"Alexei…" - murmurou, mas foi calado novamente por um beijo. –Alex… - tentou mais uma vez, mas os lábios do russo estavam por toda parte do seu rosto, beijando cada centímetro da pele exposta. As mãos do sonserino deslizavam pela sua cintura, sob a capa da escola, enquanto o beijava intensamente, imprensando o rapaz mais novo contra a mesa oval. –Alexei! – Day falou em um tom mais firme e colocou uma mão espalmada contra o peito do namorado, o afastando um pouco de si.
"O que foi?" – perguntou o russo, arqueando as sobrancelhas. O grifinório soltou um suspiro e afastou mais o rapaz de si, balançando a cabeça de um lado para o outro em desaprovação.
"Pensei que tivéssemos vindo aqui para poder explorar essa sala e não para namorar. Afinal, a idéia foi sua." – falou, sentando-se na mesa da sala da Ordem.
"Day!" – Alexei soltou um suspiro sofrido. –Aquilo foi uma desculpa vagabunda para eu poder ficar mais perto de você. Você realmente acha que me interessa o que a Ordem fez ou deixou de fazer?
"Quer dizer que eu estou arriscando o meu pescoço e uma outra detenção por causa dos seus caprichos?" – murmurou em um tom perigoso, estreitando os olhos em direção ao rapaz mais velho. Alexei deu um sorriso enviesado e deu um passo a frente, pondo-se entre as pernas do grifinório e apoiando as mãos em cada lado do quadril dele, sobre a mesa.
"Oras, vai me dizer que você não está gostando?" – soprou o hálito quente contra os lábios rosados e os viu tremular. Seu sorriso aumentou mais ainda.
"Mas e os conhecimentos, a história, o passado que tem dentro dessa sala? Vai deixar tudo para trás em troca de uns beijos? Imagine o que poderíamos aprender aqui dentro?" – falou com uma voz enérgica, ignorando o roçar de lábios do sonserino no seu pescoço, arrepiando os cabelos de sua nuca.
"Tem certeza que está na casa certa? Que coisa mais corvinal para se dizer." – falou Alexei, se afastando com uma expressão contrariada. Agora que tinha Day finalmente em seus braços, quem se importava com a maldita sala da extinta Ordem da Fênix? Eles apenas se encontravam ali porque era o lugar mais seguro da escola, longe dos olhares dos outros alunos e, com sorte, dos professores.
"Por favor… quando eu vim a essa sala não foi com segundas intenções. – acusou, olhando firmemente para o russo." –Eu realmente estou curioso. – seus olhos ganharam um brilho inocente e Alexei bufou. Não conseguia resistir aquele olhar. Estava se tornando um frouxo, e não fazia nem uma semana que os dois estavam juntos. Era um idiota apaixonado, com certeza. Seus irmãos zombariam dele quando soubessem, isso se não o matassem primeiro por descobrirem que estava afim de um garoto, do jeito que eles eram pouco evoluídos, na sua opinião. Mas não se importava com o que eles pensavam, ou pudessem dizer, apenas mataria aquele que ousasse ferir Day. É, realmente era um idiota apaixonado e possessivo se estava com esses pensamentos na mente.
"Certo." – Alexei se afastou, derrotado, lançando um olhar mortal em torno da sala. Como aquelas porcarias de paredes de pedras podiam chamar mais a atenção do seu namorado do que os seus beijos? –Traidoras. – murmurou sob a respiração, indo para o outro lado da sala para fingir que ao menos estava curioso sobre alguma coisa.
"O que você acha que tem nesse livro?" – perguntou Day com um brilho curioso e infantil no olhar. Alexei apenas soltou outro grunhido sob a respiração.
"Quem se importa?" – retrucou, mal olhando para o livro que estava nas mãos do apanhador, sabendo que era o mesmo diário que eles tinham encontrado nas primeiras vezes. O diário em latim.
"Alguém está de mau humor, huh?" – falou o grifinório como se não soubesse o que estava causando a mudança de humor do outro rapaz, que estava de costas para si, olhando desinteressado algumas estantes empoeiradas.
"Verdade? Por que será, heim?" – rebateu com o desdém característico e Day suprimiu uma risada, caminhando a passos leves até o rapaz de cabelos castanhos.
"Que tal se nós fizermos um acordo?" – perguntou e ao ouvir a voz perto de si, Alexei ficou frente a frente com Day num rápido girar de corpo.
"Acordo?" – ergueu uma sobrancelha, demonstrando uma leve curiosidade.
"Eu sei que você sabe um feitiço para poder traduzir essas páginas." – o russo abriu a boca para poder falar, mas o jovem inglês foi mais rápido do que ele. –Não adianta me desmentir. Você é um dos melhores alunos da Sonserina do seu ano, que eu sei. Tio Severo disse que possivelmente deve te indicar para o cargo de monitor no próximo semestre.
"Tio Severo?" – perguntou o rapaz, mordendo o lábio inferior para não rir da forma tão meiga com que o menino tinha chamado o professor mais temido da escola.
"Er… bem… é… Mas não mude de assunto. Eu quero que você traduza esse livro." – Alexei cruzou os braços sobre as costas, as sobrancelhas franzindo e se transformando em uma única linha.
"Está me dando ordens, Potter? Nem mesmo a minha mãe me dá ordens. O que o faz pensar que você tem esse direito?" – o olhar inocente do grifinório mudou para algo levemente malicioso.
"Sua mãe não irá lhe dar beijos em troca se você fizer isso."
"Deixe-me ver se entendi. Se eu traduzir esse livro você vai parar de me atrapalhar e me deixar te beijar a vontade?" – Day deu um leve aceno positivo com a cabeça, o rostinho inocente de volta no lugar. –Me dá essa porcaria. – disse, tirando o livro das mãos do namorado e o colocando sobre a mesa, o abrindo em uma página qualquer. Pegou a varinha dentro das suas vestes e apontou para a página amarelada. –Translate. – murmurou e as palavras em latim começaram a se transformar em frases em inglês. –Pronto! Feliz agora? – Day abriu um grande sorriso e puxou o rapaz pela gola das vestes dando um beijo estalado nos lábios dele.
"Vamos ver… o que tem escrito aqui." – voltou-se para o livro e sentiu os braços de Alexei serpentearem a sua cintura, seu corpo colar no seu e seu queixo se apoiar no seu ombro, também para ler o livro.
"O jovem Potter arrumou uma namorada, uma menina da Sonserina, Dallas Winford. Suspiro aliviado ao saber disso, pois a cada dia que passa sinto o poder dele crescer mais, apenas esperando o momento certo para eclodir. O momento está chegando, a hora que terei que relevar a verdade a ele. Mas até onde poderei contar? Creio que não direi tudo. Tom não se tornou o que se tornou apenas porque forçou a sua magia, indo contra a natureza dos Magos. Não, ele se tornou o que se tornou porque não tinha um ponto de equilíbrio. Todos os Magos, sem exceção, estão na linha fina entre a luz e as trevas. E todos precisam de um ponto fixo de equilíbrio, para onde tem que olhar quando o mundo a sua volta estiver girando, para se impedir de cair. Eu pensava que o ponto de equilíbrio de Harry fossem o senhor Ronald Weasley e a srta. Hermione Granger, parece que me enganei, pelo que já vi do jovem Potter quando está perto da srta. Winford. Há algo neles que me intriga. A aura que os rodeia, a perfeição de seus atos, o amor incondicional da srta. Winford desde a primeira vez que o viu. Mas até quando isso vai durar? Harry veio a mim essa manhã me dizendo que teve pesadelos, visões, e mesmo que ele não tenha especificado sobre quem era a visão, tenho uma vaga idéia do que se trata. E temo. Temo que se ele perder esse ponto de equilíbrio, poderemos ter um novo Lorde das Trevas, pior do que Voldemort."
"Sua família…" - Alexei se afastou, soltando os seus braços da cintura de Day. -… é bem complicada. Essa eu não sabia. Seu pai, um mago? Não é a toa que ele venceu o Lorde das Trevas. Mas aí em pensar que ele poderia ser um Lorde das Trevas também é no mínimo bizarro. – deu de ombros com um sorriso de escárnio diante da descoberta, mas rapidamente o sorriso sumiu e sua testa se franziu, como se estivesse pensando em algo extremamente complexo.
"O que foi?" – perguntou Day ao ver e expressão pensativa dele.
"Isso me parece mais o trecho de um diário pessoal do que um diário contando sobre os feitos da Ordem da Fênix. E pela letra e modo de escrever, eu arriscaria dizer que essa passagem foi escrita por Dumbledore." – concluiu e os olhos violetas do grifinório voltaram ao texto. –Mas por que o diretor deixaria algo pessoal entre os pertences da Ordem?
"Bem, a Ordem foi fundada por ele, não foi?"
"Mas mesmo assim…"
"Talvez ele tenha esquecido aqui… quem vai saber o modo como o diretor pensa?" – Day disse displicente, realmente não se importando sobre o assunto, mas Alexei ainda estava intrigado. Tudo era suspeito. A começar pelo fato de que eles ainda freqüentavam a sala da Ordem da Fênix e não ter aparecido nenhum professor para poder tirá-los de lá. Certo que ele tinha desativado alguns feitiços alerta, mas mesmo assim o que era o conhecimento de um aluno contra as milhares de proteções que aquela sala deveria ter? Afinal, era o QG de um dos lados da guerra. E agora esse diário? Estranho, realmente estranho. Ele tinha traduzido o diário com muita facilidade. Quando executou o feitiço, esperava encontrar uma certa resistência vinda do livro, mas foi só um girar de varinha e o latim se transformou em inglês. Sem contar que aquele lugar lhe dava certos calafrios, agora que pensava nisso. Era como se estivessem sendo observados.
"Vamos embora daqui, Max." – virou-se rapidamente para o grifinório, que estranhou o pedido dele.
"Como?"
"Vamos embora daqui. Esse lugar me dá arrepios." – murmurou, rodando os olhos amêndoas pela sala, como se esperasse que alguém aparecesse do nada na frente deles.
"Mas antes você gostava de vir aqui." – respondeu um pouco confuso.
"Eu já disse que era apenas uma desculpa para ficar perto de você." – retrucou, tirando o livro das mãos dele e o colocando sobre a mesa, ainda olhando desconfiado para o objeto. –Agora que eu tenho você, não preciso mais dessa sala. – declarou, segurando no pulso do rapaz e o tirando dali rapidamente. Mas, antes de sair da sala, Day estacou no lugar como se tivesse se lembrado de algo. –O que foi?
"O que é um mago, Alexei?"
"Como? Não sabe o que é um mago? Mas o seu pai é um."
"Bem, eu não sabia que ele era um até agora há pouco."
"Certo, certo. Acho que há um livro na biblioteca sobre isso. Eu te levo até lá, mas vamos embora daqui." – o puxou e saíram da sala, com Alexei ainda com a sensação de que estavam sendo observados.
Por detrás do volante observou as luzes acesas na casa e o movimento dentro dela, indicando a festa que estava acontecendo lá dentro. Virou o rosto em direção ao banco de passageiro, erguendo uma sobrancelha fina para o seu acompanhante. Os olhos vivamente verdes voltaram-se em sua direção e depois olharam através do vidro da janela, para a casa movimentada.
"Estamos aqui faz uns dez minutos. Vamos descer ou não?" – perguntou Dallas, soltando as suas mãos do volante e virando-se no assento, para poder pegar a sua bolsa no banco de trás. Harry abaixou os olhos para o presente que estava em seu colo, apertando a caixa embrulhada com papel colorido entre os dedos. –Quando você se decidir, estarei esperando. – declarou, abrindo a porta e descendo do carro, caminhando pela calçada em direção à entrada do número 4 da rua dos Alfeneiros. Harry observou o corpo esguio da mulher se afastar e soltou um suspiro longo, agarrando o presente e saindo do carro, indo atrás de Dallas. Quando a morena já estava com a mão esticada para poder tocar a campanhia, viu o auror parar ao seu lado, olhando da porta para a sua roupa, verificando se tudo estava em ordem, e voltando seus olhos para a boticária.
"Quer ter a honra?" – falou a mulher calmamente, indicando a campainha dourada. Harry soltou um grunhido ao lado dela, irritado diante da calma da esposa, enquanto ele estava se debulhando com os nervos tensos. Nem quando estava perto da batalha final contra Voldemort ele se sentiu assim. Na verdade, ele não lembrava muito da batalha final. Quando lhe perguntaram o que tinha acontecido, Harry apenas respondeu que não sabia. Era como se o seu corpo estivesse agindo e a sua mente estivesse em outro lugar. Mais tarde Dumbledore havia lhe explicado que Harry estava entre a linha fina das trevas e da luz. Algo sobre o seu equilíbrio quase ter sido destruído. Voltou ao mundo terreno quando percebeu que tinha um par de olhos azul-violeta o mirando com curiosidade. Deu um meio sorriso e tocou levemente a bochecha da mulher, que piscou curiosa para ele. Roçou seus lábios suavemente nos lábios vermelhos, se afastando logo depois. Dallas nada disse, reconhecendo o olhar de Harry antes de lhe beijar. Às vezes o seu marido ficava assim, aéreo.
"Eu te amo, sabia disso?" – a mulher deu um brilhante sorriso para ele.
"Eu sei." – murmurou, ambos ficando alguns segundos em silêncio. -Harry? – chamou depois de um tempo, indicando a campainha. O moreno estendeu a mão e finalmente apertou o botão, fazendo o barulho soar por toda a casa. Esperaram alguns minutos até que a porta se abriu. O sorriso de Petúnia foi de orelha a orelha quando viu o sobrinho na soleira da porta. Jasmine, ao lado dela, apenas olhou curiosa para o casal.
"Feliz aniversário Jasmine." – falou Harry, estendendo o embrulho colorido para a menina que o pegou com os olhos brilhando, dando um grande sorriso infantil para ele.
"Como é que se diz querida?" – Petúnia falou ao lado dela.
"Muito obrigada sr. Potter." – falou, ainda sorrindo, correndo para os jardins dos fundos onde estava acontecendo à festa, para mostrar o presente que tinha ganhado para o seu pai e avô.
"Vamos entrem, entrem." – Petúnia cedeu passagem ao casal, o sorriso ainda mais largo no seu rosto. –A festa está sendo no jardim. – disse, dando as costas e caminhando para os fundos da casa. Dallas lançou um grande sorriso para Harry, que rolou os olhos e quase grunhiu insatisfeito. Eles tinham discutido muito o assunto do aniversário e se iriam ou não a ele. Até que finalmente Dallas o convenceu, dizendo que a sua tia ficaria feliz em vê-lo. Claro que ele duvidou imensamente disso, mas vendo o sorriso no rosto da mulher parece que tinha se enganado.
"Ah que ótimo, reunião do clube do bolinha." – resmungou Harry sob a respiração apenas para Dallas ouvir.
"O quê?" – respondeu a mulher, já percebendo que seria muito complicado desfazer o mau humor e a desconfiança do marido.
"Todos os amigos de Duda estão aqui. Aquelas mesmas pestes que me atormentaram na infância." – comentou desgostoso e a morena arregalou os olhos para depois morder intensamente o lábio inferior. Harry observou curioso as mudanças nas expressões dela e franziu as sobrancelhas quando viu os ombros começarem a tremer. –O que foi? – perguntou, não entendendo o que se estava passando com a mulher, isso até que ela parou de morder o lábio e soltou uma sonora gargalhada, que foi abafada pela música. –Qual é a graça? – perguntou chateado, cruzando os braços sobre o peito e fazendo uma expressão que lembrava uma criança birrenta.
"Harry! Certo, pelo que eu vi das fotos suas de que quando você era garoto você está longe de ser aquele menino pequeno e magricela, que tinha que fugir e se esconder cada vez que fazia coisas estranhas acontecerem ao seu redor. Você é o salvador do mundo mágico." – o homem soltou um grunhido. Não gostava de ser lembrado desse detalhe. Embora vinte anos tenha se passado e o auê a sua volta tenha diminuído, o nome dele ainda estava impresso nos livros de história da magia modernos ele ainda era considerado um herói por muitos.
"E um auror de primeira classe. Não acredito que você vai se intimidar por causa de ex-inimigos de infância. Se fosse assim, você e Draco não formariam com o Ron os famosos 'três mosqueteiros'." – um meio sorriso surgiu no rosto de Harry ao se lembrar desse apelido. É, não tinha vergonha de admitir que eles três juntos eram bons. Os melhores do departamento, com todas as honras e glórias. E ele preferia ser enaltecido por algo que ele fez, do que por algo que não fez. Derrotar Voldemort foi apenas uma coisa que ele estava destinado a fazer devido ao que os outros acreditavam, que ele era o seu herói. Ser um bom auror era algo que ele tinha escolhido e lutado para conseguir. Era um mérito próprio e se orgulhava disso. –Mas se eles te perturbarem muito… - nisso ela deu um meio sorriso e acariciou uma bochecha dele, erguendo-se um pouco para roçar seus lábios nos do homem mais alto. -… me chama que eu bato neles. Porque ninguém provoca o meu amor, certo Kitty? – deu um beijo leve nele e piscou um olho, fazendo o homem corar.
"Não me chame de Kitty." – resmungou Harry. Só por causa da sua forma animaga Dallas tinha a mania de ficar chamando-o de kitty. Ele não era nenhum filhotinho de gato para ter esse apelido… no mínimo ridículo. Se os seus parceiros soubessem desse apelido, seria a piada do departamento por uma semana. Mais do que ele foi quando os gêmeos nasceram. Ainda lembrava claramente das ameaças de tortura e morte de Dallas durante o parto. Foi de dar medo.
"Harry Potter!" – uma voz descrente chamou perto dele e Harry inspirou profundamente, adquirindo uma expressão indiferente, antes de se virar para ver quem tinha lhe chamado. Era um dos amigos de Duda, um daqueles chatos que lhe atormentava quando era criança. Não lembrava o nome dele, mas lembrava que ele estava com Duda no dia do incidente na casa dos répteis no zoológico. –Lembra de mim? Pedro Polkiss. – Harry fez uma cara de que nunca tinha visto aquele homem na vida e recebeu uma cutucada de Dallas. Resignado, recebeu a mão estendida pelo homem e o cumprimentou rapidamente.
"Dallas querida." – Petúnia surgiu perto da boticária, segurando seu braço levemente. –Eu posso te chamar de Dallas, não posso? – perguntou com um sorriso maternal, que Dallas retribui, dando um aceno positivo de cabeça. –Venha, quero que conheça algumas pessoas da família. - e, antes de ser levada pela mulher mais velha, a bruxa ainda conseguiu sussurrar para o marido:
"Comporte-se. São pessoas, não Dementadores. Deixe de ser paranóico." – e partiu, deixando Harry para trás com uma cara que implorava que ela não o deixasse sozinho com aquelas 'pessoas'.
"Você mudou muito Potter." – começou Pedro, tentando engatar uma conversa, e o auror viu com desespero que Valter, Duda e outros conhecidos estavam se aproximando dos dois. –Quase não o reconheci, se não fosse por essa cicatriz na testa.
"Pois é, é a minha sina." – respondeu azedo.
"O que anda fazendo da vida Potter?" – perguntou o homem, tomando um gole do seu ponche. Harry iria dar uma resposta bem mal educada, mas um olhar da sua mulher no outro lado do jardim, e a aproximação de mais pessoas, o fez parar rapidamente. Ele poderia suportar isso. Era apenas algumas horas na presença da sua família trouxa. Ele agüentaria, para alguém que agüentou batalhas e mais batalhas com bruxos das trevas, isso não era nada… certo?
"Eu… trabalho…" - uma mentira, tudo o que ele precisava era de uma grande mentira. -… em uma agência de segurança. – respondeu rapidamente. Os outros a sua volta deram um aceno positivo de cabeça. Apenas Valter e Duda ficaram quietos, sabendo que essa "agência de segurança" era relacionada com magia.
"Aquela lá é a sua esposa?" – Pedro apontou para a morena do outro lado do jardim, conversando com as outras mulheres.
"Sim." – Harry respondeu com um pequeno sorriso. Valter lançou um olhar para a jovem apontada, ainda não tinha conhecido a esposa do sobrinho. Sabia dela apenas pelo que Petúnia havia lhe falado. Que era uma jovem simpática e bonita.
"Ela é bonita Potter." – um outro amigo de Duda comentou e engoliu em seco quando viu os olhos verdes de Harry escurecerem em desagrado diante do elogio. Não era o fato do sujeito ter dito que a sua mulher era bonita. Não era o fato de ele ter dado um elogio a sua mulher, mas sim o tom que estava subtendido nesse elogio, como se Harry não fosse capaz de arrumar alguém, ainda mais alguém do porte de Dallas. Como se não a merecesse. Quebraria a cara do primeiro que dissesse que ele não era bom o suficiente para Dallas.
"Eu sei." – o moreno comentou entre dentes, dando um sorriso enviesado. –E é minha. – murmurou e os outros a sua volta fizeram expressões confusas diante do tom frio do homem. O Potter que se lembravam passava longe do homem que estava na frente deles.
"Paz, Potter, só estava comentando." – respondeu com um sorriso amarelo, erguendo ambas as mãos em sinal de paz.
Junto com o grupo de mulheres, Dallas observava todos os movimentos de Harry e o modo como a linguagem corporal dele denunciava que ele não estava nada confortável com a sua companhia. Soltou um pequeno suspiro. Ao menos ele estava tentando dar uma chance a sua família. E quanto a ela? Ela não estava disposta a dar nada a Amélia Winford. Será que isso era o certo? Seu marido tinha razão em um ponto. Não era justo ela jogar fora o trabalho do seu pai, do seu avô que ela pouco conheceu, e dos seus antepassados por rixas com a sua avó. Aquele legado era dela, mas, principalmente, dos seus filhos. Mas voltar a aquele mundo a perturbava um pouco. Uma coisa era ser a esposa do famoso Harry Potter. E ela não passava disso. Quando falavam dela nas revistas bruxas o que vinha primeiro era o fato dela ser casada com Harry, o resto era adereço. Mas no mundo trouxa era diferente. Ela era Dallas Winford. Seus movimentos, seus atos, seu modo de agir seriam pesados e julgados. Era quase como pertencer à família real. Claro que sem o título de nobreza para pesar mais ainda. Será que ela estava preparada para jogar a sua família dentro da loucura que era ser o herdeiro da segunda maior fortuna da Grã-Bretanha?
"Dallas? Dallas?" – Petúnia chamou e a morena piscou, voltando-se para a mulher com um sorriso no rosto.
"Desculpe, acho que me perdi em pensamentos. O que a senhora estava dizendo?"
"As meninas querem saber como foi o pedido." – perguntou a mulher curiosa, querendo saber mais sobre como o seu sobrinho veio a conhecer essa jovem. Harry nunca lhe pareceu ser inclinado a romances. Cada vez que ele voltava de Hogwarts, ele voltava com um semblante pesado, como se estivesse carregando o mundo nas costas e prestes a enfrentar um grande desafio.
"Bem… já fazia uns dois anos que eu morava com Harry. Então, um belo dia, a gente saiu pra jantar fora e ficamos…" - ela deu uma risada ao lembrar-se da cena. -… e ficamos um pouco alegres por causa do vinho. Aí entre uma besteira dita e outra, ele segurou na minha mão e ficou subitamente sério e disse: "Dallas, você sabe que eu te amo muito e que você é tudo de melhor que aconteceu na minha vida. Por isso eu peço humildemente que se case comigo".
"E o que você respondeu?" – perguntou Guida, começando a ficar interessada pela conversa, embora Harry ainda não fosse a sua pessoa favorita no mundo.
"Bem… eu fiquei olhando para ele chocada com o que ele disse e então eu comecei a rir. Na verdade eu comecei a gargalhar histericamente no meio do restaurante. E a cara que ele fez foi cômica. Ainda mais quando ele virou para mim com um beicinho infantil e disse: "Eu estou falando sério garota! Comprei até um anel". E foi quando ele me mostrou o anel que eu parei de rir, vendo que era sério mesmo a coisa. Aí eu comecei a chorar feito uma idiota e pulei no pescoço dele, dando beijos nele e dizendo sim ao mesmo tempo."
"Não foi algo muito romântico, não é?" – Guida comentou em um tom meio seco, mas Dallas não se abalou muito com a arrogância da mulher.
"Um anel é apenas um anel, sra. Dursley." – disse séria. –Metal revestido de ouro. Algo que não se pode comparar com o que Harry já fez por mim e para mim, por amor.
"E o que ele já fez?" – perguntou uma das amigas de Petúnia, curiosa com o conto, e Dallas enrijeceu. O que Harry já tinha feito? Tinha ficado do lado dela nas batalhas remanescentes depois da guerra. O estado que ela tinha ficado, em choque, quando tinha disparado aquela arma contra um comensal. Um monstro, verdade, devido ao passado do bruxo, mas ainda sim um humano. E também tinha as coisas que ela tinha feito por Harry. Ainda se lembrava claramente de uma conversa com Dumbledore, contando sobre os dons de Harry, e de como ela era o equilíbrio do mago. Na verdade, um era o equilíbrio do outro, era o que achava.
"Muita coisa." – disse com um meio sorriso, olhando para o outro lado do jardim para as caras e bocas que Harry estava fazendo diante das conversas ao seu redor. –Se vocês me derem licença. – falou polidamente, caminhando até o homem e penetrando na roda onde ele estava, enlaçando o seu braço no dele. –Se vocês não se importam… - deu um grande sorriso charmoso. -… vou roubar o meu marido por uns minutos. – e saiu dali puxando Harry consigo para um canto mais reservado do jardim.
"Finalmente, eu já estava quase azarando um." – murmurou desgostoso, cruzando os braços sobre o peito. Dallas segurou nos pulsos do marido, descruzando os braços dele e os depositando em volta da sua cintura, enquanto aproximava-se dele para poder abraçá-lo. –O que foi? – perguntou, depositando o queixo no topo da cabeça dela.
"Eu já disse que te amo?" – murmurou contra o peito do homem e Harry deu um meio sorriso.
"O que é? Você está grávida de novo? Porque geralmente você começava a conversa assim antes de me dar à notícia. Quando descobriu que eram gêmeos então…" - deu uma inspirada profunda de ar. -… aquela noite foi bem agitada. – disse em um tom que misturava malícia e divertimento. Dallas deu uma risada baixa e aconchegou-se mais no abraço de Harry.
"Não. Não estou grávida. Não que eu saiba. Acontece que eu senti vontade de dizer que eu te amo. Sabe quanto tempo eu esperei para dizer isso quando era jovem? Seis anos. Seis longos anos." – Harry arregalou os olhos e afastou-se dela, para poder olhar o rosto da mulher melhor.
"Você quer dizer que é apaixonada por mim desde que tinha dez anos?"
"Desde a primeira vez que eu te vi na estação 9 ½." – o moreno deu uma inspirada profunda de ar e seu coração deu um pulo. Ele não sabia disso. Dallas nunca lhe dissera que era apaixonada por ele todo esse tempo. Ela só havia lhe dito que gostava dele a um tempo, antes de ele se declarar.
"Por que você está me dizendo isso agora?"
"Harry, você me ama?" – cortou a pergunta dele com outra.
"Claro que eu te amo!" – respondeu, estranhando aquele rumo na conversa.
"E aos seus filhos?"
"Dallas, que pergunta idiota é essa? Eu amo vocês. São a minha família. A coisa mais importante na minha vida. Por que está perguntando isso? Alguma coisa errada?" – Dallas mirou os seus olhos na festa que ocorria no jardim. Se tinha alguma coisa errada? Ela não sabia dizer. Era um vínculo que ela tinha com os seus filhos, algo que as mães tinham com todo filho. O chamado instinto maternal, que com certeza era muito mais forte nas mães bruxas. Quantas vezes já vira Gina correr de um aposento para atender Angela, antes mesma dessa começar a chorar? Ou Hermione saber por antecedência que o seu filho havia se machucado em alguma brincadeira, ou que Rory não conseguia dormir com medo do escuro? Sim, o vínculo se formava mesmo que o filho não fosse de sangue, bastava ter o amor de mãe no meio. E ela sentia isso. Sentia que logo algo de importante iria acontecer e que iria abalar a vida de um de seus filhos, e já temia por ele.
"Não é nada. Apenas uma sensação." – falou e Harry já não gostou nada dessa pequena oração. Essas sensações que ela tinha só poderia estar relacionado a uma coisa: aos seus filhos. Havia descoberto esse laço maternal quando uma vez, ferido em uma missão, foi parar na ala hospitalar. Mal tinha aberto os olhos e lá estava a sra. Weasley o paparicando. Quando ele descobriu que foi o coração de mãe dela que tinha lhe avisado que algo havia acontecido com o "filho de criação" dela, Harry por noites chorou no seu travesseiro ao descobrir que a mulher o considerava tanto a ponto de ter criado essa ligação com ele. A partir de então, passou a chamar Molly Weasley de mãe.
"Algo ruim? Muito ruim?" – perguntou o auror. Se algo acontecesse com um dos seus filhos, com certeza ele desmontaria. Dallas deu um pequeno sorriso para ele.
"Nada que o afete fisicamente. Mas o que nos resta é apenas esperar para ver o que vai acontecer, e com quem." – Harry acenou positivamente e a abraçou novamente. Teria que pedir a Dumbledore e a Sirius para redobrar a vigilância nas suas crianças.
Deitou a cabeça sobre os seus braços cruzados e pôs-se a observar a chuva fina que caía através da janela da sala de reunião dos monitores. O confronto com Day dias atrás o tinha cansado, e o rostinho de filhote abandonado que Rory fazia cada vez que o via, o deixava um pouco deprimido. Não queria ter partido com as esperanças da menina assim dessa maneira, mas não estava pronto para embarcar em outro relacionamento, não tão cedo. Não quando seu coração batia mais forte a menção do nome de uma certa ruiva e lembranças sempre vinham a sua mente.
"Potter, hum?" – disse em uma voz sussurrada, o olhando de cima a baixo, como se o medisse, como se quisesse saber qual era a importância dele. O conhecia vagamente pelas poucas vezes que havia cruzado com a família do companheiro de trabalho do seu pai, mas nunca tinha tempo para dar atenção a eles. Sempre tinha lugares para ir, coisas para estudar, amigos para convidar para sair. Por que ela se importaria com um moleque?
"Malfoy, hum?" – o moreno ergueu uma sobrancelha negra, voltando o seu olhar para a pista de dança. Dezesseis anos e finalmente ele poderia vir nessa boate trouxa que há mais de um ano ele queria visitar. E o melhor de tudo, sozinho. Quer dizer, parcialmente sozinho, seus amigos estavam com ele. Mas, pela primeira vez, ele não tinha hora para voltar. Era quase como se fosse um adulto independente.
"Mundo pequeno. Sabe qual é a probabilidade de dois bruxos conhecidos se encontrarem no mundo trouxa? Mínima." – a ruiva puxou uma cadeira e sentou-se na frente dele, seu vestido curto e justo subindo alguns dedos pelas coxas claras. O que ela estava tentando fazer? O seduzir? O que uma mulher como ela iria querer com um adolescente? Se fosse outra pensaria que era por causa do seu sobrenome. O nome Potter tinha muito poder em algumas meninas. Mas ela era uma Malfoy, e isso a tornava tão conhecida quanto um Potter. E mais arrogante, já que vinha de uma longa linhagem de sangue-puros.
"Sei." – Evan respondeu indiferente, tomando um gole de sua bebida. Álcool. Embora fraca ainda possuía álcool na bebida. Só não poderia exagerar. Se chegasse bêbado em casa a sua mãe o enforcava. E o seu pai… bem, o seu pai faria com ele coisas que ele preferia não imaginar. Deu um meio sorriso. Seus pais às vezes eram durões, como todos pais deveriam ser, mas não os trocaria por nada.
"Parece que a minha conversa é enfadonha para você." – Angela não poderia acreditar no que estava vendo e ouvindo. Geralmente quando ela se aproximava de um menino, ainda mais um na idade desse garoto, ele ficava como um paspalho, sempre falando e fazendo coisas na intenção de agradá-la. Mas esse garoto parecia não se importar com a beleza e toda a pose que ela ostentava. Era frustrante e, por outro lado, excitante.
"Não que seja enfadonha, apenas estou curioso." – comentou Evan, olhando por cima do ombro da garota para o grupo de onde ela tinha partido. –Você parece estar bem acompanhada. Então, o que a trouxe aqui? – Angela seguiu a direção dos olhos azuis e viu seu grupo de amigos da faculdade parados perto do bar, ou alguns na pista de dança.
"Seu rosto me pareceu familiar e eu vim confirmar. Sem contar que você me pareceu promissor." – o rapaz depositou seu copo de bebida sobre a mesa, recostando-se no espelho da cadeira.
"Promissor? Quantos anos você tem?" – perguntou curioso. Embora hoje algumas adolescentes da idade dele, ou até mais novas, possuíssem um corpo bem desenvolvido, essa garota indicava ser mais velha. E pelo que ele se lembrava da família Malfoy, ela deveria realmente ser mais velha que ele. Então, por que do repentino interesse?
"Pergunta indelicada para ser feita a uma mulher." – disse Angela, dando um aceno negativo com um longo dedo. –Quer dançar? – cortou com outra pergunta, querendo saber mais sobre aquele menino que não parecia se afetar com o seu charme.
"Por que não?" – Evan ergueu-se e estendeu uma mão para ela, a ruiva segurou na mão dele e deixou-se ser guiada, surpresa por ver que o rapaz era mais alto que ela, mesmo que ela estivesse de salto. Uma balada romântica começou a tocar na pista e o garoto envolveu a cintura esguia com os seus braços, ambos começando a se mover de acordo com a música. A jovem depositou sua cabeça entre a curva do pescoço e do ombro do rapaz, inalando profundamente o cheiro gostoso da colônia dele. Não passaria essa noite sozinha, era o que parecia.
A música estava quase chegando ao fim e Evan estava prestes a soltar-se dela e seguir o seu caminho, quando os braços da garota envolveram o seu pescoço, espremendo o corpo menor contra o seu. A ruiva ergueu a cabeça e olhos cinzentos prenderam-se em azuis profundos. Os lábios vermelhos torceram-se em um sorriso e o rapaz viu com alarde o rosto dela começar a se aproximar do seu. Quando se deu conta, estava sendo beijado. E foi aí que começou a sua desgraça. Quando começou a perder o seu coração para Angela Malfoy.
Evan levantou a cabeça da mesa, esfregando as mãos no rosto como se quisesse afastar as lembranças. Isso era ridículo, ele se lamentando pelos cantos por uma menina que não valia a pena. Se ao menos tivesse escutado os seus amigos agora não estaria nessa posição patética. Mas ele pensou que conseguiria suportar, que conseguiria entrar na brincadeira e fingir que todo esse tempo ao lado dela era apenas diversão. Mas ele deveria saber que tinha um coração mais mole do que aparentava.
"Evan?" – o moreno virou-se para ver, na porta da sala, Rory. Era tudo o que ele precisava no momento, a menina e o seu olhar de criança abandonada.
"Rowena." – disse distante, levantando-se e começando a recolher o material espalhado sobre a mesa, deixado pelos outros monitores. –O que você está fazendo aqui?
"Estava passando quando vi a luz da sala acesa. Está perto do toque de recolher, vai ficar muito tempo aqui? Sei que é o monitor, mas melhor não abusar." – ela deu um pequeno sorriso para ele, mas o jovem não o retribuiu. Rowena soltou um pequeno suspiro conformado, já sabia que nunca teria uma chance com Evan, ele mesmo havia lhe dito isso na noite do baile, depois que dançou com ela. Parecia que ele gostava de uma garota, chegou até a namorá-la, mas ela não gostava dele e ele terminou tudo com medo de ser mais ferido do que estava sendo. Não sabia quem era a menina, não quis perguntar, mas a considerava a criatura mais estúpida da face da Terra. Se ela soubesse o que as meninas fariam para ao menos ter um pouco da atenção de Evan, ela talvez desse mais valor ao que tinha.
"Vou ficar mais um tempo por aqui. Vá para a sala comunal, não queremos que perca pontos para a casa, não é mesmo? Ainda mais que Snape anda de muito mau humor."
"E quando é que ele está de bom humor?" – brincou e Evan arriscou um pequeno sorriso na direção dela.
"Vá, Rory." – disse em um sussurro e a menina deu um pequeno aceno de cabeça, caminhando em direção a porta. Antes de sair, porém, ela parou e olhou por cima do ombro.
"Ela vai perceber um dia o seu erro, Evan. Aposto que vai." – e saiu, deixando Evan parado no meio da sala pensando nas palavras dela.
