Blue Moon

Chama-se Lua Azul a segunda lua cheia num mesmo mês do calendário gregoriano. O folclorista canadense Philip Scock, após ter pesquisado indícios da origem da Lua Azul, afirma que a expressão é usada desde o século XVI para representar uma Lua cheia especial, perigosa, onde pode acontecer o desatino e a alucinação.

Ao contrário do que o nome sugere, a Lua Azul é associada a perigos e desvario, a desafios emocionais difíceis de viver que requerem humildade e despojamento. É considerada um acontecimento de muita força magnética e poder espiritual, onde acontecem profundas purificações emocionais.

xoxoxoxoxoxoxoxoxoxoxoxoxoxo

Estranhou o silêncio da Sede da Ordem àquela hora.

O normal seria escutar os barulhos vindos da cozinha, onde Lupin já deveria estar começando a fazer o seu espartano - mas barulhento - café da manhã.

Ao contrário do que seria esperado, virou-se à direita no corredor em direção às escadas, e ali estava Lupin, desacordado, ao pé delas.

Imediatamente Snape observou que o ângulo que ele estava não era nada normal, e pelo menos um braço e uma perna estavam quebrados. Moveu-se com cuidado para achar o melhor modo de se aproximar dele, sem machucá-lo. Mais. Seu pulso estava fraco, a respiração frágil e difícil : ele devia ter caído da escada há muito tempo : estava bem gelado, as pontas dos dedos arroxeadas, os olhos desmemsuradamente abertos olhando o nada. Mas não estava desacordado, embora gemesse baixinho alguma coisa ininteligível.

- Calma, Remus, estou vendo por onde começar.

Os olhos ganharam um brilho diferente, perdendo aquele ar de alheamento que tinham, e tentavam focalizar alguma coisa, mas era evidente que ele estava confuso demais para isso.

- Remus, não se agite, você caiu da escada. Está na sede da Ordem. A Ordem da Fênix. Dumbledore. A casa dos ... Black. Sirius Black, lembra ?

Enquanto falava praticamente qualquer coisa que o trouxesse de volta à realidade, Snape ia fazendo os primeiros socorros em Remus : a pancada na cabeça que só agora ele vira parecia bem forte, estava um galo bem alto, com um grande corte nele e evidentemente bem dolorido, pois o simples toque em área próxima o fez gemer mais forte. Encanou o braço quebrado com um aceno de varinha, enquanto conjurava ataduras para a perna com uma mão e com a outra verificava se havia mais ossos quebrados. Não foi sem um frio ódio que percebeu que Remus estremeceu ao nome de Sirius... mas se fosse isso que o fizesse voltar à realidade, então que fosse. Não seria a lembrança de um fantasma que tomaria o lobisomem de seus braços. Ainda mais naquele momento.

- Sssss

- Sim, Sirius, seu amigo querido da escola. Respire fundo. Isso... assim está melhor. Vou te tirar daqui, respire mais fundo. Isso.

As duas costelas quebradas também foram consertadas com rapidez : agora pelo menos ele podia tirar Remus dali e levá-lo para algum lugar mais confortável para olhar o ferimento da cabeça com mais cuidado.O Saint Mungus estava totalmente fora de cogitação, mas aquela pancada fora coisa muito séria... enquanto imaginava o que teria feito Lupin cair daquele jeito, pensava em como chamar um medibruxo mais rapidamente ali.

Pensou em levar Lupin até um dos quartos, mas achou melhor deixá-lo na sala : sabia que iria precisar de sua atenção total, e ele tinha muitas poções a preparar, e ia precisar da bancada da cozinha. Melhor o sofá da sala, mesmo. E para lá levitou o corpo de Lupin, que resmungava um pouco, mas menos agora.

Jogou o pó de flu na lareira, e dali mesmo gritou "escritorio de Dumbledore". O rosto do diretor não se fez esperar na lareira.

- Quem me ... ?

- Remus está em perigo aqui na sede. Preciso de um medibruxo AGORA ! E preciso de margaridas e ácido sulfúrico já.

- Vou contatar alguém. Fawkes já vai, por enquanto.

Fawkes ! Sim, a Fênix iria resolver a pancada na cabeça. Lupin já estava com o olhar mais focalizado, olhando-o mover-se agitadamente à sua volta, conjurando uma bacia com água e colocando na testa dele um pano úmido. O que arrancou um discreto esgar de lábios (um sorriso ? mais dor ?) do lobo.

- Doeu ?

- Hum.

- Quer que eu tire ?

- Hum.

- Hum é não, certo ?

- Hum-hum.

- Abra a boca. Remus, escute. Maldição, fique acordado e ABRA A BOCA !

Então era isso. Ele tinha cortado a língua. Nada que não pudesse ser resolvido rapidamente. Mas ainda não estava seguro de deixar Lupin sozinho ali. Os olhos dele às vezes se fechavam sozinhos, e isso não era nada bom... nada, nada bom. Somente com seus gritos e impropérios é que ele abria os olhos novamente, e tentava com evidente esforço ficar com eles abertos, e fixos nos poços negros que eram os olhos de Snape.

Foi nesse momento que Fawkes entrou resplandecentemente rubra pela janela da cozinha, e postou-se às costas de Lupin, começando a derrubar suas lágrimas na cabeça dele. Foi evidente o alívio deste conforme as lágrimas iam tocando o hematoma e baixando... lágrimas que tiveram eco nos olhos de Remus. Agora que a dor finalmente ia embora, ele se permitia demonstrá-la. Típico. Grifinoriamente típico. Observando que o olhar parecia mais claro e menos fugidio, ele poderia ir buscar material na cozinha para começar a pilar as ervas que já tinha sido jogadas pela lareira. Pelo menos Dumbledore tinha senso prático. Porisso a Ordem da Fenix ainda existia. Provavelmente só por isso.

- Vou à cozinha buscar um pilão, e uma vasilha de porcelana. Entendeu ? Já volto. Eu estou aqui ao lado, na cozinha, você está com Fawkes.

E mais ninguém. Malditos sejam todos, malditos ! Que queimem todos no inferno como eu vou queimar essas plantas para te restituir a saúde, Remus Lupin. Queimem todos por te deixar sozinho enquanto eu patrulhava.

- Pronto, já voltei. Remus, olhe para mim ! Isso... ótimo. Quantos dedos vê ?

- hum-hum.

- Perfeito. Dois. Tome, beba.

Maldição! Ele esta´com visão dupla, isso é mau... A Fenix me olha como se estivesse preocupada, não saiu ainda da cabeceira dele... inclinou-se novamente e derrubou mais lágrimas... mas o corte já se fechou. Não sei no que ela possa ajudar. Não sei no que EU possa ajudar, fora dar essa poção revigorante e para que ele não tenha nenhuma sequela mais profunda. Quero evitar convulsões, porisso eu o instigo a me responder, agora que a língua já está curada.

E finalmente quando a cor começa a voltar às suas faces, chega alguém para dar uma olhada nele. Se eu fosse esperar atendimento por um medibruxo, eu teria apenas um lobisomem morto nas mãos. Eu sabia, instintivamente sabia que se eu tivesse me demorado um pouco mais ouvindo as piadas sujas de McNairr eu não veria mais Remus com vida. Felizmente Fawkes veio.

- Sr Lupin, diga-me quantos dedos eu estou mostrando para o senhor ? Sr Snape, o que lhe deu até agora ?

- U.

- Bom. O que deu mesmo, Sr. Snape ?

Ótimo. O tal medibruxo é surdo... respiro fundo e com o que me resta de paciência eu repito pausadamente :

- Uma infusão de Bellis Perenis e Sulphur.

- É... é... a contusão foi feia, mesmo. Isso evitou convulsões, mas preciso de mais. Adicione Hypericum, e espalhe na espinha um preparado com Conium, desde a base do crânio até o final dela.

- Espinha ? Conium ?

- Sim. Rápido, por favor, precisa preparar porque esse eu não tenho pronto.

Fiquei congelado. Conium... cicuta. Para vertigens, sim, mas também para paralisia. Por Merlin, Morgana e todos os seres vivos e mortos dos céus e dos infernos, Remus não teria nada, nenhuma sequela, EU não permitiria. Virei-me imediatamente e sem pensar mais fui para a cozinha, preparar o que era necessário. Trouxe rapidamente até a sala, e entreguei ao medibruxo caquético que contava uma piadinha idiota para Remus, que gentilmente - até agora ele era gentil - tentava sorrir para o velhote caquético. Imitador de Dumbledore, todos querem ser palhaços igual a ele. Patético. Ele se despediu de Remus, que tentava se ajeitar doloridamente no sofá, e eu o acompanhei até a porta.

- Por que ?

- Porque o que ?

- Por que ele caiu ?

O medibruxo - que eu julgara surdo e caquético - apenas apontou para a folhinha na parede, e disse cansado :

- Estamos entrando hoje na Lua Azul. A pior para os lobisomens, decidamente a pior...Voltarei assim que puder, tive de dar uma fugida do Saint Mungus para vir aqui. É bom ser velho, sempre pensam que sua bexiga orienta sua vida, que você está meio caduco... Isso faz bem à Ordem. Voltarei, se não for possível antes, à noitinha, antes das seis. Passe o preparado de Conium o mais rápido possível nele, por favor. E em hipótese alguma o deixe sozinho.