Stage 3 - O Onipresente
O silêncio preenche o vazio da sala por vários minutos, ninguém se atreve a rejeitá-lo. Zero, sem medo e ansiando acabar com o problema o mais rápido possível, calmamente se coloca sobre o dispositivo de teletransporte. Olhando para ambas as operadoras, acena com a cabeça, sinal para que elas coloquem esforços em seus terminais.
Antes de partir, ele sente o seu pulso sendo puxado com leveza para trás: a mão de Ciel, delicada e gentil como uma jovem flor, o segura com a pouca força que lhe foi concedida. Virando o rosto para olhá-la, seu corpo é quase dominado pela culpa ao ver a garota, de cabeça baixa e escondendo os olhos atrás dos cabelos que se sobrepõem ao rosto. Os olhos de Zero pesam, ele vê que a sobrecarregou de preocupações.
Ciel – Zero... Não morra... Eu estarei esperando por você...
Zero – Não será hoje que eu irei falhar...
O herói esboça um pequeno breve sorriso e desaparece na luz do teleporte, deixando Ciel segurar o vazio. A garota, ainda escondendo sua expressão, caminha fragilmente para fora da sala de comando, deixando as operadoras a sós.
OP1 – O que foi isso?
OP2 – Não sei... Talvez ela estivesse querendo falar algo para o Zero...
O Herói Lendário se materializa em frente a uma larga camada de prédios caídos. Ele olha para os lados, examinando cautelosamente o lugar, mas não é possível ver nem ouvir ninguém. Desferindo passos leves, Zero caminha sobre os restos dos edifícios decadentes e finalmente adentra nas ruínas da cidade. Ele anda pelas ruas parecendo estar relaxado e confiante, mas na verdade sua atenção é direcionada para cada canto do lugar, ser pego desprevenido em uma armadilha não seria algo interessante. Pouco tempo se passa e uma voz masculina se expande pela cidade, deixando Zero em alerta.
? – Exatamente como eu esperava. Você veio.
Um reploid de elmo azul e roupas de cientista se forma no ar, através de um suave teletransporte espiral. Levitando, o reploid aparentemente jovem cruza os braços, observando, com um olhar penetrante, Zero. O herói não se intimida, reflete uma expressão igual enquanto puxa seu sabre, sem ativar a lâmina.
Zero – Quem é você? Como sabe sobre mim?
? – Eu sou o Onipresente, o historiador que está em todos os lugares. É assim que eu sei tudo sobre você. Absolutamente tudo.
Zero – Você não sabe NADA sobre mim.
Onipresente – Isso talvez seja discutível. De todo modo, você tem algo meu e eu quero de volta.
Zero – Hnf... Eu nunca te vi antes.
Onipresente – Curioso... Não se lembra das cyber elfs da caverna? Uma delas, que você derrotou, uniu-se ao seu corpo após a explosão. Devolva-a.
Zero – Mesmo que me lembrasse, eu nem sei os seus objetivos. Por que a entregaria?
Onipresente – Entendo seu ponto de vista. Obviamente, um reploid tão simplório jamais entenderia a visão que guardo. Mas eu sempre consigo o que eu quero, não importam os meios.
Ele desaparece no ar, exatamente como havia surgido. Por minutos, os ruídos do vento são os únicos presentes na destruição toda, mas isso não dura: os sons de pesados passos maltratando as ruas trincadas espalham-se por todo o local. Logo Zero não se encontra mais sozinho, mas sim cercado por um grande número de máquinas com formato humanóide, possuindo punhos exagerados e utilizando elmos muito semelhantes ao do Onipresente, exceto pela presença de um protetor de rosto.
Não são reploids. Seus olhos, completamente vazios, denunciam a infeliz ausência de uma alma. Caminhando sem entusiasmo algum, como verdadeiros zumbis, desferem murros contra o alvo escarlate. O reploid, calmo e indiferente como o vento, salta para fora da roda e ativa a lâmina do Z-Saber, girando o corpo para descer de cabeça rumo a um dos inimigos. O plasma passa rasgando ao meio o corpo do alvo, como papel.
Em questão de segundos, os companheiros percebem o ato e viram-se para Zero, puxando os punhos para partirem ao ataque. O reploid, ainda calmo, recua saltando para trás, saindo do alcance dos golpes por muito pouco, um movimento proposital. Mas ele logo vem o arrependimento: antes que possa se fixar ao chão e avançar sobre a guarda desprotegida de seus adversários, seus olhos são ofuscados por vários feixes de plasma surgidos dos enormes punhos dos inimigos. A distância condena uma esquiva, Zero é atingido com potencia máxima e arremessado violentamente para longe.
Enquanto corta o ar contra a vontade, ele sente a presença de mais inimigos lhe ameaçando. Olhando para os lados, ele localiza um grupo de robôs iguais aos outros, porém menores e portando canhões de braço, que são mirados exatamente contra o guerreiro escarlate. A tensão faz o tempo diminuir a velocidade, Zero tenta se deslocar no ar para escapar, mas é inútil: atingido por dezesseis tiros simultâneos, é jogado para dentro de um edifício, que desmorona sobre ele. Os inimigos perdem movimento, apenas ficam parados esperando instruções, já que a missão foi cumprida.
Porém, uma manifestação energética muito forte e violenta começa a se elevar ali, o clima se torna tão forte que o cenário se aproxima do inferno a cada segundo. Muito veloz, uma onda púrpura de plasma se ergue e rasga o solo rumo aos robôs inimigos. Com um leve toque, eles são brutalmente destruídos e não resta nada mais do que poeira. Dos escombros do prédio, o persistente Herói Lendário novamente se levanta, de cabeça baixa para ocultar um olhar dos mais ameaçadores. Seus trajes agora são verdes, a lâmina de seu sabre reluz em um forte tom rosado.
Zero – Eu disse... Que não será hoje que eu irei falhar.
