A dor o cumprimentou com força no momento em que ele recuperou a consciência, parecendo milhares de fogos de artifícios explodindo dentro do seu cérebro. Piscou os olhos lentamente, sentindo a luz fraca da lua o cegar de maneira absurda e apertou as pálpebras com força, tentando ver se assim conseguia se livrar do latejar… sem sucesso. Tentou mais uma vez abrir os olhos e depois de longos minutos conseguiu o seu intento, rodando os orbes violetas pelo local e descobrindo que estava na ala hospitalar. Soltou um grunhido do fundo da garganta. Ala hospitalar tinha se tornado a sua segunda casa desde que ele tinha entrado no time de Quadribol. Tentou buscar na mente o motivo de ele estar ali, mas nada aparecia não se lembrava de nenhum balaço ou choque com o apanhador da outra casa. E, avaliando melhor a sua situação, sentia-se sonolento e a sua cabeça doía que era uma loucura. Não se lembrava de quem tinha ganhado o jogo. Na verdade, nem se lembrava do jogo ter terminado.
Um movimento no canto do seu olho lhe chamou a atenção e ele virou um pouco a cabeça para ver Alexei sentado em uma cadeira de maneira desconfortável, com os braços cruzados sobre o peito e a cabeça baixa, obviamente dormindo. Forçou o corpo a sentar-se na cama e, vagarosamente, virou as pernas e apoiou os pés descalços no chão frio, caminhando a passos lentos até o russo sentado ao lado de sua cama. Ergueu uma mão e acariciou a bochecha do sonserino que soltou um resmungo e remexeu-se na cadeira procurando uma posição melhor para dormir. Day sorriu um pouco, abaixando-se em frente ao rapaz e roçando seus lábios levemente sobre os lábios dele. Alexei soltou outro resmungo e suas pálpebras tremularam quando Day deu mais um beijo nele. Ao poucos o russo foi acordando e quando o grifinório deu por si estava preso em um abraço apertado, sentado no colo de Alexei, quase perdendo o ar diante do beijo dos dois.
-Você acordou. – murmurou o russo contra os lábios do grifinório.
-E você também eu vejo. – retrucou Day de maneira maliciosa e Alexei ergueu uma sobrancelha castanha para o namorado. Silêncio se seguiu após isso. –Hum... Lex? – perguntou o menino de maneira incerta.
-O quê?
-O que foi que aconteceu? – mordeu o lábio inferior, recuando e saindo do colo do sonserino e se sentando na cama. –Porque eu não me lembro de muita coisa. Quem ganhou o jogo?
-Sonserina. – respondeu o outro com uma expressão totalmente desgostosa.
-E o que mais?
-Você não vai querer saber Day. É uma lembrança que eu, sinceramente, gostaria de apagar da minha mente.
-Por quê? O que aconteceu? – perguntou curioso e Alexei soltou um rosnado do fundo da garganta. –Alexei? – Day chamou com uma voz firme, mirando seus intensos olhos violetas no rapaz mais velho.
-A escola começou a te chamar de nomes e a te provocar Day, e você perdeu o controle. Deu um bom susto em todo mundo. Dumbledore ficou possesso. Cada casa perdeu cem pontos e Hogwarts inteira está em detenção que será supervisionada e aplicada pelos professores. Entrou para a história.
-Eu… eu perdi o controle? – disse com os olhos largos e o rosto pálido. –E alguém se machucou? – perguntou com a voz quase sumida.
-Se tivessem se machucado o problema seria deles. Hannah ficou possessa, soube que ela deu um esporro em todos os sonserinos, junto com a Catharine. Até o idiota do seu irmão fez questão de garantir que cada grifinório fosse punido. Porque foi ele o primeiro a descontar os pontos.
-Minha nossa. – murmurou enterrando a cabeça nas mãos. –Meus pais! – disse alarmado, erguendo a cabeça num estalo. –Eu lembro dos meus pais terem aparecido. Por acaso eu estava delirando ou o quê?
-Ah, eles apareceram. O sr. Potter não parecia muito feliz por eu ser o seu namorado, mas a sua mãe… ela é bem legal. Agora eu sei a quem você puxou. – respondeu com um sorriso e o corpo de Day pareceu relaxar um pouco. Se Dallas tinha aceitado o namoro deles, logo Harry faria o mesmo. Sua mãe sabia muito bem como dobrar o seu pai em certas ocasiões.
-Há quanto tempo eu estou dormindo? – perguntou, vendo pela janela as nuvens cinzentas e a lua que aparecia entre elas, já alta no céu.
-Desde que a gente te trouxe essa tarde para cá. Como você se sente?
-Quebrado. – murmurou, erguendo-se da cama e em um pulo Alexei estava de pé ao lado dele, o segurando para que o jovem não perdesse o equilíbrio e caísse devido à fraqueza. –Me tira daqui. – pediu, apoiando-se no rapaz mais alto.
-Mas… Max, Madame Pomfrey tem que ver…
-Não me interessa. Não quero ficar aqui, não gosto da ala hospitalar. Me leva embora daqui.
-Certo, eu vou te levar para a sua casa…
-Não! Não quero a minha casa. Não quero voltar para a Grifinória. Vamos para outro lugar. – pediu com os seus olhos violetas brilhando imploradores para o rapaz. Alexei soltou um longo suspiro. Sabia que não poderia resistir a aquele olhar do menino.
-Certo… minha casa também está fora de cogitação. Talvez a gente ache um lugar confortável para passar a noite. – falou mais para si mesmo do que para o garoto em seus braços e o foi guiando para fora da ala hospitalar e pelos corredores de Hogwarts. Meia hora depois os dois encontravam-se na torre de Astronomia, espalhados sobre as almofadas e olhando o céu que agora estava límpido e para as estrelas que brilhavam sobre eles. –Agora a pergunta que não quer calar. - Alexei murmurou na escuridão. – O que vai acontecer daqui pra frente?
-Eu te digo o que vai acontecer. Quando eu der as caras amanhã no salão principal as pessoas me olharão torto, outras curiosas, mas a maioria com certeza estará com medo de mim. Não estranharei se começarem a me chamar de o novo Voldemort. – comentou com sarcasmo e Alexei riu um pouco. Day parecia estar aceitando mais livremente o fato de que quase colocou o estádio de Quadribol abaixo.
-Você não me parece muito preocupado com isso. – revelou os seus pensamentos para o garoto e o sentiu mexer-se em seus braços, erguendo um pouco o corpo para mirar seus olhos violetas no rosto do namorado.
-Porque eu estou cansado. Não lembro o que aconteceu, mas lembro do que senti. E, sinceramente, descobri que não me importo. Não me importo mais com o que eles pensam. Quem eles são para ficar me julgando e me condenando por minhas escolhas? Eles não sabem nada sobre mim, nunca souberam, quando olham para mim o que vêem é o filho do famoso Harry Potter. Sempre esperando que eu seja corajoso e heróico como o meu pai. Mas eu não sou assim, eu tenho defeitos, muitos deles. Eu acordo de mau humor pela manhã, tenho vontade de mandar todo mundo para o inferno quando estão me aborrecendo e perdi a conta de quantas vezes tive que segurar a minha magia para não nocautear alguém muito chato. Tudo isso porque eu sou um Potter e tinha que dar o bom exemplo, não podia decepcionar ninguém. Evan sempre foi o senhor perfeito, Hannah ninguém a julgava porque ela é uma sonserina e seus atos são mais do que esperados, e eu deveria seguir o exemplo do meu pai por ser um grifinório, e foi isso que eu fiz. Mas eu me cansei! Cansei desses hipócritas que gostam de apontar o erro dos outros e nunca os seus. – terminou o discurso gesticulando largamente e com os olhos brilhantes e as faces rubras de raiva. Alexei riu, vendo que finalmente Day tinha quebrado o casulo e batido as asas para poder voar, mostrando ao mundo o que realmente era.
-Que grande discurso, estou tocado. – escarneceu o russo, traçando beijos pelo rosto do menino.
-Alexei! – exclamou irritado, dando um tapa no braço do sonserino. –Eu estou tentando dizer algo importante aqui. – Alexei riu, dando um beijo estalado na nuca dele.
-Você não está dizendo nada que eu já não saiba. Mas se quer a minha opinião, eu fico muito feliz que você tenha decidido mandar eles para a pu…
-Alexei! – gritou, o interrompendo bruscamente. –Olha o linguajar. – o rapaz rolou os olhos âmbares.
-Hunf! Max você ainda tem que aprender as vantagens de um bom palavrão sabia? Isso com certeza melhoraria o seu gênio ruim.
-Eu não tenho gênio ruim. – protestou com um biquinho.
-Certo, e fui eu que quase coloquei o estádio de Quadribol abaixo.
-E não foi? – fez-se de inocente e Alexei jogou a cabeça para trás, rindo abertamente.
-É por isso que eu amo você. – falou o russo dando um beijo estalado nos lábios do grifinório.
-Por causa do meu gênio? Pensei que fosse o meu grande charme e os meus lindos olhos azuis.
-Na verdade os seus lindos olhos são violetas e sim, eu também os amo. Na verdade eu te amo por inteiro.
-Estamos românticos hoje, heim?
-Só para você meu amor, só para você. – e o beijou de maneira mais profunda, pedindo passagem com a língua para dentro da boca dele e apertando o corpo menor contra o seu. Day soltou um gemido do fundo da garganta e relaxou os músculos quando sentiu as mãos do sonserino deslizarem pela pele quente das suas costas, o acariciando com pequenos círculos. As mesmas mãos desceram para o quadril do garoto, o pressionando contra o quadril de Alexei e Day pôde perceber o quanto esse beijo e a troca de carícias estavam excitando o russo. Os dedos do sonserino lutaram contra os botões da camisa do grifinório e quando finalmente se viu livre do tecido permitiu-se explorar a pele macia do tórax dele. Com um virar rápido de corpo Alexei colocou Day deitado sobre as almofadas coloridas enquanto o seu corpo deslizava por sobre o dele, alinhando-se com perfeição.
-Lex… - gemeu o menino quando suas excitações se encontraram. Alexei afastou-se do moreno e mirou seus olhos nos olhos brilhantes dele.
-Max… tem… certeza de que… quer fazer isso? – perguntou ofegante. Não tinha tanta certeza assim se conseguiria parar agora que estava tão longe no caminho.
-Sim… - disse num sussurro, esticando o seu corpo languidamente sob o corpo de Alexei, provocando o rapaz mais ainda.
Quando um relógio ao longe soou as doze badaladas da noite, dois gritos de puro êxtase ecoaram pelas paredes da Torre de Astronomia enquanto, nos jardins, flocos de neve brancos caíam sobre a grama molhada em pleno início da primavera.
-Não faça essa cara. – Amélia comentou quando viu Dallas cair sentada no sofá em estado de choque. –Eu estou velha e morrer seria um passo a mais na jornada. Não é como se eu fosse cair dura amanhã ou coisa parecida. – a bruxa estreitou os olhos e comprimiu os lábios de modo que eles formaram uma linha fina e pálida no meio do seu rosto.
-Eu pensei que você estivesse a um pé da cova. – falou em desagrado.
-Não tanto minha cara. Quando digo que estou morrendo é a idade que está descendo sobre mim e… - murmurou cansada, sentando-se pesadamente no sofá. -… isso traz certas conseqüências.
-Que conseqüências? – perguntou Dallas desconfiada.
-Meu último check up acusou algo interessante. – Amélia continuou como se estivesse falando para alguém invisível em vez da mulher na sua frente.
-Dá para parar com os rodeios e ser mais direta? – exigiu Dallas.
-Parkinson. O meu médico disse que eu tenho o mal de Parkinson. – a mulher mais jovem ergueu-se do sofá e passou os dedos por entre uma mecha castanha do cabelo.
-Parkinson. Uma doença degenerativa. – olhou por cima do ombro a senhora que estava sentada na cadeira, parecendo definitivamente derrotada pela vida. Queria dizer a ela que ela estava apenas pagando por tudo o que tinha feito no passado, mas Dallas não era do tipo de pisar nas pessoas caídas. Isso era uma coisa que não tinha mudado durante os anos dentro dela. Mas ainda sim não sabia se Amélia merecia a sua compaixão. Aliás, desconfiava que a orgulhosa mulher não iria querer a sua compaixão.
-Não me olhe assim. – os olhos duros a miraram firmemente, como faziam quando ela era uma menina e tinha cometido uma gafe durante um evento social.
-Amélia. – Dallas falou, soltando um longo suspiro cansado. –Eu não posso ser o que você me pede. – Amélia piscou desacreditada. –Você quer uma herdeira… - ergueu a mão para impedir qualquer protesto da velha mulher. -… deixe-me terminar. Eu sei que você quer alguém para seguir o nome Winford e de um modo eu te entendo. Não gostaria de ver os meus filhos jogarem fora tudo o que Harry e eu construímos com os anos. Mas eu não posso assumir esse poder nas minhas mãos, não tenho mais cacife para isso. Fiquei muitos anos no mundo bruxo, tanto que às vezes eu mesma esqueço que sou de origem trouxa. Não sei nada sobre o ramo dos negócios desse mundo, não sei a quantas andam as empresas e o mercado. Posso ser uma bruxa, mas não tenho mais vinte anos. Uma responsabilidade desse tamanho é para gente jovem.
-Está dizendo que novamente irá dar as costas para a sua família? Será que terei que me ajoelhar e te pedir perdão? Perdão por querer que você fosse a melhor em tudo, que carregasse o nosso nome com orgulho durante os anos?
-Não! Não precisa pedir mais perdão por nada. Até porque já estou ficando de saco cheio por você ser tão repetitiva. Apenas estou dizendo que não poderei fazer isso. – Dallas respondeu em um tom calmo, sentando-se novamente no sofá. Amélia soltou um longo e sofrido suspiro. Era um passo que elas estavam dando, um longo passo para a reconciliação das duas, mas, ainda sim, saber que teria que desmantelar as empresas e destruir um nome de mais de um século de tradição por falta de herdeiros consangüíneos ainda sim doía em seu coração. Com certeza o seu falecido deveria estar revirando no túmulo, assim como os seus antecessores, ao ver a sua família ruir dessa maneira. Às vezes desejava que Dallas nunca tivesse ido para aquela escola. Mas não poderia pensar mais assim, pois foram seus próprios pensamentos egoístas que a colocaram na situação que estava hoje: tentando se reconciliar com a própria neta.
-Talvez seja a hora de convocar uma reunião de diretoria e avisar a todos que está na hora de desmantelar o nome Winford. – Amélia deu um sorriso cansado e derrotado, erguendo-se altiva da sua cadeira como se para impedir que o mundo a derrubasse. Dallas observou a mulher que por anos controlou a sua vida à mão de ferro e deu ordens aqui e acolá como se tudo e todos lhe pertencessem e fossem os seus subordinados, ir caminhando para a saída da sala. Porém, no momento, o que ela via era apenas uma mulher chegando ao fim da vida, cansada, com a experiência pesando nos ombros e a tristeza de ver tudo o que manteve com tanto afinco ruir. Finalmente percebeu que o amor que Amélia dispensou a família ela deu a essas empresas. Era mais do que um caso de orgulho por ter o sobrenome Winford, era uma paixão por ser uma Winford, coisa que ela dispensou na primeira oportunidade. Uma paixão que ela não tinha. Mas não podia pensar em ninguém tão orgulhoso para poder continuar com essa paixão. Ninguém exceto…
-Espera! – ergueu-se bruscamente do sofá, fazendo Amélia parar no meio do caminho e voltar-se para olhá-la. –Talvez nem tudo esteja perdido.
-Do que você está falando?
-Talvez tenha alguém para seguir com o legado Winford. – era loucura, ela pensava. Como ela tinha coragem de meter essa pessoa nessa confusão toda, nesse mundo maluco que ela fez questão de fugir? –Não garanto nada. Primeiro irei conversar com ele, mas ele me parece à pessoa certa.
-Verdade? – os olhos de Amélia pareceram se iluminar.
-Não eleve tanto as esperanças grandmère. Se ele não aceitar está acabado. Será uma decisão dele e apenas dele.
-Não me importa. É uma chance. É um dos seus filhos? Quem?
-Primeiro eu falo com ele, depois eu te digo o que aconteceu. – terminou, recolhendo a sua bolsa e caminhando a passos apressados para a saída da mansão.
-Dallas! – Amélia chamou quando ela estava na metade do percurso em direção a porta. Dallas virou-se rapidamente para ver o que a mulher queria. –Obrigada. – disse com um sorriso, chocando a jovem boticária. Dallas deu um sorriso de volta, sacudindo a cabeça de um lado para o outro. Ainda era loucura a sua idéia, mas ela parecia ser tão perfeita e ela tinha a sensação de que estava indo pelo caminho certo. Sem contar que essa súbita reconciliação com a sua família fazia um estranho peso sumir do seu coração. Era como se ele novamente parasse de fingir algo que não era e voltasse a ser apenas… Dallas.
Abriu vagarosamente o portal que dava acesso a torre da Grifinória e entrou a passos lentos no local. Ainda eram as primeiras horas da manhã, mas, com certeza, já deveria ter gente de pé por ser um dia de aula. Cabeças viraram-se assim que ele entrou no salão comunal e Day sentiu um tremor descer por sua espinha. Respirando fundo, ele ergueu o queixo e deixou a coluna ereta, começando a caminhar a passos decididos em direção a escada. Seria como um espelho. Qualquer ofensa que lhe lançasse ia refletir e nem afetá-lo. Percorreu o olhar pela sala e viu lá os olhares, alguns curiosos, outros indiferentes, muitos temerosos e a maioria de desprezo. Retribuiu os olhares de desprezo com um próprio e continuou andando até quê:
-Hei! Potter! – uma voz chamou e pelo tom jocoso Day sabia que aí vinha bomba. Virou-se vagarosamente, o rosto uma máscara intacta e sem emoções, esperando pela patada. O moreno que estava a um canto da sala cercado por um grupo de amigos abriu a boca para falar mais foi bruscamente interrompido.
-Se você não quiser perder mais cem pontos Bradley, eu sugiro que mantenha a boca fechada. – a voz grossa e autoritária soou em um ponto da escada e o jovem chamado Bradley rapidamente fechou a boca. Day virou-se bruscamente, inalando o ar de maneira ruidosa ao ver Evan parado ao pé da escada. Tinha uma pose imperiosa e o distintivo de monitor brilhava nas vestes impecáveis. Parecia um pavão real parado daquela maneira, com todas as penas abertas. –Venha comigo Day, quero falar com você. – virou-se e caminhou a passos apressados para o dormitório vazio do sétimo ano. Day o seguiu, fechando a porta assim que entrou e olhou apreensivo para o irmão, mordendo o lábio inferior de maneira nervosa.
-O que você queria falar comigo? – perguntou com uma voz segura embora por dentro estivesse tremendo. Evan virou-se para encará-lo, cruzando os braços sobre o peito largo e soltando um longo suspiro por entre os lábios rosados.
-Day… Sabia que a escola inteira está em detenção por causa daquele evento no campo de Quadribol? – o menino deu um aceno positivo com a cabeça. –E onde o senhor estava noite passada?
-Na ala hospitalar. – respondeu convicto e sentiu a sua segurança diminuir um pouco ao ver o olhar firme do irmão sobre si.
-Onde que eu não o vi quando fui essa manhã te buscar? Madame Pomfrey estava possessa, dizendo que você tinha sumido no meio da noite sem a autorização dela. – Day tremeu um pouco, já imaginando o sermão que levaria da enfermaria. –Então? – o moreno mais velho ergueu uma sobrancelha.
-Então o quê? – perguntou o menino de maneira inocente.
-Onde você estava? – Evan parou e soltou um suspiro, apertando os olhos com a ponta dos dedos. –Não diga. Faço idéia. Você estava com… ele. Estou certo? – Day apertou as mãos firmemente em um punho e rangeu os dentes.
-Sinceramente Evan, não me interessa o que você tem contra o Alexei, mas isso não diminui o fato de que o amo e vou ficar com ele, você gostando ou não. – disse com uma voz firme e viu com prazer o rapaz se eriçar ofendido, ao mesmo tempo em que recuava um passo com medo da reação explosiva do irmão.
-Eu te avisei sobre ele, não avisei? Olha a merda que deu ontem. – respondeu Evan defensivo.
-Não foi ele, foi essa maldita escola de hipócritas preconceituosos… - Day gesticulou largamente e duas ou três camas tremeram nas bases.
-Mesmo assim…
-Não! Você precisa me escutar! Se você me chamou aqui para soltar mais grosserias e inverdades na minha cara, estou indo embora. – disse irritado, dando meia volta para poder ir embora.
-Espera Day! – Evan segurou no pulso do irmão e o fez virar-se para encará-lo. –Não era isso que eu queria dizer… o que eu queria dizer… - soltou o pulso dele vagarosamente, recuando um passo. Os olhos azuis olhavam para todos os cantos menos para o rosto do jovem apanhador. –Me desculpe. – falou com uma voz quase sumida. Day piscou, aproximando-se do rapaz mais velho para saber se estava ouvindo direito. O orgulhoso Evan estava pedindo desculpas?
-O quê? – perguntou incrédulo e o olhar azulado, que estava mirando o chão, ergueu-se abruptamente para mirar o rosto do menino mais novo.
-Você me ouviu, não me faça repetir. – retrucou azedo e Day deu uma risada.
-Você está pedindo desculpas. Eu até aceitaria… - viu quando uma sombra de tristeza passou pelo o olhar do irmão, mas precisava ser firme. Evan precisava ver que ele não era mais um garotinho que engolia os erros dos outros facilmente e perdoava fácil, dando assim a possibilidade das pessoas de feri-lo novamente. -… se você me dissesse como descobriu aquilo tudo sobre o avô do Lex. – perguntou inquisitivo e viu Evan corar um pouco e coçar a cabeça de cabelos negros.
-Er… um dia eu sem querer tropecei na penseira dupla do papai e da mamãe. Foi no quinto ano e eu tinha que fazer um trabalho de DCAT sobre a segunda guerra, mas nem todos os livros davam informações o suficiente e esse trabalho era quarenta por cento da nota nos NOM's. E eu pensei que já que tinha Harry Potter como pai que tal perguntar para ele? Mas papai não me respondeu nada e eu averigüei mais fundo até que encontrei essa penseira deles dois e acabei entrando nela. Quando papai me tirou de lá ele estava furioso por eu ser tão enxerido e eu tive pesadelos por pelo menos um mês. – comentou com um arrepio. –De vez em quando eu tenho uns pesadelos, mas nada como naquela época. Descobri muitas coisas sobre os nossos pais. Vi pelos olhos do papai como foi quase perder a nossa mãe e foi horrível. Quando eu te vi com o neto do homem que quase destruiu a nossa família… eu não sei o que me deu.
-E precisava dizer aquilo tudo? – rebateu Day em um tom magoado. Certo que Evan tinha até uma razão palpável, mas isso não lhe dava o direito de dizer aquelas barbaridades para ele.
-Escuta! Me desculpe, mas você sabe que eu não sou um poço de calma e tranqüilidade Day! Você esperava o quê? Que eu sorrisse e desse os parabéns? Esqueça! Eu posso estar arrependido das besteiras que eu disse para você, mas ainda sim não mudo a minha opinião sobre o fato de que não acho o Yatcheslav bom o suficiente para você.
-Evan! Você não acha ninguém bom o suficiente para mim, ou para a Hannah. Essa sua mania de querer controlar as nossas vidas deu nisso, nessa briga, nessa confusão, no seu braço quebrado e esse hematoma no seu rosto!
-Eu não quero controlar a vida de vocês! Será que é pedir muito querer te proteger? Proteger a Hannah?
-Nos proteger de quê, Evan?
-Do mundo, Day! O mundo lá fora não é cor de rosa. Você mesmo teve um gostinho dele ontem.
-Evan! – Day riu, dando um aceno negativo com a cabeça. –Você não pode fazer isso. – falou calmamente como se estivesse conversando com uma criança.
-Por que não? – cruzou os braços petulante, desafiando o irmão a contrariá-lo.
-Como você espera que a gente aprenda a se defender do mundo se você não nos deixar experimentá-lo? – foi como um soco, mas mesmo assim teve o efeito desejado, entrando no cérebro de Evan e registrando lá dentro de maneira dolorosa.
-Argh! – jogou as mãos para o alto, derrotado. –Quando foi que você aprendeu a ser tão eloqüente? Certo, certo, faça o que bem entender, veja se eu me importo? – e deu de ombros de maneira infantil, dando as costas para Day que abriu um grande sorriso e correu até o irmão o esmagando em um abraço apertado.
-Muito obrigado Eve! – Evan grunhiu com o ridículo apelido de infância. Aquilo era apelido de mulher. –Eu te amo sabia irmão? – Day deu um beijo estalado na bochecha do rapaz mais velho, que rolou novamente os olhos, mas, internamente, estava vibrando por ter o seu irmãozinho de volta as boas com ele.
-Mas fique sabendo, - começou seriamente assim que Day afastou-se dele. –que eu não serei educado com aquele idiota do seu… namorado… - falou a palavra dolorosamente. -… e que arrancarei o fígado dele e darei para ele comer se ele um dia ousar te machucar. Não me interessa se você me atravessar pela parede com os seus poderes, eu o mato se ele te magoar. Estamos entendidos? – Day assentiu com um sorriso e Evan segurou firmemente nos ombros dele, o sacudindo. –Eu estou falando sério Maxwell! – o apanhador rapidamente engoliu o sorriso e assentiu com a cabeça e Evan deu um aceno postivo de agrado diante da concordância.
-Okay. – respondeu, escondendo um sorriso.
-Ah, já ia esquecendo. O motivo de eu ter ido te buscar na ala hospitalar é porque Dumbledore quer falar com você. – Day empalideceu.
-Sobre o quê?
-Não sei Day. Ele disse para encontrá-lo depois do café na sala dele. Mais nada. – deu de ombros, abrindo a porta do quarto para Day. –Melhor se apressar então. – Day assentiu com a cabeça, dando um último sorriso para o irmão e saindo do quarto, deixando Evan sozinho. O monitor caminhou até a sua cama, sentando-se pesadamente nela e olhando tudo ao seu redor. Gostava da sua vida, mas sentia que tinha algo faltando. Não, não era Angela. Apesar de não tê-la superado totalmente ele já conseguia seguir com a sua vida sem ter a ruiva martelando nos seus pensamentos. Para ele o que faltava era um rumo na vida. Estava se formando em Hogwarts em poucos meses e nem sabia o que ia fazer da vida, que profissão seguir. Tinha um bom conhecimento em DCAT e outras matérias, mas elas não o interessavam o suficiente para levá-lo a viver disso. Deixou o corpo cair sobre a cama macia e mirou o teto dela, cruzando os braços sobre os olhos. Poderia ir para o mundo trouxa, mas o que iria fazer lá? Que profissão seguiria? Que requisitos usaria para entrar em uma faculdade trouxa? Virou-se na cama, ficando de bruços e apoiando a cabeça nas mãos. Ir para uma faculdade trouxa não era má idéia. Não faria nada na área científica, pois não tinha nenhum conhecimento nas áreas exatas trouxas, mas poderia seguir uma carreira em humanas. Já que Day colocou de maneira tão eloqüente, já que ele gostava de controlar a tudo e a todos, poderia fazer algo como Administração ou derivados. É, era uma boa idéia.
Foi tirado dos seus pensamentos quando uma coruja pousou ao seu lado na cama, estendendo a pata para ele. Recolheu o curto pergaminho que estava na pata dela e a deixou ir embora janela afora. Desenrolou o bilhete e viu com surpresa a letra da sua mãe no papel.
Encontre-me na beirada do lago durante o intervalo das aulas, preciso conversar algo importante com você
Amor, mamãe.
Deu de ombros, mesmo que estivesse extremamente curioso, e guardou o bilhete em um dos bolsos da sua calça, recolhendo a mochila e descendo as pressas para o café da manhã, pois já estava atrasado.
Soltou um suspiro desolado, olhando longamente a mulher que estava sentada na cadeira ao seu lado e que o ignorava veementemente. Passou a mão pelos cabelos negros e apertou o apoio de braço da cadeira firmemente, deixando os dedos brancos diante da força que empregava. Isso era ridículo, totalmente ridículo. Eles estavam agindo como duas crianças que tinham discutido por causa de um doce.
-Dallas! – Harry chamou com a voz firme. Estava cansado da atitude da mulher. Ambos estavam dentro da sala de Dumbledore em Hogwarts, pois tinham recebido uma carta dele pela manhã bem cedo pedindo a presença deles novamente na escola. O diretor em si ainda não tinha aparecido na sala, com certeza deveria estar no salão principal junto com os outros professores tomando café da manhã. Por isso, era apenas o casal Potter dentro da sala e Harry estava determinado a resolver a briga que havia começado no dia anterior.
-O quê? – Dallas se virou com os olhos púrpuros de raiva por ter sido interrompida. Estava muito bem quieta no seu canto apreciando a… parede.
-Isso é ridículo, Dallas! Não temos mais idade para ficarmos agindo como crianças!
-Hunf! O torto falando mal do rasgado. Era você mesmo que ontem, nessa mesma sala, estava agindo como uma criança. – acusou, apontando um dedo em riste para ele.
-Você quer parar? – Harry rebateu de volta, segurando o dedo entre os seus maiores e mais fortes. –Primeiro que você não pode se exaltar…
-Exaltar? – Dallas ergueu-se da cadeira, trazendo o homem junto por causa das suas mãos atadas. –Do que diabos você está falando?
-Estou falando do nosso filho que você está carregando.
-Que consideração! – desdenhou, dando um sorriso torto. –Ontem você não estava pensando nele quando agiu daquela maneira idiota.
-Argh! – gritou o moreno já sem paciência, prendendo o pulso da mulher com força e a puxando de encontro a si. Dallas tropeçou nos saltos diante do puxão brusco e caiu diretamente nos braços de Harry, começando a se debater para poder soltar-se do abraço dele. –Você quer, por um momento, deixar de ser tão cabeça dura? E agora eu me pergunto, você está realmente de mau humor por causa de ontem ou isso são os seus hormônios que, eu devo lembrar, ficam enlouquecidos durante a gravidez?
-Não faz diferença Potter! E eu se fosse você me soltaria senão…
-Senão o quê? – Harry deu um sorriso escarninho. –Vai me bater? – provocou, pressionando o corpo dela contra o seu, envolvendo a cintura esguia com os seus braços fortes, e o sorriso sarcástico apenas aumentando em seus lábios.
-Me solta Potter, estou avisando… - ameaçou, debatendo-se ainda mais nos braços dele. Harry jogou a cabeça para trás e deu uma longa e profunda gargalhada e Dallas sentiu um arrepio descer pela sua espinha.
-Tsc, tsc, tsc, acha mesmo que me assusta? Acha mesmo que mete medo no menino-que-derrotou-Voldemort? – sussurrou rouco no ouvido dela, a prensando ainda mais contra o seu corpo. –Tente de novo. – provocou, mordiscando o lóbulo da orelha dela e deslizando os lábios pelo pescoço pálido.
-Harry… - Dallas gemeu, derretendo nos braços dele em questão de segundos.
-Iha! – um quadro na parede da sala de Dumbledore gritou. –Eu tinha uma égua que era tão arredia quanto essa menina, mas um carinho só e ela se derretia toda. – comentou o quadro, ganhando alguns murmúrios de aprovação dos companheiros e outros de desaprovação das companheiras.
-Harry… - murmurou, ignorando completamente o que o quadro tinha dito ao seu respeito. De um certo modo concordava com ele. Às vezes ela tinha esse lado de fera selvagem, quase indomável, quando ficava furiosa. Talvez fosse a sua parte animaga que provocava essas reações nela. -… nem sempre as nossas discussões podem terminar na cama.
-Claro que podem. Quer melhor lugar para se entrar em um consenso em algo? – murmurou contra os lábios dela, os capturando para um beijo, passando a língua sobre eles e os mordiscando levemente.
-Mon ange… - murmurou com o coração descompassado.
-Hum... francês. Adoro quando você fala francês quando estamos fazendo amor.
-Vraiment? Ainsi n'arrêtez pas. – sussurrou e Harry sorriu, dando outro beijo avassalador na mulher.
-Vejo que vocês dois se entenderam. – disse uma voz divertida na porta da sala.
-Ew! Eu precisava ver os meus pais se agarrando? – outra voz, mas um pouco mais chocada. Harry e Dallas rapidamente se separaram, olhando com intensidade para os dois novos ocupantes da sala. Dumbledore caminhou calmamente até a sua cadeira, sentando-se nela com o usual brilho em seus olhos azuis intensificado a décima potência. Day entrou na sala e prontamente acomodou-se em uma cadeira entre os pais. Dallas e Harry, vendo que nada os livraria do embaraço de terem sido pegos em uma ardente reconciliação, sentaram-se em seus lugares.
-Fico agradecido que vocês tenham respondido ao meu chamado tão prontamente. – Dumbledore começou, o tom divertido de antes sumindo da sua voz. –O motivo de eu tê-los chamado aqui se refere ao jovem sr. Potter. – e mirou seus olhos azuis em Day, que se encolheu na sua cadeira temendo sobre o que o diretor poderia querer conversar com os seus pais. –Visto aos acontecimentos recentes envolvendo o sr. Potter, eu tenho uma proposta para vocês.
-Proposta? – Harry olhou desconfiado para o diretor logo após lembrar-se de algo. –Por que não me disse que Day era um mago? Nós fizemos testes em todos os nossos filhos quando eles nasceram, e o senhor não disse nada. – exigiu, conhecendo Dumbledore bem o suficiente para saber que ele era do tipo que guardaria uma coisa dessas para si até o último momento, até quando achasse necessário contar a parte mais interessada no assunto.
-Quando fizemos o teste Harry, ele não apresentou nenhum indício de ser um mago. Entretanto, quando ele entrou em Hogwarts… - deixou vagando no ar. -… o mantive sob constante vigilância para saber se deveria me preocupar com um despertar precoce dos seus poderes e algum possível descontrole. Quando ele conheceu o sr. Yatcheslav achei que seria bom ir revelando aos poucos a verdade para ele. – Day arregalou os olhos.
-Por isso que o Lex e eu achamos aquele diário na sala da Ordem. Era por isso que conseguíamos entrar lá sem sermos detectados por um professor. – atestou abismado. Então aquilo tudo havia sido armação do Dumbledore para ele descobrir que era um mago?
-Por que eu não estou surpreso com isso? – Harry rolou os olhos exasperado diante das artimanhas do diretor enquanto Dallas escondia uma risada. –Mas qual é a proposta?
-Parece que o jovem Day mostrou-se ser bastante poderoso, Harry. Diria que até mais poderoso que você. – Day pulou no assento e olhou com olhos largos e o rosto pálido para o seu pai. Mais poderoso do que o herói do mundo mágico Harry Potter? Sentia que ia desmaiar. Seu pai era a criatura mais poderosa que ele conhecia, junto com Dumbledore, como ele poderia ser mais forte do que os dois homens? Era chocante.
-Agora eu estou surpreso. – comentou Harry, olhando com interesse o seu filho como se tentasse detectar todo esse poder que Dumbledore estava falando.
-A questão é que, diferente de você, Day despertou esses poderes muito novo. O corpo dele não amadureceu o suficiente para comportar tamanho dom. Ele não tem treinamento completo em magia para controlá-lo e os anos de repressão ao próprio poder causou o que vimos no estádio de Quadribol, um descontrole total. Vou ser sincero com vocês, por um momento achei que o jovem Potter… - deixou novamente vagando no ar, mas Dallas e Harry sabiam o que o diretor queria dizer. Day esteve a um passo de ser engolfado pelas trevas. -… mas graças a Merlin isso não aconteceu. Parece que o jovem Day tem o seu ponto de equilíbrio. – atestou e Harry mordeu o lábio inferior. Sabia muito pouco sobre o ponto de equilibro dos magos. Na verdade tudo o que ele sabia sobre essa espécie de bruxo foi enfiado na sua cabeça por Hermione, já que ele se recusava a ler qualquer coisa sobre o assunto por pura preguiça. Mas ele sabia quem era o seu ponto de equilíbrio. Ao lado dos dois homens Potter, Dallas começou a rir.
-Ah… vamos ver se eu adivinho. Alexei é o ponto de equilíbrio do Day. – falou a mulher de maneira divertida e Dumbledore assentiu com a cabeça.
-A questão é que Day vai precisar de educação apropriada, aprender sobre os seus poderes e sobre si mesmo, e isso não pode ser oferecido em Hogwarts. – os três Potter olharam surpresos para o professor. O que ele estava sugerindo? –Existe uma escola especializada no caso do Day, que treina jovens magos. – ao ver o olhar surpreso de Day o diretor acrescentou. –Sim Day, você não é o único no mundo, existe outros como você. Mas creio que na Inglaterra você deva ser o único mago.
-Uma escola de magos? Por que você nunca me falou dela? – Harry comentou com um muxoxo, cruzando os braços sobre o peito e Alvo deu um sorriso.
-Porque quando você despertou você já era um homem adulto. Sua magia e o seu corpo já estavam amadurecidos o suficiente para você ter um controle do seu poder. Não vi necessidade de você ir para essa escola de magos. Sem contar que estávamos em guerra, precisávamos de você aqui. Mas o caso de Day é diferente.
-E onde fica essa escola? – perguntou Day, interrompendo o diretor que voltou os olhos brilhantes na direção do garoto.
-A Escola Rottfound para Jovens Magos fica na Groenlândia. – Day gemeu. Groenlândia? Além de ser longe era frio.
-Groenlândia? – Dallas protestou, provavelmente tendo os mesmos pensamentos que o filho.
-Se… se eu for, quanto tempo vou ter que ficar lá? – pensou incerto, não gostando muito da idéia de ter que largar tudo para trás para ir para uma ilha gelada.
-Isso você só vai saber quando chegar lá e for avaliado pelos professores. – respondeu Dumbledore bondosamente. O menino olhou para os pais como se procurasse um apoio, uma opinião, mas Harry e Dallas apenas sacudiram a cabeça em uma negativa, sabendo que de um modo isso precisava ser feito, que era o melhor para ele.
-Eu sinto muito filho, - Harry depositou uma mão no ombro do garoto. – mas essa decisão tem que ser somente sua. Mas seja qual for saiba que te apoiamos. – Day suspirou isso não tinha sido de ajuda nenhuma.
-Groenlândia? – repetiu pensativo.
-Groenlândia. – inteiraram Harry e Dallas.
-O QUÊ! – Day enrijeceu quando ouviu o grito e recuou alguns passos ao ver orbes âmbares o mirarem furiosos. Soltou um suspiro pesado e deixou o corpo cair no chão duro de pedra da antiga sala da Ordem. Tinha acabado de contar a Alexei sobre a proposta de Dumbledore e, pelo grito, já poderia se adivinhar que ele não tinha gostado nada da idéia.
-Eu achei… interessante. – comentou dando de ombros, olhando displicente alguns itens da sala. –Acho que seria uma grande vantagem para mim…
-Vantagem? Você ficar isolado numa ilha lá no norte do mundo por não sei quantos anos! Eu não vejo vantagem alguma nisso! – esbravejou o sonserino possesso. Tinha acabado de ganhar o amor de Day e o perderia para uma escola em algum buraco do planeta? Inconcebível.
-Lex... você não está sendo razoável. – começou o menino com o seu sempre presente tom apaziguador. –Eu pensei muito sobre isso, pensei mesmo, e acho que é uma boa. Por mais que eu tenha concordado que não me importaria mais com o que as pessoas dessa escola pensam sobre mim, ainda sim, agora, me sinto um peixe fora d'água. Quero dizer, essas paredes ainda são o meu lar, mas as pessoas há muito tempo deixaram de ser a minha segunda família. Sei que com o tempo elas irão parar de me olhar estranho, mas, mesmo assim, a tensão ainda vai estar lá. Acho que preciso de um tempo longe disso.
-E quanto a mim? O que eu faço nesse meio tempo? Fico aqui sentado como uma dama da corte esperando que o seu cavaleiro volte da guerra? – Day riu com a analogia, mas rapidamente engoliu a gargalhada quando viu que a expressão do sonserino não era para brincadeiras.
-Eu iria sugerir que você fosse comigo… - começou, mas foi interrompido por um grunhido do russo.
-Creio que isso não é uma opção. Primeiro por causa do berrador que eu recebi essa manhã no café. – o grifinório enrijeceu novamente. Tinha ouvido os colegas comentarem sobre a famigerada cena do berrador. O pai de Alexei tinha deixado claro para a escola inteira sobre o quanto estava desapontado pelas escolhas do filho. Porém, ele não tinha soado muito agressivo. Alexei disse que o sr. Kolya estava mais era em um estado de fúria chocante por descobrir a orientação do filho e quem era o namorado dele, mas que mais cedo ou mais tarde iria superar isso. –Segundo que a minha família jamais me deixaria largar os estudos para ir com você. Porque eu presumo que nesse fim de mundo só deve ter essa escola de magia para magos e, se você não notou ainda, eu não sou um mago. – terminou sarcástico, sentando-se também no chão de frente para Day que deixou o seu corpo cair sobre a pedra fria de modo exasperado, cobrindo os olhos com um braço.
-Certo, eu não pensei nisso. Não quero que você largue nada por minha causa.
-Que coisa típica grifinória… não pensar. – comentou com mais veneno e Day tirou o braço de sobre a cabeça, olhando Alexei por sob as pálpebras e entre os cílios negros. Ele estava mais ácido que o normal.
-Escuta… - levantou-se rapidamente, se apoiando no chão com as palmas das mãos. -… essa separação também não me agrada, pensa que eu também gosto da idéia de deixar o meu namorado, amigos e família para trás? Não, não gosto!
-Então por que você vai? – rebateu espertamente, cruzando os braços sobre a camisa branca do uniforme que estava desalinhada.
-Porque é o melhor para mim.
-Quem disse isso? Seus pais? Dumblediota? – caçoou com uma carranca feia na face e Day torceu o nariz diante da ofensa deliberada do rapaz contra o diretor.
-Eu disse isso, Alexei! Eu estou dizendo que isso é o melhor para mim! É minha decisão, minha escolha! Apenas me deram as opções e eu escolhi o que queria e eu vou para a Escola Rottfound dentro de uma semana! – Alexei arregalou os olhos e levantou-se bruscamente, quase soltando fogo pelas orelhas. Uma semana? Era muito pouco tempo. Tudo foi muito pouco tempo. Ele passou dois anos desejando e amando Day, o teve por alguns meses e em uma semana o perderia. Não poderia suportar isso, pensar nisso fazia o seu coração doer e ele não iria deixar ninguém enfraquecê-lo dessa maneira, nem mesmo o Day.
-Ótimo então. – disse com uma voz contida e rouca, as mãos apertadas firmemente em um punho e os dedos quase ficando brancos. –ÓTIMO! – gritou, recolhendo com certa violência sua bolsa, suéter e gravata que estavam espalhados pela sala. –Espero que faça uma boa viagem e congele naquele fim de mundo. – desdenhou venenoso e saiu da sala, batendo a porta atrás de si. Day rapidamente ergueu-se e seguiu o namorado furioso, abrindo a porta e gritando o nome dele, o fazendo parar no meio do corredor.
-Isto é ridículo Alexei! Eu não estou desmanchando o namoro nem nada do gênero, estou apenas dizendo que vamos ficar longe por um tempo. Pare de agir como criança! - gritou a uma boa distância do outro. Alexei não parava para pensar que também doía para ele essa separação? Mas era para o bem deles dois. E ele acreditava que nesses poucos meses eles tinham construído um relacionamento forte o suficiente para sobreviver a essa adversidade.
-Mas é como se fosse Potter. – Day tremeu diante do tom frio dele e de como o nome Potter soou como uma coisa azeda que tinha tocado os lábios do sonserino. –Você finalmente saiu do casulo e está começando a bater as asas para poder ver o mundo.
-Graças a você…
-Isso mesmo. Graças a mim, que bom que você se sente agradecido. – falou sarcástico, mas logo depois a sua voz suavizou um pouco. –Sabe como eu me sinto? Como um professor que vê um talentoso pupilo aflorar e depois se vê o perdendo para o mundo. A diferença é que eu amo esse meu pupilo. E como é que eu fico? Você estará lá fora se descobrindo, se desvendando e eu ficarei aqui, seguindo a vida de sempre. Quem me garante que quando você se formar você realmente irá voltar para mim?
-Lex… eu volto. Eu juro que eu volto… - deu passos largos em direção ao rapaz, colocando ambas as mãos no rosto dele. Alexei soltou o ar longamente por entre os dentes, dando um sorriso triste e beijando a palma de uma das mãos de Day em seu rosto. -… eu te amo, por isso eu volto.
-Não, não volta. – murmurou o sonserino, afastando um passo dele. –Tenha uma boa viagem Potter. – e foi recuando até que, quando deu por si, estava correndo pelos corredores, descendo apressadamente as escadas, trombando e passando por pessoas. Nem ouviu quando Hannah gritou o seu nome, ou viu quando passou pela entrada da Sonserina. Só soube que quando deu por si já estava em seu dormitório, deitado de bruços em sua cama e escondendo o rosto no travesseiro. Não iria chorar. A última vez que chorou foi quando tinha sete anos. Depois disso nunca mais chorou e não iria chorar. Ficou repetindo essa mantra em sua mente até adormecer, mal notando que o seu rosto estava trilhado por lágrimas.
No corredor da Ordem da Fênix, Day ainda estava parado, olhando para o ponto onde Alexei estivera há minutos atrás. Apertou as mãos firmemente, mordendo o lábio inferior com força. Não seria assim. Ele provaria para Alexei que não precisava ser assim e o russo veria que quando seus estudos acabassem ele estaria de volta à Inglaterra, de volta aos braços dele.
-Mãe? – Evan chamou assim que se aproximou do lago de Hogwarts e viu a figura de Dallas parada na beirada dele, olhando longamente para as águas com um olhar perdido. Parecia que tinha sido ontem quando ela cruzou aqueles portões, surpresa e assustada, para o seu primeiro ano na escola com Patrick ao seu lado tagarelando sem parar, falando sobre o castelo e as aulas e tudo mais que conseguia dizer em uma inspirada de ar. Soltou um suspiro. Como ele seria se ainda estivesse vivo? Às vezes sentia falta dele, Patrie tinha sido o seu primeiro amigo de verdade, aquele que sempre a apoiou e esteve ao seu lado. Ocasionalmente visitava a família dele, foi até no casamento da jovem Emma, a menina que ele deu a vida para salvar. Mas, mesmo assim, algumas vezes seus pensamentos divagavam e ela sempre se perguntava: e se ele estivesse vivo como seria a sua vida?
-Evan. – a mulher sorriu para o filho, dando um rápido abraço nele. –Você cresceu mais desde a última vez que eu te vi. – murmurou, passando a mão pelo rosto e cabelo do rapaz.
-Mãe, tem algum motivo para a senhora ter me chamado aqui? – Dallas segurou na mão de Evan, o puxando para um banco que tinha próximo a margem do lago, fazendo ele se sentar nele, sentando-se ao lado dele logo depois.
-Sim… eu queria saber meu filho o que você pretende fazer depois que se formar. – perguntou sem rodeios e Evan remexeu-se no banco. Era sobre isso que ele estava pensando assim que recebeu a mensagem dela pela manhã.
-Eu não sei mãe.
-Nada passou pela sua mente? Nada mesmo? – insistiu, olhando firmemente no rosto do jovem. Evan mordeu o lábio inferior, piscando os olhos azuis intensamente por detrás das lentes dos óculos. Tivera algumas idéias, mas não tinha certeza se elas eram realmente boas.
-Eu estava pensando em seguir alguma carreira trouxa. Não vejo nada no mundo bruxo que me agrade. Quero dizer, por um tempo achei interessante a carreira de auror… mas depois percebi que esse não era o meu ramo. Sem contar que eu não tenho paciência para poções e cura.
-E que carreira trouxa você está pretendendo seguir? – perguntou e Evan soltou uma risada.
-Bem, já que Day me iluminou dizendo que eu era um maníaco super protetor, precavido e perfeccionista que adorava administrar a vida dos outros… eu achei que Administração seria um ramo interessante. Sem contar que eu sempre gostei de cálculos, e Runas Antigas sempre foi a minha matéria favorita, assim como Astronomia. – Dallas apenas assentiu com a cabeça diante do que o filho estava falando. Interessante, o destino estava mais ajudando do a atrapalhando nessa decisão.
-Evan, eu tenho uma proposta para você. Mas antes de dizê-la eu tenho que alertá-lo, não vai ser algo fácil, não mesmo, e você tem que ter absoluta certeza do que quer antes de me dar à resposta. – falou seriamente e o garoto fez uma careta.
-Cruzes mãe, do jeito que você fala parece até que está me oferecendo um emprego de grande porte. Presidente de uma companhia ou algo assim. – gracejou com um meio sorriso.
-E estou. – retrucou a mulher e Evan recuou na cadeira como se tivesse levado um balaço no meio do estômago. Do que diabos a sua mãe estava falando? Uma proposta de emprego para ele? Onde, como, quando?
-Eu conversei com a minha avó… - o menino rapidamente fez uma careta, mas Dallas o interrompeu antes que ele pudesse dizer qualquer coisa. -… Eu sei no que você está pensando, eu sei o que você acha da sra. Winford pelo que você viu naquele incidente da penseira, mas fique sabendo que nós duas acertamos as nossas diferenças e eu disse claramente para ela que não estou capacitada para administrar os negócios da família, mas também disse que conheço alguém bom para o cargo. – e o mirou fixamente, fazendo o garoto recuar mais ainda diante do susto que a compreensão daquelas palavras causou.
-Você só pode estar de brincadeira, não é? Eu não entendo nada de negócios trouxas. Nada mesmo.
-Mas vai aprender. Você não vai se formar em Hogwarts e ser jogado direto na administração das empresas. Você vai para a faculdade, o meu pai vai te explicar e ensinar tudo o que você precisar saber e, com o tempo, você vai ser deixado por sua conta e se tornar o novo presidente das Empresas Winford. Você mesmo me disse que adora Runas e Astronomia. E a matemática básica dessas matérias é a mesma usada pelos trouxas. E você tem pulso firme Evan, não cede fácil a pressão e sabe liderar. O perfil perfeito para este cargo. – o moreno estava em choque, não acreditando no que estava ouvindo. A sua própria mãe estava sugerindo que ele assumisse uma posição que ela mesma recusou dentro da sua antiga família?
-Mãe… a senhora bebeu ou algo do gênero? Não faz nem alguns dias que eu mesmo te vi lançando olhares mortíferos a sra. Winford e dizendo veemente que não aceitaria nada vindo dela, e agora está me propondo isso!
-Evan, eu não estava errada quando disse que a minha avó só se aproximou de mim porque queria alguém para assumir as rédeas da família. Mas eu deixei bem claro para ela que não era mais apta para esse cargo. Não sou mais uma adolescente ou uma mulher jovem. Já criei raízes no mundo bruxo que são difíceis de cortar. Não conseguiria dividir novamente a minha vida ao meio, me dividir ao meio dessa maneira. Ser o presidente das empresas Winford, ser um Winford requer muito mais que habilidade nos negócios. Requer habilidades sociais e políticas as quais eu não possuo mais. Não tenho mais disposição para ficar indo e vindo nos dois mundos. Mas você meu filho, você é diferente. Você é jovem, você se adapta fácil às mudanças, você é inteligente, é tudo o que os Winford precisam.
-Mas eu não sou um Winford, eu sou um Potter. – Dallas deu um meio sorriso, segurando as mãos do filho entre as suas.
-Era o que eu sempre me dizia durante esses meses desde que Amélia retornou a minha vida. Eu não sou mais uma Winford, agora eu sou uma Potter. Mas… - ela soltou uma risada. -… quer saber de um segredo? – Evan assentiu positivamente com a cabeça. -… na minha certidão de casamento está escrito claramente: Dallas Geraldine Winford Potter. Eu só nunca mais assinei o Winford, mas ele está lá. Ou você nunca se questionou o que significava aquele W abreviado na sua certidão de nascimento? – Evan arregalou os olhos. O W era de Winford? Ele pensava que era algum nome do meio. Se bem que seria estranho ele ter dois nomes do meio, mas nunca se importou com isso mesmo. –Eu só percebi de uma maneira dura que a gente nem sempre pode fugir do que a gente realmente é. Eu larguei tudo para trás há anos atrás, mas isso não diminui o que eu sou. Descobri que vir para o mundo bruxo não mudou o que eu sou, apenas acrescentou algo mais a minha pessoa. Descobri que, apesar de tudo, tenho orgulho do nome que carrego. Porém, a única diferença é que eu não tenho a mesma paixão que a minha avó. Não sou tão apegada assim a uma tradição centenária que significa o nome Winford, apenas isso.
-E você espera que eu seja algo que você rejeitou por todos esses anos? – perguntou com os olhos estreitos e brilhantes e com os lábios comprimidos em uma linha fina.
-Não! – Dallas rapidamente o corrigiu. –Eu espero que você seja o que desejar ser. Eu lhe disse antes de começar essa conversa Evan, de que eu não estava te impondo nada, estava te dando uma escolha. Diferente de mim, você está tendo uma escolha. Você não vai ser menos Potter se resolver ir para o mundo trouxa administrar um legado que não é apenas seu, mas dos seus irmãos e dos seus futuros filhos. E lembre-se que um sobrenome pode pesar muito, mas o que vale é a pessoa que você realmente é. Você com certeza deve ter aprendido isso de acordo com os anos, não é mesmo, com os amigos que fez. Afinal, você teve que escolher entre aqueles que queriam ser seus amigos porque você é um Potter e entre aqueles que queriam ser seus amigos porque você é o Evan.
-Eu… - murmurou incerto, soltando as suas mãos de entre as delas e erguendo-se da cadeira, começando a caminhar de um lado para o outro no banco de areia que tinha na margem do lago. Uma escolha, ela dizia. Se ele escolhesse, iria para o mundo trouxa e se tornaria o presidente de uma empresa altamente conceituada, sempre sendo foco da mídia e da alta sociedade. Se ficasse no mundo bruxo ainda sim seria olhado pelas pessoas, mas como o "filho do famoso Harry Potter". Parou e ponderou um pouco com a ironia. Certo que a sua infância e adolescência foram totalmente diferentes da sua mãe. A sua família nunca lhe cobrou nada, nunca lhe exigiu nada, apenas queria que ele fosse ele mesmo. Porém a comunidade bruxa era diferente, sempre olhava para os filhos do famoso Potter como exemplo para os seus filhos, sempre criando expectativas sobre eles. Interessante, estava começando a fazer o caminho inverso que Dallas. Mas, diferente da mulher, ele não estava largando nada, fugindo de nada, apenas queria saber como seria se ele conseguisse as coisas por mérito próprio e a admiração das pessoas por seus próprios feitos. E essa parecia ser uma oportunidade interessante e não doeria tentar. Afinal, foi como a mãe dele disse, estava cuidando de um legado que não era só dele, mas sim de seus irmãos. Soltou um longo suspiro e ficou em silêncio por alguns minutos, observando com interesse a lula nadar suavemente sobre a superfície do lago. Depois de pelo menos dez minutos voltou-se para a mãe.
-Sim. – declarou e Dallas piscou os olhos querendo que ele elaborasse mais aquela frase. –Diga ao vovô que eu aceito. – a mulher sorriu um pouco. –Mas diga a sra. Winford que eu só prestarei contas ao meu avô. Que é para ela não se meter e que se ela tentar em algum momento controlar meus passos ou decisões eu a mando para o inferno. Se ela quer um presidente para as empresas da família ela vai ter, e eu não aceitarei palpites de quem está de fora, e principalmente não aceitarei palpites dela. – Dallas riu e acenou positivamente com a cabeça já pensando nas possibilidades. Certo que ainda estava temerosa por jogar Evan na jaula dos leões, mas ele era um leão por si só e tão perigoso quanto os outros. E, com certeza, se Amélia tentasse alguma coisa contra ele seria mordida dolorosamente, disso não duvidava.
-Bem, eu avisarei a ela, com certeza. – disse erguendo-se do banco e ajeitando a sua saia displicentemente.
-Er… mãe? O que a senhora está fazendo aqui? Veio só para me dizer isso? – perguntou curioso e viu Dallas franzir as sobrancelhas e morder o lábio inferior.
-Na verdade não, seu pai e eu viemos falar com o diretor sobre o Day.
-Day? O que tem o Day? – perguntou subitamente preocupado. –Ele não vai ser expulso por aquilo que aconteceu, vai? Não é justo, eu vou falar com o Dumbledore que não foi culpa do Day, aqueles idiotas é que não tinham… - começou mas bruscamente foi interrompido por Dallas.
-Pelo jeito que você está defendendo o seu irmão acredito que vocês fizeram as pazes, estou certa? – Evan deu um aceno positivo com a cabeça. –Bom. Não queria vocês dois brigados quando o seu irmão fosse embora.
-Embora? Embora para onde? Ele realmente foi expulso? – continuou o rapaz já ficando vermelho de raiva. Isso era injusto, não tinha sido culpa do Day o que tinha acontecido no estádio de Quadribol no dia do jogo.
-Ele não foi expulso. Acontece que parece que Day é como o seu pai, Evan. E como ainda não tem controle dos seus poderes Dumbledore sugeriu que ele fosse para uma escola especializada no caso dele, uma escola de Magos na Groenlândia.
-Groenlândia? – disse estupefato, recuando um passo e quase tropeçando nos pés.
-Não faça essa cara, não estou tão feliz assim com a proposta, mas a decisão é do Day e a gente tem que acatar.
-Mas a Groenlândia? – repetiu abobado e Dallas riu um pouco, afagando os cabelos negros do rapaz.
-Não fique assim, seu precioso irmãozinho vai voltar são e salvo e, com certeza, bem melhor do que antes. – riu mais ainda, dando um beijo estalado na bochecha dele e caminhando em direção aos portões da escola. Há essa hora Harry já deveria estar impaciente esperando por ela em Hogsmeade.
Os dias haviam se passado de maneira estranha e sombria em Hogwarts. Primeiro porque metade da escola estava de muito mau humor por causa dos pontos perdidos pelas casas e pelas detenções severas que os professores estavam passando. Segundo porque sempre que os curiosos davam relances ao casal mais comentado do momento, viam que um clima estranho rodeava os dois. Alexei não tinha sido visto perto de Day por dias. E, terceiro, era porque o Profeta Diário fez questão de contar a todo o mundo bruxo sobre a atual situação de um dos herdeiros do Potter e conseqüentemente o jornal estava sendo processado por causa de algumas frases ofensivas que foi publicado nele. Na verdade, Rita Skeeter estava sendo processada por algumas frases ofensivas e algumas mentiras que tinha criado sobre o garoto. Afinal, Harry Potter não gostou nada de abrir o jornal e ver o que tinham escrito sobre o seu filho na primeira página. Mais um motivo para todos estarem andando na linha já que os poderes de Day foram herdados do pai e, se um filho não treinado poderia ser perigoso, imagina um pai treinado e extremamente furioso? Pobre Skeeter era o que alguns pensavam.
Na mesa da Sonserina Hannah parecia estar sumindo na sua cadeira de tanto que se encolhia, lançando vez ou outra olhares para a mesa da Grifinória. Como toda boa fofoca, a notícia havia corrido como rastilho de pólvora pela escola. Já era de conhecimento geral que o jovem Potter estava indo embora para receber "educação adequada diante do seu caso", segundo os professores. E Hannah era a que estava gostando menos da idéia de ver o seu gêmeo partir. Claro que sendo vencida por Alexei, que gostava menos ainda da idéia de ver o namorado ir embora, mas morreria antes de admitir tal fraqueza.
-Ah, pelo amor de Merlin! – Catharine rolou os olhos exasperada. –Ele não está a um passo da morte Hannie, apenas vai estudar em outro lugar. – cutucou a garota que ergueu os olhos verdes para mirar os negros da amiga, ainda desconsolada.
-Mas eu vou sentir falta do meu carneirinho. – murmurou num muxoxo e a menina Snape riu.
-Olha, acho que ele já perdeu esse título faz tempos. – caçoou e Hannah lançou um olhar mortal para a amiga. O incidente no campo de Quadribol era algo que não era mais comentado por ninguém, quase como se fosse uma lei. Ninguém queria saber o quão pior uma detenção com Filch poderia ficar se os professores descobrissem alunos comentando sobre o caso.
Na mesa da Grifinória Day lançou um longo olhar para a mesa da Sonserina para ver se conseguia chamar a atenção de um certo alguém, mas, como nas outras vezes, Alexei o ignorava veementemente. Soltou um ruidoso resmungo, jogando o garfo de maneira violenta contra o prato e atraindo a atenção de alguns alunos que estavam sentados a sua volta. Rory ergueu os olhos do livro que lia e franziu as sobrancelhas loiras para ele enquanto Evan apoiava a cabeça em uma das mãos e mirava o irmão intensamente, esperando que ele desabafasse.
-Isso é totalmente ridículo. – falou entre dentes e Evan rolou os olhos, voltando a sua atenção à comida. Não gostava muito de ouvir sobre a relação de Day com Yatcheslav, mesmo que agora tolerasse o sonserino. Deixava essas coisas a encargo de Rory, de quem ele tinha se aproximado consideravelmente desde a sua briga com o irmão. –Eu parto amanhã e durante essa semana ele não dirigiu uma palavra para mim, nem mesmo um olhar. Isso está me enervando. Ele age como se eu tivesse terminado o namoro ou o traído.
-Talvez ele realmente se sinta traído. – comentou Rowena de maneira displicente, voltando o seu olhar para o livro que lia. –Quando vocês finalmente se acertam você diz para ele que vai embora. Se para nós que somos os seus amigos está difícil de aceitar a perda, imagina para ele?
-Vocês falam como se eu estivesse morrendo. Eu vou voltar, sabia? Não vou ficar lá para sempre!
-Day… - a loira deu um longo e sofrido suspiro. Talvez o garoto não estivesse vendo o verdadeiro x da questão. -… ser um mago pode ser uma maldição ou uma benção. Todo mago tem em seu interior uma sede oculta por conhecimento ou poder, isso depende do curso que ele tomar na vida. Se ele seguir a linha da luz se tornará uma criatura sedenta por conhecimento, se seguir à linha das trevas será alguém sedento por poder. Talvez seja isso que ele tema e que todos nós temamos. Que quando você termine esse curso você queira mais. Você se libertou das correntes que criou para você e nada garante ao Yatcheslav que você queira ser acorrentado novamente agora que está livre. – o menino piscou os olhos violetas, tentando compreender o que a amiga tinha acabado de falar. Evan rolou os olhos frustrado e resolveu esclarecer mais as coisas para o irmão.
-Seguinte pirralho! O que ela está querendo dizer é que o arrogante do Yatcheslav é idiota o suficiente para não admitir que está inseguro. Você está indo para um outro lugar e vai conhecer pessoas novas e pode haver a probabilidade de conhecer um outro cara no caminho e dar um pé na bunda dele. É por isso que ele está agindo assim. Ele prefere se fechar dentro de si mesmo e te ignorar, do que se expor demais e correr o risco de ser ferido por você. – Day brigaria com Evan pelas escolhas das palavras que ele usou ao se referir ao seu namorado se o irmão não estivesse absolutamente certo. Porém, havia uma coisa que ninguém sabia, nem mesmo o Alexei. Ele jamais largaria o russo, mesmo que quisesse. Porque se isso acontecesse, Day estaria perdido. Afinal, cada mago precisava do seu equilíbrio.
-Mas ele é meu… - começou, mas calou-se rapidamente. Era inútil, conhecia Lex bem o suficiente para saber que nada do que ele dissesse iria convencer a cabeça dura dele de que ele não seria trocado por outro, de que ele voltaria para os braços do sonserino quando tudo terminasse. Que no final tudo daria certo.
O dia passou lentamente para Day como se o relógio estivesse andando para trás. Cada vez que ele saía de uma sala de aula para ir para a próxima parecia sentir os seus passos ficarem mais lentos e os seus olhos percorriam os corredores como se os vissem pela primeira vez. E a cada minuto que passava borboletas pareciam voar descontroladas dentro da sua barriga e o medo surgia em seu ser. As paredes de pedras de Hogwarts sempre foram o seu lar longe do lar e agora estava deixando os dois para trás e isso ao mesmo o assustava e o excitava. Parou em frente a uma estante e mirou os troféus que estavam nela. Sorriu ao ver dois troféus de Quadribol lá, dois da Grifinória, um mais antigo com o nome do seu avô gravado e um mais recente com o nome do seu pai. Mas, ao que parecia, ele não teria um troféu com o seu nome ao lado dos outros. Ia sentir falta de Hogwarts, das suas torres, da sua sala comunal, das vezes que escapava a noite para poder se encontrar com Alexei. Achava que até sentiria falta das enfadonhas aulas de História da Magia. Recostou-se na parede e deslizou por ela até o chão, abraçando os joelhos. Uma lágrima rolou de seus olhos violetas e o garoto fungou. Já estava com saudades de casa e ainda nem tinha ido embora.
-Hei? – alguém o chamou e uma figura ajoelhou-se na sua frente. Day ergueu os olhos para encontrar-se com os olhos claros de Sirius que sorria para ele. –O que está fazendo aqui? Não deveria estar indo para a aula? – perguntou o animago e Day deu de ombros. De repente não tinha disposição para assistir mais nenhuma aula. –Eita garoto, por que está chorando? – perguntou o homem, secando com as pontas dos dedos as lágrimas do seu neto postiço.
-Eu vou sentir falta daqui, Almofadinhas. – murmurou com uma voz mínima.
-Todo mundo sente falta de Hogwarts, garoto. Afinal, apesar de tudo, nossos melhores anos de vida são dentro dessas paredes. Mas com certeza você volta. Hogwarts parece ter o dom de sempre trazer de volta para ela os seus filhos queridos.
-Eu esperava levar boas lembranças daqui quando partisse, mas os últimos dias não foram muito felizes.
-Eu soube. Soube da sua briga com o menino Yatcheslav. Não fique assim Max, ele supera.
-Quando? Quando eu já estiver na Groenlândia longe dele? Não queria ir embora chateado com ninguém. Quando eu finalmente me acerto com o meu irmão meu namorado resolve me dar um passa fora. Que sorte eu tenho hum? Meu pai passou por isso quando tinha a minha idade? Ser mago não é fácil. – resmungou de maneira infantil, fazendo um beicinho, e Sirius riu.
-Ah o primeiro amor… - começou mais foi interrompido por um olhar extremamente sério de Day.
-Único amor. Essa coisa de primeiro da à conotação de que virão outros. Mas não virão outros. Alexei é e sempre será o único homem que eu vou amar. – Sirius piscou surpreso diante da seriedade na voz de um menino tão novo.
-Tem certeza disso, Max? Quando somos jovens sempre achamos que vamos amar uma pessoa para sempre, mas…
-Minha mãe se apaixonou por meu pai quando tinha onze anos e isso continuou até hoje. O mesmo valeu para o meu pai. Eu tenho certeza que ele se apaixonou por minha mãe quando a viu, só levou mais tempo para admitir.
-Como você sabe disso? – perguntou curioso e Day deu de ombros.
-Eu não sei, eu apenas sei.
-Se você tem tanta certeza então se anime. Porque se o seu destino está traçado para ser igual ao dos seus pais, eu tenho certeza que o Yatcheslav vai te esperar, assim como a Dallas esperou por Harry. – ergueu-se, estendendo uma mão para Day que a aceitou e deixou-se ser puxado do chão.
-Espero que você esteja certo. – murmurou o garoto, sendo rapidamente puxado para um abraço apertado de Sirius.
-E quando é que o grande Almofadinhas não está certo? – riu maroto, passando um braço sobre os ombros do garoto e o acompanhando para a próxima aula.
