- Bom... muito bom, Lupin. Pelo visto, esta noite não precisaremos mais das correntes.

O olhar de alerta que Severus me deu, duro e rígido como suas costas foi o claro indicativo que eu deveria permanecer calado. E eu congelei : pelo sua própria conta e risco ele havia deixado de me prender... Céus ! O que poderia ter acontecido ! Mas me revesti da minha imagem mais cândida ao olhar dentro dos olhos do medibruxo e responder calmamente :

- Foi uma noite tranquila, caro Theodorus.

- Acredito que tenha sido...mal ouvimos o Lobo, mesmo, foi tudo muito bom, muito, muito bom... Bom acharmos soluções para nossos problemas, não, Lupin ?

- Sim, Theodorus.

O que esse maldito bastardo sabe, afinal ? Pensava eu cada vez mais e mais exasperado, o meu corpo movimentando-se à minha revelia estava quase delatando que eu estava pensando seriamente em jogar o medibruxo dali para fora... precisávamos criar estratégias conjuntas, Remus e eu, ou a próxima noite seria um fracasso. E não podíamos fracassar... voltei minha atenção para a lenga-lenga do velho Theodorus, ainda examinando as pernas de Lupin e suas costas (precisa apertar, apalpar e tocar tanto, velho imbecil ?), até finalmente terminar o maldito exame matinal.

-Severus, apesar da coluna de Remus já estar boa, é melhor mantê-lo preso por feitiços e correntes ainda essa noite. Só por precaução. E quanto a você, Remus, quero vê-lo descansando por algumas horas, logo após tomar isso e um bom caldo de legumes. E, Severus... faça o mesmo. Foi uma noite muito cansativa para ambos. Fiquem aqui, vou pedir para que ninguém venha perturbá-los hoje. Descansem o dia todo, vão precisar de todas suas energias nessa noite e nas que virão.

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- Severus !

- Sim, Remus ?

- Precisamos conversar.

- O medibruxo mandou você descansar.

- Enquanto sua mente sonserina toma decisões que nem nos meus mais loucos tempos de Maroto eu teria coragem sequer de pensar. Não, Severus, dessa vez seremos dois a decidir o que fazer e o que não fazer à noite.

- Você não está em condições.

- Nem você, portanto estamos iguais.

Iguais. Sim, meu lobinho, estamos iguais.. porque somos iguais.

- E o que o Maroto Lupin sugere ?

- Deixe a ironia para o Lobo, Severus, ele talvez aprecie.

- Ele não é de muita conversa, Remus, caso não saiba.

- Você está me tirando do sério, Severus Snape !

E você já me tirou do sério há muito tempo, Remus John Lupin. Mas eu respiro fundo e controlo-me. Apesar de adorar ver esse fogo no seu olhar que te deixa ainda mais sensual que nunca, eu vejo o Lobo se imiscuir sem cuidado e sem convite nas tuas atitudes. Aliás, é quase evidente para mim que falo com o Lobo.

- Então...Remus... o que sugere ?

- Prenda-me, como mandaram. Vi como ficou cansado ontem, sua face reflete isso ainda agora. O Lobo não é complacente, Severus. Ele não perdoará o mínimo descuido.

Eu me aproximo mais dele, olhos nos olhos, faíscas contra gelo... será que eu resisto ?

- Não serei descuidado.

- Você é humano. Ele não. Vai se descuidar... hoje, amanhã. E ele estará pronto.

Isso, Severus, se aproxime mais... você pensa que é você que conquista, mas na verdade quem ganhou essa fui eu. Eu e por tabela, o John aqui.

- Remus... o que o faz pensar que eu não queira ficar com o lobo ?

- Pense bem, Severus... ele é uma besta que não tem compaixão, ele apenas quer...

- O quê, Remus ?

Vamos, diga... me diga o que eu preciso escutar para permanecer vivo. E, por Merlin, não passe a língua nos lábios, que eu não resistirei !

E num ato falho eu passo a língua nos lábios enquanto penso em como dizer o que preciso e desejo tanto dizer. Como dizer em outras palavras que eu te amo, Severus Snape ?

- Ele não quer mais ficar sozinho, Severus.

- E para isso até eu sirvo, não ?

- Não !

- Nem para isso eu sirvo, não é, Lupin?

- Você entendeu tudo errado, Severus ! Pare... fique quieto, não fale... Me deixe pensar.

- Não, não deixo.

E o beijo tomado à força não vai deixá-lo pensar em nada, Lobinho.

Sonserino previsível... ah, os hormônios humanos... o cheiro sempre os denuncia.Não é mesmo, meu doce John ? Embriagante esse NOSSO Mestre das Poções...

Que não seja por fraqueza que ele não esteja me repelindo, que seja por outra coisa, que seja apenas por mim ! Eu o desejo tanto, eu o quero tanto, mais que a minha própria vida. Venha, Lobo, me tome, me faça seu se Remus não se afastar. Não me importo, nada mais importa a não ser ter esses lábios nos meus. Não, não se afaste, Remus... não se afaste, Lobo... pelo menos você, fique !

-Fique ! Sussuro entre os lábios quando percebo que ele começa a se afastar... não o suficiente, os lábios continuam tocando os meus.... ai, Merlin, aceito qualquer coisa por isso !

Entreabro os lábios, me afastando da boca fervente de Severus, que ainda tenta me capturar, e vou traçando com eles vagarosa e voluptuosamente o caminho pela face até seu pescoço... e ali deixo minha marca. Marca da minha posse, John !

Não, a marca do meu amor, Lobo...

- Fico...fico, fico, fico...

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O rangido alto da porta do porão fechando trancava também a minha alma dentro do peito. Agora era esperar passar outra longa e cansativa noite, ver a dor assaltar seu companheiro, sua consciência ir e vir, seu corpo tornar-se bruto e retornar humano. Era a hora do meu desespero e do desamparo de Lupin : ele estava perto, sim, mais próximo do que nunca estivera ; mas mesmo à revelia, eu devia deixá-lo só para que enfrentasse seus demônios. Posicionei-me em frente a meu amado, estendi a varinha e preparei-me. Por amá-lo tanto ia fazê-lo sofrer...prender seu corpo para libertar sua alma. Outra ironia digna de tragédias gregas, mas ali, tão próxima e entranhada em sua vida quanto a marca negra em seu antebraço.

Fatos da vida. Mais um, apenas. E ao sentir o brilho da lua imiscuir-se em meus olhos, quase cegando-me, e lentamente comecei a entoar o canto ancestral.

Lupin olhou meio atordoado, já no começo da transformação, mas sua boca se abriu no esgar de um sorriso. Ele compreendera, felizmente, que por mais que ambos soubessem que se pertenciam, que não havia ameaça ali, o Lobo ainda era uma incógnita. E pelo que Lupin havia dito, ele não pretendia deixar passar em brancas nuvens o fato de que ambos estavam juntos... ele exigiria sua parte.

E ficar olhando nos olhos de Lupin naquele momento terrível trouxe a certeza que o Lobo faria o possível e o improvável para conseguir o que queria.

E por horas ou minutos, já nem sei, eu observo e entôo o encantamento, que como um mantra me envolve, enquanto observo os olhos inebriantes do Lobo dentro dos meus, me preenchendo, me tocando mesmo à distância... quase me dizendo algo, quase me dizendo... eu quase escuto, quase...

E por um ínfimo instante eu me calo.

Com a graça que somente as feras e os lunáticos(bailarinos) tem, o Lobo se ergueu e saltou. A janela espatifou-se com o contato do pesado corpo contra o frágil vidro, e em questão de segundos o Lobo já estava fora do terreno de Grimault Place, virando-se para os lados de King´s Cross.

Inferno Sangrento ! O que esse maldito Lobo tinha de fugir ? Ele será visto, será perseguido, irão atirar nele ! Ninguém terá complacência com um Lobo perdido no centro de Londres, o que ele tem na cabeça ? Será que quer morrer ? Não, não agora, não hoje !

Pulo pela mesma janela para ser mais rápido, não posso perdê-lo de vista, e mal noto quando um pedaço de vidro me corta o rosto (ombro); não sinto dor, só urgência, e como minha vida também depende disso, eu corro o mais que posso; mal diviso a sombra do Lobo esgueirando-se célere pelas ruas mal iluminadas; mesmo sendo alta madrugada, pelo menos o animal tem o bom senso de não se mostrar muito, indo pelas avenidas centrais.

Cruzo a estação pelo lado de trás, o Lobo está cauteloso, mas nem por isso mais lento; ele parece querer algo bem específico, sabe o que buscar : fareja o ar repetidas vezes, antes de mudar de direção e atravessar as ruas estreitas e escuras que escolheu, que eu mal vejo nessa minha corrida desenfreada : York, Railway , Balfe Caledonian, Northdown e correr por toda a extensão da Collier Street. Seu destino se abriu majestoso à minha visão : Hyde Park.

O Lobo quer seu elemento. Ele necessita de árvores... e ao chegar na entrada do parque, ele pára... olha para trás, e me espera. Quando estou quase ao alcance do feitiço, ele se vira e corre em direção ao lago Serpentine, também ele serpenteando entre as árvores. E eu, já sem ar e sem alternativa por essa corrida louca através da civilização para tentar salvar um lobisomem, essa criatura das trevas que é meu único amor, vou seguindo até onde ele queira. Porque ele vai parar novamente, e eu vou imobilizá-lo, pois não podemos nos dar ao luxo de que ele corra desse jeito,apesar do que disse o medibruxo eu ainda temo por ele. Vou temer sempre, sempre, agora que vi a energia do Lobo, seu pouco cuidado consigo mesmo. Vou precisar estar sempre por perto. Até que a morte nos separe.

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Please, não me matem, não hoje! Esse capítulo ficou ENORME, super diferente de todos da fic, então eu dividi em duas partes. Ao dividí-lo, vi que estava meio "incongruente", então vou reescrever uma boa parte dele. Acho que amanhã ou sexta, o mais tardar, eu posto o restante, tá ? Beijos da Lilibeth !