A Invasão

Nota:

Tudo que estiver entre significa que o personagem esta falando a língua Kdar ou pensando em Kdariano.

K medida de tempo Kdariana:

§ 1 kx equivale a 1 segundo

§ 1 kr equivale a 1 minuto

§ 1 k equivale à 1 hora

§ 1 ano terrestre equivale a 63 anos em Kdariano

§ 1 dia terrestre equivale a 5.25 dias em Kdariano

Epílogo

Parte II –Atos vindos do coração

Dois anos depois:

Dxmaell sentou-se ao lado da cama de seu filho, observando-o em um silêncio triste seu sono, a cada dia que passava Dhaxtha parecia-se mais e mais com Heero, e se tornava mais genioso. Os olhos da mesma tonalidade do humano, a personalidade forte dele, às vezes era tão difícil para si controlá-lo ou negar-lhe alguma coisa. Embora fosse uma boa criança sentia que não tinha o pulso necessário para repreender seu filho todas as vezes que ele se tornava rebelde. Era impossível não pensar em Heero. Pensar em como ele lidaria com a teimosia de Dhaxtha e seu excesso de energia. Havia momentos em que sentia-se tão sozinho. Ainda mais olhando para o filho deles. Havia prometido a Heero que voltaria em breve para buscá-lo. Assim que tivesse reconstruído Kdra, mas já haviam se passados dois anos e ainda não cumprira sua palavra. Estava tão atolado em suas responsabilidades e problemas causados pela nova formação do planeta, que levara algum tempo para habituar-se à Nova Kdra.

Os problemas pela sua falta de concentração apareceram apenas alguns meses depois, quando sua raça começou a apresentar problemas de adaptação. Oscilações de energia, rejeição às antigas formas de coleta de energia. E quando tudo se resolvera, quando seu povo conseguiu adaptar-se ao novo planeta e a experiência de sobreviver não mais de outras fontes de energia, mas da energia produzida por seus próprios corpos e dos alimentos cultivados na terra, novos problemas surgiram, um atrás do outro. Os conflitos entre arianos e kdarianos; a implantação de um novo sistema de governo, e quando notara muito tempo havia se passado... e até o momento não pudera ir buscá-lo.

"Heero será que você ainda está me esperando? Se eu encontrasse algum tempo, para me ausentar e ir até você...".

Dxmaell caminhou até seu quarto, retirando suas vestes. Deitou-se na cama abraçando o travesseiro. Estava com tantas saudades de Heero. Deixou que as lágrimas viessem mais uma vez. Já havia perdido a conta de quantas vezes chorara à noite dessa mesma forma. Quantas vezes adormecera, esgotado pelas lágrimas que manchavam seu rosto. Estava tão distraído com sua dor que não notou ou sentiu a energia da pequena figura parada na porta observando-o em silêncio. Dhaxtha sabia que seu pai sofria pela saudade de seu Kthapan1, não conseguia entender o porquê dele não ter ido atrás dele se sentia tanta saudade. Sabia que seu pai vinha trabalhando em uma nave, para levá-lo até a Terra e buscar Heero.

Não foram poucas às vezes em que ele ficara noites a fio construindo e melhorando a nave que batizara de ArphiansusIII, já havia dado uma olhada nela, e em seus diagramas e sabia como pilotá-la. Seu coração lhe dizia para pegá-la e ir buscar seu Kthapan, mas sua consciência lhe dizia que seria errado roubar a nave de seu pai. Mesmo que fosse para fazê-lo feliz. Seu pai sempre lhe ensinou que nem sempre o que queremos é o certo a fazer. Não quando nossa vontade sobrepõe a de outro ser. Seu pai jamais seria capaz de abandonar suas responsabilidades para ir atrás de seu amor. Ele era fiel a seu dever, mesmo que isso o machucasse. Dhaxtha suspirou pesadamente antes de voltar a seu próprio quarto e deixar seu pai sozinho. Iria esperar que ele tomasse a decisão de ir atrás de Heero ignorando suas responsabilidades. Mesmo que não concordasse com a opinião de seu pai, a aceitaria por enquanto.

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Terra – aproximadamente 10:45h horário terrestre:

Heero estava terminando de treinar alguns recrutas. Sentia-se cansado e aborrecido, a cada dia se afundava mais e mais no trabalho, apenas para não ter que pensar nele. Dois anos já haviam se passado desde que o vira pela última vez. Sentia saudades dele e de seu filho. Deu um pequeno sorriso ao lembrar-se de Dhaxtha. Ainda lembrava-se da sensação de tê-lo em seus braços. O calor e emoção que sentira ao vislumbrar os olhos da mesma cor que os seus. Dxmaell havia prometido voltar, mas já se passara tanto tempo, que sentia suas esperanças em reencontrá-lo morrerem a cada dia. Sabia que o Kdariano cumpriria sua palavra, e que se ainda não retornara era porque não pudera fazê-lo. Ainda assim não conseguia impedir-se de sofrer por sua ausência e deixar que pensamentos pessimistas o envolvessem todas as noites.

Ainda ia à antiga montanha; sempre quando a saudade tornava-se insuportável demais. Pegava o carro, independente da hora. Dirigia até lá e ficava observando as estrelas no alto, pedindo a elas que abreviassem sua espera. Por diversas vezes acabara adormecendo ali, e por diversas vezes perdera a hora, sendo sempre encontrado por Trowa que sabia sempre onde encontrá-lo. Sabia que o amigo sofria tanto quanto ele, uma vez que ele havia se apaixonado pelo Kdariano chamado Aleng. Eles conversavam algumas vezes e por algumas vezes se permitiram chorar a ausência daqueles que carregavam uma parte de seus corações.

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Trowa observava o amigo de longe. Também ocupado em treinar um grupo de recrutas. Heero andava calado nos últimos tempos. Sofria por ele, imaginando o quanto deveria sofrer com a ausência de Dxmaell e do filho que ajudara a trazer ao mundo. Como o amigo também pensava e sofria por alguém distante. Pensava em Aleng, e no último encontro deles, antes do Kdariano partir. Quando fechava seus olhos, podia ouví-lo gemendo seu nome, enquanto seus corpos alcançavam o prazer do gozo. Fora a primeira vez depois de muito tempo que chorara; sabia que Aleng teria ficado mesmo que isso significasse sua morte. Tivera que obrigá-lo a partir e viver do que ficar e morrer, uma vez que ele não conseguiria viver durante muito tempo sem absorver uma grande soma de energia e ele se recusaria a alimentar-se da energia humana. Ainda se lembrava das poucas palavras trocadas, tão carregadas de dor e saudade.

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A dois e anos e dois meses atrás:

Trowa estava observando Aleng que parecia um tanto agitado. O terceiro oficial das tropas kdarianas, havia chegado à alguns minutos e não falara nada até o momento. No entanto podia sentir que o Kdariano desejava lhe dizer alguma coisa importante, e procurava encontrar coragem para fazê-lo. Tocou o rosto pálido, que virou-se para ele, sorrindo fracamente. Notou os olhos marejados e o puxou para seus braços sendo rapidamente abraçado por Aleng que começava a soluçar, preocupando-o.

- O que houve Aleng?

Aleng demorou algum tempo antes de responder, era tão difícil fazê-lo. Sempre soube que esse momento chegaria; ainda assim não sentia-se preparado para aceitá-lo; mas sabia que era inevitável. Afinal o próprio Dxmaell, havia dado a ordem de retirada. De que todos os Kdarianos e Arianos espalhados pelo planeta, deveriam encaminharem-se para os transportes e retornar as naves mães em menos de 4 k para voltarem a Kdra. Estava explicitamente proibida a permanência de qualquer um deles na Terra, com o risco de serem condenados a câmara de Kexdra.

Não que fizesse alguma diferença, uma vez que não poderiam sobreviver muito tempo na Terra sem virem a consumir energia de alguma maneira. Mesmo assim estava disposto a permanecer e morrer, a ter que partir e deixar o humano de olhos verdes que detinha seu coração. Trowa notou que Aleng encontrava-se em algum tipo de dilema, mas não podia imaginar a grandeza de suas preocupações, pelo menos não até ouvi-las deixar os lábios do Kdariano de forma triste e resignada.

- Eu estou voltando a Kdra.

Trowa olhou para Aleng sem acreditar. Como desde a retomada da Terra pelos humanos, a raça de Aleng não havia feito menção de deixar o planeta, imaginou que isso não fosse ocorrer tão cedo e teriam algum tempo para se conhecerem melhor e aproveitar a companhia um do outro. Até mesmo imaginava que alguns deles partissem, mas não que Aleng estivesse entre eles. Apertou o Kdariano contra si, como se isso pudesse impedir a verdade de sua partida. Aleng sentiu a negação de Trowa quanto a sua partida, ao sentí-lo apertá-lo contra si, procurou afastá-lo e sentiu-se livre de seu abraço.

Trowa libertou-o de seus braços ao sentí-lo tentar se afastar. Aleng Não poderia estar dizendo isso. Ele não podia partir. Bem como imaginava que Dxmaell não partiria deixando Heero e levando seu filho. Então porque ele partiria?

- Dxmaell não pode fazer algo para que fiquem?

Aleng ficou calado por alguns segundos antes de responder. Se o amigo não houvesse dado a ordem talvez encontrassem um meio de ficar, mas fora o próprio Dxmaell quem ordenara a retirada. Embora soubesse que Uowans deve ter-lhe convencido a partir. Aleng tocou o rosto de Trowa suavemente com a mão que ainda tinha.Ele gostaria que não houvesse sido necessário amputar a mão direita, assim poderia tocar o rosto do humano com ambas as mãos.

- Foi ele quem deu a ordem de retirada. Nenhum Kdariano ou Ariano deve permanecer na Terra...nem mesmo ele.

Aleng notou o olhar de choque de Trowa, ao ouvir que fora o próprio Dxmaell quem dera a ordem. Ele mesmo ficara surpreso quando Dxmaell chamara, ele e Tzen e os fizera passar suas ordens as tropas.

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Três horas antes:

Aleng e Tzen se encontravam a abordo da nave que Dxmaell, havia construído para ajudar os humanos no caso de sua morte. Eles aguardavam o amigo que os chamara à alguns minutos. Não sabiam exatamente o que ele desejava, mas imaginavam ser um assunto importante dado a ênfase quanto ao horário. Assim que o amigo entrou, ambos levantaram-se saudando-o. Mesmo sendo amigos, e tendo passado por muita coisa juntos, Dxmaell agora era o governante de toda a Kdra e como tal deveria ser respeitado. Dxmaell meneou a cabeça levemente. Olhou para seus amigos e oficiais e comunicou-os acêrca de sua decisão, para a surpresa de ambos.

- Aleng, Tzen que ordenem a todos de nossa imediata retirada da Terra.

Aleng e Tzen olharam um para o outro e depois para Dxmaell que mantinha o olhar frio e sério. Estavam prestes a contestar suas ordens até ouvi-lo pronunciar as palavras seguintes.

- Ninguém deve permanecer na Terra, ao será executado imediatamente na câmara de kexdra. Partiremos em 4 k.

Dxmaell virou-se para sair, quando Aleng segurou-o pelo braço, o fazendo recuar imediatamente mediante seu olhar.

- Mas...

Dxmaell olhou para Aleng. Não era necessário que ele completasse suas palavras, sabia muito bem o que ele desejava saber. Tocou seu rosto suavemente, antes de respondê-lo e deixá-los para cumprirem suas ordens.

- Todos sem exceção. Partirão em 4k Aleng. Sugiro que se despeçam de quem acharem que devem.

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Aleng teve seus pensamentos cortados pela voz de Trowa, que soava surpresa.

- Mas... e Heero? O filho deles?

- Ele ficou de... se despedir dele. A criança nascerá em Kdra.

- Aleng...

- Eu não quero ir. Eu ficarei se pedir. Quero ficar com você Trowa.

- Você poderia ficar? Ele o deixaria?

Aleng balançou a cabeça. Ficar significaria sua morte, rápida e indolor pela câmara de Kexdra se Dxmaell cumprisse sua ameaça quanto a desobediência a suas ordens. Ou lenta e angustiosa se o amigo o deixasse ficar na Terra com o humano por quem se apaixonara. Trowa via o olhar angustiado de Aleng. Não sabia se o Kdariano viveria com eles, afinal sua raça alimentava-se de energia, e pelo que sabia Aleng e alguns dos seus recusavam-se alimentar-se da energia de outros seres. Então como ele poderia sobreviver sem alimentar-se? Uma vez que fazia parte de sua natureza ser assim?

- Aleng? Você poderia viver conosco?

- Sim... se você quiser eu ficarei com você.

- A que preço?

- O que?

- Você vive de energia, precisa dela para alimentar-se e sobreviver, assim como eu preciso de alimento para não morrer. Se ficasse, como você viveria?

- Eu...

- Quanto tempo sobreviveria antes de adoecer? Você acabaria morrendo não é?

Aleng desviou seu olhar do humano. Não conseguia encará-lo e contar a verdade. Que ele não passaria mais do que alguns meses antes que seu corpo começasse a deteriorar-se pela falta de energia. Assim como não viveria mais do que um ano, antes de morrer. Trowa viu Aleng desviar o olhar e sabia que estava certo. Abraçou o Kdariano tomando-lhe os lábios com ardor e medo. Medo do que seria sua vida sem ele. Medo do que ele estava disposto a fazer para permanecer a seu lado. Seria egoísmo permitir que ele ficasse, apenas por amá-lo. Trowa apartou os lábios, tocando os fios loiros com carinho. Seus olhos se encontraram, embaçados pelas lágrimas que jamais achou que fosse derramar novamente.

- Eu quero que você vá com seu povo e...

Aleng gritou agarrando-se ao humano, não queria partir, não queria deixá-lo.

- Não! Não me peça para partir e deixá-lo.

- Shhhhhh...

Trowa calou os lábios de Aleng com um beijo suave, antes de abraçá-lo, fazendo-o descansar a cabeça em seu peito. E deixar que as lágrimas caíssem por seus olhos.

- Quero que viva. Eu o amo e não quero que se mate ficando aqui comigo. Você sempre viverá em meu coração todos os dias. A sua lembrança me acalentará todas as noites, e viverei feliz por saber que você está vivo e com os seus.

Aleng chorava contra o peito de Trowa, ouvindo as batidas descompassadas de seu coração. Nunca imaginou que um dia amaria tanto alguém como amava a ele. Afastou-se ligeiramente, olhando dentro dos olhos verdes de seu amado. Tocou-lhe a face com carinho antes de tomar-lhe os lábios num beijo desesperado, fazendo-o inclinar-se sobre seu corpo no sofá. Aleng afastou o rosto de Trowa, olhando dentro de seus olhos. Sua voz carregava sua tristeza e seu amor, ao pedir-lhe que o tomasse para si.

- Ame-me e deixe que eu leve a lembrança desse momento comigo.

Trowa tocou o rosto de Aleng e meneou a cabeça beijando-o pelo pescoço, retirando suas vestes. O tomaria para si, e teria para sempre com ele a lembrança desse momento. O sabor e o cheiro de seu corpo permaneceriam em sua pele e sua mente todos os dias. Durante os momentos que ficaram juntos, seus gemidos, juras e tristezas foram ouvidos por seus corações, até que o momento da partida os separasse.

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Trowa sentiu que uma lágrima, escorria de seu olho encoberto pela franja enxugou-a antes que alguém a visse deslizar por sua face. Naquele dia ele havia observado a nave de Aleng partir e não pôde impedir-se de chorar. Assim como se acostumara a fazê-lo no silêncio da noite cada vez que lembrava-se do Kdariano. Entendia o que Heero sentia. Partilhava de seu sofrimento, não tanto quanto o amigo era verdade. Uma vez que Heero sofria não apenas pela falta de Dxmaell, mas também pela falta do filho que não veria crescer. Pelo que o japonês dissera, Dxmaell havia prometido voltar, e mesmo depois de tanto tempo Heero ainda o aguardava, e sofria cada vez mais pela demora. Desviou seu olhar de Heero que se voltara para ele ao sentir-se observado. Um desejo cruzou sua mente, antes de voltar sua atenção a seus afazeres.

"Somente espero que Dxmaell não se detenha por mais tempo, ou Heero na agüentará mais de saudade."

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Nova Kdra - Dois dias depois – Salão do ministério:

Dxmaell encontrava-se sentado olhando para os ministros que o encaravam calmamente. Quando os mesmos convocaram uma reunião, não imaginava que ela se devia ao assunto que o deixara sem fala no momento. Poderia esperar tudo, menos isso. Sabia que tinha que dizer algo, mas nada apropriado vinha a sua mente. Encontrava-se preparado para isso, mas não agora. Talvez nunca. Um dos ministros resolveu manifestar-se, e justificar a necessidade de tal pedido, uma vez que o governante parecia um tanto quanto surpreso. Se mantendo calado e ligeiramente atordoado.

- Senhor, seu filho já tem dois anos de idade, ou seja; já se passaram dois anos desde a realização do ritual de Caykradus e a realização do Cyarpks que originou o pequeno Dhaxtha.

Dxmaell concordou procurando ouvir a explicação dada pelos ministros, embora não conseguisse entender o porquê de ter que fazer o que eles pediam. Sabia que se as circunstâncias fossem outras, não se demoraria tanto a responder ou a entender o pedido. Mas não via com bons olhos a situação que se desenrolava à sua frente.

- Mesmo que Dhaxtha tenha sido gerado com um ser de outra raça, e o mesmo não se encontre presente, é necessário que tome outro como parceiro.

- Não entendo. Porque devo tomar outro como parceiro?

- Senhor, o governante de Kdra precisa de um companheiro forte para aumentar a casa de Klaryos.

- Logo estaremos entrando na próxima estação, que como sabe é a estação de Liphian 2 o momento ideal para o crescimento da casa de Klaryos.

- Mas...

- O governante conhece as leis de Kdra.

- Conheço ministro Gaharns, não preciso que me lembre delas.

Gaharns abaixou a cabeça diante do olhar e da voz fria de seu governante. Ele não estava insinuando que o mesmo desconhecesse as leis de Kdra, estava apenas querendo que, lembrasse da importância do crescimento de sua casa na próxima estação. Dxmaell abaixou a cabeça procurando acalmar-se. Meneou a cabeça contrariado ao pedido de desculpas do ministro. Havia se esquecido completamente da estação de Liphian. Sabia que por obrigação sua casa deveria crescer. Mas não desejava ter outro parceiro. E precisava encontrar um meio de contornar a lei por enquanto. Pelo menos até que encontrasse um jeito de trazer Heero, e pudesse cumprir com as leis de Kdra. Procurando acalmar-se deixou que sua voz soasse calma, e não aborrecida como se encontrava intimamente.

- Pelas leis eu tenho até o inicio da estação de Liphian, para apresentar meu parceiro, antes que o ministério me apresente um. Não é?

Os ministros concordaram com um movimento de cabeça.

- Então eu apresentarei um parceiro até lá.

Dxmaell levantou-se, fazendo todos os ministros levantarem-se. Ele deu por encerrada a reunião, deixando o ministério rapidamente, embora houvesse um milhão de coisas para fazer. No momento ele precisava pensar no que fazer e rápido, e não conseguiria se tivesse que seguir com sua agenda.

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Uma semana depois:

Escola Therrian Kdatrya:

Dhaxtha se encontrava sentado em sua cadeira, terminando seus deveres, quando ouviu a voz de uma de suas colegas de classe. Ele não precisava levantar a cabeça para saber quem era, ainda assim ergueu a fronte encarando os olhos amendoados, procurando não se irritar com a presença da menina.

- Dhaxtha.

- O que é Anythilhian?

- Eu queria dar-lhe os parabéns.

- Parabéns!

Dhaxtha ergueu ligeiramente as sobrancelhas olhando para a menina como se ela fosse louca. Não que discordasse desse ponto em questão, mas não entendia o porquê da garota que insistia em ficar no seu pé lhe dava os parabéns. Tentou soar menos irritado, mas sabia que havia falhado terrivelmente ao ouvir o som de sua voz.

- Parabéns pelo quê?

- Como pelo quê? Eu ouvi papai conversando com outro ministro que o governante vai aumentar sua casa. Seu pai é o governante não é?

Dhaxtha ignorou o olhar zombeteiro de Anythilhian, não acreditando no que ela havia dito. Mesmo que seu olhar permanecesse inalterado, em seu íntimo se perguntava o porquê de seu pai, ter-lhe escondido isso.

"Papai não me esconderia algo assim. Não permitirei ninguém como seu parceiro".

Dhaxtha deu um meio sorriso irônico o que fez a menina sorrir, por ganhar um sorriso do menino que sempre a tratava tão friamente.

- Obrigado Anythilhian, mas meu pai já possui um parceiro.

- Mas como!

Dhaxtha se levantou ignorando o olhar chocado de Anythilhian. Recolheu seu material e deixou a menina falando sozinha. Ele precisava averiguar isso, e havia apenas uma pessoa que poderia responder-lhe no momento. Precisava vê-la imediatamente, e não iria esperar nem mais um segundo. Decidido caminhou até a diretoria, sendo atendido em pouco tempo, uma vez que era o filho do governante de Kdra. Solicitou a diretora da escola, uma permissão para deixar a instituição antes de seu horário regulamentar3. A mulher olhou para o menino, filho do governante de Kdra, que mantinha um olhar sério e inexpressivo. Para a pouca idade, que tinha, Dhaxtha possuía uma disciplina exemplar e inteligência extraordinária.

Tanto que a escola militar já havia solicitado por diversas vezes, sua transferência para a instituição militar, no entanto o governante proibira terminantemente o ingresso do filho na escola militar. Pelo que diziam ele não desejava que o filho se tornasse um guerreiro como ele o fôra. A diretora entregou a permissão ao menino avisando-o que seu pai seria comunicado quanto a sua saída. Dhaxtha meneou a cabeça e saiu rapidamente, cruzando os portões logo que entregou a permissão ao guarda do portão. Seguindo em pouco tempo em direção à casa dos avós na cidade baixa. Em pouco mais de alguns minutos encontrava-se em frente à casa deles. Sentindo a energia de sua avó na parte de trás da casa, contornou a residência encontrando-a trabalhando no jardim.

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Dhyreean estranhou sentir a energia do neto àquela hora da manhã, uma vez que Dhaxtha deveria estar na escola. Aguardou que ele viesse até ela, continuando a trabalhar no jardim. Sorriu assim que viu o menino caminhando em sua direção, e pelo olhar dele sabia que algo o desagradara profundamente o que era um mau sinal. Seu neto era um menino brilhante, dotado de uma inteligência, disciplina e força impressionantes para a pouca idade, em contra partida possuía uma exagerada afeição pelo seu Kthapan, e um ciúme exagerado em relação a Dxmaell. O que o tornava emotivamente possessivo e intransigente quanto aos dois. E tinha a ligeira impressão de que a visita inesperada de Dhaxtha se devia a algo relacionado a um dos dois... os únicos capazes de arrancar uma reação descontrolada de seu único neto. Dhaxtha caminhou até sua avó beijando-a no rosto, antes de iniciar sem rodeios o assunto que o trouxera até ali.

- Vovó, é verdade que os ministros querem que papai escolha outro parceiro?

Dhyreean olhou surpresa para o neto. Pelo que sabia Dxmaell ainda não havia revelado o assunto ao filho, sabendo que o mesmo não aceitaria a noticia pacificamente.

- Quem lhe disse isso querido?

- Não importa. Quero saber se é ou não verdade.

- Dhaxtha...

Dhyreean agachou-se tocando o rosto do neto que recuou, aguardando sua resposta. Ela suspirou levantando-se; sabia que não adiantaria contornar a situação, mas não era seu dever conversar com Dhaxtha sobre o assunto, mas sim de Dxmaell.

- Já perguntou a seu pai sobre isso?

- Não... vim até a senhora assim que soube.

- Você deve perguntar a seu pai Dhaxtha, e não a mim.

Dhaxtha abaixou a cabeça por um momento. Sabia que nada faria sua avó lhe dizer a verdade se ela não quisesse, mas podia obter uma parte de sua resposta de outra forma, se soubesse como fazê-lo.

- Ele deveria ter me contado isso, não temos segredos um para o outro.

Dhyreean abraçou o neto que tinha o olhar triste. Sabia o quanto ele ansiava conhecer seu outro pai, que apenas conhecia por histórias contadas por Dxmaell, antes dele dormir. Sabia que o menino apenas a estava enganando, tentando obter de outra forma a resposta a sua pergunta, seu neto era um ótimo estrategista tanto quanto os pais. E além do mais não custava a ela confirmar o que o menino já sabia.

- Seu pai também foi pego de surpresa querido, ele não deseja outro parceiro tanto quanto você não deseja outro Kthapan.

- Eu não quero outro Kthapan vovó.

- Eu sei querido, converse com seu pai, está bem?

Dhaxtha balançou a cabeça concordando. Ele sorriu quando Dhyreean bagunçou seus cabelos, e a abraçou com carinho, sendo retribuído esta. Ela afastou-se ligeiramente, olhando-o nos olhos que lembravam o humano.

- E não volte a tentar me enganar ouviu mocinho? Isso funciona apenas com seu pai.

- Jamais poderia enganá-la vovó. Eu vou para casa esperar o papai, ele dever sair mais cedo ao descobrir que eu deixei a escola antes do horário.

- Tenho certeza que sim.

Dhaxtha despediu-se de Dhyreean e começou a caminhar em direção a sua casa, que ficava à poucos metros acima de onde moravam os avós. Dhyreean observou o neto partir em silêncio. Sabia muito bem que Dhaxtha não ficaria quieto enquanto não pudesse impedir o ministério de escolher um parceiro para seu pai, apesar de jovem, seu neto possuía um gênio tão ou ainda mais forte que o de Dxmaell. Sendo que as atitudes de seu neto eram regidas pelo seu coração jovem e inocente. Diferente do filho que costumava usar a razão e o dever para guiar seus passos. Assim, sabia que veria Dhaxtha de novo brevemente.

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Dhaxtha olhou para seu relógio pensativo. Sabia que há essa hora seu pai deveria estar com os ministros de Kdra ou em algum lugar do planeta verificando algum problema que sempre aparecia. Neste caso ele demoraria um pouco para retornar para casa, uma vez que ele não alteraria a agenda, à menos que acontecesse algo muito grave. Sendo assim, isso lhe daria tempo de pegar um transporte e ir até a área das naves ver Arphiansus III e verificar a viabilidade do plano que começava a se formar em sua mente. Sorriu e começou a correr em direção à sua casa para trocar de roupa e pegar algum alimento sólido em vez de energia. Precisava ser rápido para o caso de seu pai resolver quebrar a agenda e ir para casa descobrir porque saíra antes de seu horário habitual, que era ao final da tarde.

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Em algum lugar da parte norte do planeta:

Dxmaell estava tentando descobrir a razão de seu filho, haver solicitado uma permissão para deixar a escola antes de seu horário; uma vez que ele nunca fizera isso antes. A primeira coisa que fez ao receber a notificação de sua saída antecipada, foi a de entrar em contato com a diretora e perguntar se o filho estava bem, se não estava se queixando de dor ou passando mal por algum motivo. Sabia muito bem como o filho era orgulhoso, e jamais admitiria sentir dor, mesmo que ela o estivesse destrinchando por dentro. No entanto a diretora o tranqüilizara parcialmente ao dizer que Dhaxtha parecia gozar de perfeita saúde. Então sua mente voltava ao ponto, do porque dele ter pedido para sair mais cedo. Infelizmente não podia ir atrás do filho no momento, estava no meio de uma reunião com alguns kdarianos que solicitaram sua presença em uma comemoração.

Seria indelicado de sua parte sair antes de terminado o tempo previsto, ainda mais quando tinha um outro compromisso logo em seguida com um grupo de Arianos na face oeste do planeta. Olhou para Aleng, que o encarava com uma expressão curiosa. Deu-lhe um meio sorriso procurando prestar atenção nas palavras que um Kdariano de cabelos negros falava entusiasticamente sobre a sua pessoa e regência.

Aleng olhou para o amigo que parecia pronto a ter um ataque de ansiedade. Dxmaell olhava a cada meio kx para seu relógio, como se assim pudesse fazê-lo correr mais rapidamente, o que não era muito comum à personalidade do amigo, embora ela houvesse mudado drasticamente com o nascimento de Dhaxtha. Estava curioso para saber o que havia acontecido. Certamente era algo envolvendo seu pequeno e incontrolável, mas adorável Sthorikhoa 4. Dhaxtha tinha tanta energia e inteligência quanto era genioso. Não sabia como Dxmaell conseguia agüentar o filho. As poucas vezes que tomara conta dele, por algum compromisso mais sério de Dxmaell quase enlouquecêra. Dhaxtha era capaz de enlouquecer qualquer um, não apenas por suas idéias, a maioria delas brilhantes, como também pela sua capacidade de vencer pela insistência e capacidade de argumentação.

Ele seria um excelente ministro, se não tivesse verdadeira paixão pela arte militar o que ia contra a vontade de Dxmaell que não desejava que o filho seguisse seus passos e se tornasse um guerreiro. Embora a seu ver se não fosse por isso, Dxmaell jamais teria conhecido Heero e tido Dhaxtha. Aleng sentiu seu coração comprimir-se ao lembrar-se da Terra e de Trowa. Lamentava o fato de que não poderiam nunca mais se ver. Os últimos momentos junto ao humano eram o que o mantinham aquecido durante as noites solitárias. Se fechasse seus olhos podia sentir suas mãos deslizando em seu corpo e os lábios quentes e macios sobre os seus.

Suspirou tristemente, tocando os fios que haviam crescido nos últimos dois anos, ficava imaginando se o humano ainda lembrava-se dele ou se havia seguido com sua vida. Por diversas vezes pensara em fazer isso com a sua. Encontrar uma ariana ou kdariana que pudesse fazê-lo esquecer do calor do corpo de Trowa, mas sempre que a idéia começava a se formar em sua mente. Sentia-se incapaz de concretizá-la. Sabia que a possibilidade de voltarem a se encontrar e que o humano ainda nutrisse por ele o mesmo sentimento, eram remotas. Ainda assim não podia impedir-se de apegar-se a ela. Dxmaell havia prometido a Heero que voltaria para buscá-lo e sabia que ele cumpriria com sua palavra, e quem sabe não podia ir com ele e ver novamente o humano ou convencê-lo a vir com ele para Nova Kdra?

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Algumas horas depois – Aproximadamente 19 horas horário Kdariano:

Dxmaell andava de um lado para o outro apreensivo. Dhaxtha não estava em casa e ninguém sabia onde ele havia se metido. Tentara localizar a energia do filho, mas não conseguira achá-la em nenhuma parte. Sua mãe lhe dissera que Dhaxtha havia ido até ela, perguntar sobre a decisão dos ministros quanto à escolha de um novo parceiro. Não podia imaginar como seu filho, houvera descoberto isso e nem queria imaginar o que se passara em seu coração. Temia que ele fizesse algo estúpido, uma vez que tinha verdadeira adoração por seu segundo pai. Olhou para o relógio, preocupado, já faziam quase 9 k que ninguém o via, sabia que ninguém seria capaz de fazer mal a seu pequeno Dhaxtha, ainda assim não podia impedir-se de se preocupar quanto a seu paradeiro. Estava a ponto de contatar Aleng e Tzen para ajudá-lo a procurá-lo, quando sentiu sua energia se aproximando.

Correu para a entrada da casa, sentindo a direção de onde vinha sua energia, assim que o avistou caminhando pela rua correu até ele, ajoelhando-se e procurando por algum tipo de ferimento e verificando se o mesmo estava bem. Dhaxtha deixou que seu pai o examinasse. Não pretendia demorar-se tanto, e sabia que o mesmo deveria estar preocupado. Podia sentir que ele se controlava para não brigar com ele, mais preocupado em verificar se estava bem. Assim que a inspeção terminou seus olhares encontraram-se e Dhaxtha viu que seu pai, procurava não chorar. Ele fungou abraçando-o e chorando em seu ombro, pela preocupação que lhe causara.

- Desculpa papai.

Dxmaell abraçou o filho que chorava em seu ombro, permitindo-se chorar com ele, acariciou suas costas procurando confortá-lo, sentindo todo seu aborrecimento evaporar-se completamente. Diante do choro do filho. Aguardou que ele se acalmasse, antes de afastá-lo e indagar a onde ele estivera durante todo o dia.

- Dhaxtha... onde você esteve? Eu estava tão preocupado com você, filho. Porque fez isso? E se tivesse lhe acontecido alguma coisa? O que eu faria sem você?

Dhaxtha nunca vira seu pai tão preocupado antes, sentia-se culpado por causar-lhe tanta aflição. Ele procurou enxugar o rosto, antes de responder, ficara tão entretido com o que fazia que acabara se esquecendo de pensar em uma desculpa pela sua demora.

- Eu...eu...

Dxmaell sorriu antes de interrompê-lo, fazendo Dhaxtha levantar a cabeça que havia abaixado sem perceber.

- Tudo bem, vamos para casa e você me conta onde esteve até essa hora.

Dxmaell passou a mão pelos cabelos acalmando-se. Dhaxtha estava bem, era o que importava agora. Descobrir seu paradeiro, já não parecia tão importante, embora não fosse deixá-lo escapar sem uma boa explicação. Nunca em toda a sua vida como guerreiro, sentira tamanho medo e aflição, como nas poucas horas em que desconhecia o paradeiro de seu filho. Sentia-se ligeiramente tentado a dar-lhe um corretivo, por isso, mas nunca levantara a mão contra Dhaxtha. Sempre acreditara que um bom diálogo era o suficiente para resolverem qualquer situação e não pretendia mudar agora. Pegou o filho no colo, o sentindo protestar rapidamente e tentar descer de seus braços, fazendo-o apenas apertá-lo ainda mais contra si sorrindo ao ouví-lo reclamar.

- Eu posso andar papai.

- Eu sei, mas o senhor vai recusar uma carona.?

Dxmaell começou a encher o rosto do filho de beijos, sorrindo ao ouvir o filho rir diante do ataque de beijos.

- Hahahahahahah...não.

Dxmaell ficou sério e olhou nos olhos do filho, segurando-o com apenas um dos braços e tocando-lhe a face com carinho apesar do olhar frio.

- Nunca mais faça isso novamente. Você é muito importante para mim querido, você é uma parte de Heero e eu não poderia continuar a viver sem vocês dois.

- Eu prometo papai.

O olhar de Dxmaell mudou tornando-se mais caloroso, fazendo Dhaxtha sorrir e agarrar-se ao pescoço do pai, beijando-o e franzindo o rosto ao ouvir a palavra banho.

- Ótimo. Que tal um banho? Você tá fedendo.

Dhaxtha balançou a cabeça fazendo seu pai rir e começar a correr, enquanto dizia que ele não escaparia do banho. O menino olhou para o céu estrelado de Kdra e sorriu, diante de seus pensamentos. Mesmo tendo demorado além do previsto havia valido a pena. Havia conseguido fazer o que queria e seu pai não descobriria nada. Pelo menos não tão cedo.

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Algum tempo depois:

Dxmaell olhava desconfiado para o filho, sentado na cama. Dhaxtha havia protelado a conversa até depois do jantar e agora a explicação que dera quanto a seu sumiço não o convencera, apesar de ter uma certa lógica. Ainda assim ele iria verificar. Não acreditava que o filho estivesse mentindo, mas também não poderia descartar a hipótese de que ele não estivesse lhe contando tudo. Não seria a primeira vez que isso aconteceria, ainda se lembrava muito bem do dia em que Dhaxtha simplesmente saíra na companhia de seu pai e omitira a parte de que haviam ido visitar a escola militar.

Por hora aceitaria a explicação de que ele havia se esquecido do tempo, ao ir visitar o museu de história e guerra, a fim de saber mais sobre o planeta de Heero. Conhecia a adoração que o filho nutria pelo planeta azul. E no museu havia um relato detalhado de todos os planetas, invadidos por Kdra, informações quanto a localização, atmosfera, habitantes, cultura, armamento, tudo o que se poderia desejar saber se encontrava exposto lá. Através de imagens holográficas, réplicas e até mesmo amostras de pedras, plantas e insetos. Podia-se conhecer toda uma galáxia, seus planetas e habitantes. Mas no momento o fato de Dhaxtha ter ido sem avisar poderia ser esquecido, uma vez que precisava iniciar uma outra conversa que não seria tão fácil ou agradável, uma vez que podia prever a reação de seu filho. Dhaxtha olhou para o pai, que o encarava. Estava aguardando que ele iniciasse a conversa sobre a escolha de um parceiro, uma vez que a tensão era visível em seus olhos, mesmo assim não parecia que ele iria falar alguma. No entanto sentia-se angustiado e precisava ter a certeza de que seu pai jamais teria outro parceiro, e por fim decidira iniciar a conversa e saber quando ele faria alguma coisa para buscar seu Kthapan.

- Papai quando conhecerei meu Kthapan?

Dxmaell olhou para o filho surpreso, era a primeira vez que Dhaxtha perguntava diretamente quando conheceria Heero. Havia contado ao filho tudo sobre o humano. Como era fisicamente, sua personalidade, sua força, inteligência e coragem. Ensinara a língua de Heero, o que o filho aprendera perfeitamente. Contara como haviam se conhecido, e quando se descobriram apaixonados, um pelo outro e as circunstância de seu nascimento. Dhaxtha parecia ter aceitado o fato de que Heero, não podia estar com eles, no entanto havia notado que nos últimos tempos ele vinha demonstrando um interesse maior por Heero e parecia ansiar tê-lo por perto e não sabia o que responder no momento.

Dhaxtha olhou para o pai, que se encontrava perdido em pensamentos. Sabia que seu pai amava seu Kthapan. Apesar de jovem podia notar a mudança que ocorria em sua voz e nos olhos de seu pai cada vez que falava no humano. Aprendera a admirar o seu Kthapan, por tudo pelo que passara e que ainda assim havia sido capaz de se apaixonar pelo seu pai. O principal responsável pela invasão de seu mundo. Evitava indagar ao pai acêrca de quando veria Heero, pois sabia que o fato de não estarem juntos o entristecia. Mas estava cansado de esperar, ainda mais agora que descobrira que os ministros de Kdra queriam que seu pai se unisse a outro parceiro. E decididamente não desejava nenhum outro parceiro, para seu pai além de Heero.

- Papai?

Dxmaell piscou e voltou seu olhar para o filho, procurando sorrir, mesmo sabendo que não o enganaria. Dhaxtha o conhecia melhor do que ninguém. Ele era capaz de avaliar suas emoções, mesmo quando mantinha o olhar frio, seu filho sabia avaliar sua reações e antecipá-las muita das vezes. Ainda assim não queria mostrar-se vulnerável a seus olhos, embora soubesse que seria impossível fazê-lo; ainda mais tratando-se de Heero.

- O que foi Dhaxtha?

- Porque você ainda não foi buscar meu Kthapan?

- Dhaxtha é uma longa história...

- Você não gosta mais dele?

- Não! Eu amo Heero, mais do que tudo.

Dxmaell sentou-se rapidamente na cama do filho abraçando-o e beijando os fios levemente desordenados, outra característica herdada de Heero.

- Ele me deu você querido, mas é que eu não encontro tempo para ir buscá-lo.

- Peça ao vovô ou a um dos meus Akhorithons 5

- Não querido, eu mesmo quero ir buscá-lo

- Porquê? Eu não entendo. Ele estaria aqui conosco independente de quem fosse buscá-lo

Dxmaell sorriu diante do olhar confuso e irritado do filho. Sabia que poderia pedir a eles que fossem em seu lugar e buscassem Heero. Mas a verdade era que ele mesmo gostaria de ir buscá-lo, e ver mais uma vez o planeta azul, onde encontrara a felicidade. Além do que devia isso a Heero isso.

- Algumas coisas, você somente entenderá, quando for mais velho.

- Não quero esperar para poder entender.

Dxmaell podia sentir a irritação de Dhaxtha aumentar, e simplesmente o deixou extravasar seu descontentamento, sentindo a energia do filho aumentar e chocar-se com a sua de forma agressiva.

- O senhor sempre diz que devemos lutar pelo que queremos. Que não devemos desistir de nossos sonhos. Se você deseja a presença dele, você deveria ir buscá-lo como prometeu.

- Dhaxtha...

Dhaxtha tentou afastar-se do pai expandindo sua energia. Dxmaell segurou firmemente o corpo do filho, procurando não soltá-lo apesar da energia dele estar sobrepujando a sua. Ele fechou os olhos diante da dor que começava a percorrer o seu corpo, e da voz alterada de Dhaxtha exigindo a presença de Heero com eles.

- Eu quero o meu Kthapan. Eu o quero aqui conosco.

Dxmaell abriu os olhos tristemente, não estava preparado para isso. Dhaxtha nunca havia sido tão desobediente ou birrento como agora. Geralmente ele conseguia contornar o assunto, mas podia sentir e ver claramente nos olhos do filho que ele não se satisfaria com uma resposta que não fosse a de que iria buscar Heero naquele mesmo instante. Estava a ponto de tentar convencer o filho a conversarem, pela manhã, mas quando parou ao ouvir as palavras seguintes.

- Não quero um Kthapan escolhido pelos ministros.

Dhaxtha mordeu os lábios assim que terminou de falar, fazendo sua energia baixar para alivio de Dxmaell que não sabia se poderia continuar a barrar a energia descontrolada do filho. Dhaxtha notou pelo olhar do pai que ele não estava disposto a discutir o assunto no momento. E ele mesmo já havia mudado de opinião quanto a indagá-lo sobre isso. Mas acabara perdendo o controle e deixara que seu coração falasse.

- Como soube disso Dhaxtha?

Dhaxtha se manteve em silêncio, mas ao olhar para o pai sabia que ele aguardaria uma resposta sua. Seu olhar antes triste, doce e compreensivo, agora era frio e não admitia contestação ou mentiras. Foram raras às vezes que seu pai o repreendera por suas atitudes. Quanto a castigá-lo por seus atos. Ele nunca lhe aplicara algum castigo, além de reprimendas. Sabia que seu pai não conseguia repreendê-lo severamente, e as vezes se aproveitava disso para convencê-lo a fazer algo que desejava; embora soubesse que seu pai tinha plena ciência de que era manipulado. Dxmaell afastou-se do filho, aguardando uma resposta a sua pergunta. Dhaxtha sentiu-se repentinamente culpado, mesmo não tendo culpa por ter descoberto quanto ao assunto. Ele desviou os olhos do pai, mas pôde ouvir um leve resmungo, e sabia que ele não esperaria por uma resposta durante muito tempo. Seu pai não gostava que mentissem ou escondessem algo dele. Sendo assim acabara contando como descobrira.

- Anythilhian... ela me deu os parabéns hoje na escola.

Dxmaell franziu o cenho levemente, procurando lembrar-se do nome que não lhe era estranho.

- Anythilhian? A filha do ministro Trephetly?

Dhaxtha balançou a cabeça. A colega de classe não havia feito por mal sabia disso. Ela dissera que ouvira escondido seu pai conversar com outro ministro a decisão que haviam tomado, e fora parabelizá-lo, por achar que já sabia. Aliado ao fato de que ela sempre o perturbava, em busca de sua atenção, mesmo quando a ignorava como sempre fazia. Dxmaell podia notar o receio do filho, quanto à decisão dos ministros, sentou-se novamente na cama e puxou Dhaxtha para seus braços, abraçando-o antes de tranqüilizá-lo.

- Acha que eu colocaria alguém no lugar de Heero?

Dhaxtha balançou a cabeça negando, e abraçou o pai. Conhecia-o bem para saber que jamais faria algo contra sua vontade, mas também conhecia as leis e sabia que elas exigiam que seu governante tivesse um companheiro ou companheira a menos que fosse viúvo o que não era o caso. Pelas leis, a casa de Klaryos deveria crescer a cada dois anos e já era época disso ocorrer. Dxmaell sabia o que se passava na mente do filho. Dhaxtha conhecia as leis de Kdra melhor do que ninguém. Sabia que sua casa deveria crescer e isso somente seria possível com um companheiro, e se até a próxima estação não houvesse escolhido um, os ministros ficariam encarregados de escolherem um em seu lugar.

- Não se preocupe, eu darei um jeito. Eu prometi a Heero que voltaria para buscá-lo, e pretendo cumprir com minha palavra.

- Quando?

Dxmaell sorriu e beijou o filho antes de colocá-lo na cama e cobri-lo; afastando a franja de seu rosto, notando-lhe o cansaço e que ele já se encontrava meio sonolento; uma vez que já havia se passado o horário dele descansar. E que havia gastado muito de sua energia, a expandindo quando irritado.

- Breve.

- Breve ... uuuuahhhhhh... quando papai?

Dhaxtha bocejou e fechou os olhos, ajeitando-se na cama e adormecendo em poucos segundos, sem que ouvisse a resposta à sua pergunta. Observou o filho durante algum tempo, erguendo seus olhos para o teto observando as estrelas através da parede de energia transparente, que fazia o papel de cobertura do teto.

"O que devo fazer? Não posso deixar minhas obrigações para ir buscá-lo..., não agora. Mas durante quanto tempo você ficará me aguardando?"

Dxmaell beijou a cabeça do filho e caminhou em direção ao seu aposento, tomaria uma decisão pela manhã. Não iria protelar mais, devia isso a Heero e a Dhaxtha.

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Um mês depois:

Dxmaell havia dado um jeito de ir, até casa de sua mãe. Dhaxtha parecera-lhe estranho pela manhã quando fôra para a escola. Não que ele houvesse agido de forma diferente. Na verdade agira como todos dias. Reclamara por ter que deixar a cama, tomara banho contra a vontade, sentara-se emburrado para tomar sua refeição matutina, e pedira permissão para ingressar na escola militar. Nada diferente, mas algo em seu olhar parecia avisá-lo de que aprontaria alguma coisa. E que a conversa ocorrida há um mês atrás não havia sido esquecida. Havia decidido ir buscar Heero, e estava pronto para simplesmente sumir por algumas horas, quando um assunto diplomático o fez ficar. Uma raça alienígena, solicitara um encontro comercial e não pudera negar, haviam fechado um acordo quanto à construção de um porto espacial em órbita de Kdra. E as negociações haviam terminado a pouco mais de um dia, sendo um acordo vantajoso para ambas as raças.

No entanto os alienígenas ainda não haviam partido e não poderia simplesmente ir até á Terra, e em dois dias seria a estação de Liphian e tinha que escolher um parceiro ou deixar que o ministério fizesse isso. Dhyreean olhou para o filho que parecia preocupado, ela sorriu servindo-lhe um pouco de chá. Já esperava vê-lo ali, e sabia que o assunto deveria ter algo a ver com a escolha de um novo parceiro. Ela sentou-se e aguardou que iniciasse a conversa o que não demorou a acontecer.

- Mãe há alguma forma de eu não ter que escolher um parceiro até a estação de Liphian?

Dhyreean pensou durante algum tempo. Não era uma resposta fácil de se responder, uma vez que envolvia muitas coisas. Como governante, Dxmaell não poderia se opor a obedecer nenhuma das leis de Kdra, ainda mais quando elas figuravam a milhares de anos, ainda assim elas não eram totalmente fechadas que não dessem brechas que se permitisse contorná-las. Ainda assim não via nenhuma forma de ajudar o filho, todas as alternativas viáveis não seriam melhores que a atual situação em que Dxmaell se encontrava.

- Sinto muito querido, as leis de Kdra são bem claras. Quanto a você ter que aumentar a casa de Klaryos, uma vez que é o governante de Kdra. Embora...

- Embora?

Dxmaell sentiu suas esperanças fluírem repentinamente, para logo em seguida desaparecerem ao ouví-la dizer o único modo de não ser obrigado a escolher alguém até a próxima estação.

- Dhaxtha poderia se valer do direito de exigir que você permaneça intocável

- Mas isso...

- Infelizmente sim. Nunca mais você poderia deixar que alguém o tocasse intimamente, nem mesmo Heero.

Dxmaell levantou-se procurando pensar, era uma solução, embora fosse tão cruel quanto ter que escolher um parceiro, a simples idéia de nunca mais sentir as mãos de Heero o tocando era lhe pior que a morte. Ele voltou seu olhar para mãe, visivelmente preocupado. Seu filho conhecia as leis de Kdra melhor que ninguém, mas seria ele capaz de se valer dela para impedir que alguém ocupasse o lugar de seu Kthapan?

- Acha que Dhaxtha faria isso?

- Você o conhece melhor que qualquer um. Ele é seu filho querido, você deve ser capaz de prever seus atos, melhor do que ele mesmo

Dxmaell levou a mão ao queixo pensando. Sabia que Dhaxtha jamais aceitaria que alguém para ser seu parceiro, na opinião de seu filho ninguém além de Heero era bom o suficiente para ser seu Kthapan ou para tocá-lo. Como sua mãe dissera, o conhecia bem o suficiente para saber, que ele se valeria de qualquer coisa para intervir na escolha de um parceiro para si, mesmo que isso o condenasse ao isolamento eterno. Sentou-se pesaroso ao admitir tal fato, mesmo não condenando o filho se o mesmo chegasse a tanto.

- Ele faria isso e eu não poderia impedi-lo. É direito dele negar um parceiro para mim, se não o achar digno de me tomar como companheiro.

- Ele também pode se valer do direito de escolher um novo parceiro. Acha que ele o faria?

Dxmaell não chegou a pensar nessa possibilidade. Dhaxtha jamais aceitaria lhe escolher um parceiro, mesmo que como filho ele pudesse fazê-lo se desejasse, e o ministério aceitaria seu direito de escolha sem contestá-lo. Uma vez que apesar da idade, ele possuía inteligência e bom senso para realizar tal escolha.

- Não, Dhaxtha não aceitara ninguém além de Heero, mamãe.

- Então neste caso...

- É eu sei.

Dxmaell levantou-se, beijando o rosto de sua mãe deixando-a sozinha. Dhyreean observou o filho partir, sentindo um aperto em seu coração. Ela gostaria de fazer alguma coisa para ajudá-lo, mas no momento apenas Dhaxtha ou ele mesmo poderiam fazer algo para remediar a situação. No entanto ela sabia que as atitudes que mudariam o rumo das coisas, não partiria de seu filho e sim de seu neto com quem já havia conversado pela manhã.

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Área de treinamento das naves:

Um menino de cabelos castanhos claros, ligeiramente desordenados e olhos de um azul intenso caminhava decidido por entre as naves que encontravam-se no chão. Alguns kdarianos e arianos estranharam a presença da criança em uma área onde não deveria haver crianças. No entanto, assim que a identificaram simplesmente curvavam ligeiramente a cabeça em sinal de respeito, devido a posição de seu pai. Ele procurou pela pessoa que deveria estar ali, e localizou sua energia, seguindo diretamente para ela, ignorando os cumprimentos por onde passava.

- Vovô.

Uowans levantou a cabeça surpreso, assim que ouviu a voz do neto. Ele não deveria estar ali, numa área tão perigosa. Dispensou o soldado com quem falava, voltando sua atenção à pequena figura que encarava-o impaciente.

- O que faz aqui Dhaxtha? Você deveria estar na escola agora.

Dhaxtha ignorou a pergunta. Não havia ido ali para isso. Tinha coisas mais importantes a tratar. Além do mais não sentiriam sua falta na escola.

- Porque papai não vai buscar meu Kthapan?

Uowans olhou para o neto que o encarava com uma expressão muito parecida com a do filho e do humano. Ele sinalizou para que o menino se aproximasse e se sentasse ao seu lado. Dhyreean já o havia alertado quanto às últimas atitudes do neto e sobre os fatos que aconteceriam mediante isso.

- Seu pai anda muito ocupado. Não é que ele não queria buscar seu Kthapan, mas é que ele não pode ausentar-se no momento.

- Mas ele não pode demorar. Os ministros vão escolher outro companheiro se ele não apresentar um até a próxima estação. E faltam apenas dois dias, para iniciar-se a estação de Liphian. E as leis dizem que ele deve unir-se a um companheiro até lá, porque nossa casa tem que crescer.

- Não se preocupe Dhaxtha. Tenho certeza que Dxmaell tem tudo sobre controle

- Diga que ele não aceitará outro parceiro vovô

- Não... Dxmaell jamais se uniria a alguém que não fosse Heero.

Dhaxtha ficou em silêncio por algum tempo, pensando nas palavras de seu avô. Ele olhou para o outro lado da base, onde ficava guardada a nave que seu pai projetara. Sua voz soou ligeiramente triste, embora sua mente estivesse povoada por outros pensamentos e planos.

- Eu gostaria de conhecer a Terra... papai sempre diz que é muito bonita.

- Sim é um planeta muito bonito Dhaxtha, e tenho certeza de que seu pai o levará lá algum dia. Agora acho melhor voltar para a escola, antes que seu pai descubra que saiu da e veio até aqui.

- Está bem vovô.

Dhaxtha levantou-se e acenou para o avô. Não voltaria para a escola ainda, tinha muitas coisas para fazer antes de voltar. Seu pai sempre lhe ensinara a lutar pelo que queria e iria fazer isso.

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Uma hora e meia depois – Escola Militar :

- Akhorithons Aleng

Aleng desviou os olhos da tela, assim que viu a figura de Dhaxtha. Gesticulou para que o Sthorikhoa viesse até ele e se sentasse na cadeira a sua frente. Estranhou o fato dele vestir uma roupa da batalha kdariana, e estar ali, a essa hora, quando deveria estar na escola civil, uma vez que Dxmaell o proibira de freqüentar a escola militar. Ele sorriu ao vê-lo caminhar em sua direção, e sentar-se na cadeira indicada, sentia-se honrado por Dxmaell tê-lo escolhido juntamente com Tzen para serem os Akhorithons de Dhaxtha no caso de sua morte. Ainda assim o pequeno dava bastante trabalho a eles quando queria.

- Olá Dhaxtha. O que faz aqui? não deveria estar na escola?

- Ela continuará lá quando eu voltar, além do que eu deixei alguém no meu lugar. Não sentirão minha falta tão cedo.

Aleng deu um meio sorriso, apesar da resposta curta e fria de seu Sthorikhoa. Já podia imaginar o que ele havia feito para estar ali, e deveria culpar unicamente Tzen por tê-lo ensinado a criar um Darkradr 6

- Você deixou um Darkradr no seu lugar, não foi? Sabia que era uma péssima idéia Tzen tê-lo ensinado a fazer isso. Você nunca foi de matar aula, então por quê?...

- O senhor sabe como chegar à Terra?

Aleng olhou para Dhaxtha, sem entender a pergunta. Dxmaell havia contado a ele e Tzen há alguns dias que Dhaxtha havia insistido com ele para ir a Terra buscar Heero, devido a decisão tomada pelos ministros. E o amigo até havia se decidido a ir buscá-lo convidando-os a acompanhá-lo o que fora frustrado pela chegada dos Orphinusthaliubs, uma raça estranha, mas pacífica. Ele deu um sorriso triste ao lembrar-se disso, sim sabia como chegar a Terra, podia até mesmo alcançá-la de olhos fechados se quisesse. Jamais esquecera do planeta azul ou de seus habitantes. Ainda assim não conseguia entender onde Dhaxtha queria chegar.

- Porque quer saber Dhaxtha?

Sem fraquejar Dhaxtha respondeu-lhe, já havia planejado tudo quanto era necessário e não mudaria de idéia mesmo que não obtivesse o apoio de seus Akhorithons.

- Eu pretendo buscar meu Kthapan.

Aleng olhou surpreso para Dhaxtha, isso era incrível até mesmo para o menino. Não que duvidasse que ele o fizesse, mas não achava que Dxmaell soubesse da decisão do filho ou que a aprovasse.

- Seu pai não vai gostar disso... imagino que não contou a ele?

- Não, mas não pretendo esperar que encontrem alguém para ser o parceiro de meu pai. Não aceitarei ninguém além de Heero.

Aleng deu um meio sorriso diante do tom de determinação na voz de Dhaxtha. O pequeno estava a cada dia mais parecido com os pais, e isso significava que seu amigo teria muito mais problemas do que os que já tinha quando Dhaxtha crescesse. Aleng recostou-se na cadeira, fechando a tela, que mostrava seu plano de aula para a nova turma de alunos que ingressariam na escola em alguns meses.

- Ok, mas como pretende ir buscá-lo, sem que seu pai descubra? Sabe muito bem que ele pode sentir sua energia, em qualquer parte de Kdra e um Darkradr não vai enganá-lo.

- Não espero que engane. Papai é inteligente demais para isso, mas eu já tenho uma justificava para explicar minha ausência. Além do que papai, vai estar mais preocupado com outra coisa, para notar que eu deixei Nova Kdra . Eu estudei os sistemas de Arphiansus III, e sou capaz de pilotá-la perfeitamente sozinho.

- Vai roubar a nave de seu pai?

- Vou pegar emprestado

Aleng sorriu diante do tom indignado de Dhaxtha. Eles poderiam muito pegar outra nave, que não fosse Arphiansus III.

- Pretende mesmo levar a nave de seu pai!

- Ela é a mais rápida de toda Kdra, seria tolice pegar outra que não fosse ela.

- Vamos arrumar problemas com isso.

Aleng coçou a cabeça, Dxmaell tinha verdadeiro ciúme de Arphiansus III. Ele a planejara unicamente para usá-la para ir à Terra buscar Heero, e tinha certeza de que Dxmaell o esganaria, e à Dhaxtha por pegar a nave. Isso se conseguisse realmente pegá-la. Mesmo que Dhaxtha conhecesse os sistemas da nave, que nada tinha a ver com a Arphiansus original. Ela era protegida, por um código de segurança pessoal de Dxmaell, que o mesmo, dizia ser impossível de ser quebrado. E mesmo que tentassem fazê-lo isso levaria algum tempo, fora o fato de que Dxmaell seria alertado da tentativa.

- Eu estou disposto a fazer o que for necessário Akhorithons Aleng.

- Ainda assim você deve saber, que Arphiansus III possui um código de segurança.

- Não se preocupe, eu já quebrei o código de Arphiansus III, e coloquei um particular. Papai não descobrirá, a menos que contemos a ele, e quando ele ver meu Kthapan mal se lembrará de nos castigar por pegar Arphiansus III.

Aleng passou a mão pelos cabelos presos num rabo de cavalo, num gesto nervoso. Dhaxtha ao que parecia havia pensado em tudo e não seria demovido da idéia tão facilmente. Ele olhou para o menino, vendo determinação e impaciência em seus olhos.

- E quando pretende partir?

- Agora.

Aleng sorriu e levantou-se, o menino era realmente filho de quem era. Determinado, corajoso e inteligente, o único problema era que ele estava se tornando incontrolável. Trazer Heero talvez fosse realmente o ideal, não apenas por Dxmaell, mas também para controlar Dhaxtha. Em sua opinião Dxmaell estava se tornando maleável demais na educação de Dhaxtha, e talvez o humano tivesse mais pulso para lidar com o filho do que o amigo.

- Está bem. Eu vou procurar Tzen, acho que ele gostaria de nos acompanhar.

Dhaxtha suspirou aliviado e balançou a cabeça em acordo. Ele ainda tinha um outro assunto a tratar antes de partirem e precisava ser rápido para encontrar todos reunidos ainda.

- Nos encontraremos aqui em 4k.

- Está bem Dhaxtha

- Obrigado Akhorithons Aleng.

- De nada, mas se seu pai nos pegar, eu direi que foi idéia sua.

Dhaxtha sorriu finalmente, aparentando realmente a idade que tinha. Levantou-se caminhando em direção à porta, voltando-se apenas pararesponder pretensiosamente arrancando uma risada de Aleng.

- Papai não descobrira até que tenhamos voltado. Não se preocupe.

Aleng viu Dhaxtha sair e contatou Tzen, explicando-lhe por alto o que fariam. O amigo sorriu e confirmou o encontro para o horário combinado. Eles apenas torciam para que tudo desse certo.

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Dhaxtha deixou o instituto encontrando-se com Dhyreean que o aguardava no transporte terrestre, ele sorriu para a avó que meneou a cabeça. Pelo olhar do neto sabia que tudo corria de acordo com seus planos, ela acionou o veículo, para levá-lo até sua próxima parada que era os salões onde ficava o ministério. Em pouco menos de 10 kr, já se encontravam caminhando pelos átrios do ministério. Ambos sabiam que Dxmaell encontrava-se com os ministros, conversando sobre a escolha de seu parceiro, uma vez que ele deveria informar aos mesmos sua decisão no horário atual, a fim de que eles lhe escolhessem um, caso ele não lhes apresentasse um nome. Dhyreean sorriu para o neto vendo-o caminhar decidido até os portões do salão, solicitando ser recebido.

O guarda olhou para o filho do governante, notando que ele vestia a vestimenta completa de batalha kdariana. Um macacão colante azul escuro e inteiriço. A armadura de liga metálica, tonalidade do uniforme, sendo apenas dois tons abaixo do original. A liga estava revestindo os pulsos, os ombros, o peito e a cintura, deixando o rosto e os cabelos a mostra. O olhar do menino era tão frio e dominante quanto o do governante e acabou por permitir a passagem dele, mesmo não sendo aguardado.

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Dentro do salão:

Dxmaell havia acabado de informar, que não aceitaria um parceiro, uma vez que Heero ainda era vivo e considerava-o seu parceiro, mesmo que não estivesse presente, para a contrariedade dos ministros. Estava pronto a expor seu ponto de vista, e notificá-los que o traria para Kdra, quando sentiu a energia de Dhaxtha pouco antes dos portões se abrirem, fazendo-o voltar sua atenção para o portão. Assim que o viu seu olhar escureceu, ao notar como estava vestido, não sabia como ele havia adquirido o uniforme, mas certamente o repreenderia por vestí-lo contra sua vontade, e quando não estavam em guerra.

Dhaxtha procurou não tremer e sustentou o olhar, assim que seus olhos encontraram o de seu pai. Podia notar seu desagrado pela sua roupa, sabia o quanto ele era contra seu ingresso na escola militar ou tudo que envolvesse a instituição. Não fôra difícil, conseguir o uniforme com o diretor da escola, dizendo que seria um meio de convencer o pai a dar-lhe permissão para mudar de escola. Ignorando a presença do pai dirigiu-se aos ministros que se levantaram em respeito ao menino, embora surpresos por sua presença. Sem demora Dhaxtha comunicou o motivo de sua vinda, procurando soar de maneira firme e fria como seu pai o fazia quando tomava uma decisão importante e sem volta.

- Eu me valho do direito de escolher o parceiro de meu pai. E apresentá-lo até o final da tarde do inicio da estação de Liphian.

Dxmaell olhou para o filho sem acreditar. Dhaxtha não podia estar realmente fazendo isso, não imaginava o que se passava na cabeça dele, mas nunca pensaria que ele iria se valer desse direito. Havia imaginado que exigisse sua intocabilidade, mas jamais que lhe escolheria um parceiro. Os ministros olharam para o menino, e depois para o governante que parecia tão ou ainda mais surpreso que eles. Um deles tentou argumentar, a respeito da decisão tomada pelo menino, apesar de ser do direito dele fazê-lo.

- Meu jovem, a escolha de um parceiro não é algo que deva ser feito levianamente ou de forma abrupta.

Dhaxtha estreitou os olhos, mas não deixou-se abater pelo homem de cabelos brancos.

- É meu direito opinar na escolha daquele, que se unirá a meu pai e seu governante. Levianamente ou não. Você deve conhecer a lei e deve aceitá-la... gostando ou não.

O ministro olhou para o menino de palavras ferinas, fechando as mãos em punho pela audácia dele em dirigir-se a ele daquele modo. Conhecia as leis e não precisava que um menino de dois anos o insultasse dessa forma, sendo filho do governante ou não. Dxmaell levantou-se e foi até o filho ajoelhando-se na frente dele.

- Dhaxtha, porque você está fazendo isso?

- É meu direito como filho. Se Heero não pode ser meu Kthapan, eu tenho o direito de escolher aquele que ocupará seu lugar.

Dhaxtha afastou-se do pai e voltou seu olhar para o ministério. Trephetly levantou-se, dirigindo-se ao filho de seu governante.

- É o que deseja Dhaxtha?

- Sim.

Trephetly meneou a cabeça em acordo. Dhaxtha voltou seu olhar para os outros ministros, vendo um por um menear a cabeça em acordo. Ele curvou-se ligeiramente, voltando sua atenção ao pai, que ainda o encarava sem reação.

- Eu vou procurar um parceiro digno do senhor papai. Nos veremos amanhã, ao final da tarde em seu casamento.

Dhaxtha virou-se e caminhou para deixar os salões, ouvindo os ministros começarem a comentar com seu pai acêrca de sua decisão. No entanto Dxmaell não ouvia nenhuma das palavras dirigidas a ele. Sua atenção se encontrava voltada para o filho que deixava o salão, sem nem ao menos olhar para trás.

Continua...

Eu disse que não ia demorar, não falei?

Agradecimentos a Dhanda pela revisão.

A Mami pela ajuda e idéias.

A Tia Daphne também pelas sugestões e opiniões.

A Sis Lien pelas idéias, sugestões e opiniões.

A Dee pelo incentivo.

E a todos que comentaram.

E aguardo comentários. Sem comentários a ultima parte não vem (até aparece).

1 Quando um Kdariano realiza o Cyarpks com um outro do mesmo sexo e uma criança nasce dessa relação. O Kdariano que concebeu a criança é chamado de pai ou mãe dependendo do sexo e o parceiro recebe o nome de Kthapan.

2 Na sociedade kdariana, quando um governante assume a regência do planeta, e ele já realizou o ritual de Caykradus e deu a luz a uma criança. Por obrigação a cada dois anos ele deve realizar novamente o Cyarpks e aumentar sua casa de forma que a linhagem permaneça. Quando o governante não é casado, ele deve tomar outro por parceiro, e se isso não ocorrer até o inicio da estação de Liphian o Conselho ou ministros eleitos pelo governante, podem indicar alguém como o parceiro do atual governante. Salvo no caso dele ser viúvo, daí ele está livre das leis da estação de Liphian. Mas quando o governante em si, já possuiu uma criança, ela pode escolher o parceiro de seu genitor ou exigir que o mesmo se mantenha intocável se não encontrar alguém digno para se tornar o parceiro de seu genitor. Se ele exigir que seu genitor se mantenha intocável, enquanto viver ele não poderá deixar que ninguém o toque intimamente, correndo o risco de morte se ousar quebrar a lei.

3 O horário das escolas kdarianas são das 07:00 ás 17:00 hs (cruzes dez horas direto na escola). Onde eles aprendem de tudo, ciência, biologia, línguas, defesa entre outros.

4 Sthorikhoa, digamos que seja o mesmo que afilhado.

5 Akhorithons na sociedade kdariana, um pai pode designar um outro kdariano para assumir a responsabilidade de cuidar de seu filho no caso de sua morte.

6 Darkradr seria uma espécie de clone, criado a partir da energia de seu original. Sendo que sua duração e perfeição dependem da distância em que se encontra o original e de sua energia. Quanto mais perto se encontrar o original e mais forte ele for, mais parecido e perfeito ele será. Sendo que um suplanta a outra, se o original não tiver uma energia forte, mas se encontrar bem perto o Darkradr será perfeito ou vice-versa.