Bateu a porta da cabine e virou-se, recostando-se nela com as mãos ainda na maçaneta. Pegou a varinha em seu bolso e lançou um feitiço na porta, a tornado a prova de sons e olhos intrusos. Durante todo esse tempo, enquanto executava o feitiço, um par de olhos acompanhava todos os seus movimentos com curiosidade, até que ele voltou a olhar novamente para dentro da cabine e abrir um grande sorriso.

-Ora, ora, - começou com a voz arrastada. – o que temos aqui? – o outro integrante da cabine apenas ergueu uma sobrancelha indiferente, continuando a acariciar atrás da orelha da gata negra que tinha ganhado de presente de Natal dos pais.

-Teve um bom Natal Alex? – perguntou o apanhador ainda entretido em brincar com o seu novo bichinho de estimação. Alexei abriu um largo sorriso ao ver a figura serena de Day e caminhou até ele. A gata no colo do rapaz ronronou e pulou para o colo de Alexei quando ele sentou-se ao lado do grifinório na cabine do trem. –Acho que ela gostou de você. – comentou o moreno de maneira displicente, vendo o bichano aconchegar-se no colo do russo como se pertencesse a aquele lugar. –Geralmente ela é arredia com estranhos.

-Eu tenho esse efeito domesticador até na criatura mais rebelde. – comentou malicioso, fazendo um afago na gata. –E qual é o nome dela?

-Isis. – respondeu Day, pegando o animal do colo de Alexei e a colocando no outro banco vazio. –Mas não creio que você esteja aqui para ficar apreciando a minha gatinha, não é?

-O que o faz pensar que esse não é o motivo? – Alexei comentou displicente, afundando um pouco no banco e cruzando os braços e tornozelos, fechando os olhos e relaxando os ombros contra o estofado.

-Então você bloqueia portas de compartimentos e usa feitiços repelentes nela apenas por diversão, é isso? – Day virou-se no banco, olhando com intensidade o perfil do rapaz mais velho que aparentava estar adormecido. Alexei nada respondeu, apenas continuou na mesma postura de antes, com a respiração suave e ritmada fazendo o seu peito subir e descer. O grifinório franziu as sobrancelhas negras, comprimindo os lábios em uma linha fina ao observar melhor a cena. Ou o russo realmente estava dormindo ou estava fingindo. Remexeu-se um pouco mais no banco, um sorriso maroto brotando no canto de sua boca. Inclinou-se sobre o corpo do sonserino e suavemente soprou contra a orelha dele. Alexei soltou um resmungo, mas não abriu os olhos e muito menos mudou de posição. Day sorriu mais ainda, erguendo-se do banco e tomando extremo cuidado para ficar em pé em frente ao namorado sem cair sobre ele por causa do sacolejar do trem. Cruzou os braços sobre o peito, pensativo, lançando um olhar para Isis que observava curiosa a cena que estava ocorrendo em frente aos seus brilhantes olhos azuis.

-Dormindo, posso com isso? – murmurou sob a respiração, descruzando os braços e inclinando-se cuidadosamente sobre o corpo do outro rapaz, apoiando as mãos no encosto do banco ao lado da cabeça de Alexei. Ainda mais cauteloso, subiu no banco, apoiando os joelhos de cada lado dos quadris do sonserino, tomando cuidado para que nenhuma parte do seu corpo tocasse a do outro jovem. Sorriu mais ainda, dando uma piscadela marota para a gata que ainda o observava. Aproximou sua cabeça da de Alexei, com os lábios a apenas um centímetro de distância. O russo ainda estava imperturbável na mesma pose de antes e dormindo tranqüilamente. Tombou a cabeça para o lado, os fios negros roçando de leve na bochecha do sonserino que continuou imóvel. Lambeu os lábios e com uma inspirada profunda a língua rosada encontrou o seu caminho desde a junta do ombro de Alexei até o lóbulo da orelha dele. O russo arrepiou-se sob o toque do outro garoto, mas ainda não acordou. Day afastou-se inconformado. Ele estava fingindo, sabia disso, mas parecia se recusar a reconhecer a presença dele no compartimento e matar as saudades como todo bom namorado. O jeito seria ele, Day, arrumar uma maneira de quebrar a postura firme do rapaz.

Apoiou-se nos joelhos, erguendo o corpo e cruzando os braços sobre o peito. Olhou criticamente o sonserino abaixo de si, pensando no que fazer para poder desmontar a farsa dele. Relaxou o corpo, sentando-se no colo do rapaz e remexeu-se para poder encontrar uma posição mais confortável enquanto ainda pensava. Alexei soltou um grunhido sob a respiração e suas pálpebras tremularam diante desse movimento de Day. O apanhador franziu as sobrancelhas ao perceber essa reação do namorado e mexeu-se de novo sobre o colo dele, curioso sobre o que poderia ter acontecido. Alexei novamente cerrou as pálpebras e soltou um gemido por entre os lábios. Day mexeu-se mais uma vez, começando um ritmado e lento vai-e-vem. A respiração de Alexei começou a ficar pesada e num estalo ele abriu os olhos, segurando com as mãos firmes na cintura do grifinório e o jogando sobre o banco, deitando-se sobre ele. Day soltou um grito rouco e arregalou os olhos violetas diante desse movimento repentino.

-O que você pensa que está fazendo? – sibilou o russo, os olhos âmbares escurecidos enquanto as mãos mantinham Day preso firmemente contra o estofado do banco da cabine.

-Tentando acordar você. – rebateu o garoto com um ar de desafio.

-Ah… - começou sarcástico. -… acredite você me acordou. – Day piscou confuso e Alexei soltou um suspiro desolado. Não que ele e o grifinório não tivessem exagerado uma vez ou outra nos beijos, deixando uma mão boba passar por aqui ou ali, mas não tinham chegado ainda tão longe na relação. E Day rebolando sobre o seu colo não estava ajudando o russo a manter-se calmo e compreensivo cada vez que ele beijava o menino e tinha que lembrar que ele ainda era virgem e… inocente.

-O quê? – murmurou o garoto, vendo novamente a frustração nos olhos do namorado. Sabia o que estava acontecendo, embora nos primeiros segundos ele não tivesse entendido a piada de Alexei. Sabia o significado do brilho frustrado e do olhar desolado. E embora por um lado ele agradecia o sonserino por ser calmo e compreensivo, por outro ele também ficava frustrado. Queria mais, de um certo modo queria dar esse grande passo, mas antagônizando a tradição grifinória ele não era corajoso o suficiente para tomar a iniciativa do ato.

-Nada. – respondeu o rapaz mais velho, roçando seus lábios nos lábios do garoto e depois se levantando, sentando-se novamente no banco. Day apoiou-se nos cotovelos para poder olhar melhor o perfil do russo e deu um pequeno sorriso, erguendo-se e segurando no braço dele, lhe chamando a atenção. –O que foi? – o menino de olhos violetas nada respondeu, apenas continuou puxando Alexei até que ele encontrava-se novamente deitado sobre ele no banco. Soltou um longo suspiro e fechou os olhos, aconchegando-se mais contra o corpo do rapaz.

-Já que você estava tão disposto a dormir, vamos dormir. – murmurou, escondendo o rosto no peito do russo e entrelaçando suas pernas entre as dele. Alexei abriu um sorriso. Às vezes Day agia como um menininho carente e isso era totalmente fofo.


Bateu o frasco com força sobre a bancada, quase quebrando o vidro fino do mesmo e liberando todo o seu conteúdo. Soltou um resmungo entre os dentes e riscou algo na prancheta em seus braços. Pegou outro frasco da caixa aos seus pés e novamente o bateu com força na bancada, quase o quebrando. Pela loja, vendedoras apenas olhavam a mulher em frente a estante e que estava visivelmente irritada.

-E eu me pergunto, - o homem parou atrás da mulher e a sua voz ecoou pelo recinto. As atendentes enrijeceram os ombros já com pena do pobre coitado que seria o alvo da fúria da patroa delas hoje. – o que o pobre perfume fez a sua pessoa?

-Vê se me erra! – respondeu a morena entre dentes, batendo outro frasco na bancada e riscando mais alguma coisa na prancheta em sua mão.

-Deveria ser mais gentil com possíveis compradores ou então vai perder a sua clientela. – comentou com um tom divertido na voz. A mulher virou-se, apertando a prancheta contra o peito e deu um sorriso extremamente dolorido ao homem.

-Em que posso ajudá-lo então senhor? – disse como se fosse um grande esforço da sua parte ser gentil com o homem a sua frente. Davon abriu um sorriso de orelha a orelha e Dallas sentiu o seu sangue começar a correr ao contrário. Estava de mau humor, de extremo mau humor. E uma coisa que ela não queria hoje era dar de cara com a expressão maliciosa de Davon e muito menos ter que encarar as piadas cretinas dele.

-O dia dos namorados está chegando… - começou o rapaz e Dallas novamente deu as costas para ele, resmungando mais coisas sob a respiração. Ainda estavam em janeiro, por Deus. Por que todo mundo resolveu antecipar o dia dos namorados esse ano?

-Não me lembre dessa infelicidade. – bateu um pote de creme sobre a bancada e riscou em sua prancheta. –Tenho sete encomendas especiais para este dia. Dois carregamentos para poder catalogar e a contabilidade do Natal da matriz bruxa para poder resolver. Eu odeio o capitalismo. – murmurou entre dentes e Davon riu.

-Então eu posso esquecer qualquer possibilidade de pedir um presente especial para a minha noiva, não é? – falou mais divertido que de costume e Dallas amaldiçoou o bom humor do amigo.

-Noiva? – bateu outro pote e depois se virou rapidamente para encará-lo. –Quando foi que você ficou noivo? – perguntou apenas por perguntar, porque no momento estava muito pouco interessada no assunto e sem a mínima disposição de dar os parabéns ao amigo.

-No Natal. Achei que seria bom fazer tudo como manda o figurino. Casar de papel passado e essas coisas para que o meu filho tenha uma família… estável. – a morena deu uma risada seca, dando as costas novamente para ele. Davon andava mais malicioso e provocador desde que descobriu que iria ser pai. E, infelizmente, essa atitude apenas demonstrava que ele estava de muito bom humor. Então, já se pode imaginar como ele fica insuportável quando está feliz e extremamente intolerável quando está absurdamente feliz. E no momento ela não queria pessoas felizes ao seu lado. Queria o mundo infeliz e carrancudo, como ela neste instante.

-Você é tudo Yale, menos estável. Ainda não sei como não foi internado permanentemente na ala psiquiátrica do St. Mungos. – rebateu jocosa e Davon deu um longo assovio.

-Minha nossa, alguém está de muito mau humor. – comentou, cruzando os braços sobre o peito e dando um sorriso torto.

-Mas que observador. – respondeu irônica, batendo outro pote.

-O que foi, Potter não anda comparecendo como bom marido? – provocou o médico e Dallas rosnou entre dentes. Na verdade Harry era em parte responsável pelo seu mau humor, já que foi ele que a convenceu a passar o Natal na Mansão Winford.

-Se eu pudesse pediria o divórcio…

-O que já não era sem tempo.

-… mas como eu amo aquele idiota, tenho que agüentar.

-E agora quem precisa ser internada na ala psiquiátrica do St. Mungos, heim?

-Vai para o inferno Yale. – rebateu venenosa.

-Okay… - Davon soltou um suspiro exasperado. -… vamos fingir que eu sou o melhor amigo perfeito e que me importo com os seus problemas por apenas cinco minutos. O que foi que aconteceu? Porque sinceramente Dallas, você está chata hoje.

-O que aconteceu? – a mulher quase gritou e depois revirou os olhos pela loja, vendo que as atendentes mais observavam a conversa deles do que os clientes. –Eu não pago vocês para ficarem ouvindo conversa alheia. – esbravejou e todas voltaram rapidamente ao trabalho. –O que aconteceu, – sibilou em um tom mais baixo. – é que a minha querida vovó resolveu me dar à graça de sua presença depois de vinte anos. E o idiota do meu marido achou que era hora de reatar laços com a minha adorável família. Resultado: passei o Natal na Mansão Winford. – Davon fez uma careta condoída ao ouvir isso.

-E por isso do mau humor? – atestou, a olhando de cima a baixo.

-Dallas está de mau humor? – um outro homem aproximou-se do grupo e a mencionada revirou os olhos.

-O que é isso, reunião sonserina? Vamos chamar o Severo e os Malfoy e fechar a roda e então relembrarmos dos velhos tempos. Porque, sinceramente, isso é uma puta de uma coincidência. – o recém chegado arregalou um pouco os olhos diante do palavrão, mas Davon apenas riu.

-Eu esperava mais um: "Olá Keith, como você está, que bom te ver, estava com saudades", mas acho que é pedir muito não é, visto que hoje não está sendo o seu dia. – comentou o chinês, enfiando as mãos nos bolsos da calça do terno.

-Pois é poderoso Li, - Keith fez uma careta. Detestava esse apelido de Davon. O chamava assim desde que o mais jovem dos três alcançou a maioridade e tomou a presidência das Corporações Li. – Dally estava quase me contando como foi o Natal dela com os adoráveis Winford.

-Mentira? – o chinês piscou. –Você passou o Natal na casa do seu pai?

-A convite da minha amada avó. – respondeu a mulher em um tom venenoso. –Ela não falou nada comprometedor, óbvio. Mas eu sei, eu tenho absoluta certeza que há algo por detrás desse súbito interesse dela de querer reaproximar a família. Quando nos encontramos pela primeira vez ela tentou me convencer a assumir a frente das empresas Winford, mas eu recusei e ela nunca mais tocou no assunto. Mas eu sei que ela não desistiu. Porém eu quero saber o porquê. Por que dessa pressa repentina? Por que eu? Que eu saiba meu pai goza de perfeita saúde…

-Mas por outro lado, a sua avó é a sócia majoritária. – respondeu Keith, entendendo onde Dallas queria chegar. Davon apenas ficou olhando de um para o outro sem pescar muita coisa. Entendia muito bem de doentes, mas administração de empresas não era a sua área. Até as contas caseiras quem cuidava era a Andie de tão ruim que ele era para mexer com dinheiro, mesmo provindo de uma família rica. –Eu tenho alguns amigos no cartório de registro de certidões, posso tentar descobrir o interesse súbito da sua avó em trazer você de volta a família.

-E esse é o poderoso Li. – comentou Davon, dando alguns tapinhas nas costas largas do chinês. Keith apenas rolou os olhos e deu de ombros, já acostumado com o jeito do homem mais velho. –E agora, está mais calminha, está? – perguntou o médico e Dallas deu de ombros.

-Na verdade ainda estou uma pilha de nervos e o meu mau humor ainda não passou. – resmungou, estalando um pouco o pescoço e os ombros. Sentia-se mais cansada do que antes dessa confusão toda começar e, no momento, tudo o que queria realmente era a sua cama macia e quente. –Mas o que vocês vieram fazer aqui? – Keith nada respondeu, olhando atentamente a amiga, mas foi Davon que tomou a iniciativa.

-Okay, abra a boca e mostre a língua. – ordenou o homem e os olhos azul-violeta piscaram.

-O quê?

-Faça o que eu mandei. – falou em um tom mais firme e ela divergiu o olhar para Keith, que apenas deu de ombros. Resignada, mostrou a língua para o amigo, se sentindo totalmente ridícula por fazer isso no meio da sua loja e com clientes olhando estranho para eles. Davon observou a garganta dela e depois a mandou fecha a boca. Observou também os olhos da mulher e depois vagou o olhar pela figura dela.

-Você me parece um pouco anêmica, pálida e mais magra do que da última vez que te vi. Além de estar com uma cara horrível e totalmente acabada. – comentou displicente.

-Nossa, muito obrigada Yale. – respondeu sarcástica.

-Quero te ver no meu consultório Dallas. – falou, puxando algo do bolso interno do seu casaco e tirando a pena que estava na mão dela, anotando alguma coisa no seu caderninho.

-Eu estou apenas estressada com os últimos acontecimentos, apenas isso, nada de mais. – Keith ergueu as sobrancelhas para ela, totalmente desacreditado e recebeu um olhar parecido de Davon.

-Eu não estou pedindo, Potter, - começou o médico em um tom extremamente sério. – eu estou mandando. – e finalizou, entregando novamente a pena para ela e guardando o caderno no bolso.

-O que foi agora vai bancar o meu pai, é? – retrucou irritada, colocando as mãos nos quadris e lançando um olhar para Keith, pedindo o apoio dele.

-Dessa vez, o que parece inacreditável, eu tenho que concordar com o Davon. Você parece abatida Dallas. Onde o Harry está que não nota que a esposa dele não anda muito bem?

-Aquele lá não repara em nada a não ser que tal coisa esteja mordendo o traseiro dele. E mesmo assim, tem que ser uma senhora mordida. – Davon escarneceu e Dallas bufou entre dentes. Agora só lhe faltava o Severo aparecer e pronto, o trio de guarda costas estaria completo e no seu pé pelos restos dos seus dias.

-O que afinal vocês querem aqui? – perguntou furiosa, querendo rapidamente mudar de assunto, e Keith e Davon abriram iguais sorrisos maliciosos.

-Como eu ia dizendo… - começou o médico. -… o dia dos namorados está chegando e eu queria algo para a minha noiva.

-E eu algo para a minha esposa. – disse Keith e a mulher rolou os olhos, pedindo para que os dois a seguissem para ver os novos produtos da loja.


-Por isso faremos uma formação em V que com certeza vai quebrar a defesas deles aqui – apontou um dedo para o quadro onde o desenho do campo e dos jogadores estavam. – e aqui. – finalizou, voltando o seu olhar para os outros jogadores que não pareciam muito animados com a partida que estava por vir. –Raven! – chamou com um grito e o garoto virou-se rapidamente, com os olhos largos por ser pego no flagra, para o seu capitão. –Há algo de interessante para se olhar lá fora? – perguntou Alan, cruzando os braços.

-Sinceramente Longbotton, o clima não está muito animador para uma partida. – comentou, dando de ombros, e alguns outros jogadores concordaram com ele. Era a primeira partida depois das férias de inverno, a segunda da temporada, e logo entre as duas casas que possuía a maior rivalidade: Sonserina e Grifinória. E justo nesse dia o mundo estava caindo sobre o campo de Quadribol. Ou seja, estava chovendo pra caramba.

-Está me achando com cara de garoto do tempo, por acaso você é feito de açúcar Raven? É apenas água. – rebateu irritado e muitos dos jogadores recuaram em seus bancos dentro do vestiário, sabendo que quando Alan estava de mau humor era bom sair do seu caminho.

-Oras frustrado Longbotton? Por acaso a garota Snape não está abrindo as pernas para você? – rebateu Julius também contrariado. Não gostava do modo pomposo com que Alan tratava os colegas de time apenas porque era o capitão. Em duas passadas o artilheiro cruzou o espaço entre ele o batedor e pegou o último pelo colarinho da capa, o jogando violentamente contra a parede. Profundas inspiradas de ar foram dadas pelos outros jogadores, esperando que um quebra-pau começasse naquele momento, o que seria uma grande burrice porque se McGonagall os pegassem…

-Ao menos eu tenho alguém Raven, não sou que nem certas pessoas que ficam se lamentando pelos cantos por causa de uma certa… sonserina. – olhos alargaram-se diante desse comentário e suspiros de alívios foram dados quando Alan soltou o rapaz.

-Vai ter volta Longbotton, você vai ver. – murmurou por entre dentes apenas para que Alan pudesse ouvir.

-Mal posso esperar… Julius. – retrucou o capitão. –Agora se vocês já pararam com as frescuras, peguem essas malditas vassouras e vençam a Sonserina porque senão… eu arranco o fígado de vocês. – rapidamente todos pegaram suas vassouras e começaram a sair às pressas do vestiário, indo para o campo.

Day terminou de amarrar as suas luvas e fechar a sua capa, pegando a vassoura e começando a seguir os seus companheiros de time. Quando pôs os pés para fora do vestiário sentiu alguém segurar em seu braço e o seu corpo ser puxado para um canto escuro sob as arquibancadas.

-Mas o que diabos… - começou a protestar quando sentiu lábios quentes e macios sobre os seus. Mãos o apertavam pela cintura contra um corpo maior e, involuntariamente, as mãos do apanhador perderam-se entre os fios sedosos do cabelo do seu atacante. Gemidos eclodiam de sua garganta e quando Day estava a um passo de se perder no beijo, o estranho se afastou de si, os olhos brilhando na pouca escuridão e, mesmo que não pudesse ver, o menino sabia que aquele sorriso convencido estava no rosto do rapaz mais velho.

-Eu só vim desejar boa sorte. – murmurou o sonserino perto dos lábios do garoto.

-Vai torcer pela Grifinória então? – perguntou ainda meio zonzo diante do beijo de tirar o fôlego. Alexei apenas alargou mais ainda o sorriso.

-Não. Vou torcer por você meu anjo… apenas por você. – e o soltou o empurrando novamente em direção a saída. Com as pernas bambas, Day conseguiu montar em sua vassoura e juntar-se aos seus colegas.

-Já não era sem tempo. Onde você se enfiou? – perguntou Alan com uma sobrancelha erguida, os olhos semi-serrados por detrás dos óculos de aviador cujas lentes estavam embaçadas por causa da chuva.

-Er… eu… - tentou se explicar, mas foi salvo pelo apito de Madame Hooch chamando a atenção dos jogadores. Os capitães dos dois times se aproximaram, apertando relutantes as mãos e rapidamente se afastaram. O apito soou no estádio assim que as bolas foram liberadas e os jogadores debandaram-se, cada um indo fazer o seu trabalho. Day deu um impulso forte em sua vassoura, subindo uns bons metros, a chuva batia violentamente contra o seu corpo e junto com o vento o fazia tremer de frio e puxar a capa por sobre os ombros para ver se conseguia mais calor. Seus olhos vagaram pelo campo a procura do pomo, mas a única coisa que via era uma cortina esbranquiçada causada pela água da chuva. Soprou o ar por entre os lábios gelados, tirando uma mecha negra molhada de sobre os olhos. Vagou novamente os orbes pelo campo, observando as arquibancadas e principalmente o par de olhos âmbares que o observava atenciosamente. Deu um sorriso de lado para a pessoa e depois disparou com a vassoura para o outro lado do campo para continuar a sua busca.

-Feche a boca que você está babando. – alguém sussurrou ao pé do seu ouvido e Alexei piscou, virando-se para poder ver o rosto divertido de Hannah.

-Uh! Olha só, Yatcheslav todo apaixonado. – Catherine comentou jocosa, jogando os cabelos negros e molhados por sobre o ombro e lançando um sorriso charmoso para ele. As roupas já justas dela pareciam querer virar segunda pele por causa da água da chuva. Sorte que Snape não conseguia vê-la de onde estava na bancada dos professores.

-Do que você está falando Snape? – rebateu defensivo e o sorriso dela expandiu-se.

-Não precisa ficar na defensiva comigo… Lex. – Alexei rangeu os dentes. Poucas eram as pessoas que o chamavam de Lex, e geralmente ele apreciava mais esse apelido quando ele saía dos lábios do Day. –Hannie me contou tudo. – o russo lançou um olhar gelado para a… cunhada.

-Você e a sua impressionante boca grande. – resmungou e as duas meninas riram.

Hannah voltou a sua atenção para o jogo e soltou um grande grito quando viu um balaço passar rente a orelha de um artilheiro da sonserina.

-Você viu aquilo? – gritou a jovem Potter para a amiga, tentando superar o barulho da torcida, do vento e dos trovões. –Ele nem estava com a goles. – e apontou para o mencionado jogador. Catharine apenas deu de ombros. Todo mundo sabia o quanto Hannah era doente em relação à Quadribol. Talvez fosse os genes que ela herdou do pai.

-Olha! Acho que Day viu o pomo. – e apontou para ao grifinório, rapidamente divergindo a atenção da garota, porque se ela visse quem foi que lançou o balaço no artilheiro indefeso com certeza daria briga. Os olhos verdes acompanharam o irmão voar na direção do que pensou ser a bolinha dourada, para depois se desviar e voltar a planar sobre o campo, tentando vencer o vento e a água que caía em abundância.

Já havia duas hora de jogo e nada de o pomo aparecer. Sonserina estava na frente com uma diferença curta de vinte pontos e muitos dos jogadores já estavam quase caindo da vassoura, cansados de lutar contra o vento e perder para ele. Mas Hannah continuava firme, gritando incentivos para o seu time e soltando resmungos diante de jogadas que, para ela, eram grandes e absurdas faltas. Novamente o batedor da grifinória lançou um balaço contra um dos jogadores da sonserina, um dos artilheiros, conseguindo finalmente derrubá-lo da vassoura. Com isso Hannah viu vermelho.

-MAS QUE ROUBO! – gritou do ponto onde estava e o pessoal a sua volta parou as vaias para poder ver a menina resmungar. Afinal, ela era a porta voz da torcida organizada da casa. –JUIZ VOCÊ NÃO VIU O QUE ELE FEZ? O ARTILHEIRO ESTAVA SEM A GOLES! – madame Hooch voou, aproximando-se de Hannah.

-Não vejo nenhuma regra que impeça o batedor de derrubar um jogador do time alheio.

-Mas com certeza deve haver uma regra dizendo que é totalmente antiético acertar um jogador que esteja do outro lado do campo, a pelo menos duzentos metros de distância da goles. E além do mais… o que ele estava fazendo dentro da área da Sonserina? Estava perdido por acaso?

-Talvez Potter. É meio difícil ter um senso de direção com essa água toda. – Julius, o mencionado batedor, aproximou-se da garota com um enorme sorriso escarninho no rosto.

-Talvez você soubesse voar melhor se não tivesse o SEU BASTÃO ENFIADO NO SEU C…

-SRTA. POTTER! – Hooch a cortou antes que a menina ousasse terminar a frase, mas Julius não era do tipo de levar desaforo calado.

-Oras Potter… só porque o seu time é um time de perdedores e fracotes você não precisa ficar colocando em mim a culpa de todos os seus fracassos. Além do mais, aquele idiota já estava quase caindo da vassoura, eu apenas dei um… empurrãozinho. – Hannah mirou o jogador caído no gramado sendo atendido por Madame Pomfrey e depois voltou o olhar para o ser detestável na sua frente, que tinha voado para ficar alguns centímetros de distância dela enquanto soltava as ofensas.

-Oras seu grande IDIOTA, FILHO DA MÃE! – gritou, o segurando agilmente pelas vestes e o puxando para cima da arquibancada, fechando o punho com forma e desferindo um soco no rosto dele. Julius recuou diante do impacto, já sentindo o sangue quente escorrer abundante pelo nariz. Furioso, rapidamente rebateu, a socando na boca do estômago, e foi aí que o inferno veio a terra. Os sonserinos começaram a cair sobre os dois brigões, mas mais para participar da desavença do que para apartá-la, e grifinórios começaram a sair da sua arquibancada para auxiliar o companheiro que estava quase sumindo dentro da massa verde.

Os professores correram para a arquibancada para tentar apartar a briga e nesse meio tempo Day conseguiu entrar no meio da confusão, dando uma chave de braço na irmã e puxando o corpo dela bruscamente de cima de Julius. O movimento fez muitos ao redor dos dois recuarem e abrirem uma roda, apartando algumas brigas. Aproveitando que Hannah não estava mais socando o garoto, Alexei pegou o batedor grifinório do chão e prendeu os braços dele nas costas, afastando-se também e abrindo mais a roda, apartando mais brigas. Catharine meteu-se entre os dois, abrindo os braços para ajudar os dois rapazes a manterem os brigões afastados enquanto os professores abriam caminho na multidão.

-SRTA. POTTER! – a voz de McGonagall soou fria e ameaçadora, fazendo a cena se congelar e ninguém mexer um músculo sequer. –DUZENTOS PONTOS A MENOS PARA A SONSERINA! – vociferou com o seu rosto pálido ficando extremamente rosado enquanto suas mãos tremiam de fúria. Certo que os Potter sempre foram sinônimos de confusão, mas essa garota excedia os limites. –E SENHOR RAVEN! – o mencionado enrijeceu temeroso, ao contrário de Hannah que ainda mantinha a sua postura desafiadora mesmo diante da professora. –DUZENTOS PONTOS A MENOS PARA A GRIFINÓRIA. – Julius arregalou os olhos estupefato.

-Mas professora foi ela… - começou, mas um barulho gutural vindo de dentro da garganta da diretora da casa o fez se calar.

-Os dois… na sala… do… diretor… agora! – ordenou dando as costas, possessa, a eles dois. Severo entrou no meio da roda e deu um aceno a Alexei que rapidamente soltou Julius, depois se virou para Day, pedindo que ele fizesse o mesmo. Relutante, Day soltou a irmã.

-Os dois me acompanhem. – Julius seguiu com pesar o temido professor de Poções, mas Hannah continuava com a mesma pose confiante, mesmo que estivesse com hematomas e arranhões pelo corpo e pelo rosto. Quando eles se afastaram, Day mirou Alan parado ao seu lado.

-E agora? – perguntou, mas viu que um sorriso enorme estava no rosto do capitão. –O que foi?

-A sua irmã… caramba quero morrer amigo dela. – riu, apoiando-se no cabo da sua vassoura.

-Não ria. – disse chateado, observando a irmã sair do campo acompanhada de Snape. –Ela vai ter sorte se não for expulsa.

-Relaxa Day, uma briguinha de escola não expulsa ninguém. Não era o seu pai mesmo que vivia em pé de guerra com o Malfoy nos corredores? As brigas deles são lendárias. Dumbledore não vai expulsá-la por causa disso. – disse acenando com uma mão como se isso fosse um assunto sem importância.

-Mas com certeza a mamãe vai ficar uma fera. – respondeu o garoto. –Mas e agora, como fica a situação? – e virou-se para Madame Hooch que tinha uma expressão muito desgostosa diante do que tinha acontecido.

-O que vai acontecer é que o time da Sonserina vai receber uma advertência punitiva pelos atos de sua colega de casa.

-O quê? Mas… - A.J. Laboyrteaux, capitão da Sonserina, protestou. –… ela nem é uma jogadora…

-Mas é chefe da torcida organizada e isso faz parte da comissão de Quadribol, não estou certa? – o loiro teve que concordar azedamente. Embora houvesse gostado do que Hannah tinha feito com aquele batedor pela agressão deliberada ao seu artilheiro, ainda sim não era tão satisfatório a ponto de ele engolir uma pena.

-E qual será senhora? – disse resignado, mas a sua mente já estava maquinando vários meios de fazer aquele grifinório pagar pelo seu erro, no grande estilo sonserino.

-Esse jogo será remarcado e a Grifinória terá uma vantagem de duzentos pontos.

-O QUÊ? – os sonserinos protestaram. Uma vantagem de duzentos pontos significava que duzentos pontos seriam descontados do placar sonserino favorecendo a Grifinória. O jeito era treinar arduamente para conseguir superar os duzentos de diferença.

-Dispensados todos! – ordenou e, cabisbaixos, jogadores e torcedores começaram a sair do campo em grandes grupos. Madame Hooch apenas balançou a cabeça, montando novamente em sua vassoura para poder caçar as bolas perdidas com a interrupção do jogo. Assim que conseguiu catar o pomo de ouro teve que dar um sorriso. A briga tinha sido algo errado, com certeza, mas ainda sim foi um Q a mais na diversão.


-Em todos os meus anos… eu nunca… isso é inconcebível… - Minerva falava em uma voz contida de raiva enquanto andava de um lado para o outro na sala do diretor. Atrás da sua mesa, Dumbledore apenas observava com divertimento os dois alunos feridos e carrancudos enquanto a sua colega continuava a resmungar e a repreendê-los.

-Minerva, acalme-se, acalme-se. Assim vai estourar uma veia. – falou o velho diretor em um tom suave.

-Alvo! Como você pode ser tão complacente? Você viu a confusão que esses dois arrumaram. Pelo amor de Merlin! Eu nunca vi tamanha indisciplina durante todos os meus anos em Hogwarts. – atrás dela Severo soltou um resmungo descrente. Com certeza Minerva estava esquecendo dos famigerados Marotos e tudo o que eles aprontaram dentro desses mesmos anos em Hogwarts.

-Severo, quer adicionar a sua opinião a esse caso? – perguntou Dumbledore, os olhos azuis brilhando na direção do professor de Poções.

-Eu sugeriria o restante do trimestre em detenções para ambos.

-Mas professor… - Julius começou a protestar novamente com uma voz mínima, se achando totalmente idiota por ousar desafiar o professor de poções. -… foi ela que começou.

-Foi ela que começou. – Hannah escarneceu com uma voz arrastada. –Olha só para você, se borrando nas calças por causa do prof. Snape quando há minutos atrás estava gritando ofensas para mim e me batendo. – resmungou desgostosa, tocando um arranhão que ardia intensamente em sua bochecha.

-Mas você esqueceu que foi você que me bateu primeiro! – gritou Julius, o nariz não mais sangrando, mas em compensação tinha um grande hematoma e uma luxação que cobria metade do rosto.

-Se você não andasse com o seu bastão enfiado no seu…

-CHEGA SRTA. POTTER! – Minerva gritou chocada, pondo-se entre os dois jovens que estavam prestes a pular um sobre o outro novamente. A diretora da grifinória virou-se para o seu aluno, observando atentamente o rosto dele e depois soltando um resmungo incompreensível por entre os lábios finos e enrugados. –Parece que não está quebrado. O que é bom. Porque os dois não irão ter nenhum tratamento médico. Os ferimentos irão se curar naturalmente… - os dois jovens começaram a protestar, mas a mulher deu um olhar tão duro para eles que eles recuaram, cada um sentando nas cadeiras em frente à mesa do diretor. -… para vocês se lembrarem desse incidente e aprenderem a controlar seus gênios. – finalizou exasperada.

-Diretor… - Severo intrometeu-se com o seu usual tom suave e arrastado. -… se já terminou, gostaria de levar a minha aluna de volta para a Sonserina e reportar esse incidente aos pais dela. – Hannah enrijeceu e fez uma careta dolorida diante do incomodo que apresentaram as suas costelas.

-Vai ser preciso? – perguntou a garota, os lábios roxos por causa do frio e com as pontas dos dedos já dormentes. –Mamãe não vai gostar de ouvir sobre isso.

-Deveria ter pensado nisso antes de arrumar a briga srta. Potter. – Minerva a repreendeu. –Sinceramente, seus pais não deram tanto trabalho assim quando estavam na escola… - Severo soltou outro grunhido.

-Talvez a minha colega esteja esquecendo todas as vezes que o senhor Potter quebrou as regras. – resmungou o homem.

-Mas nunca se meteu em uma briga desse porte. – a mulher defendeu o seu ex-aluno e Severo fez uma expressão extremamente azeda.

-Verdade? Acho que o sr. Malfoy não irá concordar com você.

-O senhor Malfoy que provocava!

-Está insinuando que a culpa das atitudes cabeça de vento dos seus alunos são dos meus garotos?

-Bem, eu não lembro do sr. Raven ter soltado o primeiro insulto, assim como eu não lembro do sr. Potter soltar os primeiros insultos para o sr. Malfoy.

-Então a sua memória anda fraca, Minerva, deve ser a idade. Pois os meus alunos só reagem em defesa própria.

-Verdade? Como em todas as vezes que eu vi alunos seus irem parar na ala hospitalar por causa das reações da srta. Winford? Admita Severo, você não é capaz de controlar aquelas crianças.

-Ao menos as minhas crianças têm cérebro o suficiente para poder pensar antes de agir, diferente dos seus adorados grifinórios, um bando de pivetes arrogantes que colocam a bravura à frente da inteligência, arrumam confusões pelos corredores e depois colocam a culpa nos meus garotos.

-Severo Snape! Não use esse tom comigo rapazinho! – esbravejou Minerva, apontando um dedo para o nariz do homem como se estivesse repreendendo uma criança.

-Senhores, senhoras, creio que já chega. – Alvo levantou-se da sua cadeira, interrompendo a discussão dos dois. Embora estivesse divertida, já estava saindo dos limites. –Minerva, Severo, levem os seus alunos de volta para as suas casas. Creio que esse assunto já está encerrado. – com expressões totalmente desgostosas os dois professores saíram da sala do diretor, sendo seguidos pelos seus alunos. Em um certo ponto do corredor ambos tomaram caminhos diferentes para as suas salas comunais com as expressões intactas.

O caminho até as masmorras foi feito em absoluto silêncio, com Hannah fazendo uma careta vez ou outra diante de um machucado que latejava mais forte. Ao seu lado Snape parecia prestes a entrar em combustão espontânea de tão feia e furiosa que estava a sua expressão.

-Professor? – chamou com uma voz mínima, não querendo que a ira do diretor da sua casa voltasse contra si. Snape a respondeu apenas com um resmungo. –O que a professora Minerva quis dizer com alunos da sonserina na ala hospitalar por causa da minha mãe? – Severo parou abruptamente e Hannah quase chocou contra as costas largas do homem diante da freada brusca.

-Srta. Potter, a senhorita com certeza deve saber a origem da sua mãe a essa altura do campeonato, estou certo?

-Sim. – respondeu incerta.

-Então sabe que quando os colegas de casa dela descobriram sobre esse fato não foram tão receptivos em ter uma nascida trouxa na casa. Por isso a sua mãe teve que aprender a se defender. E com o tempo alguns descobriram que Dallas era o tipo de mulher que se provocada… arranhava. – e voltou a andar. Hannah ergueu um pouco as sobrancelhas diante dessa nova informação. Sabia que a sua mãe tinha um gênio difícil, mas não sabia que era para tanto.

-Então o senhor está dizendo que a minha mãe costumava amaldiçoar aqueles que a provocavam?

-Na verdade quanto às provocações… - respondeu lentamente, aprofundando-se ainda mais na escuridão das masmorras. -… sua mãe sabia levá-las muito bem. A coisa apenas ficava complicada quando a chamavam de sangue-ruim. – Hannah fez uma careta. Embora fosse uma sonserina orgulhosa, não era do tipo de sair ofendendo os nascidos trouxas os chamado de sangue-ruim. Fazer isso era o mesmo que ofender a sua mãe, pessoa que ele mais adorava no mundo. Então com certeza ela tinha idéia da confusão que devia dar quando chamavam Dallas de um nome tão depreciativo. –Vamos, por assim dizer, que a reação da Dallas era mais com os punhos do que com a varinha.

-Está dizendo que ela batia nos provocadores?

-Chegamos. – Snape anunciou, parando em frente à entrada da Sonserina e virando-se para Hannah. –Sim, a sua mãe provou-se com os anos ser muito mais do que aparentava ser. Mas isso não quer dizer que você tenha que arrumar briga onde quer que vá, nem Dallas chegava a tamanho absurdo. Sinceramente, Hannah, - cruzou os braços sobre o peito em uma postura paternal e repreensiva. – partir para a violência física, mesmo que contra um grifinório, não é algo que seja digno de uma sonserina e você sabe disso. – Hannah abaixou a cabeça envergonhada, sabendo que o professor tinha total razão, mas esse era o gênio dela mesmo sendo uma sonserina. Às vezes ele usava da sua malícia verde e prata para poder se vingar de alguém, mas geralmente, ainda mais quando era Julius Raven, ela partia para a ignorância mesmo.

-Me desculpe professor. – murmurou ainda envergonhada.

-Bom saber que você se sente culpada, talvez isso a faça controlar um pouco mais o seu gênio. – disse, dando a senha para a passagem da sala comunal que se abriu para os dois. –Vá para o seu dormitório e repense sobre o acontecido, talvez assim você amadureça um pouco mocinha. – ordenou e Hannah passou por ele, ainda de cabeça baixa, sumindo dentro da sala comunal. Snape deu um aceno negativo com a cabeça, soltando um longo suspiro. Não era a toa que Hannah e Catherine se davam tão bem afinal as duas juntas eram impossíveis.


A manhã do dia quatorze de fevereiro nasceu ensolarada, com passarinhos cantando e parcas flores tentando brotar mesmo diante do frio de final de inverno. Pessoas andavam pelos corredores de Hogwarts com a cabeça nas nuvens, ansiosos para saberem o que ganhariam de dia de namorados e pelo baile que viria essa noite para os alunos acima do terceiro ano. Tudo parecia romântico e feliz exceto para uma pessoa: Hannah Potter. O humor da jovem estava lamentável, mesmo com o prospecto do encontro que ela tinha com Ethan em Hogsmeade. Aliás, ela nunca agradeceu tanto pelo fato de ele ser cego, assim ele não poderia ver os hematomas e arranhões que ainda cicatrizavam em seu corpo de maneira lenta e dolorosa. Mal humorada, ela saiu de seu quarto para ser cumprimentada por uma sorridente Catharine e grunhiu para ela diante da felicidade extrema da amiga.

-Tira esse sorriso da cara que eu não estou com humor para isso. – murmurou desgostosa para a morena que apenas ergueu a sobrancelha diante da grosseria da menina, rindo mais ainda.

-Ah, não faça essa cara anormalmente feia para mim afinal, você está desencalhando, finalmente. – disse com um sorriso malicioso, fazendo caras e bocas para a amiga. –Vai fundo garota! – gritou, dando tapinhas nas costas dela e Hannah teve que manter os pés firmes no chão para se impedir de cair diante da força do impacto da mão de Catharine em suas costas.

-Catharine, - começou com um grunhido de desprazer por causa do mau humor. – só porque você é uma vagabunda pervertida isso não quer dizer que todas as mulheres têm que ser como você.

-Ouch! – disse com uma expressão dolorida, mas um sorriso torto em seu rosto indicava que, de magoada, ela não tinha nada. –Isso me feriu profundamente Hannie. Eu aqui tentando elevar a sua moral nesse lindo dia dos namorados e você me agride dessa maneira? Está querendo apanhar mais? – perguntou com um sorriso malicioso e os olhos de Hannah escureceram de desagrado. Duas coisas ela tinha ganhado com a briga com o Raven a mais de uma semana atrás. A primeira foi uma detenção ferrenha com o professor Snape, a segunda coisa foi à fama de encrenqueira. Certo que a fama de encrenqueira ela sempre teve, o problema foi o berrador que ela recebeu do seu pai no meio do café da manhã um dia depois da briga e isso a deixou possessa. Harry obviamente a estava repreendendo não por ter brigado na escola, mas sim por ter brigado com um grifinório, um membro da sua amada ex-casa.

-Cala a boca. – murmurou entre dentes, descendo as escadas da sala comunal com passos pesados.

-Qual é Hannah, você não disse que esse tal de Ethan é cego? Então, ele nem vai notar os seus ferimentos.

-Ainda sim é constrangedor sair com um olho roxo por aí.

-Nem está tão roxo assim, deixa de ser fresca. E vá logo para esse encontro. Se dermos sorte o Weasley irá te dar uns pegas tão bem dado que o seu humor irá para as alturas rapidinho.

-É isso o que você espera ganhar de presente do seu amado Alan? – escarneceu, passando pela entrada da sala e ganhando os corredores das masmorras.

-Isso e, quem sabe, algo mais. – retrucou Catharine com um sorriso malicioso.

-Foi o que eu disse, vagabunda. – murmurou sob a respiração e a jovem Snape deu uma risada. Conhecia bem a amiga para saber que não precisava se abalar com os comentários maldosos dela, pois era assim que Hannah era.

-Se eu sou vagabunda, aprendi com a mestra. – replicou, piscando um olho para ela de forma marota e sumindo no saguão de entrada a procura do seu adorado Alan. Hannah apenas ergueu uma sobrancelha, dando um pequeno sorriso diante da piada de mau gosto de Catharine. Somente essa maluca para melhorar o seu humor. Saiu do castelo, sendo recebida pelo sol da manhã e rapidamente pôs os óculos escuros que a estavam acompanhando nesses últimos dias.

-Encontro com o sr. Weasley? – alguém disse ao seu lado e Hannah olhou de rabo de olho para ver Day acompanhar o seu passo.

-Espero, se o chato mor não aparecer creio que será um encontro bem sucedido. E você?

-Bem, o chato mor a qual você se refere deve ser o nosso estimado irmão e esse está em uma reunião de última hora dos monitores.

-Merlin seja louvado. – respondeu a garota jogando as mãos para o céu.

-E quanto a mim, bem, Lex disse que tinha algo de especial planejado para mim hoje, por isso irei encontrá-lo… hum… no campo de Quadribol.

-Algo especial? – a menina virou o rosto, erguendo a sobrancelha por detrás dos seus óculos escuros. –Espero que ele se comporte com esse algo especial.

-Pervertida! Com certeza não é nada disso do que você está pensando. – retrucou com um certo rubor no rosto.

-Ah, por Deus, ele é um sonserino, com certeza é exatamente o que eu estou pensando. Mas é melhor você ir, não queremos deixar os nossos queridinhos esperando. – sorriu, apertando o passo e deixando Day para trás.

-Boa sorte! – Day gritou antes de refazer o seu caminho em direção ao campo de Quadribol. Hannah continuou seguindo em frente até que desceu toda a trilha que dava para o vilarejo e parou em frente à primeira loja que ficava na entrada da cidade. Ali seria o ponto de encontro dos dois. Olhou a sua volta e viu que Ethan ainda não tinha chegado. Porém, ao ver o seu relógio, constatou que estava adiantada. Sentou-se no banquinho que tinha em frente da loja e pôs-se a esperar.

-Hannah n° 5. – alguém murmurou perto do seu ouvido e a menina virou-se para ver Ethan sentando-se elegantemente ao seu lado. Deu um sorriso, mas logo o fez desaparecer do seu rosto já que ele não poderia vê-lo.

-Pontual eu vejo. – disse com um humor melhor do que estava quando acordou.

-Vejo que está de bom humor. – Ethan comentou com um sorriso charmoso e os seus olhos castanhos brilharam contra a luz do sol. Hannah às vezes se perguntava como ele poderia ter um olhar tão expressivo se não via nada.

-E por que não estaria?

-Porque eu soube de uma briga interessante sua com um colega grifinório. – a menina empalideceu. Como ele ficou sabendo disso? Tudo o que precisava era do Ethan saber da sua fama de encrenqueira e não querer mais saber dela antes mesmo de eles começarem alguma coisa.

-Bem… er… sabe o que é… ele começou, ele foi muito injusto e… - e desatou a falar, tentando explicar-se de um modo ou de outro antes que ele começasse a pensar mal dela. Ethan sorriu mais um pouco, erguendo a mão em sinal que era para ela se calar.

-Não precisa me dar satisfações de nada. Não sou os seus pais e muito menos os seus professores. Creio que você já foi punida em relação a isso. – a menina soltou um suspiro desolado.

-Sim. Mas… como você ficou sabendo?

-Rory. – disse apenas uma palavra de explicação e Hannah franziu as sobrancelhas. –Rowena sempre me manda cartas contando como estão às coisas em Hogwarts e ela me falou sobre a briga. Disse que foi feia e que você se machucou muito. – a expressão dele de divertida passou para preocupada. –Se importa se eu ver?

-Ver? Ver o quê? – perguntou confusa.

-Os ferimentos.

-Mas como você vai… - calou-se quando viu as mãos dele se moverem em direção ao seu rosto. Rapidamente a garota congelou quando as pontas dos dedos de Ethan tocaram os seus óculos, os retirando e os depositando entre eles no banco. Os dedos começaram a percorrer levemente os traços do rosto da menina, que parecia paralisada no lugar diante do movimento dele. Ethan deslizou a mão pela testa dela, sentindo a maciez da pele, depois traçou com as pontas dos indicadores a sobrancelha fina e foi descendo, sentindo ao redor dos olhos, notando que um deles estava um pouco inchado. Com certeza deveria ser ali que estava o hematoma. Desceu para as bochechas macias, as sentindo e traçando as linhas dela, formando uma imagem mental da garota em sua mente. Foi para os lábios, notando o pequeno ferimento que tinha no canto deles, mas percebendo que eles também eram cheios e macios, lambeu com a ponta da língua seu lábio inferior, imaginando como seria beijar os lábios dela. Recuou a mão, pegando os óculos escuros e entregando novamente a garota, que ainda estava estática.

-Você é… - disse incerto, com as mãos ainda formigando diante do contato com a pele dela. -… bonita. – em um estalo Hannah saiu do transe, corando um pouco diante do elogio. Novamente Ethan estendeu uma mão e a menina a olhou, agora curiosa, querendo saber o que ele iria fazer. A mão passou ao lado do seu rosto e tocou os seus cabelos, deslizando pelos fios longos como se sentisse a textura deles.

-Obrigada. – disse em um sussurro quando ele soltou o seu cabelo.

-Qual é a cor dos seus olhos? – perguntou com um pequeno sorriso.

-Para quê…

-Só porque não posso ver não quer dizer que eu não saiba a diferença entre as cores.

-Verdes. – respondeu. –Como os do meu pai. – Ethan sorriu. Com certeza deveriam ser belos olhos.

-Verdes… - falou vagamente e estendeu novamente a mão em direção ao rosto da menina. Dessa vez Hannah não ficou paralisada como das outras duas vezes, apenas inclinou-se um pouco e permitiu que ele tocasse o rosto dela mais uma vez. O toque dele era bom e de um modo a acalmava. Era suave e doce e ela gostava dele. Sentiu os dedos do rapaz em sua bochecha e inclinou um pouco a cabeça, a apoiando na mão dele enquanto erguia a sua própria mão e a colocava sobre a de Ethan.

-E a cor dos seus cabelos? – perguntou, deslizando um pouco no banco e aproximando-se mais dela.

-Castanhos… mel. – murmurou quando viu o quanto ele estava próximo de si. Esse encontro com certeza tinha começado de uma maneira interessante. Talvez o dia pudesse terminar muito melhor do que começou.

-Eles têm… - disse com a voz quase sumida e com a outra mão pegou novamente uma mecha do cabelo dela, a levando até o seu nariz e inspirando profundamente, sentindo o perfume que emanava dos fios. -… um cheiro gostoso. – Hannah sorriu e Ethan pôde sentir sob os dedos as mudanças faciais dela. Queria tanto vê-la sorrindo, saber como ela era sorrindo. Deveria ficar linda. Inspirou profundamente, não entendendo de onde vinham tantas sensações como essas. Certo que já namorou outras meninas antes, mas essa era diferente. Hannah o fazia se sentir estranhamente diferente. E olha que ela era muito mais nova do que ele. E geralmente meninas mais novas não o atraiam da maneira que essa garota o estava atraindo.

-Está dizendo que eu tenho um cheiro bom? – falou com um tom divertido e vendo o quão próximo o rosto dele estava do seu. Ethan deu um aceno positivo com a cabeça, deslizando a mão que estava na bochecha dela e a levando para os lábios vermelhos, os sentindo sob os seus dedos. Estavam ali ao seu alcance e tudo o que ele tinha que fazer era inclinar-se e tomá-los como seus. Mas será que deveria fazer isso? Será que era o certo? De onde tinha vindo essas dúvidas? Essa sensação de que ela poderia achar que ele a estava usando apenas para diversão. O pensamento de perdê-la ocasionava uma estranha dor em seu peito e ele não sabia se deveria avançar ou recuar.

Hannah viu que Ethan parecia hesitar em alguma coisa, pois o seu rosto mostrava várias expressões diferentes a cada segundo e os dedos dele ainda estavam sobre os seus lábios, como se debatesse o que fazer a partir de agora. Seus olhos verdes olharam a sua volta, vendo que não tinha ninguém além deles na entrada da cidade e que os outros alunos já deveriam estar se divertindo nesse dia dos namorados com os seus respectivos parceiros enquanto eles estavam ali, sentados naquele banco olhando um para o outro sem mover um músculo. A menina inclinou-se um pouco, pegando os dedos que estavam sobre os seus lábios com a sua mão e os tirando do caminho. Viu as sobrancelhas escuras de Ethan franzirem, como se perguntando o que ela iria fazer agora. Hannah inclinou-se sobre o corpo e fechou um pouco os olhos indo em direção ao rosto do rapaz.

O coração de Ethan começou a bater descompassado quando ele sentiu a respiração quente da menina em seu rosto e soube imediatamente o que ela iria fazer. Seu corpo ficou rijo e o jovem estava se sentindo um completo imbecil, como um adolescente prestes a ganhar o seu primeiro beijo. Os lábios dela tocaram os seus e Ethan soltou um pequeno suspiro, fechando os olhos e sentindo a maciez da boca dela contra a sua, fazendo movimentos suaves e delicados, quase apreensivos. Deslizou pelo banco para aproximar-se dela e rapidamente segurou nas mechas mel, forçando a cabeça da garota contra a sua e aprofundando o beijo. Os lábios dele exigiam mais e a língua do rapaz forçava passagem para a boca dela, ganhando a batalha no final e começando a lutar contra a língua da garota. Hannah fechou os punhos na frente da blusa de Ethan, achando que se não o segurasse com certeza se perderia no mar de sensações que a assolava. Não que nunca tivesse sido beijada antes, mas os outros dois beijos anteriores foram coisas infantis, curiosidade de criança. Esse era diferente, ele despertava um fogo dentro de si que começava subindo pelas pontas dos pés até atingir a sua cabeça, a fazendo rodar. Quando os dois se separaram, seus peitos arfavam com a falta de ar e Hannah ainda se sentia zonza diante do beijo.

-Wow. – disse com um suspiro, seu rosto rubro e seus cabelos longos um pouco despenteados por causa das mãos de Ethan.

-Wow mesmo. – murmurou Ethan, virando-se no banco e encarando a rua de frente, apoiando as duas mãos nos lados do seu corpo e abaixando um pouco a cabeça. Sentia-se como se tivesse ido às nuvens e voltado e, até agora, não entendia bem o porquê. Sabia que alguma coisa o atraía para aquela garota, mas nunca pensou que poderia ser algo tão forte. Será que estava se apaixonando… por uma menina?

-Ethan? – ela chamou, depositando uma mão sobre o ombro dele e Ethan sentiu fogo correr por suas veias e uma vontade de beijá-la novamente o apoderou. Deu um pequeno sorriso, com certeza a sua mãe não iria gostar nada disso. Quer dizer, certo que ela torceria o nariz pelo fato de ele estar namorando, mas com certeza faria uma cara mais feia ainda por saber que a escolhida era a filha caçula do seu melhor amigo.

-O que foi? – perguntou, virando o rosto para ela e novamente desejando ardentemente que pudesse vê-la. Queria saber que efeito o seu beijo teria causado nela. Com certeza deveria estar despenteada e com o rosto rubro e os belos olhos verdes, porque ele tinha certeza de que eles deveriam ser belos, estariam brilhando.

-Algo errado? – perguntou incerta. Ele tinha ficado tão calado depois do beijo deles. Será que não tinha gostado? Ethan a respondeu dando um daqueles seus sorrisos charmosos e procurou a mão da garota, a apertando entre os seus dedos.

-Está tudo perfeito. – disse em um sussurro e levantou-se, a trazendo consigo. –Mas eu creio que temos um encontro para realizar e um dia inteiro para nos divertir. – Hannah sorriu brilhantemente e ficou na ponta dos pés, dando um selinho nos lábios dele. Ethan arregalou um pouco os olhos, surpreso diante da ação dela, mas sorriu mais ainda.

-Então vamos. – ofereceu a garota e o músico entrelaçou o braço dela no seu.

-Guie o meu caminho então. – sussurrou perto da orelha dela e Hannah tremeu, inspirando profundamente e, passo por passo, guiou Ethan no encontro deles pelas ruas de Hogsmeade.


Cobriu a cabeça com o travesseiro, bloqueando qualquer raio de sol que entrava pela janela. Tinha acordado péssima e estava com nenhum humor para poder se levantar da cama. Passarinhos cantavam nas árvores do jardim e ela estava contando até dez para não ter que azará-los. Por que esses infelizes animaizinhos com penas tinham que ser tão alegres? Malditos sejam todos os passarinhos que existiam e suas canções.

Puxou as cobertas até a altura do queixo e sumiu por debaixo delas, fechando os olhos firmemente para tentar bloquear qualquer barulho externo e tentar voltar ao seu sono que foi perturbado a noite inteira. Mal ouviu quando a porta do quarto se abriu e uma pessoa aproximou-se da cama, mas sentiu o colchão ceder para o visitante e algo ser depositado ao seu lado. Mas, mesmo assim, continuou ignorando tudo ao seu redor, ainda de muito mau humor. Mãos mexeram nas suas cobertas, as puxando e revelando um rosto contorcido por causa da luz súbita que bateu em seus olhos.

-Vai embora. – murmurou cansada, tentando puxar novamente as cobertas para cima da sua cabeça, mas a mão da outra pessoa a impedia.

-Hora de acordar dorminhoca. – a voz animada a cumprimentou e ela teve vontade de azará-lo. Ele parecia um maldito passarinho feliz. –Temos café da manhã… na cama. – completou e ela abriu finalmente os olhos, mirando a bandeja de guloseimas ao seu lado. Isso com certeza melhorou um pouco o seu humor, tanto que a fez se sentar no colchão.

-Você fez o café? – os olhos violetas de Dallas prenderam-se nos verdes de Harry.

-Sim. – Harry abriu um sorriso de orelha a orelha e puxou uma rosa que estava dentro de um jarro em cima da bandeja, a entregando a Dallas. A mulher deu um sorriso hesitante diante do gesto e pegou a rosa, sentindo o seu aroma suavemente, mas rapidamente as suas sobrancelhas franziram e o seu semblante ficou pesado.

-Espero que a minha cozinha ainda esteja inteira. – Harry riu e inclinou-se, dando um longo beijo na esposa, acariciando os cabelos revoltos com as pontas dos dedos e os deslizando pelo rosto macio dela.

-Intacta, do jeito que você deixou noite passada. – Dallas soltou um suspiro aliviado e viu que Harry não estava com as suas usuais vestes lilás de auror. Franziu a testa, vendo que ele ainda estava de pijama. Mirou seus olhos no relógio da mesa de cabeceira e viu que já eram dez horas da manhã. Certo que era sábado, mas até no sábado os aurores trabalhavam. Não era um emprego com horário fixo. Afinal, bruxos das trevas e confusões sempre surgiam nas horas mais impróprias.

-Você não tinha que trabalhar?

-Estou de folga. – Harry respondeu com um sorriso, servindo um copo de suco de laranja para Dallas que rapidamente tomou um longo gole, pois a sua barriga já estava protestando de fome.

-Por quê? – perguntou desconfiada. Harry só pedia folga se fosse algum dia especial. Hoje era algum dia especial? Tentou puxar na memória as datas importantes para o casal, mas nada vinha a sua mente. Aniversário de casamento? Não, esse era em agosto. Aniversário de um deles? Também não. Então o que era?

-Esqueceu que dia é hoje? – Dallas sentiu algo frio descer para a sua barriga. Agora estava ferrada. Ela não fazia a mínima idéia de que dia era hoje. Continuou repassando as datas importantes para eles, mas nada batia. Melhor dizendo… que dia era hoje mesmo? Sabia que era sábado, algum dia de fevereiro, mas o número não vinha nem por um decreto a sua cabeça. Derrotada, deu um leve aceno negativo com a cabeça.

-Que dia é hoje? – perguntou temerosa de que Harry tivesse um ataque por ter esquecido uma data importante. Quase riu. O que tinha de errado nessa cena? Geralmente eram os homens que esqueciam as datas importantes. Andie vivia reclamando dizendo que Davon era a pior pessoa que existia para se lembrar dos dias e que Dallas era a única salvação do casal, porque ela era o lembrete constante de Davon.

-Quatorze de fevereiro. – Harry disse com um sorriso, dando uma mordida em uma torrada feita por ele. Dallas piscou os olhos. E daí que era dia quartoze? Não se lembrava de nenhum dia importante para eles nessa data. Deu de ombros, indicando claramente que o que Harry tinha dito não tinha soado nenhum alarme na sua cabeça e o auror riu. –Dia dos namorados, Dallas. – completou e finalmente os olhos violetas se iluminaram em compreensão.

-Harry, querido, - começou, terminando de tomar o seu suco. – não somos namorados há um bom tempo. Será que alguém ainda não te contou isso? Já passamos por essa etapa. – murmurou, comendo uma uva que estava em uma vasilha sobre a bandeja.

-Bem, estamos casados, mas não mortos. E você sempre será a minha eterna namorada. Lembra-se de quando nós finalmente nos entendemos?

-Sim. – comentou cautelosa, curiosa para saber onde Harry queria chegar com essa conversa. –E daí?

-Foi em Paris, no feriado de Natal, em uma missão da Ordem. Você tinha dito pela primeira vez que me amava. – Dallas sorriu com a memória. Aquele tinha sido o dia mais feliz de toda a sua vida, foi quando ela finalmente tinha conseguido o homem que amava.

-Eu lembro. – murmurou em resposta, vendo que Harry tinha se movido na cama, sentando-se em frente a ela e a segurando pela cintura, a puxando para sentar em seu colo, fazendo com que ambos encarassem um ao outro nos olhos. Dallas cruzou os braços por sobre o pescoço de Harry, acomodando-se ainda mais sobre as pernas dele. –Mas e daí?

-E daí que eu estava pensando que seria bom relembrar esse dia.

-O que você está querendo dizer? – perguntou curiosa e Harry levantou-se, a trazendo consigo e a pondo de pé ao lado da cama, ainda não a soltando de seu abraço.

-Estou querendo dizer que você tem vinte minutos para se aprontar. Iremos passar um dia em Paris. – Dallas afastou-se dele com os olhos largos.

-O quê? Ah, Harry, não precisava fazer isso… eu nem comprei nada para você de dia… - o moreno a calou ao depositar um dedo sobre os lábios dela.

-Não me importa. O que me importa é se você responder a minha pergunta.

-Que pergunta? – ele sorriu, inclinando-se para sussurrar perto da boca da mulher:

-Dallas, quer ser a minha namorada? – Dallas abriu um grande sorriso e fechou a distância entre os dois, dando um beijo sedento no marido e logo se afastando dele, ofegante.

-Oui, mon ange. – Harry riu, mas rapidamente ficou sério quando ela completou. – Je t'aime Harry. – o auror inspirou profundamente com uma sensação de dejá vu em sua mente. Já tinha ouvido isso da Dallas antes, anos atrás quando ele a levou, ainda menina, para passar uma noite na Espanha. Quando eles compartilharam o primeiro beijo deles que acabou em desastre, com Harry entrando em desespero e se recusando a acreditar que estava apaixonado por ela. Naquela época ele não soube o que significava o que Dallas tinha dito, mas, hoje, ele tinha certeza de que ela tinha dito "eu te amo". Como fora burro. Se tivesse sido menos covarde e mais certo de seus sentimentos teria tido essa mulher há muito mais tempo.

-Eu também te amo. – murmurou, dando um leve beijo nela. –Mas agora nós temos apenas quinze minutos para nos aprontar. – Dallas riu e soltou-se rapidamente de Harry, correndo pelo quarto para poder se arrumar. Iria para Paris passar o dia dos namorados com o seu marido. Sorriu. E pensar que o dia tinha começado ruim.


Day pisou no campo de Quadribol, olhando a imensidão verde a sua volta a procura de algum sinal do seu namorado. Sentou-se em uma das arquibancadas e apoiou o cotovelo no joelho, descansando a cabeça na palma da mão. Soltou um suspiro, fechando um pouco mais a sua jaqueta para poder espantar o frio. Onde estava aquele garoto? Olhou para o seu relógio de pulso e viu que Alexei estava uns cinco minutos atrasado. Jogou o corpo para trás, abrindo os braços largamente por sobre o banco atrás de si e deixando a cabeça cair sobre a madeira, fazendo os raios de sol baterem em seu rosto e o cegando com a claridade. Fechou os olhos para bloquear os raios e pôs-se a esperar.

-Desculpe a demora, está me esperando há muito tempo? – Day abriu um olho para ver Alexei parar ao seu lado, apoiando-se nos joelhos e dando profundas tragadas de ar, pois com certeza tinha vindo correndo até ali. Pouco depois ele endireitou-se, segurou com mais firmeza a vassoura que estava em suas mãos, parecendo visivelmente nervoso. Coisa que ele estava. Primeiro por causa da surpresa que ele tinha preparado para Day e segundo era porque ele detestava voar e, para surpreender o namorado, eles precisariam subir naquela vassoura.

-Não muito. Mas e então, o que você preparou para mim? – perguntou com os olhos brilhando, erguendo-se do banco em um pulo. Nunca ia esperar de Alexei uma coisa tão piegas como uma surpresa de dia dos namorados, mas quando esse disse que estava preparando algo para ele, Day pulou no pescoço do garoto e lhe deu dezenas de beijo achando que essa era a coisa mais romântica que tinham feito por ele até agora.

-Primeiro, - começou divertido, vendo o modo como Day agia, como uma criança na manhã de Natal. – você vai ter que colocar essa venda. – e estendeu a ele o lenço.

-E quando eu colocar a venda o que acontece? – perguntou desconfiado, olhando do lenço para a vassoura nas mãos do sonserino.

-Iremos voar até a sua surpresa. – respondeu Alexei com o tom mais confiante que conseguiu arrumar. Ele realmente detestava voar e deixaria Day conduzir de bom grado a vassoura até o destino deles, mas isso estragaria a surpresa que ele preparou.

-Voar. – Day soou incerto, pois sabia que Alex não gostava de voar, mas sim de manter os pés bem firmes no chão, ao contrário dele.

-O que foi? Você não confia em mim? – perguntou com um olhar levemente magoado e Day deu ao rapaz um daqueles seus brilhantes e lindos sorrisos e Alexei sentiu seu coração dar um pulo, como sempre acontecia quando o rapaz sorria assim para ele.

-Claro que confio. – disse com a voz firme, amarrando a venda sobre os olhos e depois esticando as mãos, a procura das mãos de Alexei. O sonserino pegou uma mão de Day, o guiando para a vassoura e o ajudando a passar a perna sobre o cabo. Subiu no objeto, posicionando-se atrás do grifinório e passando um braço pela cintura dele. Quando estavam acomodados e relativamente seguros Alexei deu um impulso com o pé e ganhou os céus dos terrenos de Hogwarts, começando a voar em direção ao castelo, usando um caminho longe das vistas de curiosos.

Day deslizou as suas mãos por sobre o cabo da vassoura, tentando manter-se firme. Por mais que confiasse em Alexei, ainda sim se sentia incomodado em não estar guiando a vassoura e por não poder ver para onde estava indo. Era quase como ser um inútil. Percebeu quando o vento parou de brincar com os seus cabelos e seus pés tocaram novamente o chão firme e as mãos de Alexei o ajudaram a descer da vassoura. Ouviu atentamente os barulhos que o namorado estava fazendo ao seu redor, mas não saiu do lugar até que o sonserino voltasse para perto de si e parasse atrás de Day, depositando ambas as mãos em seus ombros e o virando em uma direção qualquer. Sentiu as pontas dos dedos dele deslizarem de seus ombros para o seu pescoço em uma suave carícia, depois para a sua bochecha. Percebeu quando ele inclinou-se sobre si e os lábios do russo roçaram levemente na pele perto dos seus olhos.

-Espero que você goste da surpresa. – o hálito quente do rapaz mais velho chocou-se contra a sua nuca e orelha e Day arrepiou-se, sentindo as mãos dele indo até o laço da venda e o desfazendo. Piscou os olhos violetas para poder se acostumar à mudança da luz e assim que conseguiu focar seus olhos viu onde estava. Era uma das torres da escola. Mas essa não era a questão, mas sim que todo o espaço estava enfeitado com flores, almofadas, e havia no meio da sala uma mesa servida para dois. Day abriu um pequeno sorriso, virando-se para encarar Alexei que olhava para os próprios pés intensamente, subitamente tímido e inseguro. Nunca tinha feito coisas desse porte antes para ninguém. Afinal, nem combinava com ele algo tão clichê quanto flores e jantar – nesse caso almoço – a luz de velas. Mas achava que com Day tinha que ser especial, que ele merecia ver esse lado dele que ele recusava a aceitar que existia.

-Não sabia que você tinha um q romântico Lex. – brincou, erguendo uma sobrancelha sardônica para o namorado. Alexei olhou para todos os cantos da torre menos para Day, torcendo com os dedos a barra da sua camisa. Isso era ridículo, ele estava envergonhado sobre o que o seu namorado ia pensar da surpresa. Inseguro sobre se ele ia gostar ou não. Logo ele que não se importava com o que os outros pensavam. Porém, Day era Day. E, ao lado dele, ele agia completamente diferente do que deveria agir. Quase riu. Seu avô deveria estar revirando no túmulo. Bem, bem feito para ele.

-Você não gostou? – perguntou com um ar arrogante e assumindo uma postura defensiva, rapidamente erguendo a cabeça e estufando o peito como se nada o abalasse. Day riu, conhecendo imediatamente essa reação de Alexei. Era a pose que ele assumia quando erguia as suas paredes de proteção em relação ao mundo. Deu um passo a frente e o abraçou pela cintura, erguendo um pouco o corpo para poder beijar-lhe a ponta do nariz. Alexei torceu um pouco o nariz e fez uma careta diante do movimento infantil de Day, mas não disse nada.

-Eu adorei. – murmurou antes de beijá-lo em cheio nos lábios. Como mágica o corpo de Alexei relaxou e ele deixou-se levar pela sensação da boca de Day sobre a sua, serpenteando os seus braços pela cintura do rapaz e aproximando mais o corpo dele contra o seu. Enterrou as mãos nos cabelos negros e o afagou. Amava o cabelo dele, o modo como eles brilhavam contra a luz e como eram macios, além de terem um cheiro intoxicante. Suas mãos escorregaram pelos braços de Day em volta do seu pescoço, alcançando o rosto macio e o segurando firmemente, querendo o manter no lugar e não apartar de jeito nenhum o beijo. Sua mente gritava dizendo que eles tinham outros assuntos a resolver, como um certo encontro romântico que ele tinha planejado e que o beijo era para depois, mas o gosto dos lábios do rapaz mais novo, os toques dele e a sua proximidade o fazia esquecer de qualquer coisa coerente.

Separaram-se quando o ar tornou-se escasso e cada um olhou para o rosto do outro. As faces estavam coradas e os olhos brilhantes, além de respirarem pesadamente. Day deslizou os dedos por entre os fios castanhos do cabelo de Alexei, olhando com intensidade para os olhos âmbares. Sensações formigavam dentro de si, coisas que ele nunca tinha sentido antes. Euforia, devoção, luxúria… amor. Tudo desperto com um simples beijo. Quem diria que ia se sentir dessa maneira por alguém como Alexei.

-Lex? – murmurou, fechando os olhos a aproximando-se do rapaz mais alto, pronto para dar outro beijo mais hesitando um pouco.

-Hum? – o sonserino respondeu desnorteado, também fechando os olhos e inalando o perfume gostoso que Day emanava.

-Eu amo você. – os orbes âmbares abriram-se chocados. Day nunca havia lhe dito que o amava. Todo esse tempo em que eles estavam juntos o grifinório ainda parecia estar se decidindo o que sentia por ele. Seu coração pareceu ter parado no tempo diante das simples palavras. Era muito raro para ele, Alexei, ouvir que alguém o amava. Nem seus pais diziam isso abertamente, mesmo que ele soubesse que fosse amado. Ainda sim, em uma relação como a dele e de Day dizer um "eu te amo" de vez em quando é sempre bom. Abriu um sorriso genuíno, sentindo-se estupidamente feliz.

-Hum… bom saber, porque eu… - certo, ouvir um eu te amo era sempre bom, mas dizer eram outros quinhentos. Poderia contar nos dedos de uma mão quantas vezes tinha dito essa frase para Day. -… eu também te amo. – terminou com um murmúrio e Day sorriu, antes de arrebatá-lo para outro beijo sedento.

Mãos perderam-se em carícias e quando deram conta ambos já estavam sobre as almofadas beijando-se e se tocando, explorando o corpo um do outro. Day esticou-se como um felino preguiçoso ao sentir a mão de Alexei buscar caminho sob a sua camisa e os lábios dele percorrerem o seu pescoço. Soltou um gemido baixo, apertando os dedos contra as costas largas até as juntas deles ficarem brancas. O almoço já estava esquecido sobre a mesa onde as velas queimavam intensamente. Day engasgou e abriu largamente os olhos quando sentiu os dedos de Alexei abriram os botões da sua camisa e beijos molhados começarem a ser depositados em seu tórax. Relaxou o corpo e deixou a cabeça pender para trás, perdendo-se nas sensações. Alexei aconchegou-se sobre o grifinório, arrebatando os lábios dele em mais um beijo. Tão perdido estavam que não ouviram os passos nas escadas que levavam a torre, nem ouviram a porta da mesma se abrindo, mas ouviram o estrondo que essa fez quando quem estava nela a bateu contra a parede.

Day e Alexei se separaram com o susto e olharam para a porta. O sonserino arregalou os olhos, engolindo em seco, mas o grifinório empalideceu enquanto que, com as mãos trêmulas, tentava fechar a sua camisa. Isso não poderia estar acontecendo. Ele não estava vendo quem estava vendo na porta. Era um pesadelo. Engoliu um bolo que entalou na sua garganta e desistiu de fechar a sua camisa quando percebeu que as suas mãos e o seu corpo não o obedeciam mais.

-E… E… Ev… Evan? – Day sentiu que ia desmaiar. A expressão do seu irmão mais velho era aterrorizante. Ele estava vermelho e bufava como um touro enraivecido. Com passos largos cruzou a torre na direção deles dois e com um puxão no braço de Day o ergueu das almofadas. O jovem mago soltou um gemido baixo de dor diante da força do aperto do irmão. –Ai… Evan. Pára, você está me machucando! – protestou, mas o monitor parecia não ouvi-lo, pois os seus olhos encolerizados estavam fixados em Alexei que tinha se levantado em um pulo quando viu Day sumir do seu campo de visão.

-Hei! – protestou o sonserino vendo que Day estava se contorcendo de dor sob o aperto do irmão. –Solte ele, você o está machucando. – a voz de Alexei pareceu ter acordado algum demônio oculto dentro de Evan, pois ele rapidamente soltou Day e partiu para cima do sonserino, disposto a acabar com cada pedaço existente daquela nojenta criatura. Ensinaria a aquele filhote de Comensal a pensar duas vezes antes de tocar no seu irmão.