A Invasão

Nota:

Tudo que estiver entre significa que o personagem esta falando a língua Kdar ou pensando em Kdariano.

K medida de tempo Kdariana:

§ 1 kx equivale a 1 segundo

§ 1 kr equivale a 1 minuto

§ 1 k equivale à 1 hora

§ 1 ano terrestre equivale a 63 anos em Kdariano

§ 1 dia terrestre equivale a 5.25 dias em Kdariano

Epílogo

Parte I –Pequenas e Grandes Alegrias

Heero estava sentado na montanha que ficava próximo ao antigo esconderijo da resistência. Observava as estrelas em silêncio, sentindo a suave brisa balançar seus cabelos. Era tão difícil olhar para o céu; vê-las, e não pensar em Dxmaell. Já faziam quase dois meses que o Kdariano pelo qual se apaixonara partira. Haviam sido os mais longos e solitários dias de que se lembrava. Muita coisa mudara desde sua partida. A Terra estava sendo reconstruída aos poucos, e a vida estava retornando ao normal..., se é que se poderia dizer assim. Escolas e hospitais haviam sido reabertos e as pessoas estavam procurando retomar suas vidas e antigos hábitos. Era certo que levaria algum tempo, até que se pudesse dizer que a vida na Terra havia retomado seu antigo curso; embora jamais seria o mesmo.

A começar por sua vida. Havia sido indicado como o novo governante do planeta devido a suas atitudes contra a ameaça dos kdarianos. No entanto não se sentia apto ou com disposição para assumir o cargo. Deixou para outro tal responsabilidade política. Ele era um soldado, sempre o seria; assim como Dxmaell. Talvez houvesse sido isso um dos motivos de ambos terem se apaixonado tão rapidamente; mesmo sendo de raças diferentes. Em seu íntimo ansiava pelo retorno dele; embora soubesse que isso seria impossível de acontecer. Ainda assim, seu coração insistia em querer vê-lo novamente, mas a cada dia sentia que suas esperanças morriam um pouco mais.

Assim, todos os dias ao final da tarde; seguia em direção às montanhas e passava a noite ali, apenas admirando as estrelas em silêncio. Entretanto, desde a última semana; vinha pedindo a cada uma delas que este fosse o último dia de sua vida. Sentia-se tão cansado da solidão. Não conseguia evitar ver Dxmaell em toda parte. Bastava fechar os olhos e podia ver seus raros sorrisos. Sentir seu perfume suave, seus cabelos deslizando por seus dedos. Quantas vezes acordara no meio da madrugada e fôra até ali na esperança de encontrá-lo? Quantas vezes chorara sozinho sua falta? Sabia que precisava reagir. Precisava tentar viver, pois o outro jamais voltaria. Não com tantas responsabilidades. Não era de seu feitio negligenciá-las, ou mesmo ignorá-las.

Ele mesmo possuía responsabilidades que não podia ignorar. O governo criara um centro de treinamento militar, onde ele, Trowa e alguns da resistência treinavam e preparavam novos soldados para que nunca mais fossem subjugados, pelo menos não tão facilmente. Apesar do mundo ter tornado-se uma única nação, com um único governante, cada um dos povos possuía um representante, que se dirigia diretamente ao governante do planeta. Sendo assim em cada parte do planeta onde os kdarianos criaram seus campos, um centro de treinamento foi erguido. Utilizando as informações dadas pelos Arianos que haviam fornecido um pouco de sua avançada tecnologia. Embora ainda houvesse muito a aprender com ela, já era possível desenvolver novos tipos de tecnologias e armamentos.

Os maiores avanços haviam se dado tanto na área armamentista, quanto na área médica. Doenças que antes a cura não passava de um remoto sonho, já eram vislumbradas e acessíveis. Tudo graças a Dxmaell, que convencera seu povo a compartilhar sua ciência e tecnologia. Durante uma semana, Humanos, Kdarianos e Arianos haviam compartilhado seus conhecimentos, e enquanto eles se dedicavam a aprender uns com os outros, ele passara os dias na companhia de Dxmaell. Havia sido a semana mais perfeita de sua vida. Haviam ficado juntos durante todo o tempo. Haviam passeado, rido e se amado. E em nenhum momento planejaram um futuro, talvez por que intimamente ambos soubessem que ele jamais existiria. Heero tocou o crucifixo de Dxmaell, sentindo o metal frio sob seus dedos, enquanto sua mente realizava um pedido que não sabia se seria ouvido.

"Que eles estejam bem e que possamos nos ver algum dia".

Asthyãns nave de batalha Ariana – A 3.985.580.000 1 de anos-luz da Terra:

Dxmaell encontrava-se parado em frente à coluna de energia, que mostrava seu reflexo. Tinha uma reunião em poucos minutos e terminava de se arrumar. Sentia-se cansado, para não dizer esgotado. Seu ventre havia crescido muito no último mês, e algumas tarefas que costumava realizar facilmente, já não eram executadas tranqüilamente. Segundo o exame médico feito há cinco dias, o bebê estava bem. Sadio e fortalecendo-se a cada dia, o que já não se podia dizer dele, que sentia suas forças diminuírem, cada vez que a criança resolvia mexer-se dentro dele. O médico da nave havia recomendando que repousasse, mas não estava conseguindo fazê-lo. A verdade era que não queria repousar; pois sempre que se encontrava sozinho sua mente voltava-se para a Terra... e para Heero. E não queria sonhar e desejar o que jamais poderia ter. Era difícil não demonstrar sua solidão junto aos pais, mas sabia que era necessário, não queria que se preocupassem com ele. Ainda mais em seu atual estado.

Tocou carinhosamente o ventre pensando. Faltava tão pouco para a criança nascer. Esperava que ela nascesse perfeita, uma vez que era a primeira a nascer da união com um parceiro de outra raça. O médico dissera-lhe que não haveriam problemas, uma vez que a gestação se encontrava dentro dos padrões habituais. Uma onda de dor atingiu-o, obrigando-o a voltar para cama, até que a mesma passasse. Caminhou lentamente para o leito, deitando-se com dificuldade. As dores em seu corpo vinham aumentando, e suas forças diminuindo. Á medida em que a gravidez avançava. Não havia comentado com o médico sobre isso, por achar que era algo normal na gravidez. Ainda assim algo o preocupava, e não sabia dizer exatamente o quê.

O médico dissera que o repouso era necessário e que era mais que normal em seu atual estágio de gravidez sentir-se cansado; ainda mais quando ele não parava de trabalhar um segundo sequer. Mas parte de seu cansaço não se devia ao fato de não descansar, mas às oscilações de energia que geralmente ocorriam durante a noite. Além do mais, como poderia descansar com tanto a fazer? Havia sido obrigado a convocar uma audiência antes de chegarem a seu destino. Precisava eleger novos lideres que o ajudariam na regência de Kdra. Uma vez que não era um político, mas um soldado, assim como seu amor. Não sentia-se disposto a enfrentar a audiência, mesmo tendo sido dele a idéia de convocá-la; e mesmo com tanto a ser planejado. Tudo o que queria no momento era deitar e descansar um pouco. Esquecer suas responsabilidades por alguns minutos e lembrar de Heero. Sua voz... seu olhar... seus carinhos e toques. Uma nova onda de dor, mais branda que a primeira o fez interromper os pensamentos por alguns instantes. Dxmaell acariciou o ventre por alguns segundos, sentindo a dor diminuir um pouco.

"Andamos meio agitados ultimamente não? Acho que vou seguir o conselho de Mhtryukres e procurar descansar um pouco. Cancelar alguns de meus compromissos, e repousar este último mês."

Dxmaell fechou os olhos, sentindo-se sozinho, sua mente buscou a imagem de Heero e seu coração apertou-se de saudades do humano.

" Ah...Heero o que você estará fazendo agora? Você ainda pensa em mim?".

Dxmaell resistiu a vontade de chorar, ao perceber a quem pertencia a energia à porta antes da mesma abrir-se. A porta da estação abriu-se e Dhyreean entrou. Ela viera ver o filho, por estar preocupada com seu bem estar. Estranhou o fato de vê-lo deitado; ainda mais por saber que este tinha um compromisso dentro de poucos minutos. Observou seu rosto em silêncio. Parecia tão abatido nos últimos dias, sabia que isso devia-se à tristeza que ele mantinha sempre escondida atrás da frieza de seus olhos. Olhou para o filho que estava deitado sobre a cama, e deu um pequeno sorriso, quando ele se sentou e sorriu. Sabia que ele chorava quando sozinho na escuridão de sua estação. Que pensava no humano que tivera de abandonar. Mas mesmo que Heero quisesse acompanhá-los, deixando para trás seu planeta e suas obrigações para com seu povo, seria impossível para ele viver em Kdra. Uma vez que ela nada tinha de parecido com a Terra.

Seu corpo humano não estaria preparado para suportar a energia emanada por Kdra, e isso o destruíra imediata e dolorosamente; o que faria com que Dxmaell se culpasse pelo resto de seus dias.

O desconforto e a dor passaram, e Dxmaell levantou-se lentamente; caminhando até sua mãe. Beijou-a suavemente no rosto, recebendo desta uma suave carícia nas mãos. Sabia que ela podia ver a dor em seus olhos, uma vez que não havia como escondê-la. Pelo menos não dela. Que parecia ser capaz de enxergar-lhe a alma. Mesmo através da frieza em seus olhos. Ainda assim recusava-se a demonstrá-la em sua presença, procurando esconder-se atrás dos sorrisos que aprendera a expressar, no pouco tempo em que convivera com os humanos e com Heero. Sua voz soou calorosa apesar de cansada, e Dhyreean ergueu levemente a sobrancelha.

- Eu já estava indo para o salão.

- Eu sei querido, mas não foi por isso que vim.

- Não?

Dxmaell demonstrou surpresa, embora por dentro o fato em si não o surpreendesse. Já a alguns dias que sua mãe tentava conversar com ele e a evitava sempre que possível. Não queria falar sobre a saudade de Heero, e do que seria sua vida criando sozinho o filho deles. Se pensasse nele, sabia que não conseguiria seguir com seu destino. Dhyreean acariciou o rosto do filho, notando que sua pele estava ligeiramente fria. Estreitou os olhos. Estranhou a temperatura, mas não teve tempo para descobrir ou indagar-lhe se estava sentindo algo; um dos soldados responsável por sua guarda aparecera para informá-lo de que era aguardado para audiência.

- Senhor, todos aguardam sua presença.

- Já estou indo

O soldado retirou-se. Dxmaell voltou-se para sua mãe, tocando-lhe o rosto.

- Acho que teremos que conversar mais tarde minha mãe

- Sim..., falaremos mais tarde

Dxmaell sorriu e estendeu o braço à sua mãe, deixando a estação em sua companhia. Ao chegarem no local onde se daria a reunião, todos os convocados já se encontravam presentes, e levantaram-se em respeito ao novo governante. Dxmaell meneou a cabeça, tomando seu lugar ao centro, tendo seus pais a sua direita e Aleng e Tzen a sua esquerda.

Duas horas depois:

A audiência já se estendia por quase duas horas. No momento um dos onze ministros que havia sido nomeado em consenso entre arianos e kdarianos falava a respeito de como seria a convivência entre eles. Dxmaell ouvia atentamente as palavras do ministro concordando com algumas das diretrizes propostas para a comunhão entre as duas raças. Ao final, sua opinião formal fôra solicitada como uma decisão final. Levantou-se para falar quando sentiu uma pontada de dor no ventre. Teria ignorado-a momentaneamente, se outra ainda mais forte não houvesse surgido, fazendo-o curvar-se sobre a mesa, ao mesmo tempo em que sentia seu corpo inteiro estremecer, e sua energia oscilar.

Assim que o filho curvou-se sobre a mesa Uowans o segurou. Podia sentir a energia dele dissipando-se rapidamente. Seu corpo estava perdendo calor; de uma forma assustadora e anormal. Mal teve tempo de dizer-lhe alguma coisa, antes que o mesmo desfalecesse em seus braços. Tomou-o nos braços, carregando-o em direção a enfermaria. Podia sentir que seu corpo esfriava e que ele lutava para não deixar sua energia vital alcançar um nível crítico. Olhou para a mulher que segurou a mão de Dxmaell procurando aquecê-lo com sua energia, sentindo o corpo do filho absorver rapidamente a energia fornecida. Aleng e Tzen seguiram Dxmaell. Podiam sentir que seu amigo não se encontrava bem, e queriam estar por perto caso fossem necessários.

Uma hora depois:

Mhtryukres deixou Dxmaell adormecido sobre a mesa de análise, e voltou-se para os pais dele que aguardavam notícias na outra sala. Seu olhar era preocupante e as notícias que trazia nada agradáveis. Não sabia como não havia percebido antes. Se tivesse notado quando Dxmaell fôra colocado a seus cuidados, talvez pudesse ter remediado ou contornado a situação. Mesmo há cinco dias atrás, durante o exame de rotina, quando o governante de Kdra procurou-o reclamando do cansaço e de dores, supôs erroneamente que isso se devia ao excesso de trabalho, e ao avanço da gravidez e recomendara apenas repouso. Agora se sentia culpado por ter sido tão descuidado e não ter percebido o que estava acontecendo a Dxmaell. Estava tão claro agora, mas infelizmente tarde demais. Uowans olhou para o médico, que parecia perdido em pensamentos. Sabia que algo estava errado; pelo semblante sério e o silêncio que este carregava. Via claramente que o outro tinha dificuldades para falar o diagnóstico de seu filho. Sendo assim adiantou-se, tocando o ombro de seu velho amigo, e perguntando o que desejava saber.

- O que está havendo com meu filho Mhtryukres?

Mhtryukres suspirou pesadamente passando a mão pelos cabelos castanhos, antes que contasse a seu amigo e antigo comandante sobre o estado de saúde de Dxmaell.

- Ele... não está nada bem Uowans.

- O que ele tem?

- Parece que a energia dele e da criança não são compatíveis.

- Como assim?

Mhtryukres coçou o queixo num gesto nervoso, nunca em sua vida havia visto um quadro clínico como o de Dxmaell. Também; não haviam registros médicos quanto a isso; e nem poderia haver; afinal nunca na historia de Kdra houvera a gestação de uma criança gerada durante o Cyarpks onde um dos parceiros não fosse Kdariano ou Ariano cuja genética eram idênticas. Sabia que deveria ter procurado mais informações, sobre a raça do outro parceiro de Dxmaell. Assim poderia ter feito exames mais detalhados e tomado providências adequadas. Mas não achara que algo assim pudesse acontecer. Ainda mais com alguém como Dxmaell, cuja energia era incomparável. Lamentava profundamente ter se enganado com algo tão sério.

- Mhtryukres!

Mhtryukres olhou para Uowans, que tinha o semblante sério e aborrecido, notando que se perdera em divagações, e não respondera à pergunta feita anteriormente.

- Desculpe-me

Uowans meneou a cabeça e sinalizou para que o amigo continuasse, o que foi rapidamente feito.

- A criança é apenas uma parte Kdariana, a outra metade pelo que Dxmaell me contou é humana. Não tive a chance de pesquisar mais sobre os humanos e saber se haveria alguma conseqüência da realização do Cyarpks entre duas raças tão diferentes.

- Entendo, mas você sabe o que está acontecendo?

- Sim. De alguma forma a energia de Dxmaell não é suficiente para manter a criança, sem que isso desgaste seu corpo. Ela necessita de muito mais energia que o corpo dele é capaz de produzir. Se ela fosse completamente Kdariana ou Ariana, Dxmaell seria capaz de suprir a energia que a criança necessita, mas neste caso...

Dhyreean segurou o braço do marido que a abraçou. Como isso era possível? Dxmaell possuía uma energia que não era comparada nem mesmo ao antigo Conselho dos sete. Ele havia nascido para reconstruir Kdra com sua energia vital, e no entanto não possuía energia suficiente para suprir a do próprio filho? Mhtryukres podia ver a confusão nos olhos dos pais de Dxmaell, ele mesmo achava difícil de acreditar, mas os exames que fizera havia comprovado tal fato. Aleng e Tzen olharam um para o outro, entendendo o que estava acontecendo. Nenhum deles havia pensado em tal hipótese, mas era de se esperar tal fato. Uowans afastou-se da esposa, olhando dentro dos olhos de Mhtryukres, procurando por respostas, embora não soubesse se estas existiam.

- Como isso é possível? Dxmaell é um dos mais fortes guerreiros de ambas as raças, ninguém em toda Kdra possui uma energia superior a dele.

- A criança tem.

Mhtryukres foi curto ao responder que a criança no ventre de Dxmaell, possuía uma energia ainda mais poderosa que a de seu provedor. Como médico; tal constatação era surpreendente, e maravilhosa no que se refere à maravilha da genética, mas como indivíduo isso o alarmava, uma vez que podia ver o resultado do que viria a acontecer se não fizessem algo. Uowans olhou para Dhyreean e depois para o médico, não era muito difícil imaginar como isso havia acontecido. Das raças conquistadas pelos kdarianos, os humanos eram os que possuíam a energia mais forte. Era de se imaginar que a criança gerada da relação de Dxmaell com um humano, tivesse uma energia poderosa. Mas se Dxmaell não era capaz de manter a criança suprindo suas necessidades e ao mesmo tempo manter a dele mesmo a salvo. O que seria deles se ainda faltava quase um mês para o fim da gestação?

- Quanto tempo ainda falta para a criança nascer?

- Pouco mais de três semanas. Mas...

O médico calou-se momentaneamente. Ele sabia que Dxmaell não seria capaz de terminar a gestação, a criança teria que nascer antes ou ambos morreriam.

- Teremos que induzir o parto, antes de completadas as semanas que faltam, eles não agüentarão tanto tempo.

Dhyreean agarrou-se ao braço do marido, diante do diagnóstico de que seu filho e seu neto morreriam caso a criança não nascesse antes. Uowans abraçou sua esposa, olhando para o médico em busca de alguma esperança.

- Não há outra alternativa?

- Poderíamos mantê-lo em animação suspensa na câmara de energia, mas ele está muito fraco e no atual estado, a câmara não o manteria estável por tanto tempo, e não temos certeza se funcionaria. Poderíamos acabar piorando as coisas, ou matando a criança, se a energia não for compatível, ou se não for suficiente, ou se for energia demais.

- Em outras palavras seria arriscado qualquer uma das alternativas.

Mhtryukres olhou para o jovem loiro, que se mantivera calado juntamente com o outro Kdariano de cabelos castanhos claros, e seus olhos se dirigiram à mão direita do Kdariano. Mal se podia notar que ela não era natura a ele, mas uma replica da mão amputada. Havia sido um verdadeiro desafio para ele, reconstruí-la, mas felizmente após um duro processo e inúmeros fracassos, havia conseguido a menos de um mês recriar-lhe um novo membro. Ele sacudiu a cabeça levemente como se acordasse, concordando com as palavras do Kdariano amigo do novo governante de Kdra.

As alternativas que tinham para contornar ou tentar solucionar o problema não eram muitas, e nenhuma delas lhe parecia viável ou satisfatória a longo prazo. Funcionariam era verdade, mas apenas por alguns dias senão horas. Em todo caso precisavam rapidamente tomar uma decisão quanto ao que fazer. Dxmaell estava desacordado na sala, sendo mantido em animação suspensa até que decidissem que método seria adequado para trazer a criança à vida ou mantê-los vivos. Mas não poderia deixá-lo dessa forma por muito tempo, ou a criança sofreria vários danos. Havia ainda a questão de não saber se Dxmaell conseguiria dar a luz à criança. Com seu nível de energia tão baixo, seria necessário; para não dizer imprescindível; aumentá-la a um nível satisfatório. Mas com a criança absorvendo tão rapidamente sua energia não via meios de que se conseguisse tal intento.

- Há alguma outra alternativa Mhtryukres? Alguma que não tenha pensado?

Mhtryukres olhou para Uowans que se mantinha calado já a algum tempo; procurando por possibilidades. Nunca se encontrara em tal situação. Onde a energia do filho fosse superior a do pai. Já tivera problemas quanto à queda de energia no final ou durante a gestação, mas nada parecido com a do governante de Kdra. Se ela fosse apenas kdariana e não metade humana, seria tão mais fácil resolver o problema. Com um estalo, sua mente começou a funcionar sob o fato da outra metade da criança ser humana. Era tão simples.

"Metade humana... o outro pai. A energia dele junto com a de Dxmaell seriam suficiente, o humano supriria a metade que falta na energia de Dxmaell."

Ele deu um meio sorriso diante do fato de que era simples resolverem o problema, embora sua mente houvesse esquecido um pequeno detalhe.

- Talvez se tivéssemos a presença do outro pai, poderíamos manter a criança, ou fazê-la nascer, uma vez que Dxmaell não conseguirá sozinho

Uowans olhou para o médico exasperado. Como ele podia dizer tal coisa? Eles estavam, a anos-luz de distância da Terra. Trazer o humano era quase que impossível. E mesmo que decidissem retornar, seu filho certamente não agüentaria a viagem. Não chegariam antes de completada as semanas que faltam para o nascimento de seu neto. Sua voz soou fria e irritada, o que fêz Mhtryukres recuar ligeiramente.

- Estamos a quase 4.000.000.000 anos-luz da Terra doutor, levamos quase dois meses para atravessar metade do quadrante, como poderíamos voltar a Terra para buscar o humano, antes que meu filho e meu neto morram?

Mhtryukres abaixou a cabeça envergonhado. Havia esquecido completamente disso. Ainda assim era a única chance que tinham de salvar os dois.

- Me desculpe Uowans, mas é a única solução viável para os dois

Uowans sacudiu a cabeça. Sabia que ele não dissera isso por mal, mas porque era a única alternativa para seu filho e neto.

- Quanto tempo ele tem?

Mhtryukres voltou seu olhar para Dhyreean, ao ouvir a pergunta, calculando rapidamente o tempo que eles teriam.

- Na atual circunstância Dhyreean, não mais que um dia para ele e poucas horas depois para a criança.

Dhyreean levou a mão aos lábios chorando. Não estava pronta para perder seu filho. Não agora que o haviam encontrado. Uowans abraçou a esposa contra o peito confortando-a. Sua mente trabalhava, procurando uma solução; mas não havia como cruzar metade da galáxia em menos de um dia. Fechou os olhos; apertando o corpo da esposa contra si. Tinha que haver um meio... precisavam apenas encontrá-lo, e esse era o problema atual. Recusava-se a perder seu filho novamente. Sabia o quanto Dhyreean sofrera por entregar Dxmaell a Whorda e ao Conselho, com apenas algumas horas de vida. E não desejava ver a mesma dor em seus olhos, cada vez que ela pensava em Dxmaell,que não estava ao lado deles à medida em que crescia.

Aleng e Tzen olharam-se. Ambos pensando que talvez houvesse um meio; embora não tivessem certeza de que funcionaria. Desde que deixaram a Terra. Eles e Dxmaell vinham trabalhando em segredo em um novo modelo de nave. Alimentados pela saudade dos amigos e do amor que deixaram para trás procuraram desenvolver uma nave capaz de cruzar em pouco tempo a distância de Kdra a Terra. Eles se basearam na tecnologia de Asthyãns cuja velocidade era até então insuperável. Ela levava cerca de quatro meses para cobrir essa distância, sendo muito mais veloz que qualquer outra nave. Sendo assim eles adaptaram essa tecnologia a uma nova forma fonte de energia, que haviam desenvolvido em segredo durante o período que estiveram na Terra. A intenção ao criá-la era de que não mais fossem necessárias mortes para que pudessem sobreviver; criando uma fonte de energia permanente e poderosa, capaz de suprir as necessidades de seus corpos da mesma maneira que Kdra o fazia. No entanto ela não era compatível a eles, sendo poderosa demais para seus corpos, mas se mostrara adaptável às naves Kdarianas.

Começaram então a criar novos sistemas, baseados nos desenhos que Dxmaell criara, e na tecnologia Ariana que era superior a kdariana, precisavam criar sistemas que pudessem suportar as mudanças de design, pressão e força. A nova fonte de energia criada, era capaz de triplicar a força de uma nave como a Asthyãns, e o novo desenho minimizava a resistência a tornando mais leve, e conseqüentemente ainda mais veloz. Desenvolveram também um mecanismo que permitia criar uma espécie de porta temporal, baseadas nas histórias de seus antepassados sobre a visita de outras raças à antiga Kdra. Essas portas eram capazes de ligar dois pontos diferentes e distantes no espaço, mas eles ainda não haviam testado o mecanismo, e não tinham certeza de que funcionaria e nem que conseqüências teria seu uso na estrutura e nos ocupantes da nave.

Os testes que puderam realizar, foram apenas na nave. Seus sistemas e a nova fonte de energia. Entretanto eles ainda não haviam testado a nave no espaço, embora os testes feitos no computador dessem 99 segurança e eficiência, mas até o momento apenas Dxmaell havia sido capaz de pilotá-la na simulação. Ainda assim era uma chance que não podia ser completamente descartada. Tzen sacudiu a cabeça e saiu para preparar a nave, que se encontrava escondida em uma das áreas da Asthyãns onde apenas os três tinham acesso, deixando com Aleng a responsabilidade de falar com Uowans. Assim que Tzen saiu, Aleng se aproximou dos pais de Dxmaell, não tinham tempo a perder se quisessem salvar o amigo e a criança.

- Senhor talvez tenhamos um meio

Uowans abriu os olhos olhando para o jovem loiro, amigo de seu filho. Estreitou os olhos diante de suas palavras. Como era possível que tivessem um meio de transpor em pouco tempo uma distância tão grande? Aleng notou a descrença no olhar de Uowans e deu um meio sorriso, antes de começar a falar.

- Tzen, eu e Dxmaell vínhamos; escondidos do Conselho; trabalhando em um novo tipo de energia

- Novo tipo de energia?

- Sim senhor, pensávamos em criar uma que pudesse alimentar nosso povo, sem que tivéssemos que destruir outras raças para isso. No entanto ela não se mostrou viável a esse propósito, mas adequou-se perfeitamente como uma nova fonte de alimentação para nossas naves. Procuramos então, adaptá-la as naves que tínhamos, sendo que elas não eram adequadas para suportar essa nova energia durante muito tempo. Desenvolvemos então uma nave que pudesse suportar e extrair o máximo dessa nova energia.

Uowans olhou para o Kdariano, enquanto ouvia-o explicar sobre o que seu filho e os amigos faziam. Compreendendo finalmente o porque dos três desde que haviam deixado a Terra permanecerem enfurnados durante horas em uma das áreas da nave, onde ninguém a não ser os três tinham a permissão para entrar. Quando Dxmaell solicitou uma nave batedora e um determinado espaço na área de carga da Asthyãns, providenciando para que esta fosse alterada segundo as suas especificações não o questionou e nem imaginou que era para tal propósito. Ele voltou sua atenção a Aleng que continuava a contar, sobre que eles andaram fazendo.

- Há poucos dias terminamos os testes de simulação. Que comprovaram a eficiência do que já esperávamos, em relação ao funcionamento da nova fonte de energia, com os novos sistemas e das alterações feitas em Arphiansus.

- Arphiansus?

Dhyreean sorriu diante do nome da nave, que na língua Ariana significava esperança alada. Aleng sacudiu a cabeça em assentimento, fora o próprio Dxmaell quem batizara a nave com este nome. Ela simbolizava a esperança que tinham de um dia retornar a Terra. Uowans soltou-se da esposa aproximando-se de Aleng segurando-o pelos ombros. Seu olhar era brando mas firme, e transmitia esperança.

- Quanto tempo até a Terra?

- Paralelamente nós trabalhamos em um novo mecanismo, que nos permitiria criar portais de energia, que nos lançaria em determinados pontos do espaço, mas não tivemos tempo de testá-lo ainda. Ele nos deixaria na Terra em menos de uma hora a toda velocidade. Sem ele, de onde estamos, em velocidade normal um dia para ir e voltar, a toda a velocidade meio dia ou um pouco menos.

Uowans ficou surpreso com a inteligência e capacidade dos três. Eles haviam desenvolvido tecnologias que nem mesmo os antigos, haviam sido capazes de criar, embora constasse na história de Kdra. O relato de viajantes de outros mundos, que eram capazes de abrirem portas no universo ligando um ponto a outro. Voltou sua atenção ao que o jovem amigo de seu filho dizia.

- Entretanto, Dxmaell foi o único a conseguir pilotá-la com total eficiência durante a simulação.

- Isso não é problema, eu o farei pelo meu filho.

Aleng sorriu concordando, não duvidava que o pai de Dxmaell fosse capaz de fazê-lo, ele não seria líder dos Arianos se não fosse pela determinação, sabedoria e força.

- Leve-me onde está Arphiansus. Mhtryukres mantenha meu filho e meu neto vivos até que eu traga o humano.

- Eu farei o possível senhor.

Aleng meneou a cabeça diante da ordem. Uowans voltou-se para a esposa, beijando-a na testa.

- Eu trarei o humano, eu prometo a você. Até lá cuide deles .

Dhyreean sacudiu a cabeça, vendo o marido e o amigo de seu filho partirem. Olhou para o médico, que tocou seu ombro. Agora era esperar que Arphiansus voasse, movida pela esperança; e que pudesse cobrir a distância a tempo de salvá-los.

Algumas horas depois:

Uowans havia levado algum tempo para acostumar-se aos sistemas da nave, tão diferentes das outras. E ainda assim baseada nos mesmos padrões. Não havia dúvidas quanto à eficiência dela. Ficara surpreso ao vê-la. Transmitia imperiosidade e capacidade apenas olhando-se para ela. Os três sem dúvida haviam feito um excelente trabalho. Assim que deixara Asthyãns, Arphiansus cobrira em pouquíssimo tempo a distância que os separava da Terra. Era sem sombra de dúvidas uma nave impressionante. Precisava descobrir se era possível adaptar tal tecnologia a Asthyãns e Zhetryus. Já está estava próximo à Terra e em poucos minutos estaria em órbita do planeta, esperava apenas que não fosse difícil encontrar o humano.

Pelo que Aleng havia dito Heero, possuía um dos comunicadores kdarianos com ele, o que permitiria rastreá-lo se usasse o padrão de energia antigo de Dxmaell para localizar sua posição. Mas isso não queria necessariamente dizer que o humano estivesse carregando-o consigo no momento. Ele avistou o planeta azul a sua frente e acionou o sistema de camuflagem, não desejava que os humanos pensassem que era um inimigo. Acionou imediatamente o sistema para localizar o comunicador deixado com o humano, e em poucos segundos a tela emitiu a localização de onde o mesmo se encontrava. Uowans verificou a localização, notando ser uma área urbana. Não havia como pousar ali sem causar certo alvoroço. Analisando a área ao redor, encontrou um local próximo, onde poderia deixar a nave.

Não era muito distante, e era o ideal. Aterrissou Arphiansus deixando seu sistema de camuflagem acionado. Assim ninguém a veria. Pegou um rastreador e seguiu na direção indicada pelo aparelho, esperava apenas que o humano estivesse junto ao comunicador.

A alguns metros da área 15:

Heero caminhava lentamente. Alguma coisa estava incomodando-o desde de manhã, e não conseguia descobrir o quê. Havia saído para dar uma volta, indo ao mesmo lugar que costumava seguir quando sentia-se inquieto. Mas diferente das outras vezes a tranqüilidade e o silêncio das montanhas não o ajudaram, e por fim decidiu retornar. Estava aproximando-se de sua casa; se é que poderia chamar assim o apartamento vazio, quando notou a presença de Wufei parado na entrada de seu bloco. Era estranho encontrar o chinês ali, uma vez que o mesmo não morava naquela região, aliado ao avançado da hora. Quando aproximou-se mais, encontrou um outro homem com ele. Não o reconheceu de imediato, apenas quando encontrava-se mais perto foi que o reconheceu. Foi impossível não demonstrar surpresa em ver o Ariano, pai de Dxmaell. Afinal faziam quase dois meses que eles haviam partido.

Como se soubesse a gravidade da situação, o coração de Heero começou a bater rapidamente; como se a simples presença do ariano, lhe dissesse que algo de grave havia acontecido ao Kdariano que levara consigo seu coração. Apressou os passos, parando em frente aos dois. Wufei meneou a cabeça em cumprimento. Podia ver o nervosismo de Heero, ele mesmo sentira-se um pouco nervoso quando encontrara o Ariano.

Vinte minutos antes:

Wufei sentia-se cansado e sozinho. Seus pensamentos constantemente pareciam traí-lo fazendo-o pensar no Kdariano de cabelos castanhos e olhos azuis. Balançou a cabeça, recusando-se a pensar nele, e no dia em que o mesmo partira, retornando a seu planeta. Havia sido algo inesperado, abrir a porta de sua habitação e encontrar o Kdariano parado lá, como se tomasse coragem para fazer algo.

Flashback

Wufei deixou o quarto da filha que caíra no sono após a brincadeira. Ainda era-lhe impossível acreditar que todo havia terminado. Que sua filha encontrava-se com ele e em segurança. Estava indo em direção à cozinha quando alguma coisa o fez ir até a porta de sua casa e abrí-la. Ficou surpreso ao ver o Kdariano chamado Tzen parado em frente a seu apartamento. Seus olhares encontraram-se, e não soube como reagir ao que via reluzindo nos olhos claros que o observava em silêncio. Estaria mentindo se dissesse que a presença de Tzen não o desconsertava, e que não se sentia seguro a seu lado. Abriu a boca para perguntar-lhe a que tinha vindo, quando o mesmo respondeu antes que a pergunta houvesse deixado seus lábios.

- Estamos partindo de volta a Kdra. Eu vim dizer-lhe adeus.

Wufei não soube o que responder, algo dentro dele pareceu contrair-se, e uma antiga e conhecida dor se vez presente. A última vez que a sentira fôra quando perdera sua esposa, e agora sentia a mesma dor, ao saber que nunca mais veria o Kdariano a sua frente. Tzen viu os olhos de Wufei mudarem. A surpresa deu lugar ao choque e logo depois à tristeza. Sabia que estava sendo um tanto quanto precipitado, mas não tinha tempo a perder. Já havia perdido tempo demais procurando ignorar os sentimentos despertados pelo chinês. Deu um passo a frente, tocando o rosto de Wufei com a ponta dos dedos, viu o humano fazer menção de recuar e segurou-o, antes que este se afastasse.

Wufei sentia a pele sob os dedos do Kdariano queimando, seu coração batia descompassado, não queria que ele o tocasse, não queria sentir nada por ele. Não queria saber o que era o sentimento que o sufocava, cada vez que o via, mas Tzen não parecia disposto a deixá-lo. Abriu os lábios para dizer-lhe para deixá-lo em paz e teve seus lábios tomados pelo Kdariano que envolveu-lhe a cintura com um dos braços, estreitando o espaço entre seus corpos. Tzen sentiu uma ligeira resistência por parte do humano, para logo em seguida sentir os braços dele enroscarem-se em seu pescoço de forma ávida e possessiva. O beijo foi ardente e triste ao mesmo tempo, ele estava partindo sem nenhuma esperança de retorno.

Afastaram-se, e Tzen segurou-o junto a seu corpo, sentindo o humano tremer em seus braços. Se eles tivessem tido mais tempo juntos. Se tivesse tido a coragem de tomá-lo em seus braços há mais tempo. Levaria consigo muito mais do que um beijo. Afastou-se, olhando dentro dos olhos negros do humano. Enxugou a pequena lágrima que se recusara a cair, beijando suavemente cada um dos olhos, vendo refletido neles a mesma dor que consumia seu peito.

- Eu jamais me esquecerei de você Wufei. Você estará sempre aqui dentro de mim.

Wufei ofegou quando Tzen segurou sua mão, e levando-a ao peito, indicando que ele estaria sempre presente em seu coração. Sentiu o frio abatê-lo, quando o Kdariano deixou-o sozinho. Tentou dizer algo, mas as palavras recusavam-se a deixar sua garganta. Ergueu ligeiramente a mão, como se fosse impedi-lo deixando-a cair pesadamente ao lado do corpo. Fechou a porta, encostando-se nela, e levando a mão aos lábios, escorregando até o chão, enquanto pensava que também jamais o esqueceria.

"Eu também o manterei sempre vivo dentro de mim Tzen".

fim-flashback

"Eu fui um idiota em negar.. .somente agora eu vejo isso".

Wufei olhou para o céu estrelado, sentindo-se ainda mais melancólico. Nem sabia porquê estava ali. Talvez porque precisasse compartilhar sua dor com alguém. Não sabia se Heero estaria em casa, não se viam já à algum tempo. O pensamento de que deveria ter ligado antes atravessou sua mente, e estava quase desistindo quando viu uma pessoa alta, de cabelos longos a poucos metros de onde o japonês morava. Não o reconheceu de imediato, mas podia notar pelas formas que era um homem. Não conseguia lembrar-se de ninguém com um cabelo tão longo, até que sua mente lhe trouxe a imagem de Dxmaell.

"Será que ele retornou?"

Wufei acelerou o carro. O coração descompassado. Ao aproximar-se, notou que não era Dxmaell, mas outra pessoa. Parou o veículo e desceu, encarando o Ariano que estreitou os olhos por alguns segundos. Uowans estava a poucos metros do local da localização do comunicador, quando ouviu o barulho de um dos veículos terrestres e escondeu o aparelho, quando o veículo parou a seu lado e um humano desceu. Ele o encarou por alguns instantes. Sabia que já o havia visto uma vez, até que o reconheceu como sendo o amigo do humano chamado Heero. Uowans meneou a cabeça em cumprimento sendo retribuído por Wufei que o encarava surpreso.

- Eu preciso encontrar Heero, meu filho necessita de sua ajuda.

Wufei demorou alguns segundos antes de responder. Podia sentir que algo estava errado pela forma que o Ariano parecia ansioso. Balançou a cabeça apontando na direção que seguia.

- Eu estava indo até a casa dele. Entre, eu o levarei até lá.

- Obrigado.

Wufei balançou a cabeça e abriu a porta do passageiro. Uowans entrou no veículo, que seguiu rapidamente para o bloco onde Heero morava. Em poucos instantes eles se encontravam em frente ao edifício onde Heero morava. No entanto descobriram que o japonês não se encontrava. Wufei olhou para Uowans notando que o Ariano parecia ter pressa em encontrar Heero. Ficou tentando imaginar onde o amigo teria ido àquela hora. Lembrou-se que Trowa comentara certa vez que Heero costumava ir às montanhas onde costumava ficar a resistência, talvez fosse um bom lugar para procurá-lo.

- Acho que sei onde ele está, fica à apenas algumas horas daqui.

- Podemos ir com minha nave até lá. Pouparemos tempo.

Wufei balançou a cabeça e deixaram o prédio. Assim que chegaram ao lado de fora Wufei reconheceu a figura do japonês. Segurou o braço de Uowans apontando na direção e sorrindo. O Ariano olhou na direção apontada vendo o humano, agradeceu o fato de não terem de ir atrás dele.

Heero cumprimentou Uowans que meneou a cabeça, voltando então sua atenção a Wufei que falava com ele.

- Estávamos indo procurá-lo...

- O que houve?

Uowans podia sentir a tensão na voz do humano. Este se aproximara de Heero segurando seus ombros e olhando dentro de seus olhos.

- Meu filho precisa de você.

- O que houve com Dxmaell?

- A criança está matando-o. Ele precisa de sua energia para trazê-la à vida, antes que ambos morram.

Heero sentiu-se tonto pela revelação e foi amparado pelo Ariano. Ele respirou fundo procurando assimilar a informação de que Dxmaell e seu filho corriam o risco de morrerem. Olhou para Wufei, que tocou-lhe o braço, procurando passar-lhe força. Uowans sabia que Heero precisava de algum tempo, para assimilar a informação, mas isso era algo que eles não tinha no momento.

- Temos que ir, ele não agüentará muito tempo.

Heero balançou a cabeça e olhou para Wufei. Ele tinha uma reunião pela manhã, e não poderia ausentar-se. Precisava que alguém tomasse seu lugar. Sabia que o amigo estava a par de como andavam as coisas, apesar de ter deixado tudo para dedicar-se exclusivamente à filha, mas no momento precisava dele.

- Você poderia ocupar meu lugar amanhã?

- Claro... não se preocupe Heero.

- Avise Trowa por mim, ele vai ajudá-lo.

- Vá meu amigo, eles precisam de você.

Heero balançou a cabeça e seguiu Uowans que seguia na direção onde deixara Arphiansus. Em poucos segundos eles se encontravam no espaço, em direção ao quadrante onde encontravam-se as naves que levavam arianos e kdarianos para casa. Uowans esperava apenas que, pudessem chegar a tempo.

Na manhã seguinte, a bordo da Asthyãns– A 3.985.580.000 de anos-luz da Terra:

As dores haviam recomeçado pela manhã, e aumentado consideravelmente. Era como se alguma coisa o estivesse rasgando por dentro. Dxmaell olhou para sua mãe, que segurava sua mão. Tentou não chorar e não pensar no pai da criança. Sabia que algo estava errado, pelo olhar preocupado de sua mãe. Lembrava-se apenas de acordar na enfermaria sem saber ao certo como chegara até lá. E até o momento ninguém lhe dissera o que havia acontecido. Entretanto sabia que algo sério estava acontecendo, ou sua mãe não o estaria mantendo com sua energia desde a madrugada. Embora a energia passada não parecia ser o suficiente para mantê-lo aquecido por mais do que alguns minutos.

Sentiu sua energia oscilar e o frio percorrer seu corpo. A dor o dilacerava sem piedade por dentro, fazendo-o notar que elas não eram como as outras, que passavam depois de um tempo. Sentia como se a criança estivesse absorvendo sua energia vital, e não simplesmente se alimentando como sempre fazia. Podia notar o cansaço de sua mãe, e nem ao menos sabia dizer em que momento durante a madrugada ela passara a alimentá-lo com sua energia. Lembrava-se dos esforços do médico e de sua mãe que haviam tentado restabelecer sua energia, mas esta parecia esgotar-se muito mais rápido do que podiam restabelecê-la. Sabia que se isso continuasse morreria; assim como seu filho. Mas não desejava que ele tivesse o mesmo fim. Seu bebê precisava viver de qualquer maneira. Dxmaell segurou a mão de sua mãe, enquanto uma pontada de dor quase o fez desfalecer.

Dhyreean não queria vê-lo dessa forma, seu filho estava morrendo diante de seus olhos por causa da criança em seu ventre, e não podia fazer nada para impedir. Ela deveria ter previsto que suas energias não seriam compatíveis. Dxmaell era forte. Sua energia podia superar a de qualquer outro Kdariano ou Ariano, mas não a do próprio filho. Se a criança fosse apenas kdariana, seria mais fácil trazê-la a vida, mas uma parte dela era humana o que tornou a genética dela mais forte que a dos próprios pais. Precisavam do humano. Precisavam de sua energia para que a unissem com a de Dxmaell, afim de que a criança pudesse ser trazida à vida e ambos não morressem.

Ela se culpava por não ter conseguido prever isso, deveria ter sido mais atenta e notado que o filho não vinha se sentindo bem; que o cansaço não era por conta do excesso de trabalho ou tristeza. Não deveria ter confiado apenas nas previsões sobre o futuro dele e de Kdra, o futuro podia ser mudado, se uma linha do destino fosse alterada, mas desde que Dxmaell destruíra o Conselho e se tornara o governante por direito de Kdra, era incapaz de ver o futuro de seu filho, e suas previsões quanto a seu futuro eram sempre nebulosas. Ainda assim se agarrava à certeza de que tanto seu filho, quanto seu neto sobreviveriam, pela última previsão que tivera dele, quando o mesmo deixou o humano que amava para trás.

Dois meses atrás – Órbita da Terra:

Dxmaell estava jogado sobre a cama chorando. Havia seguido direto para sua estação assim que se despedira de Heero, e Asthyãns saíra da órbita da Terra. Seu coração parecia querer sair de seu peito, tamanha a dor. Porque tudo tinha que ser assim? Eles haviam lutado tanto, passado por tantas coisas. E para quê? Para no final ficarem longe um do outro, sem uma expectativa de se encontrarem novamente. Ele sentiu a energia de sua mãe, pouco antes da porta se abrir, mas manteve-se como estava, agarrado ao cordão com um pingente em forma de asa dado pelo humano há dois dias atrás. Havia tantas dúvidas em seu coração, que não sabia como conseguiria passar sozinho por tudo que viria. Não com a saudade apertando seu peito e o filho deles crescendo em seu ventre. Se tivesse apenas a certeza de que algum dia veria Heero novamente. Certeza de que algum dia, voltaria a estar em seus braços e sentir o calor de seu corpo. A voz de sua mãe o tirou de seu sofrimento, o fazendo encará-la desde que entrara em sua estação.

- Você o verá novamente.

Dxmaell encontrou no olhar doce de sua mãe, a resposta para todas as suas dúvidas. Dhyreean sentou-se na coluna de energia, e acariciou suavemente o rosto do filho, secando suas lágrimas. Havia tanta esperança em seu olhar, ela sorriu e balançou a cabeça, fazendo-o jogar-se nos seus braços.

- Tem certeza... de que o verei novamente?

- A mesma com que sei que é meu filho. O destino de vocês é ficar juntos, e nada mudará isso. Reconstrua Kdra e vocês se encontrarão novamente.

- Aaahhhhhhhhhhhhhhhh...

O grito de dor de Dxmaell cortou os pensamentos de Dhyreean que segurou com força a mão do filho. Não podia aliviar seu sofrimento, apenas podia permanecer ali, a seu lado; dando lhe sua energia, e o conforto de sua presença. Uowans havia partido há horas para a Terra, em busca do humano; na nave projetada pelo filho e os dois amigos dele; mas temia que ele não chegasse a tempo. Sentiu seu filho apertar fortemente sua mão antes da dor engolfá-lo novamente.

- Mãe... não o deixe morrer... não importa o que aconteça comigo, mas não deixe o meu filho morrer.

- Você não vai morrer Dxmaell...

Dxmaell sorriu ao ver as lágrimas caírem dos olhos de sua mãe, podia ver sua morte nos olhos dela. Ele sentiu sua energia baixar rapidamente e segurou os lençóis com força, sua vista tornou-se turva, fazendo-o fechar os olhos. Mal pôde ouvir o grito de sua mãe chamando seu nome, tudo o que sentia era frio, e a necessidade de sucumbir ao sono. Deixou que a inconsciência o abraçasse. Sabia que deveria resistir, mas sentia-se cansado demais para fazê-lo. Antes que o sono o abraçasse para sempre deixou que o nome de Heero escapasse de seus lábios frios, ao mesmo tempo em que sua mãe gritava seu nome.

- Heero...

- Dxmaell!

Uowans e o humano vinham correndo pelos corredores da nave, em direção à estação onde encontrava-se Dxmaell. Pela informação de Mhtryukres seu filho pedira para ser transferido a sua estação. Segundo o médico a situação não era nada boa, Dxmaell passara a madrugada toda sendo alimentado por Dhyreean, mas sem resultado permanente, ou suficiente para confortá-lo da dor. Estavam a poucos metros quando ouviram uma mulher gritar o nome de Dxmaell. Com desespero, Uowans reconheceu a voz da esposa e sabia que seu filho não estava bem.

Heero sentiu seu coração partir ao ouvir o nome do Kdariano ser pronunciado com tanta dor. Aceleraram os passos, chegando a estação, poucos segundos depois. A porta abriu-se, e eles a atravessaram. Assim que Heero viu o corpo inerte de Dxmaell sobre a cama e a mulher caída sobre seu peito, chorando e sacudindo o kdariano, correu em sua direção, subindo sobre a coluna de energia. Ele tomou o corpo inerte, de Dxmaell em seus braços acomodando-o contra seu peito. A face dele encontrava-se tão pálida, e seu corpo estava tão frio e quase sem vida. Voltou-se para mulher caída ao lado da cama. Precisava fazer alguma coisa, não podia perdê-los... não queria perdê-los.

- O que eu preciso fazer? Diga-me o que posso fazer para salvá-lo.

Dhyreean olhou para o humano e depois para o filho, não sabia se ainda havia alguma esperança. Sentiu os braços de Uowans ao redor de seus ombros, confortando-a. Ela respirou profundamente, procurando acalmar-se e dizer o que era necessário.

- Ele precisa de sua energia para fazer a criança nascer, mas é necessário que ele esteja consciente.

Heero balançou a cabeça e aproximou seu rosto do ouvido de Dxmaell sussurrando algumas palavras. Precisava faze-lo acordar, apenas o suficiente para que pudesse ajudá-lo.

- Vamos Dxmaell... eu estou aqui... por favor, abra os olhos meu amor.

Heero tomou uma das mãos de Dxmaell entre as suas, acariciando-a, enquanto falava. Ele sacudia seu corpo para frente e para trás sem deixar de falar com ele. Mesmo que seu corpo não demonstrasse nenhuma reação sentia que ele o ouvia

- Eu não posso fazer isso sozinho... nosso filho precisa de você... eu preciso de você comigo Dxmaell. Vamos criar nosso filho juntos...

Heero continuou a balançar o corpo de Dxmaell, em seus braços, apertando-o fortemente contra si, deixando que seu coração falasse. Deixando que ele o alcançasse na inconsciência em que este se encontrava.

- Você se lembra... lembra quando dizemos como ele seria? Ele terá o seu tom de cabelos... e terá a cor dos meus olhos... ele será perfeito meu amor.

Dhyreean chorava contra o peito de Uowans, que apertava a esposa contra si. Silenciosamente pedia aos antigos de Kdra que não levassem seu filho e neto. Que dessem a eles uma chance depois de tudo pelo quê haviam passado. Podiam sentir o amor que o humano sentia por Dxmaell. O mesmo sentimento que seu filho sentia pelo humano. Mas infelizmente não podiam fazer nada, além de observar em silêncio e esperar que o humano conseguisse acordá-lo com sua energia. Heero sentia suas lágrimas caindo por seu rosto, suas palavras agora se misturavam aos soluços à medida que suas esperanças de sentí-lo acordar morriam.

- Você precisa acordar... meu amor... eu não conseguirei viver se perdê-lo novamente... não faça isso comigo.

Heero afundou o rosto na curva do pescoço de Dxmaell e apertou-o contra o corpo. Não conseguia mais falar, as palavras simplesmente não saiam mais. Mal sentiu quando o corpo que segurava apresentou um leve piscar de olhos. Deu-se conta de que o kdariano despertara apenas quando sentiu sua energia começar a fluir por suas mãos... para o corpo que segurava, e seu nome ser pronunciado fracamente.

- Heero.

Dxmaell sentia uma energia quente envolvendo seu corpo, uma energia acolhedora que sentia apenas em seus sonhos. Sabia que a energia que sentia fluindo pelo seu corpo e aliviando-o das dores pertencia ao humano. Mas como isso seria possível? Eles estavam tão longe da Terra agora.

- Vamos meu amor, abra os olhos.

Procurou seguir a voz doce que o chamava. Abrindo os olhos lentamente. Quando as ametistas abriram-se, seu olhar encontrou o do humano de olhos azul cobalto. Tentou tocar-lhe a face, mas sentia-se ainda muito fraco para fazê-lo. Heero segurou a mão de Dxmaell e levou-a até seu rosto, sentindo-o acariciar sua bochecha lentamente. Um pequeno sorriso formou-se nos lábios pálidos, e Heero inclinou-se sobre ele, unindo-o ao seu e transmitindo sua energia a Dxmaell rapidamente. Dxmaell podia sentir a energia de Heero fluindo por seu corpo. A energia dele era tão quente e saborosa, tão acolhedora e revigorante.

Dhyreean sorriu e olhou para o marido, ao ver o filho abrir os olhos e sorrir, podiam sentir a energia de Dxmaell elevando-se a um nível estável, embora ainda se encontrasse baixa demais para ser considerada satisfatória. Mas não podiam deixar que o humano gastasse toda sua energia para o restabelecimento de Dxmaell. Ainda precisavam trazer a criança à vida, o que consumiria boa parte da energia de ambos. Em um acordo silencioso, Uowans segurou uma das mãos de Dxmaell, enquanto Dhyreean tocava o ombro de Heero fazendo-o apartar o beijo.

- A criança precisa nascer agora..., não podemos esperar mais.

Heero balançou a cabeça, sentindo-se meio tonto. Ainda assim faria o que fosse necessário para a sobrevivência de Dxmaell e a da criança.

- O que devo fazer?

Dhyreean sorriu diante da determinação na voz do humano, sabia que ele faria tudo o que estivesse ao seu alcance, até mesmo sacrificar a própria vida se necessário.

- Apenas una sua energia a de Dxmaell.

Ela voltou sua atenção a Dxmaell que encontrava-se aninhado nos braços de Heero. Podia ver o quão cansado o filho estava, mas ainda era necessário que ele se esforçasse um pouco mais. Tocou-lhe o rosto pálido, vendo-o fechar os olhos, para abri-los tão logo ouviu a pergunta de sua mãe.

- Você sabe o que fazer não é?

Dxmaell balançou levemente a cabeça..., sim ele sabia. Mhtryukres havia lhe explicado como se dava o nascimento. Ele tinha de elevar sua energia a tal ponto que ela envolvesse a energia da criança e a expulsasse de seu corpo. Ele apertou a mão de Heero e a de seu pai, que procuraria manter sua energia estável durante o processo. Ele fechou os olhos assimilando a energia que Heero passava através de uma de suas mãos, e elevou sua energia o máximo que pôde, sobrepujando a da criança em seu ventre. Podia sentir que ela tentava absorver sua energia, e elevou ainda mais a sua até que não sentisse mais a energia da criança.

Uowans segurava a mão de seu filho, procurando manter a energia dele estável, mas era muito difícil, cada vez que sentia Dxmaell elevar sua energia ele precisava elevar a sua para conseguir mantê-lo com o grau de energia desprendido pelo mesmo. Podia senti-lo ficando fraco, assim como o humano que era amparado por sua esposa. Viu quando o humano gemeu de dor ao ter uma boa soma de sua energia retirada tão rapidamente. Viu o filho abrir os olhos assustados e o sentiu elevar energia a um nível que ele não conseguia estabilizar. Um grande clarão irradiou no quarto, segundos antes dele sentir a mão de Dxmaell escorregar da sua, e o corpo dele desfalecer juntamente com o do humano.

Ele procurou tocar-lhe o rosto e verificar seus sinais vitais, respirando aliviado ao notar que estava vivo. Verificou os sinais do humano, que encontrava-se em um estado similar ao do filho, somente então voltou seu olhar a esposa que sorriu. Em seus braços uma pequena criança dormia calmamente. Haviam conseguido felizmente. Olhou para o filho e o humano. Ambos precisavam de cuidados médicos. Serem alimentados de forma a se recuperarem. Levantou-se e acionou o pequeno painel sobre a cômoda informando Mhtryukres que preparassem a enfermaria para receber três pacientes. O médico ouviu as informações atentamente, sorrindo e afirmando que providenciaria tudo para que eles fossem atendidos imediatamente. Em pouco mais de alguns minutos, Dxmaell, Heero e a criança encontravam-se instalados na enfermaria, recebendo energia suficiente para restabelecerem seus corpos.

Quatro horas depois:

Dxmaell acordou sentindo-se um pouco cansado. Procurou abrir os olhos, piscando-os levemente. Mal se lembrava do que tinha acontecido, mas sentia que algo estava diferente. Instintivamente levou a mão ao ventre, procurando sentir a energia do filho. Assustou-se por não senti-la emanado de seu ventre. O que havia acontecido a seu filho? Um soluço escapou de seus lábios, enquanto algumas lágrimas se formavam em seus olhos, sentiu um suave toque em seu rosto e abriu os olhos encontrando o azul cobalto de Heero. Ele murmurou o nome do japonês, abraçando-o desesperadamente.

- Heero...

Heero abraçou Dxmaell com carinho. Podia sentir e entender seu desespero. Havia acordado a pouco tempo, e sentira-se desorientado ao acordar e não vê-lo. Assim que o localizou a seu lado ficara observando-o dormir até se lembrar da criança. Ele tomou os lábios de Dxmaell com suavidade, mantendo em mente que o Kdariano ainda encontrava-se fraco devido ao parto. Afastou-se ligeiramente, mergulhando nas ametistas que o observavam com carinho. Dxmaell deu um pequeno sorriso que se transformou ao lembrar-se do que acontecera. Heero o ajudara no parto, mas não sabia se a criança havia nascido ou se estava viva. Segurou a mão de Heero angustiado, deixando que sua voz demonstrasse seu medo.

- Nosso...nosso...

Heero notou o medo na voz de Dxmaell, e o silenciou com um dedo sobre seus lábios. Assim que recordara o que acontecera, dera uma olhada no filho e a seus olhos ele era coisa mais linda que já vira, depois do Kdariano que agora abraçava.

- Shhhh... ele está bem.

- Ele?

- Sim é um menino.

- Um menino!

- Sim meu amor, um lindo menino, assim como você.

Dxmaell sentiu seu peito encher-se de alegria. Eles tinham um menino. A criança havia nascido. Procurou com os olhos seu filho, vendo o sorriso de Heero alargar-se, antes de deixá-lo. Heero caminhou até o lugar onde seu filho e de Dxmaell se encontrava. Tomou a criança nos braços levando-a para perto do Kdariano que aguardava com ansiedade. Depositou o bebê nos braços de Dxmaell que não conseguia impedir-se de chorar diante da felicidade. A criança agitou-se levemente antes de acomodar-se nos braços daquele que o trouxera à vida. Dxmaell colocou um dos dedos na pequena boca, sentindo sua energia fluir para o pequeno corpo em seus braços. A criança abriu os olhos levemente e Dxmaell viu-se encarando por alguns segundos os olhos do humano.

- Ele tem! Tem seus olhos...

Heero sorriu emocionado. A criança possuía a mesma tonalidade de seus olhos, o mesmo azul profundo. Ele olhou para Dxmaell que se encontrava encantado com a criança em seus braços. Notou que os olhos dele não conseguiam manter-se abertos. Tomou a criança em seus braços antes que ela o fizesse desfalecer.

- Descanse mais um pouco, você ainda não está bem.

- Você já deu um nome a ele?

- Não... estava esperando que acordasse.

Dxmaell bocejou cansado, olhando para a criança nos braços de Heero. Ergueu a mão tocando a face pálida do bebê. Antes de adormecer, balbuciou algumas palavras, fazendo Heero sorrir e balançar a cabeça concordando. Acariciou o rosto adormecido do Kdariano, recolocando a criança novamente em seu berço. Acariciou o rostinho dela, enquanto dizia seu nome.

- Dhaxtha Yuy da casa de Klaryos.

Duas semanas depois:

Heero olhava para Dxmaell que carregava o filho deles nos braços. O Kdariano havia se recuperado completamente, e já era capaz de suprir a energia de Dhaxtha sem que isso o prejudicasse. Agora ele tinha de seguir seu caminho de volta a Terra e Dxmaell e seu filho de volta a Kdra, pois ambos tinham muito a fazer, e era inevitável a separação. A criança agitou-se nos braços de Dxmaell que sorriu, colocando seu dedo na boca do bebê para que ele se alimentasse, seu olhar encontrou o de Heero, e sentiu seu coração comprimir-se diante do inevitável. Heero tocou a face do filho, beijando-o ternamente, estava feliz por tê-lo visto pelo menos uma vez e ter ajudado a traze-lo ao mundo.

Ele olhou para Dxmaell e o beijou apaixonadamente, antes de se afastar e caminhar na direção de Arphiansus que o levaria de volta a Terra. Uowans e Dhyreean o aguardavam, sabiam o quanto a nova separação doía nos dois. Dhyreean abraçou o humano que retribuiu o gesto, ele estava a ponto de subir na nave quando ouvir Dxmaell chamar seu nome e vir correndo em sua direção. O kdariano entregou a criança a sua mãe e parou a apenas alguns centímetros de Heero , antes de abraçá-lo, chorando em seu ombro, Heero afastou-o delicadamente enxugando lhe as lágrimas. Dxmaell fungou e olhou dentro dos olhos do humano, havia tomado uma decisão. De que não poderia viver sem o humano, mas não poderia permanecer a seu lado por enquanto.

- Eu vou voltar para você... você... você me espera?

Heero olhou para Dxmaell. Seus olhos transmitiam determinação e sabia que o Kdariano cumpriria sua palavra, ele tomou suavemente os lábios de Dxmaell entre os seus, antes de responder.

- O tempo que for necessário.

- Assim que eu reconstruir Kdra, nós voltaremos a nos ver. E criaremos nosso filho, juntos na Terra, eu prometo a você.

Heero sorriu e balançou a cabeça, retirou o crucifixo de seu pescoço colocando-o no pescoço de Dxmaell. Que o olhou surpreso tocando o metal frio e sorrindo ao ouvir as palavras do humano.

- Para que sempre me carregue com você.

Dxmaell fechou os olhos e a mão esquerda concentrando sua energia dentro dela, ao abrir a mão um pequeno cristal lilás se encontrava em sua mão. Ele pegou o cristal e o passou na ponta de sua tranca, cortando uma mecha de seu cabelo, e depositando-o dentro do cristal, deslizou a ponta do dedo sob a superfície plana fazendo sua energia fluir por ele, incrustando o símbolo de sua casa nele. Dxmaell colocou o pingente na mão de Heero, sentindo-se momentaneamente fraco, uma fez que ele tivera que fazer um certo esforço mental para transformar e moldar sua energia em um objeto sólido e depois esculpir nele.

- Para que me leve sempre com você. E estejamos juntos.

Heero sorriu e se virou na direção da nave, a fim de deixar Dxmaell e Dhaxtha para trás. Sabia que não era uma separação, mas uma despedida. Voltariam a encontrarem-se novamente. Tinha plena certeza disso. Arphiansus levantou vôo sob o olhar de Dxmaell. Ele sentiu o toque de sua mãe em seu braço e sorriu, iria cumprir a promessa que fizera a Heero. Eles se encontrariam novamente. Voltaria ao planeta onde o conhecera e viveria com ele, não importava o que tivesse que fazer para isso, não iria abrir mão dele.

Dois meses depois – órbita de Kdra:

" Dois meses já se passaram. Parece tanto e ao mesmo tempo tão pouco... as vezes me pergunto se tomei a decisão correta ao deixá-lo partir, talvez eu pudesse ter feito algo para garantir sua sobrevivência em meu mundo. Sei que se tentasse conseguiria pensar em alguma coisa. Eu tentaria e tentarei mudar o que for necessário para poder voltar a sentir o seu calor novamente."

Dxmaell abaixou a cabeça cansado. Encontrava-se em sua estação a bordo da Asthyãns, preparando-se para descer a superfície do que restara de Kdra. Olhou para o filho que dormia placidamente no berço. Dhaxtha era como um bálsamo para ele, sempre que sentia saudades bastava olhar para o filho e via Heero nele. Tocou o crucifixo de prata em seu peito, Heero havia lhe devolvido o objeto dizendo que sempre que o tocasse estariam pensando um no outro. Repreendeu-se por pensar no humano, logo agora. Não podia tê-lo em mente nesse momento, ou não conseguiria trazer Kdra a vida. Todos os pensamentos tinham que ser banidos de sua mente, passara os últimos dois meses que faltava para chegarem a Kdra condicionando-se a manter seus pensamentos controlados.

Mas por mais que tentasse não conseguia esquecer de Heero. Sempre que se policiava para não pensar nele, a imagem do humano vinha a sua mente, o cheiro dele, sua voz; que para muitos, poderia ser inexpressiva, mas que para si era acolhedora e envolvente.

"Estou novamente pensando nele. O que faço, para mantê-lo distante de meus pensamentos neste momento?".

Isso não era adequado, não nesse momento, quando estivesse a sós em seu leito sim, mas não quando estava prestes a reconstruir um planeta inteiro. A porta de sua estação abriu-se, e seus pais entraram, fazendo o bebê choramingar mediante a presença deles. Dhaxtha parecia despertar sempre que sentia a presença de energias que não fossem a sua. Ele foi até o filho e o pegou, embalando-o durante alguns minutos. Colocou um dos dedos nos lábios pequenos, que imediatamente começou a sugá-lo retirando sua energia. Teria que deixá-lo aos cuidados de sua mãe, que prometera cuidar dele, enquanto estivesse na superfície do planeta.

Desejava que Heero estivesse ali, para tomar conta do filho deles. Confiava em sua mãe, mas não conseguia impedir-se de se preocupar com o filho. Dxmaell retirou o dedo dos lábios de Dhaxtha que voltara a adormecer saciado pela energia recebida. Beijou-o, balançando a cabeça para afastar os pensamentos do outro pai da criança. Dhyreean notou que o filho pensava em outra coisa, que não era Kdra. Era visível em seus olhos, enquanto ele alimentava o filho. Seu olhar tornara-se saudoso e melancólico, e não era difícil imaginar em que ou em quem ele pensava. Olhou para Uowans, que sacudiu a cabeça em entendimento. Ambos sabiam que se Dxmaell não mantivesse sua mente vazia para todos os pensamentos que não fossem Kdra, havia um sério risco dele não conseguir reviver o planeta.

- Dxmaell, tem certeza de que quer tentar reviver Kdra hoje? Pode tentar amanhã se quiser.

Dxmaell levantou a cabeça ao ouvir seu pai perguntar-lhe se ele não desejava deixar para o dia seguinte a realização de seu destino. Voltou seu olhar para os pais e balançou a cabeça negando, sua raça já havia esperado demais por esse momento. Seu povo estava cansado e não poderia fazer com que eles aguardassem mais um dia. Já estavam em órbita de Kdra há quase quatro dias, apenas aguardando que ele se sentisse pronto e sentia-se preparado. Havia nascido apenas para esse momento, tudo o que tinha que fazer era manter sua mente limpa e tudo daria certo.

- Já esperamos demais. Eu sei o que devo fazer e não vou decepcioná-los

- Sabemos que não querido, mas se...

- Não, eu estou bem, não se preocupem. Além do mais, as câmaras de energia não vão durar para sempre, nossa raça esta por demais debilitada, alimentando-se delas desde que deixamos a Terra. Esse é o momento; e não os farei esperar mais do que já o fizeram.

Uowans sabia que não adiantava discutir com o filho, ele estava determinado a reconstruir Kdra o quanto antes, não apenas pelas duas raças, como pela promessa que ele fizera ao humano. O líder dos Arianos meneou a cabeça encerrando o assunto, olhando para Dhyreean para que ela fizesse o mesmo, ela suspirou e aceitou a decisão do filho.

- Que seja então.

Dxmaell sorriu beijando o rosto de sua mãe e entregou-lhe o filho, pouco antes de acariciar-lhe seu rosto uma última vez antes de deixá-lo. Eles deixaram sua estação em direção à área de decolagem, onde se separaram. Uowans acompanhou o filho até a nave que o deixaria na superfície de Kdra, desejando-lhe sorte. Confiava nele e em seu destino. Sabia que Dxmaell não os decepcionaria. Abandonou a área de lançamento observando pela tela da sala de controle a nave rumar em direção a superfície de Kdra. Muito em breve arianos e kdarianos teriam um lar novamente, não precisando viver em naves e em outros mundos, teriam seu próprio planeta e uma fonte de energia permanente como antes.

Algumas horas depois – Superfície do que restou do planeta Kdra:

Era difícil de acreditar que a paisagem a frente era Kdra, Dxmaell manobrou a nave pousando no local próximo a Kdhrian o centro de Kdra. O coração do planeta como diziam os antigos... o lugar onde a energia vital de Kdra fluía convergindo em todas as direções. O centro vital de sua raça. O lugar onde repousavam os antigos de Kdra. Como novo governante, um dia sua energia uniria-se a dos antigos e repousaria neste mesmo lugar. Caminhou durante algum tempo, pelas ruínas de seu planeta, podia sentir um enorme vazio sobre toda a região, sua mãe lhe havia dito que Kdhrian era um dos lugares mais belos de toda Kdra.

Mas vendo a devastação e solidão ao seu redor, era difícil imaginar que esse um dia havia sido um lugar tão cheio de beleza e vida. Era triste ver o que Kdra se tornara, pela ganância do Conselho, mal se lembrava de como era a paisagem do planeta. Sua vegetação, fauna ou flora, sua infância fora dentro de centros de treinamentos onde fora preparado para liderar as tropas de Kdra em nome do Conselho. Embora tivesse as lembranças de seus antepassados, nunca a vira com os próprios olhos, apenas através de imagens holográficas. Nunca pudera ver sua real beleza e magnitude, como Whorda e seus pais lhe contavam. Ainda se lembrava do dia em que fugira do centro e pudera ver a cor do céu ao entardecer e das estrelas ao cair da noite. Foram poucos minutos, mas que valeram pelo tempo em que fora retirado da custodia de Whorda e levado pelo Conselho.

Dxmaell caminhou até o centro de Kdraphia no coração de Kdra. Tudo que tinha que fazer era se concentrar, elevar sua energia e faze-la expandir-se por todo o planeta. Tinha que esvaziar sua mente e uni-la ao coração do planeta. Não pensar em nada além de Kdra e em sua reconstrução, mas a imagem de Heero e de seu planeta insistia em aparecer em sua mente. A Terra e sua vastidão coberta pelo verde, as montanhas, suas águas, planícies e vales. Dxmaell piscou os olhos obrigando-se a voltar a limpar sua mente e ligar-se ao coração do planeta. Pensou nos campos floridos de Xhyars, os céus alaranjados, em Khtrya o segundo sol de Kdra tão acolhedor quanto o sol da Terra. Sua mente o traiu levando-o novamente a pensar na Terra. Na primeira vez em que vira o sol, e o sentiu tocar sua pele, sua tonalidade amarela, a lua pálida a controlar os rios, mares e oceanos do planeta azul.

Os diferentes climas, tão semelhantes ao de Kdra e ainda assim tão diferentes. Dxmaell piscou e abriu os olhos, ele precisava manter sua mente sob controle ou tudo estaria perdido para sua raça. Fechou-os novamente obrigando-se a se concentrar no que deveria fazer.

"Concentre-se Dxmaell...pense apenas em Kdra".

Sua mente voltou-se para seu dever com seu povo, eles confiavam nele para cumprir seu destino e não falharia com eles. Dxmaell procurou lembrar-se das imagens que tinha de Kdra, deixou que elas inundassem sua mente e seu coração, empurrando a saudade e as lembranças da Terra e de Heero para o mais fundo de seu ser. Elevou sua energia ao máximo deixando que ela se fundisse ao coração de Kdra e expandisse por toda a sua superfície. Na órbita do planeta os tripulantes de Asthyãns, Atlanyus 2, Zhetryus, Valthryus, Esphyriantus I e II 3 observavam admirados as mudanças sob a superfície de Kdra. Todos podiam sentir a energia de seu governante propagando-se do centro de Kdra em todas as direções. Dhyreean olhou para o marido que observava surpreso e orgulhoso a energia de seu filho espalhar-se por sobre todo o planeta. Sentiam o renascimento de Kdra em seus corpos. Dhyreean acalmou o bebê que se agitou em seu braço, ao sentir a energia de seu pai propagar-se.. Ela acariciou o rostinho suavemente entoando uma antiga canção Ariana. Ela sorriu ao vê-lo acalmar-se, e voltar a dormir tranqüilamente. Como já esperava Dhaxtha também podia sentir a vida surgindo no planeta abaixo deles.

Algumas horas depois – Superfície de Kdra:

O corpo adormecido sobre a cama, mexeu-se ligeiramente, antes de começar a despertar. Dhyreean virou-se e aguardou que seu filho acordasse por completo, estava tão preocupada com ele, que não o deixara um único segundo desde que o mesmo desmaiara, após terminar a reconstrução do planeta. Dxmaell abriu os olhos lentamente, sentindo cada músculo do corpo protestar. Assim que seus olhos abriram-se, encontrou o olhar de sua mãe observando-o com carinho. Deu um meio sorriso cansado, procurando sentar-se com algum esforço. Sentia-se esgotado e desorientado, não conseguia lembrar-se direito do porquê se sentir assim. A última vez que isso ocorrera fora antes do nascimento de seu filho. Foi então que sua mente clareou, fazendo-o recordar-se do porquê de sentir-se tão esgotado.

- Mãe?

Dhyreean ouviu a voz cansada do filho, e através de seu olhar reconheceu a pergunta não formulada. Ela sorriu e balançou a cabeça. Mesmo cansado ele não deixava de se preocupar quanto ao planeta ou o destino de sua raça. Dxmaell desmaiara de cansaço logo após o termino de seu destino e ainda não sabia se havia conseguido seu intento. Uowans e os ministros encontraram seu governante desfalecido. Trouxeram-no de volta à nave para que fosse cuidado. Durante quase seis horas ele permaneceu inconsciente, murmurando algumas palavras. A maioria delas envolvendo o nome do humano. Dhyreean caminhou até o filho e ajudou-o a se levantar, levando-o em direção a janela do quarto, incentivando-o a abrir o painel e ver a realização de seu destino. Dxmaell ergueu a mão passando-a sobre a parede abrindo uma janela. O que ele viu através dela o fez encher-se de saudade e preocupação.

O que via, não podia ser real. O céu que deveria ter um tom alaranjado, era de uma tonalidade amarelada levemente azulada. A cobrir o chão, a todo redor, uma vastidão verde se espalhava entre montanhas rochosas e vales que eram cortados por riachos de água cristalina. Ele levou a mão aos lábios, temendo que o que via, fosse uma ilusão, havia tanta semelhança com a Terra, que achava se encontrar em alguma espécie de sonho. Olhou em dúvida para sua mãe que lhe sorriu, abraçando-o por trás, e observando a paisagem que se estendia pelo horizonte. Sabia que ele ficaria assim, quando notasse a semelhança, mesmo que ela e seu marido estivessem esperando por isso, não estavam preparados para a beleza que encontraram ao descerem à superfície.

- No que pensava quando expandiu sua energia?

- Eu...

Dxmaell olhou de soslaio para sua mãe e depois para a imensidão do planeta, se seus olhos não estivessem a lhe pregar uma peça poderia dizer que estava olhando para um novo planeta que tinha um pouco de Kdra e a Terra. Soltou-se de sua mãe, voltando para a cama. Sua mente acusava-o de ter falhado para com seu povo. De não ter cumprido com seu destino e dever. Escondeu o rosto entre as mãos pensando no que havia feito. Sentiu o toque dela em suas mãos e ergueu a fronte encarando-a, com os olhos repletos de culpa.

- Eu... eu estava pensando... eu tentei...

Dhyreean sorriu e sentou-se ao lado do filho, segurando-lhe a mãos com carinho. Ela sabia no que ele pensara. Bastava olhar para o planeta e sua paisagem para ver o terceiro planeta da via-láctea, incorporado a Kdra.

- Você pensava na Terra e no humano não é?

- Sinto muito... eu falhei... eu

- Shhhhh... tudo bem querido. Não acreditávamos que pudesse manter sua mente limpa durante o Thuranpks 4. Ainda mais depois de vê-lo recentemente

- Mas Kdra?

- Está tão bela quanto era antes, eu diria que mais. Não se preocupe não há grandes mudanças e nenhuma que cause algum dano aparente.

- Mas Kdra...

- Está viva. E necessita que seu governante a lidere e dê-lhe um nome

- Nome!

- Sim, essa não é Kdra ainda que se pareça com ela, então não podemos dar-lhe o mesmo nome.

Dxmaell pensou durante algum tempo, em um nome. Sua mãe tinha razão, o planeta que criara não era Kdra, embora ainda houvesse semelhanças com ela. Ainda assim não desejava dar-lhe um nome diferente do antigo, talvez o mesmo nome com uma pequena diferença.

- Ele se chamara Nova Kdra

Dhyreean sorriu e balançou a cabeça em acordo, era perfeito. Ela fez Dxmaell deitar-se e o cobriu com cuidado, ele ainda tinha que descansar um pouco antes que começasse a cumprir seus deveres como governante. Seu povo esperava para vê-lo adentrar o salão do Conselho como o único governante de Arianos e kdarianos.

- Agora durma e descanse um pouco mais. Logo Dhaxtha ficará com fome e você tem que alimentá-lo

- Onde ele está?

- Eu o deixei com Aleng. Pedirei que o traga quando estiver na hora de alimentá-lo. Agora descanse Dxmaell.

Dhyreean ficou ao lado do filho até que o mesmo adormecesse. Assim que teve certeza de que ele dormia, deixou-o sozinho para comunicar Uowans de que o filho estava bem. Em breve seu governante estaria restabelecido e regeria Kdra com sabedoria e firmeza da forma como fora ensinado para fazer. E não da forma deturpada e cruel como o antigo Conselho desejava.

Continua...

Não me matem por favor, mim teve que dividir o epílogo em dois... ou seria três? Yoru pensando

Atendendo aos pedidos, ai está o epílogo, espera que tenham gostado. Não se preocupem que a segunda e terceira parte... se houver não vai demorar tanto.

Espero que tenha atendido a todos. Se não ocorreu peço que me desculpem, mas como diz o ditado é impossível agradar a todo mundo.

Agradecimentos especiais a Sis Lien pelas idéias maravilhosas, sem as quais não poderia ter continuado o capítulo.

A Dhandara pela revisão e também pelas idéias e opiniões.

A mami Evil que muito me incentiva e ajuda.

A Tia Daphne que também muito me ajudou.

A Sis Dee, pelo apoio.

A todos os que me mandaram reviews (eu podia dizer o nome de todo mundo, mas eu sei que eles sabem de quem estou falando e isso é o suficiente para mim), quase me trucidando por uma continuação. Amei todas as ameaças recebidas e os comentários delas.

Agradecimentos também a todos os elogios, críticas, apoio, dicas e até mesmo aos "educados" anônimos e não anônimos, a esses últimos o meu mais profundo respeito (pelo simples fato de não se esconderem no anonimato).

E como sempre, aguardo comentários, críticas, retaliações, elogios. Ameaças, ou o quê quiserem mandar.

1 Teoricamente a estrela mais próxima em nosso sistema solar se encontra a aproximadamente 20.000 anos-luz.

2 Atlanyus nave ariana, da mesma classe que Asthyãns, mas com as mesmas dimensões que a Zhetryus.

3 Valthryus e Esphyriantus I e II são naves de batalha similares a Zhetryus, mas com menor poderio de fogo e menor dimensão.

4 Thuranpks é como os kdarianos chamam o processo de criação de um planeta, a partir de um único ser. Onde o indivíduo eleva sua energia vital ao máximo e a expande ao seu redor para que dela surja a vida.