O meu pecado fora amar. Amar demais...amar alguém que não deveria. Amar a pessoa errada. Meu pecado fora estar disposto a fazer qualquer coisa...por ela.
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Já fazia dois anos que eu a conhecia. Linda, é verdade, mas não era ela...não era a minha Kikyou. Ousavam dizer que eram parecidas, mas igual a ela, não havia ninguém.
Tão diferentes uma da outra... Os sorrisos de Kagome nunca sumiam, enquanto Kikyou quase nunca sorria. Quase sempre eu a flagrava me olhando. E era sempre quando eu pensava em Kikyou. Aliás, quando eu não pensava em Kikyou?
Todos me diziam para ser mais gentil com ela. Pra quê, se eu apenas a usava para detectar os fragmentos?
Há muito já havia desistido de virar um youkai completo...queria recuperar a jóia para ressuscitá-la, e depois me tornaria um humano, para viver ao lado dela. Para sempre. Mas, como isso demorou, fui obrigado a conviver com Kagome por mais tempo que eu esperava.
Quando finalmente conseguimos completá-la, Kagome não queria entregar-me. Guardava-a consigo como se fosse seu tesouro mais precioso. Ela não entendia que eu precisava da jóia para tê-la de volta. Sempre fora uma garota estúpida, a Kagome. Ela me dizia:
-Um dia você vai entender porquê eu estou fazendo isso...você vai entender... – e me dava um daqueles sorrisos irritantes.
Todos diziam que eu estava apaixonado pelas duas. Uma grande besteira. Meu coração e meu corpo pertenciam única e exclusivamente a Kikyou. Kagome era uma menina feliz...eu até que podia me preocupar com ela, mas a única dona de meu coração era ela, Kikyou. Não havia outra.
Uma noite, eu estava pensando nela, pra variar, e me lembrei da promessa que havia feito-a um dia: "Eu faço tudo por você. Enfrento qualquer um, mato qualquer um por você...", eu disse a ela. E naquele momento me veio uma súbita vontade, uma necessidade de cumprir aquela promessa. Entrei na cabana onde Kagome dormia, e olhei-a por um minuto. Eu faria aquilo por Kikyou. O amor da minha vida.
Olhei mais uma vez a imagem de Kagome, que dormia de costas pra mim, e me abaixei ao lado dela. Seria muito fácil...fácil até demais. Eu estava acostumado a fazer aquilo. Eu não teria dificuldade alguma. Então, simplesmente o fiz. Cravei minha unhas nas costas dela, fazendo com que muito sangue escorresse de seu corpo. Ela apenas tremeu. Estava dormindo, e acordou com a dor. Devagarzinho virou a cabeça pra trás, para ver seu assassino. Ao me ver, seus olhos se encheram de lágrimas. Eu peguei a bolinha preciosa que brilhava presa em seu pescoço por um fio, e disse:
"Eu fico com isso..."
Ela derramou uma lágrima e fechou os olhos pra sempre.
Fácil demais.
Saí dali e fui andando até o lugar, onde eu sabia que ela estaria. Encontrei-a dormindo como um anjo. Aproximei-me dela e toquei seu rosto. Ela abriu os olhos e sorriu um sorriso triste.
"Inuyasha... não podemos..."
"Não...está tudo bem agora...eu consegui, olha..." e lhe mostrei a jóia. "Agora nós podemos ficar juntos pra sempre..."
Aproximei-me dela e lhe beijei os lábios frios. Ela se afastou depois de algum tempo.
"Por mais forte que seja o meu amor por você, a nossa história já acabou Inuyasha...já acabou. Eu amo você mais do que tudo, mas tenho que aceitar a minha morte. Isso foi uma das coisas que aprendi com Kagome."
"Kagome já não está mais aqui...nunca mais vai voltar para nos atrapalhar..."
"Como assim?"
"Eu a matei Kikyou...para recuperar a jóia, que ela não queria me entregar...agora podemos ficar juntos..."
Ela me olhou com surpresa e depois me disse.
"Inuyasha eu já morri...não seria a mesma coisa se eu ressuscitasse...você não deveria ter matado-a...ela era importante para você."
"Não era nada! Eu só a usava para recuperar a jóia..." vi Kikyou sorrir como uma mãe sorri para um filho que não sabe o que diz. Aquilo me zangou.
"Você ainda não descobriu o que sente por ela. Mas vai se arrepender muito, quando se der conta do que fez. Haja rápido e concerte seu erro. Kaede poderá lhe ajudar"
"Mas...e você...e nós?"
"Inuyasha eu te amo demais...mas você não me ama assim...você se sente culpado pelo que aconteceu no passado...sua alma precisava se redimir...mas nada daquilo foi culpa sua, nem minha. Não podemos mais...não podemos...agora vá, e use essa jóia naquela menina. Use, e concerte o seu erro."
Olhei-a incrédulo. Ela se levantou e caminhou para longe de mim. Pensei no que ela disse. E de repente um desespero invadiu a minha alma, e fui o mais rápido possível encontrá-la.
Entrei na cabana e achei-a deitada de barriga pra cima com os braços abertos, sobre uma poça de sangue. Me abaixei perto dela e peguei-a no colo, abraçando-a. De repente toda a dor da perda invadiu meu corpo. Insuportável. Uma dor na qual nenhuma espada, nenhum youkai poderia causar. Doía-me tudo. Um estúpido completo, a ponto de matar a quem te quer bem... Enquanto abraçava Kagome, vi um pequeno caderno por perto. Muito enfeitado. Com certeza era dela. Peguei-o e o abri. Muitos desenhos que eu não entendia enfeitavam suas páginas. Fui folheando-o, sentindo o cheiro dela em cada página. Como pude ser tão estúpido a ponto de tirar-lhe a vida...? Como pude... Achei em uma página, um desenho do meu rosto. Estava sério, olhando para o lado. Ao lado havia escrito:
"Por mais que me odeie, por mais que me queira longe, eu o amo com todo o meu coração...Inuyasha..."
Me desesperei mais ainda... minhas mãos começaram a tremer, e eu fiquei nervoso como pensava que nunca iria ficar. Olhei o rosto já muito branco de Kagome e toquei-o. Frio. Minhas mãos suavam mais o que qualquer coisa, e logo pude sentir as lágrimas dela em contato com os meus dedos. Eu tremia todo. Só naquele momento eu percebia o que havia feito.
"Eu matei Kagome, eu matei Kagome, eu matei Kagome..." esse era o meu pensamento.
Abracei-a com toda a pouca força que me restava. E os lábios frios dela encostaram-se a meu rosto. Tão frios...
Chorei. Pela segunda vez na vida, eu chorei. Derramei minhas lágrimas por ela, e até agora só havia chorado por minha mãe, na vida toda.
Chorei pelo meu erro. Chorei por Kagome. Chorei pela falta dela.
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Logo a velha Kaede cuidava do ferimento que eu lhe havia causado. Eu usaria a jóia nela. Kaede havia me avisado do meu castigo.
"Inuyasha, Kagome não pertence a essa era, por isso, quando você ressuscitá-la, ela não se lembrará de você. Nem de nada aqui. Será como se ela nunca tivesse atravessado o poço. E você não poderá mais falar-lhe. Se você chegar perto dela novamente, o poder da jóia irá confundir-se, devido à imensa distância temporal entre vocês. Ela nunca mais poderá lhe ver. Não enquanto estiver consciente."
Essa era a minha sentença por tê-la machucado. Meu castigo por tê-la usado tão ridiculamente. Meu castigo por não ter correspondido aos seus sentimentos.
"Pronto. Já curei o ferimento dela. Você já pode usar a jóia. Vou deixar você sozinho pra fazer isso. Boa sorte, Inuyasha" e saiu. Eu olhei-a desesperado. Não havia mais aquele brilho em sua pele. E o seu cheiro sumia aos poucos. Peguei-a nos braços e abracei-a forte.
"Me perdoa...por favor, me perdoa... me perdoa por tudo..."
Peguei a Jóia e olhei-a. Nuca havia odiado tanto aquela jóia como odiava agora. Nunca. Foi por cauda dela que eu fiz o que fiz.
Pressionei-a contra o corpo de Kagome e falei tudo o que Kaede me dissera para falar.
Senti o corpo dela ficar quente novamente. Ela abriu os olhos e olhou dentro dos meus.
Derramou lágrimas ao olhar pra mim. Franziu a testa enquanto mais e mais lágrimas rolavam pelo seu rosto.
"Me perdoa..." eu disse baixinho, abraçando-a com força. "Você...é a pessoa mais importante pra mim..." afastei meu rosto do dela e a vi derramando mais e mais lágrimas. Limpei-a com meus dedos e toquei os lábios dela com os meus. Quentes novamente. Agradecia aos céus. Senti-a desmaiar sob meus lábios, mas não me preocupei. Kaede me avisara sobre isso. Levantei com Kagome nos braços e saí da cabana. Fui até o poço e olhei para o rosto dela mais uma vez.
Desmaiada, mas viva. Graças a Kami.
Pulei o poço e cheguei a era dela. Entrei em sua casa e encontrei sua mãe, seu avô e seu irmão. Ao verem-na desmaiada em meus braços, correram até mim.
"Inuyasha...o que houve? Ela está bem?"
"Está...mas ela...não se lembra de nada sobre a outra era, e seria bom se voces não tocassem nesse assunto quando ela acordar." Eles me olharam com curiosidade. Eu subi até o quarto dela e depositei-a na cama. Sabia que deveria me despedir ali.
"Eu te amo..." sussurrei perto de seu ouvido. Ela nem se mecheu. E mais uma vez no dia, eu chorei.
Fiquei ali com ela mais um tempo, até que percebi que ela começou a acordar. Olhei pela janela e vi que estava amanhecendo. Seria agora. Teria que ir. Olhei-a mais uma vez e saí pela janela.
Fiquei em cima da árvore e consegui vê-la levantar, e pentear os cabelos.
Fiquei lá por muito tempo.
Doía vê-la agir sem saber que eu existo. Sem se lembrar de nada. Doía muito.
Isso durou anos. Vi Kagome se tornar uma mulher, linda.
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E hoje, 5 anos depois, eu vivo assim. Escondido, protegendo-a de longe. Pagando pelo meu pecado, de amar demais, a pessoa errada.
Continua...
N/A: Oi gente!!
Aqui está mais uma de minhas experiências. Particularmente gostei dessa aqui!! Espero que tenham gostado.
Dedico essa fic à minha mana Biba, e à minha miga Beka. Amo vocês duas!!
Espero que tenham gostado! Se comentarem, eu agradeço.
Mil bjos,
Nat
