Isso era loucura! Harry pensou pela enésima vez enquanto via a porta escura a sua frente, a porta que não via há anos. Ficou tentado a dar meia volta e ir embora dali, mas algo lhe prendia naquele local, algo muito irritante chamado consciência. Não importa o que acontecesse, não importa quantos anos passassem, ele ainda teria aquele complexo de heroísmo que sempre rende grandes gozações por parte de Draco.

-Okay, respire Harry… você não morreu quando lutou com o maior bruxo das trevas, não vai ser isso que vai te matar. – murmurou, olhando ao seu redor e percebendo que alguns vizinhos, os mesmos que havia quando ele ainda morava nessa rua, o olhavam com curiosidade. Afinal, ele estava parado ali por uns bons vinte minutos. –Toque logo essa porcaria e vamos acabar com isso. – disse para si mesmo, estendendo a mão de maneira convicta e tocando a campanhia. O som que ela fez quase o incitou a fugir dali, mas o barulho de passos vindos de dentro da casa o fez estacar no lugar.

-Sim? – uma menina de cabelos loiros, cacheados, com grandes olhos azuis e um pouco rechonchuda, abriu a porta.

-Er… eu estou… Petúnia Dursley mora aqui?

-Sim… quem é o senhor?

-O sobr… um velho conhecido.

-Entre, eu vou chamá-la. – Harry agradeceu com um aceno de cabeça e entrou na casa, que nada havia mudado com os anos. Talvez apenas algumas pequenas coisas, como as fotos em cima da lareira. Esperou alguns minutos, depois que a garota sumiu casa adentro, ainda considerando ir embora dali, quando o som de passos e vozes chamaram a sua atenção. Ainda parado no meio da sala, ele virou-se em direção a porta dela, onde a menina voltava acompanhada por mais duas mulheres.

Petúnia havia descido, acompanhada por sua cunhada que cuidava dela nesses dias de convalescença, assim que a sua neta veio lhe chamar dizendo que havia visita. Curiosa, ela entrou na sala e estacou na porta, assim como Guida, quando viu o homem que estava no meio da sala. Não era o menino magricela, de óculos, cabelos rebeldes e estranho que ela criou. Era um homem maduro, com uma postura firme e segura, de porte altivo e sério que estava lá. E, se não fosse pelos olhos verdes e a inconfundível cicatriz, ela nunca diria que estava na frente de Harry Potter.

-Sra. Dursley. – Harry deu um aceno de cabeça para ela, sua voz grossa ecoando em um tom suave pela sala.

-Harry… - a mulher, que parecia mais magra do que ele se lembrava, usando um lenço na cabeça, aproximou-se dele com um olhar chocado.

-Encontrei o seu marido outro dia na rua… ele me disse que a senhora queria falar comigo.

-Por favor… sente-se. – ofereceu suavemente e Harry divergiu o olhar dela a tia Guida, que parecia petrificada na porta da sala, e a menina com uma expressão curiosa em direção a ele. –Jasmine, querida, poderia fazer um chá para a gente? – perguntou a mulher e a garota deu um aceno positivo de cabeça, sumindo dentro da cozinha.

-Potter? – Guida balbuciou, ainda incrédula. Havia dito a sua cunhada que era uma idéia besta tentar achar o garoto, mas a mulher havia insistido. Disse que queria desculpar-se com o sobrinho, e ninguém queria contrariá-la depois de tudo pelo que ela passou.

-Sra. Guida. – disse com um outro aceno de cabeça e uma expressão impossível de se desvendar. –Sra. Dursley…

-O que aconteceu com o "tia Petúnia"? – a mulher perguntou diante de tanta formalidade.

-… por que a senhora me chamou aqui? – continuou, ignorando a pergunta dela. Não se sentia muito à vontade em chamá-la de tia. Esse era um hábito que ele havia perdido há muitos anos, e fazia questão de manter as coisas desse jeito.

-Eu queria rever o meu sobrinho, há algum problema nisso? – a mulher falou com um pequeno sorriso e percebeu que os ombros de Harry ficaram subitamente tensos. O homem havia vindo a sua casa com todas as defesas erguidas, com certeza achando que deveria ser uma armadilha. Não duvidava que ele deveria ter a sua varinha escondida em algum lugar dentro de suas roupas. Deus! Era horrível pensar nisso. O que ela tinha feito? Sua irmã havia lhe deixado um filho, confiando que esse seria bem cuidado, e o que ela fez foi apenas humilhá-lo. Mas ela não podia evitar. Certo que morria de ciúmes de Lílian, pois ela sempre fora a queridinha de seus pais, mas não podia esconder que era a sua queridinha também. A amava, do seu modo, e quando aquele tal de Tiago a levou embora, a levou para o perigo, a levou para a morte, ver aquele garoto na sua porta, tão parecido com o homem que tirou a vida de sua irmã, a fez ficar cega e odiar completamente qualquer coisa relacionada à magia. Não o culpava se ele parecia tão defensivo ao seu redor.

-Bem… - Harry abriu a boca para falar, mas o som do seu celular tocando o interrompeu completamente. –Er… com licença. – o homem pegou o aparelho, rapidamente o atendendo. –Sim?

-Harry! – a voz de Dallas soou do outro lado da linha. –Onde você está? – perguntou curiosa.

-Por quê?

-Falei com o seu escritório e eles disseram que você saiu mais cedo para resolver assuntos pessoais. Que assuntos são esses?

-Lembra-se do que conversamos ontem à noite?

-Sim…

-Pois são esses os assuntos. – Dallas calou-se por um momento.

-Ah… bem… boa sorte.

-Há algum motivo para você ter ligado?

-Sim! – a mulher parecia ter lembrado de súbito o motivo inicial para a ligação. –Recebi uma carta de Hogwarts hoje… uma carta de Severo…

-O que a Hannah fez dessa vez? – Harry suspirou. O ano letivo nem havia começado e Hannah já tinha aprontado alguma. Essa menina não tinha jeito.

-Hannah não… - a mulher pausou do outro lado da linha. –Day.

-Day?

-Parece que ele brigou com um colega e sem querer eles acabaram encontrando a velha sala da Ordem da Fênix. Você sabe como Snape é paranóico com aquela sala. Diz que tem muitas coisas perigosas lá dentro para um aluno ver, e essas coisas.

-Como é que é? Day arrumou uma briga? Com quem?

-Não sei… um garoto da Sonserina. Nossa, eu queria estar lá para ver isso. Você sabe que para Day perder a calma é preciso pisar muito forte em seus calos.

-Diferente de alguém que eu conheço.

-Engraçadinho. Bem, era só isso que eu queria dizer. Tchauzinho.

-Espera… Dallas! – mas ela já havia desligado. –Me desculpe. – Harry falou, enquanto guardava o telefone no bolso e notando que havia uma bandeja com chá e biscoitos em cima da mesa de centro, além do fato de que Guida não estava mais na sala.

-Algum problema? – perguntou Petúnia suavemente.

-Não… só… o habitual.

-Hannah é sua esposa? – disse a mulher, tomando um gole do seu chá.

-Não… Dallas… minha mulher se chama Dallas. – respondeu incerto, agora sabendo o que Dallas sentiu quando Amélia apareceu de repente na casa deles. A diferença é que ele estava preparado para esse encontro, ou ao menos ele achava que estava.

-Presumo que vocês se conheceram em… Hogwarts. – continuou a perguntar calmamente. Estava interessada na vida do sobrinho, claro, mas apenas porque queria saber como ele passou os últimos anos. Dessa vez era apenas preocupação.

-Foi. – Harry estava se sentindo um pouco incomodado com aquilo. Era estranho estar nessa sala, conversando com a sua tia como se os dezesseis anos iniciais de sua vida sob esse teto não tivessem sido um inferno.

-Estão casados a quanto tempo?

-Dezoito anos… escuta! – levantou-se de supetão. –Eu adoraria ficar aqui e contar toda a minha vida para a senhora, mas eu tenho que ir, coisas para fazer… entende. – e começou a caminhar em direção a porta de entrada, a abrindo bruscamente.

-Espera, Harry! Não há nenhum meio que eu possa entrar em contado com você? – pediu a mulher, desesperada por ver o homem partir tão cedo.

-Eu… - o moreno a olhou incerto, depois remexeu no bolso e estendeu um cartão a ela. -… tenho que ir. – disse e saiu da casa, fechando a porta suavemente atrás de si.


O professor não estava na sala e isso foi mais um motivo para Day bater com força a porta da masmorra depois que entrou, alertando Alexei de sua chegada.

-Alguém está de mau humor. – brincou o russo mas o moreno apenas soltou um grunhido em resposta.

-Cala a boca. – disse desgostoso, se sentado em uma carteira do lado oposto de onde o sonserino estava. Detenção. Só de pensar na palavra ele sentia um arrepio descendo a sua espinha. Nunca, em toda a sua vida escolar, ele ficou em detenção. Mas o pior não era o castigo, mas sim o sermão que recebeu de seus irmãos, e Hannah e ele terem que segurar Evan para esse não ir tirar satisfações com Alexei, o sujeito que ousou agredir o "frágil" Day Potter. Deus como ele odiava isso. Só porque era calmo, as pessoas o consideravam frágil… ou pior, idiota e indefeso. Ele já estava cansado dessa porcaria toda. Talvez fosse por causa desse rótulo que Yatcheslav achava que poderia fazer o que quisesse com ele. Mas ele estava enganado, muito enganado.

-Vejo que chegaram na hora. – Snape entrou no aposento de maneira habitual, farfalhando as suas vestes ao passar. –Pois bem, vamos logo ao que interessa. – remexeu a varinha e panos, baldes, luvas e escovas apareceram na frente dos dois jovens. –Não preciso dizer o que precisam fazer, certo?

-Não professor. – responderam os garotos em unisso.

-"timo. Comecem, volto daqui a duas horas para saber como estão as coisas. – declarou, saindo da mesma maneira que entrou.

Injuriado, Day catou o balde pela alça, cruzando a sala com o material deixado por Snape e escolhendo um canto para começar, bem longe de Alexei. Vendo que o rapaz não estava disposto a começar uma conversa tão cedo, o russo fez o mesmo e ambos começaram a trabalhar em silêncio, cada um em seu canto.

Uma hora depois de tentar retirar do chão uma mancha para lá de suspeita, o grifinório flexionou mais os joelhos, sentando-se sobre as pernas e esticando os braços acima da cabeça, estalando a coluna. Sentiu os braços começarem a protestar de dor diante da limpeza, e remexeu um pouco os ombros para aliviar a tensão, enfiando a mão no bolso das vestes e tirando de lá as duas insígnias que havia pegado na sala, observado a prata polida brilhar contra a luz, começando a se perder em pensamentos.

Alexei observou de seu canto o outro jovem parar e olhar com atenção alguma coisa em suas mãos. Em outros tempos, ele daria tudo para ficar algumas horas sozinho com Day, mas esse parecia estar deliberadamente o ignorando. E pelo fato de estar irritado com ele, não conseguia arrumar uma brecha para se aproximar sem enfurecer mais o garoto, pois esse parecia mais genioso a cada dia. Viu quando o grifinório ergueu o que tinha na mão a contra luz e notou, que eram os distintivos que ele tinha pegado na outra noite dentro da sala. Talvez aí estivesse a sua oportunidade.

-Gostaria de saber o que é aquela sala? – a voz do sonserino trouxe Day de volta de seus devaneios.

-O quê? – perguntou, guardando os distintivos dentro do bolso novamente.

-Eu perguntei se você gostaria de saber o que era aquela sala. O que ela tinha de tão importante para Snape ter tido um treco por termos a encontrado.

-Eu não quero saber. Só por termos encontrado o lugar por acidente ganhamos uma detenção por um semestre inteiro. Não quero nem saber o que pode acontecer se fizermos isso intencionalmente.

-Ah qual é… vai me dizer que você não está nem um pouco curioso? – os olhos âmbar estreitaram-se com malícia e o rapaz levantou-se, caminhando até o moreno e sentando-se ao lado dele, retirando as luvas de borracha de suas mãos.

-Não! – Day respondeu resoluto, virando o rosto para não encarar Alexei e catando a escova dentro do balde.

-Mentira… eu posso ver que você está curioso. – provocou o sonserino, cutucando a cintura do garoto com um dedo. Day bateu com a escova na mão dele, para afastar o toque, e recebeu o tradicional sorriso escarninho de Alexei como resposta.

-Se eu estiver… - o grifinório parou de esfregar a mancha que já estava ganhando a batalha contra ele e nunca sairia dali. -… mesmo curioso, isso não é da sua conta. E eu não vou arriscar a minha cabeça com o tio Seve… com o professor Snape por sua causa. Já me basta a confusão que você me arrumou.

-Confusão? Confusão? Você me ofende e depois se faz de vítima? – o moreno eriçou-se rapidamente. –Eu não conhecia esse seu lado manipulador Max.

-Se eu te ofendi… - Day jogou a escova bruscamente dentro do balde, fazendo gotas de água respingarem nos dois. -… eu sinto muito. Mas foi você quem começou! – e apontou um dedo enluvado bem no rosto de Alexei.

-Sinceramente, às vezes eu me pergunto o que eu vi em você garoto. Tu é muito mimado. – retrucou aborrecido e levantou-se bruscamente, caminhando para o outro canto da sala onde seu material estava, voltando a limpar. Day o observou encolher-se em seu canto e voltar a esfregar o chão, com um certo remorso corroendo o seu peito. Na verdade Alexei não tinha tanta culpa assim no cartório. O problema era ele. Ele era um idiota que não sabia reagir em situações como essas. Não era a toa que as pessoas pensavam que ele era feito de vidro, emocionalmente instável ou coisa assim. O seu único problema era que ele não sabia lidar com situações tipicamente adolescentes. Resumindo em miúdos, ele era tímido.

-Er… - começou com uma voz mínima. -… okay. – disse por fim e Alexei ergueu a cabeça, o mirando em confusão.

-Okay o quê?

-Eu quero saber o que tem naquela sala. Eu vou com você, desde que você me prometa… - nisso ele hesitou um pouco, desviando o seu olhar do rosto do rapaz ao longe para a mancha no chão que agora parecia ser interessantíssima. -… que não vai fazer nada. Que isso não é uma desculpa para você… você ficar fazendo o que você quer fazer…

-Ou seja, te jogar contra uma parede e te beijar loucamente? – respondeu displicente, ouvindo com prazer o garoto engasgar. Sorriu a isso, apostando que, mesmo que não pudesse ver o rosto dele, ele estava corando fortemente.

-Isso! – gritou com uma voz estrangulada.

-Okay. – Alexei respondeu, dando de ombros e voltando a esfregar. Minutos depois Day começou a fazer o mesmo, o rubor já sumindo e com um pequeno sorriso nos lábios.


Angela estava quase quebrando o lápis entre os seus dedos, enquanto a sua outra mão tamborilava em cima da mesa. Ao seu lado, Julia a observava em um divertimento silencioso, sabendo o que estava se passando na cabeça da ruiva. Ela estava frustrada. Mesmo com as saídas noturnas das duas, Angela Malfoy tinha perdido o seu brinquedinho favorito por algum tempo, e outros não conseguiam satisfazer a vontade dela de brincar.

-O que foi? – a mencionada virou-se para a garota, que saiu de seus devaneios sobre os novos significados da palavra brincar.

-O que foi o quê? – Julia piscou.

-Você está me olhando aí faz uns cinco minutos. Tem alguma coisa na minha cara? – perguntou em um tom irritado.

-Se está com tanta saudade assim, por que não vai visitá-lo?

-Visitar quem?

-Como visitar quem? O garoto Potter. Evan, é esse mesmo o nome dele?

-Eu já disse que ele está na escola.

-Mas você disse que a distância entre a escola daqui de Oxford é menor do que se você partisse de Londres. Por que não tira uma folga no próximo final de semana para vê-lo?

-Para ele achar que eu estou com saudades? Nem morta.

-Mas Angela, você está com saudades.

-Quem disse?

-Está escrito na sua cara.

-Então eu digo que você está vendo demais. E além do mais o Evan é apenas um garoto com quem eu estou ficando.

-Ficando por cinco meses? Eu já chamo isso de namoro.

-Eu chamo isso de ficar. Não é como se eu estivesse apaixonada por ele.

-E você não está?

-Amor… sentimento mundano, enfraquece as pessoas.

-Às vezes eu me pergunto de onde você tira esse sarcasmo e frieza toda, garota.

-Por quê? Meu avô me ensinou isso quando eu era pequena.

-Seu avô te ensinou isso? Quando eu era pequena meu avô me ensinou a andar de bicicleta. Qual é o problema do seu avô?

-Nenhum. Mas como ele sempre diz, um Malfoy não se rebaixa a um sentimento mundano como o amor.

-Mas os seus pais não se casaram por amor? – às vezes Julia não conseguia entender essa filosofia de vida da família de Angela.

-Sim…

-Então?

-Mas isso é diferente.

-Como pode ser diferente?

-O ponto aqui é que eu não estou com saudades do Evan, e muito menos o amo. Ele é apenas diversão.

-E você acha que ele irá achar divertido quando descobrir que está sendo usado como distração?

-Ele sabe que o que temos não é sério.

-Hum… relação aberta a de vocês não é? Não é a toa que você não se importa de ele estar preso em um colégio interno por meses, cercado de meninas. Ainda mais que você me disse que ele é o novo monitor chefe. Poder, isso sempre atrai as garotas.

Angela arregalou seus olhos cinzentos para a garota ao seu lado, ignorando o falatório da professora sobre direito civil, e depois de arregalar, estreitou os olhos como se estivesse absorvendo e analisando as palavras de Julia. Mal a sineta tocou indicando o final da aula, a jovem saiu às pressas da sala de aula, sob os gritos da amiga. Despontou nos jardins do campus, procurando um lugar reservado. E assim que o encontrou entre uma árvore e um dos prédios, desaparatou.


Evan olhava com interesse a lista de detenções desse semestre, torcendo um pouco o nariz ao ver o nome do seu irmão nela, e ficando surpreso ao ver que Hannah ainda não tinha entrado na lista. Será que aqueles dois tinham mudado de personalidade e ninguém havia lhe avisado? Day, brigando nos corredores com um aluno de outra casa era algo que ele nunca esperaria ver. E o pior é que o seu irmão se recusava a dizer o motivo da briga. Sempre que ele perguntava, o garoto começava a criar histórias que eram nada com o nada. E ele sabia que alguma coisa o menino estava escondendo.

-Potter! – alguém o chamou, o fazendo parar na entrada da torre da Grifinória.

-Sim? – virou-se para ver a menina que vinha caminhando em sua direção.

-Eu posso falar com você um instante? – perguntou a corvinal. Evan apenas conhecia aquela garota das reuniões de monitores, mas não sabia nada mais dela além do cargo que ocupava na escola. Bem, o que quer que ela queira falar com certeza deveria estar relacionado à monitoria.

-Claro! – respondeu, caminhando com ela de volta a sala dos monitores.

Angela cruzou os grandes portões de Hogwarts, inspirando profundamente quando alcançou os jardins do castelo. Fazia tempos, desde que se formara, que não pisava dentro da escola. E essa não tinha mudado nada nesses poucos anos. Continuou caminhando, entrando no castelo e olhando a sua volta. "timo, era metade do dia, as aulas ou tinham terminado ou estavam para terminar. Onde ela encontraria Evan naquela hora? Parou um pouco e tentou pensar logicamente. Descartando as salas de aula, os únicos lugares prováveis seriam o salão comunal, biblioteca, salão principal e… sala da monitoria. Talvez fosse uma boa idéia começar pela última opção, esperando que a sala não tivesse mudado de lugar desde a última vez que ela esteve aqui.

-Mas eu gostaria de saber o que lhe atrai em uma garota… - a ruiva ouviu quando se aproximou da sala.

-Bem, aí eu não sei. – e estacou no lugar quando ouviu a voz de Evan.

-Pense um pouco.

-Bem, a menina tem que ser inteligente, simpática, divertida, bem humorada, carinhosa, tudo o que uma boa garota tem que ser.

-A sua namorada é assim? – perguntou a menina.

-Bem… eu… - o que ele iria dizer? Que a namorada dele era uma menina mimada, vinda de uma família tradicional e rica e que só considerava o que eles tinham uma diversão? Mesmo que fosse doloroso admitir, Evan sabia que Angela só sentia atração por ele e nada mais do que isso. -… Eu não tenho namorada.

Do lado de fora da sala, Angela sentiu seu sangue correr mais forte em suas veias diante da conversa que estava ouvindo.

-E você acha que eu tenho chances? – perguntou a menina com uma voz sussurrada e tímida.

-Bem, se você tentar, quem sabe.

-Obrigada! Eu vou tentar, e você vai ver que eu vou conseguir. – a voz dela continha um tom alegre e passos começaram a vir em direção à porta. A jovem corvinal saiu saltitante, olhando com uma certa surpresa a mulher que estava no corredor. –Deseja alguma coisa? – perguntou educadamente, mas tudo que Angela fez foi empurrá-la para o lado e entrar na sala, batendo a porta atrás de si.

-Você não tem namorada?! – sibilou a ruiva, fazendo Evan dar um pulo de susto.

-Angela? – falou, virando-se surpreso para a garota na porta.

-Quem era aquela… vagabunda Potter? – sibilou a garota, com os seus olhos cinzentos ficando escuros de raiva.

-Quem? – retrucou o moreno desentendido.

-Aquela menina que saiu agora daqui da sala.

-Caroline?

-Ah! A cadela tem nome.

-Angela, o que você tem? E o que você está fazendo aqui? Não deveria estar em Oxford?

-Eu vim fazer uma visita surpresa, por quê? Não posso? Quando eu o surpreendo você não tem tempo de esconder as suas amantes?

-MAS DO QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FALANDO?! – irritou-se o rapaz diante das acusações sem nexo da ruiva.

-Estou falando da conversa que ouvi agora pouco. – rebateu, mais furiosa do que antes. Evan piscou seus olhos azuis, entendendo menos ainda.

-O que tem a nossa conversa?

-Qual é o seu tipo de garota Evan? Ah, ela tem que ser inteligente e simpática. – escarneceu com uma voz em falsete.

-Você pegou o bonde andando e ainda quer sentar na janela? Está pulando conclusões. – disse de maneira séria, cruzando os braços sobre o peito.

-Não estou tirando conclusões de nada. Eu ouvi o que ouvi. Ouvi você dizendo que não tem namorada.

-E por acaso eu tenho? – acusou o garoto, aproximando-se da ruiva. –Porque pelo que eu sei, srta. Malfoy, para você o que temos não passa de uma distração. Distrações não são consideradas namoro.

-Não ouvi você reclamar nos últimos meses. – defendeu-se, dando um sorriso escarninho característico dos Malfoy's e colocando as mãos na cintura.

-Estou reclamando agora. – Evan virou-se de costas para ela, pois o que iria fazer poderia ser anulado se continuasse a olhar para a garota. Ela ficava linda quando estava irritada, e isso poderia fazê-lo perder a coragem. Era idiota a sua decisão, ele sabia. Se a amava, mesmo que ela não o amasse, poderia ficar com ela mesmo por diversão. Mas até quando? Até quando Angela ficaria com ele até perder o interesse e jogá-lo fora? Era melhor romper isso agora antes que a coisa ficasse mais complicada mais tarde. –E é por isso que eu digo que isso não vai dar certo.

-O quê? – a ruiva arregalou os olhos.

-Acho melhor terminarmos essa coisa, o que quer que ela seja, que temos.

-Para você poder ir correndo atrás daquela vagabunda? – acusou, apontando furiosamente para a porta.

-Eu não vou correr atrás de ninguém. Apenas acho que… perdeu a graça, só isso. – Angela recuou como se tivesse levado um tapa. Estava sendo dispensada? Estava levando um fora? Ninguém rompia com um Malfoy, Malfoy's rompiam com os outros.

-Você não pode estar falando sério.

-Eu estou. Me chame de careta… mas eu quero um relacionamento normal tipo… tipo o que os meus pais têm… o que os seus pais têm. – pontuou, não entendendo como alguém que nasceu do amor de duas pessoas poderia ser assim tão relapsa em relação aos sentimentos dos outros. –Hum… Adeus Angela. – disse e passou por ela, que estava em estado de choque, saindo silenciosamente pela porta.