Tempestade
Marin não se surpreendeu ao ver Shina conversando com Miro e Aioria.
A Amazona de Cobra e o Cavaleiro de Escorpião se tornaram amigos inseparáveis, embora sentisse que acontecia algo mais entre eles. Algo que nem mesmo eles haviam percebido ainda. E a Amazona de Águia achava muito engraçada a expressão de Aioria. Era óbvio que ele estava sobrando na conversa.
— Olá, Cavaleiros; Shina. — cumprimentou a Amazona. — Estamos atrasadas para o treino. — disse, enquanto admirava Aioria discretamente. Este sorrira ao ver-lhe chegar:
— É mesmo! — disse a Amazona de Cobra, que apenas naquele momento percebera que perdera a noção do tempo, e sem pensar em mais nada, tomou a mão de Marin: — Arivederci, rapazes!
— Shina! — exclamou Marin, surpresa com sua reação. Shina saíra correndo arrastando-a consigo.
Aquela atitude era atípica da Amazona de Cobra, sempre séria e tranqüila... até certo ponto. Shina estava mais espontânea depois que se aproximara de Miro. Suas barreiras haviam sido destruídas e Marin tinha certeza que finalmente estavam conhecendo a verdadeira Shina.
Aioria deixou escapar um suspiro desolado. Nem tivera tempo de responder ao cumprimento da Amazona de Águia. Ouviu um pigarrear ao seu lado e olhou para o Cavaleiro de Escorpião, que o encarava com uma sobrancelha arqueada, visivelmente segurando o riso. Miro fechou os olhos e baixou a cabeça, balançando-a de um lado para o outro:
— Tsc, tsc... Nem teve tempo de "namorar" sua Amazona, hein, Aioria? — comentou Miro maliciosamente, encarando o Cavaleiro com um olhar travesso. O Cavaleiro de Leão resolvera entrar no jogo:
— Já você pôde "babar" à vontade, né, Miro? — o Escorpião olhou para ele indignado:
— Oras, do que está falando?
— Estou falando que você caiu na armadilha, Escorpião: De sedutor, passou a seduzido... Só você e ela não perceberam isso ainda... — e sem mais uma palavra se afastou, deixando Miro perdido.
Sorriu. De onde o cavaleiro de Leão tirara aquilo?
Shina e ele eram apenas bons amigos. Gostava da companhia da Amazona; sentia-se bem ao lado dela; gostava de conversar com ela e ver o quanto ela era veemente ao defender suas opiniões. Admirava-a. Shina não se submetia a ninguém. Sim, gostava de estar com ela. Mas não estava apaixonado por ela...
Aioria estava imaginando coisas!
Ou não...?
O sorriso desaparecera de seu rosto e ele ficou sério, pensando nas palavras do amigo e no quanto a presença de Shina se tornara importante para ele.
Deuses! Estava confuso!
O Cavaleiro de Escorpião estava voltando para o Santuário e encontrou a garota com quem dançara no dia da festa. Ele tinha a ligeira impressão de que ela o estava espreitando.
— Olá, Cavaleiro! — se aproximando de Miro, que deu um sorriso nada animado ao vê-la.
— Olá... não devia estar treinando? — perguntou buscando um motivo qualquer para afastá-la e continuar seu caminho sossegado.
— O treinamento já acabou. — tocou o braço do Cavaleiro.
— Oh, sim... — comentou vendo sua esperança desaparecer. A aspirante à Amazona sorriu e perscrutou o rosto de Miro, arregalando os olhos ao reparar na cicatriz no rosto do Cavaleiro.
— O que foi isso, Miro? — perguntou tocando seu rosto. A intimidade, ao contrário do que era de se esperar, incomodou Miro. Não se conheciam tão bem para que ela se sentisse no direito àquela liberdade. Que os deuses lhe ajudassem a se livrar daquela situação nada bem-vinda.
Marin e Shina voltavam da arena de treinamento:
— Você só pode estar brincando, Marin! — comentou Shina, embora tivesse consciência de que a presença do Cavaleiro de Escorpião era mais importante do que gostaria de admitir.
Desde o dia da festa, passara a sentir algo por Miro que até então nunca sentira antes. Sabia que era muito mais do que amizade, mas não queria admitir isso, nem a si mesma:
— "Brincando" por que? — disse a Amazona de Águia: — Vocês vivem grudados, sempre dando um jeito de estarem juntos. Qual é o problema se estiver apaixonada por ele?
— Marin, você e Aioria têm um relacionamento parecido e nem por isso estão juntos... — Marin a interrompeu:
— Eu nunca disse que não o amava, Shina... — a Amazona de Cobra percebeu que se colocara numa armadilha ao usar o casal como exemplo e se esquivando do assunto, disse:
— Já passei por isso antes, Marin... A experiência não foi nada agradável. Não quero repeti-la, obrigada. A amizade dele me é suficiente, e demos por encerrado este assunto! — disse ela taxativa.
— Está bem, está bem... Não falo mais nisso... — as duas continuaram a caminhada, em silêncio.
Shina estava perdida em pensamentos.
Estava sim, mais próxima de Miro. Tornaram-se amigos e ela pôde conhecer uma face do Cavaleiro de Escorpião que ela nem imaginava existir. Miro era mais sensível do que ela podia imaginar.
Sorriu ao lembrar das conversas que tiveram. Dos momentos que passavam juntos. Dos olhares e sorrisos de Miro. Sua voz rouca e reconfortante. Lembrou-se daquela cicatriz em seu rosto. Estava sumindo, mas ainda estava lá. Sentia-se culpada cada vez que a via e não conseguia não comentar o assunto, deixando Miro exasperado com essa atitude. Sorrira ao lembrar-se disso.
Sorriso que morrera ao ver a cena a sua frente.
Miro, acompanhado da mesma garota com quem dançara no dia da festa. Ela se pendurava no braço do Cavaleiro e sorria abertamente, se insinuando. Os olhares lânguidos e sorrisos sensuais não eram poupados. Sua mão tocou o rosto de Miro, deslizando sobre a cicatriz.
Shina ficou tensa e estacou. Sentiu seu coração falhar uma batida, para então acelerar o ritmo, numa taquicardia que a fazia ter dificuldades de respirar. Sentia seu corpo tremer. Marin se surpreendeu com a parada súbita e encarou a Amazona de Cobra:
— Shina...? — a Amazona de Águia a chamou, confusa. Seus olhos acompanharam o trajeto em que a Amazona estaria olhando, e se surpreendera, mas entendera o que deixara a amiga tão perturbada.
Não havia mais como Shina negar o que estava sentindo. Aquela reação fôra bem eloqüente. A proximidade de Miro com a moça incomodaram Shina visivelmente. Mas o que a Amazona parecia não perceber era óbvio o desconforto do Cavaleiro com a situação.
Miro se afastara do toque instintivamente, mas Shina não estava vendo a cena desta forma. As lembranças do que sentira com relação a Seiya deviam estar voltando, e a Amazona de Cobra deveria estar se sentindo confusa e assustada.
A história se repetia, aos olhos de Shina.
Shina sentia seu coração batendo tão forte em seu peito que doía e sua respiração era difícil. A orgulhosa Amazona lutava com todas as forças para não chorar. Sentia-a mal. Fizera o máximo para evitar, mas fôra em vão: Caíra na armadilha mais uma vez.
Marin balançou a cabeça ante à demonstração de ciúmes de Shina.. A Amazona de Cobra era cega demais, estava óbvio o interesse de Miro, mesmo que este não dissesse em palavras. Suas ações eram o suficiente. Seus pensamentos foram cortados pela voz trêmula da moça:
— Eu... Eu preciso ir, Marin. — respondeu, quando finalmente ouvira Marin a chamando.
Começou a se afastar, tomando a direção oposta a que Miro estava.
O Cavaleiro já não sabia mais o que fazer para se livrar daquela pirralha. Maldita hora em que aceitara dançar com ela. Se arrependimento matasse, ele teria caído duro e seco na noite daquela festa. Agora como faria para se livrar daquela garota sem ser grosseiro! Afinal, seu desconforto era meio... indisfarçável... ela parecia se fazer de cega... Onde estava o brio daquela garota?
Olhou para frente e viu a Amazona de Cobra. Shina se afastava. Sem pensar em mais nada e sem se importar se a garota se sentiria ofendida ou não com sua atitude, correu em direção à amiga, largando a menina sozinha e visivelmente irritada:
— Shina! — chamou-a, mas vendo que ela não refreava o passo, segurou-a de leve pleo braço, logo acima do cotovelo.
Shina se voltou e encarou o rosto levemente corado de Miro devido à corrida.
O vento brincava com os cabelos azuis, jogando-os contra o rosto másculo, tornando-o ainda mais bonito. Os olhos azuis claros brilhavam e seus lábios estavam entreabertos. Respirava suavemente, buscando fôlego. Seu coração disparou e toda a conversa que tivera com Marin, minutos antes voltara e ela se viu perdida... Mais uma vez.
Sentiu seus olhos arderem, e tentou engolir em seco para dizer algo. Simplesmente sair em disparada, sem lhe dar qualquer explicação, poderia levantar suspeita. E ela precisava pensar no que estava sentindo, precisava colocar sua cabeça em ordem.
Encontrando a própria voz e reunindo coragem, ela falou:
— Eu... Eu preciso ir, Miro... — disse. O Cavaleiro a fitava preocupado.
Ela tentara disfarçar, mas o Cavaleiro já a conhecia o suficiente e percebera a hesitação e confusão em sua voz:
— Shina... O que houve? — queria poder ver-lhe o rosto. Olhar em seus olhos e tentar desvendar o que estava acontecendo. O por que daquela atitude evasiva. Naquele momento sentiu ainda mais raiva daquela máscara:
— Não é nada, eu só preciso ir... — estava nervosa, precisava de um tempo para pensar. O problema fôra simplesmente jogado em sua cara.
Quando viu Miro e Calíope conversando aquela mesma sensação que teve na festa voltara, mas desta vez muito mais forte, muito mais intensa. Latente. Fazendo-a compreender finalmente que não podia controlar tudo em sua vida. Não se controlam os sentimentos. Seu maior temor se realizara: Se apaixonara de novo e mais uma vez, não era correspondida.
Tentou se desvencilhar dele, mas Miro não permitiu:
— Por favor, me diga o que está havendo... — pediu, estava cada vez mais preocupado. O que estava acontecendo, afinal?
Irritada e confusa, Shina puxou o braço e disparou com violência:
— Que droga, Miro! Não é da sua conta! Deixe-me em paz! — disse se afastando rapidamente, sem olhar para trás, deixando um Cavaleiro confuso e magoado.
Marin vira tudo de longe. Estava óbvio o que estava acontecendo. Shina estava com medo de passar pelo que passara ao se apaixonar por Seiya. Não acreditava que fosse acontecer, mas já seria tarde para evitar... os sentimentos da Amazona de Cobra eram nítidos.
Lentamente se aproximara de Miro, percebendo o quanto o rapaz ficara confuso e estava estampada em seu rosto a mágoa pelo tratamento que recebera.
Tocou-o de leve no ombro:
— O que houve com ela, Marin? — perguntou, sua voz baixa, preocupada e desanimada.
A Amazona olhou para o lado oposto, onde Calíope, a garota com quem Miro falava quando chegaram estava. Ela fitava o Cavaleiro visivelmente contrariada com a saída repentina:
— Eu vou conversar com ela, Miro. Não se preocupe... — foi interrompida:
— Eu fiz algo que a chateou? — perguntou olhando para a Amazona.
Marin sentiu-se mal ao ver o quanto Miro estava preocupado. Shina agira sem pensar, o que, aliás, era comum naquela Amazona impulsiva! Tentou tranqüilizá-lo:
— Eu... Eu realmente não sei, Miro... Mas eu vou falar com ela... Com licença. — e se afastou indo atrás de Shina que já estava bem distante.
O cavaleiro e viu se afastar em direção a Amazona de Cobra.
Não conseguia entender o que acontecera... o que poderia ter feito para ela agir daquela forma com ele?
Esperava que Marin descobrisse algo. Dera às costas e voltara para o santuário cabisbaixo. Nunca imaginou que a frieza daquela mulher pudesse lhe ferir tanto.
Durante todo o caminho, só conseguia pensar na dor que estava sentindo. E como perdera completamente o controle de seus sentimentos. Aioria tinha razão: ele não tinha a menor noção do que falava quando disse que Shina sofrera por uma bobagem...
Seu coração se apertou. Será que ela tinha reencontrado seiya? Era por isso que estava daquele jeito? Que os deuses o ajudassem... não agüentaria saber que ela ainda amava o Pégaso...
— Shina... O que houve...? — perguntava-se o Cavaleiro sem entender o que acontecera.
Shina caminhava rapidamente e as lágrimas embaçavam-lhe a visão!
Por Zeus, prometera nunca mais chorar por homem nenhum! Maldita hora que permitira a aproximação de Miro! Ele conseguira! Fez dela mais uma de suas conquistas!
— Shina! — ouviu o chamado de Marin. Não reduziu o passo. Não queria falar com a Amazona, não queria falar com ninguém.
Que droga! Por que sentia como se tivesse sido traída por ele?
Não tinham nada, eram apenas amigos... Ela não tinha o direito de se sentir daquela maneira!
Sentiu a mão segurando seu braço, se soltou, virando-se para encarar a Amazona de Águia:
— Que droga, Marin, o que você quer? — perguntou irritada. Sua voz saíra trêmula.
— Aconteceu, não foi? — perguntou Marin e Shina baixou a cabeça. Seus ombros tremeram:
— Ele tinha razão ao dizer que sou fraca... — disse ela. Marin se aproximou e a abraçou. Nunca vira Shina num momento de fragilidade como aquele.
— Shina... Não fale assim... Nem sempre é o que parece... — tentou consolá-la. — Ele está sinceramente preocupado com você...
— Não me importa... — disse se afastando de Marin. — Eu tenho que esquecer isso. Tenho que ficar longe dele! — disse ela com raiva, raiva de si mesma.
— Shina...
— Me deixe em paz, Marin, por favor... — a Amazona se afastou retomando o caminho em direção a sua cabana.
Marin a fitava contrariada!
Além de impulsiva, aquela Amazona era teimosa demais. Esperava que isso não afetasse seu relacionamento com Miro. O Cavaleiro estava sendo sincero com seus sentimentos, estava sendo sincero com ela...
Shina entrou fechando a porta atrás de si, encostando-se nela e retirando a máscara. As lágrimas corriam por seu rosto, sem controle. Outra vez, estava chorando outra vez. Depois de ter se prometido que nunca se permitiria fraquejar!
Acontecera novamente!
Estava apaixonada pelo sedutor do Santuário!
Como se arrependia de ter se aproximado de Miro! Nunca mais falaria com ele, ou pelo menos manteria distância até que aquele sentimento fosse superado... de novo...
Seria obrigada a manter distância mais uma vez...
— Você é fraca, Shina... — disse, jogando a cabeça contra a porta e fechando os olhos, sentindo quando mais uma lágrima escorreu por seu rosto. Sentia aquela lágrima escorrer como mais um sinal de sua fraqueza.
Continua...
Oi! Obrigada a todos que estão acompanhando esta fic e um agradecimento especial às pessoas que postarm comentários: Juliane-chan, Primidon, T.A. Lovely, Mi-chan, Dana, Dama, Craviée, Namárië, Lulu-Lilits, Megawinsone, Nina Neviani, Luna Vamphyrien. Fico feliz que estejam gostando da fic e espero que este capítulo tenha ficado do agrado de vocês!
Bom, aos que perguntaram... esta fic é como se tivesse acontecido antes da Corações em Conflito, portanto, Aioria e marin não ficam juntos.
Bom, o próximo capítulo é o último! Beijos a todos a até lá!
