CAPÍTULO 8

Manifestação popular

–-Como vai, Pet? – perguntou Harry, enquanto batia no ombro do amigo.

Peterson soltou um suspiro de alívio bem baixinho e apertou a mão de Harry, respondendo a pergunta com um "bem, obrigado". Depois olhou para Gina, que não ficara nem um pouco constrangida. Ele percebeu que o único que levou o beijo no rosto pelo lado errado fora ele mesmo. Tanto Harry quanto Gina estavam indiferentes ao ocorrido.

–-Vocês é que não estão bem – falou Peterson. – Tanto sofrimento... Mas eu estou aqui para ajuda-los. Não sei se posso, mas...

–-A sua presença aqui já é uma ajuda – disse Harry. – Nos anima... Faz com que nos esqueçamos um pouco dos problemas. Nos distrai...

-–Estou aqui fazendo o que sinto que devo fazer. Tenho certeza de que, se um caso assim acontecesse lá em casa, vocês colaborariam. Nos dariam um ombro amigo. Amigo, aliás, é pra essas coisas. Somos amigos, Harry, e nada vai mudar isso.

Harry sorriu. Gina levantou-se e foi até a cozinha preparar um lanche para a visita.

-–Deu muito problema a notícia no jornal? – perguntou Pet.

-–Até que não. Juro que pensei que seria terrível... Que o Ministério nos obrigasse a cumprir a Lei. Mas tive uma surpresa ao chegar no St. Mungus hoje cedo. O Ministro estava lá...

-–Não acredito – Peterson deu um tapa na testa. – Falou um monte, não falou?

-–Aí seria muito óbvio, não é, Pet? Eu disse que tive uma surpresa. O Ministro estava lá, por causa da notícia do jornal, é claro, mas não para dizer que eles poderiam se intrometer, mas para oferecer apoio, acredita?

Peterson ficou em silêncio, nem disse não ou balançou a cabeça sinalizando negação, mas Harry percebeu a incredulidade nos olhos dele.

–-Não está acreditando, né, já percebi... Mas é verdade. O Ministro disse com todas as letras que colaboraria e passaria por cima da Lei.

Dessa vez Peterson deixou a incredulidade fluir através de uma risadinha.

-–Está brincando comigo? Está me dizendo que Cornélio Fudge disse que passaria por cima da Lei?

-–Sim, ele disse. Juro pra você, Pet. E hoje não seria um bom dia para eu fazer brincadeirinhas mentindo pra você...

-–Eu sei, Harry, acredito em você. Mas, convenhamos, isso não é uma atitude que poderíamos esperar de uma autoridade diante de um assunto tão sério...

Gina apareceu com um prato de empadas. Depositou o prato na mesinha de centro e voltou para a cozinha. Harry e Peterson se serviram. Ficaram mastigando, sem dizer palavra, até que Gina voltou para a sala, com uma expressão que misturava assombro e perplexidade.

-–O que aconteceu? – perguntou Harry, alarmado, derrubando um pedaço de empada no chão.

-–Um assassinato... Outro.

–-Assassinato? Como assim "outro"? – Harry levantou-se e segurou a mão de Gina.

–-Um assassinato... Um crime... Horrível, e de novo dentro do St. Mungus... – Harry arregalou os olhos. – Encontraram um bruxo curandeiro...

-–Bright?

-–Não, Harry, um outro curandeiro... E foi morto de uma forma muito estranha... Encontraram apenas o esqueleto dele, envolto por uma névoa densa e verde.

-–Quando isso?

-–Deu no rádio que encontraram o corpo agorinha mesmo. Nem procuraram o culpado, pois eles acreditam que o crime tenha acontecido faz muito tempo.

-–Alguma testemunha? Por que tanta demora se faz tanto tempo? – Harry não podia acreditar.

-–Um paciente da enfermaria que gritou... Ele desmaiou na hora em que viu o assassinato... E só quando acordou e gritou foi que os funcionários do Hospital viram que algo tinha acontecido... Correram até lá e perguntaram ao paciente se ele viu quem o matou. E você não vai acreditar o que ele respondeu, Harry.

-–O que?

-–Ele disse que quem matou o homem foi o Ministro! Pode uma coisa dessas?


-–Mas que pergunta mais estranha, Mark – falou a Sra Tribbes para o marido. – Que história é essa de desistir do sonho por amor?

-–Nada – desconversou ele. – Eu só li uma história sobre isso no jornal...

-–Deixe-me dar uma olhada, então – falou a senhora, pegando o jornal de cima da poltrona. O Sr Tribbes a interrompeu.

-–Não, você não vai achar nada aí. É que... Não foi no jornal de hoje, não. Foi no de ontem, mas, a essa altura, o elfo já deve ter jogado fora...

-–Ah...

-–Mas que coisa, mulher! Pra que precisa saber minuciosamente sobre o caso se eu estou apenas pedindo a sua opinião numa simples pergunta?

-–Tudo bem, querido. Pode repetir.

-–OK. Você acha que alguém muito apaixonado por uma pessoa, mesmo sem ser correspondido, seria capaz de largar um dos grandes sonhos de sua vida por causa do amor impossível?

-–Não sei... Por que esse apaixonado faria tudo isso por alguém que nem liga para ele? Seria muita burrice da parte dele.

-–É, é o que eu acho também. Muita burrice...

-–Tanta burrice quanto à do nosso filho de deixar a turnê de lado – a mulher bateu com as mãos na cintura e depois cruzou os braços, furiosa. – Mark, imagine o dinheiro que ele e o Magic Rock estão perdendo? Eu não consigo acreditar que o Pet fez isso... E o agente deles está furioso, como você viu aqui, e o Pet, pra piorar, não o deixa entrar! Tenho medo só de pensar nas conseqüências... O pior é se vira moda. Se o Pet começar a fazer isso direto, esnobar turnês milionárias, simplesmente balançando a cabeça e dizendo: "Não vou. Vou ficar. Não estou a fim de viajar. Só perderemos milhares de galeões, sem problema...".

-–Você acha que isso pode continuar? – perguntou o Sr Tribbes, preocupado, acendendo um charuto para aliviar o nervosismo.

-–Por que não continuaria? Olhe pra ele, Mark, e depois olhe para os outros garotos do grupo. Todos chateados, mas o Pet parece estar totalmente indiferente... Justo ele, o mais entusiasmado, o fundador do grupo, o compositor de várias músicas, o vocalista. Ele bate o pé, fala que não vai, e não vai mesmo. Simples assim. Com certeza vai fazer de novo. Deixando a carreira em segundo plano.

-–Não, isso não pode acontecer – falou o velho, dando uma baforada de fumaça bem na cara da esposa, que a espantou com um murmúrio de recriminação.

-–Mas vai – disse ela, depois de uma tossida por causa da fumaça. – Pode esperar. O agente deles não vai perdoar muito tempo de "folga" do Pet. Não mesmo. Vai largar o Magic Rock. Existem tantos grupos surgindo... E ele é um dos melhores, se não fosse você para chamá-lo.

-–É... Ele também vai ser prejudicado nessa história. Os prejuízos para ele podem ser absurdos.

-–O ramo musical é realmente muito concorrido, Mark. Se o Pet e o Magic Rock ficarem cochilando, vem outro grupo e passa por cima. E tem mais. Eles têm que aproveitar o período de primeiro lugar nas paradas. É muito disputado. Deve fazer shows e tudo o mais.

-–Eles não podem parar... Não podem... – disse o Sr Tribbes, perdido no próprio pensamento.

-–Pois é. Não podem. Mas como podemos evitar que o Pet diga "não" para outra oportunidade se não sabemos o motivo para o "não" da tão sonhada turnê em Portugal? Agora eu vou beber um chá gelado e me afastar dessa fumaça irritante – ela tapou o nariz e se afastou.

O Sr. Tribbes ficou sozinho na sala. Andou de um lado para o outro no amplo espaço, distraído, fumando seu charuto, passando a mão sobre os móveis... Pensando. E finalmente concluiu, falando sozinho:

-–Se é assim, eu posso evitar que o Pet diga "não" para outra oportunidade. Porque eu sei o motivo.


-–É cada louco que aparece por aí – falou Harry, balançando a cabeça. Peterson deu uma risada abafada. – O Ministro?

-–Pois é. Louco mesmo – falou Gina. – Os bruxos do hospital já estão pensando em manda-lo para outra enfermaria, achando que a mente dele está afetada.

-–Que história mais maluca! – disse Harry. – Só pode estar afetada mesmo... E o que mais a rádio falou?

-–Só isso mesmo. Foi uma nota rápida.

-–O Ministro realmente esteve lá, mas acho que ele pode ter se confundido. Viu o Ministro saindo, ou andando pelos corredores, depois testemunhou o assassinato e colocou na cabeça que foi culpa do pobre Cornélio Fudge.

-–Só pode – comentou Peterson.

Gina voltou à cozinha. Antes que Harry e Peterson pudessem voltar a conversar, o rádio anunciou uma nova notícia exclusiva, dessa vez sobre o grupo de Peterson. Gina correu até os dois e chamou-os.

–-Magic Rock na rádio! Na rádio! – Harry e Peterson correram até a cozinha junto com Gina, e os três aguardaram a voz metálica que anunciava as últimas notícias.

–-Magic Rock cancela turnê em Portugal e em outros países europeus. O agente do grupo não quis se pronunciar sobre o que teria motivado o cancelamento. Os fãs estão desesperados e revoltados com a ausência do grupo. Já houve o boato de um acidente coletivo vitimando o quarteto, mas essa hipótese já foi descartada pelo agente. É realmente muito estranho, afinal, o Magic Rock vê o sucesso ultrapassar a Grã Bretanha e invadir os outros paises e cancela a turnê de uma hora para outra? Estima-se que, além do prejuízo com os fãs revoltados, eles percam milhões de galeões pelo cancelamento. Que motivo seria este para que os quatro desistissem e abrissem mão de tanto dinheiro?

Houve um forte sinal de estática e a voz feminina pulou para outra notícia.

-–É mesmo, Pet – falou Harry. – A turnê começava hoje à noite. Por que vocês desistiram?

–-Foi por causa do F.J. – mentiu ele, usando a mesma mentira que contara para Gina. – Uma tia dele. Faleceu, e ele ficou abalado.

–-Mas ele não podia dar um jeito de ir? – perguntou Harry. – Nossa, Pet, vocês perderam muito dinheiro mesmo. Ele devia dar um jeito, ou vocês poderiam viajar sem ele...

–-É, só que o nosso agente queria que o grupo aparecesse por completo.

Harry pareceu se convencer. Ele voltou a conversar com Peterson, mas Gina continuou atenta às últimas notícias da rádio. Como a notícia que estava sendo veiculada naquele momento tratava de um bruxo maluco que estava transformando dinheiro trouxa em dinheiro bruxo no Brasil, ela resolveu desligar o rádio.

Assim, Gina perdeu a nota sobre o marido, dizendo, em primeira mão, que Harry Potter era a favor da morte da própria filha. Nesses mesmos termos.


–-Eu juro! Eu vi o Ministro na enfermaria, ele apontou a varinha pro coitado do Curandeiro e disse um encantamento que fez o velhote se decompor.

O paciente, que estava sendo considerado "louco", fora levado para uma sala fechada do Hospital, para conversar com um Auror, antes de ser transferido para a enfermaria Poythro Mjaety.

–-Olhe, eu entendo como esse feitiço deve ter afetado também a sua mente, que você está um pouco alienado, mas busque aí dentro o que você realmente viu – insistiu o Auror.

–-Será que eu terei que ficar repetindo mais quinhentas vezes o que eu vi? – falou a testemunha, já impaciente e com raiva dos adjetivos que lhe eram destinados.

-–Não tem nada mais pra nos contar?

-–Tenho. Mas nem vou falar, vocês vão dizer que é aí que eu estou alienado, doidinho da cabeça...

-–O que você viu?

-–Está bem, vou dizer, mas eu sei que vocês não vão acreditar. Afinal, nunca vi uma metamorfose tão rápida e que aconteceu na hora em que ele quis, num estalo...

-–Metamorfose?

-–Sim. O Ministro se transformou em outra pessoa. Num estalinho. Pim, e não era mais o Ministro. Era outra pessoa. Um bruxo medonho, assustador... Horrível.

-–Ah sei – o outro já não estava acreditando. – E por acaso, já que você viu tudo isso, poderia me descrever esse bruxo?

-–Sim. Era extremamente forte, um jeitão agressivo, e tinha uma letra tatuada no braço. A letra G.

-–Transfere para aquela enfermaria – mandou o Auror. Os funcionários pegaram o homem pelo braço e o levantaram, enquanto ele se debatia. – Você realmente tem uma imaginação fértil.

-–É verdade. Eu juro! – o paciente gritou, enquanto era encaminhado para a enfermaria.


Na manhã seguinte, ao acordar, a primeira coisa que Harry fez foi apanhar o jornal, preocupado com as notícias. Talvez fosse uma preocupação tola, pensou ele, pois já tinha o apoio do Ministro da Magia e tudo o que tinha para ser noticiado já tinha sido.

Ledo engano.

Sentiu um novo furor crescer ao ler a chamada da matéria da primeira página, um furor misturado com descrença. Como aquilo chegara aos ouvidos dos repórteres?

CASO HARRY POTTER: AUROR É A FAVOR DA MORTE DA FILHA

Uma nova testemunha aponta a posição do auror no caso.

-–Como "a favor da morte"? – perguntou ele para si mesmo, inconformado. – Que loucura é essa? Como podem escrever isso? Como podem confundir as coisas dessa maneira? – ele sentiu a visão embaçar lentamente, conforme os olhos enchiam-se de lágrimas. – Nunca... Calúnia... Eu não desejo a morte da minha filha – ele sentiu a gota deslizar rapidamente pelo rosto, dando uma leve cócega em sua trajetória. – Eu só quero o melhor para ela. O fim do sofrimento...

-–Falando sozinho, amor? – indagou Gina, vestida na camisola, chegando na sala.

-–Sim – Harry virou-se para a esposa. Gina pareceu surpresa ao ver os olhos vermelhos do marido, e aproximou-se dele, o abraçando.

–-O que aconteceu, Harry? Ainda está deprimido por conta de tudo o que aconteceu, não é?

–-Aconteceu mais uma coisa Gina – disse ele, afastando-se da mulher e estendendo o jornal. – Leia isso. O título já diz tudo.

Gina pegou, receosa, o exemplar. Com uma mão no jornal e a outra no peito, leu o título de letras garrafais. Depois, num movimento lento, levantou o olhar, já estremecido, para Harry.

–-Minha nossa – falou ela, suspirando em seguida. – Como...?

PLAFT.

O vidro da janela se partiu e uma pedra enorme caiu com tudo no chão da sala do casal, fazendo com que Harry e Gina se sobressaltassem. Os olhos arregalados dos dois se encontraram, enquanto o coro de vozes se iniciou, forte, em altos brados, gritando sem parar:

–-VIDA! VIDA! VIDA! VIDA!

–-Fique aqui, Gina.

–-Mas, Harry, você não...

–-Fique aqui, por favor. Vou só dar uma espiada na janela – dito isso, ele pegou a varinha e, lentamente, espiou por trás da cortina. O que viu quase o fez cair para trás de susto.

Uma multidão. Milhares de pessoas. Todas berrando o coro. Expressões ferozes. Algumas traziam adesivos na boca, com a inscrição em letras de fôrma: VIDA. Duas faixas se destacavam, levitadas por três manifestantes: ESTELLE MERECE VIVER e na outra, com letras em faiscante vermelho: AUROR PODE MATAR BANDIDOS, MAS NÃO PODE MATAR A PRÓPRIA FILHA.

Um quadro desenhado tinha a pintura mal feita de Harry enfiando uma faca numa criança. Aquele cenário todo, acompanhado pelo coro, fez Harry sentir um desagradável embrulho no estômago. Distraído com tudo aquilo, observando os rostos em protesto, a fúria com que cada sílaba era pronunciada, quase não viu a enorme pedra que voava bem em sua direção.

A notou quase no último instante. Quando a viu, um movimento instintivo o fez abaixar-se rapidamente. A pedra voou direto pelo vazio deixado pela vidraça quebrada. Harry ouviu o barulho dela contra o solo, e virou-se para ver se Gina estava bem.

A mulher estava apenas assustada, e abaixou-se para pegar a pedra. Harry estranhou e perguntou-se por que Gina apanhara a pedra do chão. Mas logo teve sua pergunta secreta respondida, quando Gina desamarrou um bilhete que estava preso a ela. A mulher olhou com a testa franzida, depois o passou para Harry.

O auror abriu o papel amassado.

Nele estava o desenho de uma língua com uma varinha perfurando-a. E, abaixo, a letra G.

N/A: Eu tive umas semanas de férias, por isso não atualizei. A fic já está no capítulo 14, falta publica-los aqui. Em breve farei isso. Obrigado pelos comentários.