Capítulo 1 - Desafio


Miro a viu se aproximar da arena. Esquecera de tudo a seu redor ao vê-la e sua distração foi "recompensada". O golpe certeiro atingira-o fortemente, jogando o Cavaleiro de Ouro de Escorpião contra a ruína de uma pilastra.

Ficou sentando no chão alguns instantes, suas costas e sua face direita doíam... Balançou a cabeça algumas vezes e quando abriu os olhos viu a mão estendida em sua direção. Olhou para o rosto de Aioria e sorriu, aceitando a ajuda do amigo:

— O que há com você, Miro? — perguntou Aioria ajudando-o a se levantar.

— Não é nada, Aioria. — respondeu, pondo-se de pé e batendo na roupa com as mãos para tirar a areia.

— Não é nada? — perguntou Aioria cruzando os braços. — Você está estranhamente distraído, meu caro... — comentou o Cavaleiro de Leão.

Seus olhos a procuraram, mas ela já não estava mais por perto da área de treinamento dos Cavaleiros.

Miro o encarou. Aioria era seu melhor amigo... Talvez devesse contar o que o estava perturbando... Se bem que... Nem ele mesmo sabia ao certo o que era... Apenas não conseguia tirar a Amazona da cabeça.

— Aioria eu... — passou a mão pela nuca, num gesto desconfortável.

Aioria arqueou uma sobrancelha... Miro estava estranho. Ele nunca foi evasivo... O que estava havendo afinal?

— Pode falar, Miro. — disse ele, caminhando até uma pedra onde deixara uma garrafa com água. Miro acompanhou-o e encarou-o. Era melhor falar de uma vez... Aioria não o deixaria em paz se não o fizesse. O Leão tentava disfarçar, mas era hiper curioso.

— Eu vi Shina ontem nas ruínas daquele Templo de Poseidon. — Aioria tirou a tampa da garrafa.

— Sim... E o que é que tem isso? — perguntou levando a garrafa aos lábios.

— Eu a vi... — ficou constrangido. Olhou para o amigo novamente e resolveu contar tudo de uma vez. — Já era noite... — começou ele. — Eu não sabia que ela estava lá... Quando percebi era tarde. Ocultei meu cosmo e fiquei esperando até que ela fosse embora... Ela podia achar que eu a estava espiando. — Aioria sorriu maliciosamente.

— Ela conhece a sua fama, Escorpião. — zombou.

— Há, Há, Há... Muito engraçado Aioria. — disse Miro irritado com o comentário.

— Está bem, está bem... Só por isso você está assim? — perguntou ele. Miro continuou:

— Ela estava lá, Aioria... — começou ele. — E ela chorava... — afastando a garrafa dos lábios, Aioria o encarou surpreso.

— Chorava? Por quê? — Miro o encarou estupefato.

— "Por quê"? Ora, "porquê"! Por causa do Seiya, é claro! — disse encarando o amigo, descrente.

Aioria mais do que ninguém sabia como Shina amava Seiya, já que presenciara o sacrifício da Amazona para salvar o Cavaleiro de Pégaso.

— Por Athena! Será que ela ainda ama o Seiya! Depois de tanto tempo! — Miro o encarou com um sorriso malicioso.

— Olha quem fala! Por Zeus, Aioria! É um despautério você dizer isso! — Aioria se surpreendeu e encarou Miro, confuso. — Há quantos "anos" você é apaixonado por uma certa Amazona? – o Cavaleiro de Ouro de Leão corou e olhou para os lados.

— Quer falar baixo! — repreendeu-o. — Quer que o ouçam no Brasil! — murmurou indignado. Miro não agüentou e gargalhou gostosamente.

— Desculpe... — disse contendo o riso aos poucos. Seu semblante ficou sério novamente.

— É isso que o está incomodando, Miro? — perguntou Aioria.

— Não sei... Eu não consigo esquecer aquela imagem... — os azuis olhos do Escorpião encontraram os verdes do Leão. — Era sofrido... Como se ela carregasse uma dor indescritível. — disse. — Nunca imaginei que aquela Amazona presunçosa e arrogante que conhecemos ficaria tão frágil por causa de uma bobagem... — foi interrompido por Aioria.

— Bobagem! — disse o Cavaleiro de Leão. — Você não sabe do que está falando Miro... — o Cavaleiro encarou Aioria. — Você nunca amou para julgar o que ela sente. — continuou. – Como você mesmo disse, eu amo a Marin há anos. Dói-me o fato de não ter coragem de revelar isso a ela, pois temo perder o que me é mais caro: sua amizade. Mas se eu soubesse que ela gostava de outra pessoa... Eu sinceramente, não sei o que faria... — Miro o ouvia atentamente. — Não julgue o que Shina sente como uma bobagem, Miro.

— Aioria... — ia tentar argumentar, mas o Cavaleiro de Leão prosseguiu:

— No dia em que você se apaixonar... Você vai entender o tamanho da dor que ela deve estar sentindo. — Miro ficara pensativo, observando Aioria que se afastara para colocar a garrafa de volta sobre a pedra e se preparar para continuar o treino.

O Escorpião a viu se aproximar da área de treinamento novamente. Devia estar indo ao Santuário. Um meio sorriso lhe curvara os lábios. Parecia até provocação.

Aioria se virou e viu quando o Cavaleiro sorriu, conhecia aquele sorriso: Miro, o sedutor, espreitava sua vítima.

Aproximou-se do Cavaleiro e seguiu seu olhar. Seus olhos se arregalaram e voltou-os imediatamente na direção do amigo. O sorriso de Miro morreu no instante que seus olhos encontraram os verdes repreensivos de Aioria. Encarou-o confuso. Por que o Cavaleiro o olhava daquela maneira?

— Aioria... — foi interrompido pelo Cavaleiro de Leão:

— Você não ousaria... — disse incrédulo.

— O que? — perguntou, estreitando os olhos... Não se dera conta do que Aioria estava falando.

— Ela é uma Amazona, Miro! — disse exasperado.

— Aioria... Eu... — tentou se explicar, mas o Cavaleiro de Leão não lhe deu atenção:

— O que é que você tem nessa sua cabeça, Escorpião! — Miro sentiu-se acuado diante do olhar repreensivo de Aioria e, numa tentativa de se defender, rebateu de forma impensada:

— Oras! Qual é o problema? Ela não deixa de ser mulher por ser uma Amazona e o fato de ser uma Amazona até facilita as coisas, eu não preciso ficar me esquivando quando me perguntar o que eu faço... — encarou o Cavaleiro de Leão, que arregalou os olhos, para em seguida balançar a cabeça negativamente:

— Você é louco. — disse Aioria se afastando e começando a caminhar.

— Ora, Aioria, o que tem demais? Sempre disseram que "só um novo amor pode curar a dor de um coração partido". — a frase fez Aioria se voltar e encarar Miro, estupefato.

— Eu não acredito que ouvi isso... — voltou-se, ficando frente a frente com o Escorpião. — Você não a ama, Miro! Não vê que ela já sofre o suficiente! Ela não precisa ser mais uma "das suas conquistas"! Deixe-a em paz! Essa filosofia de "novo amor" não existe! — Miro o encarou seriamente, mas não resistiu em provocar o Leão.

— Se Marin o visse tão nervosinho por causa de Shina, suas chances iriam para o espaço... — comentou sorrindo marotamente. Aioria se voltou, seus olhos se estreitaram... E Miro temeu que o grego não pensasse duas vezes antes de lhe calar com um "Cápsula do Poder". Mas Aioria respirou fundo:

— Miro... — disse em tom baixo e perigoso: — VÁ PARA O RAIO QUE O PARTA! — e sem mais uma palavra, se afastou, deixando o Cavaleiro de Escorpião dividido entre o alívio de ainda estar inteiro, o divertimento ao ver o quanto Aioria ficava nervoso quando tocava no nome de Marin, ou a indignação por ser tratado como um moleque irresponsável.

Aioria era seu melhor amigo, mas a mania de lhe dar sermão era enervante. Como se Miro não fosse um Cavaleiro de Ouro tão poderoso quanto ele... Quem aquele Leão metido pensava que era?

Seguiu-o no intuito de fazê-lo parar com aquela atitude autoritária e repreensiva. Praguejava internamente... Não devia ter contado nada a ele. Andava apressado quando... Parou de chofre.

Avistara Aioria conversando com Marin e Shina.

— Ora, ora... Não é que meu amigo me proporcionou a chance perfeita de me aproximar da Amazona de Cobra? — Não conseguia tirar o rosto dela de sua cabeça. O som daquele choro...

Naquele momento, viu-a, literalmente, sem sua máscara. Sentiu um fascínio inexplicável. O meio sorriso voltou-lhe aos lábios e sem hesitação, caminhou em direção ao grupo que ainda não percebera sua presença.

Ouvira um trecho da conversa:

— Eles me lembram Seiya. — Marin comentou, sua voz trazia divertimento e Miro não pôde evitar sorrir ao ver o olhar fascinado de Aioria sobre a Amazona de Águia. Não era possível que Marin não percebesse a atenção que o Cavaleiro lhe dedicava.

Shina baixara a cabeça ao ouvir o nome do Cavaleiro de Bronze, além de que o fato de estar servindo de "vela" para o casal, era um tanto desconcertante.

Ela não conseguia entender Marin, o interesse de Aioria era óbvio, será que ela não percebia? Apesar de estarem mais próximas nunca tiveram esse tipo de conversa, até porque, a experiência de Shina no assunto não era lá um bom exemplo. Pensava em como se afastar e voltar para o seu treinamento, quando uma voz rouca e grave soou as suas costas:

— Olá! — disse animadamente. As Amazonas se voltaram ao ouvir a voz levemente rouca do Escorpião, enquanto Aioria o encarava contrariado. Não gostava nada quando Miro vinha com aquele sorrisinho. Sem querer acabara proporcionando ao Cavaleiro a oportunidade que ele esperava para se aproximar de Shina:

— Olá, Miro. — respondeu Aioria e o Escorpião percebera o tom de alerta na voz do amigo. O sorriso diminuíra um pouco. Lá vinha ele de novo...

— Soube que receberam novos alunos, é verdade? — perguntou, encarando Shina abertamente.

— Sim. — respondeu, sem mais delongas.

— Estávamos comentando sobre isso com Aioria. — Marin comentou, reparando na forma intensa e exposta com que Miro fitava Shina.

O Cavaleiro de Escorpião não ousaria lançar seu "veneno" sobre Shina... Ou ousaria? Bom, se ousasse, não conseguiria nada com a Amazona de Cobra.

A ruiva se voltou para fitar o Cavaleiro de Leão e vira, estampado em seu rosto, o desconforto que sentia com a situação. Os olhos verdes encontraram os dela e Marin teve a confirmação: Sim, Miro estava paquerando Shina. Não sabia o que pensar. Ele nunca fôra próximo de Shina, por que isso agora?

Miro se lembrava de quando a viu, na noite anterior. O perfil delicado, aquela lágrima escorrendo por seu rosto lentamente.

Gostaria de poder arrancar aquela máscara e ver qual era a expressão de seu rosto naquele instante. Embora ele não soubesse que a expressão da Amazona naquele momento não lhe seria nada agradável.

O olhar do Cavaleiro de Ouro a estava incomodando.

A princípio supôs estar imaginando coisas, mas quando percebera que Miro não tirava os olhos dela, a situação começou a irritá-la e sem paciência alguma para aturar as gracinhas do Escorpião, erguendo o queixo, numa atitude atrevida, encarando o Cavaleiro, disparou rispidamente:

— Algum problema, Cavaleiro? — Miro piscou, confuso, saindo de seus devaneios, percebera o tom nada amistoso, mas não ficara intimidado:

— O que? — perguntou sorrindo.

— Perguntei se está com algum problema. — repetiu a Amazona no limiar da paciência.

— Não... Não estou com nenhum problema, por que? — o sorriso sempre em seu rosto. Miro exalava sensualidade, mas Shina não "cairia fácil em sua rede".

— Então essa sua cara de idiota é normal... — disse ousada numa constatação.

O sorriso sumiu do rosto de Miro e ele arqueara uma sobrancelha, visivelmente contrariado com o que ouvira.

Aioria levou a mão à boca para conter o riso e embora Shina não tivesse visto o movimento, já que estava de costas para o Leão, Miro vira e ficara ainda mais irritado. Marin mordia o lábio inferior para evitar que as risadas eclodissem. Voltando seus olhos, dessa vez nada divertidos, para Shina, Miro disse no mesmo tom irônico da Amazona:

— Acho que educação devia ser matéria obrigatória no treinamento das Amazonas. — alfinetou, cruzando os braços sobre o peito e a encarando.

— Bom, não me parece ter sido obrigatória no treinamento de alguns Cavaleiros de Ouro pelo que eu posso perceber. — dizendo isso ela se voltou para Marin: — Eu já vou indo, Marin. Tenho coisas mais importantes a fazer.

— Eu vou com você, Shina. — Marin se voltou para Miro, e vontade de rir a tomou mais uma vez, mas ela conseguiu se controlar: — Até logo, Escorpião. — Miro nem ouvira o que ela disse, seus olhos cravados em Shina. — Tchau, Aioria. — disse e perdendo-se em admirar o cavaleiro de Leão, só acordando quando ouviu Shina se despedir sem dispensar um único olhar a nenhum dos dois guerreiros.

Arivederci, Cavaleiros. — disse e se retirou rapidamente, caminhando para a área de treinamento das Amazonas.

Aioria se aproximou de Miro, que estava sério, inda fitando a Amazona. Leão apoiou o braço no ombro do amigo e sem conter o sorriso debochado, disse:

— E como diria Kamus: Touché, mon ami! — Miro o encarou com um olhar irritado, mas o que conseguira foi fazer o sorriso de Aioria se alargar. — Desta vez você dançou, Escorpião. — deu três tapinhas no ombro do amigo e se retirou rumo ao Santuário.

Os olhos de Miro buscaram Shina, que já estava a uns bons metros de distância.

Ela em nada se parecia com a garota frágil e vulnerável da noite anterior.

Arrogante, ousada e prepotente.

Agora, era uma questão de honra para o Cavaleiro conquistá-la e domá-la, colocando-a em seu devido lugar.

Um desafio... Era isso.

Um sorriso curvara-lhe os lábios. Não era homem de recuar diante de um desafio, e como um excelente Cavaleiro, não pretendia sair derrotado.

Continua...


E aí, o que acharam? Gostaria de agradecer aos comentários: Aurora (Márcia), Naru Misato-san (Beta), Megawinsone (Jú), Juliane-chan (Juli), Pandora-Amamiya (Bel), T.A. Lovely (Tamara), Lulu-lilits (Analuisa) e Luna Lovegood. Obrigada, meninas! Que bom que estão gostando! E obrigada também a quem leu e não comentou! Até o próximo capítulo! Beijos a todos!

Arivederciaté logo, em italiano.

Touché — Palavra de origem francesa que significa tocado. Apesar do Aioria não ser francês, a expressão veio a calhar na ocasião.

Mon amimeu amigo, em francês.