Hannah parou em frente ao espelho, sorrindo diante da imagem que refletiu lá. Piscou para si mesma e rapidamente o reflexo no espelho a respondeu:

-Esta linda querida.

-Oras, obrigada. – disse, alisando o suéter de algodão branco e gola alta que descia até o quadril, onde uma saia negra com panos sobrepostos e desalinhados descia até os joelhos da garota. Onde, um pouco abaixo, terminava o cano de uma bota de couro também negra. Sentou-se na cama, esperando o chamado de sua mãe. Hoje eles iriam passar o Natal na casa do seu avô Albert. E Dallas parecia muito, muito nervosa mesmo em relação a isso. Soltou um suspiro, apoiando o cotovelo em um dos joelhos e a mão no queixo. Lá fora a neve caía branca do céu do entardecer e por isso mal dava para ver a coruja que vinha na direção dela. Apenas quando a ave entrou janela adentro, planando perto do teto até pousar na cabeceira da cama é que ela notou o animal. Rapidamente tirou a carta presa na pata da coruja, já sabendo quem era o remetente. Afinal, ela tinha umas quatro cartas com a mesma letra desde que chegou em casa.

Minha cara Hannah,

Como você está? Bem, espero. Recebi a sua última carta e agora fiquei tão curioso quanto você. Quer dizer que você nunca, nunca mesmo passou o Natal na casa do seu avô? Interessante. Bem, se você quer realmente saber, não posso esclarecer muito as suas dúvidas. Confesso que lembro de ter ouvido meus pais comentarem algo sobre o reaparecimento da família da sua mãe e que a sra. Potter estava em um estado de nervos por causa disso, mas nada mais. Então, talvez as respostas estejam com a sua mãe.

Mas, mudando bruscamente de assunto, confesso que mal posso esperar para as férias de inverno passarem e por nosso encontro. A cada dia que passa, a cada carta trocada, acho fascinante a sua pessoa. Eu sei, eu sei que com certeza você ainda deve estar se perguntando o que eu vi de especial em você. Mas eu já disse, só responderei isso no dia 14. Enquanto isso, continuarei contando os dias.

Bem, eu preciso ir, tenho um Baile para animar.

Feliz Natal

Ethan

Bem, tinha sido curta, diferente das outras cartas dele. Deu mais um suspiro. Esperava que Ethan soubesse alguma coisa sobre esse mistério todo, afinal, os pais dele eram os melhores amigos do seu pai e ele poderia ter ouvido algum comentário. Parecia que estava enganada.

-Hannah! – Evan chamou, batendo na porta da garota. –Papai mandou a gente descer, estamos saindo.

-Já vou. – respondeu, guardando a carta que recebeu junto com as outras, para poder responder mais tarde.

Entrementes, Dallas andava de um lado para o outro dentro da suíte da casa, passando as mãos nos cabelos que iam até o meio das costas, os ajeitando pela enésima vez. Alisou a roupa que usava, como se para tirar qualquer possível dobra dela, e novamente passou a mão pelos cabelos, parando em frente ao espelho para ver se poderia fazer algo com eles. Os remexeu, prendeu em cima da cabeça, fez caras e bocas até que, no fim, pegou um prendedor na cômoda e fez um simples rabo de cavalo. E, novamente, checou a sua roupa.

-Pronta? – Harry entrou no quarto carregando o casaco de ambos, vendo a esposa se ajeitar pela enésima vez na frente do espelho.

-Não! – Dallas virou-se para ele, a respiração pesada e o rosto rubro. Os olhos violetas estavam largos e brilhantes. Ela estava entrando em choque. O moreno jogou os casacos sobre a cama e em duas passadas cruzou o quarto, parando em frente à mulher e segurando ambos os ombros dela.

-Dallas! Respira! Vamos, respire. – Dallas inspirou profundamente, fechando os olhos e os abrindo novamente, parecendo um pouco mais calma.

-Eu não posso fazer isso, não posso. Quem garante que não é uma armação dela?

-Dallas, você está paranóica! – a mulher bruscamente se soltou dele, o rosto agora vermelho de fúria.

-Paranóica? Olha só quem fala! Quem era mesmo que estava subindo pelas paredes apenas na perspectiva de reencontrar os tios?

-E mesmo assim eu os recebi em minha casa com toda a minha boa educação. – rebateu Harry.

-Por que eu o convenci a isso! – gritou Dallas de volta, afastando-se do marido e gesticulando enfurecida.

-Eu não vou discutir isso novamente com você. Nós tínhamos um acordo e você vai cumpri-lo. Se eu dei uma chance a minha família, você irá dar a sua. – gritou exasperado. Às vezes para se colocar algum senso na cabeça de Dallas você tinha que partir para a ignorância.

-Seus tios não passam de trouxas ignorantes! Muito diferente daquela cobra venenosa que por anos eu chamei de avó!

-Dallas! Ouça só você! Não acha que é o suficiente? Você não é mais uma criança! Você é uma ex-agente da Ordem, Mestra em Poções, excelente em Duelos. É rica, bem sucedida, confiante, mas basta a sua avó entrar em cena e você fica em pânico, como a menininha tonta que eu conheci aos dez anos.

-Eu não sou tonta, Potter! – sibilou de volta. Não gostava de ser lembrada que era uma imbecil. Certo que dos dez anos em diante ela teve uma vida feliz, uma infância feliz, mas levou muito tempo para ela se desprender da imagem de tímida e retraída herdeira dos Winford. E ela não gostava da idéia de voltar a ser o que era depois de mais de vinte anos. –Você mais do que ninguém deveria saber disso.

-Então não tente provar isso para mim, tente provar para ela. Deus! O que há de errado com você? Ultimamente você anda difícil de engolir.

-Se não gosta do meu temperamento, peça divórcio.

-Esqueça! E a questão é que o seu temperamento está intolerável ultimamente, apenas isso. – Dallas como resposta apenas estreitou os olhos e catou o seu casaco em cima da cama, saindo a passos largos do quarto e Harry poderia jurar que, quando passou por ele, ouviu a mulher murmurar: "E de quem você acha que é a culpa?", mas resolveu ignorar isso e seguí-la.

O caminho até a casa dos Winford foi feito em silêncio, que foi apenas quebrado no meio do percurso, quando Day e os outros não agüentaram mais a tensão que emanava dos pais.

-E então? Vão finalmente nos dizer o que há de errado com a família do vovô? – o garoto perguntou enquanto o carro da família fazia a curva, saindo da estrada principal e entrando em uma outra estrada mais deserta. Harry encostou o carro, desligando o motor e acendendo a luz interna. Olhou de relance para Dallas, que deu um suspiro e soltou o cinto, virando-se no banco para poder olhar os três filhos no banco de trás.

-Vocês sabem que eu sou uma nascida trouxa, não sabem? – falou a mulher e os três assentiram com a cabeça, sabendo disso muito bem. –Pois bem, antes de entrar em Hogwarts, de descobrir que sou uma bruxa, de conhecer o seu pai, eu era de uma família muito rica e conhecida no mundo trouxa. – os três continuaram quietos, ainda absorvendo o que a mãe dizia. Certo, ela era rica antes de se casar com o pai deles, e esse status permaneceu. Mas e daí? –Meu sobrenome de solteira era Winford. – Day e Evan continuaram na mesma, mas Hannah arregalou imensamente os olhos.

-Winford! – gritou a garota, encolhendo-se no banco. Os meninos se viraram para ela rapidamente.

-Como? O que foi? – perguntou Evan confuso.

-Os Winford é a família mais rica e influente da Grã-Bretanha. A mais conhecida depois da família real. Qualquer um do mundo trouxa sabe disso. Então você é a herdeira desaparecida? Eu achei que era apenas coincidência vocês terem o mesmo nome, mas estou vendo que não.

-Como você sabe disso tudo? – perguntou Day e Hannah fez uma cara de: , é óbvio.

-Vocês vivem falando que é um desperdício de tempo ler as revistas de fofoca trouxas. Se lessem iriam saber disso.

-Mãe? – os dois garotos se viraram para a mãe perguntando se isso era verdade e ela apenas assentiu com a cabeça.

-Então você é… - começou Day, mas calou-se. Então a agente da Ordem Dallas Winford era realmente a mãe deles.

-Eu o quê? – perguntou a mulher.

-Nada. Mas por que só agora você está contando isso para a gente?

-A mãe de vocês… - Harry virou-se no banco. -… sendo a única herdeira, sofria uma grande pressão. Responsabilidade que ela não estava pronta e não queria assumir. Tente entender, não é fácil quando outras pessoas ficam controlando a sua vida, ditando cada passo seu. Eu passei por isso quando era o herói do mundo mágico, mas esse fardo só me foi dado aos onze anos e com o tempo eu amadureci o suficiente para poder trilhar o meu próprio caminho e fazer as pessoas me ouvirem, gostando ou não. Mas com a Dallas não foi assim. Ela tinha a vida planejada. Que escola ir, que amigos fazer… com quem se casar. Ir para Hogwarts abriu novas oportunidades para ela. Ser uma sonserina a tornou o que ela é hoje. E voltar ao ponto de partida não é fácil, ainda mais a pedido da mulher que tornou a vida dela um inferno por anos.

-Quando eu finalmente consegui o amor de Harry vi nisso mais uma oportunidade para largar tudo. Por isso, quando me formei, dei as costas ao mundo trouxa e ao nome Winford. Óbvio que a minha avó não gostou da idéia de a única herdeira da fortuna ter deixado tudo para trás para ficar com um… Como foi que ela declarou nos jornais mesmo depois da minha partida?

-Um Zé Ninguém. – Harry respondeu, rindo ao se lembrar da declaração da sra. Winford aos jornais e revistas sobre o sumiço de Dallas.

-A questão é que a sra. Winford veio uns tempos atrás bater na nossa porta pedindo uma chance para se redimir.

-E isso é bom, não é? – perguntou Day.

-Eu acho. Quero dizer… - a boticária olhou para o marido, incerta se realmente deveria dizer o que estava pensando, criar pré-conceitos na cabeça dos filhos antes mesmo de eles conhecerem a bisavó não era bom, mesmo que ela não fosse fã da mulher. -… não sei realmente dizer se ela está sendo sincera e querendo apenas o meu perdão, ou se há algum motivo por detrás disso. Porque os Winford estão sem herdeiros. E como eles são trouxas e trouxas têm uma vida relativamente curta em relação a bruxos, talvez ela esteja procurando alguém para quem passar o nome e a fortuna. Ou, quem sabe, ela realmente queira reunir a família. Eu nunca consegui compreender a sra. Winford em todos os anos em que vivemos juntas.

-Certo, então como você quer que a gente aja? – Evan recostou-se no banco, cruzando os braços sobre o peito.

-Eu não sei. Sejam vocês mesmos e comportem-se. Amélia me jurou que essa festa de Natal seria uma reunião mais familiar, sem toda a pompa e frescura tradicional das celebrações de Natal dos Winford. Mas isso não quer dizer que ela não tenha convidado alguns amigos próximos da nata da sociedade. E, pelo que eu lembro, eles eram arrogantes e difíceis de lidar.

-Criaturas arrogantes? Oh, garanto que Evan está vacinado contra elas. – Day comentou divertido e o irmão lançou-lhe um olhar mortal, pois sabia de quem o garoto estava falando. Angela Malfoy era a personificação da arrogância.

-Se eles forem muito chatos eu posso dar um olho roxo a eles? – perguntou Hannah enquanto Harry e Dallas viraram-se novamente no banco e o auror religava o motor do carro, entrando na estrada novamente.

-Não! – respondeu Harry e viu pelo retrovisor a menina fazer um beicinho chateada. –Mas não serei contra se você os fizer chorar.

Dez minutos depois e o carro atravessava os enormes portões com o emblema da família Winford, cruzando o caminho ladeado por árvores e parando na entrada principal. As portas se abriram e pouco a pouco cada um foi descendo do veículo. Um empregado da mansão aproximou-se de Harry, pedindo polidamente as chaves para poder estacionar o automóvel, enquanto outro empregado guiava a família para dentro da casa. O subir das escadas foi feito em silêncio, que foi apenas quebrado quando Harry virou-se para Dallas, que tinha estacado no último degrau em frente à porta.

-Dally? – chamou, voltando-se para a esposa e depositando uma mão sobre o ombro dela. Largos olhos azul-violeta viraram-se na direção dele e o homem podia sentir a mulher tremer sob os seus dedos. –O que foi?

-Eu… não piso nesta casa há vinte anos. Pensei que nunca mais precisaria entrar aqui. – murmurou para que apenas Harry pudesse ouvir.

-Força, vamos, você consegue. – disse, passando um braço sobre os ombros dela e a incitando a andar. Quando a mulher conseguiu dar um passo em direção a casa, os outros continuaram o seu caminho, lentamente, a acompanhando.

Minutos depois a família Potter se encontrava dentro da enorme sala de visitas da mansão Winford. Dallas olhava alheia a sua volta, vendo o que tinha ou não mudado. Talvez uns quadros ali, uma tapeçaria lá ou um móvel acolá. Mas, de resto, tudo continuava o mesmo.

-Dallas? – alguém lhe chamou e a mulher virou-se, dando de cara com o rosto enrugado e os cabelos brancos de Efigênia, a velha governanta da mansão.

-Gini! – abriu um grande sorriso, dando um abraço apertado na mulher. Efigênia era uma que, junto com Clarisse, cuidou dela desde que era um bebê. Porém Clarisse era mais a sua babá em tempo integral.

-Meu Deus, quanto tempo menina, eu nem tinha mais certeza se você estava… - ficou em silêncio, não querendo pensar muito sobre o assunto. Dallas sempre fora à queridinha de todos os empregados. Era o xodó deles, sempre simpática, sempre carinhosa. E foram os empregados que sentiram mais saudades quando ela sumiu.

-Bem, eu estou muito viva, obrigada. – respondeu, sentindo-se um pouco mais relaxada ao encontrar um rosto amigo. Por detrás dela, os outros Potter observavam a interação das duas mulheres com extremo interesse. Efigênia notou a presença dos outros atrás de Dallas e ergueu uma sobrancelha para a mulher mais nova, perguntando claramente quem eram eles. –Ah, claro! – virou-se em direção aos outros, puxando a governanta pela mão para ficarem de frente um para o outro. –Esse é o meu marido Harry e os meus filhos, Evan, Day e Hannah. – apresentou um a um e a senhora abriu um grande sorriso. Parecia que não poderia mais chamar Dallas de menina.

-Prazer. Mas venham, venham, sra Winford e os outros estão na ante-sala. – falou, os guiando para uma outra sala de visitas da mansão, um pouco menor do que a primeira onde eles estavam. Caminharam para lá, com Dallas conversando com a governanta durante todo o percurso, se sentindo um pouco melhor do que estava antes de chegar a casa. Entraram na ante sala, onde havia outros convidados, um número bem reduzido para o que o Natal dos Winford estava habituado.

-Dallas! – Albert chamou, caminhando até a filha e lhe dando um abraço apertado. Certo que ele não tinha perdido o contato com a mulher durante os anos, mas era um pouco difícil arrumar tempo e desculpas para visitar a filha e esconder ao mesmo tempo o paradeiro dela de Amélia.

-Feliz Natal papai. – murmurou a mulher, se afastando dele.

-Harry! – ofereceu a mão, dando um firme aperto na mão do auror.

-Albert. Feliz Natal. – respondeu Harry. Por último, vieram os três adolescentes e o rosto de Albert abriu-se em um largo sorriso.

-Mas o que é isso? Nem um abraço no velho avô de vocês? – o sorriso que os três deram foi de iluminar a sala e logo o sr. Winford se viu envolvido por três pares de braços em um abraço grupal.

-Feliz Natal vovô! – falaram os três em unisso, se afastando logo depois do homem. Um silêncio tenso predominou na sala, os convidados olhando um para o outro. Harry segurou na mão de Dallas e puxou a mulher para o seu lado quando viu que um dos convidados a estava olhando abertamente da cabeça aos pés. A mulher virou-se para o marido, erguendo as sobrancelhas, como se perguntasse o que estava de errado, pois poderia sentir a magia dele aumentando ao seu lado. Era estranho, podia sentir a magia de Harry como se essa estivesse sempre em sintonia com a sua e por isso podia dizer quando o humor do homem alterava, pois a sua aura mágica também alterava. Devia ser coisas de magos, vai saber.

Harry a olhou de volta, dando um sorriso encantador como se dissesse que não havia nada de errado, mas a aura mágica dele continuava a mesma e Dallas sabia que ele estava mentindo. Quando viu, de rabo de olho, um homem aproximar-se deles e a magia do auror aumentar ainda mais, notou o que estava de errado. Rolou os olhos violetas e soltou a sua mão da dele, cruzando os braços sob o peito e começando a bater um pé sobre o chão frio. Nunca poderia pensar que Harry seria do tipo ciumento, mas, depois de anos, ele ainda continuava do mesmo jeito de quando começaram a namorar. Talvez fossem os traumas de infância que o fazia sempre acreditar que quando conseguisse alguma coisa boa na vida iria perdê-la. Mas Voldemort não mais existia para poder tornar a vida de Harry miserável e, mesmo assim, ele continuava possessivo e ciumento.

-Winford? Dallas Winford? – a voz interrompeu a conversa muda do casal e Dallas olhou por cima do ombro depois de alguns segundos tentando associar o seu nome ao sobrenome Winford. Já tinha desacostumado de ser chamada dessa maneira depois de tantos anos sendo chamada de Potter.

-E você é? – perguntou desconfiada, pois os traços do homem a sua frente lhe eram familiar.

-Allen Haliwell, lembra-se de mim? – a mulher fez uma discreta careta. Claro que se lembrava dele, quase se casou com ele. Ao seu lado um grunhido fez-se ouvir e ambos se viraram para o homem que tinha a expressão mais desgostosa que cruzou o seu rosto. Harry sabia quem era Allen Haliwell pelo que Dallas tinha lhe falado no passado. Mas as descrições da mulher não batiam em nada com o homem na frente deles, cheio de pose e charme.

-Sr. Haliwell. – disse séria, estendendo uma mão para ele. Allen pegou a mão da mulher e deu um leve beijo no topo dela, sendo galanteador. Dallas rapidamente tirou a sua mão de entre as mãos do homem quando sentiu a magia de Harry oscilar.

-Devo confessar srta. Winford, os anos foram extremamentes generosos com você. – uma vibração mais violenta na aura de Harry e a mulher sabia que ele estava a um passo de pular no pescoço do atrevido que estava cantando descaradamente a sua esposa.

-Haliwell! – Dallas segurou nervosamente os ombros do auror e o empurrou, o colocando entre ela e Allen. –Conhece o meu marido, Harry Potter? – o sorriso que estava no rosto de Allen pareceu diminuir um pouco. Harry apenas deu um sorriso escarninho de satisfação, recuando um passo e passando um braço possessivo na cintura da esposa.

-Prazer sr. Potter. – disse com um tom diplomático, estendendo a mão para ele. Harry olhou da mão para o homem, com toda a intenção de ignorá-lo se não fosse o beliscão que a sua mulher lhe deu nas costas. Resignado, cumprimentou o presidente das corporações Haliwell.

-Hn! – disse entre dentes, afastando-se dele e levando Dallas junto consigo.

Hannah sentou-se no sofá de dois lugares, olhando a sua volta com interesse, para o luxo que era aquela mansão. Não que não estivesse acostumada a ver casas desse tipo, já tinha ido a algumas festas na mansão Malfoy e o lugar também gritava "dinheiro" como esse. Mas o problema era que aqui ela não conhecia ninguém. Bem, exceto por seus irmãos e pais. Tinha uns dois garotos da idade dela na sala, também, mas ela não tinha suficiente cara de pau, em certos assuntos, para poder se aproximar deles e puxar conversa.

-Agora que estamos aqui, o que fazemos? – perguntou Evan, sentado ao lado dela e pegando uma taça de bebida da bandeja de um garçom que tinha passado por eles.

-Sei lá. – respondeu Day, sentando no braço largo do sofá e com uma taça igual ao do irmão entre os dedos.

-Isso daí em suas mãos é vinho? – perguntou o grifinório mais velho.

-E daí? É o mesmo que você está bebendo. – respondeu o apanhador, dando de ombros e bebendo um gole do vinho tinto.

-Mas eu posso, já sou de maior.

-Maior de idade nas leis mágicas. – rebateu o garoto. –Menor nas leis trouxas.

-Um ano a mais, um a menos, não faz diferença. Ainda sim…

-Evan, muda de assunto pelo amor de Merlin. – Hannah o interrompeu. –Duvido que Day vá ficar de porre. Lembra do ponche batizado no Baile de Inverno do ano passado? – Evan fez uma careta. Se lembrava? Claro que lembrava. Afinal, quem tinha batizado o ponche foi à mesma criatura que o estava recordando deste evento. Nunca eles tinham visto professora McGonagall ficar tão vermelha de raiva. Snape quase teve um surto ao saber que a idéia foi da filha. Mas com certeza o surto não foi por causa da brincadeira, que com certeza lhe deu um certo orgulho, mas sim dos pontos perdidos pela Sonserina. E, por fim, a pior parte. Os monitores, ou seja, ele e mais uns outros desafortunados, é que tiveram que cuidar dos bêbados. E o que Day tinha a ver com a história? Bem, Day foi um dos poucos que apesar de ter bebido vários copos de ponche ficou, no máximo, um pouco alegre. Evan queria ter a resistência que ele tinha para bebidas, porque apesar de demorar um pouco para ele ficar bêbado, a ressaca era sempre maldita no dia seguinte. Sentia inveja do irmão.

Mais silêncio entre os três até que uma senhora bem apessoada entrou na sala, olhando para eles com certo interesse e caminhando direto na direção dos jovens, parando bem em frente a eles. Evan ergueu os olhos da sua taça para a senhora que estava na sua frente e franziu o cenho rapidamente, os lábios se contorceram no que parecia uma careta, mas nenhum som saiu da sua boca. A mulher esboçou um sorriso que fez os outros dois adolescentes perceberem que este ato não era muito comum a ela.

-Vocês devem ser os filhos da Dallas. – atestou e eles entreolharam-se. Certo que Hannah era parecida com a mãe, mas os outros com certeza deve ter sido golpe de sorte ou a mulher conhecia a boticária e sabia sobre eles. –Sou Amélia. – disse, estendendo uma mão para eles. Day piscou confuso, não entendendo em que isso fazia diferença no fato de que ela ainda era uma desconhecida. O tom como ela tinha falado deu a entender que eles deveriam conhecê-la, supostamente.

-Sra. Winford. – Hannah pareceu ser a única a reconhecer a mulher e ergueu-se, para poder cumprimentá-la corretamente. Evan não moveu um músculo, parecendo muito mais interessado na sua bebida do que na mulher a sua frente. Day por outro lado a cumprimentou brevemente, mas ainda sim não fazendo a mínima idéia de quem era ela. –Sou a avó da Dallas. – Amélia esclareceu ao ver o olhar confuso do menino mais novo. O apanhador piscou os orbes violetas por alguns segundos, depositando a taça em suas mãos na mesa ao lado do sofá. Levantou-se e cumprimentou a mulher de uma maneira mais decente, agora que sabia quem era ela. Evan continuou inalterado em seu lugar como se não soubesse da presença dela na sua frente.

-Evan! – Hannah cutucou o irmão para que ele parasse de ignorar a bisavó deles. Os olhos de Evan se voltaram para a garota, com os orbes azuis mais escuros do que o normal, quase negros. Alguma coisa naquela situação não estava agradando o rapaz, mas a garota não fazia a mínima idéia do que poderia ser.

-Sra. Winford. – disse por fim, levantando-se e cumprimentando a mulher com um aperto de mão firme. –Agora... se vocês me derem licença. – colocou a sua taça sobre a mesa e afastou-se do grupo, dirigindo-se para as portas de vidro abertas e que davam para a varanda da sala.

-Desculpe o meu irmão, ele parece estar de… mau humor. – Hannah desculpou-se, ainda olhando estranho para o rapaz mais velho. Voltou o olhar para Day, como se perguntasse o que havia de errado com o jovem, mas o menino apenas deu de ombros. Tinha uma idéia de onde provinha o mau humor de Evan, e se chamava Angela. Mas, mesmo assim, a ruiva não seria o suficiente para fazer o irmão agir dessa maneira e ele tinha a vaga sensação de que o problema estava unicamente na sra. Winford.

-Precisava da cena? – Dallas sibilou para Harry assim que eles estavam longe do alcance dos ouvidos de curiosos.

-Que cena? – Harry perguntou inocente, olhando janela afora.

-Não pense que eu sou idiota Potter. Eu senti a sua aura oscilar, você estava quase azarando o Allen.

-Allen? Até uns anos atrás ele era o desprezível Haliwell. Agora ele é Allen? Que doce.

-Grr! – Dallas rosnou, apertando as mãos em um punho, quase socando o homem a sua frente. Às vezes para colocar algum senso na cabeça de Harry somente na base da porrada. Sem contar que o ciúme infantil dele estava lhe tirando a paciência. –Certo! Fique aí agindo como uma criança na disputa do brinquedo favorito. Eu vou conversar com o meu pai. – passou por ele, batendo propositalmente em seu ombro, e saiu pisando duro em direção a Albert. Harry rolou os olhos, soltando um suspiro e murmurando sob a respiração:

-Gênio, gênio. – e a seguiu.


Padma passou os dedos por seus longos cabelos negros, soltando um suspiro por entre os dentes e apoiando os punhos na cintura violão. Seus olhos escuros mirando com intensidade as expressões idênticas dos rostos dos dois meninos. Os olhos azuis indicavam uma inocência que realmente não existia na alma daquelas crianças. Eram filhos de Lúcifer, literalmente.

-Sinceramente? Eu desisto! – ergueu as mãos para o ar. -Lúcio! – e gritou o nome do marido. Rapidamente o loiro apareceu na sala adjacente ao salão de festas da Mansão Malfoy. Sua pose imponente parecendo preencher a sala assim que ele pisou dentro dela. Rapidamente os gêmeos encolheram-se já pressentindo o pior. Uma coisa era tentar passar a perna na mãe deles, outra coisa era tentar enganar o pai. E o segundo na lista dos difíceis de enrolar era Draco.

-O que foi? – perguntou em um tom irritado. Abandonar os convidados no meio de uma festa não era polido, ainda mais para um Malfoy.

-Tente tirar dos seus filhos onde eles esconderam os pratos da ceia de Natal, porque eu desisto. – retrucou a mulher totalmente frustrada. Quando ela apareceu mais cedo na cozinha para saber como andava os preparativos para a festa, tudo o que ela viu foram elfos domésticos desesperados querendo saber onde estavam as guloseimas que eles tinham preparado mais cedo para a ceia. Claro que, conhecendo a lealdade das criaturas, ela sabia que eles jamais fariam uma brincadeira de mau gosto como essa. Por isso, por meio de eliminação só restou um culpado, ou melhor, dois: Philip e Samuel.

-Crianças… - começou com a voz suave e contida, seus olhos cinzentos fixos nos rostos dos dois. Philip e Samuel tremeram sob o olhar do pai e soltaram um longo suspiro.

-Está na sala de descanso da ala norte. – declarou Samuel exasperado. Padma soltou um ruído por entre os lábios vermelhos, convocando alguns elfos para poder recolher a comida escondida na ala norte.

-Muito bom. – disse Lúcio em um tom calmo. –Podem ir agora. – assim que ouviram a dispensa os dois meninos se debandaram da sala. Padma arregalou os olhos indignada diante da atitude do loiro.

-Você vai deixá-los partir assim, sem nenhuma punição?

-Padma. – falou o loiro com o mesmo tom calmo de voz e o rosto inexpressivo. –É Natal.

-Não me interessa se é Natal, Ano Novo, Páscoa… Você não pode deixar essas crianças saírem impunes cada vez que aprontam alguma coisa…

-Foi uma brincadeira inofensiva… - começou a explicar. Era noite de festa e ele não estava disposto a ficar discutindo com a esposa enquanto a sua família e amigos esperavam pelos anfitriões na outra sala.

-Inofensiva? Nada que venha daqueles dois é inofensivo. E você os protegendo também não ajuda. Vão acabar se tornando duas crianças mimadas. Lúcio, que tipo de pai é você? – o homem estreitou os olhos cinzentos em desagrado. Não gostava que as pessoas contestassem o seu modo de educar os filhos, mesmo que essa pessoa fosse à mãe deles.

-Eu os puno quando acho necessário punir. Não vou ficar colocando eles dois de castigo cada vez que aprontarem alguma coisa. Dessa maneira eles vão viver eternamente trancafiados no quarto. E não conteste o modo como eu educo os meus filhos. Veja o Draco, por exemplo, se tornou um grande homem…

-Mas devo lembrá-lo que na idade dos gêmeos Draco não passava de um moleque mimado e arrogante?

-Bem, aí o problema não é mais meu. Foi falha de caráter do próprio Draco.

-Mas você é impossível mesmo. Sempre com uma resposta na ponta da língua para poder encobrir as suas imperfeições.

-Imperfeições. – o homem ergueu uma sobrancelha loira. –Malfoy's não são, e nunca serão, imperfeitos, minha cara.

-Pelas barbas de Merlin. Acho que eu estava dopada quando disse sim ao juiz de paz, só pode! – resmungou a mulher, caminhando em direção a porta para poder voltar à festa, mas, assim que passou por Lúcio, esse a segurou pela cintura e prendeu o corpo pequeno dela contra o seu.

-Então você está dizendo que não estava em sã consciência quando se casou comigo? É isso? Então você também não deveria estar em sã consciência quando me pediu em casamento, não é mesmo?

-Na verdade eu estava era perdendo a minha paciência, isso sim. – retrucou Padma, cruzando os braços sob o peito e olhando para o rosto de Lúcio enquanto os braços dele ainda estavam em volta da sua cintura, a prendendo contra o corpo maior do ex-Comensal. –A gente estava se relacionando há anos e você nem para dar um passo a mais. Achei que alguém deveria tomar uma decisão. E se não fosse você, seria eu.

-Sei… - Lúcio olhou para baixo, mirando intensamente o rosto dela. –Quer dizer que agora você se arrepende. Que na verdade tudo não passou de um grande golpe do baú.

-Meu Deus! – Padma fez uma expressão horrorizada, arregalando os olhos castanhos e abrindo a boca largamente. –Você descobriu o meu plano. E agora, o que será de mim?

-Divórcio. Recuso-me a continuar casado com uma mulher apenas interessada no meu dinheiro. – rebateu Lúcio em um tom sério e contido, com os lábios fortemente comprimidos.

-Hum… divórcio. Pois é. Divórcio seria uma boa, assim eu poderia ser livre para poder procurar alguém mais… jovem para me relacionar. – entoou a palavra jovem e as sobrancelhas loiras do homem franziram em desagrado.

-Está insinuando que eu não cumpro com os meus deveres de marido na cama?

-Se a carapuça serviu…

-Até onde eu me lembro, nós temos filhos gêmeos…

-E daí? Isso foi há quase onze anos. E há onze anos atrás, você era onze anos mais novo. Hoje, eu não tenho tanta… - não terminou, pois Lúcio apertou mais os braços em volta da cintura dela e a jogou sobre o ombro, caminhando a passos largos para o sofá de couro que tinha na sala e a largando sobre as almofadas macias. O corpo da mulher caiu com um som abafado, o decote do vestido se abrindo mais ainda para mostrar longas pernas morenas e bem cuidadas. Padma apoiou-se nos cotovelos, erguendo-se um pouco no sofá para mirar com sobrancelhas erguidas o homem em pé a sua frente. -Em que me jogando no sofá você vai provar alguma coisa?

-Você já vai saber. – respondeu o loiro com uma voz rouca, apoiando um joelho entre as pernas da mulher enquanto o outro pé se apoiava no chão e usou os dois braços ao lado da cabeça dela para servir de suporte para o restante do seu corpo. –Eu vou te mostrar quem está velho. – arrebatou os lábios vermelhos em um beijo sedento e a morena deslizou as mãos pelo pescoço dele, escorregando os dedos entre os fios dourados macios do cabelo do homem. Uma das mãos de Lúcio começou a percorrer a coxa exposta pela fenda do vestido, puxando a perna dela para prender-se em sua cintura, enquanto ia abaixando o seu corpo e a prendendo contra o sofá. Padma soltou um gemido por entre os lábios do homem quando a outra mão dele encontrou caminho por debaixo do tecido fino de sua roupa, começando a brincar ameaçadoramente com a renda da sua calcinha. A língua dele ainda provocava a sua dentro da boca quente da mulher enquanto a mão deslizava pela pele macia da perna dela.

-Ah, pelo amor de Deus! Arrumem um quarto vocês dois! – a voz soou da porta, mas Lúcio deliberadamente a ignorou. –HEI! – a pessoa gritou e Padma teve o bom senso de tirar o homem que a agarrava de cima de si, mesmo que esse não estivesse muito disposto a sair da confortável posição em que estava.

-Draco! – falou, ajeitando os cabelos o máximo que pôde, assim como o tecido da roupa, tentando ignorar o fato de que a mão boba de Lúcio ainda estava na sua perna e os lábios quentes dele em seu pescoço. –LÚCIO! – advertiu, empurrando o homem com força e levantando-se do sofá, o rosto rubro e o peito arfando diante dos acontecimentos anteriores.

-Certo… - começou Draco, olhando o estado da sua amiga e… era estranho chamá-la assim, mas… madrasta. -… o que vocês estão tentando fazer? Arrumar uma menina? Cansaram dessa família só ter homens como herdeiros?

-Angela não é um menino. – atestou Padma. –E o seu pai estava querendo provar um ponto aqui.

-Verdade? – Draco perguntou curioso com um sorriso escarninho nos lábios. Padma parecia que tinha saído de um vendaval, com os cabelos desarrumados e o vestido amarrotado. Mas Lúcio, como sempre, estava impecável. –E qual seria esse? – perguntou inocente, apoiando-se no batente da porta e cruzando os braços.

-De que eu não estou velho. – disse Lúcio, erguendo-se do sofá e passando as mãos sobre as vestes para poder tirar amassados inexistentes no tecido. O auror ergueu uma sobrancelha e depois de uns dois segundos começou a gargalhar. –Posso saber o que você está fazendo aqui? Eu estava tentando provar uma teoria à senhora minha esposa no momento em que você me interrompeu. – continuou o homem em um tom sério e inabalado, como se não estivesse agarrando a mulher no sofá de maneira bastante indecente há dois minutos atrás. Draco apenas riu mais.

-É que… - disse entre gargalhadas. -… os convidados… - o rosto já estava rubro de tanto rir. -… estão esperando. – e deu as costas, saindo da sala e com a sua gargalhada ainda ecoando pelos corredores da mansão.


Alexei soltou um suspiro, sentado no batente da janela e vendo a neve cair por entre o vidro embaçado. Passar as férias em casa era pedir para morrer de tédio. Veja bem, os Yatcheslav não eram diferentes de qualquer outra família sangue puro do mundo mágico. Eram ricos, influentes, bem educados, e com pais tão ocupados atendendo as demandas da alta sociedade que não tinham tempo nem para os próprios filhos. Claro que quando ele era pequeno não se importava dos pais nunca estarem presentes, pois tinha os seus irmãos mais velhos para suprir a falta deles. Mas agora Agata e Akim não tinham mais idade para ficar dando atenção ao seu irmão adolescente. E ele muito menos queria ficar na companhia deles. Os dois jovens adultos estavam ficando muito parecidos com seus pais para o gosto dele. Sempre indiferentes, arrogantes e, por muitas vezes, frios. Bem, não podia culpá-los... muito. Na verdade culpava a sociedade mágica preconceituosa que apesar dos anos ainda desprezava as famílias ligadas ao Lorde das Trevas. E essas famílias tiveram que aprender de um modo ou de outro a se defender e não deixar as ofensas afetá-los.

Soltou um outro suspiro de tédio, escorregando mais pelo batente da janela. Daria tudo para estar em Hogwarts no momento. Porque lá, mesmo com os olhares tortos, ele ainda sim sabia se defender, sabia meter medo e se impor. Aqui fora era diferente. Afinal, o que era um garoto de dezesseis anos contra os olhares de desprezo de bruxos mais velhos e experientes. Sem contar que o castelo mágico era muito mais aconchegante do que esta mansão fria e vazia.

-Alexei? – a batida suave e polida preencheu o quarto e a pessoa nem esperou uma resposta e já foi entrando no aposento. O jovem desviou seus olhos âmbar da janela, mirando Akim que tinha acabado de entrar. O homem era uns dez anos mais velho que ele, noivo de uma jovem de família sangue puro russa. Era uma diferença grande de idade entre os dois, ao contrário de Agata e ele que tinham apenas quatro anos os separando. Mas, como ia dizendo, Akim era um homem alto, com cabelos dourados e os característicos olhos âmbares da família Yatcheslav. Tinha um porte atlético e imponente, capaz de só com a sua aura fazer-se notar em um enorme salão com centena de pessoas. Conseguia transmitir tanto poder e medo quanto o pai deles, Kolya.

-O que é? – respondeu indiferente. Não gostava do clima pesado que aquela mansão sempre tinha. Afinal, tinha sido herança do avô deles e não conseguiriam se desfazer dela mesmo que quisessem. Apesar da desgraça que o homem causou a família o pai deles ainda era orgulhoso e ambicioso o suficiente para manter as posses originais que herdou, jurando a si mesmo que traria os Yatcheslav novamente as graças do mundo bruxo.

-O papai recebeu uma notícia esta manhã. – o loiro entrou no quarto, fechando a porta atrás de si e sentando-se na beirada da cama do irmão. –É sobre o nosso avô. – viu quando os ombros de Alexei enrijeceram e os olhos dele se voltaram para a neve que caía nos jardins. –Ele faleceu esta madrugada em Azkaban. – o sonserino apenas ergueu uma sobrancelha e ficou calado por um tempo, até que desceu do parapeito da janela e caminhou para a sua escrivaninha, onde livros abertos e pergaminhos com lições pela metade estavam espalhados sobre a madeira polida.

-Hunf, não era sem tempo. Mas e daí que ele morreu? – perguntou desinteressado, sentando-se na cadeira e prendendo a sua atenção nos deveres incompletos.

-O enterro será essa tarde. Você vem? – Akim sabia que era uma tentativa inválida de fazer o irmão ir ao enterro do próprio avô, pois ele era o que menos gostava do homem. E mesmo Akim, que realmente chegou a viver durante a guerra e conhecer como era Ian como Comensal da Morte, não chegava a ter tanto desprezo assim pelo velho falecido. Afinal, ele era um menino. Mas era Alexei que mais sofria com o preconceito. Porque o pobre teve a infelicidade de nascer uma cópia quase fiel do falecido avô.

-Não preciso. Sei que você estará lá para comprovar que ele está morto. – disse seco e o homem não se abalou com o tom frio do irmão. Ele sempre ficava nesse mau humor quando voltava para casa. Não era segredo algum que Alexei detestava essa mansão e todos os cantos e buracos dela. Mas Kolya recusava-se a se desfazer da herança, mesmo que ela não fosse muito bem vinda por alguns. Algo sobre valor sentimental em torno da casa, pelo fato de ele ter crescido nela. Mas, mesmo com a limpa dada pelo Ministério em relação aos artefatos das Artes das Trevas, ainda sim o lugar tinha um ar muito pesado e nada convidativo para alguém viver aqui.

-Hum… - murmurou em resposta, vendo o irmão trabalhar em seus pergaminhos, de costas para ele. -… e como está o garoto Potter? – perguntou mudando de assunto visivelmente. Falar do menino Potter sempre animava um pouco o irmão. Sim, sim, Akim sabia do xodó que Alexei tinha pelo herdeiro mais novo dos Potter. Aliás, apesar de ter sido um choque inicial, depois de um tempo ele começou a se acostumar com idéia de que o irmão gostava de um menino. Até porque, esse mesmo menino parecia fazer surgir o que havia de melhor em Alexei, quebrando um pouco do gelo. O problema seria se a família deles teria a mesma visão que ele tinha sobre esse amor de Alex para poder aceitar um relacionamento deles dois.

-Está bem. – respondeu e o loiro viu que os ombros do irmão pareciam menos tensos a menção do nome de Day. Sorriu um pouco, apesar de ser um ato raro de sua parte.

-Bem, por causa do enterro mamãe decidiu não fazer uma ceia de Natal em respeito à memória de Ian. – Alexei soltou um grunhido. –Eu sei o que você está pensando… - começou e viu o rapaz mais novo girar a cadeira bruscamente para poder olhar o irmão nos olhos.

-Sabe? – perguntou o sonserino de maneira descrente, erguendo-se da cadeira e caminhando em direção ao loiro, parando a sua frente e o mirando intensamente. –Então diga o que eu estou pensando. – disse entre dentes com uma raiva contida.

-Que ele não merece toda essa atenção e consideração. – respondeu Akim calmamente.

-Tirou as palavras da minha boca. Por que o senhor nosso pai insiste em ter alguma consideração pelo sujeito que desgraçou o nome da nossa família?

-Tente entender que Ian era ambicioso e, naquela época, ele não pensou que o Lorde das Trevas pudesse ser derrotado. Ele não previu isso.

-Como não? Um sujeito que foi derrubado por um menino de um ano tem grandes chances de ser derrotado por este mesmo menino crescido e treinado. É a lógica caro irmão. Mas se você está colocando desse ângulo, colocarei de outro. Por que o nosso pai ainda tem tanta consideração por um louco psicótico? Um assassino de sangue frio? Arrume uma explicação para isso.

-Porque é o pai dele. – respondeu Akim seriamente, não elevando o tom mesmo diante da explosão do irmão. –Você daria as costas para o nosso pai apenas por causa de erros que ele cometeu…

-E que afundou a nossa família na lama. Ou você se esqueceu que apesar de tudo ainda recebemos olhares tortos e caretas quando passamos pelos lugares bruxos?

-Se você ainda não aprendeu a contornar esse problema então o problema não é o nosso avô, é você! Você apenas está transferindo a sua frustração para outras pessoas. Acha que os Malfoy se abalam com isso? Ou o Snape…

-Lúcio Malfoy traiu Voldemort e o filho dele, Draco, era um agente da Fênix. Severo Snape era um espião que no fim se casou com uma trouxa. Foram perdoados por esses pequenos detalhes insignificantes. Mas nós, por mais que nos esforcemos para fazer o certo, ainda sim os outros nos olham como se fossemos uma praga. O mesmo acontece com os Crabbe, Goyle e Parkinson, entre outros que herdaram nomes amaldiçoados por causa de erros de antepassados. Podemos ser a nata da sociedade, mas ainda sim somos considerados a ralé.

-O seu problema é que você é muito orgulhoso Alexei, e isso é o que te deixa mais irritado.

-Errado! O que me deixa irritado são as pessoas que ficam me olhando feio na rua por eu ser a cara do meu avô…

-Pensei que não se importasse com o que as pessoas pensam.

-Não quando elas pensam em voz alta, e isso me irrita!

-Talvez o problema não esteja mais em Ian, esteja em você.

-O QUÊ? – gritou e Akim ergueu-se, seu tamanho sobrepondo-se ao tamanho de Alexei, mesmo que o garoto também fosse alto.

-Se você fosse menos arrogante, menos cabeça dura, menos orgulhoso, talvez as pessoas parassem de te ver como um sucessor de Ian. Caso você não saiba Lex, você age da mesma maneira que o nosso avô, e é isso que aqueles que o conheceram pensam quando conhecem você. Não é apenas a aparência física, é o conjunto por inteiro. Sabe por que eu não fiquei tão pé atrás quando você me disse que estava apaixonado por Day Potter? – Alexei deu um aceno negativo com a cabeça. –Porque Day felizmente traz o melhor de você. Sinceramente, tenho que agradecer esse garoto. Você só tem dezesseis anos Lex, sorria, pelo amor de Merlin! – disse, dando de ombros e caminhando em direção a saída. –Você vai ficar bem sozinho em casa? – perguntou, olhando o irmão por cima do ombro. Alexei apenas deu um aceno de cabeça, dispensando o loiro com uma mão. Passaria a tarde fazendo os deveres atrasados que ele andou ignorando por uma semana, talvez assim limpasse um pouco a sua mente das palavras de Akim. Assim que o loiro fechou a porta do quarto do garoto ele jogou-se na cama, mirando o teto branco da suíte onde dormia.

-Traz o melhor de mim. – murmurou, lembrando-se do rosto de Day, o modo como às bochechas dele ficavam rosadas depois de um treino de Quadribol, os cabelos negros ficavam revoltos por causa do vento e os olhos violetas brilhando pela excitação de voar. Deu um sorriso. É, não poderia negar, Day trazia o melhor de si. Mas por quanto tempo isso iria durar? Pensou e o sorriso rapidamente sumiu. Não, não era o fato de que um dia as famílias deles pudessem descobrir o relacionamento, mas sim o fato de Day descobrir o quão envolvido o seu avô esteve com a família Potter. Será que ainda gostaria dele quando descobrisse a verdade?

Rolou na cama, enterrando o rosto no travesseiro macio e com a mão tateou em baixo do colchão, puxando de dentro de seu esconderijo um pequeno livro velho, com capa de couro vermelha e gasta e páginas amareladas. Revirou o objeto nas mãos e torceu o nariz, olhando com desgosto para as iniciais em letras douradas e descascadas no pé da capa: I.Y. Com um grunhido levantou-se da cama e caminhou até a lareira que tinha em seu quarto, onde as chamas alaranjadas ardiam. Olhou mais uma vez para o velho diário até que finalmente o jogou no fogo, vendo-o se consumir até virar cinzas.

-Descanse em paz… vovô. – suspirou, voltando para a escrivaninha e recomeçando a fazer os seus deveres.


Day olhou pelo canto do olho para a irmã sentada ao seu lado na mesa e viu que ela parecia estar se segurando para não rir. Ergueu um pouco a cabeça, arqueando uma sobrancelha para ela. A menina deu de ombros, indicando com o garfo os adultos que os rodeavam. Os olhos violetas rodaram pela mesa, vendo a cena que se apresentava diante de si durante a ceia. Sra. Winford estava sentada à cabeceira da mesa enquanto avô deles se sentava à outra. Os adolescentes, ou seja, as três crianças Potter e os outros dois garotos, que eles descobriram serem filhos do jovem casal Haliwell, sentavam-se do lado esquerdo da mesa. Allen Haliwell III se sentava com a esposa do outro lado, Haliwell II sentava-se perto do filho e, ao lado deles estavam os Potter. Harry de um lado e Dallas de outro, com Allen III sentado ao lado de Dallas e tentando sempre puxar conversa com a mulher enquanto Harry apertava seu garfo com força, como se ele fosse à única coisa que impedia o auror de enfiar a varinha no olho do outro homem.

-Eles são patéticos. – murmurou Hannah ao irmão. –Papai está morrendo de ciúmes, está na cara. E o tal do Allen está cantando a mamãe descaradamente. – Day franziu as sobrancelhas. O homem estava cantando a mãe deles? Pigarreou alto, chamando a atenção dos que estavam próximos para ele. Dallas e Harry se viraram em direção ao filho e Allen não teve outra opção senão fazer o mesmo.

-Então, sr. Haliwell, no que a sua corporação trabalha? – perguntou com inocente curiosidade e Hannah abaixou a cabeça, suprimindo uma gargalhada. Sabia exatamente o que o irmão estava tentando fazer: impedir um homicídio por parte do pai deles. Era óbvio que Day estava pouco se lixando para o que esse tal de Allen fazia ou deixava de fazer. Uma vez pacificador, sempre pacificador. E parece que a estratégia funcionou porque Allen começou a relatar o trabalho que a sua corporação exercia. Hannah rolou os olhos, bloqueando essa conversa chata de sua mente e voltou ao seu jantar, isso até que sentiu olhos sobre si.

-Sim? – virou-se, erguendo uma sobrancelha mel para o menino de quinze anos ao seu lado, o filho mais velho de Allen. E que, coincidentemente ou por falta de inspiração, se chamava… Allen. Que imbecil, pensou. O jovem sorriu o que deve ter achado ser um sorriso sedutor e Hannah suprimiu a vontade de fazer uma careta. Não que o menino fosse feio de morrer, mas ainda sim tinha alguns defeitos adolescentes como umas espinhas pipocando ali, umas sardas acolá, era alto e magricela, com o rosto fino e pontudo. Os cabelos acobreados caíam sobre os olhos azuis cinzentos e o sorriso parecia ser eternamente falso. Engraçado, a cor dos cabelos e dos olhos lhe lembrava Angela Malfoy, "a nojentinha" na opinião dela. Tinha encontrado a garota apenas algumas vezes, mas com certeza o seu santo não casou com o dela.

-Allen Haliwell IV. – apresentou-se formalmente, estendendo uma mão pálida para ela. Hannah olhou para a mão e depois para o rosto do garoto. Olhou em torno da mesa e viu que as atenções estavam diversas, com Day ainda ouvindo a conversa do pai do garoto, Dallas e Harry fingindo prestar atenção nele, Albert e Evan conversando a parte enquanto a sra. Winford mantinha entretidos os outros Haliwell. E, bem, o irmão mais novo do menino parecia alheio a tudo e muito feliz com a sua comida, visto que ele era o oposto do jovem Allen. Cabelos acobreados, olhos castanhos, baixo e rechonchudo, e com um nome simplório para uma família aparentemente de renome: John.

-Hannah Potter I. – escarneceu, ignorando a mão dele. Tinha um certo faro para pessoas e personalidades. Sabia quando alguém era mimado e intolerável, ou quando era arrogante apenas para impor atitude e respeito. E a segunda opção não era o caso desse menino.

-Sabia que o meu pai e a sua mãe quase se casaram? – falou, tentando puxar assunto. Hannah quase fez um gesto como se estivesse enojada com a idéia.

-É eu soube.

-Imagina se isso acontecesse? Poderíamos ser… irmãos?

-Merlin me livre dessa. – murmurou, lançando um olhar para o teto como se pedisse algum poder lá em cima para livrá-la daquela mala. –Querido. – disse com um sorriso doce e o rosto de Allen iluminou-se, achando que finalmente tinha conseguido a atenção da menina. –Pense logicamente… isso se você já pensou alguma vez na vida. – disse a última frase baixinho para ele não ouvir. -… se os nossos pais tivessem se casado, nem você, nem eu, existiríamos. Ou se os caminhos deles tivessem realmente se cruzado, não faríamos parte desse mundo. Eu sempre fui destinada a ser Hannah Potter e você Allen IV. Se Dallas se tornasse uma Haliwell, não existiria uma Hannah e nem um Allen. Talvez uma outra pessoa que foi destinada a ser filho deles se isso acontecesse. Está me entendendo? – falou em um tom sério e formal e o rapaz piscou os olhos azuis. Hannah riu internamente, o garoto não tinha entendido bulhufas. Com certeza nem a morcega velha da Trelawaney iria entender essa teoria sobre o destino, e ainda sim ela se considerava uma vidente.

-Er… não. – respondeu aparvalhado e Hannah começou a abrir um sorriso misterioso, felino, como o de um gato que acabou de encurralar a sua presa. Do outro lado da mesa, Harry há muito tempo tinha divergido a sua atenção da conversa de Allen com Day e mirado os seus olhos na menina em frente a si e que conversava com o filho do homem que ele estava tendo ímpetos de entregar aos Dementadores para eles brincarem. Viu quando a jovem sonserina abriu aquele sorriso que sempre era o prelúdio de um desastre e resolveu intervir antes que o pior acontecesse.

-Hannah! – chamou e a menina piscou, virando-se para o pai com a expressão mais inocente que alguém já viu no rosto da garota. –Passe a jarra de água perto de você, por favor, querida. – pediu com um sorriso e Hannah estendeu a jarra para o pai, sabendo que ele fez isso apenas para acabar com a diversão dela.

Da cabeceira da mesa, Amélia observava a interação de Dallas e a sua família com os outros convidados. O modo como os filhos dela agiam. A menina que parecia estar se divertindo as custas do filho de Allen, o outro rapaz, Day, que conversava calmamente com os outros adultos e, por fim, o tal de Evan, que conversava com Albert. Desde que pousou os olhos no menino sentiu uma antipatia dele em relação a si. Ele mostrava claramente pelo modo de olhar, pelas expressões que fazia quando ela chegava perto, que não gostava nada da mulher. Mas o porquê ela não saberia dizer. Talvez fosse alguma coisa que… os bruxos tinham e ela não sabia. Porém, também observou o modo como ele sempre tinha uma mente ágil e um modo imponente e autoritário, mesmo sendo ainda jovem. Seria a pessoa perfeita para assumir o legado da família quando ela partisse. O problema seria colocar essa idéia na cabeça teimosa da sua neta. Dallas recusava-se a ouvi-la e com uma certeza razão. Ela não foi o exemplo de avó amorosa que se via em filmes e livros. Foi rígida, dura, controladora, mas no fundo foi com as melhores intenções que fez isso. Queria moldar e criar uma mulher de fibra e pulso firme, alguém capaz de controlar a fortuna da família. Certo que ela extrapolou ao tentar controlar demais a vida de Dallas, e agora se arrependia disso amargamente. A jovem boticária tinha se tornado orgulhosa e teimosa demais com os anos, sempre em guarda e às vezes fria, como se estivesse sempre preparada para o pior. De certo modo, era assim mesmo que ela queria que a neta ficasse, mas de outro não. Toda vez que mirava os olhos exóticos nada via. Nada lia. Ela sempre foi capaz de saber o que a neta estava pensando apenas olhando para os olhos dela. Mas, agora, eles deixaram de ser o espelho da alma da garota. Olhou para o homem sentado ao lado dela e franziu um pouco a testa, a marcando com mais rugas. Lembrava-se claramente da carta de despedida de Dallas, de como ela dizia que estava indo embora para morar com o homem que amava. Com certeza deveria ser esse tal de Potter. Se ele tinha tanta influência assim na neta, talvez um outro modo de aproximação fosse necessário. Ela não iria durar para sempre, assim como Albert, e os Winford precisavam de alguém com o sobrenome deles à frente das empresas. Estava decidido, talvez Harry Potter fosse mais flexível do que Dallas… esperava.