Um estouro e um tranco foi o suficiente para fazer o homem atrás do volante perceber que aquele carro já era caso perdido. No entanto, ele ainda insistiu em tentar fazê-lo andar. E com mais um estouro e um tranco, finalmente o veículo morreu, ganhando como recompensa uma série de apelidos nada lisonjeiros.

-Porcaria de máquina velha. – Harry resmungou, saindo do carro e batendo a porta atrás de si, podendo ouvir claramente a voz de Dallas em sua cabeça "Você tem dinheiro, por que ainda não trocou essa porcaria?" E a resposta era simples: não se joga fora algo que você considera de estimação. Ainda mais Harry, que nunca teve muitas coisas durante parte de sua vida. Como prova dessa mania de manter os objetos, ele ainda tinha até hoje a sua Firebolt guardada dentro de um dos armários da sua casa. Claro que ela não tem o mesmo glamour e a velocidade de antigamente, mas voa que é uma beleza. Sem contar que aquela estúpida máquina velha foi o primeiro carro dele, o único que ele usava, – embora a família tivesse outro mais novo pois Dallas se recusava a andar naquela sucata – e se fosse ver por um outro lado, ele ainda estava em boa forma, embora insistisse em parar no meio de uma rua pouco movimentada de Londres no cair da tarde.

-Eu realmente deveria ouvir a minha mulher e jogar você fora. – disse enquanto abria o capô dele. O carro deu uma sacudidela em protesto, como todo bom carro com uma mistura trouxa e mágica faria, enquanto seu motor soltava fumaça do rosto do dono. –Hunf, mas quando foi que eu ouvi a Dally mesmo… - deu de ombros, sacudindo a mão em frente ao rosto para espantar a nuvem de fumaça. Assim que essa se dissipou, enfiou-se dentro do capô, observando o motor que estava dando uns estalos suspeitos.

-Quer ajuda meu jovem? – uma voz grossa o chamou e Harry levantou-se bruscamente, batendo com o topo da cabeça no capô do carro.

-Ai! – resmungou, esfregando a cabeça e virando-se para ver quem tinha falado. Era um homem baixo, gordo, de cabelos grisalhos, bigode e com uma expressão séria. Poderia entrar ano e sair ano, mas Harry sempre se lembraria daquelas feições. Como é que ele deu o azar de dar de cara com o seu tio no meio de Londres? –Não, obrigado, eu me viro. – respondeu rapidamente, escondendo o seu rosto dentro do carro. Sentiu quando o homem aproximou-se dele, parando ao lado do capô e olhando para dentro do motor.

-É um carro velho que você tem aqui. Como se arrisca a andar nessa banheira?

-Minha mulher diz a mesma coisa. Agora se o senhor não se importa, creio que eu posso resolver isso. – tentou arrumar uma maneira evasiva de se livrar do homem, pois percebera que esse não o reconhecera.

-Deixe de bobagens garoto, eu entendo de carros, talvez eu possa lhe ajudar. – Harry quase deu uma gargalhada sarcástica. Era impressionante como Valter Dursley conseguia ter mais simpatia com um estranho do que com integrantes de sua própria família. Não! Pensou convicto, não fazia parte da família dele. Nem parentes consangüíneos, graças ao bom Deus, eles eram.

-Realmente senhor… - ele saiu debaixo do capô, mirando diretamente o homem nos olhos. -… eu dispenso. – disse firmemente e viu com um certo prazer o seu tio arregalar os olhos, depois de alguns minutos, em reconhecimento.

-Potter! – sibilou e Harry rolou os olhos. Primeiro era Dallas que recebia a visita de sua avó, agora era ele que reencontrava o tio. Ambos não estavam com muita sorte nesses últimos dias.

-Eu mesmo. – retrucou, fechando o capô com força, fazendo o carro tremer.

-Então… você está vivo. – Valter acompanhou o rapaz, que deu meia volta no carro em direção à porta do motorista.

-Da última vez que eu chequei… sim.

-Interessante. – murmurou, calando-se por alguns instantes e Harry teve a sensação de que alguma coisa estava errada.

-O quê? – perguntou, virando-se para ele depois de recolher o seu celular no painel do carro.

-Tentamos te localizar a dois anos, mas parece que achar você não é uma tarefa fácil.

-Me localizar? Quem quer me localizar? O que vocês poderiam querer comigo? – disse, estreitando os olhos de maneira desconfiada. –Porque eu duvido muito que vocês sentiram saudades de mim.

-Sua tia, Petúnia, ela queria falar com você. Ela… - o homem hesitou um pouco, como se estivesse travando um debate interno.

-Eu não tenho a noite toda. – Harry resmungou, não gostando daquela hesitação.

-Ela está muito doente. – disse o homem por fim. Tudo o que o moreno fez foi erguer uma sobrancelha enquanto levava o celular à orelha.

-E eu com isso? – falou de maneira indiferente e viu o rosto de Valter ganhar a tradicional cor avermelhada e inchar, como na época em que o homem ficava furioso com ele.

-Como você pode ser tão insensível? – berrou o homem, atraindo a atenção de algumas pessoas que passavam na calçada.

-Talvez tenha sido a convivência com a sua família. O que você esperava que eu fizesse? Começasse a chorar porque a minha adorada tia está doente? Faça-me o favor. – deu as costas para ele, mas Valter segurou no ombro do rapaz, o fazendo virar-se para encará-lo.

-Você é um ingrato moleque. Nós te criamos, te alimentamos e te demos um teto durante anos…

-Sinceramente… eu preferia viver no mais precário orfanato a ter vivido com vocês. Não espere compaixão da minha parte quando tudo o que a sua família fez foi me tratar como lixo. Quanto a sra. Dursley… não é mais problema meu. Ao que me diz respeito, não tenho família pela parte dos meus pais.

-Oras seu… - o homem rosnou de raiva diante da arrogância daquele garoto. Ele era um ingrato, mas mesmo assim Petúnia ainda queria vê-lo, apenas não entendia o porquê, e agora que o tinha encontrado, mesmo que por acaso, não perderia essa chance. –Certo… - sussurrou, passando a mão pelos cabelos grisalhos. -… certo. Você está certo, não lhe tratamos tão bem assim nos anos em que você viveu conosco, mas isso já faz muito tempo. Não acha que é hora de esquecer? Colocar uma pedra no passado? – Harry sorriu maliciosamente para o homem, sacudindo a cabeça de um lado para o outro.

-Aprenda uma coisa sr. Dursley, elefantes e bruxos nunca esquecem, de nada.

-A decisão é sua. Sua tia gostaria de vê-lo. O endereço é o mesmo. Eu lavo as minhas mãos. – declarou, afastando-se dele e entrando em seu carro, sumindo do lugar segundos depois. Harry ainda ficou observando o carro do tio sumir na esquina, e só voltou ao mundo terreno quando uma voz soou do outro lado da linha em seu celular.

-Harry?! Você está aí? Harry? – Rony chamou.

-Só ligando para avisar que eu vou me atrasar para o plantão.

-O carro morreu de novo? – atestou o ruivo, sendo mais uma afirmação do que uma pergunta.

-Entre outras coisas. – respondeu o moreno, soltando um suspiro e desligando o aparelho, recostando-se ao carro. O que Petúnia iria querer com ele? Era o que estava martelando em sua mente agora.


O despertador fez um barulho estridente, soando por todo o dormitório. Debaixo das cobertas, um olho violeta se abriu, reconhecendo os seus arredores enquanto o objeto ainda fazia o barulho irritante. Um murmúrio foi-se ouvido, um flash de luz cruzou o local e o som de algo quebrando cessou o barulho, enquanto resmungos eram pronunciados aqui e acolá. Remexeu-se sob as cobertas, espreguiçando-se languidamente. Outros meninos já começavam a se levantar para poderem se preparar para as aulas. Mas ele, como sempre, não estava muito disposto a acordar. Por isso virou-se na cama e escondeu o rosto por debaixo das cobertas vermelhas, abafando o som que vinha das outras pessoas no dormitório. Estava quase voltando ao mundo dos sonhos quando alguém segurou em suas cobertas e a puxou com força, o derrubando da cama.

-Mas que… - Day ergueu a cabeça, mirando com os olhos sonolentos o engraçadinho que ousou acordá-lo.

-Levanta preguiçoso, isso daqui não é acampamento de verão. – Evan retrucou, já vestido e com o distintivo de monitor brilhando nas vestes, jogando as cobertas de volta a cama.

-Quem te deu o direito de entrar assim no dormitório do quarto ano? – Day murmurou, esfregando os olhos com uma mão e coçando a cabeça com a outra, fazendo as mechas negras e rebeldes pelo sono ficarem mais desorganizadas que antes.

-Isso me dá o direito. – o rapaz mais velho apontou para o distintivo, como se esse fosse o passe livre para todos os lugares do mundo. –E o fato de que você vai se atrasar para a primeira aula. – terminou e virou-se, saindo apressado do quarto. Resmungando, Day levantou-se do chão e caminhou até o seu malão, recolhendo as suas roupas e indo em direção ao banheiro para ver se conseguia terminar de acordar.

Meia hora depois, com os olhos ainda ardendo de sono, Day saiu da torre da Grifinória, caminhando a passos lentos em direção ao salão principal. Não prestava atenção por onde ia porque, se prestasse, perceberia que estava vindo alguém na direção oposta e que estava prestes a esbarrar nele. Só percebeu que tinha mais alguém no corredor quando o seu corpo chocou-se contra outro maior e aparentando ser mais forte.

-Maxwell! – o seu nome do meio, sendo sibilado daquela maneira, o fez reconhecer de imediato em quem ele tinha esbarrado.

-Yatcheslav! – disse entre dentes, erguendo a cabeça para mirar o jovem a sua frente. Segurou com mais firmeza a alça de sua mochila e iria dar a volta para poder partir, quando sentiu uma mão segurar o seu braço.

-Não tão rápido Potter. – Alexei puxou o jovem de volta e ouviu com uma certa surpresa Day grunhir em irritação. Isso estava ficando interessante.

-O que você quer? – rebateu o moreno, os olhos exóticos estreitando a cada minuto.

-Você anda fugindo de mim Max? Parece o diabo fugindo da cruz.

-Acontece que eu acho que eu estou longe de ser um demônio, ao contrário de certas pessoas…

-Linguajar afiado? O que a sua mãe lhe deu nesse verão? Você voltou mais esquentadinho… o que no fim te deixa ainda mais sexy.

-O quê? – o jovem arregalou os olhos e corou intensamente. Sexy? Não que ele fosse feio, mas ninguém havia lhe dito até hoje que era sexy. Não com esse olhar como se fosse comê-lo com os olhos, e isso o estava deixando nervoso.

-Sexy… quer que eu soletre? – Alexei murmurou, aproximando-se do jovem e com um puxão o trazendo para mais perto ainda e colando seus lábios nos dele. Como previsto, Day ficou tenso e arregalou os olhos, não se movendo sob o beijo do rapaz. Depois de segundos dentro desse estado de choque, o garoto finalmente reagiu e empurrou Alexei com força para longe de seu corpo.

-Você está pensando que eu sou o quê? Para começo de conversa, eu não sou gay! – gritou para o russo, respirando pesadamente e com as faces rubras, mas o sonserino pareceu não se abalar muito com o ataque de fúria dele.

-Eu não perguntei a sua sexualidade. O que me interessa é única e exclusivamente você, nada mais.

-Pois saiba que isso você não vai ter, porque você não me interessa em nada. – rebateu furioso e o rapaz mais velho deu um passo à frente, o que fez o grifinório recuar um passo.

-Pois saiba você que eu sempre consigo o que eu quero. – Alexei estava começando a perder um pouco da sua paciência e arrogância. Day poderia ficar uma graça quando estava irritado, mas a teimosia dele estava aos picos e isso o estava cansando. Por que o garoto não admitia logo que também estava a fim? Ele poderia sentir isso emanando de cada poro do jovem, cada vez que chegava perto dele. Mas o grifinório ainda estava tão preso a conceitos moralistas arcaicos que não conseguia se soltar e deixar tudo rolar.

-E você acha mesmo que eu iria me deixar levar por um… - o garoto pausou, o sangue lhe subindo a cabeça. Não entendia o porquê, mas Alexei mexia com algo dentro dele, algo estranho e que o deixava incomodado e que o fazia reagir sempre na defensiva, o levando a dizer coisas que ele realmente não tinha a intenção de dizer. -… idiota. – Alexei apenas ergueu uma sobrancelha, não muito abalado com a ofensa, e deu um sorriso escarninho.

-Isso é tudo o que você pode conseguir? – ele provocou, dando um passo largo e segurando novamente Day pelo braço, o clamando em outro beijo. Dessa vez Day teve uma reação mais forte e empurrou Alexei com força, o socando no rosto.

-Tire as suas mãos imundas de Comensal de mim. – berrou mas rapidamente arrependeu-se do que tinha dito, alargando os olhos violetas e cobrindo a boca com ambas as mãos. Relacionar a família Yatcheslav por um erro que o sr. Ian, avô de Alexei, cometeu no passado ao seguir o Lord das Trevas não era uma coisa muita sábia de se fazer. Eles eram sempre sensíveis em relação a esse assunto.

-Como é? – o russo sibilou. Agora sim ele tinha perdido a paciência. Não importava o quanto ele gostasse de Day, ele tinha limites. –Escute aqui seu moleque mimado… - segurou o grifinório pela gola de suas vestes com uma certa violência. -… só porque você é o filho do todo maravilhoso Harry Potter… - quase cuspiu o nome. -… isso não lhe dá o direito de me ofender.

-Você começou quando me beijou! E me solta. – o empurrou novamente, mas o sonserino não deixou barato, segurando com mais força a gola das vestes dele o empurrou contra a parede. Day esperou o impacto da pedra contra o seu corpo vir, mas esse nunca foi sentido. Ao invés disso, ele começou a cair através da parede, levando Alexei consigo, fazendo ambos rolarem por uma descida escura, empoeirada e úmida.

Depois de uns quatro minutos de descida, finalmente eles alcançaram um lugar aparentemente plano, sentindo seus corpos doloridos por causa da queda. Tentando se soltar de Alexei, Day deu um salto para trás e caiu sentado no chão, soltando um gemido. O russo endireitou-se o máximo que pode, sentando-se no chão empoeirado e percebendo que com certeza ganharia uns outros hematomas, além do soco do grifinório, por causa da queda.

-Onde estamos? – murmurou o garoto mais novo, levando um susto quando archotes começaram a se acender e iluminarem a sala.

-Em uma sala. – declarou Alexei, levantando-se e batendo a poeira de suas vestes. Day fez o mesmo, começando a percorrer a sala. Ela era enorme, e havia uma grande mesa redonda no centro dela, fora às outras mesas pequenas onde havia várias coisas em cima delas. Estantes adornavam a sala, quadros, bandeiras e outras coisas. Mas, o mais interessante era quê: ela parecia conservada para uma sala que aparentemente estava escondida e em desuso. Ou seja, poderia haver teia de aranhas e alguma poeira nela – o que normalmente acontecia dentro de um castelo de mais de mil anos -, mas parecia que ainda recebia as suas visitas ocasionais.

-Olha só. – Alexei chamou de um canto, aparentemente a briga de antes já esquecida, e jogou algo para ele. Com os seus reflexos rápidos, Day pegou o objeto no ar, o revirando em suas mãos e olhando as inscrições dele com curiosidade.

-Ordem da Fênix, Agente B-2 Dallas Winford. – leu o pequeno distintivo, achando familiar aquele nome. Não o Dallas, é claro, pois esse era o nome da sua mãe. Mas Dallas existiam aos montes no mundo. O que o intrigava era o Winford. Já tinha ouvido esse nome em algum lugar. Onde, ele não lembrava. Guardou o objeto no bolso, quando viu Alexei jogar outro para ele.

-Esse tem o nome do seu pai. – declarou, enquanto voltava a sua inspeção.

-Ordem da Fênix, Agente A-1 Harry Potter. O que você acha que é esse lugar? – perguntou para o garoto do outro lado da sala, que iria abrir a boca para responder se não tivesse sido interrompido por uma voz rouca e ameaçadora.

-Um lugar onde vocês não deveriam estar. – ambos os jovens viraram-se para uma porta que havia surgido do nada na parede, e para um Snape parado nela com uma cara de nenhum amigo.

-Professor Snape… - Alexei iria dizer quando o mestre de poções o interrompeu novamente.

-Os dois… na minha sala… agora. – retrucou com uma expressão azeda e começou a caminhar, não parando para ver se os dois garotos o seguiam ou não.


O som de algo se partindo alcançou os ouvidos dos três homens assim que eles se aproximaram da sala de poções. Quase soltando fumaça pelas orelhas, Snape caminhou até a sua sala, apenas para torcer o nariz em uma careta extremamente feia.

-Srta. Densetsu! – rosnou, entrando na sala rapidamente e retirando o frasco das mãos da jovem. Os olhos dourados viraram-se em direção a ele, surpresos pela súbita interrupção.

-Severo! – disse a jovem oriental com um grande sorriso inocente no rosto e Severo grunhiu. A última aprendiz de poções que ele teve estagiando em Hogwarts foi Dallas, e embora Maya fosse tão brilhante quanto a sua ex-aluna, lhe faltava uma coisa que Dallas tinha de sobra: cuidado. Com certeza quando esse curso de extensão terminasse, ele estaria com metade de seu laboratório desfalcado por causa da desastrada garota.

-O que você está fazendo aqui? – bradou, pegando a jovem pelo braço e a arrastando para fora da sala.

-Estava apenas arrumando os frascos que os alunos deixaram para trás e…

-Não precisa arrumar nada, eu faço isso.

-Mas Sevie…

-Não me chame de Sevie! – a empurrou sala afora. –Cai fora furacão.

-Mas o que eu vou fazer então nesse meio tempo? – resmungou, fazendo beicinho e cruzando os braços sob o peito. Snape abriu um sorriso maldoso, pensando em algo que o livraria por umas boas horas da garota.

-Soube que Black tem o primeiro tempo livre e… - Severo nem terminou de falar e pode ver as vestes da jovem sumirem na curva do corredor. Soltou um pequeno suspiro e depois se virou com um olhar duro para os dois garotos fora da sala. –Entrem. – ordenou, caminhando até a sua mesa e sentando-se em seu lugar de costume. –Sentem-se.

Alexei e Day fizeram o que lhes foram ordenado, sentando-se em frente ao professor. Severo os olhou de cima abaixo, reparando tanto no lábio ferido de Alexei quanto no hematoma na bochecha de Day. Soltou um longo suspiro. Grifinórios e Sonserinos, um dia eles ainda iriam se matar.

-Expliquem-se. – comandou e os dois jovens se entreolharam.

-Explicar… o quê? – Day perguntou nervoso, torcendo a barra de suas vestes entre os dedos. Certo que para os outros alunos Snape parecia o diabo encarnado, mas para ele o professor ainda era o mesmo "tio Sev" de quando ele era criança. Seu querido padrinho. Turrão, mas no fundo… bem no fundo mesmo… com um coração mole.

-O que diabos vocês dois estavam fazendo dentro daquela sala? Aquela sala é proibida para alunos. – Snape disse em um sibilo autoritário e arrepios correram pelas espinhas dos dois garotos.

-Foi um acidente professor. Potter atravessou a parede de repente e me levou junto. – o homem resmungou algo sob a respiração. Maldita hora em que a Ordem resolveu colocar uma entrada ambulante para a sua sala de reuniões. Sem um lugar fixo para ficar a entrada, seria mais difícil o inimigo achar o lugar se Hogwarts fosse atacada. Mas isso era no passado, hoje a sala poderia ter a entrada fixa, em um local onde alunos distraídos não pudessem achar.

-E como foi que o Potter atravessou a parede, levando o senhor junto?

-Er… nós… - Day tentou se explicar, mas o olhar negro de Snape estava perpassando por eles, como se quisesse ler as suas mentes, o que poderia realmente estar ocorrendo.

-Deixe-me ver se adivinho. – o homem ergueu-se de sua cadeira e começou a perambular na frente deles, os braços cruzados nas costas. –Vocês brigaram, e no meio da briga acabaram se chocando com a parede e entraram em uma área proibida… estou certo?

-Bem… - Alexei começou, mas Snape não o deixou terminar.

-Estou certo? – disse, afirmando mais do que perguntando.

-Sim senhor. – responderam ambos os garotos.

-"timo. Vinte pontos a menos para a Grifinória pela briga, quinze por entrar em área proibida e um semestre inteiro de detenção.

-O senhor não pode… - Day ergueu-se da cadeira para começar a protestar, mas foi calado com um olhar de Snape.

-Não posso o que senhor Potter? – perguntou o homem de maneira azeda. Day poderia ser seu afilhado, mas isso não significava que ele seria suave com o menino. O mundo já tinha virado de cabeça para baixo no dia em que ele aceitou ser padrinho de um Potter, e ele não iria ceder mais do que já cedeu.

-Nada senhor. – o garoto deixou-se cair novamente na cadeira, abaixando a cabeça e escondendo os olhos com a franja. Alexei observou a expressão cabisbaixa do menino e sentiu um bolo entalar em sua garganta. Era tudo sua culpa. Primeiro ele deveria fazer uma abordagem mais suave ao garoto, pois com certeza ele ainda era inexperiente. Segundo que ele não deveria ter perdido a paciência tão facilmente. Soltou um suspiro e passou uma mão pelos cabelos. Deus, ele tinha quase batido em Day. No que ele estava pensando?

-O mesmo vale para você sr. Yatcheslav. – declarou Snape com uma voz contida, com certeza não gostando nenhum pouco de fazer isso com um aluno seu. –A detenção de ambos começa amanhã. Espero vê-los na minha sala depois do jantar, estamos entendidos?

-Sim senhor. – responderam juntos novamente.

-Dispensados. – rapidamente os dois se levantaram, saindo as pressas da sala. Assim que alcançaram o corredor, Alexei virou-se para o grifinório.

-Max…

-Não fale comigo. – retrucou em uma voz baixa. –Cada vez que você chega perto de mim… você… por que você me faz sentir assim? Faz idéia de como você está arruinando a minha vida? – quase gritou, mirando grandes e brilhantes olhos violetas no russo, que teve a impressão de que ele iria chorar a qualquer momento. –Eu te odeio. – disse em um sussurro. –Eu. Te. Odeio! – murmurou, com as mãos fechadas em um punho e virando-se rapidamente, correndo para se afastar dele e sumindo em uma esquina do corredor.


Sirius rodou a sua varinha na ponta de seus dedos, criando feixes coloridos que cruzaram o ar. Início de ano letivo nunca se tinha muita coisa para fazer, e como geralmente as suas aulas eram práticas, ele ficava sem muitas composições para corrigir. Na verdade, ele detestava passar dever de casa. Se quando era estudante odiava fazê-los, como professor odiava corrigi-los. E era por isso que estava na lista dos professores preferidos de Hogwarts, depois de Hagrid. Ninguém superava o meio-gigante na questão de favoritismo entre os alunos. Afinal, qualquer um conseguia passar em TDCM.

O estrondo de portas batendo fez Sirius dar um pulo na cadeira e olhar assustado para a entrada de sua sala, por onde uma tempestade parecia estar passando. Quando o visitante parou em frente a sua mesa, o moreno se corrigiu. Não era uma tempestade, era o armagedon que tinha entrado.

-Densetsu…

-Me chame de Den.

-Eu poderia te chamar de doida? O que você quer?

-Ah, eu vim te fazer uma visita, não posso? – a garota disse displicente e, com um salto, sentou-se em cima da mesa de Sirius, cruzando suas pernas longas e claras, muito mal cobertas pela saia curta que usava. O homem rolou os olhos diante de seu tormento. Desde o dia em que ela entrou nessa escola, a jovem parecia ter grudado nele que nem chiclete velho. O pior é que ela era o desastre em pessoa. Pois sempre que Sirius estava perto dela, algo ruim acontecia, e era totalmente humilhante um maroto ser derrotado por 1.68m de pura bola de energia. Será que todas as traquinagens que ele fez na infância estavam voltando para ele como karma, na forma dessa garota?

-Você está sentada em cima do meu livro sobre criaturas das trevas do Windo Lupperburn.

-Verdade? Eu não estou ouvindo ele reclamar.

-O que você realmente quer aqui menina? Me aporrinhar?

-Para começo de conversa… eu não sou menina! Eu tenho vinte cinco anos…

-Jura? Se não me dissesse eu iria jurar que… você tinha cinco.

-Hunf! Eu só vim aqui conversar, pois eu sei que você não tem nada para fazer até o segundo tempo. Por que você não gosta de mim?

-Devo listar as coisas que você já me fez passar? A começar por aquele banho de pus de bubotúbera que você me deu no dia em que nos conhecemos? E você só tinha onze anos naquela época. Ou naquela vez em que você derramou veritasserum dentro do meu suco. Eu fiquei falando a verdade por uma semana… UMA SEMANA! Quer coisa mais humilhante do que isso? Há coisas que um homem não deve contar nem sob tortura, e você me fez falar a verdade por todo esse tempo.

-Foi um acidente.

-ACIDENTE? Melhor você sair daqui antes que eu cause um acidente e suma com o seu corpo. Afinal, você não é mais a minha aluna. – disse com um sorriso maldoso.

-Isso é uma ameaça Black? – a jovem estreitou seus olhos dourados, olhando de modo desafiador para o ex-auror na sua frente.

-Pode apostar que sim.

-Hum… - murmurou, sentindo um arrepio passar pelo seu corpo. -… ameace de novo, pois você fica uma graça todo mal desse jeito. E isso me excita.

-Você é maluca!

-Qual é… eu nunca vi um homem que não gostasse de uma mulher com iniciativa.

-Eu gosto… mas acredite, não quando a iniciativa parte de você. – disse dando de ombros e a morena soltou um resmungo, inclinando-se um pouco na mesa e expondo a vista do homem o seu decote.

-Me engana que eu gosto… se quiser também me pegue, me jogue na parede… e eu serei a sua escrava para sempre.

-Olha só… - Sirius virou-se para ela, inclinando-se também na cadeira, seus rostos perigosamente próximos. -… você é bonitinha e tudo mais… – sussurrou e Den sentiu um outro arrepio passar pelo seu corpo. -… mas sinceramente não faz muito o meu tipo.

-Por que não?

-Quando eu entro em um relacionamento, por mais… quente que ele seja, gosto da perspectiva de sair vivo dele.

-Eu posso ser estabanada às vezes… mas isso não quer dizer que eu vou matar você, não desse modo. – ela piscou, abrindo um grande sorriso malicioso.

-Hum… isso é uma promessa. – ele disse com uma voz rouca e Maya fechou os olhos, absorvendo a voz dele.

-Pode apostar nisso. – inclinou-se mais um pouco. Agora era a sua chance, um pouquinho mais e conseguiria tirar uma casquinha do professor mais sexy de Hogwarts. Porém, quando estava próxima o suficiente para sentir a respiração dele em seu rosto, seu cotovelo bateu em algo sobre a mesa e em um movimento brusco Sirius se afastou dela.

-Eu deveria saber. – resmungou o homem, olhando para as suas calças manchadas pela tinta que caiu sobre elas.

-Ah… eu sinto muito. Foi sem querer. – Den debruçou-se mais sobre a mesa, conjurando um lenço e começando a esfregar entre as pernas de Sirius.

-Densetsu… - o homem chamou com uma voz estrangulada.

-Olha, talvez álcool consiga tirar essa mancha. – continuou a esfregar o local, apenas espalhando mais tinta pelas coxas e cintura do homem. –Não, álcool mancharia mais.

-Densetsu… - Sirius chamou de novo, enquanto ela continuava alheia, esfregando com mais força o lenço no local molhado.

-Vinagre seria bom? – murmurou para si mesma, continuando a limpar.

-MAYA! – o homem gritou, arregalando os olhos quando viu que tinha alguém na porta da sala. Rapidamente a mulher afastou-se dele, com os olhos largos diante do grito. Olhou para a mancha e percebeu que ela parecia estar mais esticada sobre a calça. Rapidamente sumiu com o lenço quando notou o que havia feito.

-Espero não ter interrompido nada. – Hannah estava na porta da sala, mordendo a bochecha para não rir. –Acho melhor eu voltar mais tarde. – declarou e sumiu, com a sua gargalhada ecoando pelo corredor.

-Acho bom eu também… - Den apontou debilmente para a porta.

-Também acho. – em outro pulo a jovem estava no chão, se dirigindo para a saída. Quando estava alcançando a porta no entanto, ela parou e virou-se para o homem dentro da sala, dando um sorriso malicioso.

-Espero que tenha sido tão bom para você quanto foi para mim. – e sumiu antes que o livro que Sirius jogou a acertasse na cabeça.