Estava nervoso e isso era totalmente ridículo. Nunca se sentira nervoso desde que se conhecia como gente. Mas lá estavam as suas pernas, trêmulas, como o restante do seu corpo. Seu coração batia contra o seu tórax e ele achou que já tinha quebrado pelo menos umas duas costelas no caminho para a torre oeste. Levou a mão à maçaneta da porta de entrada da torre, a abrindo com um rangido. Observou a escadaria que levava ao alto do lugar que ficava a céu aberto. Deu uma inspirada profunda de ar e forçou as suas pernas traidoras a subirem os degraus.
Os minutos se passaram como horas durante o seu percurso até o alto da torre, até que finalmente chegou ao seu destino, sendo recebido pelo vento gelado que a altura provocava. Procurou pelo outro ocupante do local e a sua respiração parou quando viu o jovem encostado no parapeito de pedra, sendo iluminado pela lua cheia, olhando por cima do ombro os jardins escurecidos da escola. Deu um passo à frente e, como se tivesse sentido a sua presença, os olhos exóticos voltaram-se em sua direção. Sentiu-se tentado a dar um sorriso malicioso mas no momento não estava com energia para isso. De duas a uma, ou arrumaria um namorado essa noite ou levaria o maior fora da sua vida.
"Maxwell…" - falou em um sussurro, suas palavras quase sendo levadas pelo vento. O jovem desencostou-se do parapeito e caminhou a passos lentos até ele, parando poucos centímetros a sua frente.
"Se eu te der uma chance, Yatcheslav, você me promete que eu não vou me arrepender?" – o tom era firme mas o sonserino podia ver a insegurança naquele rosto que a cada dia perdia os traços infantis.
"Se você está me perguntando se eu vou te amar com todas as minhas forças…" - deu um sorriso, se achando o cúmulo da pieguice. Como ele tinha ido parar na Sonserina se perto desse garoto começava a agir como um lufa-lufa apaixonado? Mas Day merecia, com certeza merecia.
"Não sei se acredito que você realmente me ama…" - aquilo foi um soco na boca do estômago do rapaz mais velho. -… mas acredito que você sente algo por mim. Se não sentisse, não estaria arriscando a sua reputação nisso.
"Minha reputação?"
"Bem… quando os outros descobrirem que você é…" - não conseguiu dizer a palavra, mal conseguia se classificar assim, apesar de no momento seu coração estar batendo mais forte por um garoto. Alexei resolveu o seu problema completando a frase por ele.
"Gay? Bem, creio que a minha orientação sexual só interessa a mim. E você? Tem medo?"
"Eu… nem sei se sou… gay." – disse e corou fortemente.
"Certo… vamos colocar nesse patamar, para ver se eu te ajudo na sua indecisão. Você se sente atraído por mim?" – perguntou, dando um passo à frente e Day abaixou o rosto, dando um aceno positivo com a cabeça. –Você se sente atraído por algum outro garoto? – continuou e sentiu uma possessividade o apoderar em pensar que o menino poderia estar atraído por outro. Day deu um aceno negativo a essa pergunta e Alexei sorriu. –Quando você está perto de mim, o que você gostaria de fazer? – falou, dando mais um passo a frente e o grifinório podia sentir a respiração quente do outro em seu rosto.
"Eu…" - começou, ficando ainda mais vermelho e se detestando por isso. Era por isso que os outros achavam que ele era um fraco. Enquanto os seus colegas já falavam de meninas e outras coisas mais impuras nos vestiários, ele ainda ficava vermelho por ouvir essa coisa toda. Deveria tomar vergonha na cara, isso sim. Era um adolescente, por Merlin! Era ridículo estar se sentindo assim, quando, depois de tudo que ele já ouviu, já sabia quase tudo o que precisava saber… na teoria.
"Day?"
"Eu…" - respirou fundo e levantou a cabeça com um olhar firme e decidido. –Eu tenho vontade de te beijar e de correr as minhas mãos pelos seus cabelos, pela sua pele, te provar, saber como é ser abraçado por você, como é ter as suas mãos em meu corpo e… - à medida que ia falando ia ficando mais vermelho, mas mantendo os olhos no rosto de Alexei e vendo os orbes amêndoas ficarem negros. -… que você goste de mim. Mas do modo como eu sou. Não me trate como se eu fosse feito de… vidro.
"Você não é feito de vidro." – Alexei se aproximou ainda mais, abaixando com as pontas dos dedos o colarinho da fantasia do garoto e dando um beijo na pele exposta, que se arrepiou com o frio da noite. Day fechou os olhos diante do toque e tombou um pouco a cabeça para o lado para dar mais acesso ao rapaz. –Você é forte, decidido, belo… - o russo ergueu-se, olhando para o garoto que tinha o rosto rubro e os olhos fechados. Viu os orbes violetas se abrirem e o mirarem com desejo brilhando no fundo deles. -… só precisa deixar as pessoas verem isso.
"Como?" – perguntou num ofego, não entendendo o que o outro estava dizendo.
"Eu sei que você esconde muitas coisas, Max." – murmurou perto dos lábios vermelhos. –Eu sei que você só deixa as pessoas verem aquilo que você quer que elas vejam. Por quê? Por que disso Max?
"Porque… eu sou diferente." – retrucou, os olhos fixos nos lábios do rapaz mais alto.
"Como assim diferente?"
"Apenas… diferente." – não quis se prender nesse assunto porque ele era muito mais complicado do que parecia ser. Day sabia que era diferente dos outros bruxos, sentia que havia algo diferente nele, mas não sabia dizer o que e tinha medo de pedir ajuda e descobrir que era algo grave, o que faria os outros serem ainda mais super protetores. –Mas você ainda não respondeu a minha primeira pergunta. – falou, fechando novamente os olhos quando sentiu os lábios do outro roçarem contra a sua bochecha, trilhando um caminho de suaves beijos pelo seu rosto.
"Que pergunta?"
"Se eu te der uma chance, Alexei, eu não vou me arrepender? Você vai estar sempre comigo? Eu descobri que… gosto de estar com você." – disse em um ofego quando o sentiu morder o lóbulo da sua orelha.
"Eu prometo." – respondeu, roçando os seus lábios sobre os dele e ganhando um leve gemido como resposta. Capturou o lábio inferior entre os seus dentes, o sugando suavemente, roçou mais uma vez a boca sobre a dele e por fim o beijou, passando a língua sobre os lábios de Day, pedindo entrada e sendo concedido, enquanto as línguas começavam a travar um duelo dentro das bocas. Day ergueu os braços, derrubando o chapéu gasto, que foi levado pelo vento e rolou pelo chão da torre, mas eles nem notaram. O grifinório afundou os dedos no cabelo castanho enquanto Alexei segurava com uma mão a cabeça do moreno, passando o braço pela cintura dele e o puxando para mais perto de seu corpo, aprofundando o beijo, gerando gemidos, vagando com as mãos pelo corpo dele. Atendendo todos os desejos de Day naquela noite.
Cruzou as pernas sobre a mesa, inclinando um pouco a cadeira para trás para poder observar pela janela a neblina que descia à medida que a noite avançava. Deveria estar andando pelos corredores, fazendo a ronda, garantindo que os alunos que saíram do baile de dia das bruxas não estivessem esticando a noite por aí, arrumando cantos para namorar. Mas não estava disposto a mostrar a sua cara fora da sala de aula. Foi a piada do dia desde que levou aquela pequena surra da Maya. Alunas vinham mostrar a sua piedade ao professor preferido, fazendo caras e bocas condoídas quando viam a tala no braço machucado dele. Alunos davam-lhe tapinhas nas costas e balançavam a cabeça, desapontados com a humilhação do Maroto. E Snape estava tendo o seu dia de glória, sempre dando um sorriso escarninho quando passava por ele. Era o fim, se o seu velho companheiro, Tiago, visse isso ficaria completamente desapontado. Ele, Almofadinhas, que já foi sinônimo de dor de cabeça e terror para professores e alunos no passado foi derrubado por… uma fedelha.
"Está ficando velho vira-lata." Ele quase poderia ouvir a voz risonha de Tiago lhe dizer isso ao pé do ouvido.
"Cala a boca." – grunhiu mal humorado por ter perdido a festa por causa do seu orgulho ferido e pela dor em seu braço. Ela quase o quebrou. Quem pensaria que um pacote tão pequeno teria tanta força? Se bem quê, Dallas também aparentava ser frágil, mas tinha uma esquerda potente. Os ex-colegas de casa dela que o digam.
A porta da sala se abriu e uma figura passou por ela. Ainda estava fantasiada devido à festa. Seu vestido branco descia justo até o meio das coxas, uma meia ¾ branca faziam par com o sapato de salto, também branco. Os cabelos negros destoavam àquela clareza toda. E asas pequenas despontavam nas costas enquanto uma aréola encantada ficava flutuando sobre a cabeça dela.
"Estou atrapalhando?" – a voz ecoou na sala silenciosa e Sirius soltou outro grunhido. O que ela queria, esfregar mais na sua cara a vergonhosa derrota?
"O que você quer?" – disse azedo e a jovem ergueu uma sobrancelha, fechando a porta atrás de si e caminhando até o homem na mesa. Num pulo sentou-se no móvel e cruzou as pernas, começando a balançá-las para frente e para trás. Ficaram em silêncio por um longo tempo até que Maya começou a falar.
"Por que você não foi à festa? Foi divertido. Catharine Snape foi com uma roupa que quase deu um enfarto no velho mestre de poções." – falou no intuito de animá-lo, mas o rosto do animago continuou fechado. Soltou um suspiro e tirou a asa das costas e a aréola de cima da cabeça, as deixando de lado e deitando-se ao longo da mesa, olhando por cima das mechas negras do cabelo o homem sentado atrás de si. –Ainda chateado por causa da surra que lhe dei? Não aceita uma revanche Black? Você me deu um susto… eu te dei outro.
"Você quase quebrou o meu braço." – rosnou entre dentes, ignorando o modo felino como a garota se remexia sobre a sua mesa.
"E você quase me deu um ataque com aquele bicho-papão. Não acha que estamos quites?" – virou-se na mesa, apoiando-se nos cotovelos para poder olhar o homem de frente. –Vamos, seja mais esportivo, você também me humilhou em público. Agora estamos igualados. Paz? – perguntou, estendendo uma mão para ele. Sirius olhou a mão estendida de modo desconfiado, como se fosse levar um choque se a tocasse. Mirou seus olhos no rosto da garota que sorria suavemente para ele. Hesitante estendeu a mão boa para ela e se cumprimentaram, selando um acordo de paz.
"Agora me deixe ver isso!" – ainda segurando a mão dele, ela girou sobre o próprio corpo, sentando-se de frente para ele, pegou o outro braço e observou a tala que tinha nele. –Madame Pomfrey não curou o seu braço? – perguntou, percebendo que Sirius tinha ficado tenso sob o toque dela. Duas coisas ele tinha sentido, um arrepio diante do toque leve como uma pena e apreensão por ela terminar o que tinha começado e quebrar o seu braço de vez.
"Ela disse que não era necessário curar por magia já que o ferimento não era grave. Me passou umas pomadas e falou para não usar esse braço por um tempo. E onde foi que você aprendeu a brigar daquele jeito?" – ela sorriu inocentemente, colocando o braço ferido novamente sobre a coxa dele.
"Meu pai. Esqueceu que tenho origem oriental?" – respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. –Bem, eu só vim aqui para ver como você estava. – falou, pulando da mesa e pondo-se em pé na frente dele. –Boa noite Sirius. – inclinou-se para dar um beijo de boa noite na bochecha dele e novamente o homem ficou tenso. Ela ignorou isso e prosseguiu com o beijo, atentando ao fato de que a mão dele, por reflexo, prendeu em seu pulso. Afastou-se devagar e quase poderia se ver refletida nos olhos claros do ex-prisioneiro, de tão próximos que estavam.
"Maya…" - sussurrou o homem, aproximando-se mais dela. Maya estacou no lugar, com a respiração suspensa e os olhos largos quando sentiu os lábios dele sobre os seus. Ficou totalmente sem reação. Era um sonho se realizando, e ela já tinha desenhado essa cena milhares de vezes na mente. Mas agora que realmente estava acontecendo, não sabia o que fazer. As pálpebras fecharam, escondendo os olhos dourados, e ela relaxou, deixando-se ser levada pelo beijo e abrindo levemente os lábios para permitir passagem à língua quente dele. Seus joelhos ficaram fracos e a jovem perdeu o equilíbrio, caindo sobre o colo de Sirius que bruscamente se afastou, soltando um pequeno grito. –Ouch! – em um pulo Maya se afastou dele com uma expressão assustada enquanto o via segurar o braço ferido.
"Oh meu Deus! Foi sem querer, Sirius. Juro que foi sem querer." – disse trêmula diante do beijo que recebeu. Claro que não foi um beijo cinematográfico, não a fez ver estrelas nem nada semelhante. No máximo deu aquele friozinho no estômago e fez seus joelhos ficarem trêmulos. E, como sempre, ela tinha que estragar tudo com a sua falta de jeito.
"Maya!" – falou o moreno com uma voz firme, segurando novamente no braço dela e a trazendo para o seu colo, dessa vez tomando o cuidado de tirar o braço ferido do caminho. –Cala a boca. – ordenou em um tom suave e a garota arregalou os olhos, pronta para protestar, pois ninguém lhe mandava calar a boca, quando novamente ele a beijou. Será que Sirius estava fumando algum antes de ela chegar? Porque ele a estava beijando, a mulher que ele chamava de desastre ambulante. E como ele beijava bem. Cansou de fantasiar com as amigas em como seria estar nos braços do professor Black. Cansou de divagar na aula dele, o observando com olhos apaixonados o modo como ele se movia na frente da sala como se o lugar o pertencesse. Um dos motivos de ter aceitado a vaga de aprendiz em Hogwarts foi para poder voltar a ver o homem que estrelou todos os seus sonhos adolescentes. Achava que agora, adulta, ele a olharia. Mas quando nos primeiros dias eles se mostraram gênios incompatíveis, pensou que nunca conseguiria o que queria. Mas agora estava ela aqui, beijando o homem mais cobiçado da escola. Realmente, mesmo que não tenha nascido com o traseiro virado para a lua, hoje estava com uma baita sorte. E iria aproveitar.
Seus sapatos, por tudo o que era mais sagrado, não ecoavam nos corredores. Porque se ecoassem com certeza ele já teria acordado metade do castelo. Botas com sola de borracha foi a melhor criação do homem diante do chão de pedras e jovens apressados. Subiu as escadas moventes, pulando de dois em dois degraus. A capa negra da fantasia enrolada sob o braço, o cabelo em desalinho, alguns botões dourados do casaco aberto, o rosto corado. Era a personificação da pressa. Alcançou o topo da escadaria e parou um pouco, dobrando o corpo e apoiando as mãos nos joelhos, recuperando o ar. Os primeiros raios de sol entravam pelas grandes janelas refletindo em seus cabelos negros. Ergueu-se e inspirou profundamente, deixando o ar frio da manhã entrar em seus pulmões. Voltou a correr feito um louco. Se não chegasse na torre da Grifinória antes do seu irmão acordar o time de quadribol estaria desfalcado no fim do dia.
Vinte minutos de intensa correria desde a torre oeste e Day finalmente se encontrou em frente ao quadro da mulher gorda, ofegante e totalmente desarrumado. A pintura piscou um olho sonolento para ele, dando um longo bocejo e olhando de cima a baixo o jovem na sua frente. Era um Potter, não poderia negar. A mulher perdera as contas de quantas vezes teve que ceder passagem, a altas horas da noite, para o pai desse menino. Mas ela nunca, nunca mesmo viu Harry Potter voltar ao amanhecer para a torre, depois de passar a noite fora. Mas já tinha visto isso acontecer com Tiago. Bons tempos. Pensou nostálgica, vendo três gerações de uma mesma família dentro daquela escola, todas com a mesma mania de ficar andando pelos corredores fora da hora.
"Divertindo-se até tarde querido?" – perguntou a pintura e Day ficou escarlate quando percebeu o duplo sentido daquela frase. Se a mulher soubesse.
"Alguém já acordou?" – falou em uma inspirada de ar e viu a pintura dar de ombros.
"Além de mim? Não sei. Senha, por favor?"
"Hamlet!" – o quadro abriu passagem e o rapaz entrou vagarosamente na sala, olhando a sua volta à procura de algum sinal de vida. Andou alguns passos, tirando no meio do caminho as suas botas para pisar o mais silenciosamente possível. Quando estava finalmente alcançando as escadas do dormitório, seu coração quase saiu pela boca com o grito.
"DAY!" – o mencionado virou-se bruscamente, empalidecendo quando viu Evan parado perto da lareira com os braços cruzados sobre o peito, o uniforme impecável no lugar, batendo um pé no chão e com uma cara bem contrariada. O rapaz mais velho andou até o irmão caçula, parando a alguns passos de distância dele, e o olhou de cima a baixo. Reparou nas roupas desalinhadas, como se ele as tivesse vestido as pressas, na face corada pela correria, no peito arfante e nos olhos largos, como se tivesse sido pego durante uma travessura.
"Evan?" – murmurou atônito, olhando para o relógio da torre. Sete horas em ponto. O que inferno o seu irmão estava fazendo acordado às sete horas da manhã? –Caiu da cama? – tentou uma brincadeira para disfarçar o fato de que o seu coração estava vindo à garganta.
"Quem disse que eu dormi?" - rebateu o outro, segurando o braço do irmão e o puxando em direção aos sofás, o fazendo se sentar e ficando de pé em frente a ele. Day quase rolou os olhos. Lá vinha um sermão. –Você desapareceu Maxwell! – ops, estava chamando pelo nome do meio. Somente o seu pai, dentro da família, lhe chamava pelo nome do meio. Isso não era nada bom. –E eu ouvi umas coisas bem estranhas quando retornei a festa. – os olhos azuis se estreitaram por detrás das lentes pequenas dos óculos.
"Ouviu o quê?" – perguntou o rapaz com o tom mais indiferente que conseguiu impor em sua voz.
"Você, dançando com um menino. Gostaria de me explicar isso?" – Day quase morreu diante do olhar do irmão, que não era nada feliz. Certo que na comunidade bruxa o homossexualismo não era tão mal visto como na sociedade trouxa, mas mesmo assim não era uma coisa divulgada aos quatro ventos. Casais não ficavam se agarrando em público por aí, e ainda havia aqueles que ficavam com o pé extremamente atrás diante do assunto.
"Era uma brincadeira… uma aposta entre um colega e eu. Perdi a aposta, tive que dançar com ele. Coisa nossa." – respondeu muito rápido e percebeu que o irmão apenas tinha engolido parte da história.
"Que colega?"
"Você não o conhece."
"De que casa?"
"Corvinal!"
"Está mentindo para mim, Maxwell?"
"Nunca!"
"E onde você estava até agora?"
"Na… torre oeste."
"Fazendo o quê?"
"Vendo… as estrelas."
"Com quem?"
"Com ninguém."
"E por que só voltou agora?"
"Peguei no sono." – respirou profundamente quando Evan deu uma pausa no interrogatório, não acreditando em como ele conseguiu inventar tantas mentiras em um espaço tão curto de tempo. Será que estava andando muito com Alexei? Deveria ser. Seu namorado era uma má influência. Deu um pequeno sorriso, achando que a palavra namorado para definir Alexei não soava tão ruim assim. Na verdade, em pensar que aquele russo era seu, totalmente seu, fazia um certo calor brotar em seu peito. Será que estava se apaixonando? Talvez.
"Vá tomar um banho e se trocar, você está horrível." – disse Evan quando viu o rapaz dar um longo bocejo. –E nem pense que por causa desse lapso você vai perder as aulas de hoje. Ninguém mandou você dormir ao relento. Se mamãe souber vai ter uma crise. Quer pegar outra pneumonia? – Day levantou-se do sofá, sentindo o corpo todo dolorido agora que o nível de adrenalina havia abaixado.
"Sim papai." – resmungou o garoto, começando a se arrastar para o dormitório. Evan o observou sumir no topo das escadas e deixou-se cair no sofá. Não tinha engolido uma única palavra de Day. Alguma coisa ele estava escondendo e ele tinha a sensação de que não iria gostar nada disso quando descobrisse o que era.
Alexei parou na entrada de sua casa, inspirando profundamente ajeitou um pouco as suas roupas e deu um olhar arrogante para a estátua da entrada, que tinha erguido uma sobrancelha inquiridora para ele. Falou a senha e entrou nas masmorras da Sonserina, não tão cauteloso quanto Day, pois com certeza não tinha que dar satisfações da sua vida a ninguém. Porém, mal terminou de descer as escadas da entrada e alguém o puxou. Numa fração de segundos ele se viu jogado contra uma poltrona, mirando olhos vivamente verdes e brilhantes e que estavam perigosamente perto do seu rosto.
"Potter… "- sibilou para a garota, notando como em nada ela se parecia com o gêmeo. Day, apesar das feições ainda infantis, estava começando a mostrar traços firmes, queixo bem delineado, olhos vibrantes e profundos, lábios vermelhos, não muito carnudos, mas também não muito finos, apenas na medida certa. Hannah era mais suave, como uma bonequinha de porcelana, de expressões delicadas, antagonizando o gênio quente. Às vezes se perguntava se eles eram realmente irmãos, pois pareciam tão diferentes em algumas ocasiões.
"Yatcheslav." – rebateu a garota no mesmo tom malicioso.
"Posso saber o porquê desse ataque? Não sabia que estava atraída por mim." – provocou, mas a menina não recuou um passo. Sonserinos eram os únicos não afetados pela malícia sonserina. Era como um animal venenoso, nunca eram atingidos pelo seu próprio veneno.
"Eu vou fazer uma pergunta Yatcheslav, e é bom que a resposta seja boa." – falou, apoiando os braços na poltrona, ao lado do corpo dele, e se inclinando para poder se aproximar mais ainda do rapaz. –O que você pensa que está fazendo com o meu irmão? – perguntou entre dentes e o russo ergueu uma sobrancelha. Será que se matasse a garota Day ficaria muito chateado? O que ele fazia com o grifinório era problema dele e… do grifinório. Deu um sorriso de lado, imaginando o choque que ela levaria quando soubesse o que ele realmente fez com o amado irmãozinho dela.
"Por que pergunta isso?" – falou de maneira inocente. Os olhos verdes ficaram estreitos, formando uma linha fina.
"Eu vi vocês dois dançando ontem no baile." – retrucou desconfiada. Estava achando essa história do Day com o Alexei mais estranha a cada dia.
"Viu é? Pensei que estivesse muito ocupada babando pelo vocalista da banda ontem." – rebateu malicioso e Hannah ficou um pouco vermelha ao ouvir isso. Quando o Dark's Guide terminou o seu show e o Dj voltou a tocar no baile, Ethan veio conversar com ela, tendo sentido a presença dela durante toda a apresentação perto do palco. Resultado disso? Tinham um encontro marcado no próximo final de semana em Hogsmeade.
"Não mude de assunto russo, por que você estava dançando com o meu irmão?" – pressionou. No fundo tinha uma certa idéia do que Alexei queria de Day. Mas precisava ouvir da boca do colega. Queria saber o quão séria era essa obsessão do sonserino.
"Você quer saber?" – perguntou, inclinando-se mais um pouco para frente, seus narizes quase se tocando. –Quer realmente saber? – perguntou, seus olhos amêndoas ficando tão estreitos quanto os da garota.
"Sim." – respondeu em um sussurro.
"Seu irmão e eu estamos namorando. To afim do seu irmão. É isso mesmo o que você ouviu." – falou quando viu os olhos dela se arregalarem um pouco e ela se afastar.
"Day… aceitou… namorar… com você?" – perguntou chocada. Até ontem Day não estava interessado em ninguém, homem ou mulher. Na verdade, ela chegou até a pensar que seu irmão fosse assexuado. Coisa horrível para se pensar do próprio irmão, mas o garoto já estava na adolescência e parecia tão diferente dos outros da sua idade, que eram movidos a hormônios.
"Bem… depois daquele beijo que ele me deu… e de mais alguns beijos trocados. É, estamos namorando." – falou com um tom meio bobo e sonhador e a garota recuou chocada. Alexei tinha um tombo pelo seu irmão. Isso se a coisa não fosse mais séria. Mas claro que ela jamais arrancaria uma declaração de amor dele.
"Valha-me Deus!" – murmurou, passando uma mão pelos cabelos castanho-mel. Não que ela se importasse com o fato de seu irmão estar namorando um garoto. Mas o fato de namorar o Alexei complicava um pouco mais a coisa. O sonserino era neto de um Comensal, e pessoas que foram ligadas ao lado negro da guerra eram totalmente desprezadas no mundo mágico. A família Yatcheslav era uma delas. Por isso que odiavam tanto o integrante que agora estava na prisão. Mas esse não era o maior dos problemas, porque poderia ser facilmente contornado. Pelo que ela conhecia o Alexei, ele estava pouco se importando com o que as pessoas pensavam. Até porque ninguém se atrevia a provocar o garoto por causa disso, ele não levava muito na esportiva os comentários, e muitos já saíram feridos depois de encarar a sua ira. O problema maior era Evan. Por algum motivo desconhecido, Evan odiava Alexei e isso ia além do passado do avô do rapaz. E Evan tinha uma possessividade tamanha sobre Day quê, quando soubesse dessa história… Sacudiu a cabeça, nem queria pensar nisso.
"Certo!" – disse, segurando na frente da camisa branca do rapaz, o puxando para perto do seu rosto. –Eu vou dizer isso, e vou dizer apenas uma vez. Machuque o meu irmão, faça uma lágrima cair dos olhos dele, e eu vou te bater tanto, mas tanto, que nem a sua mãe vai te reconhecer.
"Está me ameaçando, Potter?" – perguntou divertido. A garota soltou um bufo por entre os lábios, que sacudiu a sua franja castanha.
"Estou avisando. Se você pensa que eu não sei como é o meu irmão, está muito enganado. Eu seu que há muito mais por debaixo da pele de cordeiro. Mas mesmo assim, ele ainda tem um coração de manteiga. E é isso que eu protejo. Estamos entendidos?" – o soltou, o fazendo cair contra o sofá, estupefato. Então ela sabia que Day escondia muito mais do que queria mostrar. Não deveria ficar surpreso afinal, eles dividiram o útero.
"Isso quer dizer que eu tenho aval para agarrar o seu irmão?" – perguntou em um tom descarado.
"Olha o respeito moleque, Day é um rapaz de família." – a garota falou isso com uma voz tão indignada que Alexei não agüentou e estourou em risadas, que ecoaram pela sala comunal vazia.
"Pelo amor e Deus!" – disse entre risos, contorcendo-se no sofá. –Quer dizer que se eu prejudicar a "honra" do seu irmão teremos duelos de espadas? Isso é tão… século quinze. Não me faça rir. – Hannah deu um sorriso de lado. Realmente tinha soado ridículo.
"Certo, certo, eu admito que essa foi podre." – repentinamente ficou séria. –Mas mantenha a sua mão boba para você, ouviu? – apontou um dedo para ele e Alexei suprimiu uma risada de escárnio. "Agora é tarde." Pensou, dando um aceno positivo para a garota.
Dallas desceu as escadas da casa correndo, ainda mordiscando a sua pena de açúcar, alcançou a porta da frente da casa, onde a campanhia tocava insistentemente, a abriu e rapidamente fechou a cara.
"Você aqui de novo?" – disse mal humorada, deixando a porta aberta e dando as costas para a pessoa que estava na soleira.
"Bom te ver também, Dallas." – Amélia entrou na casa, fechando a porta suavemente depois de sua passagem. Dallas caminhou até o centro da sala e parou, virando-se com os braços cruzados para poder encarar a mulher.
"O que você quer aqui Amélia?" – perguntou seca e a senhora estendeu uma sacola de grife para ela. –O que é isso? – falou, olhando para a sacola, mas não a pegando.
"Presente. Afinal, seu aniversário foi ontem não é mesmo? Vinte anos, Dallas." – respondeu a mulher, dando um passo à frente e depositando a sacola sobre a mesa de centro, visto que a sua neta não estava inclinada a pegar o presente de suas mãos.
"Veio aqui apenas para isso?" – ergueu uma sobrancelha para ela, ainda parada rija no meio da sala.
"Não vai me convidar para sentar?"
"Não precisa, afinal a conversa vai ser rápida, não é mesmo?" – lançou um olhar duro para a matriarca dos Winford, que não se abalou diante disso e caminhou até o sofá, sentando-se elegantemente nele. Dallas deu um pequeno rosnado, irritada com a presença da mulher na sua sala. Depois de tanto tempo, depois da primeira visita dela, a jovem pensou que a avó tinha desistido de… "reconciliar a família". Parece que estava enganada e irritantemente as palavras de Harry lhe voltaram à mente. O maldito acordo que eles fizeram. Harry daria uma chance à família dele e em troca queria que ela fizesse o mesmo. Maldito grifinório e a sua lábia, bastava mirar aqueles imploradores olhos verdes nela e ela cedia feito uma idiota. Estava começando a dar razão a Severo, o que ela tinha visto naquele homem?
"Dallas, sei que no passado não nos demos bem."
"Levou vinte anos para perceber isso?" – retrucou sarcástica, sentando-se reta na cadeira em diagonal ao sofá. –Estou comovida com a sua consideração.
"Não use esse tom de voz comigo, mocinha." – repreendeu a senhora e os olhos da ex-sonserina escureceram.
"Não use à senhora esse tom de voz comigo. Quem você pensa que eu sou? Acha que sou a mesma garotinha idiota que vivia sob o seu teto? Já vi e vivi muito mais do que você poderia imaginar, sra. Winford, então não se atreva a entrar na minha casa com esse nariz empinado me dando ordens, senão eu te mando para os quintos dos infernos com uma maldição só." – declarou em um tom cortante e frio e Amélia sentiu um aperto no coração. Na primeira vez que viera pegara Dallas desprevenida e apesar da conversa ter sido um pouco ríspida, a mulher mais nova não tinha demonstrado tanto auto controle diante da sua presença. Era como se não sentisse nada ao rever a própria avó. Sem contar que o linguajar refinado dela tinha sido jogado no lixo. Que influências esse povo mágico exerceram na sua neta?
"Pois eu estou disposta a saber o que você viu e viveu nesses anos, basta você me deixar." – disse Amélia em um tom confiante e Dallas deu um sombrio sorriso com o canto da boca. Será que ela estaria preparada para saber todos os detalhes da sua vida durante esses anos? Bem, nos últimos doze anos a vida estava em paz, mas os primeiros oito anos depois que a guerra terminou o mundo mágico ainda estava se recuperando e estava um verdadeiro caos. Ainda havia Comensais a solta, muitos revoltados pela perda de seu mestre, buscando por vingança contra o responsável pela queda deles: Harry Potter. Novas facções de magia negra surgiram, tentando reerguer o que Voldemort deixou para trás. A Ordem ainda teve muito trabalho até conseguir trazer a paz pós-guerra. Dallas perdeu as contas de contra quantos Comensais lutou, quantos feriu, os que, infelizmente, em uma batalha mais acirrada, teve que matar. Ainda se lembrava do primeiro que tirou a vida. Quase morreu junto. Ela, que nunca tinha ferido ninguém mais profundamente havia tirado a vida de um homem. Mas não seria a primeira e não era a única dentro desse ciclo. Sem contar que tinha Harry ao seu lado para impedir que enlouquecesse. E os ferimentos? As cicatrizes? As perdas daqueles durante o caos que se seguiu com a derrocada das trevas! A sua breve morte aos dezessete anos. Sra. Winford não iria querer ouvir sobre isso, não mesmo. A Dallas que ela conheceu morreu junto com a guerra. Claro que lá no fundo ainda havia os resquícios daquela garotinha tímida, mas raras eram as vezes que ela aparecia.
"A senhora não vai querer saber." – respondeu em um tom mórbido, como se as lembranças machucassem. –Ainda não disse o que quer aqui. – voltou ao assunto principal, tentando desviar a curiosidade da avó sobre a sua vida.
"Queria lhe entregar isso também." – falou, estendendo a mulher mais nova um convite. Um decorado convite de Natal. Os famosos natais da família Winford. Deus, como Dallas odiava os natais naquela mansão. Eram tão frios, tão impessoais. Não era o Natal que ela via em filmes.
"Um Natal Winford?" – disse, abrindo o convite e vendo com surpresa o que estava escrito:
Para Dallas Potter e Família
"Só teremos pessoas íntimas nessa festa. Garanto." – respondeu Amélia quando viu a pequena careta que a mulher fez diante da perspectiva de ir a uma festa da mansão Winford.
"Eu vou…" - falou vagarosamente, como se pensando sobre a proposta e tendo um debate interno sobre o assunto. -… eu vou falar com o meu marido. Às vezes ele tem que trabalhar no Natal. Também tenho que avisar as crianças, elas podem querer ficar em Hogwarts. Nunca se sabe. – terminou, dando de ombros. Senhora Winford deu um pequeno aceno positivo com a cabeça, entendendo a situação dela, e levantou-se elegantemente do sofá.
"Quando tiver a sua resposta… o número da mansão continua o mesmo." – falou a mulher, não esperando para ver se Dallas a acompanhava até a saída, foi até a porta de entrada da casa e a abriu, dando um relance por cima do ombro. –Foi bom te rever Dallas. – terminou, indo embora.
Continua...
