CAPÍTULO 6
Exclusivo: eutanásia ou não?
Harry entrou em casa e encontrou Gina sentada na mesa da cozinha, com a cabeça apoiada sobre uma das mãos e o olhar fixo em algum ponto da parede. Nem pareceu perceber a presença de Harry, e só olhou para o marido quando ele começou a falar com ela sobre o incidente que ocorrera no Hospital – o assassinato de Lolita Spencer.
Gina pareceu um pouco chocada, mas não muito; já tinha problemas de mais para se preocupar com os dos outros.
-Então ninguém foi preso? – perguntou ela.
-Não deu tempo. Ela já devia ter sido assassinada há algum tempo. E lógico que o assassino não ia ficar enrolando pelo hospital... Enfim... A única coisa que ele deixou no local foi a palavra VINGANÇA.
-Estranho, não é? Lolita parecia ser uma pessoa tão quieta, tranqüila... Cuidou tão bem do ferimento na cabeça de Estelle...
-Isso é o que o Sr Bright pensa. Que é muito estranho. Ele não consegue imaginar como alguém poderia querer se vingar dela.
-Existem seres humanos tão cruéis, Harry, que não precisam de um grande motivo para se vingar. Se pessoas fazem mal às outras sem conhecer, como aquele maluco daquele bandido fez com a nossa filha, imagine se não fariam por vingança... Até por uma ofensa qualquer. É muita maldade que existe por aí...
-Vou comer alguma coisa – falou Harry, servindo-se de pudim de carne.
Enquanto ele comia, Gina permaneceu em silêncio, envolvida nos seus pensamentos. Harry sentia a exaustão dominar-lhe o corpo e, quando terminou o pudim, resolveu falar do único assunto que tinha naquele momento para tratar com Gina:
-Precisamos nos decidir sobre a Poção da Vida – recordou ele.
Gina suspirou.
-Vamos deixar para outro dia, Harry. Quando já tivermos assimilado tudo o que ocorreu. Ainda é tão recente... Tão cedo pra isso...
-Sim... claro.
-Quando a poeira abaixar, nós nos sentamos e conversamos sobre tudo isso... Mas, agora, depois de um dia tão turbulento e difícil, não conseguiremos chegar num acordo...
-É. Tem razão.
Uma atmosfera estranha pairava ao redor dos dois. Gina tinha razão, pensou ele. Ele nem conseguia conversar direito com ela. Era uma situação muito estranha.
-Eu vou lá... Dormir – disse ele. – Você vai subir agora?
-Acho que não.
Harry a abraçou pelas costas e deu um beijo no rosto da amada.
-Eu te amo muito, Gina. E vou enfrentar qualquer coisa junto com você. Nós vamos passar por isso, pode ter certeza.
Gina pegou uma das mãos dele que a abraçava e a beijou. Depois disso, Harry subiu e deitou-se. Ficou lá, deitado, sem conseguir adormecer. Cerca de uma hora depois, Gina subiu, trocou-se e deitou-se ao seu lado. Harry fingiu que estava dormindo e ocultou a sensação confortável que Gina concedeu ao deitar-se abraçada a ele. Finalmente adormeceu.
-HARRY! GINA!
Primeiramente Harry pensou que aquelas vozes estavam sinalizando o início de um sonho. Depois, ao sentir um calor tocar-lhe a face – os raios de sol da manhã –, percebeu que estava despertando e que a voz que o chamava não fazia parte de um sonho.
Levantou-se rapidamente, esfregando os olhos, e aproximou-se da janela. Olhou para baixo e viu Rony, que acenou em resposta para ele.
-DESCE AQUI, HARRY – gritou Rony.
Harry esboçou um sorriso, embora algo na expressão de Rony, ou no jeito que ele gritara, lhe incomodou profundamente. Calçou os chinelos e desceu as escadas, chegando ao térreo e abrindo a porta da sala. Agora, próximo ao rosto sardento do amigo, Harry percebeu que não fora apenas uma impressão. Havia algo de diferente em Rony.
Primeiro, as dobras na testa, denotando preocupação; segundo, o piscar contínuo dos olhos; terceiro, a palidez acima do normal de seu rosto, que dava até a impressão de que as próprias sardas haviam clareado; e, por último, as duas mãos escondidas atrás das costas.
Rony ficou estático na mesma posição, enquanto Harry o fitou, intrigado, e conseguiu captar esses sinais corporais.
-Rony... Aconteceu alguma coisa? Quero dizer, alguma coisa fora o problema com Estelle?
-Sim. Não, talvez...
Harry começou a ficar preocupado com a hesitação de Rony em responder, e com a dúvida entre o sim e o não, que culminou num "talvez". Pressentiu que, de alguma forma, o que ele viera lhe dizer estava relacionado, mesmo que indiretamente, a Estelle.
-Por favor, Rony, desembucha logo, estou começando a ficar preocup... – Harry percebeu que as mãos de Rony deviam esconder alguma coisa. Apontou-as e disse. – Rony, o que tem aí? Mostre, por favor.
-Sim, mas... Harry, eu lamento, não sei como isso foi acontecer – falou ele, revelando o que tinha escondido.
Era um exemplar do Profeta Diário. Ao ver o jornal, Harry já notou o que era. Afinal, qual a única forma de um jornal estar relacionado ao que ocorrera com Estelle? Sua garganta ficou seca, e um calafrio percorreu o seu corpo quando os olhos dele fitaram a matéria de capa.
EXCLUSIVO!
FILHA DE HARRY POTTER ENTRE A SEMIVIDA E A EUTANÁSIA.
Declarações exclusivas revelam que filha de auror foi atingida por feitiço antigo.
Inconformado, as mãos dele começaram a tremer. Mas Harry continuou segurando o jornal que tremia conforme o movimento de suas mãos, se concentrando na matéria.
O famoso auror Harry Potter – conhecido por ter derrotado finalmente o poderoso Voldemort há cinco anos – está passando por um verdadeiro dilema. Segundo nosso informante anônimo, sua filhinha foi atingida por um feitiço antigo, um tal de Feitiço da Consciência Vazia. "Esse feitiço foi muito popular na época medieval", falou ao Profeta o professor de Feitiços aposentado Fred Perry. "Ele deixa o atingido numa semivida, condenado a tomar a Poção da Vida, que mantém as funções vitais. Isso se não for escolhida a eutanásia, que cancela a poção e deixa o atingido morrer naturalmente".
Nosso informante ainda nos disse que Harry Potter e sua esposa, Gina Weasley Potter, não entram num acordo sobre esse fato, se cancelam a poção ou não. Qual dos dois defenderá a morte da filha?
-Que droga! – exclamou Harry, interrompendo a leitura, com um tapa furioso no jornal. – Que informante é esse? Como ele pode saber tudo isso?
-É melhor ler o resto – recomendou Rony. – Não é nada bom, mas é necessário...
Fomos atrás de Richard Cruz, um dos nossos repórteres que já trabalhou no Ministério da Magia para saber o que ocorre num caso de indecisão. "A decisão sobre a eutanásia deve ser decidida entre os dois num prazo de dois dias", declarou ele. "Isso segundo a Lei nº 922 do Ministério". E se a decisão não for tomada? "Cabe ao Ministério obrigar os dois a tomarem uma decisão sobre o destino da filha. Se mesmo assim nada ocorrer, o caminho a ser seguido deve ser o decidido pelo Ministério".
Nosso informante especial nos disse que a filha de Harry Potter encontra-se no Hospital St Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos. E que espera que o Ministério trabalhe para que a Lei seja cumprida.
Será que Harry Potter queria omitir o estado da filha, passar por cima da Lei? Muito estranho para um Auror de respeito, não acham?
Calvin Simmons, com a colaboração de Mônica Savage.
-Malditos! – vociferou Harry, arremessando o jornal no chão.
-Controle-se, Harry...
-Como, Rony? Como conseguirei? Não queríamos que o estado de Estelle fosse divulgado. E vejo que não devia ser mesmo. Bem que o Curandeiro Bright tinha medo de que o Ministério desconfiasse. Ele sabia que seriamos pressionados se isso acontecesse!
-Como você pode confiar tanto nesse Curandeiro? – perguntou Rony, desconfiado. – Afinal, não era somente ele que sabia do estado de Estelle?
-Ele e... – Harry parou subitamente. – E Lolita.
-Quem?
-Lolita Spencer. A estagiária do Sr Bright. Ela foi assassinada ontem, dentro do St. Mungus. Deve ter uma nota aí nesse jornal.
Rony apanhou o jornal amassado do chão e encontrou a notícia sobre o crime na segunda página – perdera o posto de importância comparada à "bomba" sobre Harry Potter. Rony terminou de ler e olhou para Harry.
-Quer dizer que ela era a única pessoa, fora o Bright, que sabia do que estava acontecendo?
-Sim. Mas você leu aí que ela está morta.
-Pode ter morrido depois de ter dado a informação...
-Nunca, Rony. Primeiro porque, eu não a vi direito, tampouco a conhecia, mas pelo que pude notar era uma pessoa com um ótimo caráter, o próprio Bright disse isso. E ela foi morta no vestiário do Hospital, não tinha ido embora, nunca poderia ter ido até a redação do Profeta dar as declarações.
-Mas eu não supus que ela deu a informação ao jornal. Ela pode ter comentado com qualquer pessoa, sei lá, uma colega do Hospital.
-Não, Rony, como eu já disse, ela aparentava um ótimo caráter.
-Ou...
-Ou ela foi forçada a dizer.
Hermione estava parada na porta aberta, olhando para os dois com os braços cruzados. Afastou uma mecha do cabelo que caía sobre a testa e entrou, declarando o seu ponto de vista.
-Harry, eu dei uma olhada no jornal antes do Rony. Eu acho que ele nem levou em conta, mas eu li que, no local onde essa tal Lolita foi morta deixaram escrito a palavra VINGANÇA.
-Sim. Mas... O que isso tem a ver com...?
-Harry, se somente Lolita sabia do que ocorria dentro do quarto, além do Curandeiro Bright, a informação só pode ter saído dela. Rony está certo. Só peca em achar que ela disse por conta própria. Não. Isso só pode ter saído a força.
-Quer dizer que alguém forçou a pobre Lolita a dizer?
-Sim. E matou ela em seguida.
-A mesma pessoa que deu essa entrevista foi a que matou Lolita? – perguntou Harry, ainda com um ar de incredulidade.
-Provavelmente.
-E por que iria querer tanto essa informação a ponto de mata-la?
-Para se vingar. Como a própria pessoa fez questão de deixar escrito. Por pura vingança.
-Para se vingar de Lolita, não, isso...
-Para se vingar de você.
Peterson desceu correndo a escadaria, puxando a mala. Dali a duas horas o Magic Rock saía para a turnê em Portugal.
-Bom dia, pai.
O Sr Tribbes respondeu ao cumprimento enquanto ia até a janela, para receber a coruja que chegava entregando o Profeta Diário. Abriu o vidro, apanhou o jornal e pagou à coruja. Depois, caminhou lentamente até a sua poltrona de couro.
-Pet, a Miranda está fazendo a sobremesa que você mais gosta – disse a Sra Tribbes, animada.
-Obrigado mãe. Mas não precisava...
-Precisava sim! Vai saber quanto tempo ficarei sem lhe ver, querido. Afinal, agora você é um superstar!
Naquele momento, o Sr Tribbes mergulhou num acesso de tosse. Peterson parou de conferir a mala, a mãe parou de olhar para o filho e ambos se voltaram para o bruxo.
-Só pode ter sido por causa desse charuto – comentou a Sra Tribbes. – Eu sempre digo que isso faz mal para a sua saúde, Mark, mas você sempre teima comigo...
-Não é – ele tentava falar em meio à tosse. – Não é isso... Olhem só...
Ele levantou o jornal, enquanto tossia. Peterson foi até o pai e pegou o exemplar. Assim que seus olhos bateram no título da primeira página, eles se arregalaram, de tal forma que a mãe dele perguntou:
-Pet, está tudo bem?
Ele leu tudo, chocado, e quando terminou, continuou parado no mesmo lugar, com os olhos fixos no ponto onde estava escrito o nome de Gina.
Lembrou-se do que ela havia dito quando fora a casa deles no dia anterior:
–Se essa notícia vaza para a imprensa, se alguém em troca de dinheiro resolve abrir a boca, vai haver uma grande polêmica. Harry é muito famoso... Não quero nem imaginar as conseqüências desagradáveis.
Quem teria contado tudo para o jornal? Quem teria feito tamanha maldade? Peterson sentiu um nó no coração ao imaginar como Gina ficaria ao ler a notícia.
Ficou ali, estático, pensando, ignorando os chamados da mãe, que estava preocupada com a expressão do filho. Ao sair daquele transe, caminhou até a mala aberta, a fechou, mas, ao contrário de leva-la até a porta, começou a subir a escada com ela.
-Pet, querido, o que você está fazendo?
-Nada. Só levando minha mala para o meu quarto.
-Está louco, filho? Logo você tem que se encontrar com os outros integrantes, vai se atrasar...
-Não tem mais turnê, mãe.
-O que?
-É isso mesmo que a senhora ouviu – ele parou de subir e olhou para ela. – Eu não vou mais para turnê nenhuma.
O Sr Tribbes levantou os olhos para o filho.
-Eu vou ficar aqui.
Harry deu uma risadinha nervosa ao ouvir a conclusão de Hermione. Depois, cruzou os braços e ficou olhando para a amiga.
-Suponhamos que você esteja certa... Quem iria querer se vingar de mim?
-Ah Harry, vai me dizer que, nesses anos como Auror, você não encontrou inimigo? Alguém que conseguiu escapar...
-Capturamos todos. Não me...
Subitamente, Harry recordou-se do incidente da cachoeira. Ele conseguira matar o bruxo que atingira Estelle, mas o outro que estava com ele fugiu.
-Escapou um, sim... Mas, ele até fugiu. Parecia ser um bruxo muito bobo. Não teria a capacidade de invadir um Hospital. Ficaria com medo.
-Mas e se ele não agisse sozinho? Se houvesse uma gangue por trás?
-Não. Só havia um com ele, mas eu tenho certeza que morreu... Ah Mione, vamos deixar isso pra lá. Preciso ir até o St. Mungus, vou ver como está Estelle, e ver com o curandeiro o que podemos fazer, agora que o caso caiu na imprensa...
-E Gina?
-Fique aqui, por favor, Mione, e espere-a acordar. Ela vai ter que saber que a notícia foi parar no jornal, mas procure contar com jeito. Rony, você pode ir comigo?
-Tudo bem, Harry – falou ele.
-Ótimo. Hermione, por favor, tenha cautela na hora de falar com Gina...
-Pode deixar.
-Sensacional! – exclamou Spike, terminando a leitura da matéria e passando o jornal para Brad. – Parabéns, Ted. Nunca pensei que você pudesse agir tão bem.
-Que isso, Spike – sorriu Ted, com falsa modéstia. – O que eu puder fazer contra o Potter para vingar a morte do chefe, eu farei.
-Harry Maldito Potter – esbravejou Spike, socando a parede da cabana. – Ferrou com o chefe e com todos nós. Com todos os planos ambiciosos do chefe! Com os manuscritos do Manual das Trevas!
-O que? – espantou-se Brad. – Vai me dizer que...?
-Sim, os manuscritos não estão aqui. Ou estavam com o chefe na hora em que ele foi morto, ou ele os guardou em algum lugar.
-Droga. Então tivemos poucos instantes de glória...
-Sim, Brad. Poucos instantes. Poucos dias. Com a posse do lendário Manual das Trevas. Maldita a hora em que o idiota do Potter cruzou o nosso caminho. Por que ele tinha que estar naquela cachoeira?
-Mas ele vai nos pagar... Ah se vai.
-Esse é o espírito da coisa, Ted. Vingança. Ele nos tirou muita coisa, mas também vamos tirar várias coisas dele. A filha já foi... Mas isso é só o começo.
Brad olhou pela janela, para ver o movimento. O local da cabana era deserto, mas, se algum movimento suspeito fosse percebido, eles tinham que se mandar rapidamente dali. Por isso, em intervalos de tempo, um deles ia até a janela e observava.
Brad olhou e, por trás de uma das árvores que cercava o local, viu algo que fez seus olhos se arregalarem de surpresa. Ele virou-se para os outros, pasmo.
-O que houve, Brad? – indagou Spike.
-É que... Eu acho que vi o Garganta lá fora.
-O que? – perguntaram Ted e Spike em uníssono.
Spike correu para a janela, olhou para fora atentamente. Nada. Apenas as mesmas árvores, movimentando seus galhos, e nenhum movimento além desse.
-Você está delirando, Brad – zombou Spike. – Não vi nada.
-Mas eu...
-Está ficando doidinho da cabeça. Está vendo coisas – falou Spike. – Veja bem: o chefe já era. Teremos que nos virar sozinhos agora. E sem Manual.
Brad lançou outro olhar para a vidraça. Não havia mais nada lá. Mas ele podia jurar que tinha visto...
Harry e Rony chegaram ao Hospital St Mungus e subiram direto as escadas, em direção ao quarto andar. Chegaram na Enfermaria Poythro Mjaety, cuja porta estava aberta. Os dois entraram.
O Curandeiro Bright estava com uma expressão tensa no rosto. Harry suspirou, supondo o motivo da feição do curandeiro.
-Você leu o jornal, não é? – perguntou ele. – É por isso que está desse jeito.
Bright virou os olhos para um canto da enfermaria, tentando ser o mais discreto possível. Harry virou-se na direção do olhar do curandeiro. Seu coração quase saiu pela boca.
Sentado numa cadeira, estava o Ministro da Magia, Cornélio Fudge.
N/A: Eu tinha pulado esse capítulo na hora da postagem.. Mil desculpas
