Prólogo
Caminhava lentamente pelo Santuário. Seus pensamentos perdidos em lembranças das batalhas que travara e apesar de agora se saber amigo dos Cavaleiros e perdoado por Athena, Miro se corroia de arrependimento por uma atitude em particular: seu ataque à Ilha de Andrômeda, com a ajuda de Afrodite, Cavaleiro de Ouro de Peixes.
Vira Shun na batalha contra Hades; soubera de sua coragem ao permitir que seu corpo fosse tomado pelo deus na tentativa de poder matá-lo; ao encontrá-lo ao Muro das Lamentações, as lembranças sobre aquele fatídico dia voltaram. Como pudera, um dia, desconfiar das intenções daqueles bravos guerreiros? Sentia-se mau ao relembrar que fôra apenas um joguete nas armações de Saga para derrotar Athena e conquistar o mundo, mas isso não o fazia se sentir redimido.
Tanto tempo se passara, e ainda assim, apesar de tudo o que acontecera em seguida, de ter dado sua vida por Athena, aquele episódio em particular, nunca fôra esquecido pelo Cavaleiro de Ouro de Escorpião. Miro não conseguia se perdoar pelo terrível engano que cometera em seu passado
A noite era calma, o silêncio era apaziguador e permitia que o Cavaleiro pudesse pensar com clareza. Não era uma pessoa que gostava de solidão, mas ficar sozinho era diferente de ser sozinho e às vezes, é preciso um tempo só, consigo mesmo, para que se possa pensar e analisar friamente o que acontece em seu íntimo. Esses momentos eram muito apreciados pelo cavaleiro de Escorpião.
Acabara de entrar num antigo Templo em ruínas. Um Templo em homenagem a Poseidon, que ficara esquecido depois que Athena, há séculos atrás, vencera a batalha contra o deus dos mares e fizera daquela cidade sua protegida. Para não desrespeitarem a Deusa da Guerra e da sabedoria, os atenienses passaram a evitar o Templo que acabou se deteriorando, devido a falta de cuidados.
A maioria das pessoas evitava aquele local, com medo de uma represália da Deusa. Miro balançou a cabeça.
Como se Athena fosse se preocupar com o simples fato de passarem por ali. Mas era bom que aquele lugar fosse deserto. Dali tinha-se a vista mais bonita de Atenas e Miro ficava feliz, por quase sempre estar vazio, e ele poder desfrutar de um momento de calma e tranqüilidade para relaxar e divagar sem se preocupar com os intrometidos.
Mas naquela noite, um som particularmente conhecido lhe atraíra a atenção. O silêncio da noite fôra interrompido pelo som contínuo de golpes sendo desferidos contra uma das paredes do Templo. Se surpreendeu com a cena a sua frente:
A Amazona de Cobra treinava incessantemente.
Sua tentativa de entrega àquele treino para esquecer o cavaleiro de Pégaso, se mostrava vã. Já havia se passado alguns meses desde o término da batalha contra Hades e Shina ainda não conseguira esquecê-lo.
Sentia raiva de si mesma por amá-lo daquela forma, por se pegar pensando naquele dia em que ele a vira completamente, sem sua pose e sem sua máscara, o dia em que a delicadeza e ternura, do então aspirante a cavaleiro de Bronze, a tocaram tão profundamente, fazendo nascer um sentimento que por mais que tentasse, não conseguia suplantar.
Shina estava assustada e frustrada. Nunca desejou estar nessa situação. Quando aceitara sua condição como Amazona tinha em mente que passaria sua vida sozinha, apenas para servir à Deusa e se dedicar a ensinar aos discípulos que lhe fossem designados. Quando aquilo acontecera? Quando perdera o total controle de suas emoções?
Um soluço escapou e Shina tirou a máscara, colocando-a no chão a seu lado. As lágrimas escorriam abundantes por seu rosto. Ela se inclinou para frente, ainda de joelhos e cobriu o rosto com as mãos. Seu corpo sofrendo pequenos espasmos devidos aos soluços que tentava, inutilmente, conter.
Sentia-se fraca chorando daquela forma, mas a dor era tanta, que apenas aquele pranto podia acalmá-la e ainda assim, apenas por algum tempo. A dor era forte demais e parecia não ter fim.
Chorou por alguns minutos. Sentia um nó na garganta, um aperto no peito, um vazio que parecia que iria consumi-la...
Olhou para o céu estrelado, os braços ao redor do corpo, abraçando-se protetoramente... A Constelação de Pégaso brilhava magnificamente naquela noite...
Os olhos azuis claros a fitavam sem esconder o espanto. Viu quando ela pousou a máscara sobre a areia, mas quando a Amazona se inclinou para frente, os cabelos esverdeados caíram pelos ombros delicados, escondendo o rosto feminino de seus olhos atentos e curiosos.
Nunca imaginou que a flagraria num momento de tanta fragilidade. Teria sorrido ao constatar que aquela Amazona arrogante e presunçosa era um ser humano, mas a dor que presenciava não lhe permitia zombar de tal sentimento.
O choro era contido, mas doloroso e Miro sabia o porquê, ou melhor, por quem ela chorava. Tinha consciência de que estava errado, não deveria permanecer ali, mas não esperava que ela estivesse naquele local, àquela hora e principalmente, que a surpreenderia um momento de tamanha dor e abandono.
Seu coração se contraiu. Todos sabiam do amor dela por Seiya, isso nunca fôra segredo, mas não imaginava que fosse tão forte... e que a fizesse sofrer tanto.
Pensou em se afastar.
Apenas depois que a viu foi que pensou em ocultar seu cosmo. A Amazona devia estar tão perdida em sua dor e sofrimento que nem se dera conta de sua presença e agora, um passo em falso poderia entregá-lo. Esperaria até que ela fosse embora.
Seu coração disparou quando a viu erguer o rosto e fitar o céu.
À distância que estava do local lhe permitia ter uma visão perfeita do perfil delicado da Amazona. A lua iluminava-lhe o semblante triste e Miro pôde ver o exato momento em que mais uma lágrima escorreu pelo rosto dela, alcançando-lhe a orelha. Estava sem palavras... nunca imaginara que Shina fosse tão linda...
A Amazona respirou profundamente, recolocou sua máscara e se levantou. Caminhou lentamente para fora do Templo sem olhar para trás. A cabeça baixa, as lágrimas ainda escorriam pelo rosto dela, mas já não soluçava. Tinha que manter sua dignidade. Rompantes como aqueles não podiam mais acontecer. Tinha que aprender a se controlar. Precisava esquecer Seiya. O cavaleiro, com certeza, nem lembrava de sua existência...
Miro a viu se afastar e seguiu-a com os olhos. Ficara chocado ao perceber que ela em nada parecia a Shina confiante, segura e por vezes pretensiosa que todos conheciam. Seus olhos se estreitaram e ele ficou pensativo:
— Então essa é sua verdadeira face, Shina... — murmurou vendo-a se afastar, a cabeça baixa, os ombros curvados... Parecia que carregava o peso do mundo nas costas. Acompanhou-a até que a perdera de vista.
Quando percebeu que ela já estava distante, saiu de seu esconderijo e caminhou de volta à oitava casa. Seus pensamentos não tinham mais nada a ver com o que o incomodava ao chegar àquele Templo.
Sua caminhada silenciosa fôra acompanhada pelas imagens que presenciara ainda há pouco. Elas iam e voltavam em sua mente. Aquela descoberta o perturbara mais do que podia imaginar. A lembrança do perfil delicado iluminado pelo luar, aquela lágrima que deslizara pelo rosto dela... O som do choro... Não saiam de sua mente... E o Cavaleiro apenas se perguntava como ela se permitira se apaixonar? Como pôde esquecer da regra mais importante das Amazonas?
Sempre achara Shina muito interessante, e apesar de saber do sentimento dela por Seiya, nunca pensara que ela tinha se deixado dominar tanto. Nunca se aproximara da Amazona exatamente por isso, por que tinha certeza de que ela não se renderia a isso com facilidade, mas ao ver que ela, apesar da pose, era uma mulher como qualquer outra, o fascínio ascendeu dentro do Cavaleiro. Seria interessante descobrir até que ponto Shina iria se estivesse apaixonada.
Um meio sorriso cruzou-lhe os lábios enquanto começava a subir as escadas para a primeira Casa.
Sim, seria interessante.
Oi Pessoal! Estou de volta... er... com uma nova fic! Espero que não tenham paciência, aqueles que estão acompanhando A Luta pelo Amor, mas eu juro que ela terá conclusão! Bom, esta fic será bem mais fácil e rápido concluir. Ela já está pronta! Então, espero que tenham gostado do primeiro capítulo! Beijos e até mais!
