Um grito, um barulho de algo quebrando e passos apressados contra as escadas foram o que fez Lúcio erguer seus olhos dos papéis sobre a sua mesa, mirando a porta de entrada do escritório de sua casa. Como previsto, minutos depois, alguém entrou as pressas pelo escritório, batendo à porta atrás de si e recostando-se nela, soltando um suspiro de alívio. Logo a expressão aliviada foi substituída por apreensão quando batidas fortes vieram da porta, a fazendo tremer intensamente.
-Abra essa porta Samuel! – veio o grito esganiçado do outro lado da madeira.
-Nem morto! – murmurou o garoto.
-Abra logo essa porcaria de porta para eu pegar você e te torturar por duas horas inteiras!
-Não! – gritou Samuel, escorando-se na porta enquanto essa tremia com as batidas.
-O que você vez a Philip dessa vez? – disse a voz baixa e grossa de Lúcio, o que atraiu a atenção do garoto.
-Er… - o moreno piscou seus olhos cinzentos para o homem, dando um sorriso torto e sem graça para ele. Não tinha visto Lúcio dentro do escritório quando entrou. -… não fiz nada. – murmurou.
-É mentira! – Philip gritou do outro lado da porta. –Ele quebrou a minha vassoura. A vassoura que o senhor me deu de Natal.
-Samuel! – Lúcio levantou-se calmamente de sua cadeira, caminhando até o garoto que se encolheu diante do olhar frio dele. Abruptamente, ele tirou o menino de dez anos do caminho e abriu a porta, deixando que o outro garoto, idêntico ao primeiro, entrasse como um furacão na sala, pulando em cima de Samuel com fúria. –Parem vocês dois. – uma frase simples e sem nenhum toque de emoção, mas que foi o suficiente para fazer os dois se separarem como se tivessem levado um choque.
-Ele começou! – disseram em unísso, apontando um para o outro enquanto ainda estavam sentados no chão. Lúcio passou a mão pelos longos cabelos platinados, que continha alguns frios brancos quase imperceptíveis diante dos fios claros, e suspirou. De onde tinha saído aquelas duas pestes? Ah! Ele pensou… dele.
-Levantem-se, agora! – ordenou e os dois meninos levantaram-se, ficando lado a lado e abaixando a cabeça, tendo os olhos cobertos pela franja negra do cabelo.
-Desculpe pai. – murmuraram novamente juntos, com uma expressão desolada. Lúcio soltou outro suspiro, caminhando até a sua mesa e sentando-se novamente nela. Como eles dois poderiam ser tão traquinas assim? Pelo que ele se lembrava, Draco nunca chegou a aprontar um terço do que eles aprontavam, quando tinha a idade deles.
-Posso saber o que aconteceu para os dois estarem brigando? E me dêem um bom motivo para eu não trancá-los no quarto de castigo.
-Ele! – Philip apontou para Samuel com raiva. –Pegou a minha vassoura sem a minha permissão, voou com ela pela sala de estar e chocou-se contra a parede. Devo mencionar que ele quebrou três vasos de porcelana da mamãe? – Samuel e Lúcio enrijeceram. Aqueles vasos trouxas eram o xodó de Padma. E foi por causa de uma aventura semelhante do garoto que a mulher confiscou a vassoura dele.
-Samuel, o que eu lhe disse sobre voar dentro de casa…
-Mas está chovendo…
-Não me interrompa. – Lúcio o cortou bruscamente e o menino trincou os dentes de raiva. Não era culpa dele que estava chovendo. Se ao menos seu pai tivesse colocado cobertura no campo de Quadribol que eles tinham no jardim dos fundos, mas não, o homem não atendeu o seu pedido dizendo que campos de Quadribol não foram feitos para serem cobertos. Sem contar que Padma falou que se o loiro fizesse isso, estaria mimando muito aqueles garotos. –Está de castigo Samuel.
-O quê? – gritou, enfurecido, mas Lúcio não se abalou com o olhar frio e mortal dirigido a si.
-Vá… agora. – decretou com uma voz calma e Samuel saiu da sala, batendo o pé e bufando.
-Bem… agora que isso está resolvido… - Philip deu um sorriso. –Eu vou dar um pulinho na casa do Draco. Tchau pai…
-Não tão rápido. – o chamado fez o garoto parar na porta.
-Você vai a Londres repor os vasos que o seu irmão quebrou.
-Por que eu tenho que consertar as merdas que ele faz?
-Linguajar rapazinho! – advertiu o homem. –E a não ser que você queira confrontar a sua mãe, eu sugeriria que você partisse agora.
Resmungando uma coisa ou outra sob a respiração, Philip também saiu da sala batendo o pé.
Passou a mão pelos cabelos castanhos, que refletiam o pôr do sol da janela ganhando alguns tons ruivos, e suspirou. Sentou-se na cama com um baque abafado e colocou os sapatos, amarrando com precisão os cadarços. Teria que aproveitar o momento para conseguir sair, porque quando sua mãe chegasse em casa… adeus diversão. Levantou-se novamente e pôs a sua jaqueta, a esticando com as mãos para poder eliminar qualquer dobra que ela tivesse. Quando sentiu que estava com tudo em ordem, encaminhou-se para a porta do quarto, despontando no corredor e caminhando silenciosamente. Deu um pequeno grito de vitória dentro da cabeça quando percebeu que estava alcançando a porta de entrada. Somente mais alguns passos e ele conseguiria o que queria. Só mais alguns passinhos…
-Onde você pensa que vai, Ethan? – o rapaz parou abruptamente, estacando no lugar. A sua mãe estava em casa? A que horas ela tinha chegado? Como ele não a ouviu dentro da casa?
-A senhora já voltou, mãe? – Ethan virou-se na direção que Hermione estava, seus grandes olhos chocolate brilhando com inocência fingida. Hermione apenas cruzou os braços sob o peito, conhecendo de cor aquele olhar. Era muito parecido com os olhares que Rony lhe dava quando queria escapar de alguma encrenca.
-Cheguei há poucos minutos.
-Bem. Então eu não preciso deixar recado dizendo que estou saindo. – disse displicente, virando-se em direção a porta antes que fosse tarde.
-Espere! – o garoto gemeu, virando-se novamente em direção a mãe e se preparando para a longa lista de conselhos e advertências que iria receber. –Onde você está indo?
-Sair com os meus amigos… tem um novo pub mágico no centro de Londres…
-Pub? De jeito nenhum… - Hermione começou a protestar e Ethan passou a mão pelos cabelos, sentindo a frustração começar a chegar. Sua mãe era super protetora demais para o seu gosto. Por Deus, ele já tinha vinte e um anos, sabia se cuidar. E sabia se cuidar muito bem, ao contrário do que Hermione pensava.
-Mãe… - o rapaz caminhou decidido até ela, sendo guiado pela voz da mulher, e parou dois passos de distância dela, esticando as suas mãos e segurando no rosto da morena. -… pare a paranóia. Pare de me tratar como se eu fosse um inválido. Eu sei me cuidar muito bem e a senhora sabe disso. Afinal, o papai e a senhora fizeram questão de que eu soubesse ser independente. – Hermione não poderia negar que, nesse ponto, seu filho estava certo. Ela se esforçou para com feitiços e educação apropriada, Ethan se tornasse um garoto livre e normal, como as outras crianças, mesmo sendo cego. E Rony garantiu, com um treinamento digno de um Auror de elite, que o rapaz soubesse se defender, para que ninguém pensasse que só porque ele era deficiente isso o tornava indefeso. Ou seja, Ethan era mais forte do que muita gente que podia enxergar, em todos os aspectos.
-Ah, eu sei. Mas acontece que eu ainda não me acostumei. – murmurou a mulher, segurando as mãos do filho entre as suas. Quando Ethan era criança recebeu parte de sua educação em casa, sempre sob os olhos atentos de Hermione. Quando ele foi para Hogwarts, ela se preocupou um pouco. Mas com Sirius, Dumbledore e os outros dentro do colégio ela sabia que o garoto estaria em boas mãos. O problema era que, agora, ele não era mais tão garoto assim. Era um homem, estava fazendo curso superior, seguindo com a sua vida usando tudo o que aprendeu dos pais. Ou seja, estava finalmente cortando o cordão umbilical. E isso era doloroso para qualquer mãe.
-Eu prometo que volto em um pedaço só. – o rapaz abriu um grande sorriso, que iluminou toda a sala, e deu um beijo estalado na bochecha da mãe. –Só não prometo que voltarei hoje. – e correu em direção a porta, saindo antes que a mulher pudesse protestar.
-Srta. Weasley, por favor um passo a frente. – Sirius chamou de dentro da roda de alunos do quarto ano da Grifinória e Lufa-lufa, enquanto o baú que estava no centro da sala sacudia intensamente, fazendo alguns deles recuarem uns passos.
-O que tem aí dentro professor? – perguntou a loira, olhando apreensiva para o baú e depois lançando um olhar para Day, dentro da roda, com se pedisse a ele que a livrasse dessa. Sirius poderia ser um ótimo professor. Era divertido e as aulas dele nunca eram monótonas. Mas de vez em quando ele fazia algumas coisas bizarras e um baú tremendo no meio da sala era para lá de suspeito.
-Um bicho papão. – declarou displicente e isso fez que os alunos recuassem ainda mais, quase se encostando às paredes. –Ah, deixem de ser medrosos. É apenas um bicho papão. Vamos, se aproximem. – chamou gentilmente, mas ninguém se moveu. –Se aproximem. – disse com uma voz mais firme, mas novamente ninguém se mexeu. –Agora! – ordenou com um pequeno grito autoritário e isso foi o suficiente para fazer todo mundo se mover. –"timo. – Sirius abriu um sorriso quando o último aluno fechou a roda. –O que vamos aprender aqui é bem simples. Se chama ridikkulus. – falou pomposo, rodando a varinha com um estalar de pulso. –Agora, antes de começarmos, alguém pode me dizer o que é um bicho papão? – rodou seus olhos pela sala quando viu que ninguém se prezou a responder. –Alguém leu o capítulo sobre bicho papão que eu mandei na semana passada? – as expressões culpadas deles era resposta o suficiente.
-Professor? – uma jovem Lufa-lufa ergueu a mão timidamente e Sirius virou-se para ela com um sorriso brilhante, fazendo a menina corar intensamente e as outras garotas a sua volta darem risadinhas. Já foi mencionado que Sirius Black era o professor favorito dos alunos? Já foi mencionado que sete entre cada dez meninas tinha uma queda por ele? Bem, então está dito.
-Sim?
-Um-um-um bicho papão é um metamorfo... ele-ele assume a forma dos nossos maiores medos.
-Dez pontos para a Lufa-lufa. Pois bem. E é nessa história que entra o ridikkulus. Ele vai imobilizar o bicho papão. Como? Bem, pensem em seus maiores medos. – a sala de aula caiu em completo silêncio enquanto os garotos faziam o que lhes fora ordenado. –Pensaram? Agora pense na coisa mais ridícula que deixaria esses medos engraçados. – mais silêncio até que, minutos depois, risos começaram a surgir aqui e acolá.
-É para isso que serve o feitiço? Transformar o bicho papão em algo que não nos assuste? - Rory perguntou.
-Isso mesmo. Então, peguem as suas varinhas e repitam comigo. Ridikkulus! – entoou, girando a varinha e os alunos fizeram o mesmo por alguns segundos. –"timo. Quando eu chamar o nome vocês dêem um passo à frente para poder combater o bicho papão. Por isso, estão preparados?
-Sim. – responderam em coro.
-Perfeito. – Sirius encaminhou-se até o baú no centro da sala, pronto para abri-lo, quando um estrondo maior o fez se afastar da trinca do baú.
-Black! – um grito veio da porta e o corpo de Sirius enrijeceu.
-Densetsu! Eu estou no meio de uma aula, o que você quer?
-Er… desculpe. – a jovem deu um sorriso sem graça e recuou um passo quando viu o olhar maquiavélico no rosto de Sirius. Talvez essa tenha sido uma péssima hora de ter vindo fazer uma visita. –Então eu volto mais tarde.
-Não! – em duas passadas o homem cruzou a sala, a segurando pelo braço. –Já que você está aqui, poderia me ajudar com essa aula. – disse suavemente, a puxando para dentro da sala de aula. Talvez se desse um grande trauma a ela, ela largaria do seu pé. Sabia que Maya era péssima em DCAT afinal, cansou de ser atingido por feitiços desastrosos dela quando ainda era apenas uma estudante, sua estudante. Quando ela se formou nunca ficou tão feliz em toda a sua vida, mas quando ela retornou a Hogwarts achou que o inferno tinha subido a terra. Essa menina era um pesadelo, seu pesadelo.
-Ajudar? – Maya estreitou os olhos, desconfiada. Geralmente os professores a mandavam de um lado para o outro, como uma bola de pingue pongue apenas para se verem livres dela. Agora Sirius estava pedindo a sua ajuda? Isso realmente era suspeito.
-Isso mesmo. Estamos tendo uma aula sobre bicho papão. – ao mencionar a palavra bicho papão, Maya soltou-se de Sirius bruscamente, caminhando em direção a porta rapidamente.
-Eu realmente acho que não devo atrapalhar a sua aula professor. – disse com um sorriso inocente. –Volto mais tarde para a gente poder conversar…
-Maya… parada, vire-se, volte. – ordenou firmemente e a garota obedeceu sem pestanejar. –No centro do círculo. – falou, cruzando os braços sobre o peito. Suspirando resignada, a jovem caminhou até o centro do círculo e ergueu a sua varinha.
-Certo… o que eu tenho que fazer? – disse presunçosa, mas a mão que segurava a varinha a apertava firmemente, impedindo-se de tremer.
-Pense em seu maior medo. – ordenou o homem e viu quando a garota ficou um pouco pálida. –Certo, agora pense em como fazê-lo ficar engraçado. – Maya franziu as sobrancelhas, pensando. Como poderia fazer uma mortalha-viva ficar engraçada? Não tinha como. Ficou minutos divagando sobre o que fazer, quando a voz de Sirius a despertou. –Pronta? – chamou o homem, já abrindo o baú.
-Não! – Maya gritou. Não estava pronta, não estava nada pronta. Viu com horror a tampa do baú ser aberto e algo como um manto negro deslizar da abertura, vindo rastejando até ela. Estacou no lugar com a varinha erguida e as palavras presas na garganta, tendo a impressão que estava ouvindo Sirius gritar ao longe:
-Reaja Maya! Anda! – gritava o moreno, mas ela parecia um pouco catatônica para poder reagir. –Potter! Vá! – chamou o professor e Day deu um passo à frente, fazendo o bicho papão tomar outra forma. Nome por nome foi chamado e aluno por aluno lutou contra a criatura, até que ela perdeu o controle sobre si e desintegrou-se no ar, ganhando vivas da turma. –Muito bom todos. – falou Sirius enquanto a sineta tocava. –Os vejo amanhã. – os jovens recolheram as suas coisas e começaram a sair da sala de aula, deixando no fim Sirius e Maya sozinhos lá dentro. Assim que a porta fechou-se atrás do último aluno, o homem se virou para a oriental ainda parada estática no meio da sala.
-Densetsu! – gritou, a balançando pelos ombros.
-O quê? – murmurou de volta com uma voz mínima e Sirius soltou um pequeno suspiro.
-Sinceramente, uma mortalha-viva? Mesmo assim, o que deu em você? Uma mortalha-viva não é de desesperar tanto assim. Quero dizer… você é uma mulher crescida, deveria saber enfrentar os seus medos e… - comentou com desdém.
-Eu queria ver se você não ficaria assustado se quase tivesse morrido por causa de uma mortalha quando era criança. Eu falei que não queria participar disso. Mas você me obrigou. Eu não acredito que eu seja tão chata assim para você fazer isso comigo, Black. Nem mesmo o professor Snape me trata tão mal assim. E eu que pensei que você era um cara legal… porque você era legal quando era apenas meu professor. Achei que agora que não sou mais a sua aluna nós poderíamos ser amigos… sei lá… Eu realmente não sei o que eu vi em você. – terminou, sem fôlego diante da explosão de emoções e com os olhos brilhantes. Sirius estava parado na frente dela, com uma expressão um pouco chocada diante da gritaria da garota.
-Maya…
-Eu… eu… eu tenho que ir. – disse, passando a mão pelos cabelos negros e rodando nos saltos, saindo apressada da sala.
As sombras brincavam nas paredes do corredor, ocultando o jovem que andava a passos leves pelo chão de pedra. Com extrema cautela, ele virou uma esquina, olhando sempre por cima do ombro para ver se alguém poderia o estar seguindo. De preferência se esse alguém fosse a gata do zelador. Suspirou baixinho quando viu que o caminho estava livre.
-Está atrasado. – a voz murmurou em um canto do corredor, o fazendo dar um pulo de susto.
-Pombas, não faz mais isso! – Day murmurou irritado, sentindo seu coração bater fortemente contra o peito.
-Desculpe. Vamos logo. Não sei quanto tempo à entrada da sala vai ficar lá. – Alexei segurou na mão do garoto e esse se deixou levar. Depois do acordo que fizeram em procurar novamente a sala que lhes rendeu uma detenção, ambos descobriram que essa tinha uma entrada móvel e levou uma semana para que eles a achassem novamente. Parecia que essa noite eles estava com sorte, pois além de o caminho estar livre, a porta estava parada no mesmo lugar há dois dias.
Vinte minutos depois de caminhada, sem Alexei soltar da mão de Day, os dois chegaram em frente à porta, que agora não se camuflava mais na parede, mas estava bem vívida no alto da torre leste, que nunca era usada, marcando com a sua madeira escura as lajotas de pedra.
-Pronto? – o sonserino perguntou ao garoto ao seu lado, enquanto colocava uma mão na maçaneta de latão.
-Espera. – Day o segurou pelo braço. –Se Snape nos pegou da vez passada, é porque essa sala deve ter algum tipo de alarme. Quem garante que não seremos pegos dessa vez?
-Acha que eu não pensei nisso? – os olhos âmbar brilharam na semi-escuridão do corredor, enquanto o russo erguia a sua varinha e apontava para a porta, murmurando uma coisa ou outra sob a respiração. Day viu a porta de madeira escura ganhar várias cores, até que depois de algum tempo ficou brilhando em um tom fraco de verde. –Pesquisei durante essa semana possíveis feitiços de alarme e como identificá-los e desativá-los. Creio que agora é seguro.
-Você tem certeza? – Day perguntou incerto, olhando por cima do ombro como se esperasse que Snape pulasse de dentro de uma sombra e os pusessem em detenção até se formarem.
-Tenho. Vamos que não temos a noite toda. – segurou novamente na mão do garoto, gostando da sensação que a palma quente provocava contra sua, ainda mais que Day não estava protestando pelo contato, e abriu a porta, a atravessando e levando o grifinório consigo. Ao contrário da outra vez, a passagem não era uma descida íngreme mas sim um corredor estreito e escuro, iluminado apenas pela ponta da varinha de ambos.
Finalmente, depois de uma caminhada lenta e silenciosa, os dois garotos despontaram na sala que automaticamente ascendeu-se à entrada de seus visitantes. Alexei soltou a mão de Day e apagou a sua varinha, começando a vasculhar pela sala, e o grifinório fez o mesmo, indo até um outro canto oposto ao do russo. Alexei ajoelhou-se em frente a um grande armário, tentando abrir as portas inferiores dele. Murmurou alguns feitiços simples de arrombamento, mas quando esses não funcionaram, resolveu usar outros métodos.
Day virou a cabeça bruscamente quando ouviu o barulho de algo se quebrando e divisou o sonserino ajoelhado em frente a um armário, no outro extremo da sala.
-O que você está fazendo? – perguntou, caminhando até ele e postando-se ao seu lado.
-Estava trancado, então eu abri. – respondeu o rapaz mais velho, displicente e dando de ombros. O garoto olhou para a fechadura quebrada e depois olhou para o seu companheiro.
-Se virem essa fechadura quebrada podemos entrar em problemas. – advertiu.
-Depois eu conserto. – falou, sem nem ao menos olhar para o garoto que se sentou ao seu lado. Se o armário estava tão bem trancado é porque coisas interessantes deveriam estar dentro dele. Abriu a porta com um sorriso vitorioso no rosto e foi cumprimentado pelo cheiro forte de mofo. Acendeu novamente a varinha e pôs-se a iluminar o vão escuro de dentro do móvel.
-Achou alguma coisa interessante? – Day perguntou, olhando por cima do ombro de Alexei para ver se conseguia ver alguma coisa.
-Bem… - o sonserino virou-se para olhar por cima do ombro para o garoto e surpreendeu-se ao ver aqueles olhos violetas tão perto dos seus. Percebendo o que estava fazendo e a proximidade em que se encontravam, rapidamente o grifinório recuou, com o rosto vermelho, e olhou para o chão de maneira envergonhada. -… achei um livro. – virou-se e colocou o grosso livro entre os dois. –Parece que essa sala tem história. – e apontou para a capa do livro, onde em letras grandes e douradas estava escrito: Ordem da Fênix.
-Nossa! – o rosto do grifinório brilhou como uma criança curiosa. A Ordem da Fênix era mencionada em livros de história, mas muito pouca coisa sobre ela era escrita, era quase como se fosse uma lenda. Havia algumas histórias a solta, boatos criados por gente de vasta imaginação. Alguns diziam que a Ordem ficava escondida no fundo do lago de Hogwarts. Outros diziam que ela continha baús de ouro dos integrantes que não sobreviveram à guerra. As mais absurdas falavam que Voldemort era mantido preso como uma estátua de pedra em sua sede. Mas essa última era a única que ele sabia que era mentira, pois seu pai lhe contara que ele mesmo viu Voldemort morrer. Então, boatos, tudo era apenas boatos.
-A poderosa Ordem da Fênix. Já ouvi falar muito sobre ela. – comentou Alexei e Day o olhou de maneira estranha. –O que foi?
-A Ordem quase não é mencionada em livros. Ninguém sabe quem foram seus agentes, somente aqueles que participaram ou lutaram ao lado dela. E os inimigos é claro! Mas esses ou estão mortos ou estão vegetando em Azkaban. Mesmo eu, sendo filho do famoso Harry Potter, não sei muito sobre ela, meu pai não gosta de falar muito sobre a guerra. Como você pode ter ouvido tantas histórias?
-Esqueceu de quem foi o meu avô? – disse, abaixando o rosto e começando a folhear as páginas do livro.
-Não creio que você seja tão próximo assim do seu avô. – atestou Day. –Já que a sua família… você sabe… não gosta muito de ser relacionada a ele.
-Eu sei… mas uma vez encontrei velhos diários do meu avô, escondidos na casa que herdamos quando ele foi preso. Lá diz muita coisa sobre a Ordem e a guerra. De uma maneira perturbada é claro, pois estamos falando de um Comensal da Morte aqui. – disse seriamente, os olhos ganhando tons frios diante das lembranças.
-Ah… Mas o que tem nesse livro aí? – Day disse rapidamente, mudando de assunto com uma velocidade impressionante e Alexei quase riu. O olhar curioso dele era a coisa mais linda do mundo.
-Bem… ao que parece é uma espécie de diário também. – disse, continuando a passar pelas páginas.
-E o que está escrito? – Day inclinou-se um pouco para ver o que estava escrito.
-Não sei… está em latin, e eu sou péssimo em latin. – retrucou, passando o livro para ele. Quando o grifinório pegou o livro em suas mãos, viu dois objetos caírem dele, um pergaminho velho e amarelado e uma foto. Alexei recolheu os dois objetos, os olhando com curiosidade. Avaliou o pergaminho, logo o jogando a um canto, e voltou-se mais para a foto. Day recolheu o pergaminho descartado pelo sonserino, o olhando também, seus olhos se estreitando enquanto mirava as dobras e marcas no couro. Subitamente retirou a varinha de seu bolso e apontou para ele.
-O que você está fazendo? – perguntou Alexei, guardando a foto em seu bolso, ao ver o jovem apontar a varinha para aquele pedaço de pergaminho velho.
-Juro solenemente não fazer nada de bom. – murmurou e de repente linhas e pontos começaram a aparecer no pergaminho, assim como um título no alto dele.
-Como você soube disso? – Alexei perguntou estupefato, tirando rapidamente o pergaminho das mãos de Day. Esse apenas mirou o sonserino de uma maneira estranha, como se não estivesse entendendo o que estava acontecendo a sua volta. –Max? – chamou o russo. –Como você sabia que esse pergaminho… - ele olhou para o objeto em suas mãos. -… é um mapa? – perguntou encantado com o que tinha entre os dedos. O Mapa do Maroto, pois esse era o nome que estava no topo desse, mostrava todas as passagens de Hogwarts, secretas ou não, e onde estava cada morador do castelo. Era perfeito para poder andar pela escola quando não quisesse ser notado.
-Eu não sei… - respondeu, dando de ombros. Ele apenas tinha tocado no mapa e estranhamente as palavras lhe vieram à cabeça.
-Não importa. Olhe isso! – apontou o mapa para o garoto. –Talvez esse mapa fosse usado para a proteção do castelo. Com ele a Ordem deveria vigiar quem estava dentro da escola, ou pontos de evacuação. – começou a supor, animado com o objeto mágico. –Ele é perfeito… e eu vou ficar com ele.
-Ah não vai não! – Day pareceu que tinha subitamente saído do seu estado de confusão, arrancando o mapa da mão de Alexei. –Eu fiz ele funcionar, então tenho todo o direito de ficar com ele.
-Mas fui eu que encontrei. – Alexei pegou o mapa de volta.
-Por pura sorte. E você o descartou depois, então ele é meu.
-Não!
-Sim!
-Não! – continuaram discutindo, cada um tentando puxar o mapa para o seu lado até que, com um puxão mais forte, o russo trouxe mapa, grifinório, tudo para cima de si. –Que tal entrarmos em um acordo? – murmurou enquanto sentia o corpo de Day sobre o seu e as mãos dele entrelaçadas as suas, segurando o mapa entre seus dedos.
-Que acordo? – o garoto sentiu o coração vir à garganta e a sua mente gritando para ele se levantar mas, estranhamente, seu corpo não o obedecia.
-Vamos dividir o mapa. Talvez ele seja útil na próxima vez que viermos a essa sala. Uma semana ele fica comigo, na outra ele fica com você, para usarmos da maneira que quisermos.
-E para que você iria querer um mapa desses?
-Com esse mapa eu poderia andar pela escola depois da hora sem ser pego, por exemplo.
-E para que você andaria na escola depois da hora? Iria se encontrar com alguém? – sussurrou o garoto de olhos violetas.
-Por que quer saber? Interessado? Com ciúmes Max?
-Não! – em um pulo Day saiu de cima dele. –Não seja ridículo. Não me interessa com quem você anda ou deixa de andar. Certo, eu aceito o acordo. Por isso… - puxou o mapa das mãos de Alexei, que o deixou levá-lo. -… eu fico com ele por essa semana.
-Okay. – concordou o sonserino. Afinal, durante essa semana ele teria bastante tempo para analisar a foto que estava em seu bolso e que continha muitos rostos familiares. Desconfiava que tinha acabado de encontrar o registro visual de todos os agentes da extinta Ordem da Fênix.
