Empurrou a porta lateral que dava entrada à sala de aula, uma que poucas pessoas conheciam e que tinham acesso pelo escritório pessoal do professor, e olhou pela brecha oferecida, observando que os alunos estavam completamente concentrados em suas tarefas. Com o menor ruído possível entrou nas masmorras, sorrindo por perceber, pela primeira vez, que entrava em um lugar sem chamar a atenção de ninguém por causa de suas trapalhadas.
"Se você fosse uma aluna já teria perdido pontos." – Den quase pulou três palmos no ar ao ouvir a voz suave ressoar pela sala silenciosa.
"Me desculpe Snape, eu sei que deveria ajudá-lo…" - começou a se explicar, mas o homem a cortou sem nem ao menos olhar para ela. Severo estava de extremo mau humor desde que teve aquele desgosto no baile de Halloween. Ainda arrancava os cabelos em seus aposentos e se perguntava a quem aquela menina havia puxado. Ainda mais quando o maldito do Black sorria torto para ele e dizia: tudo que vai um dia volta. Irritante!
"Calada Densetsu. Apenas pegue as malditas amostras e as organize." – ordenou sisudo e Maya nem abriu a boca para protestar, apenas fazendo rapidamente o que ele tinha mandado. Um silêncio sepulcral assolava a sala, o único barulho ouvido era as batidas dos frascos e caldeirões, vindo dos alunos e de Maya. O riscar da pena de Snape era suprimido por esses pequenos sons e a tensão predominava no local. Aula de poções era sempre com esse clima pesado e sério, que deixava os alunos ainda mais nervosos e habilitados a explodir um caldeirão a qualquer momento.
Os estudantes contavam os segundos até que finalmente a sineta tocou e todos começaram a arrumar o seu material, doidos para voarem sala afora.
"Eu quero quatro pergaminhos sobre a poção em que estão trabalhando. Seus efeitos, efeitos colaterais e utilizações." – murmurou Snape, sua voz nunca se elevando, mas chamando claramente a atenção de todos. Mudos, os alunos foram saindo da sala, muitos soltando suspiros de alívio pelos corredores.
Maya ainda continuou organizando os vidros, sua respiração compassando com a de Snape era a única coisa soando na sala e chegava a ser mórbido. A moça por muitas vezes olhou por cima do ombro para atestar se o ex-comensal ainda estava vivo, e o via ainda concentrado em seus pergaminhos. Deveria ter algo muito interessante ali ou ela tinha acabado de descobrir que o professor dormia com os olhos abertos. Uma coisa ou outra. O silêncio perdurou por uma hora, sendo finalmente quebrado quando batidas soaram na porta de madeira da sala.
"Entre." – Den até levou um susto quando ouviu a voz do professor. Pensou que ele tinha morrido na cadeira, de tão silencioso que estava. E ela que não era maluca de interrompê-lo no que quer que ele esteja fazendo. A porta rangeu e o rosto bonito de Sirius apareceu. Rapidamente as expressões de Severo fecharam, como se estivesse chupando um limão extremamente azedo. –O que quer Black? – perguntou, com cinco pedras na mão prontas para atirar no vira-lata.
"Vim falar com a Maya, posso?" – disse em um tom calmo e estranhamente polido, seus olhos claros fixados nas costas rijas de Maya. Snape olhou para o rosto da garota, que estava pálida feito neve, e viu que tinha algo de errado nessa história. Em outros tempos ela dava um braço diante da possibilidade de Black querer um a sós com ela. Agora ela parecia disposta a enraizar no chão e morrer ali antes de falar com o homem. Estranho.
"Faça o que bem entender." – Maya virou-se tão rápido para lançar a Snape um olhar assassino, que quase caiu do salto. Ela não queria falar com Black, não desde o dia em que ela acordou nos braços do homem, na cama dele, depois da festa de Halloween. Assustada ela tinha se vestido e sumido, ignorando o homem nos dias que se seguiram. Ela não sabia o que fazer. Afinal, não era mais uma fantasia de infância intocada, era real. Ele realmente foi dela e de repente, toda aquela magia que rodeava o professor mais adorado da escola sumiu. De repente o herói tinha, estranhamente, se tornado um homem… comum. E agora ela não sabia mais de nada. E então, ela era apaixonada pela fantasia ou pelo homem? E como dizer isso a ele? Nunca pensou que ele a seguiria depois daquela noite, pensou que ela seria a ignorada. Parecia que os papéis estavam invertidos nessa história.
"Mas Snape…" - sibilou entre dentes, seus dedos comichando para poder apanhar a sua varinha e azarar um mestre de poções, mesmo que saísse perdendo nessa história. -… você não precisava de ajuda…
"Na verdade você mais atrapalha do que ajuda, então pode ir."
"Mas…" - ela virou-se, olhando com olhos largos para o rosto sorridente de Sirius, sabendo que não teria escapatória. Por que a terra não poderia abrir e engoli-la? Seria pedir muito?
"Den?" –Sirius chamou com o sorriso mais charmoso, que derreteria até chumbo, indicando a saída da sala. –Vamos minha querida, temos muito que conversar. – o tom foi sarcástico, mas o sorriso continuava intacto no lugar.
"Minha querida?" – Snape ergueu uma sobrancelha, repetindo as palavras do animago. –O que é isso Black, crise de meia idade? – Sirius rilhou os dentes, mas o sorriso continuou emplastrado no seu rosto, cedendo passagem a Maya, que saiu da sala passando por ele rija como uma tábua.
"Maya?" – Sirius chamou assim que fechou a porta e a jovem virou-se, branca como uma folha, para encará-lo. –Venha comigo. – e caminhou, com ela o seguindo de perto, até chegarem à sala dele e finalmente ficarem a sós. Sirius sentou-se atrás de sua mesa e Maya encostou-se em uma carteira ao fundo da sala, impondo o máximo de distância entre eles.
"Bem… então? O que você queria me falar?" – perguntou incerta, encarando as suas mãos espalmadas em suas coxas.
"Você me diz." – Sirius disse sério, cruzando os braços sobre o peito e a encarando firmemente. Achava que ela realmente estava interessada nele, não era cego, via o modo como o perseguia desde que era apenas a sua aluna em Hogwarts e depois o modo como as investidas dela ficaram mais explícitas, quando voltou à escola como aprendiz de Snape. Mas agora ele realmente estava curioso. Para ela não tinha passado de uma diversão? Algo que ela poderia espalhar para as amigas: fiquei com Sirius Black. Certo, não deveria se sentir tão ofendido. Sua vida adolescente e, recentemente, adulta foi recheada de relacionamentos de uma só noite, fúteis e vazios, apenas para contar vantagem, apenas para dizer que o Almofadinhas ainda era bom com as mulheres. Mas, quando ficou com ela e acordou pela manhã com a cama vazia, sentiu-se estranhamente traído. Como se ele não tivesse valido nada para a jovem. Era realmente frustrante e ele não entendia direito o que estava acontecendo. Será que agora que estava ficando… maduro, porque ele se recusava a acreditar que estava ficando velho, resolveu tomar um rumo na vida e arrumar alguém sério? Afinal, ele tinha que admitir, já estava cansando de ficar sozinho. Mas por que logo esse desastre? O que ela tinha de tão… especial?
"Dizer sobre o quê?" – Maya olhou janela afora, vendo nuvens negras cobrirem a escola. Parecia que o frio estava chegando mais cedo este ano.
"Certo, você não estava bêbada na noite do Halloween, estava?" – Sirius estreitou um pouco os olhos, era só o que lhe faltava, ele ter se aproveitado de alguém que não estava sóbrio.
"Não, não estava."
"Então você se lembra do que aconteceu." – Maya soltou um suspiro.
"Sim, eu me lembro." – voltou os olhos para ele, não sabendo realmente como conseguir explicar a ele a sua reação de pavor.
"Então? Eu gostaria de entender. Sinceramente, Maya, não é todo mundo que eu vou atrás depois de passar a noite para poder saber porque me largou sozinho na cama." – de acuada rapidamente Maya passou para irritada. Aquele tom arrogante de Sirius era de enervar qualquer um. Quem ele pensava que era para agir daquele modo superior? Falando como se a considerasse menos insignificante do que todas as outras milhares de mulheres com que ficou.
"Realmente, claro que não." – disse sarcástica. –Afinal, é você que some primeiro da cama do bando de vadias com que dorme. Como se sente quando viu que alguém fez isso com você?
"Engraçadinha." – retrucou, percebendo que o tom dela era o indício do início de uma discussão. –Agora só falta me dizer que eu abusei de você. A seduzi e a enganei.
"Pois é… enganou. Você não era o que… eu esperava Black."
"Como é?"
"Você não é romântico, não é educado, não é carinhoso. Não passa de um sujeito arrogante e metido, cheio de defeitos."
"HAH!" – Sirius jogou os braços para o alto. –Parabéns Densetsu, você descobriu. Bem, prazer eu sou Sirius Black. O que você esperava? Um príncipe encantado? Esse sou eu garota, não sabia disso? Ex-prisioneiro, considerado por muitos um traidor e assassino. Creio que estou um pouco longe da perfeição. – rebateu malicioso.
"Eu sei… EU SEI!" – Maya gritou, desencostando da mesa onde estava. –E esse é o problema. Agora que eu sei, o encanto… se acabou. Você está longe daquele professor fantasioso que eu criei. Me desculpe se eu voei alto nas minhas expectativas e me esborrachei feio no chão.
"Então a culpa não é minha."
"Infelizmente…" - ela trincou os dentes, achando completamente impossível admitir isso. -… não. A culpa não é sua. Eu realmente sinto muito se o decepcionei. Acho que o melhor para nós é cada um seguir o seu caminho… - começou a caminhar para a porta, decidida a esquecer isso tudo.
"O que você vai fazer no sábado?" – Sirius a interrompeu, antes que ela fosse embora.
"O quê?" – ela virou-se, olhando confusa para ele, com a mão ainda na maçaneta da porta.
"Bem… o que você vai fazer no sábado? Não gostaria de sair… jantar comigo?"
"Está me convidando para sair, Black?"
"Sim."
"Como em um encontro?"
"Sim."
"Por quê?"
"Se eu te der as minhas razões você me dá um não na cara. Quer realmente ouvir?" – ela ergueu as sobrancelhas. Não, era melhor não ouvir.
"Não."
"E então, as nove está bom para você?"
"Perfeito." – respondeu e Maya saiu da sala. Assim que fechou a porta atrás de si, a jovem encostou-se na madeira, abrindo um largo sorriso que ia de orelha a orelha. Teria um encontro com Sirius Black.
Olhou para a sua mão, como se quisesse achar alguma imperfeição nela, depois deslizou o olhar para o braço com finos cabelos escuros, quase imperceptíveis, que subiam pela pele firme até chegar ao cotovelo e começarem a se tornar mais escassos. Desceu novamente o olhar para a mão, girando-a e a esticando, vendo os músculos ressaltados, as veias por debaixo da pele, os dedos longos e finos manchados com tinta. Deixou a mesma mão cair sobre o colo e soltou um suspiro, olhando com desalento para o livro aberto no chão ao lado da sua perna. A capa da escola estava esquecida a um canto, o suéter cinza no outro, a gravata frouxa estava oscilando sobre o peito enquanto a camisa branca estava completamente para fora da calça. As pernas cruzadas sustentavam um pergaminho e uma pena, completamente esquecidos enquanto o jovem olhava com extremo interesse para as páginas amareladas ao seu lado.
"Ai, o que eu faço?" – murmurou para si mesmo, escondendo o rosto nas mãos. Abriu dois dedos, para novamente olhar por entre eles o livro ao seu lado, tentando acreditar no que tinha acabado de ler. Não poderia ser verdade, poderia? Mas tudo indicava que sim, desde aquela conversa que teve com o Alexei. Então era isso, por isso ele se sentia diferente dos outros. –Um mago. – suspirou, jogando a cabeça para trás e olhando o teto alto da biblioteca, de dentro da sessão restrita. Ele era um mago. Isso explicava os sonhos, que no fim sempre se tornavam reais de um modo ou de outro. Os feitiços sem varinha, as sensações. Poder sentir as pessoas como se estivesse tocando no fundo da alma delas, ser capaz de interpretá-las e saber a verdade apenas com um olhar. E o mais estranho, a primeira vez que ele beijou Alexei, ele sentiu como se algo tivesse estabilizado dentro dele. Como se ele estivesse em um eterno terremoto interno e finalmente tivesse encontrado o seu centro de gravidade, o seu…
"Ponto de equilíbrio." – falou para o nada, voltando à cabeça para baixo para mirar as anotações que tinha rabiscado no pergaminho. Era disso que aquele diário estava falando. Sua mãe era o ponto de equilíbrio do seu pai. Era ela que mantinha Harry estável. Isso queria dizer que… Alexei era o seu ponto de equilíbrio? Ótimo. Mais uma coisa para torná-lo ainda mais esquisito. O que faria agora? Contaria para o seu pai? Talvez ele o ajudasse. Não, melhor não. Nenhum livro mencionava que Harry Potter é um mago, e com razão. As pessoas os temem. Afinal, eles podem ao mesmo tempo ser benéficos assim como prejudiciais a comunidade. Contaria a Dumbledore? Não, porque se contasse ele falaria com o seu pai, e isso de um modo ou de outro poderia se espalhar e com certeza aí sim ele seria considerado mais estranho ainda.
Fechou o livro com força e rapidamente enrolou o pergaminho em seu colo. Não, o melhor era manter isso dentro de si. Pelo que ele tinha lido no livro precisa-se de um evento muito forte para despertar o poder de um mago, ou então esperar esse poder amadurecer naturalmente. De um modo ou de outro, as coisas tinham que ser feitas com calma e não forçar nada. E por ele, se ele não ganhasse esses poderes, mais feliz ficaria. Afinal, parte dos heróis do mundo mágico foram magos, mas quase todos os inimigos também foram. Pareciam que eles estavam mais propensos a se perderem para o lado das trevas do que para o da luz, e isso dava um certo medo a Day. Do que adiantava tanto poder se você poderia se perder na escuridão para sempre? Não era nada lucrativa essa história.
"Finalmente eu te achei." – o garoto deu um pulo de susto, erguendo o rosto pálido para ver Hannah ajoelhar-se na sua frente. –O que você está fazendo na área restrita?
"Pesquisando… para feitiços." – mentiu, pegando o livro que estava no chão e o abraçando, escondendo o título dele em seu peito. –O que você quer?
"Evan recebeu uma carta da mamãe essa manhã."
"E?"
"Ela pediu para irmos para casa no Natal."
"Por quê?"
"Eu não sei. Olha só o que ela escreveu." – e entregou o pergaminho para ele, que pegou com uma mão, ainda abraçando o livro com o outro braço.
"Quando vocês vierem para casa eu explicarei melhor a história. Mas a questão é que este ano passaremos o Natal na casa do vovô Albert. Eu sei que vocês vão achar estranho, nunca fomos na casa dele, mas esse ano será diferente. Há algo que preciso contar a vocês. Beijos, os vejo no Natal.
Amor,
Mamãe."
"Bem, parece então que teremos que esperar até lá."
"Mas você não está nem um pouco curioso? Quero dizer, mamãe sempre fez mistério sobre a família dela. Vovô Albert quase não fala nada e nunca fomos visitá-lo. E então, de repente, passaremos o Natal na casa dele? Eu considero isso muito suspeito."
"Pode ser, mas prefiro esperar para ver." – estendeu o pergaminho de volta para ela. –Aonde você vai vestida desse jeito? – perguntou, vendo que a irmã já tinha tirado o uniforme da escola e estava vestida em trajes mais informais.
"Sair. Esqueceu? Final de semana em Hogsmeade. Por que você está de uniforme?" – perguntou, o olhando de cima a baixo, vendo a roupa amarrotada que ele vestia. –Day… - falou calmamente, não acreditando no que estava prestes a dizer. –Você passou a noite inteira aqui? – Day piscou e olhou para o seu relógio, onde já indicava dez da manhã… de sábado. Arregalou os olhos e levantou-se rapidamente, recolhendo as suas coisas e as colocando em sua bolsa. Não poderia acreditar. Ficou tão empenhado nessa história de magos, desde que Alexei e ele encontraram aquele diário na sala da Ordem e desde que o russo explicou a história por detrás desses bruxos, que perdeu totalmente a noção do tempo dentro da sessão restrita para poder obter mais informações.
"Bosta!" – falou com irritação. –Eu tinha um encontro… - calou-se, fechando a sua bolsa e jogando a capa e o suéter por cima dela, a prendendo no ombro.
"Um encontro com o Alexei?" – ele não precisava terminar, pois ela sabia perfeitamente de quem o gêmeo estava falando. Reparou em como Alexei parecia estar andando nas nuvens nos últimos tempos e em como Day estava com a cabeça nas nuvens também. E ambos, cada vez que olhavam um para o outro, ficavam com aquele olhar perdido e embevecido.
"Eu… você… eu posso explicar." – respondeu o garoto, o rosto começando a ficar rubro.
"Não precisa, querido. Eu entendo. Ele é bonito."
"Você realmente não se importa que eu esteja com…"
"Não."
"Mesmo que seja o Alexei?"
"Qual é o problema?"
"Evan não gosta dele."
"Evan não gosta de muita gente. Mas o desprezo que ele tem por Yatcheslav é uma coisa que eu nunca entendi. E com certeza ele não vai ficar feliz quando souber da novidade. Por isso, tomem cuidado."
"Certo. E você não se importa, mesmo?"
"Já disse que não criatura. Afê!" – Hannah jogou as mãos para o alto e Day abriu um brilhante sorriso, puxando a irmã e a abraçando fortemente.
"Obrigado."
"Agora vai! Não vai querer deixá-lo esperando, não é mesmo?" – o jovem sorriu mais ainda, saindo correndo da biblioteca e cruzando corredores, pulando escadas, fazendo o caminho mais rápido até chegar à torre da Grifinória. Mal entrou na sala comunal e correu para o seu quarto, largando o material sobre a cama, abrindo o seu malão com um pontapé e recolhendo uma roupa, indo às pressas para o banheiro. Tomou um banho rápido e saiu se enxugando como pôde, com os cabelos pingando sobre os ombros. Passou os dedos por entre as mechas negras para tirar o excesso de água e acabou arrepiando todos os fios, mas não se importou com isso. Pulando em uma perna, vestiu a calça jeans ao mesmo tempo em que tentava colocar a meia e o sapato, enfiou a camisa pólo azul escura por sobre a cabeça e catou a jaqueta jeans em cima da cadeira. Deu uma última olhada no espelho, vendo que tinha alguns círculos escuros sob os olhos. Bem, não poderia dar um jeito nisso. Talvez um dia de folga ajudasse. Vinte minutos depois estava saindo da sala comunal em direção ao vilarejo. Quase todos os alunos já estavam a caminho de lá.
Desceu o caminho para o vilarejo e abriu um pequeno sorriso quando viu a silhueta de Alexei encostado em uma árvore na entrada da cidade. Apressou os passos até que estava finalmente ao lado dele. O russo abriu os olhos, olhando de esguelha para o jovem parado ao seu lado, e deu um meio sorriso. Nada disse, apenas desencostou-se da árvore e começou a seguir um caminho oposto a Hogsmeade.
"Para onde estamos indo?" – perguntou, vendo o rapaz mais velho mover-se na sua frente, completamente em silêncio. Alexei apenas olhou por cima do ombro, dando um sorriso misterioso para o grifinório e continuou andando. Cinco minutos de caminhada e eles dois se encontravam no topo de um monte que dava visão a todo o vilarejo.
"Senta." – convidou o sonserino, sentando-se na grama e cedendo espaço para Day sentar-se ao lado dele. O apanhador apenas caminhou até o rapaz a abaixou-se na sua frente, colocando cada mão em cima dos joelhos do russo, os afastando um do outro, assim que abriu espaço acomodou-se entre as pernas dele, encolhendo-se contra o peito do rapaz. Alexei piscou um pouco, ainda surpreso com a atitude do garoto, mas não pensou muito, apenas o envolveu com os braços e apoiou o queixo no topo da cabeça dele. Ficaram alguns minutos em silêncio até que Alexei começou a falar, sua voz sendo abafada pelos fios negros do cabelo de Day.
"Max?"
"Hum?" - murmurou o rapaz com os olhos fechados e afundando-se ainda mais nos braços do sonserino.
"O que você estava fazendo tarde da noite na sessão restrita da biblioteca?"
"Pesquisando." – respondeu, não se incomodando em perguntar como Alexei sabia onde ele estava. Afinal, essa semana ele ficou com o Mapa do Maroto.
"Àquela hora da noite?"
"Estava pesquisando sobre magos." – respondeu com uma voz distante e o russo ficou quieto. Sabia que Day tinha ficado cismado com essa história desde que ele contou para o jovem o que era um mago.
"E virou a noite na biblioteca, não foi?" – repreendeu suavemente, dando um leve beliscão no lóbulo da orelha do garoto. Day riu um pouco.
"E você ficou me espionando, não foi?"
"Bem… fiquei. Minha vontade foi de ir lá e te arrastar para o meu quarto e te colocar para dormir." – o apanhador riu.
"E de manhã teria que explicar para os seus companheiros o que um garoto estava fazendo na sua cama."
"Não, pior, eu teria que explicar o que um grifinório estava fazendo na minha cama. Olha a confusão que iria dar."
"Oh, claro, o fato de eu ser um grifinório é bem pior do que eu ser o seu namorado. Vocês sonserinos são uns arrogantes."
"Sim, verdade. Mas fique sabendo que você é o único grifinório que está nas minhas graças."
"Graças a Merlin! Se tivesse outro, eu nem sei do que seria capaz de fazer com você."
"Isso são ciúmes na sua voz, Maxwell?"
"De você? Hunf! Nunca!"- Day bocejou.
"Está com ciúmes sim, confessa." – provocou o russo e recebeu uma cotovelada como resposta.
"Ah, cala a boca." – respondeu o grifinório, aconchegando-se mais nos braços do rapaz, encontrando uma posição mais confortável e assistindo de camarote a movimentação no vilarejo, naquele lugar silencioso e cheio de paz.
"Day?" – Alexei chamou quando percebeu que ele ficou quieto por muito tempo. Day não se mexeu e nem respondeu o jovem. O sonserino olhou por cima do ombro do namorado, atestando o que ele já desconfiava, o garoto tinha dormido nos seus braços. –Nisso que dá virar a noite em claro. –resmungou, escorregando pela grama a deitando-se nela, trazendo o corpo do rapaz adormecido. O jeito era ficar ali até Day acordar. Fechou os olhos e logo acompanhava o garoto no mundo dos sonhos.
Hannah Potter estava com vontade de esganar alguém. Correção, na verdade ela estava com vontade de matar alguém. Alguém alto, que geralmente vestia negro, tinha cabelos escuros e olhar predador e atendia pelo nome de Severo Snape. Sua tormenta, o mesmo infeliz que fez essa maldita prova. Essa infeliz prova onde cada pergunta era desconhecida a ela e as respostas viviam sumindo da sua cabeça.
Olhou por cima do ombro para os outros alunos a sua volta, que faziam as mesmas caretas que ela em relação a essa prova de meio de ano letivo. E maioria das caras feias vinham do pessoal da Grifinória. Hunf! Fácil de explicar, eles era umas pedras acéfalas em relação a poções. Bem, todos menos o seu irmão. Day tinha herdado a genialidade da mãe deles na matéria. O problema era que Snape sabia disso, assim como sabia que ela tinha herdado a falta de talento de Harry para o assunto. E por isso, para ser extremamente sádico, ele colocou os gêmeos em cantos opostos da sala. Certo que cola não iria funcionar nesse teste, mas alguém já tentou colar de maneira trouxa alguma vez na vida dentro dessa escola? Apostava que não.
Soltou um longo suspiro, mirando seus olhos verdes novamente na questão a sua frente, mas as palavras pareciam se distorcer à medida que ela tentava ler. Fórmulas e ingredientes vinham a sua cabeça, mas nada se associava com nada. E, no fim, tudo era substituído pelo rosto de Ethan. Soltou um grunhido mental. Estava no meio de uma crise federal e a única coisa que conseguia pensar era em como os olhos de Ethan brilhavam de maneira impressionante, mesmo ele não podendo enxergar nada. Por Deus, só teve um encontro com o garoto e já não conseguia tirá-lo da cabeça. Imagina se eles tivessem se beijado? Corou um pouco, afundando-se na cadeira como se estivesse realmente interessada no que estava escrito no pedaço de pergaminho. Na verdade eles quase se beijaram. Depois que Ethan a levou para passear em Hogsmeade, lanchar no Três Vassouras e andar pelas ruas do vilarejo como em um encontro comum, ele a trouxe de volta aos portões do castelo e quase a beijou. Mas se Evan não tivesse aparecido e interrompido o momento… A pena na mão da garota partiu-se diante da raiva empregada nela e o estalo chamou a atenção de todos na sala silenciosa.
"Srta. Potter, algum problema com a sua pena, ou a sua prova?" – perguntou Snape com o seu usual tom calmo, o que estava irritando intensamente a menina. A presença dele só servia para lembrá-la que ela iria se ferrar nessa prova.
"Não professor." – comentou secamente e ouviu com muito desagrado as risadinhas de alguns grifinórios. Certo, seus irmãos poderiam ser daquela casa, mas isso não a fazia gostar daqueles imbecis. Olhou em direção aos engraçadinhos que tentavam em vão esconder um sorriso e rosnou entre os dentes para eles, ameaçando uma punição dolorosa para eles assim que saíssem das masmorras. Rapidamente eles se calaram, sabendo que era melhor pensar duas vezes antes de rir da cara da jovem Potter.
Silêncio voltou a reinar na sala e Hannah soltou um suspiro, mexendo a sua varinha e assim consertando a pena. Olhou novamente a sua volta, lamentando o fato de que Catharine estivesse tão longe dela. Afinal, ela era a filha do mestre. Se ela falhasse em Poções com certeza seria esfolada viva. E Snape nunca permitiria que uma cria sua tirasse menos que a nota máxima na matéria que ele ensinava. Resignada, começou a colocar no pergaminho o que achava que era a resposta. Já estava ferrada mesmo, e ainda teria chances de se recuperar nas provas finais, bastava pedir ajuda a Day. Era sempre assim mesmo, uma tradição que não poderia ser mudada. Mais um suspiro e olhou novamente para a pergunta.
5) O que se obtém ao adicionar raiz de asfódalo em pó em uma infusão de losna? E explique com detalhes o modo de se administrar à fusão obtida.
Piscou, erguendo uma sobrancelha castanha. As palavras lhe eram familiar, com certeza se fechasse os olhos poderia ouvir a voz de Snape as falando. Mas, no momento, aquela frase não soava nenhum sino dentro do seu cérebro. Deu um sorriso torto, sabendo que se escrevesse isso faria Snape subir pelas paredes, mas ela estava de mau humor. Fosse por causa do quase beijo interrompido por Evan, fosse porque estivesse de tpm ou porque simplesmente estava a fim de fazer a vida de alguém miserável hoje. E a vítima da vez era Snape. Fazer o que, não é mesmo? Nem todos tinham um bom dia. Com o sorriso se alargando ainda mais ela respondeu:
R: Bem, se o senhor não sabe o que acontece e como usá-la, não serei eu a responder. E você ainda se considera um Mestre de Poções? Vergonhoso tio Sevie.
Recostou-se na cadeira, satisfeita, com certeza isso acabaria com o dia dele.
Uma hora depois o sinal tocou e todos foram passando os testes para o colega que estava na frente, até que os pergaminhos finalmente chegaram às mãos de Snape. Pouco a pouco, cada um foi recolhendo as suas coisas, saindo das masmorras frias por causa do ar de fim de novembro e sumindo pelo castelo, para a próxima aula e para mais um teste. Hannah subiu as escadas e o seu sorriso maquiavélico se alargou mais ainda quando viu quem estava andando bem à frente dela. Julius Raven e seus queridos amigos. Seu anti-cristo. Esse garoto vivia apenas para a provocar. Com ele a rivalidade entre as casa era levada aos extremos. Afinal, Sonserina e Grifinória jamais se entenderiam, por mais que o tempo passasse. E cada ano tinha a sua guerrilha particular. Do primeiro ao sétimo ano havia grupos que tomavam a frente de batalha. E do quarto ano era Raven contra Potter.
Resoluta, Hannah caminhou até ele, passando pelo rapaz um pouco mais alto que ela, magro e de cabelos curtos, negros e desarrumados. Displicente bateu com força a sua mochila nas costas dele, o fazendo perder o balanço e cair de cara no chão. Não parou para olhar o estrago que tinha feito, fingindo ter passado por ele e esbarrado sem perceber. Apenas quando os amigos do garoto chamaram por ela é que a menina parou, com a cara mais lavada do mundo, para encará-los.
"Sim?" – perguntou calmamente.
"Jogo sujo Potter, atacando por trás."
"Jogo sujo, Raven. Rindo às minhas costas. Olho por olho, dente por dente. Sorria, ao menos eu não quebrei o seu nariz… de novo." – e rodou sobre os pés, indo embora saltitante e um pouco mais leve.
"Parece que alguém está feliz hoje." – a jovem parou estática no meio do corredo, assim que ouviu a voz. Virou-se, com os joelhos trêmulos e prendeu a respiração quando viu a pessoa que tinha falado com ela. –Hannah? – a voz soou incerta. Será que ele tinha pressentido direito? Afinal, aquele perfume ele só tinha sentido na garota e em ninguém mais na escola.
"Ethan." – a garota respondeu assim que conseguiu recuperar a sua voz e Ethan abriu um sorriso, caminhando a passos firmes em direção a ela e parando bem na sua frente. Os olhos castanhos brilhavam, direcionados ao seu rosto, como se realmente pudesse vê-la.
"Ah, pensei que tinha me enganado quando percebi a presença de alguém no corredor." – Hannah piscou confusa diante das palavras dele.
"Como você sabia que era eu? Essa coisinha brilhante te disse?" – falou, apontando para o feitiço guia. Ethan sorriu mais ainda, desfazendo o feitiço com um estalar de dedos.
"Não. Soube que era você por causa do seu perfume." – a jovem corou e agradeceu que ele não pudesse ver o seu rubor. –Você está corando? – perguntou com um pequeno sorriso e a menina arregalou os olhos verdes. Como ele sabia? –A sua temperatura corporal aumentou. Deve saber que eu tenho sentidos muito aguçados, já que nunca fui capaz de enxergar.
"Fascinante. Então você pode sentir o meu perfume à distância e saber que sou eu?"
"Sim." – sorriu mais ainda, sabendo que ela estava ficando mais vermelha. Nesse momento daria tudo, tudo mesmo apenas para saber como ela era. Como eram as linhas do seu rosto, a cor dos seus olhos, seus cabelos, a textura da sua pele. Quando saíram em seu primeiro encontro a Hogsmeade, ele não teve tempo de tocá-la, vê-la com os dedos. Ainda estavam se conhecendo e um passo desse tamanho deveria ser dado aos poucos. Mas, mesmo assim, pela primeira vez ele lamentava por ser cego. –Afinal, nunca conheci alguém que cheirasse tão bem. – Hannah deu um sorriso brilhante embevecida com o elogio mesmo que a sua bochecha estivesse extremamente vermelha.
"Se chama Hannah n° 5."
"O quê?" – Ethan piscou.
"O perfume. Ele é uma das criações da minha mãe. Ela é uma boticária, sabia disso? E cada um de nós tem um perfume com o nosso nome, que ela fez de acordo com a nossa personalidade. São as chamadas "peças raras" dos produtos a venda nas lojas dela. Meu irmão mais velho tem um que se chama Evan. Day também tem um que se chama Day Light. Até o meu pai tem um. Mas o dele eu não sei o nome, e ele me recusa a dizer. Fala que é embaraçoso demais contar isso." – falou confusa, enrolando uma mecha do cabelo entre os dedos. Ethan apenas ficou parado lá, ouvindo ela falar sobre a família dela, adorando o som da voz da garota entrando em seu cérebro e sendo gravado lá.
"Bom saber que é raro. Então, cada vez que eu sentir esse cheiro gostoso saberei que é você." – Hannah deu um sorriso sem graça diante das palavras dele. Ele sempre falava assim quando estava perto dela, sempre galanteador. Será que ele era educado dessa maneira com todo mundo ou ela era um caso especial?
"Mas o que você faz aqui?" – perguntou antes que ficasse tão vermelha quanto as cores da Grifinória.
"Dumbledore gostou tanto da nossa apresentação no Baile de Halloween que pediu que repetíssemos a dose no Baile de Inverno."
"Então vocês irão tocar no Baile de Inverno, que legal. Bem, tudo o que eu posso dizer é boa sorte." – rapidamente o sorriso que Ethan estava ostentando por todo esse tempo morreu.
"Como assim, você não vai ao Baile de Inverno?"
"Não. Minha mãe pediu que eu fosse para casa no Natal. Então, sorte na apresentação. Eu tenho que ir, aula de TDCM." – deu as costas a ele para continuar o seu caminho, mas num reflexo rápido ele segurou o seu pulso com precisão.
"Espere. Eu queria saber se poderíamos repetir a dose em relação ao nosso encontro."
"Você quer… sair comigo de novo?" – perguntou a menina, erguendo uma sobrancelha e Ethan percebeu que a aura em volta dela tinha mudado. O que havia de errado?
"Sim, qual é o problema nisso?"
"Ethan… quando você me convidou pela primeira vez eu não disse nada porque ainda estava absorvendo a idéia. Mas acho que já é hora de esclarecermos uma coisa. Me diz, o que um rapaz como você, maior de idade, vivido, independente, iria querer com uma menina de quatorze anos que ainda está no colégio?" – Ethan soltou lentamente o pulso dela, dando um pequeno sorriso.
"Fala que aceita, que vai sair comigo, e quem sabe você descubra o que eu vi de interessante em você."
"Viu de interessante em mim?"
"Modo de falar, você me entendeu."
"Certo." – ela recuou um passo, ainda incerta, mas ao mesmo tempo curiosa. Queria saber o que ele realmente tinha visto nela. Afinal, ele era mais velho, bem mais velho. E garotos mais velhos geralmente não se interessavam por meninas no meio da adolescência. Mas também não custava nada tentar. Afinal, a diferença de idade entre eles era a mesma entre os seus pais, e eles dois eram felizes. Então, o que havia de errado em arriscar? –Então a gente se vê…
"No dia quatorze de fevereiro. É quando eu volto da pequena turnê que o nosso empresário arrumou." – ela ficou um pouco vermelha mais mesmo assim concordou. Quatorze de fevereiro era Dia dos Namorados. Será que ela arrumaria algum para ela nesse dia?
"Então a gente se vê." – disse, dando as costas e correndo escada abaixo, pois já estava atrasada. Ethan apenas ficou parado no meio do corredor, com um sorriso idiota no rosto, mal podendo esperar e contando os dias para fevereiro chegar. Nesse meio tempo ele teria que planejar um modo de manter contato com ela e conhecê-la mais e, quem sabe, no dia dos namorados, ele não arrumava uma namorada para si.
Harry ajeitou-se mais contra a pilastra da estação, olhando de relance para o grande relógio que tinha nela. Mais alguns minutos e o trem chegaria. Olhou ao redor para a parte trouxa do local, dando um sorriso torto ao se lembrar que já fazia trinta e três anos desde a primeira vez que ele colocou os pés nesse lugar para ir para Hogwarts. Mais de trinta anos… era uma vida. Uma vida inteira. E como passava rápido. Ainda se lembrava da primeira vez que viu os Weasley. Do primeiro encontro com Hermione. Seu primeiro encontro com Voldemort. As aventuras, a guerra, e da primeira vez que a viu. Sorriu genuinamente com essa lembrança. Dallas era tão miúda quando a conheceu, com os seus enormes olhos violetas cobertos por aqueles óculos ridículos, o cabelo caindo no rosto, quase sumindo por debaixo da capa da Sonserina, agarrada a aqueles livros. Parecia uma bonequinha de pano abandonada. Mas então o tempo passou e os óculos sumiram, as roupas largas não estavam ficando assim tão largas, sendo preenchidas com as curvas da puberdade. Os olhos não eram mais escondidos, os cabelos sempre estavam bem tratados e brilhantes e o rosto, que no começo era pálido, estava eternamente rubro por causa de uma gostosa gargalhada ou por causa do temperamento instável dela.
Sacudiu a cabeça a afastou esses lembranças. Pensar na sua mulher sempre o fazia se sentir assim: aéreo. Afinal, contando com o tempo de namoro, eram vinte um anos juntos. Também uma vida. Sorriu abertamente quando viu que pessoas começaram a sair do lado bruxo da estação, sumindo entre a multidão para poder aproveitar o Natal com a família. E poucos segundos depois vinham os três jovens Potter. Seus filhos. Ainda guardava com carinho a sensação de felicidade extrema que apoderou de si quando soube que Dallas estava grávida de Evan. E das lágrimas que derramou quando o segurou pela primeira vez nos braços. Mas agora Evan não era mais um bebê, era quase um homem. E os gêmeos também estavam seguindo o mesmo caminho que o irmão, de maneira espantosamente rápida. É, o tempo passava.
"Papai!" – Hannah largou o malão nas mãos do irmão e correu em direção a Harry, dando um abraço apertado no homem. Harry riu quando viu aquela bola de energia vir em sua direção. Hannah parecia com a mãe na idade dela. Os cabelos mel, o sorriso largo, sempre direcionado para aqueles que amava. Ela era toda Dallas, até no gênio. A única coisa que tinha herdado de si eram os olhos verdes e os genes para travessuras.
"Você cresceu." – atestou quando a garota afastou-se de si. Ela realmente tinha crescido nesses poucos meses. -Hei garoto! – aproximou-se de Day, afagando os cabelos dele e rindo com a tentativa frustrada do menino de tirar as mãos do pai de suas mechas negras. –Soube que fez um grande jogo contra a Corvinal na abertura da temporada. Queria estar lá para ver. Quem sabe na próxima.
"Bom te ver também pai." – respondeu o menino. Ele sim era uma mistura inconfundível entre Harry e Dallas, não apenas fisicamente, mas na personalidade também. Calado e introvertido na maioria das vezes, explosivo e genioso em outras, maduro e sarcástico em algumas ocasiões.
"Pai." – Evan assentiu com um tom sério na voz para Harry. Também havia crescido nesse meio tempo, tanto que estava da altura do pai.
"Evan." – respondeu no mesmo tom, notando que havia algo estranho nele. O brilho divertido que às vezes surgia nos olhos azuis escuros havia desaparecido. Ele parecia mais sério… mais melancólico. Puxou o rapaz pelo pulso e deu um forte abraço nele, como se quisesse protegê-lo do mundo ao seu redor.
"E a mamãe?" – perguntou o rapaz mais velho, olhando ao redor da estação para ver se poderia achar o semblante confortador da sua mãe, porque, no momento, tudo o que ele almejava era o colo dela para ver se sumia com a dor que estava em seu peito diante do rompimento com Angela. Certo que já fazia alguns meses, mas mesmo assim a dor não pareceu diminuir.
"Está em casa…" - Harry pareceu um pouco hesitante em responder. -… com algumas visitas. – e pegou um dos malões e começou a arrastar em direção ao carro da família.
"Visitas? Quem?" – Hannah perguntou excitada, mas o rosto do pai não parecia muito feliz diante das supostas visitas.
"Meus tios." – respondeu entre dentes e os três adolescentes piscaram confusos.
"Seus tios?" – Day falou descrente. –Pensei que você fosse órfão.
"Infelizmente… ainda tenho uma família trouxa no mundo. Fazer o que, não é?" – comentou desgostoso, abrindo o porta mala do carro e enfiando os malões dos filhos dentro dele, o fechando com força. –Vamos que a sua mãe está esperando por vocês. – e abriu as portas, permitindo que cada um se acomodasse nos bancos.
O caminho da estação a casa do Potter foi feito na usual bagunça que era feita. Com Evan discutindo com os irmãos no banco de trás, relatando todas as travessuras de Hannah para o pai e com ela sempre rebatendo as acusações do irmão com ofensas e provocações. Isso até Day entrar no meio da história tentando bancar o pacificador e então a guerra era declarada, porque cada um tentava puxar o garoto para o seu lado, provar para ele quem realmente estava com a razão.
"Então fala para ele o que eu te peguei fazendo naquela visita a Hogsmeade." – acusou Evan em um ponto, na metade do caminho. Se não estivesse acostumado com isso, Harry com certeza já estaria com uma bruta dor de cabeça. Mas, no máximo, o que conseguia fazer era rir com as discussões dos filhos. –Ela estava beijando um garoto.
"Correção cabeça de vento. Quase beijando. Eu o beijaria se um certo idiota não tivesse aparecido."
"Respeito comigo fedelha, sou seu irmão mais velho."
"Oras, fod..."
"Hannah!" – Harry gritou, impedindo que ele continuasse a frase. Day apenas gargalhou ao lado da garota.
"Pai! Ele estragou o meu encontro." – a menina apontou acusadoramente para o irmão.
"Pai! O sujeito é sete anos mais velho que ela!" – Harry franziu as sobrancelhas. Era uma diferença de idade grande. Certo, era a mesma diferença entre Dallas e ele, mas quando eles começaram a namorar, Dallas tinha dezesseis. Hannah ainda tinha quatorze.
"Pai! É Ethan Weasley! Filho do tio Ron e da tia Mione. O senhor o conhece." – defendeu-se a jovem.
"Ethan?" – Harry olhou por cima do banco para a filha, assim que eles pararam em um sinal vermelho. –Bem… Ethan é um bom rapaz, e se ele está interessado…
"O quê?" – Evan gritou indignado. Bom rapaz ou não, ainda sim era um homem, e homens da idade dele só queriam uma coisa com meninas da idade dela. –O senhor não pode estar…
"Evan… sei que você é super protetor, mas acho que a sua irmã sabe cuidar de si mesma, não é mesmo? Afinal, sou eu que recebo as cartas de Hogwarts falando que ela quebrou o nariz de alguém. Aliás, por falar nisso, Hannie querida já fez alguém chorar esse ano?" – perguntou malicioso e Hannah soltou uma gargalhada divertida.
"Ainda não, mas estamos apenas na metade do trimestre, não é mesmo? Tenho tempo." – Evan apenas soltou um resmungo derrotado e virou-se no banco da frente, olhando diretamente para a rua e não abrindo mais a boca pelo restante do percurso.
Dallas estava servindo mais uma xícara de chá para Valter Dursley, que se manteve calado desde que chegou na casa dos Potter, quando a porta da frente abriu-se com um estrondo e vozes começaram a soar pela grande sala.
"Você é apenas um idiota encalhado que não suporta o fato de que eu estou arrumando alguém!" – a voz de Hannah preencheu o local e Dallas soltou um suspiro. Qual seria o tema da discussão dessa vez?
"E você é uma pirralha que ainda não tem maturidade o suficiente para namorar alguém!" – Evan rebateu em seu tom seco e perigosamente sarcástico. Às vezes a mulher se perguntava como ele foi parar na Grifinória sendo que tinha muitas características sonserinas.
"Crianças, crianças, acalmem-se." – e por fim o tom apaziguador de Day.
"Me acalmar? Foi esse imbecil que começou. Ele não sabe perder em uma discussão, apenas isso."
"Eu estou tentando apenas colocar algum senso nessa sua cabeça oca e…"
"CHEGA!" – o grito e a mulher deu uma negativa divertida com a cabeça. Esse, definitivamente, era o Harry no limiar da sua paciência.
"Parece que eles chegaram." – Dallas comentou a Petúnia, que tinha um ar curioso no rosto, e Valter, que estava fazendo uma careta de desagrado. Com certeza não gostava da idéia de estar na casa do sobrinho esquisito. Só estava ali para acompanhar a mulher, apostava.
"Mãe, você quer falar para o imbecil que chama de filho não se meter…" - Hannah entrou na sala já resmungando, mas calou-se quando viu que havia outras pessoas lá além da sua mãe. –Okay, esses são os tios trouxas do papai? – disse displicente e com um ar arrogante. Valter soltou o que parecia um resmungo por debaixo do farto bigode, mas Petúnia apenas abriu um grande sorriso. Então, essa era um dos filhos de Harry? A mulher levantou-se lentamente do sofá, caminhando até a garota. Poderia ver todos os traços de Dallas na menina, talvez algumas suaves lembranças de Harry nela. Mas os olhos. Os olhos dela eram os olhos de Lílian. Um semblante de tristeza passou por seu rosto por um momento. Lílian com certeza teria adorado conhecer a neta.
"Olá. Sou Petúnia Dursley. E você é?"
"Hannah." – respondeu a garota, olhando desconfiada para a mão estendida para ela. Lançou um olhar para a mãe, que apenas sorriu e assentiu com a cabeça. No fim, recebeu a mão da mulher em um cumprimento.
"Prazer." – sorriu mais abertamente, vendo que dois jovens paravam ao lado da menina. –E vocês?
"Evan." – Evan estendeu uma mão para ela, dando um rápido cumprimento. Day apenas ficou lá parado, olhando longamente para a mulher como se conseguisse ver algo que os outros não poderiam ver.
"Day!" – disse com um grande sorriso, abraçando Petúnia e pegando a todos de surpresa, inclusive ela. Depois de um tempo de choque, a mulher o abraçou de volta, dando um pequeno sorriso. O rapaz afastou-se dela, sob o olhar curioso de todos. Evan piscou, mais curioso ainda. Às vezes Day agia de um modo esquisito que ninguém conseguia entender. Segurou o irmão pela camisa e começou a arrastá-lo escada acima, junto com Hannah.
"A gente vai se trocar para o almoço. Voltamos em dois minutos." – disse aos outros enquanto subiam as escadas. Assim que se encontravam no andar superior, pararam e Evan e Hannah viraram-se para o irmão mais novo, ambos com a mesma pergunta nos olhos: o que foi aquilo tudo?
"Day, você abraçou uma estranha." – comentou a jovem.
"Não é uma estranha, é a tia do papai." – respondeu o menino como se isso fosse uma coisa comum do dia a dia. Como se Petúnia fizesse parte da vida deles há anos.
"Ainda sim é uma estranha." – rebateu Evan.
"Dêem um desconto a pobre, ela já passou por muita coisa nessa vida." – falou, dando de ombros e os outros dois mais velhos ergueram a sobrancelha, confusos.
"O quê?" – perguntaram em unísso. Como ele sabia o que a mulher passou ou deixou de passar? Day quase fez uma careta por ter deixado isso escapulir. Ele tinha visto o passado dela só de olhar nos olhos da mulher. Estranho, parecia que ele não tinha apenas visões do futuro, mas do passado também. Será que havia um jeito de controlar isso? Será que o seu pai passava pelo mesmo problema? Pensando bem, agora que ele realmente se interessava no assunto conseguia achar explicações para o fato de que, muitas vezes, Harry parecia saber mais do que aparentava. Como se ele visse muito além de simples olhos mortais. Isso era assustador.
"Vocês não iam se trocar ou coisa parecida?" – mudou rapidamente de assunto, passando por eles e indo em direção ao próprio quarto, batendo a porta assim que entrou. Recostou-se nela, deslizando até sentar no chão acarpetado. Da posição que estava pôde ouvir os passos no corredor indicando que os seus irmãos foram para os seus quartos. Soltou um suspiro, havia escapado dessa.
"Ótimo!" – grunhiu enfurecido, passando uma mão pelos cabelos. Essa coisa de mago estava ficando mais forte a cada dia. Isso queria dizer que os seus poderes estavam amadurecendo e despertando. Mas ele não queria esse porcaria, já tinha problemas demais para saber que era… diferente. Claro que ainda tinha o seu pai para poder pedir conselho, mas com certeza ele ficaria preocupado ao saber sobre o filho. Afinal, pelo que ele tinha entendido naquele diário da Ordem, Harry apenas despertou quando já era maduro o suficiente para poder entender o fardo que ser um mago era. Para poder enfrentar de frente os olhares assustados que as pessoas lançavam diante de bruxos assim. Agora e ele? Ele ainda só tinha quatorze anos, nem era um bruxo formado, ainda não sabia controlar a sua magia direito e essa era a sua maior preocupação. Ainda estava em fase de aprendizado, isso queria dizer que não conseguia controlar o próprio poder bruxo. Imagina o poder de um mago? Seria um horror. Seria um desastre. E ter a possibilidade de se transformar no próximo Voldemort… tremeu, afastando rapidamente esses pensamentos de sua mente. No momento, ele tinha outras coisas com que se importar. Como o fato de que se Evan teve um treco com a possibilidade de Hannah estar namorando o Ethan, como ele reagiria quando soubesse que o seu querido irmão estava namorando Alexei?
"Nada boa, aposto." – murmurou para si mesmo, erguendo-se do chão e soltando um longo suspiro. Era melhor se trocar e ir conhecer os tios do seu pai. Talvez assim, por uma tarde, ele seria… normal.
Continua…
