Trégua


Aioria encontrou o Cavaleiro sentado nas escadarias pouco adiante da Casa de Mú.

Miro tinha o olhar perdido e Leão estava estranhando o jeito de seu amigo. Ele estava estranhamente calado e desanimado.

— Miro... O que houve? — perguntou, se aproximando. Miro olhou para trás e viu Aioria bem perto dele. O Cavaleiro de Escorpião voltou seu olhar para algum ponto a sua frente e suspirou. Aioria se sentou ao seu lado: — Miro? Você está estranho... — viu o Cavaleiro baixar a cabeça e sorrir sem qualquer emoção. Leão estreitou os olhos: — Não me diga que ainda está pensando naquela tolice? — os olhos azuis se voltaram em sua direção: — Será que não percebe o que está fazendo? — perguntou, mas ficou chocado ao ouvir a resposta de Miro. Esperava uma piadinha qualquer, mas o que recebeu foi uma resposta atravessada e até magoada:

— Que droga, Aioria! Veio aqui para me dar lição de moral? — disse se levantando, encarando o Cavaleiro de Leão furiosamente: — Estou cansado de ter que ouvir você me censurar por tudo! Se não está realmente interessado em saber o que está havendo, não me enche! Vai cuidar da sua vida e me deixa em paz! — agora Aioria estava preocupado.

— Hei, cara, calma... — disse se levantando e acompanhando o andar apressado do Cavaleiro de Escorpião. — Vai, me diz o que está havendo... — disse tocando o ombro de Miro, fazendo com que o mesmo refreasse seus passos.

Seus olhos encontraram os de Aioria e sentiu um desejo imenso de se abrir, mas não sabia se o Cavaleiro de Leão o levaria a sério, ou trataria aquilo como um "castigo dos deuses por ter ousado se aproximar de uma Amazona". Ora, dane-se! Ele mesmo pensava que poderia ser um castigo. Precisava contar a alguém e procurar entender o que estava acontecendo consigo mesmo... Por que se sentia tão confuso, perdido e... Culpado?

— Aioria... Eu... — calou-se ao olhar por sobre o ombro do Cavaleiro de Leão.

Suspirou, baixando a cabeça, para em seguida encarar Aioria:

— O que foi? — perguntou, cada vez mais curioso ao perceber a hesitação de Miro:

— Eu vou indo. — Com um movimento de cabeça, Miro indicou a direção aonde as duas Amazonas vinham.

Aioria voltou seu olhar para Miro e estranhou... O que estava acontecendo com Miro? Ele jamais desperdiçaria uma chance daquelas! A Amazona que tentava seduzir caminhando na direção deles e o Cavaleiro se esquivando... Miro estava disposto a conquistá-la há apenas um dia, por que essa atitude agora? Já tinha percebido que o Cavaleiro evitava a presença da Amazona de Cobra e isso o estava intrigando. Fazia dois dias, desde o dia da festa, que ele se afastava discretamente quando a moça se aproximava.

Tinha algo muito errado ali. Apenas naquele momento, quando olhou atentamente para o rapaz, foi que viu o arranhão em seu rosto:

— Miro, o que houve com seu rosto? — o Cavaleiro de Escorpião suspirou:

— Até mais, Aioria. — sem mais explicações, começou a se afastar:

— Por que? — perguntou sem conseguir se conter. Sua curiosidade aguçada pela atitude atípica do Cavaleiro de Escorpião:

Aioria se surpreendeu ao perceber uma certa decepção apesar do sorriso.

— Marin veio ver você e... — seus olhos encararam a Amazona de Cobra. — Minha presença não é bem-vinda. Até mais, Aioria. — disse batendo de leve no ombro do amigo e caminhando em direção às Doze Casas.

Shina tivera ímpetos de se afastar quando viu Miro com Aioria. Por que Marin insistia em sua companhia quando ia ver o Cavaleiro de Leão? E pior... Por que ela aceitava?

Viu-o se afastar e suspirou aliviada. Não teria que confrontá-lo novamente. Já bastava o que lhe acontecera no dia da festa. Seu sangue fervia só de lembrar as palavras que ele dissera. Sempre se considera uma pessoa calma, mas Miro conseguia tirá-la do sério. Sentia ímpetos de esganá-lo.

As Amazonas se aproximaram de Aioria.

Marin estranhara a reação do Cavaleiro de Escorpião. Miro sempre estava por perto quando Shina estava presente. As intenções do cavaleiro eram óbvias... e nada bem-vindas pela Amazona de Cobra.

— Olá, Aioria. — cumprimentou.

— Oi, Marin. — respondeu ao cumprimento, sorrindo. — Olá.Shina.

— O que houve com Miro? — perguntou Marin, curiosa. — Ele me pareceu... Estranho... — Aioria balançou a cabeça.

— Eu não sei... Ele está meio desanimado há uns dois dias pelo menos. — respondeu.

Shina olhou em direção a Miro. Podia ver o Cavaleiro já distante, subindo as escadarias que levavam à Casa de Áries.

Por que ele estaria assim? Percebera que ele passara a evitá-la depois do que acontecera em frente a sua casa. Ótimo! Que os deuses permitissem que ele finalmente se mantivesse longe dela. Dispensava completamente as atenções de Miro.

Observava-o caminhar lentamente em direção ao Santuário. Instintivamente, levara a mão à nuca, onde o Cavaleiro, suavemente, a acariciara no dia da festa. Fôra muita ousadia de sua parte tocá-la daquela forma!

— Ele não te disse o que houve? — perguntou Marin.

— Não... — o olhar de Aioria se dirigiu para Shina ao mesmo tempo que esta o fitou. — Só pude perceber que ele está bem chateado. — comentou. Shina sentiu-se tensa. Era impressão sua, ou Aioria a estava culpando?

Seus olhos se dirigiram para Miro novamente. Não era possível que ele estivesse daquele jeito por causa dela... logo ela, que segundo ele não passava de uma mulher fraca. A lembrança daquelas palavras sendo ditas por ele duas noites antes a faziam se sentir mal. Ele tinha razão, tinha toda a razão, mas não tinha o direito de lhe jogar isso na cara. Não se arrependia nem um pouco do tapa que lhe dera... seu peito se apertou... será que não mesmo?


Miro andava cabisbaixo. A lembrança daquela noite não saia de sua mente. Ela fôra grosseira com ele, sim, mas isso não lhe dava o direito de atacá-la como fizera. Fôra um covarde. Agora, brigava consigo mesmo. Sentia a necessidade de falar com ela, pedir desculpas, mas era orgulhoso demais para isso. E ao olhar-se no espelho de manhã nos últimos dois dias, via claramente aquele arranhão. A prova de sua cretinice.

Surpreendeu-se ao vê-la sentada sobre a ruína de uma pilastra naquele mesmo Templo em que a vira alguns meses atrás. Não esperava conversar com ela naquele momento, sequer chegara a uma conclusão se devia ou não pedir desculpas. Mas a necessidade era latente e não podia desperdiçar a oportunidade. Não sabia o que lhe dizer, mas precisava se desculpar. Agira como um canalha naquele dia.

Shina olhava para o nada, os pensamentos confusos e desordenados lhe viam à mente. Há alguns meses chorara naquele mesmo campo por Seiya... E agora estava preocupada com outra pessoa... Miro... Não conseguia tirar o Cavaleiro de sua mente... Por que o fato de saber, por Aioria, que ele estava triste a incomodara tanto?

Recriminava-se sempre que se pegava pensando naquela dança. Fôra louca ao permitir aquilo. Permitir intimidade com Miro era pedir pelo que acontecera em seguida, mas mesmo assim, sentia-se mal quando se lembrava da forma com que o tratara.

Por que tinha a sensação de que magoara o grande Cavaleiro de Escorpião? Como se ele fosse se importar com o quer que ela fizesse ou dissesse contra ele... mas a estranha sensação de o ter deixado chateado a perseguia e a fazia se sentir mal.

Suspirou e olhou para o céu, quando sentiu a presença de alguém às suas costas. Se voltou e o viu.

Miro não tentara camuflar seu cosmo ao entrar no local. Uma vez ali, queria que ela notasse sua presença. Estava decidido a conversar com ela.

A Amazona de Cobra não sabia como reagir. Estava estática. Encarou-o, enquanto o via se aproximar. Seu coração estranhamente disparado. Estava na defensiva. Não sabia o que esperar de Miro.

Ele caminhou lentamente em sua direção, a cabeça baixa, evitando olhar-lhe nos olhos, e sentou ao seu lado. Ficaram alguns minutos em silêncio, sentados ao lado um do outro, admirando a vista e pensando em como iniciar aquela conversa.

Shina não sabia o que estava havendo e nem como agir, nunca imaginou que estaria numa situação como aquela. Tentada a pedir desculpas e hesitante em fazê-lo.

Miro não sabia por onde começar. Decidira-se se desculpar, mas não esperava fazê-lo naquele momento. Não sabia o que dizer a ela, apenas sabia que tinha que consertar a tolice que cometera. O que dissera naquele dia fôra inaceitável. Sentindo a confusão de seus pensamentos e sentimentos. Miro baixou a cabeça e suspirou, reunindo coragem:

— O que quer, Escorpião? — perguntou antes mesmo que o Cavaleiro pudesse abrir a boca. Miro se calou e arqueou uma sobrancelha. A conversa não começara nada bem. O tom frio e agressivo da Amazona lhe dizia que seria difícil um diálogo amigável. — Se veio até aqui para dizer-me mais desaforos, é melhor ir. O que disse naquela noite foi sufici...

— Você vai me deixar falar? — perguntou irônico. — Ou prefere me atacar primeiro, depois eu falo? Você não precisa se preparar para o bote, Amazona de Cobra. — comentou desdenhoso.

— E o que mais eu posso esperar de alguém como você? — rebateu no mesmo tom. Os olhos de Miro se estreitaram.

— O quer dizer com isso? — perguntou, sentia seu corpo tenso.

— O que você acha? — perguntou irritada. — Você não se toca, não é, Escorpião? — o maxilar do Cavaleiro estalou. — Acho que está claro que... — ele a interrompeu no limiar da paciência.

— Antes que você profira mais palavrinhas "delicadas" com relação a minha odiosa pessoa... — disse com escárnio. — Eu tenho algo a dizer e pretendo fazê-lo... se bem que eu já estou me arrependendo... — calou-se por alguns instantes, esperando mais um comentário cáustico, mas Shina permanecera em silêncio, que fôra tomado como uma deixa para que prosseguisse. Miro suspirou profundamente e desviando o olhar para o chão, como um garotinho acuado, começou: — Eu... eu admito que me excedi naquele dia... er... acho que venho me excedendo há um bom tempo... — foi interrompido:

— Por que esse seu súbito interesse por mim, Cavaleiro? — Não conseguiu evitar a pergunta. Pergunta que martelava em sua cabeça dia e noite, desde que Miro resolvera fazer dela sua "presa". Os olhos do Escorpião a fitaram.

— O qu... — ela prosseguiu, não lhe dando brecha para que se defendesse:

— Nós nunca sequer tínhamos conversado antes. — ele ouviu uma risada sarcástica. — Você sempre se mostrou inalcançável aqui no Santuário... por que, de uma hora para outra, resolveu prestar atenção em mim? "A Amazona fraca"? — sentiu-se acuado. A última frase parecera reviver o momento do tapa. Podia sentir sua face queimando. Sim, nunca trocaram uma palavra antes. Mas se ela achava que ele tinha uma postura distante, ela devia prestar atenção as próprias atitudes. Afinal, aquela Amazona só passara a conviver com Marin, por exemplo, com quem tinha contato, de uma forma ou de outra, há anos, depois da batalha das Doze Casas. Um meio sorriso curvou os lábios do Cavaleiro ao se lembrar de quando dissera que eram iguais nesse sentido: Dois arrogantes.

— Não vejo muita diferença entre nós dois, Shina. — disse esquecendo momentaneamente seu discurso. — Se acha que eu era indiferente a você por ser uma mulher, ou por ser Amazona... explique o porquê de você ser indiferente até com uma semelhante, Marin, por exemplo. — Shina franziu o cenho. Ele não estava errado.

— Eu... — foi interrompida.

— Eu gostaria, por obséquio, que você me ouvisse. — disse seriamente e de modo firme. — O arrogante dos arrogantes, segundo você, está, por incrível que pareça, "tentando" se desculpar! — o tom de voz saíra elevado. Shina se surpreendeu com as palavras de Miro e numa tentativa de se acalmar, o Cavaleiro deslizou a não esquerda pelos cabelos. Percebendo que ela se calara, ele recomeçou, sem saber o certo o que dizer: — Shina... — Estava confuso... e, tinha que confessar, pedir desculpas era um ataque a seu orgulho, mas era o certo a fazer. Falou o que lhe veio à cabeça: — Eu... Eu quero me desculpar por aquele dia.

— Cavaleiro... — ela o interrompeu. As palavras de Miro ecoando em sua cabeça: Ele fôra até ali para se desculpar? Com ela? Aquele Cavaleiro de Ouro presunçoso e metido, que a atacara há apenas alguns dias, era o mesmo que estava a sua frente naquele momento, pedindo desculpas? — Se esta é mais um das suas estratégias idiotas de conquista... — Miro a interrompeu bruscamente:

— Você não me conhece, Shina! Eu jamais pediria desculpas por algo apenas como tentativa de aproximação! Você mesma diz que sou orgulhoso e arrogante... pois bem, são justamente esses dois adjetivos que me impedem de fazer algo do tipo. — Shina percebera o tom ofendido na voz do Cavaleiro.

— Eu... — ele a interrompeu novamente.

— Se pretende voltar para sua casa ainda hoje, é melhor permitir que eu diga tudo o que tenho a dizer... pois não arredarei o pé daqui, enquanto não falar tudo. Me deixe continuar... — ela assentiu: Primeiro, por que pretendia voltar para sua casa ainda naquela noite e segundo, por que não sabia o que dizer para rebater os argumentos de Miro. Estava confusa. Ele continuou: — Eu disse aquelas coisas num momento de raiva... Não vou negar, naquele momento eu queria mesmo feri-la, mas... Eu sinto muito... Não devia ter dito aquilo... Foi cruel, maldoso, injusto... — Shina o analisava. — Eu sinto muito, sinceramente... — A imagem que sempre fizera de Miro, era do Cavaleiro arrogante, metido a gostoso, indiferente e que se mantinha distantes dos outros, como se fosse superior aos demais... esse Miro a sua frente parecia irreal. Nunca, sequer imaginara que aquele Cavaleiro pudesse, um dia, assumir um erro. Orgulhoso como sempre se mostrara... e agora, ali estava ele a sua frente... se desculpando... as palavras dele pareciam sinceras e tocaram-na profundamente, não podia negar. Ela não o conhecia, ele tinha razão, mas ela sabia que Miro jamais se desculparia se realmente não estivesse se sentindo muito mal com aquela situação. Baixou a guarda:

— Você estava certo... — ela disse, interrompendo-o e fazendo-o encará-la. Suspirou e dando as costas ao Cavaleiro, voltou a se sentar sobre aquela mesma pilastra. Olhou para o céu. As estrelas brilhavam magnificamente. Ela baixou a cabeça e voltou seu rosto na direção de Miro em seguida. Este a fitava em silêncio.— Eu sou fraca... — sua voz falhou levemente, mas o atento Cavaleiro percebera: — Eu não devia ter me permitido sentir pelo Seiya o que senti, principalmente conhecendo a Lei das Amazonas. Eu deveria ter lutado contra isso... — ele a interrompera.

— Não diga isso. Você não é fraca. Aconteceu... Eu não tinha o direito de dizer o que disse, da forma que eu disse... eu não conheço você, Shina. Você mesma disse isso. E... estou sinceramente arrependido por ter dito aquilo. E também pela forma como venho agido com você nos últimos tempos. — coçando a nuca, num gesto envergonhado, ele acrescentou: — Você tem razão em não me suportar. — disse com um sorriso constrangido. Por trás da máscara, a Amazona sorriu suavemente. Miro ficava uma gracinha corado. Arregalou os olhos. De onde viera isso? Surpreendeu-se e censurou-se por esse pensamento. Ele fez uma longa pausa e tornou a olhar para ela: — Você aceita minhas desculpas? — ela o encarou, ainda surpresa ao ver Miro, o Cavaleiro de Ouro de Escorpião, lhe pedindo desculpas:

— Claro que sim. — respondeu, sentindo-se mais leve por terem se entendido. O Cavaleiro sorriu suavemente e se aproximou hesitante, a Amazona o encarou:

— Er... posso me sentar com você? — Shina nunca imaginara que aquele Miro pudesse existir. Todos tinham suas máscaras, fosse por um motivo ou por outro. Qual era o motivo de Miro?

— Pode sim. — ele se aproximou e sentou ao lado dela na pilastra e Shina baixou a cabeça. Ao retornar os olhos para fitá-lo, viu-lhe o rosto ferido. Os arranhões estavam cicatrizando, mas eram bem visíveis e pareciam profundos. Levando a mão ao rosto dele num gesto instintivo, ela os tocou com suavidade. O Cavaleiro se encolheu ligeiramente e fitou-a, surpreso. Ainda ardia um pouco. Era uma dor ínfima perto das que ele já sofrera, mas o toque lhe surpreendeu. Shina afastou a mão e baixou a cabeça: — Desculpe-me por isso, Miro. — O Cavaleiro tocou o ferimento de leve e sorriu. Era a primeira vez que ela falava seu nome. Sempre se referira e ele como Escorpião, Cavaleiro ou Miro de Escorpião. Estava satisfeito, muito satisfeito. Ela prosseguiu: — E pela forma como o tratei quando chegou.

— Não se preocupe, Shina. Eu mereci. — disse e a encarou, piscando para ela em seguida. Shina baixou a face, e sorrindo sob a máscara, balançou a cabeça, divertida. As sensações que a proximidade com o Cavaleiro lhe provocavam desta vez eram tranqüilizadoras. Sentia-se bem com ele. Uma paz tomara seu ser. Sentia que acabara de ganhar um grande amigo e essa sensação era deliciosa. Ficaram, um tempo, em silêncio, apenas sentindo a presença um do outro. Não era ruim, pelo contrário, era reconfortante. Miro franzira o cenho e rompera o tranqüilizador silêncio: — Você me acha mesmo um idiota? — ele perguntou subitamente, de uma maneira até infantil, e Shina o encarou com os olhos arregalados, antes de jogar a cabeça para trás permitindo que a gostosa gargalhada soasse.

Miro a fitou confuso... Mas naquele momento teve certeza, ele gostava mais de ouvir seu sorriso. Adoraria poder ver seu sorriso...

Sorriu também, enquanto ela tentava recuperar o fôlego.


Miro caminhava alegremente, mexendo com todos que encontrava pelo caminho. Visivelmente bem-humorado. A conversa com Shina o fizera ficar leve. Sentia-se bem e não escondia isso de ninguém.

Aioria estava confuso.

Menos de vinte e quatro horas antes, Miro estava depressivo, calado, com o olhar perdido. Agora, o via brincando e conversando animadamente. Mas, estava diferente do Escorpião que conhecera... Podia sentir algo mais emanando do amigo, uma aura de felicidade o envolvia... E apesar de não querer demonstrar, Aioria estava irremediavelmente curioso.

— Hoje você não escapa! — disse caminhando em direção ao Cavaleiro.

Miro o viu se aproximar e apressou o passo em sua direção, envolvendo os ombros de Aioria e o fazendo andar com ele:

— Aioria, meu caro! O que conta de novo? — perguntou, sorrindo.

O Cavaleiro se desvencilhou de Miro e o encarou:

— Miro... Você bebeu, fumou, cheirou ou injetou algo ilícito? — perguntou, fazendo Miro encará-lo surpreso com a pergunta repentina, para depois cair numa gargalhada incontrolável.

O Cavaleiro de Ouro de Leão ficara indignado. Falara sério, ora!

Encarou-o seriamente, enquanto esperava que o grande Cavaleiro de Ouro de Escorpião recobrasse o fôlego:

— Aioria... — disse ofegante: — Eu sou um Cavaleiro de Ouro responsável! — disse debochado, ainda rindo: — Não, não bebi, não fumei, não cheirei, nem injetei nada, ok? — disse balançando a cabeça, sorrindo.

— Então o que é que está havendo? — perguntou, irritado: — Num dia você só falta se atirar de uma ponte... No outro ri até do que não tem graça... — Miro sorriu e mais uma vez envolveu os ombros do amigo com o braço esquerdo:

— Aioria... Athena o nomeou meu pai sem que eu soubesse? — zombou e Aioria o encarou sério: — Não, é sério, você me dá sermão o tempo todo; pega no meu pé por tudo e por nada... Se mete na minha vida quando acha que eu estou triste e se mete também quando eu estou feliz... — Aioria ficou ligeiramente ofendido e se afastou:

— Oras, seu idiota... — mas Miro sorriu.

— Ah, meu amigo... Eu estou me sentindo leve... — comentou. O olhar confuso de Aioria o fez resolver contar tudo. Suspirando, Miro começou: — Eu tive uma discussão com Shina na noite da festa...

— Miro... — o Cavaleiro de Escorpião reconheceu o tom de alerta.

— Calma! — disse erguendo as mãos: — Posso continuar ou você quer me apedrejar primeiro?

— Deuses, você é tão dramático! — comentou, enquanto se sentava sobre uma pilastra caída.

— Bom, eu fiz uma pergunta nada pertinente e ela me atacou... — disse ele, sentindo-se mal ao lembrar do que dissera: — Eu disse algo realmente detestável e a magoei de verdade... — Aioria não comentou nada, deixando que ele prosseguisse com seu relato: — Bem, eu percebi que o que você disse era verdade: Eu não amava, eu queria conquistá-la por que percebi que ela não era inatingível.

— Por isso você estava mal. — constatou.

— Foi... — afirmou envergonhado do olhar repreensivo que recebera.

— E o que foi isso no seu rosto? — perguntou, intrigado com o arranhão que via no rosto do Escorpião e intuindo que tinha relação com a história que acabara de ouvir do amigo.

Miro o encarou, com um sorriso nervoso:

— Digamos que... esta e a manifestação física de sua ira. — disse tocando o ferimento com a ponta dos dedos.

Aioria suprimiu o riso e resolvera mudar o foco da conversa. Queria saber o que acontecera agora:

— E agora? Qual o motivo da alegria? — Miro sorriu, radiante.

— Eu conversei com ela ontem, naquele mesmo local onde a vira chorando, lembra-se? — Aioria acenou positivamente e ele continuou: — Pedi desculpas pelo que eu disse a ela naquele dia... e ela aceitou. — Aioria ficou feliz por Miro, mas sorriu maliciosamente:

— Pediu desculpas por espiá-la também? — Miro corou e Aioria explodiu em risada. Não conseguiu conter-se desta vez.

Era difícil ver o Cavaleiro de Escorpião envergonhado, mas quando acontecia, o Cavaleiro de Leão não perdoava:

— Ahhh... Eu não comentei sobre isso, ora! Você acha que ela acreditaria em mim se eu dissesse que a tinha flagrado sem querer? — Aioria ainda ria: — Um dia... Se eu achar que ela entenderá, eu conto...

— Sei... Sei... — comentou Aioria secando as lágrimas que saiam de seus olhos devido ao acesso de riso que tivera. — Ok, ok, fico feliz por você... Agora vamos... Ainda temos treino. — Acompanhou o Cavaleiro de Leão, pensando naquelas palavras...

Um dia, um dia contaria...

Continua...


Mais um capítulo concluído!

Obrigada a todos que estão acompanhando a fic, mesmo àqueles que não comentaram!

Obrigada pelos comentários: Naru Misato-san (Roberta), Ayumi-tenshi, Aline, Juliane-chan, Lulu-Lilitis (Analuisa), Dama, T.A. Lovely (Tamara), Dana, Megawinsone e Pandora Amamiya (Belzinha). Amei todos os comentários! Vocês me deixaram muito feliz e animada para continuar escrevendo! Que bom que gostaram dos capítulos anteriores e espero que tenham gostado deste também!

Esta fic está na reta final! Mais uns dois ou três capítulos no máximo! Prometo, vai ser rapidinho! Beijos a todos e obrigada!