Alexei sentiu o gosto do sangue em sua boca, mas não teve muito tempo para registrar o fato até que outro soco o atingiu. Usou uma das suas pernas, chutando a barriga de Evan e o tirando de cima de si, o jogando a alguns metros de distância dele e conseguindo finalmente se levantar. Quando se pôs de pé percebeu que várias partes do seu corpo doíam, mas que Evan não tinha ficado para trás já que, no reflexo, ele bateu no grifinório também assim que esse avançou para cima de si.

Quando Evan recuperou o equilíbrio ele prontamente partiu para cima de Alexei novamente, somente para ser impedido com um par de mãos firmes nas costas de suas vestes que o puxaram com força e o impediram de bater no sonserino até a morte.

-O que você pensa que está fazendo, Day! – gritou enfurecido para o irmão que o tinha impedido de agredir o outro rapaz.

-Eu é que pergunto: o que você pensa que está fazendo? – Day perguntou com uma voz um pouco mais firme, mas o corpo ainda tremendo e o rosto pálido.

-O que eu estou fazendo? – Evan virou-se com tanta força para encarar o irmão que esse quase caiu no chão quando as vestes dele se soltaram bruscamente de entre seus dedos. –Eu estou impedindo esse pervertido de atacar você. Ele estava te violentando Day! – gritou colérico e ouviu com extremo desagrado quando Alexei soltou uma risadinha sardônica do outro lado da sala, limpando o canto da boca onde havia um filete de sangue.

-O atacando? Não creio que o Max seja tão indefeso assim, Potter. – provocou, empertigando-se no lugar e ajeitando a sua roupa. Day ficou mais branco ainda diante das palavras do namorado e lançou a ele um olhar suplicante, dizendo claramente para não piorar ainda mais a situação.

-Então me explica o porquê de você estar em cima do meu irmão o atacando? – Evan rebateu, segurando-se onde estava para não agredir ainda mais o sonserino e tirar aquele sorriso besta do rosto dele.

-Atacando? – Alexei ergueu uma sobrancelha presunçosa e virou-se para Day. –Eu estava te atacando Max? – Day ficou calado como se tivesse subitamente perdido a habilidade de falar. Se eles contassem a verdade a Evan nenhum dos dois sairia vivo dali. –Max? – chamou, franzindo as sobrancelhas e o seu sorriso escarninho sumindo do rosto. Certo que não foi uma boa maneira de contar para a família do garoto sobre eles dois, mas eles mesmos sabiam que não poderiam esconder isso deles por muito tempo.

-Evan… - Day tentou com uma voz persuasiva e aproximou-se hesitante do irmão. Pelo que tinha entendido da história, Evan achava que Alexei o estava violentando e ele não podia deixar essa inverdade se espalhar, mas também tinha medo de contar a história como aconteceu, pois com certeza a reação do seu irmão seria bem pior. -… olhe a sua volta, você acha mesmo que o Lex estava me atacando? Eu sei me defender e você sabe disso. – tentou dizer no tom mais calmo que existia, tocando levemente no braço do moreno. Quando Evan somou dois mais dois e olhou com olhos largos para o irmão, o grifinório afastou-se aterrorizado ao ver chamas de ódio dentro dos olhos azuis.

-Você não está tentando me dizer… - começou entre dentes, sentindo uma pontada terrível no peito, como se fosse uma apunhalada no coração. Seu próprio irmão estava apunhalando a ele e a sua família saindo com o neto de um… assassino. -… que você estava permitindo que ele colocasse as suas mãos imundas sobre você, está? – disse com desdém, olhando com extremo nojo para Alexei.

-Dobre a sua língua para falar da minha pessoa, Potter. – rosnou o sonserino de volta. –E foi isso mesmo que o Max quis dizer. Nós estávamos nos beijando… voluntariamente.

-É MENTIRA! – Evan berrou não acreditando nos seus ouvidos. –VOCÊ CORROMPEU O MEU IRMÃO, SÓ PODE SER ISSO! – deu dois passos largos e parou em frente à Day, segurando nos ombros dele e o sacudindo intensamente. –Day, lute contra isso por favor. – o menino mais novo arregalou os olhos, livrando-se dos dedos firmes de Evan.

-Não seja ridículo, Potter. Eu não estou usando o Imperio no seu irmão, se é isso que você quer saber. – Alexei interrompeu, segurando o braço de Day e o puxando para longe de Evan, com medo de que ele machucasse o garoto quando a verdade finalmente entrasse na cabeça dura dele.

-Day… - Evan murmurou, olhando para o irmão que parecia sumir entre os braços de Alexei e vendo o olhar triste que ele lhe lançava. –Por quê? – perguntou desolado. Negava-se a acreditar nisso. Com certeza tudo não passava de um sonho ruim.

-Porque… - Day começou com uma voz quase sumida. -… eu o amo, Evan. Eu sinto muito. – Evan recuou chocado, balançando a cabeça de um lado para o outro desacreditado. Era mentira, era tudo uma mentira, esse sonserino infeliz com certeza estava manipulando seu irmão de uma forma ou de outra.

-NÃO! – gritou estarrecido. –EU ME RECUSO A ACREDITAR QUE VOCÊ POSSA SENTIR QUALQUER COISA POR ESSE ASSASSINO! – Alexei soltou Day e caminhou a passos pesados até Evan, pronto para mostrar para ele quem era o assassino. Ergueu a mão para poder socar o grifinório arrogante quando a mão de Day em seu pulso o parou.

-Evan… tente entender… - começou, mas parou quando viu os olhos do irmão se tornarem estreitas linhas de ódio e rancor.

-Eu não entendo nada, Potter. O que eu entendo é que tenho um traidor como irmão. Melhor ainda… eu não tenho mais irmão. – virou sob os saltos e saiu apressado da torre com os seus passos ecoando nas escadas. Day olhou de Alexei para a porta por onde o seu irmão saiu e rapidamente soltou o pulso do namorado, correndo atrás de Evan.

O apanhador desceu as escadas da torre apressado, conseguindo fechar a sua camisa no meio do caminho e alcançando o corredor bem a tempo de ver Evan fazer uma curva. Correu até ele, gritando o nome do rapaz quando viu se aproximar do irmão. O monitor parou, virando-se com uma expressão fechada e fria para o menino mais novo.

-Evan, pelo o amor de Deus você não está sendo racional! – disse exasperado e manteve-se firme no lugar mesmo quando Evan aproximou seu rosto perigosamente do seu, seus olhos mostrando o quanto ele estava enfurecido.

-Racional? Como você espera que eu seja racional quando o meu próprio irmão está servindo como prostituta particular daquele sonserino nojento? – os olhos violetas se arregalaram de choque e algo doeu no coração de Day, que em um reflexo desferiu um tapa no rosto de Evan. O rapaz mais velho retribuiu o tapa e o apanhador recuou, chocado. –Se dá, leva! – disse frio, não se abalando com o brilho das lágrimas nos olhos exóticos.

-Qual é o seu problema afinal? – gritou Day exasperado, as lágrimas já correndo por suas bochechas.

-Meu problema? Meu problema é o fato do meu irmão se rebaixar à escória da humanidade e se submeter a aquele lixo! – gritou de volta, apontando para um ponto atrás da cabeça de Day.

-Hei! – Alexei entrou no meio da conversa, envolvendo a cintura de Day com um braço para poder dar apoio a ele, pois sentia que o menino estava quebrando. –Eu não sei qual é o seu problema comigo Potter, mas isso não lhe dá o direito de gritar com o seu irmão desse jeito! – elevou a voz, não admitindo que esse idiota ofendesse Day dessa maneira.

-EU JÁ DISSE QUE NÃO TENHO MAIS IRMÃO! – retrucou, lançando aos dois um olhar enojado ao ver o quão próximo eles estavam.

-O que está havendo aqui? – outra voz entrou na conversa, mas o trio mal prestou atenção nela pelo fato de estarem muito entretidos na sua discussão. Sirius caminhou apressadamente até os três, parando ao lado de Evan e notando como Day e Alexei estavam em uma posição um tanto quanto íntima. Maya rapidamente parou ao lado do ex-prisioneiro, lançando a ele um olhar de: não te disse, pois fora ela que tinha ouvido os gritos vindos do corredor. Ao redor do grupo pessoas apareciam, provindas de seus encontros em Hogsmeade e que tinham ouvido os gritos assim que entraram no castelo. Era impressionante a força com que o som poderia ecoar nessas paredes de pedras.

-Eu não estou te entendendo Evan! O que você tem contra o Alexei? O que foi que ele te fez? – Day já estava passando do estado de tristeza para fúria. Por anos Evan não tolerou Alexei, mas nunca mostrou um motivo concreto para isso. Ele apenas não o suportava por não suportar. Mas Day sabia que deveria haver um motivo por detrás disso. Ninguém despreza alguém apenas por desprezar.

-Por quê? Eu vou lhe dizer por que. O avô desse mesmo infeliz a quem você beija tão espontaneamente foi o mesmo que quase matou a nossa mãe durante a segunda guerra. – pessoas ao redor arregalaram os olhos e Sirius suprimiu um grunhido. Como é que Evan sabia disso? Como ele sabia que fora Ian Yatcheslav que tinha puxado o gatilho da arma que cravou uma bala no coração de Dallas? Isso era algo que poucos tinham conhecimento e era uma informação única e exclusiva da Ordem.

Day sentiu Alexei enrijecer ao seu lado e o olhou expectante, esperando que ele negasse essa afirmação. Mas tudo o que ele fez foi abaixar os olhos e soltar um suspiro. Estreitou os orbes violetas e voltou-se decidido para o irmão.

-Só porque o avô dele era um assassino no passado isso não faz de Alexei um também. Eu já te disse antes Evan para não culpar os outros pelos erros dos seus progenitores. Se fosse assim você não teria arrastado asa para Angela Malfoy, teria? – rebateu seco, cansado de ser aquele que era ferido. Estava na hora de machucar alguém e ele não deixaria Evan estragar a sua vida por causa de um preconceito ridículo.

-Eu já falei mil vezes para não meter a Angela no meio disso… ela não chega aos pés desse…

-Será que não? Seu problema é qual? Seu problema é saber que o seu aparentemente frágil e doce irmão é gay? – começou a falar com a sua voz se elevando a cada segundo. –Que ele namora um sonserino? Ou o seu problema é que finalmente alguém me ama, algo que, eu devo lembrar, você não tem já que foi dispensado pela garota mais ARROGANTE E MIMADA QUE EU CONHEÇO!

-Quando foi que a minha vida amorosa entrou nesse meio? Que eu saiba estávamos falando de você e o fato de você estar servindo de brinquedo sexual para esse enviado dos infernos. Não me interessa o que ele é ou não, ele ainda é um desgraçado filho da puta e você o seu brinquedinho… um bastardo traidor. – rebateu de volta e todos prenderam a respiração diante da briga. A coisa estava feia e as pessoas a volta dos três não sabiam se ficavam chocadas diante da revelação de que Day e Alexei eram um casal ou pelo fato de que Day estava perdendo o controle. –Me diga, há quanto tempo você está deixando ele te comer e se divertir com você?

-AGORA CHEGA POTTER! – Alexei interveio. Agüentava as ofensas, mas ninguém gritava com Day na sua frente a saía vivo para contar história. Ia partir para cima dele mais novamente foi impedido, dessa vez por Sirius.

-Evan… - Day sibilou, apertando os punhos fortemente e o círculo de pessoas ao redor deles começou a recuar, pois o chão sob eles tremia e os quadros começavam a cair com baques estridentes no chão, além das estantes com enfeites e cujos vidros estavam se partindo. -… é melhor você voltar para a torre e repensar melhor toda essa besteira que você está dizendo. – falou com a voz contida e Evan deu uma risada sarcástica, jogando a cabeça para trás.

-Besteira? Cada maldita palavra saída da minha boca é a pura verdade, traidor. E eu não retirarei uma vírgula. E se você está reagindo assim é porque sabe que é verdade. Sabe que não passa de… - não terminou, pois de repente um solavanco tirou os seus pés do chão e seu corpo foi arremessado contra a parede no final do corredor. Evan sentiu um dos seus braços estalarem diante do impacto e teve certeza que ele estava quebrado. As pessoas se afastaram mais de Day, vendo que ele parecia emitir uma estranha aura púrpura em volta de si.

Quando viu o irmão caído no final do corredor o menino pareceu voltar a si e abriu os punhos chocado com o que tinha acontecido. Olhou a sua volta para ver os olhares aterrorizados dos outros alunos e suprimiu um soluço. Eles sabiam, sabiam que ele era uma aberração. Viu o olhar inquiridor de Alexei, ainda preso nos braços de Sirius e o próprio Sirius olhando surpreso para ele, com os seus lábios murmurando um: como pode? Lágrimas começaram a rolar mais forte pelo seu rosto. Todos eles sabiam, sabiam do seu caso com Alexei e por isso seria a piada da escola no dia seguinte. De repente a pressão do mundo começou a pesar em seus ombros e Day não ouviu mais nada nem ninguém, apenas abriu caminho por entre a multidão e desatou a correr, não olhando para trás nenhuma vez.

-MAX! – Alexei gritou quando viu o menino sumir no final do corredor. Debateu-se, finalmente se soltando do aperto de Sirius e olhou com um ódio mortal para Evan, que se levantava do chão com a ajuda de Maya. Alguns alunos o olhavam enojado e ele deu a eles um olhar mortal e um grunhido. Homofóbicos, pensou desdenhoso. Mas agora isso não era o mais importante, mas sim encontrar Day. Lançou um olhar a Sirius, sabendo que teria que dar explicações para o professor, mas no momento estava com um pouco de pressa. O animago soltou um suspiro e fez um meneio com a cabeça. Essa foi à deixa e Alexei sumiu pelo corredor atrás do amado.


Correu e correu, não sabendo para onde os seus pés o estavam levando, apenas correu. Quando suas pernas começaram a doer e o seu corpo apresentar sinais de cansaço, deixou-se cair no chão duro de joelhos. Inclinou-se para frente, apoiando a testa na pedra fria, as lágrimas rolando quentes pelo seu rosto e pingando no chão. Seu peito doía tanto que ele tinha a sensação de que o seu coração sairia e começaria a sangrar diante dos seus olhos. Seu irmão, seu próprio irmão dizendo essas barbaridades para ele era pior do que levar um avada kedavra direto na cabeça. Doía… Deus como doía. Encolheu-se mais ainda, achando que assim a terra se abriria e o engoliria, ou que ele acordaria na sua cama a descobrisse que tudo não tinha passado de um sonho ruim… extremamente ruim.

Levantou-se, olhando com os olhos marejados a sua volta, tentando compreender onde estava. Não reconhecia aquela parte do castelo, só sabia que era escura e fria como a sua alma no momento. Os soluços tornaram-se mais fortes assim como as suas lágrimas que pareciam não querer parar de rolar. Uma dor começava a latejar na sua tempôra e o seu nariz já estava vermelho de tanto fungar. Tentou se levantar do chão para sair dali, mas as suas pernas tremiam tanto que, assim que se pôs de pé, caiu novamente sentado sobre as pedras. E mesmo que conseguisse se levantar para onde iria? De volta para a torre da Grifinória? Não tinha coragem de encarar os seus colegas e muito menos o seu irmão no momento. Pensar em Evan fez mais lágrimas caírem dos seus olhos e seu peito se contrair novamente em dor. Encolheu as pernas, abraçando os joelhos e escondendo a cabeça entre eles. O que faria agora? Como encararia a todos? Como os seus pais reagiriam? E Alexei? Será que ainda iria querer ficar com ele quando descobrisse que ele era uma aberração, pois com certeza todos estavam se perguntando o que tinha acontecido no corredor. Ele tinha perdido o controle, não fazia idéia do que estava fazendo e… Por Deus! Levantou a cabeça em um rompante, arregalando os olhos. Ele tinha machucado Evan. Por mais que estivesse magoado com o irmão, não queria tê-lo machucado.

-Max? – a voz o chamou e pareceu tão distante quanto todos os pensamentos que reverberavam em sua cabeça. –Max? – Alexei ajoelhou-se na frente do garoto, vendo como o rosto dele estava vermelho e os cabelos desalinhados, sem contar que os olhos violetas brilhavam com as lágrimas derramadas. Day olhava para um ponto acima do ombro de Alexei, não realmente vendo o russo e mal reconhecendo a sua presença.

-Vamos Max, reaja. – implorou o sonserino com o coração partido ao ver o olhar distante do namorado. –Não vale a pena meu amor, não vale a pena chorar por ele. Ele não sabia o que estava dizendo. Nada do que ele disse era verdade.

-Nem a parte de que o seu avô quase matou a minha mãe? – disse com uma voz sumida e o olhar ainda longe. Alexei soltou um longo suspiro, sabia que o assunto chegaria a esse ponto, mas torcia que não tivesse que ser tão cedo.

-Max… esse acontecimento foi no meio da batalha final. Comensais contra Agentes da Fênix. Qualquer um estava perigando a ser ferido ou morrer. O fato de ter sido os nossos parentes que estavam no meio desse embate é apenas um acaso do destino. Você entende isso, não entende?

-E como você sabe disso tudo? – finalmente focou os seus olhos no rosto de Alexei.

-Eu… tinha o diário do meu avô até a algum tempo atrás. Mas me livrei dele depois que ele morreu.

-Pensei que odiasse o seu avô. Então o que fazia com o diário dele? – perguntou, fungando um pouco e com as lágrimas parecendo cessar o suficiente para ele conseguir prosseguir a conversa sem soluçar.

-Não sei. Talvez eu tentasse provar a mim mesmo que não era parecido com ele. Que o que eu pensava não era nada perto dos pensamentos psicóticos dele. Ou estava apenas curioso em saber como era o sujeito que todo mundo parecia desprezar, inclusive eu. Mas você não acha que eu seja um…

-NÃO! – gritou, já sabendo sobre o que ele estava se referindo. –Eu não mudo o que eu disse. Você não é o seu avô, você é o Alexei, o meu Alexei. E ninguém vai te tirar de mim porque eu te amo e eu sei que você me ama.

-Se sabe disso tudo, - disse com um pequeno sorriso. – porque ainda está chorando?

-Porque dói, Lex. Dói pensar que eu ouvi aquilo tudo do meu irmão. Como ele teve a coragem de dizer isso para mim? Me acusar daquelas coisas horríveis? Eu sei que ele é durão, super protetor e, às vezes, um pouco ignorante. Mas eu nunca pensei que ele faria isso comigo. Nunca pensei que ele chegaria a esse ponto para me humilhar, me machucar. Por que ele fez isso?

-Eu não sei, Day, eu realmente não sei. – murmurou em um tom cansado, deslizando pelo chão para poder sentar-se ao lado do garoto e o abraçando, escondendo o rosto dele em seu peito e afagando os cabelos escuros. Minutos de silêncio se passaram, sendo quebrados apenas com os soluços do menino, até que Alexei resolveu fazer uma pergunta que o estava incomodando. – Max?

-O quê?

-O que foi aquilo que aconteceu? – Day soltou-se dele e o olhou com os olhos largos, ficando levemente pálido.

-Do… do que você está falando?

-Max… eu sei que um bruxo pode perder o controle da sua magia às vezes, mas isso geralmente acontece com bruxos menores de idade fora da fase escolar, pois ainda não são maduros o suficiente para controlar os seus poderes. O que não é o seu caso. Sem contar que foi um senhor descontrole.

-Eu… - afastou-se mais dele, deslizando pela pedra para poder ficar o mais longe possível de Alexei. O russo ergueu uma sobrancelha confusa ao ver a reação do namorado e se pôs de quatro, engatinhando vagarosamente para o canto onde Day se escondia. –Não! – gritou o menino, esticando uma mão e mostrando claramente que era para o sonserino ficar onde ele estava.

-Max, o que está acontecendo? – perguntou desconfiado e sentou-se sobre as pernas.

-Eu… eu descobri uma coisa sobre mim que eu não gosto. Nem para ser um bruxo normal eu presto! – falou exasperado, segurando mechas dos cabelos negros e as puxando com força. Novamente Alexei tentou se aproximar, mas Day o impediu. –Você vai achar que eu sou uma aberração. – murmurou tristonho e o russo deu um sorriso confortador para ele.

-Mas é claro que eu não vou achar isso.

-Você tem certeza? Tem certeza que não vai ficar com um pé atrás ao saber que tem um namorado… mago? – disse incerto, o corpo voltando a tremer com soluços e o rosto sendo molhado novamente pelas lágrimas. A cada segundo a sua cabeça doía cada vez mais. Alexei recuou surpreso diante da revelação. Mago? O Day? Sabia o que essas palavras queriam implicar, ser um mago era sinônimo de perigo e, no momento, Day parecia muito instável com os poderes dele. Estava na linha fina entre a luz e as trevas e, ao que parecia, estava com muito medo por causa disso.

-Eu li no diário do meu avô… - começou, prendendo os seus olhos nos olhos de Day para assegurar-lhe que tudo estava bem. -… que quando ele feriu a sua mãe, foi com uma arma trouxa. Um tiro certeiro no peito e que ela ficou caída lá até que o seu pai apareceu. Ele disse que ria enquanto via os dois conversarem e pessoas tentando ajudá-la. Isso até que o Potter levantou-se e de repente ele não parecia mais ele mesmo. Seu corpo brilhava e ele andava pela chuva como se estivesse pronto para destruir o mundo. Pessoas saíam do seu caminho, a terra tremulava, ele emanava ódio puro até que chegou na frente de Voldemort e disse que ia matá-lo. O duelo começou e coisas aconteceram, ventos assobiavam no ouvido dos outros e esses ventos começaram a rodear o Potter e Voldemort até que eles desapareceram. Algum tempo depois o Potter voltou com o corpo de Voldemort nas mãos e ele parecia tão vazio, como se nada mais importasse. Foi aí que o meu avô resolveu sair imediatamente dali. Mas foi pego dias depois pelos aurores.

-Por que você está me contando isso? – falou com um tom confuso. O que isso tinha a ver com o que ele tinha acabado de contar?

-Seu pai é um mago Max, e você sabe disso. Mas se você acha que ele não passou pelo que você está passando, engana-se. Harry Potter ficou a um passo de ser o novo Lorde das Trevas quando a sua mãe quase morreu em frente aos olhos dele. Eu sei o que ser um mago implica e isso não me assusta. Seguirei você aonde for, Lorde das Trevas ou não.

-Eu não vou me tornar um Lorde das Trevas. – respondeu convicto, estreitando os olhos na direção de Alexei diante do absurdo das palavras dele.

-Então o que você tanto teme? Ser um mago não é tão ruim. Merlin foi um mago e fez grandes coisas para o nosso povo.

-Mas você viu como eu reagi? Eu perdi o controle. Eu machuquei o Evan! – rebateu desesperado ao lembrar-se de como ele jogou o irmão corredor abaixo.

-E de quem você acha que é a culpa? – dessa vez foi Alexei que estreitou os olhos de raiva. Achava que o mais velho dos Potter tinha merecido cada ferimento que recebeu. –Toda do idiota do seu irmão. Ele que aprenda a controlar a boca da próxima vez se não quiser se machucar.

-Não haverá próxima vez porque eu nunca mais vou perder o controle assim. Não vou mais machucá-lo.

-Quem disse que eu estava falando de você machucar o idiota do Potter?

-Não! – Day rapidamente engatinhou para onde Alexei estava, o abraçando pela cintura. –Não faça nada com ele, por favor.

-Ele merece uma surra Max, para deixar de ser tão arrogante e mimado. Quem ele pensa que é para dizer aquelas besteiras para você? – comentou raivoso e sentiu os braços de Day apertarem ainda mais contra a sua cintura.

-Por favor, Lex. – pediu com uma voz mínima e o russo relaxou, não podendo resistir a aquele tom do namorado. Soltou um longo e sofrido suspiro e finalmente concordou em não fazer nada a Evan… ainda.

-Mas qualquer gracinha dele na minha frente sobre você e eu quebro todos os dentes dele. – Day soltou uma pequena risada e acenou positivamente com a cabeça. Agora quem estava sendo super protetor? Se bem que, estranhamente, quando Alexei agia assim ele não se sentia um jovem inutilizado, ao contrário, ele se sentia muito bem. Alexei o protegia às vezes, mas na outras o deixava livre para enfrentar as suas próprias brigas, coisa que os outros não faziam. Por que Evan não poderia ver então o quanto ele precisava do russo na sua vida? Por quê?


O sol já sumia no horizonte e as estrelas começavam a brilhar no céu azul petróleo. Mas ele não estava se importando com isso encolhido no canto do dormitório vazio. Sua cabeça doía, assim como o seu corpo. Seus olhos vermelhos eram ocultados pela escuridão e os soluços abafados pelos braços cruzados sobre os joelhos. Dobrou a cabeça, mirando intensamente a parede e vendo apenas borrões nas pedras. Seus olhos ardidos não derramavam mais nenhuma lágrima, mas, mesmo assim, eles ainda estavam embaçados. O que tinha acontecido há horas atrás ele mesmo não conseguia entender. Mas tinha sentido tanto ódio por ver o seu irmão se entregar de livre e espontânea vontade ao neto do homem que quase destruiu a vida dos seus pais. Não conseguia aceitar que Day não fosse mais aquele menininho que protegia dos "garotos malvados". Seu coração doía com a traição e com o ciúme. Soltou uma risada seca e sem vida. Ele, burro velho, estava com ciúme do irmão mais novo. Bem, ele sempre teve ciúme dos irmãos. Sempre achava que o seu papel como o mais velho era de cuidar deles, mas aprendeu duramente neste dia que eles não precisavam mais da sua proteção.

A porta do dormitório abriu-se lentamente, deixando que um feixe de luz entrasse no lugar e iluminasse um pouco o rapaz encolhido contra a parede. A pessoa na porta entrou, fechando a madeira atrás de si e caminhando a passos leves em direção ao monitor, agachando-se na frente dele e depositando uma mão sobre os braços cruzados. Os olhos azuis de Evan se voltaram para a pessoa que estava na sua frente e um lampejo da sua mente o fez ver mechas ruivas que logo foram sumindo e revelando fios dourados diante da pouca luz do dormitório.

-Rowena? – perguntou com uma voz rouca e viu a menina sentar na sua frente, o olhando intensamente com os seus olhos azuis da cor do céu da manhã.

-Eu soube o que aconteceu e vim ver como você está. – disse a menina com um tom suave, como se estivesse tentando amansar uma fera.

-Ver como eu estou? – falou sarcástico, torcendo o nariz. –Até onde me lembro o seu melhor amigo é Day. Por que veio ver como eu estou e não a ele? – terminou com um tom desgostoso.

-Porque eu sei que o Alexei deve estar cuidado dele no momento. – a menção do nome do sonserino fez Evan soltar um grunhido. –E porque eu me preocupo com você.

-Não preciso da sua pena Weasley. Pode dar meia volta e me deixar sozinho aqui. – falou de modo ignorante, mas Rory não recuou um milímetro.

-Quem disse que eu tenho pena de você? No momento eu estou muito chateada pelas barbaridades que você disse para o Day. Mas também sei que você está magoado e que gosta muito do seu irmão e que foi afetado tanto quanto ele com essa briga.

-Você vem me dizer isso? – soltou sarcástico. –Foi ele que quebrou o meu braço. – e mexeu o braço que Madame Pomfrey tinha curado mais cedo.

-Você realmente é um cabeça dura. – a garota soltou um longo suspiro e o olhou intensamente. –Não pode simplesmente aceitar que o Day arrumou alguém?

-Ele pode ter arrumado alguém, mas tinha que ser o Yatcheslav? Isso sim eu não aceito. Por que logo ele? POR QUÊ? – gritou exasperado, passando a mão pelos cabelos despenteados. Rory balançou a cabeça de um lado para o outro como se estivesse repreendendo uma criança mimada.

-Porque sim. Sabe, eu sempre ouvi dizer que você detestava o modo como a sociedade bruxa trata aqueles que foram envolvidos com Voldemort, a família de antigos Comensais. Mas você já percebeu que não está agindo diferente daquele bando de preconceituosos que só sabem julgar os erros dos outros e nunca os seus próprios?

-É diferente… Yatcheslav…

-Eu soube, o avô dele quase matou a sua mãe. Mas por que você está tomando as dores da sra. Potter? Isso aconteceu antes de você sonhar em nascer. E a sra. Potter nem deve mais se lembrar desse sujeito. Então por que você se importa? – ergueu uma sobrancelha indagadora para ele quando o viu a olhando intensamente com uma expressão de espanto.

-Porque eu… - balbuciou, tentando buscar algo para rebater esse argumento dela, mas não encontrou nada. -… eu não sei. – finalmente admitiu derrotado.

-Você sempre toma as dores dos outros Evan, sem contar que guarda rancores por coisas bobas. Acho que o problema não é mais o Day namorando o Alexei, mas sim você.

-Como você pode me conhecer tão bem? – disse com uma voz cansada.

-Eu sou uma boa observadora. Acho que aprendi isso com a minha mãe. – falou com um sorriso, erguendo-se do chão e estendendo uma mão para ele. –Vamos, você não pode ficar aqui a noite toda. O jantar foi servido e você precisa comer alguma coisa. – Evan ficou olhando para a mão dela incerto, até que a segurou e deixou-se ser puxado pela menina até pôr-se de pé. Olhou para os olhos dela que brilhavam mesmo diante da escuridão do quarto e tocou de leve o rosto pálido. Sem saber direito o que estava fazendo inclinou-se um pouco e depositou levemente os seus lábios sobre os dela, recuando segundos depois para ver a expressão da garota que estava completamente serena.

-Obrigado. – disse com um sussurro e a menina sorriu.

-Disponha. – respondeu, segurando novamente na mão dele e o tirando do quarto com Evan se sentindo um pouco mais leve do que estava há horas atrás.


-Não! Me ponha no chão! – risadas ecoaram na sala da casa e o barulho abafado de algo caindo sobre almofadas se seguiu às risadas. Dallas gargalhava sobre o sofá, quase chorando de tanto rir.

-Eu não achei graça! – Harry ergueu-se, colocando as mãos na cintura em uma imitação perfeita da sra. Weasley e a mulher riu mais ainda.

-Eu achei cômico. Você e o seu francês chulo. Você cantou a mulher do sujeito e quase apanhou por causa disso. Esse foi o melhor dia dos namorados que eu já passei ao seu lado. – e riu mais ainda, lembrando-se da cena.

-E você ia deixar o brutamontes me bater. – resmungou o auror, jogando-se no sofá ao lado da esposa que ainda se contorcia de rir.

-Para você aprender a não querer ser gentil com belas moças francesas. – parou de rir e falou com uma careta no rosto ao lembrar-se da loira aguada que pediu toda solícita a ajuda de Harry quando eles estavam em um passeio por Paris. Cara de pau da mulher se insinuar para o seu marido com ela, Dallas, bem ao lado dele.

-Isso no tom da sua voz é ciúme? – provocou o ex-grifinório e a careta de Dallas ficou ainda mais feia.

-Vai sonhando. – resmungou, levantando-se do sofá. Morria antes de admitir que quase tinha quebrado a cara da mulher pela ousadia dela. Dessa vez foi à vez de Harry rir e, antes que ela pudesse sair do sofá, ele a segurou pela cintura e a puxou de volta a fazendo cair em cima do seu colo.

-Admita, você estava com ciúme. – murmurou contra o pescoço dela e Dallas cruzou os braços indignada. Ela não se rebaixava a tal ponto para sentir mero ciúmes.

-Oras você é muito presunçoso e… - começou, mas calou-se ao ver a ave que estava no espelho da cadeira da sala e os olhando com extremo interesse.

-Presunçoso e o que senhora Potter? – continuou Harry alheio ao animal.

-E eu me recuso a fazer sexo em frente a uma coruja!

-O quê? – Harry recuou do pescoço da esposa, a olhando com largos e confusos olhos verdes.

-Tem uma coruja olhando para nós, Kitty. – o moreno virou-se para onde a mulher apontava e ergueu a sobrancelha para a coruja que os observava. Soltou um braço da cintura de Dallas e o esticou. O animal voou até o braço de Harry, pousando elegantemente nele e ruflando as penas. O auror quase riu. Ele só conhecia uma coruja tão arrogante assim: Mimbletau, a coruja de Sirius. Dallas desamarrou a carta que estava na pata da ave e essa bateu as suas longas asas pardas e saiu voando janela afora com toda a pompa.

-Bem que dizem que tudo tem a personalidade do dono. – comentou a boticária ao ver a pompa da coruja ao levantar vôo. Harry apenas riu. Tudo do seu padrinho gritava "prepotente". Abriu a carta, olhando o seu conteúdo e franzindo a testa a cada linha lida.

-O que foi? – Harry perguntou, tirando o pergaminho das mãos da mulher.

Hogwarts, 15 de fevereiro.

Harry e Dallas, estou mandando essa carta hoje, pois sei que os dois estão fora comemorando o dia dos namorados, mas ainda espero que Mimbletau os encontre o mais cedo possível. Coisas aconteceram em Hogwarts que envolve Day e Evan. Eles brigaram, e foi uma briga homérica. Não vou contar nada por carta, pois é melhor vocês saberem disso pessoalmente e aproveitarem para conversar com os dois. Espero vocês o mais rápido possível no castelo.

Obs: Dumbledore tem uma coisa importante para falar pra vocês sobre o Day.

Amor, Sirius.

-Sinceramente, não estou gostando nada disso. – murmurou Harry ao terminar de ler a pequena nota do padrinho, erguendo-se do sofá e trazendo Dallas junto consigo.

-Está vendo alguma coisa? – perguntou a mulher, mordendo o lábio inferior temerosa. Sabia das habilidades do marido de prever algumas coisas do futuro ou do passado.

-Não. – respondeu Harry, passando a mão pelo cabelo e olhando de esguelha para a esposa. –Está sentindo alguma coisa? – perguntou temeroso. Afinal, o problema era com os filhos deles e isso já era encargo da Dallas. O coração de mãe dela que deveria dar o alerta e não as suas premonições.

-Dor. – falou a mulher com uma voz quase sumida. –Estão sofrendo, sinto isso. Estou com medo Harry. O que aconteceu? O que aconteceu para Sirius dizer que a briga entre Day e Evan tenha sido tão feia assim?

-Só há um meio de descobrir. – segurou na mão dela e a guiou escada acima. –Vamos nos trocar e ir direto para Hogwarts.

Quinze minutos depois Harry e Dallas estavam de banho tomado, roupas trocadas e entravam na lareira da sala de estar, sumindo pelas chamas para Hogwarts. Após rodarem pela via flu finalmente saíram na sala de DCAT, vendo que ela estava vazia. Bem, não esperariam menos em um domingo. Olharam um para o outro, tentando imaginar onde Sirius estaria e se seria melhor ir direto ao diretor quando ouviram o barulho de gritos vindos dos jardins da escola. Harry caminhou até a janela e olhou na direção dos gritos para o estádio de Quadribol que estava lotado.

-Parece que tem jogo hoje. – comentou, voltando para o lado da esposa e pegando na mão dela novamente, saindo da sala. –E pelas cores é entre a Grifinória e a Sonserina. Acho que é aquele jogo que teve que ser remarcado por causa da briga da Hannah com aquele garoto.

-Harry. – Dallas estacou no lugar quando eles estavam na metade do caminho para o estádio. –Eu estou com a sensação de que algo nada bom vai acontecer. – o homem torceu o nariz e fechou os olhos, inspirando profundamente e se concentrando. Com os anos ele aperfeiçoou muito dos seus dons magos e um deles era invocar uma visão ao seu bel prazer quando precisava resolver algum problema, ainda mais dentro do seu trabalho de auror. Às vezes a visão vinha clara e distinta, mas outras vezes o destino resolvia mandar respostas nubladas e enigmáticas, como dessa vez. Nada ele via, só sabia que envolvia os seus filhos.

-Não vamos saber se ficarmos parados aqui. Vamos lá. Assistimos ao jogo e depois falamos com Dumbledore, Evan e Day para saber o que está acontecendo. – hesitante Dallas deixou-se ser levada para o campo, ainda com a sensação ruim no peito.


Day quase sumia no canto do vestiário da Grifinória, mal ouvindo o que Alan falava sobre o jogo que aconteceria em poucos minutos. Alguns de seus companheiros de time lhe lançavam olhares de desagrado enquanto outros se mantinham indiferentes. O menino apenas tentava ignorá-los amarrando lentamente o cadarço do seu sapato e escondendo os seus olhos com as mechas negras do seu cabelo. Assim que terminou a tarefa ainda manteve a cabeça baixa, apertando com força as luvas que envolviam as suas mãos e ajeitando o cordão da sua capa, ainda sem olhar para ninguém.

-Day? – o menino quase pulou de susto quando sentiu a mão sobre o seu ombro. Ergueu olhos temerosos para encontrar-se com os azuis dos olhos de Alan. –Vamos garoto, ânimo. – o apanhador deu um leve sorriso. Alan fazia parte daquela minoria que apoiava o que Alexei e Day tinham, não se importando com a escolha deles, mas apenas com a sua felicidade.

-Tenho a sensação de que sair nesse momento lá fora não vai ser uma boa idéia. – murmurou com a voz quase sumida e Alan fez uma carranca, ajoelhando-se na frente do garoto e sacudindo os ombros dele com força.

-Pare com isso Potter! Encare isso de cabeça erguida e que se foda os outros. Eles não têm nada a ver com a sua vida e com quem você namora. Deixe de agir como o carneirinho da grifinória e mostre do que você é feito.

-Esse é o problema, Alan. Você viu do que eu sou feito. – respondeu sombrio, sabia que Alan estava no dia da briga dele com o Evan no corredor e tinha visto o que ele tinha feito.

-Aquilo? O Evan mereceu para ver se baixava um pouco a crista. Sinceramente nunca fui muito com a cara do seu irmão mesmo. – deu de ombros, falando de modo displicente e Day riu um pouco. –Agora levanta esse traseiro daí que a gente tem um jogo para vencer. Quero dizer, sei que o seu namorado é um sonserino, mas nem por isso vamos deixá-los nos bater não é mesmo?

-Duvido que ele esteja torcendo pela Sonserina hoje. – respondeu de volta enquanto caminhavam para a saída do vestiário.

-Ótimo, quanto mais gente do nosso lado melhor. – disse animado e subiu em sua vassoura, sem antes dar um tapinha nas costa de Day como um incentivo para o jogo. O menino subiu na sua vassoura, acompanhando o seu capitão e voou até o centro do campo, parando ao lado dos seus companheiros. Sentia o peso dos olhares dos alunos de Hogwarts sobre si e apertou os dedos em volta do cabo da vassoura, evitando olhar para qualquer um. O importante agora era o jogo e ele iria cumprir o seu papel. Quando Madame Hooch soltou o pomo de ouro os seus olhos se cravaram na bolinha dourada e permaneceram nela, bloqueando qualquer som ou ação a sua volta. Quando o apito para início da partida soou ele começou o seu trabalho esquecendo qualquer coisa que estivesse acontecendo no campo.

Dallas e Harry sentaram-se na arquibancada reservada aos professores e Sirius ergueu os olhos para vê-los se acomodando. O auror lançou um olhar ao padrinho quando viu a expressão séria dele e o modo como os olhos claros acompanhavam Day de maneira preocupada.

-O que foi Almofadinhas? – perguntou em um tom de voz baixo e Sirius trocou um olhar com Maya ao seu lado, que também parecia preocupada. Dallas olhou por cima do ombro e viu que Severo sentava um banco acima dela e também fez a mesma pergunta a ele.

-Depois do jogo. - foi tudo o que o mestre de poções respondeu e a mulher ficou ainda mais preocupada.

Na arquibancada da Sonserina a tensão poderia ser cortada com uma faca. Alexei sentava entre Catharine e Hannah, que pareciam servir como a sua guarda. O rosto ainda machucado por causa da briga com o Evan e os olhos cravados no apanhador grifinório rodando o campo. Hannah e Catharine lançavam olhares azedos para os companheiros de casa, os desafiando a soltar qualquer comentário cretino sobre a confusão do dia anterior. Sentiam que muitos estavam se segurando para não dizer nada maldoso e que era questão de tempo até a bomba relógio finalmente explodir. Hoje o dia seria tão agitado quanto o anterior e elas já estavam se preparando para o pior.

Ao longe Day ouviu o narrador soltar mais um grito dizendo que a Sonserina tinha feito mais um ponto. Ignorou isso, pois a sua função não era proteger os aros, mas sim achar o pomo. Viu um rastro dourado perto do gramado verde e disparou na direção a dele. Em poucos segundos o apanhador da Sonserina emparelhou com o jovem e uma disputa ombro a ombro começou, cada um querendo derrubar o outro da vassoura. Num solavanco mais violento Day perdeu o controle da vassoura e quase foi ao chão se não fosse pelos seus reflexos rápidos. Viu com olhos largos de horror quando o apanhador da Sonserina colocou as mãos no pomo e sentiu algo gelado descer para o seu estômago. Levava muito mais do que meros minutos para uma partida da Grifinória contra a Sonserina terminar. Então o que foi que tinha acontecido? Ao longe ouviu novamente o narrador gritar:

-Sonserina pega o pomo de ouro devido à distração do apanhador Potter! O que será que aconteceu? Será que ele deixou as cobras ganharem apenas para agradar o namorado?

Alexei rosnou, pondo-se de pé imediatamente. Do que diabos aquele idiota estava falando? Hannah e Catharine também se levantaram, pois sentiram a tensão ficar ainda mais densa e a bomba explodiu quando um sonserino gritou no fundo da arquibancada.

-Hei, hei, Day é o nosso Rei! Gay Day! – o russo viu vermelho quando ouviu isso e virou-se para calar o engraçadinho a tapas, mas o circo já estava armado e pegando fogo. Começou com um, que passou para outro e de repente toda a torcida verde estava gritando em coro:

"Gay Day é o nosso Rei!"

No gramado Day ouviu os gritos relacionados ao seu nome e sentiu um peso surgir em suas costas. Era um pesadelo, era o inferno subindo a terra. Nada disso era real. Correu os olhos pelas arquibancadas e ficou branco feito cera quando viu os seus pais na ala dos professores. Queria morrer no exato momento. Sua mente ficou subitamente vazia e o seu corpo pareceu entorpecer. Suas mãos cederam e a vassoura caiu com um baque na grama. E a frase maldita: "gay Day é o nosso Rei!" começou a ecoar repetidamente na sua cabeça. Estava perdendo o controle e mal sentia o seu sangue começar a correr ao contrário ou o calor que emanava do seu corpo.

Dallas ergueu-se num salto da arquibancada, sendo acompanhada por Harry e outros professores. O que estava acontecendo, o que esses garotos estavam dizendo? Viu que agora não era apenas a torcida sonserina que entoava a frase ofensiva, mas muitos das outras casas a acompanhava. Se fossem apenas as cobras ela entenderia como uma brincadeira de mal gosto, mas quando era toda a escola, algo de errado estava acontecendo.

-Isso não vai prestar. – Sirius murmurou ao lado deles e atrás do casal Severo pareceu inspirar profundamente, como se estivesse pronto para entrar em uma batalha.

Harry arregalou os olhos quando viu uma aura púrpura começar a brotar do filho no meio do campo e os jogadores se afastarem dele. Apenas Alan arriscava se aproximar de Day, mas não chegava muito perto ao ver que poderia ser perigoso tocar nele. O auror arregalou os olhos. Não poderia ser, era impossível. Eles tinham feito testes em todos os seus filhos quando eles nasceram para saber se tinham herdado algum dom do pai, mas eles não tinham acusado nada. Então como isso poderia ser explicado?

-Harry! – Dallas apertou com força o braço do marido. –Faça alguma coisa. – falou desesperada, pois sentia a magia de Day vir direto contra ela, sentia a dor dele e o desespero e era tão forte que a estava sufocando. Harry soltou-se do braço da esposa e desceu correndo as arquibancadas em direção ao campo com os professores e Dallas em seu encalço.

-CALEM A BOCA! – o grito ribombou na arquibancada da Grifinória, mas foi ignorado, assim como a pessoa que gritou. Horrorizada, Rory parou ao lado de Evan, que tentava mandar os seus colegas de casa pararem com a brincadeira de mau gosto. Poderia ter brigado com Day, mas isso não queria dizer que engoliria quieto outros ofendendo o seu irmão.

"Gay Day é o nosso Rei!" e continuava a ecoar na sua cabeça, cada vez mais intenso, cada vez mais alto, junto com as risadas e as pessoas apontando para ele e o escarnecendo. O coro ficava mais alto e Day não tinha mais consciência do que era real ou imaginário, só sentia que queria livrar-se deles, eliminar a todos. Fazê-los parar de brincar com ele. Eles não tinham o direito de julgá-lo, de apontá-lo nos corredores como se ele fosse um animal de circo. Eles não eram ninguém para ditar coisas sobre a sua vida e dizer quem ele deveria amar ou não. Eram a escória, eram inferiores a ele. Meros bruxos que achavam que só porque podiam fazer alguns truques com a varinha eram os melhores do mundo.

Alexei desceu correndo as arquibancadas, empurrando e derrubando quem estivesse em seu caminho. Hannah e Catharine o seguiam de perto, mas pararam quando um pequeno tremor abalou as estruturas do estádio. O trio entreolhou-se e o russo inspirou profundamente, arregalando os olhos e mirando o ponto vermelho parado no meio do campo e envolto em uma aura púrpura que estava ficando mais escura a cada minuto.

-Vocês duas se separem, cate um professor e entrem nas arquibancadas, tentem fazê-los calar a boca. Bata, estuporem, matem, o que for, mas arrumem um jeito de eles pararem. – ordenou o sonserino.

-Alexei… - Hannah olhou preocupada para ele. -… o que está acontecendo?

-O que está acontecendo… - o russo sibilou raivoso, ficando mais irritado a cada segundo que o coro ficava mais forte. -… é que o seu irmão está perdendo o controle e com certeza a coisa vai ser pior do que um simples vôo rasante como aconteceu com o Evan. – as duas meninas arregalaram os olhos e rapidamente debandaram, indo cumprir as ordens dele.

Quando o russo chegou ao chão o estádio deu outro pulo, dessa vez mais forte e violento, e a estrutura dele chegou a ranger diante da intensidade da sacudida. Alguns imediatamente se calaram, mas outros continuaram o coro de mau gosto, não se abalando com o acontecido. Ventos começaram a assobiar pelo campo, fazendo as arquibancadas tremularem. Evan e Rory seguraram-se no parapeito, virando-se para ver o que estava acontecendo e vendo que Day ainda estava parado no meio do gramado com a aura púrpura quase negra ao redor do seu corpo. Agora os grifinórios não mais gritavam, mas sim cochichavam e apontavam horrorizados. Quando mais uma sacudida violenta foi dada gritos de terror começaram a correr pelas torcidas e pessoas apressaram os passos para tentar sair do estádio. Desceram escadas acotovelando e empurrando uns aos outros, mas, para o horror dos alunos, portas de saídas começaram a bater e serem trancadas, os prendendo nas arquibancadas.

-Day! – Alan ainda tentava se aproximar do colega de casa, mas cada vez que chegava a um raio de dez centímetros de distância dele sentia correntes elétricas queimarem o seu corpo.

-Longbotton! – A.J, capitão da sonserina, aproximou-se do colega, olhando chocado para a cena a sua frente. –Se é ele que está fazendo isso, mande-o parar. Ele vai trazer o estádio abaixo. – Alan olhou a sua volta e viu que o loiro estava certo. O estádio tremia, alunos gritavam horrorizados por não conseguirem sair das arquibancadas e a situação piorava a cada segundo. Bem, pensou por um momento macabro, o problema era deles. Talvez, da próxima vez, eles pensem duas vezes antes de começarem com as brincadeiras cretinas. Viu que os professores e os pais de Day vinham em direção a ele e Harry deu um passo à frente, tentando tocar o filho, mas foi repelido violentamente por ele.

-Alvo. – olhou desesperado para o diretor. Sabia o que estava acontecendo. Day estava transpassando a linha e não era para o lado da luz. –Ele não me deixa aproximar. Está me repelindo. – falou horrorizado. O prospecto de ter o próprio filho como um novo Lorde das Trevas doía. Não teria coragem de matá-lo mesmo que fosse preciso.

-MAX! – o grito chamou a atenção dos adultos e Alexei chegou deslizando pela grama úmida perto do grupo que se mantinha distante de Day.

-Faça alguma coisa Yatcheslav, ele está fora de controle! – Alan exigiu e Alexei tentou aproximar-se do namorado, sendo eletrocutado imediatamente.

-Se a gente estuporá-lo… – sugeriu Sirius.

-Não é uma boa idéia. Ele iria reverter o feitiço contra nós com uma intensidade dez vezes maior. Ele está perdido dentro do seu próprio mundo, não tem mais consciência do que acontece a sua volta. Nós temos que tirá-lo de lá. – interpelou Snape, elevando a sua voz para fazer-se ouvir sobre o vento agonizante que ecoava pelo campo e pelos gritos dos alunos por causa dos tremores. Alexei observou o garoto pelo qual foi apaixonado por anos se perder dentro de um mar de dor e tomou uma decisão radical. Firme como uma rocha caminhou a passos decididos na direção de Day, não recuando quando sentiu a primeira onda de choque e o calor queimar seu braço, apenas continuou entrando na barreira que ele tinha criado, mantendo-se firme a todo segundo.

-Yatcheslav! – gritou Snape. –Volte aqui! – ordenou, mas o russo o ignorou completamente, aproximando-se ainda mais de Day até que chegou perto o suficiente para segurar no braço dele e puxá-lo de encontro ao seu corpo. Não piscou duas vezes e rapidamente cobriu os lábios do grifinório com os seus. Sentiu a magia dele tentar repeli-lo, mas ao invés de ceder a ela apenas apertou o apanhador com mais força contra o seu corpo e aprofundou o beijo. Aos poucos foi sentindo o corpo de Day ficar mole e os lábios dele retribuir o seu beijo.

Silêncio imperou no estádio quando finalmente os tremores cessaram e os ventos pararam de soprar. Hannah e Catharine soltaram um longo suspiro de alívio ao ver à aura de Day voltar a ser púrpura e na arquibancada da Grifinória Evan deixou-se cair sobre o banco, também soltando um suspiro. Rory sentou-se ao seu lado, aliviada pelo pior ter passado. Quando se recuperou parcialmente do susto o monitor virou-se para os seus colegas e gritou ao topo dos pulmões:

-CEM PONTOS A MENOS PARA A GRIFINÓRIA! – todos o olharam chocados, mas nada disseram. Depois do show de Day poderia ser arriscado enfurecer outro Potter.

Harry estava com o queixo no chão com a cena que presenciava. Primeiro foi o descontrole de Day e agora era esse beijo. O que estava acontecendo? Olhou para Sirius e viu que os ombros dele estavam mais relaxados pelo pior ter passado. Lançou um olhar a Dumbledore e percebeu que o usual brilho nos olhos dele não estava lá. Na verdade, o diretor parecia extremamente irritado, embora o seu rosto estivesse impassível.

-Lex… - Day sussurrou com a voz mínima quando o beijo se encerrou. Sua cabeça latejava e ele não tinha a mínima idéia de como tinha ido parar nos braços de Alexei e o porquê de ele o estar beijando. Seu corpo estava completamente dolorido e cansado e havia borrões em frente aos seus olhos.

-Shh… eu estou aqui meu amor. Eu te peguei. – sussurrou perto dos lábios dele.

-O que aconteceu? – falou com a voz enrolada e arrastada.

-Vamos, por assim dizer, que você acabou de perder o posto de carneirinho da Grifinória. – olhos violetas o olharam confusos e Alexei deu um leve sorriso.

-Day? – o menino olhou por cima do ombro e franziu as sobrancelhas ao ver a sua mãe ali. O que ela estava fazendo ali? Soltou-se dos braços de Alexei e caminhou até ela, mas as suas pernas fraquejaram no meio do caminho e ele só não caiu no chão porque os seus pais correram para acudi-lo. Soltou um longo suspiro feliz quando sentiu os braços de Harry e Dallas em volta do seu corpo e sorriu sereno, fechando os olhos e deixando ser embalado pelos braços deles como se fosse novamente um bebê.

-Dormiu. – atestou Harry, olhando o rosto sereno do filho. Dumbledore deu um aceno com a cabeça e caminhou até o centro do campo, apontando a varinha para a garganta. Logo a sua voz soou poderosa no estádio.

-Espero que estejam felizes. – disse em um tom sério e firme e todos perceberam que o sempre alegre diretor estava extremamente irritado. –A irresponsabilidade e falta de consideração de vocês quase prejudicou um aluno. – muitos fizeram caretas. Quem tinha sido prejudicado havia sido eles. –Não façam essas caras porque vocês sabem que é a verdade. Nada disso teria acontecido se vocês fossem mais compreensivos. Esperava mais de alunos meus e estou extremamente desapontado. Seguirei o exemplo do sr. Evan Potter e cada casa irá perder cem pontos pela desconsideração de vocês. E todos, sem exceção, estarão em detenção. – olhares feios foram lançados aos piadistas por aqueles alunos que nada tinham a ver com a história. –Talvez assim vocês aprendam a serem mais maduros. – e a voz de Dumbledore voltou ao normal e todos tomaram isso como deixa para irem para os seus dormitórios. Era a primeira vez, na história de Hogwarts, que todas as casas perdiam pontos de uma tacada só e um colégio inteiro era posto em detenção.


Harry andava de um lado para o outro da sala e vez ou outro olhava por cima do ombro para ver os outros ocupantes. Dumbledore estava sentado atrás da sua mesa com uma expressão séria e as mãos cruzadas sobre a madeira. Snape estava recostado a um canto da parede com os braços cruzados e a sua face estava com a carranca de sempre. McGonagall estava sentada em uma das cadeiras da sala e o seu rosto indicava claramente que não tinha gostado nada do que aconteceu há meia hora atrás no campo de Quadribol. Evan olhava janela afora da sala do diretor para o jardim que agora escurecia e finas gotas de chuva caíam sobre ele. Alexei estava no extremo oposto de Evan e parecia que alguma força invisível o segurava no lugar para impedi-lo de ir correndo para a sala comunal da Sonserina e começar a amaldiçoar todos que estavam lá dentro.

Finalmente, depois de minutos de espera, a porta da sala do diretor abriu-se e Dallas passou pelo batente, sendo acompanhada de perto por Davon Yale. A expressão de Harry, que já estava para lá de desgostosa, ficou pior ainda ao ver seu eterno rival entrar na sala.

-O que ele está fazendo aqui? – perguntou entre dentes, lançando um olhar mortal para Davon que apenas o retribuiu com o seu usual sorriso escarninho.

-Eu mandei chamá-lo. Sei que Madame Pomfrey é uma ótima enfermeira, mas o que precisávamos aqui era de um médico. Sem contar que ela já está ficando… velha. – respondeu dando de ombros. Harry engoliu toda a sua raiva e um pouco mais calmo perguntou:

-E o Day?

-Dormindo Potter, como um anjo. – respondeu Davon com o seu sempre presente ar arrogante, caminhando pelo escritório como se o lugar lhe pertencesse e sentando-se em uma cadeira vaga. –O que ele teve foi um grande desprendimento de energia que o deixou fraco. Dei algumas poções revigorantes para ele e a única coisa que vai acontecer é ele acordar com uma bruta dor de cabeça. Fora isso, mais nada.

-Agora alguém poderia me explicar o que aconteceu? – Dallas perguntou, cravando os seus olhos em Alexei. O jovem russo sentiu um tremor ao ver o olhar da mulher sobre si. Aqueles olhos… então era daí que Day tinha herdado os seus belos olhos. Nunca tinha visto a sra. Potter de perto, mas não poderia negar que via muito do seu querido Day nela. –Evan? – Dallas voltou o seu olhar para o seu filho mais velho, que se virou com uma expressão azeda para Alexei.

-Por que não pergunta pra ele? A culpa é dele mesmo. – disse, apontando para o russo que ergueu ambas as sobrancelhas.

-E eu posso saber onde está a minha culpa nisso, Potter? – cuspiu de volta, se eriçando como um galo de briga. Tinha jurado a si mesmo que mais uma palavra ofensiva de Evan em relação à Day e quebraria a cara do monitor, sendo ou não irmão do seu namorado.

-Se você não tivesse corrompido o meu irmão…

-Corrompido? Que droga você anda tomando Potter! – elevou a voz, sacudindo um punho fechado na direção do grifinório. –Eu não fiz nada que fosse contra a vontade do Day. Dobre a língua antes de falar essas merdas para mim!

-Então você vai me dizer que não é sua culpa. Que se você não tivesse investido no meu irmão ele não estaria agora inconsciente na ala hospitalar com a escola toda rindo dele! – gritou o monitor de volta.

-Você é muito cara de pau Potter! Ontem mesmo você estava chamando o seu irmão de meu bonequinho sexual de luxo. De bicha e outros nomes ofensivos que me dá até náusea de pronunciar. Você não é melhor do que nenhum daqueles filhos da mãe que começaram a ofender Max durante o jogo. Então baixa a crista porque eu posso não ter partido você em dois ontem, mas ainda não mudei de idéia de te mandar para a cova mais cedo! – berrou ao topo dos pulmões, quase avançando sobre o garoto, mas sendo segurado por Snape.

-Está me ameaçando Yatcheslav? – Evan fechou os punhos e ia partir para a briga, mas McGonagall o impediu.

-Chega! – Dumbledore falou com a voz firme, erguendo-se bruscamente da sua cadeira. –Sr. Potter e sr. Yatcheslav, espero que enquanto estiverem aqui se comportem, ou perderão mais pontos do que as suas casas já perderam.

-Sim senhor. – disseram os dois meninos entre dentes, sendo soltos pelos diretores de suas casas.

-Yatcheslav? – murmurou Harry, olhando firmemente para Alexei que endireitou o corpo para parecer mais alto do que era e colocou uma máscara de indiferença no rosto. Sabia o que o Potter pai estava pensando, ainda mais agora que um brilho de reconhecimento passou em seus olhos. –Você, por acaso, não seria parente de Ian Yatcheslav, seria? – Alexei grunhiu, mas mesmo assim respondeu com uma voz contida:

-Ele era o meu avô. – a expressão de Harry passou de chocada para raivosa em questão de segundos.

-Seu avô? – rosnou.

-Se isso te faz feliz senhor Potter, - começou com petulância, não se abalando diante do rosto fechado de Harry e dos punhos cerrados dele. Como Day, Harry também era um mago e Alexei sabia disso, mas não iria recuar nenhum centímetro só porque o pai do seu namorado não ia com a cara dele. – meu avô morreu em Azkaban no Natal.

-E espero que esteja queimando no inferno. – respondeu Harry com a voz contida. Então esse menino era neto do Yatcheslav… o neto do Yatcheslav que há uma hora atrás tinha dado um beijo cinematográfico no seu filho mais novo. –E O QUE VOCÊ PENSAVA QUE ESTAVA FAZENDO BEIJANDO O MEU FILHO? – gritou quando finalmente a ficha caiu.

-Ah, não sabia pai? Eles estão namorando. – Evan respondeu com escárnio e Harry virou os olhos largos de choque em direção ao seu filho mais velho. Namorando? A palavra tinha entrado na sua cabeça, mas não tinha registrado. Como assim namorando? Desde quando…

-Desde quando Max é gay? – perguntou em voz alta e mal tendo tempo de refrear os seus pensamentos.

-Até onde eu sabia, - Evan começou a responder ao pai, olhando com desprezo para Alexei que retribuiu o olhar. – ele não era até conhecê-lo. Por isso que eu estou dizendo que este miserável corrompeu o Day.

-Pare de falar tanta bobagem Potter. – Alexei prontamente se defendeu. –Seu irmão não é nenhum idiota para se deixar levar assim do nada. Você mesmo comprovou isso ontem. E quer mais prova de que ele é muito mais forte do que todos aqui do que o que aconteceu hoje no jogo? Você fala esse bando de merda porque acha que conhece o Day…

-E eu conheço! – protestou Evan. Não precisava desse sonserino arrogante para lhe dizer coisas sobre o seu próprio irmão.

-Conhece mesmo Potter? – Alexei virou-se para os outros. Para Harry que agora novamente o olhava com raiva, para Dallas que o olhava com interesse, para Davon que parecia indiferente e para os professores que aguardavam quietos o desfecho dessa história. –Vocês realmente acham que conhecem o Max? O que vocês vêem quando olham para ele? Um menino de quartoze anos, filho do famoso Harry Potter, jogador da grifinória e de aparência frágil e delicada. Tímido, retraído e não muito sociável. Não é verdade? Vocês acham que Day precisa ser eternamente protegido e observado como um maldito bebê ou uma preciosa peça de cristal.

-Escuta aqui menino, quem é você para dizer que conhece melhor o meu filho do que… - Harry ergueu um dedo para apontar para Alexei que rapidamente o interrompeu.

-A verdade dói, não dói? Dói saber que quando você pensa que conhece uma pessoa, você na verdade não sabe nada sobre ela, não é mesmo? Dói saber que todos esses anos Day apenas deixou transpassar aquilo que ele achava que vocês queriam ver. Um menino doce e gentil. Vocês sabiam que desde os onze anos Day anda lutando contra os seus poderes de mago? Com medo do que aconteceria quando as pessoas descobrissem que ele era diferente? Vocês por acaso deram um tempo na suas vidas infelizes para realmente dar uma boa olhada em Day Potter? Não! Óbvio que não! Talvez eu tenha sido a primeira maldita pessoa na vida dele que viu através da máscara, que não o tratava como se ele fosse feito de vidro. E agora vêm vocês com os seus preconceitos e tentam destruir tudo que com um grande esforço eu consegui conquistar. Se vocês pensam que só porque não vão com a minha cara eu vou botar o rabo entre as pernas e largar o Max, podem ir sonhando! – terminou em um fôlego só, com as faces rubras de raiva e olhando a todos como se os desafiassem a contestar o que ele tinha dito.

Harry e Evan fumegavam de ódio diante das palavras abusadas de Alexei enquanto os professores Snape, McGonagall e Dumbledore se preparavam para o pior diante da língua ferina do jovem sonserino. Dallas deu um leve passo à frente e colocou uma mão sobre o ombro do adolescente, dando um pequeno sorriso para ele.

-Por que você não vai para a enfermaria e faz companhia ao Day? Talvez ele goste de te ver quando acordar. Sem contar que eu preciso de alguém lá cuidando dele… nunca se sabe o que esse pessoal da escola pode fazer. – e piscou um olho para ele. Alexei arregalou um pouco os olhos âmbares, querendo entender de onde tinha saído àquela mulher. Ela parecia tão calma depois de ele ter jogado na cara dela que ela não era uma boa mãe. Não querendo contrariá-la e se sentindo um pouco culpado pelas coisas que disse a ela, o rapaz fez o que lhe foi pedido e saiu às pressas da sala do diretor e direto para a enfermaria.

-Você vai deixar… - Evan começou a protestar, mas um olhar de Dallas o calou rapidamente.

-E você, - disse a mulher em um tom mais firme. – quero que vá direto para a torre da Grifinória e pode ficar lá rapazinho.

-O quê? – ele não estava entendendo. Sua mãe tinha sido complacente com o Yatcheslav, mas estava dando bronca nele?

-Está de castigo Evan, pelas barbaridades que você disse ao seu irmão.

-Como… - arregalou os olhos, mas ao receber mais um daqueles olhares de Dallas e ele ficou quieto, indo rapidamente para a sua torre.

-Agora… - a mulher voltou-se para o auror parado no meio da sala e que ainda apertava os punhos com força. Caminhou até ele e depositou as suas mãos menores sobre as dele. Harry mirou seus olhos verdes brilhando de fúria na mulher a abriu e fechou a boca como se quisesse dizer algo, mas não encontrava as palavras certas. -… respire Harry. Respire. – falou com uma voz suave e o moreno fez o que lhe foi ordenado, respirando profundamente para se acalmar. Snape ergueu uma sobrancelha diante da cena e Davon deu um sorriso escarninho. O Profeta Diário vivia dizendo que, dentro dos Três Mosqueteiros, Harry Potter era o auror mais rebelde e esquentado. Mal eles sabiam que era apenas Dallas mandar ele pular que ele perguntava a que altura. Dumbledore deu um pequeno sorriso divertido ao ver isso. Eram perfeitos, como uma balança. Harry tinha o seu equilíbrio e agora as suas explosões de temperamento não eram tão preocupantes. Dallas sempre estaria lá cada vez que ele começasse a se perder. Porém, quanto ao jovem Day, ele não sabia bem ao certo qual seria o futuro dele. Day Potter tinha desenvolvido os seus poderes muito mais cedo que o imaginado. E o pior de tudo é que ele estava fora de controle. Se for verdade o que o jovem Yatcheslav havia dito, o menino Potter estava reprimindo a sua natureza por muito tempo e, agora que ela se libertou, estava totalmente arredia. Teria que fazer alguma coisa em relação a isso.

-Isso mesmo, fique calmo. – murmurou a boticária ainda com o seu tom suave.

-Como você espera que eu fique calmo… - Harry sibilou entre dentes. -… quando eu descubro que o meu filho está namorando o neto do mesmo homem que quase tirou você de mim. – falou com desprezo, não querendo lembrar-se do fatídico dia, o dia da batalha final, quando ele viu o corpo de Dallas cair na lama sangrando, com a sua vida esvaindo e sendo levada pela chuva.

-Harry, é passado. – atestou a mulher com uma voz firme.

-Porém o passado parece estar nos perseguindo ultimamente. – retrucou desdenhoso, agora cruzando os braços sobre o peito. –E como você pode não se importar se foi você a maior afetada nisso tudo? – perguntou exasperado, erguendo o tom de voz.

-Eu fui? – respondeu Dallas, arqueando uma sobrancelha e olhando calmamente para o marido. –Não lembro de ter sido… - virou-se para os outros na sala, buscando ajuda. Qual era o nome do menino mesmo?

-Alexei. – respondeu Davon solícito. O circo estava começando a pegar fogo e ele queria ver isso de camarote. Se Andie estivesse naquela sala com certeza já estaria puxando a orelha dele e gritando com ele para deixar de ser fofoqueiro. Mas ele não podia resistir. Era cômico ver uma briga Potter vs Potter.

-Yale, você não tem mais nada para fazer do que ficar bancando o urubu sobre a carniça? Se bem me lembro, você tem uma mulher e filho para cuidar. Volte para eles! – ordenou Harry irritado. O que aquele sujeito ainda estava fazendo ali?

-Mas agora que está ficando interessante Potter? – respondeu Davon com um sorriso escarninho. –Sem contar que eu estou dando apoio moral para a minha querida Dallas. – cutucou.

-Sua querida uma ova, Yale! Isso daqui já é assunto de família e pelo que me lembro… VOCÊ NÃO FAZ PARTE DELA!

-HARRY! – Dallas gritou, chamando a atenção do homem. Ela batia um pé no chão enquanto as mãos estavam sobre a cintura curvilínea. –Mais respeito. Davon é meu amigo e caso você tenha esquecido, ele faz parte da família. Ele é padrinho do Evan.

-Não de acordo com a minha vontade. – retrucou petulante.

-Potter, é impressionante como você retorna a infância em questão de segundos durante uma discussão. – Snape resolveu manifestar a sua opinião e Harry virou-se com os olhos flamejando para ele.

-E o que você ainda faz aqui? – perguntou e Snape apenas deu um sorriso torto.

-Severo está aqui porque eu quero saber mais sobre esse menino, o Alexei. Ele é da Sonserina, então Severo deve conhecê-lo. Se bem que ele já me deu uma boa impressão logo no primeiro encontro.

-O quê? – Harry virou-se ultrajado para a esposa, a olhando como se ele fossa a mais nova fugitiva da ala psiquiátrica do St. Mungos.

-Você tem que admitir Harry, ele gosta realmente do Day.

-Não me interessa! – rebateu firmemente, andando a passos largos em direção a ela e parando na sua frente, a fuzilando com o olhar. Porque Dallas estava defendendo esse menino? Sonserino ou não, ele ainda tinha um passado que o condenava. Melhor dizendo, um avô condenado. Com certeza não era flor que se cheire e jamais o deixaria perto do seu filho.

-Ele me parece bem apaixonado. – disse a boticária resoluta, cruzando os braços sob o peito para encarar Harry com firmeza e provar um ponto nessa discussão.

-Pode ser uma bela de uma armação. Afinal, neto de um Comensal que eu mesmo fiz questão de capturar e trancar em Azkaban resolve ter um súbito interesse pelo meu filho, que conveniente não acha? – o tom saiu desdenhoso e Dallas torceu o nariz. Às vezes se questionava se Harry tinha ido parar na casa certa.

-O mundo não roda em torno de você Potter. – Snape disse, soltando um suspiro cansado. Esse garoto achava que todas as ações das pessoas do planeta eram feitas de um modo para afetá-lo.

-Eu pedi a sua opinião? – comentou rudemente, prendendo por segundos orbes verdes em negros.

-Harry, acho que não precisamos dessa alteração toda. Se o jovem Yatcheslav realmente quisesse fazer algum mal a Day, ele já teria feito. Afinal, eles estão juntos faz alguns meses. – Dumbledore interveio, tentando colocar algum senso em Harry, mas assim que o viu tremer em fúria percebeu que tinha escolhido mal as palavras.

-Você sabia dessa pouca vergonha há meses, desse aprendiz de Comensal atrás do meu filho o corrompendo, e não fez nada? – esbravejou no rosto do diretor.

-E quando eu me pergunto de onde Evan tirou o gênio e a teimosia… são espelhos um do outro. – Dallas suspirou exasperada. –Harry James Potter, isso no seu tom de voz não seria um traço de preconceito, seria? Porque se for… - deixou a ameaça vagando no ar e Harry voltou-se chocado para ela.

-Está doida? Não me importa a orientação sexual do Day… o que me importa é quem ele escolhe para namorar. Sem contar que ele é muito novo para namorar.

-Novo? Não vi você fazer grandes protestos quando descobriu que Ethan está saindo com a Hannah. Quantos anos de diferença têm entre eles? Sete? E entre Day e Alexei? Dois. O que há de errado nessa cena então? – disse sarcástica e Harry grunhiu.

-É diferente. É do Ethan que estamos falando, filho da Mione e do Rony. Sem contar que sete anos de diferença é o que nós temos. – protestou quando viu que os lábios dela estavam formando uma linha fina de fúria e as faces estavam ficando pálidas. Ela lhe lembrava muito a professora Minerva - que parecia estar se segurando a um canto da sala para não se intrometer na discussão e repreendê-los como se ainda fossem os seus alunos - quando fazia essa cara.

-Não é diferente em nada. Eles se amam, querem ficar juntos, e já basta à escola inteira contra eles. Acho que eles não precisam de um pai turrão para colocar mais pedra no caminho!

-COMO É QUE VOCÊ PODE FICAR TÃO CALMA COM ISSO TUDO? É DO YATCHESLAV QUE ESTAMOS FALANDO, O SUJEITO QUE QUASE TE MATOU. – Dallas fechou os olhos e respirou profundamente, tentando manter a calma, mas essa rapidamente escapou de suas mãos.

-IAN YATCHESLAV FOI QUEM DISPAROU AQUELE GATILHO, NÃO ESSE MENINO CHAMADO ALEXEI! COMO SEMPRE POTTER VOCÊ DEIXA COISAS MUNDANAS CEGAREM O SEU JUÍZO! – foi como uma bofetada na cara e Davon até levantou-se da cadeira ao ver o rosto de Harry ficar vermelho. Aquilo estava começando a ficar perigoso e o incêndio estava virando um desastre.

-Está me dizendo que eu estou sendo irracional? – sibilou entre dentes e os orbes verdes estavam escurecidos de raiva. Não sabia o que mais doía e o irritava: a verdade que a sua esposa jogava na sua cara ou a lembrança do seu filho perdendo o controle enquanto a escola toda fazia graça dele. Sabia como era ser humilhado e zombado, viveu anos assim sob o teto dos Dursley e ele tinha jurado a si mesmo que nunca deixaria ninguém humilhá-lo novamente, e muito menos deixaria alguém magoar aqueles que amava. Quando ouviu aquele coro medonho rebaixando o seu filho por causa desse menino Alexei, não conseguiu segurar a sua raiva. Precisava colocar a culpa em alguém e o sonserino parecia ser a pessoa certa para isso.

-Estou afirmando. – rebateu Dallas de maneira seca. Dumbledore e Mcgonagall soltaram um suspiro, aquilo parecia o indício de que a discussão havia terminado, mas Davon e Snape ainda estavam tensos. Se conheciam bem o casal, a briga estava longe de acabar. Davon soltou um baixo assobio entre os lábios ao ver o casal quase se matando no centro da sala.

-Ponto para a pequena Dally. – comentou divertido.

-Yale, será que eu devo lembrá-lo de que esse assunto não te interessa? Minha esposa e eu estamos tendo uma conversa sobre os nossos filhos aqui. – enfatizou as palavras, pois não suportava o olhar superior que estava recebendo.

-Por que as quatro pedras na mão Potter? Só estou expressando uma opinião. E precisa pontuar tanto as palavras? Qual é o seu problema? Medo de perder a sua adorável mulherzinha? - um sorriso escarninho e Harry quase sacou a sua varinha.

-Disse bem Yale, minha mulher.

-Oh, mas por um tempo ela foi minha, não se esqueça disso. Minha completamente antes de ser sua. – Dallas não podia acreditar nisso. De repente o assunto mudou de Day para a relação deles. E por que Davon tinha que jogar isso na cara de Harry? Pior coisa que homem gostava de ouvir é o ex da esposa contando sobre a intimidade deles na época que estavam juntos. Principalmente Harry, do jeito que era ciumento.

-Agora eu que pergunto Yale, por que faz tanta questão de me lembrar que ela já foi sua? Dor de cotovelo? O que Andrômeda diria disso heim? Ou você a está usando apenas por diversão. – retrucou malicioso e o sorriso de Davon se desfez.

-Meça as suas palavras Potter, senão Dallas será uma viúva jovem em pouco tempo. Quer mesmo saber por que eu digo isso? Porque eu não suporto o fato de que alguém com tanto potencial como a Dallas tenha se amarrado a um grifinório sonso como você quando certamente ela poderia ter coisa melhor. Sem contar que além de você ter dado a ela uma vida medíocre como a adorável esposa do infeliz menino-que-não-quis-morrer, ainda a transformou na sua vaca parideira.

-YALE! – Dallas gritou indignada. Sabia que o seu amigo às vezes soltava umas farpas afiadas, mas não precisava a chamar de vaca parideira. –Caso o senhor não saiba, estou feliz com o meu casamento, muito obrigada.

-Mas é para mim que você corre e é no meu ombro que você chora cada vez que o Potter faz uma merda, ou esquece que você existe, colocando outras coisas como prioridade e deixando você no final da lista. Não mudou nada Dallas. Ele ainda é o mesmo idiota de anos atrás que só notou que você existia quando outro homem resolveu ter você.

-Ignorar a minha esposa, Yale. Eu nunca ignorei a minha esposa! – Harry protestou diante dos absurdos que aquele abusado estava dizendo. Aquilo não era verdade. Não mesmo.

-Verdade, Potter? Então me diga, oh senhor da lucidez, como faz dois meses que a sua esposa está passando mal e você nem para notar que ela está doente e Li e eu em uma única visita percebemos que ela estava mal. Como você com todos esses seus poderes de mago… - quase cuspiu a palavra. Potter e as suas maneiras de sempre querer chamar a atenção. -… não notou que um novo rebento está a caminho? Estou vendo em como você repara atentamente na sua esposa.

-O quê? – o moreno arregalou os olhos, mirando chocado Dallas que já estava novamente perdendo a sua paciência. Não era assim que ela queria contar a novidade para Harry. –Você está grávida? Há quanto tempo sabe disso?

-Umas semanas… - respondeu com um suspiro.

-E não me contou? – retrucou furioso. Nenhum homem gosta de ouvir que a sua mulher está esperando um filho seu pela boca do ex dela.

-Eu estava esperando o momento certo…

-E quando seria? Quando a criança nascesse?

-Harry… esse não é o ponto aqui…

-Não, o ponto aqui é o fato de que eles sempre sabem coisas da sua vida antes de mim. O que são eles, Dallas? Nada… E quanto a mim?

-Eu abaixaria o tom de voz sr. Potter. E apreciaria se você não me chamasse de nada. – disse Snape com a sua voz arrastada. –E devo lembrar que esse casamento não foi da minha graça. Minha mais brilhante aluna se casando com um… Potter. Vocês só tendem a desgraçar as mulheres que encontram. Primeiro foi o idiota do seu pai com a Evans, agora é a Dallas, quem será a próxima pobre coitada?

-Está vendo! – Harry gritou, apontando para Snape. –Por que eles estão sempre se metendo na nossa vida? Dando palpites e derivados?

-São meus amigos, Harry.

-Hermione e Rony são meus amigos e mesmo assim não ficam metendo o nariz onde não são chamados.

-Harry… - Dumbledore e Mcgonagall suspiraram ao mesmo tempo. Certo que era uma briga de casal, mas os ânimos estavam ficando muito exaltados e o professor Snape e o Dr. Yale não estavam ajudando muito ao manifestarem as suas opiniões sobre esse enlace.

-O QUÊ? – virou-se vermelho para os dois professores que chamaram o seu nome.

-Acalme-se meu rapaz. – pediu Dumbledore.

-Então os mande calarem a boca se quiser me ver calmo! – rugiu Harry de volta, apontando para os dois ex-sonserinos.

-A verdade dói Potter? Como sempre não gosta que joguemos as coisas na sua cara para ver se você vai enxergar o que está debaixo do seu nariz. – retrucou Yale, voltando com o seu sorriso escarninho.

-Talvez eu deva começar a contar algumas verdades sobre você Yale.

-Potter's nunca gostaram de encarar a realidade Davon, é um fato. – falou Snape com a sua voz arrastada.

-Nem você Severo. Ainda me pergunto o que a Clarisse viu em você.

-Engraçado, é a mesma pergunta que eu me faço todas as noites quando vou dormir. O que Dallas viu em você?

-Garanto que foi o suficiente para ela dizer sim na hora da cerimônia de casamento. – e assim continuou a discussão, com Harry jogando ofensas de um lado e Snape e Yale rebatendo de outro. Com Mcgonagall e Dumbledore tentando bancar os pacificadores, mas falhando miseravelmente a cada segundo. Isso tudo rodava pela cabeça de Dallas, as palavras perdendo-se dentro da sua mente, até que em um ponto ela explodiu de vez.

-CALEM A BOCA! – gritou ao topo dos pulmões e silêncio imperou na sala. –EU ESTOU CANSADA! CANSADA DE OUVIR VOCÊS FALARAM COMO GRALHAS! – duas estantes sacudiram nas bases e caíram com um estrondo no chão enquanto a mulher estava parada lá, respirando pesadamente e com os punhos cerrados e o rosto rubro. Juntar esses três em uma sala era um desastre. Parecia que eles voltavam a ter a idade mental de uma criança de cinco anos disputando um brinquedo… Ela.

-Quando vocês resolverem agir de acordo com a idade que tem me procure e assim conversaremos melhor sobre esse problema envolvendo o Day. – virou-se para Alvo e Minerva, dando um leve aceno de cabeça para eles. –Professora Minerva, professor Dumbledore, a gente se vê uma outra hora. – e saiu batendo a porta com força atrás de si.

-Uh… - Davon começou a falar, mas rapidamente foi interrompido.

-Calado Yale. – Harry rebateu seco.

-Como era aquela música estrangeira mesmo que uma vez eu ouvi? – ponderou o ex-sonserino, seus olhos castanhos brilhando com malícia. –Ah… gosto muito de te ver leãozinho caminhando sob o sol, gosto muito de você leãozinho… - Harry rosnou, ele odiava essa música. Com uma girada brusca ele saiu rapidamente da sala sem nem ao menos se despedir de ninguém. Precisava esfriar a cabeça, precisava de conselhos… precisava era de colo, e sabia exatamente onde procurar. Pensando nisso, desaparatou assim que saiu dos terrenos de Hogwarts.


O estampido soou pela sala vazia e Harry deixou o seu corpo cair sobre o sofá macio e gasto. Olhou ao seu redor, para a decoração tão familiar e soltou um longo suspiro. A casa parecia tão solitária sem os seus habitantes e estranhamente menor do que ele estava acostumado. Ergueu-se do sofá e começou a caminhar pelo aposento, indo em direção a cozinha de onde vinha uma suave música.

-Mãe? – chamou com um tom baixo de voz, entrando na cozinha. Abriu um sorriso quando viu quem procurava parada em frente a pia, fazendo seus tradicionais afazeres domésticos. –Mãe! – chamou de novo com uma voz mais firme e a mulher virou-se, abrindo um grande sorriso ao ver quem estava na porta.

-Harry! – Molly caminhou a passos largos até o seu filho adotivo, o esmagando em um forte abraço. –Meu querido, como você está? Parece pálido e abatido. Dallas não anda cuidando de você direito? – ele deu uma risada seca e sem vida. Ela quase chegou perto da verdade. Caminharam até a mesa, sentando-se um de frente para o outro e Harry soltou um longo suspiro.

-Dallas e eu brigamos. – falou em um tom cansado, apoiando a cabeça em uma das mãos. Molly franziu a testa em desaprovação. Quando é que aqueles dois não brigavam? Às vezes se questionava se eles realmente se amavam cada vez que eles discutiam. Mas tinha algo neles, quando uma pessoa os via, que dizia claramente que o amor estava ali naquela relação apesar dos pesares.

-Querido, quando é que vocês não brigam? Qual foi o motivo agora? O papel de parede, problemas no trabalho? A saia dela era curta demais? – soltou uma risadinha com a última frase, ainda mais que Harry fez uma careta de desagrado.

-A saia dela estava muito curta naquele dia. – protestou e Molly riu mais ainda. –Mas não foi por isso que nós brigamos. – e começou a relatar a história enquanto a sra. Weasley preparava uma xícara de chá com biscoitos para eles dois. Vinte minutos depois silêncio abateu-se na cozinha da Toca, com a mulher bebericando a sua bebida e Harry torcendo nervosamente os dedos.

-Você sabe que exagerou, não sabe? – falou a mulher cujos cabelos ruivos já estavam praticamente grisalhos.

-Eu sei. – respondeu Harry com um suspiro. –Foi frustrante, extremamente frustrante. Sempre quando Dallas tem um problema ela corre para o Yale e isso me irrita.

-Eles são amigos.

-Mas antes de serem amigos eles se detestavam, e depois foram namorados…

-Isso foi há mais de vinte anos Harry. Davon tem a vida dele e a mulher dele. O seu problema com certeza é outro e que você ainda não teve coragem de admitir.

-Outro problema? – perguntou e viu o olhar sábio de Molly pesar sobre si. Ela tinha razão, o seu problema era outro e o atormentava há mais de vinte anos. –Voldemort. – falou o nome e viu que a mulher não apresentou nenhum tremor. Somente a geração mais velha ainda tremia diante do nome ao lembrar dos horrores da guerra, mas para os mais novos ele não passava de mais um personagem dos livros de história, junto com Harry Potter. –Voldemort… sempre que eu conseguia algo bom em minha vida ele estava lá para tirar de mim. Um círculo vicioso que começou com os meus pais, e depois os meus amigos e as pessoas que me rodeavam. A guerra deixou mais feridas em mim do que eu poderia imaginar. Vi muita gente perecer, alguns até já se perderam na minha memória. Mas nunca esquecerei do dia em que quase perdi a Dally por causa dele. Vinte anos depois e eu ainda tenho medo de perdê-la, achando que sou uma criatura amaldiçoada. Achando que comigo nada de bom foi feito para durar.

-Mas você está vendo que essa não é a verdade, não é?

-Será? Nos últimos meses tudo tem dado errado. Minha família reaparece, minha esposa e eu brigamos constantemente, meus filhos estão brigando entre si… Day arruma um namorado e é humilhado por toda a escola. O que está acontecendo? Sinto que estou perdendo novamente o controle da minha vida, como na época em que Voldemort existia.

-Mas ele não existe mais e a culpa não é dele. É sua Harry, e você sabe disso. Você sempre foi um rapaz emotivo e está se deixando levar por isso. – ele abriu a boca para falar, mas Molly rapidamente a interrompeu. –Não estou dizendo que não seja bom meu filho, claro que é. É uma das suas melhores qualidades. Mas, às vezes, precisamos ser racionais.

-Foi isso que a Dallas disse quando brigamos que eu precisava ser mais racional. – outro suspiro e Molly deu um sorriso, segurando a mão dele sobre a mesa e a acariciando levemente. Puxou o pulso do rapaz, o fazendo se levantar e o trazendo para o seu lado.

-Venha cá, acho que alguém precisa de colo. – Harry sorriu e deixou-se ser levado pela mulher, sentando na cadeira ao seu lado e permitindo que os seus braços o envolvessem, apoiando a sua cabeça no ombro dela enquanto ela lhe afagava os cabelos negros.

-Colo de mãe, nada melhor do que isso. – murmurou com um sorriso. –Por anos eu senti inveja do Rony e achava um absurdo toda vez que ele abria a boca para reclamar da sua proteção excessiva. Achava que se ele soubesse o que não era ter mãe ele não agiria assim. Mas agora…

-Agora você sabe, não é querido? – disse com uma voz suave, nunca se esqueceria o dia em que Harry a chamou pela primeira vez de mãe. Sentiu-se a mulher mais feliz e sortuda do mundo por ter aquele menino maravilhoso a considerando como mãe. –Agora me diga como você está se sentindo. Parece que vai ser pai de novo, heim? – Harry arregalou os olhos e rapidamente saiu do abraço de Molly, a olhando chocado.

-Meu Deus… Dallas. – murmurou, erguendo-se rapidamente da cadeira e catando o celular em seu bolso.

-O que foi querido? – perguntou a mulher preocupada.

-Ela saiu furiosa da sala de Dumbledore, perdeu até o controle da magia dela. Pode ter passado mal, sei lá. Dallas não está mais na casa dos vinte e uma gravidez na idade dela… - Molly riu e ergueu-se também, colocando uma mão sobre o ombro dele.

-Ela é uma bruxa, Harry. Uma gravidez na idade dela não é tão perigosa assim quanto nas mulheres trouxas. Esqueceu que temos um envelhecimento mais lento?

-Sim, mas mesmo assim… - digitou o número que sabia de trás para frente e esperou ansiosamente a ligação se completar. O telefone chamou e chamou e, por fim, caiu da caixa postal, fazendo Harry desligá-lo com violência. –Bosta! – protestou. –Desligado. – resmungou, deixando-se cair novamente na cadeira.

-E você não pode… localizá-la? – Molly perguntou, sentando-se ao lado dele e lhe servindo outra xícara de chá. Harry torceu o nariz e depois fechou os olhos, relaxando o corpo e deixando a sua mente divagar junto com a sua magia, para ver se encontrava a sua mulher, mas o resultado foi o mesmo, nada encontrou. Ela o tinha bloqueado.

-Nada. – murmurou derrotado, afundando-se mais em sua cadeira. –Isso quer dizer que ou vou ouvir muito quando chegar em casa ou não vou ouvir nada porque, de qualquer maneira, ela está furiosa comigo. – e bebeu o chá oferecido por Molly.


Dallas estava do outro lado de Londres quando sentiu o familiar arrepio gostoso e a sensação morna brotarem em seu corpo, indicando que Harry a estava procurando. Franziu as sobrancelhas e com um grunhido e uma carranca muito feia ativou a sua magia e rapidamente ergueu os muros de proteção bloqueando a magia dele e a tentativa do auror de encontrá-la. Era uma coisa curiosa e que eles foram descobrindo de acordo com os anos e à medida que os poderes de Harry foram aumentando. Essa ligação que eles tinham a ponto de sentirem o que outro sentia ou de Harry poder encontrá-la onde quer que ela esteja. E também tinha o outro fato curioso onde Harry poderia estender a sua habilidade de fazer magia sem varinha para ela, a usando como fio condutor do feitiço. Era divertido, mas, no momento, nada disso mudava o fato de que ela estava furiosa com o homem.

-Dallas? – a voz a chamou e rapidamente ela desfez a cara feia e soltou um suspiro cansado, olhando para a grande janela onde a chuva caía. –O que houve? – perguntou brandamente e ela olhou longamente para a mulher, pensando se dizia ou não qual era o seu problema.

-Harry… - gesticulou com uma mão largamente. -… estava tentando me achar. Apenas isso. Eu o bloqueei.

-Te achar? – perguntou curiosa, obviamente não entendendo onde ela queria chegar. Não tinha ouvido nenhum celular tocar e nem ela se mover para mexer no aparelho se este estivesse no vibrador.

-Coisas… de bruxos. – murmurou, encolhendo-se no sofá e passando a mão pelos cabelos castanhos. O que ela estava fazendo ali? Por que ela tinha ido para ali? Quando saiu enfurecida de Hogwarts só pensava em um lugar para onde poderia ir se esconder, onde Harry com certeza não a procuraria e a única coisa que lhe veio na mente foi: Mansão Winford. Era ridículo depois de anos ela entrar nessa casa por livre e espontânea vontade e se sentar na sala de visitas para tomar chá com a sua avó.

-Se importa em me esclarecer o motivo de estar aqui? – perguntou a velha mulher, bebendo de seu chá. –Não que eu esteja reclamando, pois faz meses que estou tentando te trazer de volta a essa família por livre e espontânea vontade, mas mesmo assim fiquei surpresa e um pouco curiosa quando você apareceu na minha porta.

-Acho que foi… - a mulher mais nova começou, levantando-se do sofá e caminhando de um lado para o outro. -… instinto. Briguei com o meu marido, uma briga realmente feia, e acho que de uma maneira ou de outra o meu sexto sentindo me trouxe para cá. – soltou uma risada sem vida. –Irônico, quando vivia aqui nunca considerei essa mansão meu lar, mas agora a vejo como o meu refúgio e quanto a você – e apontou para a avó. – minha confessora. Realmente irônico.

-Se sou sua confessora, me conte qual é o seu problema. – pediu Amélia em uma voz branda. Realmente tinha ficado chocada quando um empregado tinha vindo lhe anunciar que Dallas estava ali para vê-la. Pensou que ainda levaria muito tempo para poder conseguir trazer a sua neta de volta a família Winford. Mas, parecia que as paredes de gelo em volta da jovem estavam derretendo mais cedo do que ela poderia imaginar.

-Não creio que a senhora está preparada para realmente ouvir todos os meus problemas. – murmurou, parando de caminhar e sentando-se novamente no sofá macio.

-Então o que faremos?

-Que tal a senhora me explicar o porquê de querer tanto que eu assuma a frente das empresas Winford?

-Novamente esse assunto? Eu já lhe disse o porquê Dallas. Não posso simplesmente querer ter a minha neta de volta, me arrepender dos meus atos? Faz idéia de como essa casa ficou sem você? Eu não tinha nenhuma notícia sua, cheguei a pensar que você tinha morrido! – falou a mulher exasperada, erguendo o tom de voz e Dallas arregalou os olhos. Ver a senhora Amélia Winford perder a compostura era algo extremamente raro. –Qual é o seu problema afinal? – Amélia ergueu-se da sua cadeira. Sempre foi educada para ser uma perfeita dama e nunca erguer a sua voz, mas Dallas já estava lhe tirando a paciência com a sua extrema teimosia e desconfiança. –Você parece que não confia na sua própria sombra! O que aconteceu com você afinal?

-Acho que estamos dando voltas aqui. Você já me perguntou isso. – respondeu indiferente.

-E você nunca me respondeu. Talvez a gente se entenda melhor se pararmos com esses segredinhos em torno uma da outra.

-Está de segredinhos para mim sra. Winford? Bem que eu imaginava.

-Não tanto quanto você, sra. Potter. Me diga, me diga o que afinal mudou na minha neta? Porque eu me recuso a acreditar que você tenha mudado tanto em vinte anos. Amadurecido, sim, mas mudado é meio difícil.

-Você quer saber? – levantou-se, ficando de pé em frente à mulher mais velha. –Você realmente quer saber? O mundo me fez assim grandmère. O mundo real vai além dos salões de bailes e ações da bolsa. Você tinha me confinado dentro das paredes dessa mansão e me ensinado tudo o que eu precisava saber para ser uma boa empresária, uma boa dama da sociedade, mas você não tinha me ensinado a viver. Não tinha me dito que dói ver pessoas que você ama sofrendo ou morrendo. Não tinha me ensinado que existe gente lá fora cruel e perigosa. O mundo me fez assim! E agora, sra. Winford, qual é o seu grande segredo? Por que você me quer tanto à frente daquelas malditas empresas?

-Porque eu estou morrendo, Dallas!

Continua...