CAPÍTULO 1
Noivado, profecia, casamento
Felicidade no enlace. O fruto vai amadurecer.
Mas eis que quando está maduro cai do pé. E se despedaça.
Duas metades, que vão dividir a árvore que deu o fruto.
Duas metades diferentes, uma o oposto da outra, e apodrecem o solo da árvore.
A árvore seca, o tronco quebra ao meio. O fruto quebrado fará mal à árvore.
Quando Harry encerrou os estudos na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, ele e Gina já estavam namorando fazia quase dois anos. Não se desgrudavam, amavam-se, e levavam o relacionamento a sério.
Por isso, o final do sétimo ano de Harry não foi nada bom. Foi uma mistura de alívio, porque ele acabara de destruir Voldemort, com melancolia, por saber que os estudos em Hogwarts terminaram, que os encontros diários com Rony e Hermione terminariam e, também, que, durante o próximo ano letivo, ele não veria Gina.
– Serão muitos meses separados – falou ele, melancólico, para a namorada, durante a viagem de volta no Expresso de Hogwarts. – O que faremos?
– Pare de pensar nisso. O que importa agora é aproveitarmos ao máximo essas férias, ficando juntinhos por muito tempo – ela aconchegou-se nos braços do amado. – Afinal, você não precisa ficar mais escondido na casa dos seus tios, agora que Voldemort já se foi.
– Tem razão – Harry abriu um sorriso. – Poderei passar um bom tempo na Toca.
– Ou até as férias todas, se quiser – sugeriu Rony, que estava abraçado com Mione na frente do casal. O namoro dos dois já iria fazer um ano em julho.
– As férias todas... Acho que não vai dar...
– Por que não? – perguntou Gina, indignada.
– Bom... Eu não quero viver mais com meus tios... E não posso ficar morando na Toca. Como sou um bruxo maior de idade, agora posso adquirir uma casa.
– Deixe de bobagem! – exclamou Rony. – Você pode ficar em nossa casa pelo tempo que quiser. Não precisa se apressar. Morar sozinho, ninguém merece, Harry!
– Meus pais não irão reclamar, vão até gostar – falou Gina.
– Então... Tudo bem. Eu desembarco e vou direto para a casa de vocês. Nem mandarei recado para os Dursley... Creio que eles irão imaginar, e que vão, aliás, gostar muito.
– Quanto a casa, você pretende mesmo comprar uma?
– Sim. Para projetos futuros. Eu começo o treinamento para auror em setembro, e já serei remunerado por isso. Juntando todo mês um pouco do meu salário, e com a herança dos meus pais, poderei compra-la.
– Acho bobagem – opinou Gina. – Para que morar sozinho?
– Como eu disse, "projetos futuros", e nesses projetos, adivinha quem está incluso neles?
Gina corou, fazendo uma camuflagem entre seu rosto vermelho e o cabelo da mesma cor.
– O que quer dizer com isso? – indagou, com a voz fraca.
Harry levou a mão para um dos bolsos das vestes, e, de dentro, tirou uma caixinha de veludo azulado. Abriu-a lentamente, sob o olhar fascinado e incrédulo de Gina. Dentro da caixinha, um par de anéis de compromisso faiscou. Eram dourados, com uma bela inscrição com as letras G e H.
– São anéis de noivado – falou Harry. – Comprei nas últimas férias, foi um impulso do coração... Mas, só agora, com tudo resolvido, sem guerra e sem Voldemort, senti que era o momento ideal... Não é nada romântico dentro do Expresso, mas...
– Imagine – suspirou Gina. – É o momento mais bonito da minha vida.
– Então me deixe fazer como deve ser feito – ele tomou a mão da amada, e puxou um dos anéis da caixinha. – Gina, aceita se casar comigo?
– Claro que sim – respondeu ela, com lágrimas nos olhos.
O anel entrou facilmente na mão da jovem. Depois, o ritual seguiu-se, e o outro anel foi encaixado no dedo de Harry.
– Mas como faremos? – perguntou Gina, ainda com a voz engasgada pela emoção. – Quando casaremos?
– Daqui a um ano. Quando você se formar em Hogwarts. Cuidarei de tudo durante todo o tempo que você estiver na escola. Quando sair, bastará escolher o vestido de noiva. O resto é por minha conta. Preparativos, casa, e tudo o mais.
Ele secou uma lágrima de felicidade que caía dos olhos dela.
– Um ano, meu amor, e seremos marido e mulher – ele a beijou, selando aquele belo compromisso.
Harry passou as férias inteiras na Toca. Mandou, entre os dois meses, uma carta aos Dursley, dizendo que não voltaria mais a morar na Rua dos Alfeneiros.
Ele e Gina não se desgrudaram. Passaram bons momentos antes do retorno dela à escola, como a festa de aniversário de Harry. Foi bem animada, e a vela foi preparada especialmente pelos gêmeos: um raio amarelo, que irradiava fogo, logicamente lembrando a cicatriz que o rapaz carregava na testa.
Quando chegou primeiro de setembro, Harry fez questão de acompanhar a noiva até a Plataforma Nove e Meia. Abraçados, os dois esperaram a partida do Expresso de Hogwarts com lágrimas de saudade antecipada nos olhos.
– Promete que vai me escrever? – perguntou ele.
– Claro. Nossos corpos vão estar distantes um do outro, mas quero que saiba que meu coração vai estar sempre perto de você. E minhas palavras também, através das cartas.
– Vai ser muito difícil – falou Harry. – Mas a cada dia nosso casamento vai estar mais próximo, nossa vida a dois. Quando a saudade bater, devemos nos lembrar disso.
O Expresso deu o sinal de partida. Eles se beijaram rapidamente e Gina correu para embarcar em direção ao seu último ano. Ela entrou na primeira cabine que encontrou, e correu para a janela.
O trem começou a andar. Pela janela, ela via o amado afastando-se, tornando-se um pequeno ponto mexendo-se, e logo não via mais nada. Sentou-se, secando o rosto num lenço, e, em sua mente, pensava que dali a um ano estaria se casando com Harry.
Durante um cochilo...
o som de um choro de criança, alto, agudo, apitando em seus ouvidos, choro, choro de desespero, choro de agonia numa voz infantil, criança chorando, bebê chorando, voz infantil, berros, choro, desespero, socorro em forma de choro, desespero, choro
Ela despertou assustada, com o coração disparado. Não compreendeu o que significava aquilo. Encolheu-se, tremendo da cabeça aos pés. Luna Lovegood, que estava com ela na cabine, abriu uma caixinha de música, que começou a tocar uma canção de ninar infantil. Gina estremeceu.
Bebê chorando, música de ninar... O que significava aquilo?
Naquele instante de agonia, ansiou por proteção. Mas os braços que podiam concede-la estavam bem distante dali. E estaria durante muito tempo. Triste, com a ânsia de um abraço, imaginou que não seria fácil passar um ano longe de Harry.
E não foi nada fácil.
Gina chorava quase todas as noites, abraçada ao lençol, lembrando-se do noivo. Às vezes, durante uma aula, seu olho encontrava o anel e as iniciais, e ela tinha que se controlar para não começar a chorar na frente dos colegas.
Apesar da saudade, na vida escolar tudo ia muito bem. As notas de Gina estavam superando as expectativas dela mesma, e os elogios por parte dos professores eram constantes. O único que ousava critica-la, claro, era Snape.
A pior coisa, com certeza, foi a previsão que Sibila Trelawney fez para ela após uma aula. Gina foi conversar com ela a respeito dos N.I.E.M.s. Encontrou a professora de cabeça baixa. Quando ela levantou a cabeça, os olhos estavam vidrados, medonhos por trás das lentes dos óculos, que os faziam ficar ainda maiores.
Com uma voz diferente, sinistra, a qual Gina nunca ouvira antes, ela disse:
"Felicidade no enlace. O fruto vai amadurecer. Mas eis que quando está maduro cai do pé. E se despedaça. Duas metades, que vão dividir a árvore que deu o fruto. Duas metades diferentes, uma o oposto da outra, e apodrecem o solo da árvore. A árvore seca, o tronco quebra ao meio. O fruto quebrado fará mal à árvore".
Gina saiu correndo, mas as últimas palavras ainda alcançaram seus ouvidos. Naquela noite, chorou muito. Enlace... Seria o seu casamento?
Mas as aulas foram tão corridas nos outros dias que as palavras sinistras de Sibila Trelawney se perderam em sua memória.
Durante aquele primeiro semestre de estudos de Gina, Harry começou as sessões de treinamento como auror. Estava se saindo muito bem. Passava o período da manhã no treinamento, e, durante à tarde, voltava à Toca.
No tempo livre, Harry pesquisava casas para comprar. No fim, escolheu uma casa imponente, de cor branca, janelas douradas, e um pequeno jardim. Por dentro, era espaçosa, com dois quartos. Um dos requisitos que o levou a escolhe-la foi a proximidade com a casa dos Weasley.
– Gina gosta muito de vocês, eu também. Não poderíamos viver longe. Tenho certeza que ela vai aprovar a escolha – resumiu ele, explicando aos Weasley o porque de sua decisão.
Como ele esperava, Gina ficou maravilhada quando visitou a casa nas esperadas férias de Natal, que finalmente chegaram. Com um sorriso de admiração no rosto, examinando cada canto e cada detalhe, deu o seu aval ao futuro marido.
– Essa casa é simplesmente... Perfeita! Nossa, Harry, por mim você pode fechar o negócio agora.
Harry efetuou a primeira parcela da compra com um pouco da sua herança. Assim, aquela bela casa era propriedade de Harry e Gina.
Durante o período das férias, eles começaram as organizações sobre o casamento. Marcaram a data, definiram o modelo do convite, os convidados, entre outros detalhes.
– Você também pode aproveitar e já ir analisando alguns vestidos de noiva – sugeriu Harry.
Gina foi com a mãe e com Hermione a uma loja de vestidos. O primeiro que cruzou o seu olhar foi um belíssimo vestido branco com pedrinhas azuis, e uma coroa decorada com as mesmas pedras preciosas.
Ela ficou fascinada. Pediu a uma das vendedoras para provar, e, ao se olhar no espelho, lágrimas formaram-se em seus olhos. Abriu o provador, encantando a Sra Weasley e Mione.
– Você está linda – suspirou a mãe, também se emocionando.
– Mãe acho que nem preciso ver e provar outros vestidos. Algo dentro de mim me diz que é esse. Olhe! Ficou perfeito no meu corpo. Foi feito para mim, mãe, eu sinto isso! Ele está destinado para ser meu, para vestir-me para o momento mais especial de toda a minha vida.
A compra foi realizada em segredo. Harry estranhou a felicidade de Gina quando ela chegou na Toca, mas acabou aceitando a afirmação de que "estou assim porque, ao ver todos aqueles vestidos, lembrei que o nosso casamento está próximo".
O Natal foi bem animado, mas terminou em melancolia. Gina voltaria para a escola, e só retornaria no final do ano letivo.
– Estarei me encaminhando para o fim de meus estudos... Férias da Páscoa nem pensar. Preciso dedicar-me para obter todos os N.I.E.M.s necessários.
E assim o casal separou-se novamente naquela outra metade do ano, com Gina estudando, e Harry, acompanhado de todos os Weasley, atarefados com todos os preparativos da festa de casamento.
Eles nunca souberam dizer se, durante aquela segunda metade do ano letivo de Gina, os relógios foram acelerados ou foi o excesso de tarefas o responsável por essa impressão.
O que todos concordaram no final das contas foi que o tempo voou. Quando chegou o mês de junho, Gina já estava com olheiras de tanto estudar, e Harry com a cabeça explodindo com tantos pormenores a serem tratados.
Gina passou bem e encerrou os estudos em Hogwarts. Na viagem de volta, na cabine que dividia com Luna, a imagem de Harry preenchia todos os espaços de sua mente.
O reencontro foi apressado, pois logo Harry a atualizou das últimas decisões. Gina concordou com tudo, inclusive com o local escolhido – um belo salão em uma mansão de um casal de bruxos muito rico, futuros vizinhos.
Convites, bolos, salgadinhos, doces, roupa do noivo, buquê... E voou mais um mês. Finalmente, o dia tão esperado, o 31 de julho em homenagem ao dia do aniversário de Harry.
Harry passou boa parte do dia no salão da casa do Sr Tribbes, supervisionando a decoração. A noiva quis começar a se arrumar cedo, e não estava presente. Mas os Tribbes o ajudaram muito, principalmente a Sra. Tribbes e Peterson, o jovem filho do casal.
Os palpites femininos da Sra Tribbes foram valiosos, assim como as idéias geniais que saíam da cabeça de Peterson.
– Vai por mim, cara – falou ele, ao sugerir que a mesa do bolo fosse transportada para o palco. – Ali haverá mais brilho... Tenho experiência nisso! Já fizemos vários shows aqui nesse palco, você sabe, eu e a minha bandinha... Arrebentamos, fizemos vários efeitos. Teve um dia que até convocamos uma veela para animar a rapaziada! Mas... Falando sério, o bolo aqui em cima chamará muito, mas muito mais a atenção!
E foi assim, trocando uma ou outra coisa de lugar, que o salão ficou pronto duas horas antes da hora marcada no convite. Alguns bruxos chegaram bem cedo, e deram sinais de que todo o esforço tinha agradado.
– Ainda bem que trouxe a minha roupa aqui para a casa de vocês – cochichou Harry para Peterson, enquanto observavam, por uma das janelas da mansão, a chegada dos primeiros convidados. – Não teria tempo de ir até a Toca me trocar!
Harry se arrumou, penteou os cabelos – o máximo que conseguiu – , perfumou-se e desceu até o salão para recepcionar os convidados. Tantos elogios e congratulações que, em certo ponto, ele já estava cansado de agradecer e pediu em silêncio para que Gina chegasse logo. Rony, que o conhecia bem, percebeu a agonia.
– Eu sei que deve ser um saco, mas tente relaxar – aconselhou ele. – Logo ela chega... Ah escute só! Acho que são elas.
Um som de sinos encheu o ar. Todos olharam para o céu, e Harry acompanhou o olhar. Ficou boquiaberto. Uma carruagem branca e dourada descia, deixando um rastro de estrelinhas cintilantes pontilhando o céu azul escuro. Unicórnios brancos puxavam a carruagem, e levitavam sem asas. Pousaram bem em frente ao salão, sob o olhar de inúmeras pessoas.
O cocheiro desceu da frente da carruagem e puxou a maçaneta da porta. Ela abriu-se levemente, revelando uma noiva tão, senão mais, fascinante que a carruagem que a trouxera.
Gina trajava o vestido branco com pedras azuis, os cabelos vermelhos escorridos, e a linda coroa sobre a cabeça. Na boca tinha um brilho pontilhado por minúsculas estrelas.
O Sr Weasley tomou o braço da filha, com nítido orgulho, e a famosa orquestra de fantasmas que fora contratada começou a tocar uma marcha romântica. Harry sentiu o corpo bambear. Tudo faiscava ao seu olhar. Aquela mulher vestida de branco, com o rosto alvo, delicado, com aquela carruagem mágica ao fundo... Tudo parecia um sonho... O mais lindo sonho...
O Sr Weasley conduziu a filha até Harry, que a tomou pelo braço. O bruxo juiz oficializou a união, que foi selada com um beijo apaixonado. Depois foram flashes e mais flashes de fotografias do casal.
Tudo transcorreu bem naquela noite. Quando Gina arremessou o buquê, o objeto caiu certeiro nas mãos de Hermione, que olhou instintivamente para Rony. Os dois se beijaram, e Mione, cheirando as flores, sussurrou no ouvido do namorado:
– Viu? O destino está a nosso favor! Seremos os próximos!
A festança só terminou pela madrugada. Houve presenças importantes, como Dumbledore, Minerva McGonagall entre outros professores de Hogwarts. Mas nada inibiu os presentes. Um imenso barril de cerveja amanteigada foi colocado no jardim, e canecas e mais canecas saíam a todo instante.
Harry ficou surpreso quando foi fotografar com a mulher no jardim, e viu o Professor Dumbledore entornar uma grande caneca. Hagrid também estava com uma caneca, e ainda enxugava os olhos, emocionado com o casamento do rapaz que tanto admirava. Tonks fazia a alegria das crianças, mudando a aparência; Mundungo estava cambaleando de tanto beber; Lupin conversava animado com o Sr. Weasley.
Harry suspirou, sentindo que todo o esforço valera a pena. Acariciou o rosto de boneca de Gina e a beijou novamente. Tanto tempo de espera e saudade, e, finalmente, estavam casados.
Harry carregou Gina no colo, enquanto entravam na casa, seguindo a tradição. Eles atravessaram a sala, subiram as escadas que levavam ao segundo andar e passaram pelo corredor. Passavam em frente ao quarto destinado ao futuro filho, quando uma sensação estranha tomou o corpo de Gina. Um estremecimento, um instante em que toda a felicidade se esvaiu. Harry percebeu, parou e olhou-a, preocupado.
– Algum problema?
– Não – falou ela, suspirando, sentindo a sensação apagar-se. – Nada. Afinal, como pode haver problema nesse dia de tanta felicidade?
Naquela noite, apesar de toda a alegria, os sonhos de Gina foram perturbados por um rosto de criança que chorava, e a imagem das duas alianças se derretendo, conforme as lágrimas as tocavam, como se as lágrimas fossem lavas incandescentes.
iFelicidade no enlace... Fruto amadurecido... Solo... Árvore... Metades...
Gina acordou tremendo, nervosa, mas guardou o pesadelo para si. Adormeceu, e nem se lembrou que aquelas palavras que vieram a sua mente faziam parte da profecia de Trelawney... Que profecia? Ela não se lembrava... Não tinha importância para ela lembrar... Ainda não.
