Descubra-se

Draco vinha notando os olhares de Zabini há já algum tempo. Nem era preciso usar sua empatia para perceber que o que Zabini sentia era só uma luxúria exacerbada. Puro desejo. Draco não era tolo, e sabia que muitos na escola se sentiam atraídos por ele, que, no entanto, preferia evitar todo e qualquer contato.

Se algum desses admiradores e admiradoras descobrisse o que ele realmente era, iria passar da paixão ao nojo mais rápido do que um feitiço.

De todos os admiradores, o que mais o incomodava era justamente Zabini. Havia crueldade por trás de toda aquela paixão. E hoje Draco teria de ir à mesma festa que Zabini: a festa pela conclusão dos NIEMs que a Sonserina vinha planejando desde o início do mês. Algumas garrafas de firewhiskey seriam abertas, e provavelmente não haveria hora para terminar.

Nos meses em que estivera treinando com Snape, desde sua transformação, Draco afiara sua intuição, e ela estava gritando perigo. Isso o fazia ter vontade de correr para perto do Professor em busca da segurança calma que ele lhe dava. Mas Draco vinha se contendo para não correr para Snape a toda hora. Não achava boa idéia tornar-se tão dependente do Professor, que andava ainda mais fechado, agora que o treinamento de Draco aproximava-se do final.

Snape estava mais distante e frio do que nunca. Algumas vezes Draco gostaria de ver o que o Professor escondia, saber por que Snape, tão irritantemente, cortava todas as tentativas de aproximação que ele fazia.

Draco gostava de observar o porte altivo do Mestre de Poções, e apreciava seu humor quase cruel. A gratidão por ter protegido seu segredo mesclava-se à admiração pela astúcia e coragem de Snape como espião. Draco não podia evitar um sentimento de orgulho por Snape ousar espionar o Lord das Trevas. E medo de que lhe acontecesse alguma coisa sempre que ele saía da escola para encontrar o Lord das Trevas.

Em algumas aulas, ele se distraía observando as mãos do Professor. Seus gestos elegantes e a força que se escondia nas mãos que, Draco tinha certeza, eram extremamente sensíveis.

Mãos que nos primeiros meses de sua nova condição o apararam muitas vezes, mas que, fazia muito tempo, não o tocavam.

Nas conversas que se seguiam aos treinos, Draco viu-se falando de sentimentos e opiniões que nunca expressara a ninguém, e pôde conhecer um pouco da mente fascinante de seu Professor.

Às vezes Draco tinha a impressão de que seu mundo girava em torno de Snape, e ele não sabia como se sentia a esse respeito.

Mais um mês e seu treinamento estaria concluído. E então ele teria de decidir o que fazer de sua própria vida. Estranhamente, não era isso o que mais preocupava Draco. O que ele mais temia era ver-se separado de Snape. Por isso tentava não se apegar ainda mais ao Professor e, preferindo ignorar sua vontade de se esconder junto a ele, foi para festa em uma sala remota das masmorras.

Tendo sido o último a chegar, Draco se deparou com alguns colegas já bastante alterados, e alguns casais já bem animados nos cantos.

Com um copo de firewhiskey intocado nas mãos, Draco tentava parecer descontraído para não chamar muita atenção, e se perguntava em quanto tempo poderia sair dali sem dar muito na vista quando sentiu alguém segurá-lo pelo cotovelo.

Sua intuição deu alerta de imediato e, antes mesmo de se virar, ele já sabia que era Zabini, que ele estava bêbado e que oferecia perigo.

—Draco Malfoy! Cada dia mais lindo.

—Oi, Zabini.

—Oi, Zabini? Só "Oi, Zabini"? Vamos lá Draco! Terminamos a escola! O dia merece celebração!

Zabini o apertou em um abraço exagerado que Draco suportou um pouco antes de se afastar.

—Preciso ver uma coisa, Zabini. Me dá licença.

Misturando-se à multidão, Draco escapuliu da festa, pouco se importando se alguém achasse estranho; sentia que precisava pôr uma distância segura entre ele e Zabini. Mas o outro previra a manobra e o esperava atrás de uma armadura nos corredores das masmorras.

Com o medo bloqueando sua intuição, Draco não o percebeu até ser tarde demais e estar prensado contra a parede, com Zabini tentando beijá-lo.

Por alguns segundos, Draco gelou de nojo e medo, mas em algum lugar de sua mente a memória de seu pai lhe ensinando uma antiga forma de luta bruxa aflorou. Draco nunca fora muito bom nisso, para vergonha de Lucius, mas o golpe que ele usou na traquéia de Zabini teria deixado seu pai orgulhoso.

Antes que Zabini se recuperasse, Draco saiu correndo em direção à sala que considerava seu refúgio, a mesma onde se transformara e que ele chamava de Quarto da Aberração. Sempre se refugiava ali quando precisava ficar sozinho, e agora ele precisava de abrigo. Zabini era mais forte e, mesmo bêbado, seria mais rápido do que ele. O seu quarto estava longe demais, e naquela sala havia feitiços de proteção que só poderiam ser quebrados pelo Diretor ou pelo Professor Snape. Draco se sentia seguro lá.

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Na noite depois da última prova dos NIEMs, os setimanistas das casas costumavam fazer suas festas, acreditando que os professores não sabiam disso. Severus, assim como os demais Diretores de Casa, tinha ordens de vigiar atentamente a festinha da sua Casa, mas só interferir para coibir abusos. Dumbledore parecia ter a idéia que extravasar um pouco faria bem aos jovens depois de dias tão estressantes.

Pelo espelho de vigilância em sua sala, Severus viu Draco chegar na festa. O andar elegante e a beleza de Draco chamariam a atenção em qualquer lugar. Severus permitiu-se observar o garoto. Em breve eles se afastariam e aquela paixão inútil que lhe queimava o peito iria esfriar.

Algumas vezes nos últimos meses Severus achara que ia enlouquecer. Tudo em sua alma e em seu corpo gritava para proteger aquele ser tão único e lindo. Ele viu, com satisfação, Draco se fortalecer, tornar-se mais seguro no uso de seus novos dons. Severus aprendera a apreciar a maneira como ele mudava o modo de agir,encontrando aos poucos o equilíbrio nas suas reações, tornando-se mais sábio ao lidar com a dualidade masculina e feminina dentro dele. E a cada dia Draco se tornava mais bonito.

Mas ele ainda referia a si mesmo como Aberração. Severus sabia que ele negava-se a gostar de seu corpo, negava-se a pensar na possibilidade de ter alguém um dia. Apesar disso aliviar os ciúmes de Severus, ele temia o que essa escolha faria com Draco.

Adoraria dizer ao garoto que ele não era repulsivo, que era só diferente. Mas não se atrevia a destampar essa caixa de Pandora. Já era um inferno conter-se sem tocar no assunto; se ele começasse a falar não poderia controlar o que faria.

Severus viu Zabini sair da festa cedo demais e esconder-se nas sombras atrás de uma armadura. Imaginou que ele estivesse esperando alguém.

Concentrou-se por alguns instantes nos testes finais do terceiro ano e quando ergueu a cabeça viu que Zabini se agarrava com Draco, prensando o corpo menor e mais frágil do seu garoto contra a parede.

Severus não podia ver o rosto de quem Zabini beijava, mas tinha certeza que era Draco que estava ali; sabia que era o seu garoto que estava ali. Sendo tocado por outro.

Severus pensou por um instante que poderia matar Draco. Que poderia matar os dois alunos. Foi quando ele viu Draco golpear Zabini e sair correndo.

Afinal Draco não queria Zabini, estava sendo forçado! Severus sentiu que ia definitivamente matar Zabini. Mas depois. Agora ele precisava encontrar seu menino e ver como ele estava.

Com o coração batendo tão alto de fúria e preocupação que poderia ser ouvido na torre de Astronomia, Severus saiu da sua sala. Pelo que ele conhecia de Draco, o garoto se refugiaria na sala em que sofrera a metamorfose. Torcendo para estar certo, Severus se dirigiu para lá, e Zabini teve a sorte de não cruzar seu caminho.

Severus praticamente arrancou a porta da sala com o feitiço que usou para abri-la e, antes mesmo que o eco da pancada que deu para fechá-la se dissipasse, já estava junto a Draco, que se apoiava na mesa, ainda respirando com dificuldade.

O impulso de Severus era de tomar o garoto nos braços e acalentá-lo.

—NÃO TENHA PENA DE MIM!

O berro e o súbito virar-se de Draco pegaram Severus de surpresa.

—Mas o que...

—NÃO TENHA PENA! EU NÃO PRECISO DA SUA PENA.

—Contenha-se, Draco. – Snape usou sua voz mais gelada na tentativa de acalmar o garoto.

—NÃO! SAI DAQUI! Eu posso ser uma aberração, Professor, mas ainda tenho um resto de amor próprio. Não precisa vir derramar sua piedade em cima de mim.

Aberração.

A maldita palavra que Draco vinha usando para se descrever era a mesma que Severus já recebera na face vez sem conta na sua adolescência.

Aberração.

Aquele som encheu o Professor de ira, e ele encarou o garoto com raiva gelada.

—Menino tolo. Você sempre será uma aberração, porque escolheu ser uma.

—Como é que é?

Em outro dia talvez Severus se detivesse diante da expressão de dor no rosto do garoto, mas o esforço de reprimir seus sentimentos enquanto treinava Draco nos últimos meses e a gama de sensações que tivera nos últimos minutos tinham esgotado sua capacidade de controle. Nunca em sua vida Severus se sentira tão vulnerável. E, para defender-se, ele escolheu atacar:

—É isso mesmo, Draco. Você escolheu ser uma aberração. ESCOLHEU. Todos os dias você reforça essa escolha. Você quer que tenham pena de você, o pobre garoto que sofre tanto por ser diferente. Esconde-se nessa máscara de mártir e vítima do destino porque não tem coragem de seguir sua vida. – A voz de Snape era baixa e cruel como nunca usara com Draco antes. – Não falem com ele sobre sua condição! Não usem a palavra hermafrodita perto dele! Coitadinho, ele é uma aberração. Você é um tolo mimado, isso sim.

Draco recuara até a parede e olhava, pálido e sem ação, para Snape.

—Se você tivesse mesmo algum traço de amor próprio, não se referiria a você mesmo dessa forma, não se veria como uma aberração. Mas você esqueceu seu amor próprio, você só tem é medo, Draco. Medo de viver.

Snape virou-se para deixar a sala quando Draco finalmente falou:

—E você? O que soterrou seu amor próprio?

Snape reconheceu a dor escondida na frieza da voz típica de um Malfoy.

—Hein, Professor? O que foi? - Draco se aproximava com um andar de predador. – Olhe bem para você. Não sou eu que afasto as pessoas, não sou eu quem tem medo de viver. Eu não posso mudar o que eu sou; você poderia pelo menos lavar o cabelo e dar um jeito nesses dentes. Mas você ESCOLHEU ser assim. Sujo, seboso, sombrio.

Aquilo doeu. Doeu tanto que Snape teve ganas de apertar o arrogante pescoço à sua frente.

—Não desconte em mim a sua frustração, Malfoy. Olhe-se no espelho e descubra quem você é, Aberração.

—OLHE-SE VOCÊ TAMBÉM! VOCÊ TAMBÉM É UMA ABERRAÇÃO!

O grito de Draco alcançou Severus já no corredor. Se não saísse dali ele cometeria um assassinato.

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Draco ficou parado ali, tremendo de raiva.

Entrara ali para se esconder e aquele louco viera ... viera... sabe-se lá o que aquele desgraçado viera fazer.

Banho. Ele precisava de um banho. Livrar-se da baba nojenta do Zabini e da aura asquerosa do Snape.

Draco entrou no salão comunal de sua casa tão rápido que quase derrubou uma garota que estava no caminho. Zabini se aproximou, sonso, mas Draco o arremessou do outro lado da sala com um feitiço.

Parando por um instante para olhar o aturdido colega, ele avisou:

—Aproxime-se de mim novamente e eu te mato.

Pela expressão de Zabini, Draco viu que ele não duvidava disso.

Já no seu quarto, Draco trancou a porta e enfiou-se no chuveiro ainda tremendo de fúria e dor.

—Não sou covarde, não sou um fraco. Desgraçado, como você fala assim comigo?

Suas lágrimas se misturaram à água que escorria no rosto. Foi preciso um bom tempo para que ele se acalmasse e terminasse seu banho.

Draco secou-se com um feitiço que aprendera para não ter de se tocar, e vestiu um roupão de seda verde-escuro com prata nos punhos. Presente da sua mãe.

Enquanto secava os cabelos, que já vinham até pouco abaixo do ombro, a voz de Snape acusando-o de covardia ecoava novamente em sua mente.

—Olhe-se no espelho e descubra quem você é! Idiota. Descubra-se ele. Como se isso fosse fácil. Como se fosse possível. Como se eu já não soubesse.

À medida que ia se acalmando, Draco podia lembrar de um eco de dor na raiva do Professor. E foi essa dor que fez Draco ceder.

Sentado ali, na cama, ele apontou a varinha para o espelho e descerrou as cortinas que o cobriam. Draco viu-se sentado e triste na imagem do espelho. Flutuou o espelho até próximo à cama e, ficando de pé, encarou sua imagem pela primeira vez em meses.

Ele viu uma pessoa belíssima; os traços delicados, mas não totalmente femininos, poderiam ser de um homem ou de uma mulher. O cabelo loiro e fino caía como seda nos ombros, combinando com a seda do roupão que, meio aberto, mostrava os ombros e o início do colo de Draco.

Respirando fundo, ele começou a deixar o roupão deslizar pelo corpo lentamente.

Engolindo em seco, Draco Malfoy preparou-se para descobrir seu corpo.

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Snape saiu da sala tão furioso que não viu onde seus passos o levavam. Quando deu por si, estava entrando na enfermaria e assustando Madame Pomfrey com seu estado exaltado.

—Severus! Aconteceu alguma coisa?

Sem conseguir falar, ele limitava-se a andar agitado pela enfermaria, sua capa volteando em torno dele. Severus olhava para todos os lados menos para a velha enfermeira.

—Severus. O que houve?

Onde estava o seu proverbial controle que o mantivera lúcido e vivo nos últimos anos? Como um garoto podia reduzir o melhor espião da Ordem a esse feixe de nervos descontrolados?

—Severus? – A voz de Pomfrey tinha o mesmo tom suave que ela reservava só para ele na sua época de estudante. O tom que o fizera gostar da velha senhora já naquela época. O tom que o desarmou de vez.

Ele a olhou nos olhos, pela primeira vez em dezesseis anos totalmente incapaz de esconder a dor que sentia.

Como se sempre estivesse esperando por isso, a velha enfermeira abriu os braços.

—Severus...

Ele se abrigou naquele abraço como se abrigara no colo da mãe quando tudo parecia desmoronar na sua casa. E Pomfrey o manteve ali, abrigado, até que ele reencontrasse sua voz.

—Eu sou um idiota, Papoula.

—Não, meu querido, você não é. Você só se apaixonou.

—Como você... Céus, Papoula. É tão óbvio assim? Isso não podia ter acontecido.

—Só ficou óbvio para mim e Albus, meu querido. E isso podia acontecer, sim. Devia acontecer. Severus, você precisava abrir seu coração um dia.

—Abrir meu coração. – Severus olhou amargo para suas mãos. – Eu não passo de um sujo, seboso e sombrio Professor de Poções. Ele mesmo me disse isso. Sou um velho morcego idiota que se enamorou do sol. Um espião amaldiçoado que só traz dor aos que estão perto dele. Draco está certo. A aberração sou eu.

—Vocês brigaram.

—Sim. Tivemos uma discussão. Eu esqueci quem sou, o que sou. Por um momento eu esqueci de tudo, e nós brigamos.

—Você foi duro com ele e ele revidou.

Severus manteve o silêncio. De que adiantava discutir com aquela bruxa velha, se ela estava certa.

—Ele me acha asqueroso. – Severus se agarrava às ofensas ouvidas, revolvendo a ferida e amando a dor. – Ele tem nojo de mim. Me disse para lavar o cabelo e dar um jeito nesses dentes.

—Bem, Severus, ele está certo.

—O quê? Pomfrey!

—Um feitiço. Um único feitiço e eu dou um jeito nos seus dentes. Você é um Professor de Poções, faz as mais complexas poções e não pode fazer um xampu que dê um jeito nesse seu cabelo? Francamente, Severus! E ponha alguma cor nessa roupa também.

—Eu não pretendo...

—Você não pretende nada. Abra a boca.

Atropelado pelo afã da velha bruxa, que se aproveitava de sua guarda baixa, Severus mal percebeu o feitiço limpante em seus dentes e, quando deu por si, estava recebendo ordens de bochechar uma poção e cuspir.

—Há anos que eu quero fazer isso, meu jovem.

Pelo menos alguém parecia feliz com tudo aquilo.

A velha enfermeira o arrastou para seu laboratório, e Severus disse a si mesmo que só queria ficar livre dela, mas acabou fazendo um xampu à base de ervas e frutas e deixando que a velha senhora lavasse sua cabeça.

—Só falta um pouco de cor nessa roupa, Severus. Um pouco de verde, talvez? E mostre a todos que você não é nem sujo, nem seboso e só um pouco sombrio. Mas isso até lhe dá certo charme.

Pomfrey saiu, deixando Severus sozinho para encarar o espelho.

A imagem que ele viu parecia muito mais jovem do que horas atrás.

Seu cabelo era agora uma cortina densa e suave de seda negra que caía abaixo do ombro. Em algum momento, ele deixara a bruxa maluca cortar seu cabelo. Seja o que for que ela fizera, seu rosto parecia mais leve, menos sombrio.

Sua face ainda tinha marcas de anos de guerra e solidão. Mas ele conseguiu forçar um sorriso e, surpreendentemente, o espelho não trincou.

Era uma imagem diferente, mas ainda era ele mesmo ali. Seus olhos tinham um outro brilho, e ele imaginava se Draco iria gostar do que estava vendo. Se o acharia menos repulsivo assim.

De repente Severus sentiu-se um velho ridículo tentando impressionar um garoto cobiçado que nunca ia querer nada com ele, e afastou-se do espelho decidido a não colocar nem uma gota de cor nas suas roupas. Pomfrey, afinal de contas, era mesmo louca.

Já em seu quarto, a lembrança da discussão com Draco voltou-lhe à mente. Ele fora muito duro como rapaz, mas precisava fazê-lo entender.

Severus deitou de bruços abraçando o travesseiro e perguntou-se como Draco estaria. Garoto tolo, tão frágil e tão lindo, tão forte e tão cruel.

Quando sentiu o toque suave do próprio cabelo no rosto, não pôde ignorar a vontade de saber se Draco iria gostar.

Ele poderia se chicotear por pensar nisso novamente.

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Draco olhava para seus ombros nus refletidos no espelho. Ombros largos, apesar de delicados e, ele foi obrigado a admitir, bonitos. Másculos.

Deixando o robe escorregar mais um pouco, expôs seus seios. Não muito grandes, caberiam nas mãos de um homem como o Professor Snape perfeitamente bem. Só de pensar nisso Draco sentiu-se arrepiar e os bicos rosados tornaram-se túrgidos.

Ele deixou a seda deslizar pelo seu corpo até o quadril. Seus braços não eram muito musculosos, apenas levemente trabalhados; sua cintura fina era definitivamente feminina.

Draco fechou os olhos e respirou fundo. De uma só vez, abriu os olhos e soltou o robe, ficando nu na frente do espelho.

Seu pênis, semi-ereto no momento, tinha a mesma aparência de sempre. Seus quadris não tinham a forma arredondada que uma garota teria, mas a parte que ele mais temia e queria ver estava oculta nessa posição.

Draco sentou-se na cama, de frente para o espelho e, apoiando um pé no colchão, entreabriu as pernas. Não sentiu nenhuma repulsa pelo que viu. Apenas um forte sentimento de identidade.

Snape estava certo, afinal. Ele precisava se ver assim.

Lembrar do Professor fez sua respiração se alterar, e ele desejou que Severus o visse assim. Exatamente assim. Exposto para ele.

Sua libido, duramente sufocada desde antes da transformação, eclodiu. Olhando nos próprios olhos, Draco levou a mão ao pênis que se enrijecera de vez quando pensara no Professor.

A outra mão encontrou um dos seios, que ele massageou suavemente. A sensação foi intensa demais, e Draco fechou os olhos enquanto deitava. Na sua fantasia não eram suas mãos que o acariciavam, mas as fascinantes mãos de Severus Snape.

Sua respiração se alterava à medida que ele aumentava o ritmo dos toques. À velha sensação de prazer somava-se agora um outro tipo de tesão. Mais intenso, menos agudo, mais profundo.

Ele desceu a mão lentamente dos seios até sua vagina, sentindo-a pela primeira vez.

Draco gemeu alto enquanto descobria como tocar sua parte feminina. Os ritmos dos toques eram diferentes, e isso era enlouquecedor.

Levando a mão da vagina à boca, aproveitando para acariciar o próprio corpo no caminho, ele gemeu sentindo a boca seca.

Sugando o dedo e descobrindo o gosto de sua intimidade, Draco aumentou a intensidade com que se masturbava. Movia os quadris e gemia o nome de Severus.

Há muito tempo Draco não se permitia isso, e a sensação de orgasmo foi avassaladora.

Mesmo trêmulo de prazer, ele ainda ardia de desejo e, virando-se de bruços, desejou que Severus estivesse ali para descobrir com ele como aplacar aquela ânsia muito mais intensa.

Gemendo baixinho, ele voltou a tocar sua parte feminina, suave e rápido, descobrindo os detalhes e os pontos de prazer, até que, contraindo músculos que ele nunca imaginara poder contrair, teve um segundo orgasmo.

Suado e feliz, ele virou-se de lado puxando uma coberta. Seu último e incoerente pensamento antes de dormir foi para Severus Snape, e como seria perfeito estar aninhado nos braços do Professor de Poções.