lábios vermelhos e cheios e sentiu seu peito bater mais forte ao vê-lo passar a língua por sobre eles.
Dxmaell sentiu o coração explodir em seu peito, ao ver Heero olhá-lo com tanto calor e desejo. Seus olhos pareciam devorar seus lábios, e não foi com surpresa que sentiu os lábios do humano cobrirem os seus de forma faminta. Ofegou ligeiramente, entreabrindo os lábios; isso era tudo de que Heero precisava para invadir-lhe a boca com a língua, tornando o beijo ainda mais profundo e ardente. Suas mãos viajaram pelas formas perfeitas do Kdariano, e ele o puxou para si, diminuindo o espaço entre eles. Seus dedos tocaram a ponta da tranca, soltando os fios longos e sedosos que tanto o fascinava.
Dxmaell deixou-se ser deitado, e inclinou a cabeça ao sentir os lábios de Heero contra seu pescoço. Suas mãos alcançaram os ombros largos e despidos, segurando-se neles como a muito não fazia. Pôde sentir as mãos de Heero alcançarem sua pele por debaixo da vestimenta, enquanto os lábios sugavam seu ombro e desciam por seu peito. Ofegou o nome de Heero, ao ter um dos mamilos sugados, e comprimiu os dedos contra as costas do humano, beijando-lhe a curva do pescoço e o ombro esquerdo.
Heero.
Heero ergueu a cabeça e deu um ligeiro sorriso ao ver a forma abandonada e entregue de Dxmaell. O Kdariano abriu os olhos escurecidos pelo desejo e viu-se através da íris azul cobalto do humano. Balançou a cabeça ao pedido mudo para retirar suas roupas, e permitiu que o humano o livrasse delas. Eles se entregaram a saudade e ao desejo, adormecendo saciados e completos, um nos braços do outro.
Duas horas depois:
Dxmaell abriu os olhos sentindo-se seguro. Aspirou o perfume suave que o envolvia e sorriu ao sentir braços apertarem gentilmente sua cintura. Esfregou a cabeça contra o ombro de Heero que virou o corpo do Kdariano para si. Apoiou-se em um dos cotovelos, retirando delicadamente alguns fios do rosto de Dxmaell. O Kdariano pousou sua mão no braço de Heero, contornando os músculos perfeitos com a ponta dos dedos. Ele o amava tanto que chegava a ser doloroso. Muito mais doloroso que os ferimentos de uma batalha. Heero pôde ver a dor nos olhos de Dxmaell e inclinou-se sobre ele beijando-lhe suavemente a testa, antes de deitar-se a seu lado e fazê-lo repousar a cabeça em seu peito. Ficaram em silêncio por algum tempo, até que Heero decidiu perguntar como ele havia escapado da morte e porque não os procurara.
Como você escapou da câmara de Kexdra?
Você quer saber agora? Eu tinha outros planos no momento.
Dxmaell ergueu-se ligeiramente, olhando maliciosamente para Heero que sorriu; beijando-o no rosto antes de apertá-lo suavemente em seus braços. Heero sorriu diante da malícia nos olhos do Kdariano. Tão diferente de algumas horas atrás. Tinha uma ligeira idéia do que o Kdariano planejava, mas estava curioso por saber o que acontecêra, e eles poderiam se entregar novamente mais tarde.
Quero sim, nós podemos fazer o que você quiser mais tarde, mas por hora eu quero saber tudo o que aconteceu durante o tempo em que você sumiu e achamos que tivesse morrido. E porque não nos procurou... porque deixou que pensássemos que estava morto.
Está bem... eu vou contar.
Dxmaell sorriu e aconchegou-se nos braços de Heero, se lembrando do que acontecera. Ele mesmo ficara surpreso com o que ocorrera. Em um minuto estava sendo drenado e no outro encontrava-se em uma sala que nunca vira antes, e com um homem que não encontrava desde a infância.
A alguns meses atrás:
Arcom virou-se para Dxmaell que mantinha a cabeça baixa. Aproximou-se dele e segurou seu cabelo, obrigando-o a levantar a cabeça. Seus olhares encontraram-se por um segundo, antes que este o soltasse e ligasse a máquina. Dxmaell sentiu seus cabelos serem puxados o que o obrigou a erguer a cabeça. Seu olhar encarou Arcom por alguns segundos, como se o desafiasse; e notou que o rosto do tenente transfigurou-se pela raiva. Jamais daria a ele o prazer de vê-lo derrotado como gostaria. Sabia que em alguns segundos estaria morto e não haveria nem sombra de sua forma ou energia. Dirigiu seus pensamentos a Heero e fechou os olhos novamente. Sentiu que seus cabelos eram soltos e sabia que chegara o momento. Não pôde evitar que um grito de dor rasgasse sua garganta e escapasse por seus lábios, quando a máquina foi acionada e começou retirar sua vida.
Aahhhhhhhhhhhhhhhhh...
Sentiu seu corpo rebelar-se contra o que ocorria. A necessidade de sobrevivência parecia clamar para que não se entregasse. Sentiu como se todas as células de energia de seu corpo explodissem dentro de si. Abriu os olhos momentaneamente, encarando Arcom que sorria cinicamente. Procurou elevar sua energia ao máximo, mas caiu na inconsciência poucos segundos depois de uma luz clarear toda a câmara. Quando acordou sentia seu corpo deitado sobre uma superfície, fria mas agradável. Procurou abrir os olhos ao ser motivado por uma voz carinhosa.
Vamos garoto...acorde.
Dxmaell abriu os olhos com dificuldade, todo seu corpo doía, como se houvessem puxado sua pele e músculos. Piscou os olhos procurando ambientar-se à claridade da sala onde se encontrava. Automaticamente levou a mão ao ventre e ouviu novamente a mesma voz que o incentivara a acordar.
Não se preocupe, ele ainda está vivo.
Dxmaell procurou pelo dono da voz, vendo pela primeira vez um senhor que lhe sorria, tentou se levantar, mas foi impedido pelo homem.
Você ainda está fraco demais garoto, por pouco não o perdemos
Quem é você? E porque me ajuda?
Você saberá de tudo há seu tempo, Dhyreean e Uowans estão vindo
Quem?
Tudo á seu tempo Dxmaell da casa de Arquylias
Eu não...
Dxmaell não pôde completar a frase, pois foi deixado sozinho na sala. Porque aquele senhor dissera que pertencia à casa de Arquylias, quando na verdade ele pertencia à casa de Klaryos. E porque o semblante daquele homem lhe era tão familiar? Dxmaell procurou sentar-se. Varreu os olhos pelo lugar tentando descobrir onde estava, não havia nada ali dentro que pudesse ajudá-lo a identificar seus supostos salvadores. A tecnologia que via não lhe era totalmente desconhecida, na verdade era bastante familiar. Era a tecnologia Kdariana, sendo no entanto um pouco mais avançada a primeira vista. Não sabia dizer onde se encontrava ou quem o salvara, tudo de que tinha certeza era de que seus salvadores eram avançados tecnologicamente, e o salvaram por algum motivo que desconhecia.
A sala tornou-se um pouco mais clara, dando-lhe uma visão melhor do ambiente onde se encontrava. Não pôde analisar melhor o local, pois uma porta abriu-se no mesmo lugar por onde o homem passara a poucos instantes. Por ela entraram dois homens altos de cabelos escuros. A primeira coisa que identificou foi que os dois homens pertenciam a segurança, pois a forma como agiam lhe dizia isso. A segunda é que eram Arianos; pelas vestimentas que usavam, mas como isso era possível? Teoricamente os Arianos haviam perecido com Kdra. Os dois homens se colocaram cada um de um lado da passagem que permanecia aberta, logo mais dois entraram e colocaram-se próximos a ele, cada um em uma ponta da cama. Dxmaell sorriu ironicamente, e sentou-se na beirada da cama, parecia que havia chegado o momento de conhecer seus salvadores.
Dxmaell procurou manter sua energia controlada, mas era difícil, podia sentir duas fontes de energia poderosíssima aproximando-se, uma delas era ligeiramente tranqüila e acolhedora, a outra lhe passava uma sensação de força e segurança que nunca tivera. Ele estreitou os olhos e manteve o semblante fechado. Não sabia quem eram, mas tinha certeza de quem quer que fossem, juntos eram poderosos. Em poucos segundos um homem alto de aparência altiva entrou. Possuía traços semelhantes aos seus, era como se visse a si mesmo daqui a alguns anos, mais velho.
Também possuía longos cabelos castanhos, apenas levemente mais escuros que os seus. Sentia algo em sua energia, algo que não conseguia entender expandiu sua energia que chocou-se imediatamente com a do Ariano. Notou o sorriso nos lábios do homem que não se sentiu intimidado. O viu estender a mão a alguém. Uma mulher de aparência jovem, com cabelos longos e claros entrou.
Dxmaell sentiu a energia dela chocar-se com a sua e o acalmar. Envergonhado por enfrentá-la, abaixou a cabeça para tê-la erguida pela mulher. Notou-lhe a tonalidade dos olhos, tão similares aos seus, apenas ligeiramente mais claros. Então ele notou algo neles, era como se visse todo o seu passado e seu nascimento. Sem que percebesse lágrimas caiam de seus olhos, sendo enxugados pela mulher.
Heero enxugou os olhos de Dxmaell, poderia entender o que ele sentia ao descrever o encontro com seus pais e conhecer finalmente seu passado e a origem de seu nascimento. Desde pequeno havia sido criado por Whorda por ordem do Conselho. Dxmaell sempre acreditou que seus pais estavam mortos, nunca desconfiara da importância de seu nascimento. Dos motivos pelos quais havia sido concebido, isso o fazia pensar sobre a responsabilidade de Dxmaell para com sua raça.
Dxmaell ainda não conseguia acreditar que o homem e a mulher a sua frente eram seus pais, o Conselho e Whorda sempre lhe disseram que eles haviam morrido. Ele tocou o rosto da mulher que lhe sorria com carinho, se lembrou de quantas vezes desejara tocar e conhecer o rosto de sua mãe. Whorda sempre lhe contava historias sobre Dhyreean, mas em nenhum momento lhe contara que era filho dela, ou de Uowans o líder da raça Ariana. Eles haviam conversado por horas sobre sua vida e a deles, a falta que ele fizera e o destino que lhe era reservado, no entanto tudo que se passava em sua cabeça era Heero, sabia que os humanos deveriam estar enfrentando a pior batalha de suas vidas e ele não podia ficar ali.
Dhyreean sorriu diante da preocupação do filho, até o momento Dxmaell não lhes havia contado sobre o humano, responsável pela criança que ele carregava em seu ventre. Ainda assim em nenhum momento Dxmaell havia se esquecido dele, Dhyreean voltou seu olhar para o marido que sacudiu a cabeça, sabendo exatamente que ela desejava ficar a sós com o filho, ele se levantou beijando a testa dela e tocando o ombro do filho com a mão direita, antes de deixar o quarto onde o mesmo fora colocado. Dxmaell viu o pai sair e deixa-lo a sós com a mãe, que parecia conhecer o fundo de sua alma. Ela sentou-se a seu lado na cama o fazendo descansar a cabeça em seu colo. Acariciou os fios longos da forma com que ele sempre sonhara.
Fala-me sobre ele…. o segundo pai da criança em seu ventre.
Dxmaell olhou para ela surpreso, não imaginava que ela soubesse, não que a criança não pudesse ser notada, mas que ela fosse fruto de um outro homem e de que estava nesse exato momento pensando nele.
Como sabe?
Dhyreean sorriu e beijou o rosto do filho o fazendo corar. Dxmaell era tão inocente ainda, mesmo sendo responsável pela destruição de inúmeras vidas, sendo criado pelo Conselho para destruir, quando sua pobre alma desejava outra coisa. Ele ainda tinha muito a aprender, até que fosse o governante que Kdra precisava, infelizmente ainda havia um pouco de sofrimento antes que ele estivesse pronto para isso.
Eu sou sua mãe querido, mesmo que não tenha acompanhado de perto seu crescimento, eu sei ver através de seus olhos e eles me dizem que você pensa nele.
Entendo…ele…ele é humano
Dxmaell ficou observando tentando ver algum traço no rosto de sua mãe que lhe dissesse que era contra o fato de seu filho ter um pai humano, no entanto viu apenas compreensão e carinho. Encorajado por isso decidiu contar a ela tudo sobre Heero, como se conheceram, quando descobriu que sentia algo por ele, as primeiras sensações, os primeiros toques. Dhyreean ouviu tudo silenciosamente, confortando seu filho quando a dor e a saudade o impediam de continuar a falar, se alegrou por ele ter encontrado o humano em uma galáxia tão distante de Kdra.
Dhyreean...quer dizer, minha mãe; ela deseja muito conversar com você. Acho que você ainda não teve a chance de vê-la.
Não, ainda tive esse prazer; embora tenha a ligeira lembrança de ver uma mulher com os mesmos olhos que os seus cuidando de mim. Suponho que tenha sido ela que cuidou de mim, quando estive desacordado.
Foi...eu pedi a ela que o fizesse. Eu não…queria ninguém mais cuidando de você, além de mim, mas eu tinha outras coisas a fazer antes.
Heero sorriu ao ouvir Dxmaell revelar sua possessividade, além do fato que o mesmo ficara corado ao fazê-lo.
Eu devo agradece-la então. E o Conselho? O que houve com ele?
Eles não representam mais perigo aos humanos ou a qualquer outra raça.
Você acabou com eles?
Dxmaell balançou a cabeça, havia sido uma batalha cansativa, embora não tenha sido difícil.
Há exatamente doze horas atrás:
Dxmaell entrou em Zhetryus. A nave parecia morta, mas ele sabia que estavam aguardando por ele, podia sentir as energias vibrando ao seu redor, no entanto nenhuma delas era páreo para ele. Não deseja ferir mais ninguém de sua raça, mas o faria se não houvesse escolha, não permitiria que o Conselho escapasse, ele tinha que parar com a destruição desmedida de outras raças e para isso tinha que destruir o Conselho de Kdra. O mesmo que o criara para ser o comandante das tropas que levariam Kdra a glória, mas não havia glória em matar outros seres. O Conselho o havia usado para seus próprios fins. Eles nunca pensaram em Kdra, sempre o iludiram dizendo que a destruição de outras raças, a sobrevivência deles era o único meio de restabelecer Kdra.
Nunca tentaram uma convivência pacifica, eles destruíram tudo o que os antigos pregavam, destruíram sua vida com mentiras, o impediram de conhecer seus pais, o tirando de seus braços, com a falsa intenção de fazer Kdra reviver. Não podia perdoá-los, não havia perdão para o que eles haviam feito de livre escolha, apenas por mais energia, energia vital de outras vidas e outros planetas. Dxmaell entrou em uma das áreas de Zhetryus encontrando um contingente de 100 kdarianos, ele os olhou friamente, muitos deles recuaram diante de seu olhar, ele elevou sua energia o suficiente para intimidá-los. Conhecia muitos deles, muitos treinavam sob a supervisão dele e de seus oficiais, muitos ainda eram jovens demais, outros nem tanto.
Eu não desejo lhes fazer mal, meu assunto é com o Conselho, saiam do meu caminho e eu os deixarei viver.
Dxmaell viu os soldados olharem uns para os outros. Os oficiais que se encontravam no meio deles aproximaram-se de Dxmaell empunhando suas armas, eles já sabiam o que havia acontecido do lado de fora. Que Dxmaell havia sido proclamado o governante de Kdra e líder dos Arianos, sabiam que a tecnologia Ariana era superior a deles e mesmo que não o soubessem a energia que emanava de Dxmaell era assustadoramente surpreendente, muito mais que a do Conselho. Eles depositaram suas armas no chão e curvaram suas cabeças diante da energia do comandante das tropas kdarianas.
Nossa lealdade sempre foi para com o senhor comandante, e ela continua sendo, ainda mais agora que é o governante de Kdra
Lidere-nos novamente e o seguiremos a onde for
Dxmaell balançou a cabeça e seguiu abrindo caminho entre os soldados que lhe abriam caminho, seguiu em direção ao salão do Conselho. Parou diante do guarda da porta, este o olhou e curvou-se diante da energia que sentia dele. Dxmaell meneou a cabeça e a porta abriu. Podia sentir as energias do Conselho agitarem-se ante sua presença, e sorriu ironicamente ao primeiro ataque deles.
Heero olhou para o semblante de Dxmaell, ele se encontrava desprovido de qualquer outra emoção que não fosse raiva, acariciou os fios do cabelo dele, fazendo-o voltar os olhos para ele. Notou que eles suavizaram e sorriu. A cada palavra dita, a forma como ele subjugara e derrotara o Conselho fazia seu coração bater descompassado. Mesmo que ele houvesse dito que havia sido rápido, não podia impedir-se de pensar o quão perigoso havia sido. Mas felizmente Dxmaell os derrotara e ambos estavam livres, para viverem essa liberdade.
Isso é tudo?
Huumm... tudo. Eles nunca mais machucarão ou destruirão outra raça.
Como se sente?
Triste...por ter demorado tanto para perceber. Se eu soubesse antes, muitas vidas poderiam ter sido salvas.
Não fique assim meu amor, meu pai costumava me dizer que tudo na vida tem o tempo certo para acontecer, se não aconteceu antes era porque não havia chegado o momento.
Minha mãe me disse a mesma coisa.
Então não pense mais nisso.
Heero beijou os lábios de Dxmaell e acariciou seu corpo. Podia ouvir os gemidos suaves dele contra seus lábios, à medida em que suas mãos tocavam-lhe o corpo. Afastou-se ligeiramente, olhando dentro dos olhos ametistas, o viu sorrir e passar os braços atrás de seu pescoço, e puxando-o para tomar-lhe os lábios novamente. Dxmaell passou uma de suas pernas pela cintura de Heero, o puxando contra seu corpo, suas mãos deslizaram pelas costas nuas do humano, enquanto o mesmo mordiscava seu pescoço. Precisava dele novamente em seu corpo e sabia que seria atendido brevemente.
Uma semana depois:
Dxmaell encontrava-se deitado na cama do quarto de Heero. Os humanos estavam reconstruindo o planeta com ajuda dos Kdarianos e Arianos. Construindo novas moradias em cima do solo e não embaixo dele. Estavam em uma das poucas moradias que haviam sido erguidas. Ele sorriu diante da paz que sentia e descansou a cabeça no ombro de Heero, sentindo o corpo arrepiar-se diante dos beijos depositados em seu pescoço. O momento seria perfeito se seu peito não doesse terrivelmente diante da lembrança da conversa que tivera com seu pai há algumas horas atrás quando fora até Asthyãns.
Três horas atrás:
Dxmaell havia deixado Heero no que os humanos chamavam de apartamento. Seu pai havia-o chamado para ir a Asthyãns. Tinha uma ligeira idéia do que ele queria, e na verdade temia a chegada desse momento. Encontrou-o na ponte da nave, dando algumas ordens. Pela movimentação que notara desde que chegara, sabia o que estava acontecendo: eles estavam partindo.
Pai, o senhor mandou me chamar?
Uowans olhou para seu filho, ele estava vestido como os humanos e passaria facilmente por um, podia notar o olhar receoso dele, sabia que o filho já tinha uma idéia quanto ao teor da conversa, na verdade se não fosse por Dhyreean já a teria tido assim que o humano se restabeleceu, mas decidiu dar ao filho algum tempo junto ao humano. No entanto eles precisavam partir para que Dxmaell terminasse de cumprir com seu destino.
Chamei. Você sabe que tem que deixá-lo.
O lábio de Dxmaell tremeu ligeiramente, ele abaixou a cabeça recusando-se a escutar, embora as palavras do pai continuassem a penetrar por seu ouvido.
Não tem escolha Dxmaell, seu povo precisa de você.
Mas eu...não quero ir. Eu amo Heero, eu carrego o filho dele comigo
Eu sei, mas é inevitável. Quanto tempo você acha que seu povo viverá sem obter energia? Quanto tempo até as células de energia que nos mantém vivos se esgotem? Condenaria sua própria raça a extinção, apenas para ficar junto ao humano?
Dxmaell moveu os lábios, mas não foi capaz de refutar a verdade nas palavras do pai. Não podia condenar sua raça a extinção por amor a Heero. Ele tinha um dever e uma responsabilidade para com a raça Kdariana e Ariana. Levou a mão ao ventre, pensando no filho que carregava. Em pouco mais de dois meses ela nasceria, mas que tipo de vida daria a ela? que tipo de pai seria para ela se carregasse a culpa em seu coração? Dhyreean chegou a ponte ao sentir a energia do filho. Sabia que Uowans pretendia partir assim que falasse com Dxmaell sobre suas responsabilidades, ele precisava cumprir o destino para o qual nascera.
Mas a dor que via em seus olhos, afligia seu coração de mãe. Se pudesse revelar a ele seu destino talvez isso o confortasse. Mas sabia que não deveria interferir. Dxmaell precisava decidir sozinho, como o novo governante que era. Ele deveria aprender a tomar decisões pensando em seu povo e não nele. Decisões que o fariam sofrer, mas que eram as certas. Ela se aproximou colocando-se ao lado de seu marido. Podiam notar o esforço que o filho fazia para não chorar, a batalha que ele travava com seus sentimentos. Dxmaell fechou as mãos em punho, seu coração lhe dizia para ficar ao lado de Heero e criar com ele seu filho, mas sua honra lhe dizia que seu dever era primeiro para com seu povo e para com seu planeta. Ele havia nascido para reconstruir Kdra. Nascera para liderar sua raça, para unir Kdarianos e Arianos como irmãos. Era seu dever e seu destino. Ele ergueu o rosto. Seu olhar mostrava resignação e frieza. Ao falar sua voz era firme, não demonstrando o turbilhão em que se encontrava, pronto a rasgar seu peito.
Dê-me três horas. Ordene que todos se preparem, partiremos assim que eu retornar.
Uowans balançou a cabeça diante da ordem. Dxmaell meneou a cabeça e passou pelos pais com a cabeça erguida e o semblante frio, mas eles podiam ver em seus olhos a dor e a tristeza. Dhyreean abraçou o marido que a confortou, sabiam que não seria nada fácil para o filho despedir-se do humano. Por alguns instantes temeram que ele se recusasse e decidisse ficar, não poderiam obrigá-lo a ir, não quando ele tinha tanto a deixar para trás.
Heero acordou e olhou para o lado a procura de Dxmaell. Mas não havia o menor sinal dele. O Kdariano havia retornado da nave Ariana a três horas atrás e eles haviam feito amor até caírem no sono. Dormira com Dxmaell em seus braços e estranhara o fato dele não se encontrar na cama com ele. Heero sentou-se, procurando por algum vestígio do Kdariano. Voltou seu olhar para o travesseiro encontrando um pequeno objeto sobre o mesmo. Assim que o pegou o objeto começou a piscar disparando um facho de energia, no meio do quarto onde surgiu a imagem de Dxmaell. O Kdariano usava as mesmas roupas de quando se viram pela primeira, eles ficaram se encarando por algum tempo, até que imagem a sua frente se pronunciou.
Heero...eu quero...
Heero viu as lágrimas no rosto de Dxmaell e se levantou, mas parou quando o Kdariano balançou a cabeça pedindo silenciosamente que ficasse onde estava.
Você esta indo embora...não é?
Heero viu Dxmaell balançar a cabeça e soluçar, antes de levantar os olhos e encarar a íris azul cobalto que se encontrava embaçada por algumas lágrimas.
Você se lembra quando me perguntou se eu iria embora, se encontrássemos um meio de salvar nossas raças?
Lembro... foi no dia em que nos beijamos.
Sim...
Dxmaell sorriu ao lembrar-se do beijo e de como se sentira quando Heero o tocara. Seu coração bateu mais rápido fazendo com que vacilasse momentaneamente em sua decisão. Ele voltou seu olhar a Heero, que também se encontrava perdido nas lembranças daquela noite na montanha.
Aquele foi o dia mais feliz de minha vida. Você foi o único a me tocar Heero, o único que conseguiu chegar ao meu coração e é por isso que... que me dói ter que deixá-lo.
Porque? Porque você tem que partir?
Heero tentava não chorar, mas era impossível diante do que estava acontecendo, estava perdendo Dxmaell. Sabia disso e não tinha como evitar. Dxmaell sentiu seu peito ser rasgado, diante da dor que via nos olhos de Heero, e saber que era o causador dela fazia-o sentir-se ainda pior. Não queria estar se despedindo do humano dessa forma, mas sabia que se o fizesse pessoalmente não conseguiria abandoná-lo, e no momento isso era o certo a fazer. Nunca poderia ficar, sempre soubera disso e quando se tornara o governante dos Kdarianos e Arianos suas obrigações apenas se tornaram mais claras.
Meu povo precisa de mim... Kdra precisa ser reconstruída e eu sou o único que pode fazer isso.
Porque você Dxmaell?...vocês poderiam viver entre nós... pod...
Não... você melhor do que ninguém sabe que é impossível Heero. Meu povo vive de energia, energia que era suprida por Kdra. É meu dever restabelecer e levar minha raça de volta para casa.
E nosso filho?
Dxmaell olhou para Heero e se aproximou ajoelhando-se a sua frente, ele abriu os lábios que tremiam levemente, era tão difícil... Heero jamais veria o filho, jamais o veria nascer e crescer. Estava roubando dele esse direito, mas não tinha outra opção, a criança seria criada apenas por ele, mas faria questão de que ela soubesse de Heero e dos motivos dele não estar presente em suas vidas. Heero não precisava de uma resposta a sua pergunta, podia lê-la nos olhos de Dxmaell, ela nasceria em Kdra e viveria junto a sua outra metade, junto aos kdarianos, jamais a veria, apenas poderia imaginar como ela seria ao crescer.
Você vai contar sobre mim?
Sim... todos os dias... eu queria que pudéssemos... criá-la juntos... que pudéssemos...
Heero ergueu os dedos e tocou a imagem de Dxmaell como se o silenciasse, ambos choravam por aquilo que estavam perdendo. Estavam abrindo mão da felicidade juntos, pela sobrevivência da raça de Dxmaell e seu filho.
Gostaria que ela tivesse seus olhos.
E eu os seus... Heero... eu te amo... sempre vou amar... nunca vou esquecê-lo.
Eu também Dxmaell... enquanto viver, sua lembrança permanecerá viva dentro de mim, e ninguém nunca irá ocupar seu lugar.
Se você um dia puder me perdoar.. .eu gost..
Eu entendo... eu sempre soube que você não ficaria, quando você não foi capaz de me responder àquela noite, eu soube que você voltaria para seu mundo um dia.
Adeus Heero... meu único amor.
Adeus... Dxmaell.
A imagem de Dxmaell sumiu e Heero levantou-se. Caminhando até a janela, viu ao longe a nave Ariana levantar vôo, e sabia que ela levava Dxmaell e seu filho. Bem como sabia que as chances de voltar a ver o Kdariano eram ínfimas. Como ele mesmo dissera, ele tinha responsabilidades como o novo governante de Kdra e para isso estava sacrificando o seu amor por ele em prol de sua raça. Dxmaell mantinha os olhos presos no monitor que a pouco mostrara a imagem de Heero, ele soluçou tentando impedir as lágrimas de caírem, sabia que estava fazendo o que era certo, mas nem por isso era menos doloroso. Sempre soube que não poderia ficar na Terra que seu destino era retornar a Kdra.
Dxmaell sentiu o toque de Aleng em seu ombro e virou-se para o amigo que também chorava, ele também estava deixando alguém especial para trás, eles haviam iniciado uma jornada para a sobrevivência de Kdra e era por ela que deixavam uma parte de suas vidas na Terra. Olhou pra Tzen que se mantinha calado. Afastou-se de Aleng, caminhando para seu quarto na nave de seus pais, podia sentir a pequena vida agitando-se em seu ventre, como se entendesse seu sofrimento, mas não aceitasse sua decisão. Entrou em seu quarto. Deitando-se, permitiu que as lágrimas viessem livremente. O tempo que vivera na Terra na companhia de Heero o acalentaria até o dia de sua morte, viveria das lembranças dos momentos que passaram juntos. Viveria para o filho que carregava em seu ventre. Fruto de seu amor pelo humano que jamais esqueceria e voltaria a ver.
Owari
Acabou! Yoru soltando fogos diante da primeira fic terminada. Por favor não me matem ok.
Agradecimentos a Dhandara pela revisão
Agradecimentos a Sis Lien pelas dicas e idéias. (valeu mesmo sis)
A Mami lindinha que muito me incentiva (uma de minhas maiores cobradoras)
A sis Misao... A Sis Dee...Tia Daphne..Prima Verena
Ao meu gatinho (ele sabe quem).
A Fabi-chan que descobri ler minhas fics (fiquei muito honrada).
A todos os fãs que acompanharam a fic.
A todos os reviews, criticas e etc...
E sabem como é minha aguarda comentários.
1 Asthyãns nave de batalha dos Arianos, foi nela que os Arianos deixaram Mryees e kdra quando a mesma foi destruída pela explosão dos três sois de Kdra. Seu poder de fogo e cinqüenta vezes maior que o de Zhetryus, assim como seu tamanho, ela tem a capacidade de abrigar quase um terço da população humana.
