Aproveitando a Chance

Severus detestava sonhar com Black. Toda vez que esses sonhos aconteciam, o antigo desafeto aparecia tentando lhe dizer alguma coisa, que ele intuía ser importante, mas que não conseguia ouvir, e ele acabava acordando irritado. Dessa vez, no entanto, foi diferente.

Black estava sentado em um sofá, e Lupin tinha a cabeça no colo do animago, que lhe acariciava os cabelos com uma expressão carinhosa. Era uma bela cena. E quando Lupin abriu os olhos e sorriu para Severus, ele sorriu de volta.

Remus se sentou, mantendo-se ainda nos braços de Sirius, e indicou a Severus que se sentasse ao seu lado. Os três bruxos ficaram em silêncio por um tempo, até que Sirius falou:

—Não cometa o mesmo erro que eu, Severus. – Naquele sonho maluco a gentileza de Sirius era bem-vinda e não causava estranheza. – Não deixe sua chance de ser feliz escapar por insegurança.

—Sirius sempre me amou, Severus. Mas ele tinha medo que a única pessoa que realmente importava para ele fosse a única que o rejeitasse. Eu tinha medo por ser uma aberração.

—Não fala assim, Remus. - De repente era muito importante para o Severus do sonho consolar o lobisomem. – Você não é uma aberração.

—É, sim – Sirius o contradisse, rindo e fazendo Remus rir junto. – Ele é, eu sou, você é. E seu Draco também é. Não há nada de errado em ser uma aberração, em ser diferente.

Severus riu como nunca riria de um comentário de Black se estivesse acordado.

Ainda estava rindo quando reparou que Draco estava de pé a sua frente, parecendo confuso. Sirius e Remus o incentivavam a ir até o garoto.

—Vá, Severus. – Remus sorria e beijava o rosto de Sirius.

—Vá, Aberração. Vá cuidar da sua Aberração.

A outrora irritante risada de Sirius o acompanhou enquanto ele se aproximava de Draco. Quando ele abriu os braços, o garoto se aninhou neles.

Então era assim que as pessoas se sentiam quando estavam realmente felizes?

Draco ergueu o rosto; os lábios tão próximos da boca de Severus eram tentadores.

O despertador acordou Severus. Ele quase podia sentir o gosto da boca de Draco enquanto arremessava o maldito relógio contra a parede.

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Draco arregalou os olhos quando viu Snape entrar para o café da manhã: o cabelo dele estava limpo!

Esquecendo de comer, Draco simplesmente encarou o Professor enquanto mordia os lábios. Olhou tão fixo que Snape acabou olhando para ele de volta, e ergueu uma sobrancelha com um ar de enfado, tão obviamente falso que fez Draco sorrir.

Por um segundo ele teve a impressão de que Snape sorrira de volta.

Snape lavara os cabelos por causa dele. Isso era maravilhoso. Draco não escondia o enorme sorriso de felicidade.

Depois disso Draco já não achava que seria tão difícil ir falar com Snape sobre os treinos que ainda teria de ter. A reunião entre eles e Dumbledore estava marcada para depois do café da manhã, e o que antes parecera um momento ameaçador agora parecia uma chance. Draco ainda não conseguia saber chance de quê, mas estar com um Snape capaz de lavar os cabelos porque ele pedira era uma coisa muito... excitante!

Draco se sentia em uma bolha de felicidade, como se em seu mundo não houvesse problemas, ou como se eles fossem ser magicamente resolvidos. Tudo isso porque, ao invés de ficar com raiva dele, Snape lavara os cabelos e lhe dera um breve esboço de sorriso.

Talvez fosse um pouco patético, mas a atitude de Snape o deixava feliz.

Draco passou os olhos pelo salão e foi perdendo o sorriso. O novo visual do Professor de Poções estava provocando algum frisson entre os alunos e, se desbloqueando um pouco, Draco pôde sentir que uma ou outra pessoa no salão estava entusiasmada demais para seu gosto.

Draco marcou bem os mais assanhados e resolveu conferir Potter só por via das dúvidas; afinal o relacionamento de Potter com Snape era tão tempestuoso que deixava Draco desconfiado e enciumado. Mas o grifinório mantinha seus sentimentos tão ocultos que parecia uma peça de mobília.

Pelo menos ele estava se dedicando à namoradinha ruiva dele. Menos mal.

Tudo parecia normal. Foi nesse instante que o inferno começou.

Potter levou a mão à cicatriz e gritou de dor. Isso foi o suficiente para a grande maioria dos alunos entrar em pânico, assaltando os sentidos de Draco com os mais variados tons de medo.

Esforçando-se para manter a calma e o bloqueio, o garoto tornou a olhar para mesa dos professores em busca do apoio de Snape. Mas o Professor de Poções estava encolhido sobre o braço esquerdo e uma aura de dor o envolvia. Aquilo foi o suficiente para Draco descontrolar-se e abaixar seu bloqueio.

Antes de desmaiar, sufocado pelo caos emocional da escola, Draco teve uma certeza: alguma coisa muito, muito ruim estava para acontecer.

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A marca queimava mais forte do que em qualquer outra ocasião. Mas não era um chamado. Severus tinha certeza disso. Era um ataque. Ele estava sendo atacado diretamente.

O Lord descobrira sobre ele, de alguma forma. E, pelo escândalo que Potter estava fazendo, ele também devia estar sob ataque mental.

Severus viu Draco desmaiar, criando outro foco de comoção na mesa da Sonserina. Apesar da dor, ele correu para acudir o garoto, mal vendo que Minerva ia em direção a Potter, que tentava se levantar, ainda muito pálido.

Antes mesmo de Dumbledore conseguir acalmar os alunos, Severus já havia carregado Draco para fora do Salão Principal, rezando a algum deus que o garoto ficasse bem diante da onda de pânico que parecia dominar todos os outros.

Snape carregou Draco até o quarto nas masmorras onde ele sofrera a transformação. Ele tinha tarefas a desempenhar, mas não ia deixar o garoto sozinho enquanto ele não estivesse melhor.

Lentamente Draco foi recuperando a consciência, ainda nos braços de Severus.

—Respire, Draco. Só respire. Já vai passar. – Severus não tinha idéia de como conseguia manter tanta calma em uma situação tão desesperadora. Ele precisava que Draco estivesse bem antes de sair dali, e precisava muito ir para perto de Dumbledore: tinha de contar que fora descoberto e tentar entender o que estava acontecendo. Mas Draco era prioridade. Não ia abandoná-lo.

—Obrigado – a voz de Draco ainda soava frágil, mas ele já estava respirando normalmente.

—Você agradece pelo quê, Draco?

—Por ficar comigo quando precisa ir.

—Droga de capacidade de perceber sentimentos.

O jovem tentou um sorriso.

—Eu não quero que você vá.

—Você vai ficar bem aqui. Existem feitiços bloqueadores; os sentimentos exacerbados das pessoas na escola não vão atingir você. Apenas eu, Pomfrey ou o diretor podemos entrar aqui, ninguém lhe fará mal. - Severus tentava confortar Draco, enquanto o mantinha ainda em seus braços.

—Eu sei. Não estou com medo. Eu só não quero que você se fira. – Draco o soltou, aparentando relutância. – Mas você tem de ir. Eu sei que você precisa ir até Dumbledore. Então vá.

O Professor de Poções afastou-se até a porta sem olhar para trás, com medo de não ter coragem de deixar o garoto sozinho e ainda debilitado no meio daquela confusão.

—Severus... – Foi um choque ouvir seu nome pela primeira vez na boca de Draco. – Tome cuidado. Por favor, tome muito cuidado. Eu vou esperar você voltar.

Severus queria virar-se e tomar o garoto nos braços. Queria mandar o Lord, a guerra, o mundo para o inferno.

Mas ele só se voltou quando já estava no corredor, segurando a maçaneta da porta. Limitou-se a deixar cair qualquer disfarce que ele ainda mantivesse sobre o que sentia pelo garoto parado tão sozinho no meio do quarto, e viu Draco sorrir ao captar seu amor. E leu nos olhos dele que era correspondido.

—Eu volto, Draco. Prometo.

Fechando a porta com firmeza, Severus correu escada acima.

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A onda de amor que Draco captou de Severus era tudo o que ele precisava.

Severus o amava tão intensa e profundamente quanto Draco sonhara, mesmo não admitindo que era isso que queria. Era maravilhoso.

Mas, na ausência do Professor, o medo o atingiu. Dessa vez não era medo captado de outra pessoa, mas seu próprio medo de que acontecesse alguma coisa com Severus, de que ele não pudesse voltar. O Lord era terrível, e Draco o temia e detestava com todas as forças.

Durante aqueles meses, enquanto, a contragosto, se apaixonava por Severus, Draco descobrira de que lado o Professor realmente estava. Se por um lado se sentira aliviado por ele não ser como seu pai, por outro sempre tivera medo dessa hora. A hora do confronto, hora em que qualquer coisa poderia acontecer.

Abraçando-se, Draco sentou na cama e esperou.

Queria ter pedido a Severus que não fosse, mas sentira a preocupação do outro bruxo. Sentira a certeza de Severus de que se esconder agora era suicídio. E confiara no discernimento do homem que ele amava.

Deixara ele ir. Deixara ele se arriscar mais uma vez.

—Hécate, proteja-o!

Foi ainda sentado na cama que Pomfrey o encontrou algum tempo depois.

—Severus me disse que você estava aqui. A enfermaria está tranqüila, eu vim ficar um pouco com você, Draco.

—Onde ele está?

—Com Albus e Harry.

—No lugar mais arriscado.

—Sim, meu jovem. Como sempre, no lugar mais arriscado.

Draco secou as lágrimas que desciam silenciosas pelo seu rosto:

—Eu briguei com ele ontem. Por bobagem.

—Eu sei. Ele também disse bobagem para você, não foi?

—Ele estava certo. Eu é que fui idiota.

—Ele vai voltar, Draco.

A velha enfermeira apertou a mão de Draco, que sorriu para ela.

—O Diretor também, Madame Pomfrey.

A mulher fungou e tentou um sorriso:

—Sou um livro aberto para você, não?

—Eu tento não ler, é informação demais. Mas certas coisas são tão claras... Vocês dois merecem ficar bem. – Draco sentia uma necessidade enorme de ser gentil, de acalmar a todos e ter mais gente acreditando que tudo daria certo.

—Obrigada, criança. – Pomfrey respirou fundo. – Eu preciso voltar à enfermaria. Você vem comigo? Se as coisas ficarem difíceis para você lá, você volta. É melhor do que ficar aqui sozinho.

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Severus viu quando Potter derrotou o Lord das Trevas. Foi a única testemunha. Albus estava inconsciente e os demais, mortos ou longe dali. Ele mesmo não estava nada bem. Perdera muito sangue antes de conseguir fechar a ferida causada pelo desgraçado do rato de estimação do Lord, mas pelo menos saldara sua dívida salvando Potter. Enfim estava livre do laço com James Potter e seu filho. Só que isso não importava mais.

O filho de James estava encolhido balbuciando palavras desconexas no meio da sala semidestruída. Severus se arrastou até ele e o puxou para perto de Albus. Tinha de levar os dois até Pomfrey antes que desmaiasse de vez.

Aparatar nessas condições era temeridade; aparatar levando Albus desmaiado e Potter em choque era burrice, estupidez e loucura.

O Black do sonho tinha razão, afinal. Ele também era uma aberração. Era mentalmente instável.

Rindo, Snape arriscou tudo e, usando a licença especial que Albus abrira para ele nas defesas de Hogwarts, aparatou na enfermaria.

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Draco olhou para o relógio. Era quase uma hora da tarde. Já fazia mais de quatro horas que Severus saíra do Castelo. Ele e Pomfrey nem conversavam mais. Duelos de Bruxos não duram muito tempo; aquele estava demorando demais.

Subitamente uma massa de corpos surgiu no meio da enfermaria.

—Severus! - Quando viu que Snape estava entre eles, Draco esqueceu tudo, e seu grito desesperado ecoou pela enfermaria. Não se importava com o que ouvia ou deixava de ouvir.

Pomfrey levitou o diretor até uma cama, enquanto Draco levava a mão ao rosto de Severus. O bruxo mais velho abriu os olhos:

—Está tudo bem, Draco.

Mas a voz dele era fraca e cansada. E ele perdeu a consciência.

—Vai ficar, Severus. Vai ficar tudo ótimo.

O resto dos fatos passou como um borrão na mente de Draco. Mais e mais feridos chegavam. Curandeiros de fora também. Aurores. Membros da Ordem.

Potter fizera algo de útil: derrotara de vez o Lord das Trevas.

As pessoas preocupadas com os desaparecidos ou sofrendo pelos mortos e a dor dos feridos atingiam Draco fortemente, mas ele se mantinha firme. Assumira os cuidados com Severus, apesar de um ou outro olhar de estranheza.

De repente ele sentiu os olhos de Potter fixos nele. No meio do caos, Potter parecia estranhamente sereno, segurando a mão da namorada, deitado na cama ao lado da de Severus. A garota também tinha algum tipo de ferimento mais leve. Os amiguinhos dele não estavam longe. Todos cansados, feridos e se recuperando. Parecia que a Sorte beneficiara novamente o bandinho do Potter.

Draco encarou o grifinório de volta.

—Ele salvou minha vida hoje. Duas vezes. – Com um gesto, Potter indicou Severus. – Sem ele, tudo teria falhado. – A voz de Potter era propositadamente baixa, atingindo apenas os ouvidos de Draco e da garota Weasley. - Você devia sair daqui, Malfoy. Isso aqui pode ser demais para seu controle.

Draco arregalou os olhos. Potter sabia!

—Como você... quem disse...

—Ninguém disse, Malfoy. Eu percebi que havia algo estranho e descobri. Não se preocupe. Seu segredo está a salvo comigo. Sempre esteve. Mas se você quer garantias, eu lhe dou uma: Snape salvou minha vida; eu não poderia ferir você mesmo que quisesse. Dívida de bruxo.

Potter deu um breve sorriso para a namorada, que não parecia saber do que eles falavam.

—É por isso, Malfoy, que eu estou sugerindo que você vá, antes que isso tudo machuque você ainda mais. Snape não ia gostar de você se colocando nessa situação.

—Eu vou ficar, Potter.

—É. Imaginei que diria isso. No seu lugar eu também ficaria.

—É tão óbvio assim, Potter?

—Sua condição? Não. Que vocês estão apaixonados?

Potter olhou para a Weasley, e foi ela que respondeu:

—Sim. Quem prestar realmente atenção nota que vocês se gostam. Principalmente agora. Se era segredo, Malfoy, não é mais.

Um gemido rouco vindo da cama e o súbito despertar de Severus livraram Draco de responder, ou mesmo de pensar no assunto.

Pomfrey se aproximou rápido, mas Severus foi ainda mais rápido:

—Draco! O que você está fazendo aqui? Não é seguro para você.

—Severus, fica quieto. – Pomfrey interferiu. – Draco, chega para lá, deixe-me ver esse teimoso.

—A culpa é sua, velha maluca. Você deveria tê-lo tirado daqui há tempos.

—Quieto, Severus.

—Como está Albus, Papoula?

—Bem. Mas ele é ainda mais teimoso que você. Saiu daqui antes que eu o liberasse.

—Que bom.

Draco não podia evitar o sorriso ao ver Severus quase no seu estado normal.

—Malfoy...

Ele se voltou para encarar a Weasley.

—Você tem coragem. – A bruxa sorria. – O Professor Snape não deve ser fácil.

O Lord das Trevas fora derrotado, Potter sabia que ele era um hermafrodita, uma Weasley estava puxando conversa com ele. Dane-se! O mundo estava mesmo de cabeça para baixo. Draco sorriu de volta:

—E Potter por acaso é fácil?

Malfoy e Weasley rindo juntos diante de Potter indignado e Snape intrigado foi só uma das cenas inusitadas daquele dia.

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Severus discutira tanto com Pomfrey que ela o liberara com a condição de Draco cuidar dele. Por isso, depois do jantar daquele dia estranho, os dois estavam no quarto de Snape. O bruxo mais velho estava deitado, de cara fechada, e Draco sentado na poltrona tentando esconder o riso enquanto olhava a lareira.

Apesar de ter ganhado a briga com a enfermeira, Severus ainda não se acalmara, e Draco estava preferindo deixá-lo esfriar a cabeça antes de falar qualquer coisa. Os resmungos esporádicos de "pata choca" "velha maluca" e "bruxa caduca" já estava bem mais espaçados.

A Weasley tinha razão: Severus não era fácil, mas Draco não o queria diferente.

O garoto se desligou do mundo, permitindo-se relaxar depois de um longo e tenso dia. Foi a mudança de estado de espírito de Severus que o fez olhar para a cama.

Severus o encarava com uma expressão estranha:

—Você devia descansar, Draco. Está tarde.

—Não fui eu quem lutou com três Comensais ao mesmo tempo, levou Cruciatus do próprio Lord, se pegou com um rato homicida e ainda aparatou carregando mais dois.

—Potter fala demais.

—Você devia dormir, Severus.

—Eu não vou conseguir, Draco. Não enquanto...

—Enquanto?

—Não conversarmos.

Severus fez menção de sentar-se na cama e Draco correu a ajudá-lo, fazendo-o recostar-se na cabeceira, apoiado em travesseiros.

Severus parecia embaraçado por ser cuidado assim, o que só aumentava o prazer de Draco em paparicá-lo.

Draco sentou-se na beirada da cama e olhou para Severus, esperando.

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Fora ele quem começara com essa história de conversar, e agora não sabia o que dizer. Grande conquistador ele era!

Só uma palavra lhe vinha à mente. Culpa do maldito sonho.

Merlin! Se uma palavra era tudo que ele tinha, então melhor começar por ela.

—Aberração.

—O quê, Severus?

—Eu sou uma Aberração, Draco. Sou um Comensal arrependido, um ex-espião, um professor relutante, um praticante de magia negra afastado do ofício, um velho tolo apaixonado por um garoto bonito.

—E isso faz de você uma Aberração? Onde ficou a conversa de escolhas? Merlin! Parece que essa conversa foi há anos!

—Eu estava errado. Ou pelo menos parcialmente errado. Não há nada de errado em ser uma Aberração. O que destrói é se sentir pequeno por ser diferente.

—Se eu entendi bem, você está me dando autorização para ser uma Aberração?

—Draco...

Mas Draco o interrompeu:

—Dessa conversa toda eu só discordo de uma coisa: você não é velho. Pelo menos não tanto quando Dumbledore.

—Draco!

—Mas eu quero voltar a um ponto que me interessa mais que os outros: está apaixonado por um garoto bonito? Apaixonado? Bonito?

Severus balançou a cabeça. Draco estava certo. Era isso que importava agora.

—Não. Não é bonito. É lindo. O mais lindo de todos.

O sorriso de Draco justificaria dúzias de frases melosas.

—Apaixonado?

—Sim.

O sorriso do garoto aumentou ainda mais.

—Eu também. Estou loucamente apaixonado por você.

Severus se inclinou lentamente, sem desviar o olhar do de Draco. Quando seus lábios se tocaram foi como voltar para casa depois de um longo tempo fora.

Draco era tão doce, e ao mesmo tempo tinha algo de irreverente. Beijá-lo foi assim, suave e forte.

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Severus o estava beijando. Ele o estava beijando de verdade!

Severus voltara e o estava beijando depois de dizer que estava apaixonado por ele!

Draco se entregou ao beijo, feliz demais para pensar em qualquer coisa.

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Muito mais tarde, com Draco aninhado em seus braços, Severus lutava contra o sono provocado pelos medicamentos que Pomfrey prescrevera e o dia difícil que tivera.

—Vai dormir mesmo aqui, Draco?

—Vou. Prometi a Pomfrey que não deixaria você sozinho.

—Bom argumento.

Severus estava adorando a sensação de ter o calor de Draco nos seus braços, e o carinho que ele lhe fazia no peito. Só que estava cada vez mais difícil ficar de olhos abertos.

Estava ficando impossível.

—Severus...

—Hummm?

Era impressão ou Draco estava rindo?

—Gostei do que fez nos dentes e no cabelo.

—Hummm...

Ele tinha uma resposta para esse comentário impertinente, em algum lugar da sua mente ele tinha a resposta. Só precisava encontrar.

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Draco sentiu a respiração de Severus ficar mais ritmada e profunda. Enfim ele estava descansando.

Ainda havia tanta coisa a ser acertada. Severus o amava, e parecia ter atração por ele. Bom, pelo menos o beijara como se tivesse muita atração por ele.

Mas como seria dali para frente? Draco queria que esse amor superasse seus "detalhes de anatomia", queria muito que fosse para valer.

Um leve ressonar fez Draco sorrir. Nunca dormira com ninguém antes. Era estranho, mas de algum modo era muito bom.

Severus virou de lado, abraçando Draco, que se deixou abraçar.

Era tudo o que ele queria. Uma chance de ser feliz com esse homem igualmente complicado, fascinante e maravilhoso.