Harry passou as mãos pelos cabelos, voltando os olhos para o relógio de pulso logo em seguida. Dallas estava vinte minutos atrasada, e para quem disse que só teria que resolver uns problemas na loja, ela estava demorando mais do que o planejado. Ele achava que Clarisse era a responsável pela filial trouxa da loja, não pensava que Dallas fosse precisar aparecer lá para nada. Ele bem sabia que a mulher não gostava de aparecer no mundo trouxa, com medo de ser reconhecida. Porém duvidava muito que alguém da imprensa ainda lembrasse do rosto de Dallas Winford depois de vinte anos de sumida.
Ela está ficando paranóica. – disse a si mesmo, tomando um gole de seu suco. –Como eu. – deu uma pequena risada diante do pensamento. Os dois eram paranóicos em certos aspectos, ainda mais quando se tratava de seu passado. Realmente eles se mereciam.
Harry? – alguém chamou e ele virou-se, reconhecendo muito pouco a voz. Mas virar-se provou ser um erro quando ele viu quem o tinha chamado. Sua tia Petúnia estava parada ao seu lado, com a mesma menina que ele viu na casa dela, e com um homem enorme, o qual ele olhou intensamente por alguns segundos e atestou com desagrado que era o seu primo Duda. Sentiu vontade de grunhir diante da péssima surpresa de encontrá-los ali. O que mais faltava acontecer? Voldemort ressuscitar? Porque do jeito que as coisas andavam, não se surpreenderia se isso acontecesse. O passado estava voltando para lhe atormentar.
Sra. Dursley. – disse seco, ainda incomodado com a presença dessa família depois de tantos anos.
Que surpresa. – Petúnia falou em um tom suave, como se estivesse se aproximando de um animal ferido, pois era assim que ela se sentia perto de Harry. Parecia que tinha que se mover com cautela, pois ele era uma fera acuada pronta para atacar quando estivesse em perigo. E pelo visto ela representava uma ameaça ao homem mais novo. Sentia-se mal por isso. Sentia que tinha falhado com a sua irmã. Se Lílian estivesse viva, nunca a perdoaria.
Eu que o diga. – murmurou sob a respiração, tentando manter toda a calma que conseguiu com os anos trabalhando como auror. Lidar constantemente com o perigo fazia você obter uma certa postura relaxada mesmo quando pessoas a sua volta estão entrando em pânico.
Potter. – Duda falou em um murmúrio, estreitando os olhos e apertando a mão da menina ao seu lado. Harry cruzou seu olhar com o dele, desviando para poder observar melhor a garotinha. Jasmine era o nome dela, pelo que se lembrava. Com certeza filha de Duda. Que, felizmente, melhorou durante os anos. Ao menos fisicamente. Era alto, ainda era grande, mas não poderia ser considerado gordo, talvez forte seria um adjetivo melhor. Bem, considerando que o homem provavelmente era casado, com certeza teve que mudar muito para alguma pobre infeliz ter se juntado com ele. Mas será que a personalidade arrogante mudou junto com a aparência física?
Sr. Dursley. – falou formalmente, olhando mais uma vez para o seu relógio. Onde Dallas estava? Queria sumir dali, desaparatar, pena que estavam em local público e trouxa. Nunca se sentiu, e nunca se sentiria, bem perto daquela família.
Esperando alguém, Harry? – perguntou Petúnia, dando um sorriso suave, quase maternal, para o homem.
Sim. – respondeu desinteressado.
Se importa se esperarmos com você? Viemos fazer algumas compras para a festa de aniversário da Jasmine e resolvemos parar para um lanche. – Harry arregalou um pouco os olhos diante do pedido, olhou para Petúnia que parecia genuinamente interessada em sua companhia, para Duda que debatia se agradava à mãe ou não, e para Jasmine que era totalmente alheia a relação deles com o jovem de olhos verdes.
Fiquem a vontade. – por fim respondeu, com o coração aos pulos, enquanto os três recém chegados se acomodavam nas cadeiras vagas da mesa e pediam seus lanches ao garçom que tinha vindo servi-los. Depois disso, silêncio imperou no local.
Tentei falar com você outro dia, Harry. – Petúnia começou, tentando quebrar a tensão. –Mas seu celular estava sempre fora de área.
Acontece às vezes… se estou em um lugar com grande atividade… - parou um pouco, olhando a menina sentada com eles, que parecia mais interessada em uma boneca que eles tinham comprado. Estreitou um pouco os olhos diante da presença dela. Sentia uma certa aura emanar da garota e isso só poderia dizer uma coisa… deu um meio sorriso. Jasmine era uma bruxa. Será que Duda sabia disso? Como ele reagiria quando soubesse?
Grande atividade… - Petúnia falou, tirando a atenção do auror da garota.
Grande atividade… daquela palavra com m. – a mulher enrijeceu ao se lembrar das vezes que Harry fora castigado apenas por falar a palavra magia dentro de sua casa. –Aparelhos eletrônicos não funcionam bem nessas áreas.
Então… Potter… - Duda resolveu entrar na conversa, ainda achando estranho o fato daquele homem na sua frente ser o seu primo, o mesmo que ele provocou e com quem brigou várias vezes na infância. O Harry de hoje era diferente do que ele conheceu, ele tinha uma pose confiante, traços firmes e fechados, pronto para levar qualquer porrada que viesse de alguém que ele considerava uma ameaça a sua segurança. Era como se ele estivesse em constante vigilância, suspeitando de tudo e de todos a sua volta, como se não confiasse em ninguém, nem mesmo em sua própria família. O que tinha acontecido com ele durante esses anos? Ele era sempre assim ou era apenas em torno deles que ele agia dessa maneira?
Dursley. – responde o moreno, olhando mais uma vez para o seu relógio. Onde diabos estava a sua esposa? Estava começando a considerar em ir embora, largando Dallas para trás. Ela sabia muito bem o caminho de casa.
Estou vendo que você se casou. – disse, apontando para a aliança dourada na mão esquerda do homem.
Estou vendo que você não. – retrucou, reparando que não havia anel nenhum na enorme mão do primo. As expressões de Duda ficaram um pouco fechadas e ele respondeu em um tom contido:
Minha esposa faleceu há alguns anos. – disse indiferente, mesmo que isso o machucasse um pouco. Realmente havia amado a mulher com quem se casou, e sofreu com a sua perda. Mas ainda tinha Jasmine para consolá-lo.
Hn. – foi tudo o que Harry respondeu. Não estava com vontade de ser falso e dizer que sentia muito, quando na verdade não sentia nada. Não conheceu a mulher, não poderia sentir pela morte de uma desconhecida. Olhou mais uma vez para o relógio.
Parece que você está com um pouco de pressa. – atestou Duda, pois já era a terceira vez que Harry via as horas nos últimos cinco minutos.
Eu tive um dia cheio, tudo o que eu quero é ir para casa e relaxar… isso se alguém aparecer. – resmungou.
Desculpe a demora. – a voz familiar soou perto dele e rapidamente Harry levantou-se, ficando frente a frente com Dallas.
Finalmente! Eu estava indo embora sem você.
Desculpe, mas demorou mais do que eu planejei. Clarisse não conseguiu terminar a contabilidade a tempo, parece que teve uma briga com Severo… de novo. Ele descobriu que a Cathy anda namorando o…
Certo, certo, certo, me conte quando chegarmos em casa… - falou, segurando no braço dela, mas Dallas percebeu que o marido não estava sozinho, por isso não moveu um passo, enfurecendo Harry que tudo o que queria era ir embora.
E quem são os seus amigos, Harry? – perguntou em um tom suave e inocente e Harry estreitou os olhos verdes para ela, em clara indicação de que não estava disposto a brincar. Dallas apenas ergueu as sobrancelhas, exigindo uma resposta dele.
Esses são os Dursley. Petúnia, Duda, Jasmine, – falou. –essa é a minha esposa, Dallas. Agora se nos dão licença… - mas Dallas ainda não se moveu e Harry estava pronto para cometer um homicídio diante da teimosia da mulher.
Sra. Dursley. – falou cortês, estendendo uma mão a Petúnia, que a recebeu com um pequeno sorriso, olhando a mulher a sua frente de cima a baixo. Ela parecia no início de seus trinta anos, mas com certeza tinha mais que isso, e os cabelos longos e castanhos desciam a um palmo abaixo do ombro. O rosto era jovial, com pequenos traços de menina, mas os olhos mostravam a experiência de uma mulher. Era bonita a esposa de seu sobrinho e, aparentemente, jovem, notou.
Petúnia, por favor. Me chame de Petúnia. Você me parece bem jovem. – falou, ainda sorrindo e Dallas deu uma pequena gargalhada.
Oras, obrigada. Aposto que não diria isso se me visse ao lado de Evan. Se bem que tem gente que acha que eu sou a irmã dele. Uma honra para uma mulher saber que está bem conservada. – brincou e Petúnia piscou um pouco, curiosa.
Quem é Evan? – Harry virou-se para a tia, respondendo rapidamente.
É o nosso filho mais velho. – depois se virou para Dallas. –Vamos embora amor, eu quero ir para casa. – pontuou cada palavra, indicando que estava mais do que disposto a dar o fora dali. Mas Dallas parecia não ceder facilmente. Ela parecia estar resolvida a fazer Harry se entender com a família. Mesmo que eles não tenham sido os parentes perfeitos, ainda sim mereciam uma segunda chance. E ela poderia ver nos olhos de Petúnia a culpa e o pedido de perdão, com certeza a mulher verdadeiramente se arrependia de tudo o que fez ao sobrinho. Porém Harry ainda parecia muito ferido para poder perceber isso. Talvez a sua avó tivesse que tomar algumas lições com Petúnia Dursley, que procurou o sobrinho sem segundas intenções. Porque ela duvidava muito que Amélia Winford tenha vindo atrás dela porque sentia saudades da neta.
Verdade? – falou a mulher mais velha e Dallas sentou-se na cadeira vagada por Harry, que não teve outra opção a não ser sentar-se ao lado da esposa. –Quantos anos ele tem?
Dezessete. – respondeu a boticária, com um grande sorriso orgulhoso. Sempre ficava boba quando era para falar de seus filhos. Os três eram os seus pequenos tesouros.
Ah que maravilha. Deve ser um belo jovem, não é mesmo? – Petúnia falou excitada por saber um pouco mais sobre a vida do sobrinho, que não parecia feliz por ter sido obrigado a ficar ali na companhia deles. –Mas você disse que ele era o mais velho, vocês têm outros? Harry?
Temos um casal de gêmeos de quatorze anos, não é querido? – Dallas virou-se com um olhar duro para Harry, tentando fazê-lo se integrar. Nunca tinha conhecido um homem tão teimoso quanto ele. Mas o que ela poderia esperar de alguém que só a tinha notado como mulher quando ela resolveu arrumar um namorado? Deu um risinho discreto. Até hoje Harry e Davon não se entendiam, ainda mais que Davon ainda insistia em provocar Harry. Ainda se lembrava do ataque que o marido teve quando ela sugeriu que o médico fosse o padrinho de Evan. O auror ficou de bico durante o batizado inteiro do garoto.
Pois é. – respondeu desgostoso. Duda também parecia não estar feliz em ficar na companhia do primo, mas fazia o que fazia para poder não contraria a mãe, que já sofreu muito tendo que batalhar contra um câncer e vencendo, por fim. Observava alheio a conversa da esposa de Harry com Petúnia, olhando com interesse as feições dela. Tinha algo de familiar naquela garota. Já havia visto aquele rosto antes, mas onde? Continuou buscando na memória até que rapidamente se lembrou. Uma vez vira com a sua mãe um programa sobre as maiores famílias influentes e ricas da Grã-Bretanha e os seus herdeiros. O nome Winford pipocou em sua cabeça, recordando que a herdeira da maior fortuna do país tinha desaparecido. O nome da garota era Dallas… e havia mostrado uma foto dela de como ela seria mais velha. E seria bem parecida com essa mulher.
Você é parente dos Winford? – perguntou subitamente, interrompendo a conversa das suas mulheres. Dallas ficou pálida.
Como?
Juro que já vi o seu rosto na tv. Você é Dallas Winford, não é? Aquela que sumiu do mapa quando tinha dezessete anos. Boatos dizem que você fugiu para se casar com um rapaz que a sua família não aceitava. Estou certo? – bem, Dallas pensou, não eram bem boatos. Essa história da fuga seu pai tinha dado a imprensa para ninguém mais ficar se perguntando onde a mulher tinha se enfiado.
Eu não fugi para casar com ninguém. Como você vê, sou como o seu primo… diferente. Apenas fiz uma escolha entre voltar para a minha vida fútil e sem graça, ou ficar com o homem que eu amo. Só isso.
Sei… Mãe acho melhor irmos, já está ficando tarde. – falou Duda, tirando algumas libras da carteira e colocando sobre a mesa.
Claro, claro. Harry, querido… - Petúnia remexeu em algo dentro de sua bolsa e estendeu para Harry. -… estaremos comemorando o aniversário de Jasmine dentro de algumas semanas, gostaria que você aparecesse. Toda a sua família está convidada. – estendeu o convite a ele, mas o homem não se mexeu. Foi Dallas que tomou o convite das mãos de Petúnia, dando um sorriso a ela.
Pode deixar que faremos de tudo para poder comparecer, obrigada pelo convite Sra. Dursley. – disse com um sorriso, dando um aceno de despedida quando a família começou a se afastar. Assim que eles estavam longe o suficiente, Harry ergueu-se de sua cadeira e começou a caminhar para o estacionamento do shopping. Dallas o seguiu a alguns passos de distância, porque percebia que o marido estava se segurando para não explodir de raiva. E quando Harry deixava as emoções fortes o dominar, geralmente sua magia se descontrolava. Já poderia esperar uma bomba quando chegassem em casa, ah se podia.
E como Dallas havia previsto, mal eles colocaram os pés em casa e ela fechou a porta, Harry explodiu, gritando e gesticulando de modo nervoso. Com certeza todos os vizinhos deveriam estar ouvindo o homem nesse momento.
Precisava dar a biografia da minha vida para ela! – apontou um dedo furioso para o nariz da mulher e depois lhe deu as costas, começando a andar de um lado para o outro na sala.
O que eu fiz? Eu não disse nada demais. – Dallas respondeu displicente, tirando o casaco e o colocando sobre o sof� ao lado de sua bolsa.
Não fez nada? Quantos filhos você tem Harry? Ah, nós temos o Evan e os gêmeos. – escarneceu com uma voz em falsete. –Por que não disse a ela que sou um auror? Ou então que sou o herói do mundo mágico? Com certeza ela vai ficar tão orgulhosa. Melhor! Mostre a ela a fita do nosso casamento. Ela vai chorar, aposto! – disse sarcástico, passando uma mão pelos cabelos revoltos.
Eu não vejo qual é o problema de contar para a sua tia o que você andou fazendo nos últimos anos. Ela está interessada, quer saber. Ela se preocupa com você, Harry. – falou em um tom calmo, não se deixando abalar pela irritação do marido, e soltou um suspiro quando um vaso do canto da sala levitou alguns metros do chão e depois atravessou a sala em alta velocidade, chocando-se contra a parede e se espatifando. Ainda bem que era um vaso que ela havia comprado em uma feira de artesanatos em Hogsmeade. Não valia muito.
Meio tarde para começar a se importar comigo, não acha? Na verdade, ela está uns trinta anos atrasada! E para mim não passa de fofoca da parte dela.
Oras Harry, que absurdo. Eu pude ver nos olhos dela que ela realmente se sente culpada. E você não está olhando o lado da sua tia aqui, está apenas olhando o seu lado.
Verdade? – falou sarcástico. –Então está bem. Você também não está olhando o lado da sua avó aqui, Dallas, apenas o seu lado. Por que não faz com a sua avó o mesmo que está fazendo comigo?
O meu caso é diferente. – sibilou a mulher, não gostando do fato de o homem ter metido o seu problema no meio da conversa, quando eles estavam falando sobre ele. –A sua tia se sente culpada por não ter cuidado de você direito, isso sim.
Aquela mulher não tem coração. É uma invejosa, sempre foi, por isso tratava a minha mãe tão mal.
Como você pode ter certeza? Por acaso você sabe como foi o relacionamento da sua mãe e da sua tia? Talvez ela sentisse ciúmes de Lílian porque ela era especial, mas isso não quer dizer que ela não pudesse amar a sua mãe.
Se amasse não me trataria do jeito que me tratou por dezesseis anos.
Oras, talvez ela estivesse apenas transferindo a culpa para você. Você é parecido com o seu pai, talvez ela estivesse descontando a dor dela em você. Por ter perdido a irmã para o seu pai ou algo parecido, já pensou nisso? Acontece! E agora ela se arrepende e quer se redimir. Se ao menos você desse a ela uma chance…
Chance? CHANCE? Eu não vou dar porra de chance nenhuma para ela.
HARRY! Não seja tão cabeça dura. Não seja tão duro. Está ficando insensível Potter. E não foi com esse homem com quem eu me casei! – repreendeu, cansada da teimosia do moreno. Harry deu dois passos à frente e segurou o braço dela com força, murmurando em um tom ameaçador perto do rosto dela.
Foi com este homem com quem você se casou. Se não gostou, o problema é seu. E se está tão disposta a fazer com que eu me entenda com os meus tios, você deveria começar dando o exemplo e fazendo o mesmo com a sua avó.
Não seja ridículo! – soltou-se da mão dele, também ficando furiosa. –Já disse que são casos totalmente diferentes. Tudo que a sra. Winford faz é para o seu bel prazer. Se ela apareceu depois de anos é porque quer alguma coisa, e não apenas uma reconciliação. Não vou dar segunda chance a uma velha egoísta que só se importa com o dinheiro. Pode esquecer!
Então não se intrometa na minha vida, você não tem esse direito! – gritou irritado, mas notou que foi um erro no momento que viu os olhos exóticos dela escurecerem intensamente.
Pensei que eu tinha esse direito. Pensei que tínhamos uma vida em comum desde que trocamos os votos de casamento. Parece que eu me enganei, não é mesmo? – falou seca, recolhendo sua bolsa e casaco do sofá e sumindo casa adentro. Harry ainda pensou em segui-la, mas quando ouviu a porta do quarto ser fechada com um grande estrondo, desistiu da idéia. No máximo jogou-se no sofá e esfregou o rosto com as mãos, soltando um longo suspiro. Era apenas a família deles aparecer que um casamento perfeito de mais de dez anos desandava. E isso com certeza era frustrante.
Alexei olhou com interesse para a foto que tinha nas mãos, o registro visual dos agentes da Ordem da Fênix. Reconheceu Harry Potter, Hermione Granger e Ronald Weasley. Draco Malfoy, professor Snape e Black, diretor Dumbledore entre outros na imagem, se movendo e sorrindo, acenando e discutindo na fotografia. Desceu os olhos observando alguns agentes mais novos, que estavam com o uniforme de Hogwarts. Viu uma garota de olhos azul-violeta com o uniforme da Sonserina, e que era muito parecida com Day. Será que era a mãe dele? Poucas vezes vira a sra. Potter ao vivo e essa menina se parecia com ela. Talvez era a mãe dele, já que havia uma Dallas dentro da Ordem.
A porta da sala se abriu, tirando o rapaz de seus devaneios. Day entrou no local ainda vestido com o uniforme de quadribol. Os cabelos estavam revoltos por causa do vento e o rosto estava rubro diante do exercício. O russo não conseguiu segurar um pequeno sorriso. Ele estava igual ao dia em que os olhos do sonserino captaram a presença do grifinório, durante um jogo de quadribol.
Queria falar comigo? – perguntou o garoto, jogando-se em uma cadeira e soltando um suspiro cansado. Alan estava matando a todos de tanto treinar, com certeza para descontar a frustração diante do fato de que Snape descobriu o namoro dele com Catharine. Sinceramente, ninguém da escola entendia como esses dois conseguiram esconder o relacionamento do professor mais astuto que eles conheciam. Todos em Hogwarts sabiam do caso da Snape com o Longbotton, menos o professor de Poções. Aqueles dois mereciam um prêmio.
Sim… Escuta! Essa daqui não é a sua mãe? – falou o rapaz mais velho, apontando para a jovem na foto. Day olhou para a pessoa apontada e piscou um pouco, reconhecendo a sua mãe durante a adolescência.
É ela mesma. Não sabia que ela fez parte da Ordem. Quero dizer, o nome dela não está na lista de integrantes.
Bem, sua mãe não se chamou Potter a vida inteira, deve estar com o nome de solteira. Qual era o nome dela antes de se casar? – o moreno parou pensando sobre a pergunta. Qual era o nome da sua mãe antes de se casar? Não sabia. Bem, qual era o nome do seu avô Albert?… Também não sabia. Sua mãe e seu avô nunca tinham falado seus sobrenomes para ninguém. Era como se escondessem algo.
Bem… só existiu uma Dallas na Ordem, eu acho. – disse, tirando do bolso os distintivos que tinham achado da primeira vez que visitaram a sala da Ordem. –Aqui. Dallas Winford.
Winford? – Alexei franziu a sobrancelha. Lembrava desse nome do diário de seu avô, antes de ele conseguir ser pego pelo Ministério. Talvez fosse bom dar uma relida naquele livro velho.
Não creio que foi para saber o nome de solteira da minha mãe que você me chamou aqui, não é? O que você quer?
Ah, sim! Bem, já se passou uma semana, é minha vez de ficar com o mapa do Maroto. – falou, estendendo a mão para o jovem. Day olhou para a mão estendida, hesitante se entregava o mapa para ele ou não. Com certeza se Alexei ficasse de posse do mapa faria grandes coisas com ele, quebrando umas duzentas regras da escola, no mínimo.
Não sei… - disse vago, recuando um pouco e se afastando do russo.
Como assim não sabe? Nós tínhamos um acordo Max. Cada semana cada um ficaria com o mapa. Está quebrando o acordo? Logo você, que é um grifinório. Estou te estranhando. – zombou, mas tudo o que o rapaz fez foi estreitar um pouco os olhos em desagrado. Ele tinha um motivo para não querer entregar o mapa, e o motivo era algo que ele viu nesse mesmo pergaminho na noite passada. O nome de Alexei muito próximo ao de uma garota da Corvinal. Na hora não quis admitir, mas agora ele não poderia negar que estava com um certo ciúme. Se tivesse o mapa com certeza o russo iria arrumar lugares mais apropriados para fazer coisas inapropriadas com a corvinal.
E o que você iria fazer com o mapa? – levantou-se da cadeira, afastando-se ainda mais dele. –Procurar cantos mais confortáveis para ficar agarrando a srta. Bloom? – o sonserino captou o tom irritado na voz do outro garoto, mesmo que ele estivesse de costas, e sorriu um pouco.
Está com ciúme Potter?
Ah, por favor. Por que eu iria ter ciúme de você? – disse Day, voltando-se para o rapaz mais velho.
É o que me parece. Além de me parecer que você andou me espionando.
Mentira. Vi por acidente. Estava apenas pesquisando um pouco mais sobre o mapa.
Sei… então eu confesso. Quero o mapa para encontrar lugares mais privados para eu e a srta. Bloom não sermos incomodados. – provocou, estendendo novamente a mão para o grifinório, indicando que queria o pergaminho mágico.
Okay então! Toma esse mapa e faça bom proveito dele. – resmungou Day, tirando o mapa do bolso e estendendo a Alexei, que segurou o pulso estendido, levantando-se ao mesmo tempo em que puxava o garoto menor para perto de si.
Você está com ciúmes. – atestou com um sorriso, pressionando Day contra o seu corpo, ainda o segurando pelo pulso, enquanto que com a outra mão livre acariciava a bochecha rosada do jovem.
Não estou com ciúme. Apenas acho estranho… você diz que está afim de mim, mas fica agarrando outras por aí.
Você não quer que eu fique no celibato até você resolver o que quer da vida, não é?
Bem… - o moreno corou, abaixando um pouco o rosto e Alexei sorriu, achando uma graça o modo como ele ficava envergonhado facilmente.
Ah que fofo, parece até um bichinho de pelúcia. – escarneceu e Day rapidamente soltou-se da mão do rapaz, olhando irritado para ele.
Bichinho de pelúcia? – disse em um sibilo. Já estava começando a perder a paciência com esse povo que achava que ele era… fofo. Não era mais uma criança de quatro anos para ser considerado fofo. –Toma! – pegou a mão de Alexei e bateu com o mapa nela, antes que perdesse a sua paciência com essa história dele ser fofo. Quando é que as pessoas parariam de vê-lo como uma coisa bonitinha que dava vontade de apertar as bochechas? Ele era um adolescente, por Deus! Até Alexei achava ele fofo, que coisa irritante.
Espera, Max! – o russo o segurou pelo pulso novamente, impedindo que ele fosse embora, enquanto dava uma curta risada. O carneirinho da grifinória não gostava de ser chamado de fofo, que interessante. Mas ele não poderia negar que cada vez que ficava vermelho de vergonha, diante das coisas mais bobas, ele ficava fofo.
O quê? Vai me chamar de bichinho de pelúcia de novo? – perguntou chateado. Sabia da fama que tinha e do apelido que tinha recebido das outras casas. O Carneirinho da Grifinória. Era enervante. Estava começando a ter ímpetos de bater em alguém e mudar essa história.
Não pude evitar, mas você fica bonitinho quando envergonhado. – disse dando um grande sorriso.
Bonitinho? Até outro dia você estava me achando sexy. – Day soltou-se novamente da mão dele e deu um sorriso enviesado, cruzando os braços sobre o peito. –Mudou de idéia? – sussurrou em um tom rouco e Alexei quase arregalou os olhos surpreso. Era só apertar os botões certos e as atitudes de Day mudavam completamente. Ou talvez ele só quisesse provar um ponto aqui.
Não, não mudei. – respondeu, querendo saber até onde o rapaz conseguiria chegar com aquela postura. Sabia que não era da personalidade de Day agir desse modo, ou era? –Mas parece que você está disposto a fazer com que os outros mudem de idéia ao seu respeito.
Acha que eu não sei o apelido que tenho? Carneirinho da Grifinória. Enervante!
Bem, dizem que alguns gêmeos são extremamente opostos um ao outro… Hannah está longe de ser um carneirinho… Agora você…
O que eu tenho que fazer para as pessoas pararem de pensar que eu sou um imbecil? Até você acha que eu sou um imbecil!
Eu nunca disse isso.
Mas com certeza pensou! Será que vou ter que virar um galinha como você… ou… ou… ficar em inúmeras detenções como a minha irmã… perder a paciência sempre como o Evan… ou o quê?
Para mim você não precisa provar nada… está bom do jeito que está… fofo desse jeito. – provocou, querendo saber até onde ele iria. Day poderia não ter percebido, mas ele era tão explosivo quanto Hannah, apenas precisava saber ser pressionado. E quando ele ficava furioso… aí sim ele ficava… sexy.
Fofo? – rosnou. O tom que o sonserino falou era como se estivesse conversando com uma criança. –Eu vou te mostrar quem é o fofo. – o rapaz deu duas largas passadas e segurou na gola da veste de Alexei, o puxando bruscamente e esmagando os lábios dele com os seus. O russo nunca ficou tão surpreso em toda a sua vida. Fazia tempos que queria que o jovem Potter tomasse uma atitude. Não sabia que deixá-lo irritado o faria ganhar um beijo. Empurrou todo esses pensamentos para o fundo de seu cérebro e aproveitou o momento. O garoto o estava beijando e não era hora de ficar filosofando sobre isso. Passou os braços pela cintura do grifinório e colou seus corpos, não deixando espaço nem para o ar passar. Pediu passagem com a língua para dentro da boca do rapaz, ambos travando uma batalha de liderança. Estavam tão entretidos com aquela disputa de forças que nem viram que coisas "estranhas" estavam acontecendo a sua volta, como o fato de as carteiras estarem levitando e rodando ao redor deles. Quando Day finalmente percebeu o que estava fazendo, afastou-se chocado de Alexei, não acreditando que tinha beijado o garoto. Na mesma hora as carteiras caíram com um baque barulhento no chão de pedra, mas o jovem de olhos violetas estava muito surpreso para notar isso. Rapidamente virou-se e saiu às pressas da sala, mais confuso do que nunca.
Tudo que Alexei conseguiu fazer foi se sentar, com as pernas bambas, na cadeira mais próxima, tentando organizar seus pensamentos. Quem era aquele garoto que acabou de sair da sala? Será que aquele era o verdadeiro Day? Se fosse, teria que dizer a ele que aquilo foi um senhor beijo, e que com certeza iria conseguir outro, custe o que custar.
